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@resumosdamed_ 1 VAGINOSE BACTERIANA (VB): INFECÇÕES SEXUALMENTES TRANSMISSÍVEIS (IST’S), VULVOVAGINITES, DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP) E VIOLÊNCIA SEXUAL O equilíbrio do ecossistema vaginal se deve a complexas interações entre a flora vaginal normal, os produtos metabólicos microbianos, o estado hormonal e a resposta imune da mulher. Quando este equilíbrio se rompe, ocorrem os processos inflamatórios e infecciosos. Dependendo do agente etiológico envolvido na gênese das vulvovaginites, estas podem ser classificadas em vaginites e vaginoses infecciosas e não infecciosas. As três principais causas de vulvovaginites infecciosas são: • Vaginose Bacteriana (VB); • Candidíase Vulvovaginal; • Tricomoníase; Entre as vaginites e vaginoses não infecciosas incluem-se: • Vaginose Citolítica; • Vaginite Atrófica; • Vulvovaginites Inespecíficas; Outras causas: fatores físicos (traumas), químicos (uso de lubrificantes e de absorventes internos e externos), hormonais (hiper e hipoestrogenismo), anatômicos e orgânicos (imunodepressão secundária à doença sistêmica, ou outras imunodepressões). É um conjunto de sinais e sintomas resultante de um desequilíbrio da flora vaginal, que culmina com uma diminuição dos lactobacilos e um crescimento polimicrobiano de bactérias anaeróbias estritas (Prevotella sp., Bacteroides sp., Mobiluncus sp., Peptostreptococcus sp., Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum), e de anaeróbias facultativas (Gardnerella vaginalis) cujo fator desencadeante é desconhecido. É importante destacar que todos os fatores que fazem diminuir a quantidade de oxigênio nos tecidos e, portanto, o seu potencial de oxirredução, favorecem a infecção por anaeróbios estritos. Como resultado, ocorre liberação de citocinas, prostaglandinas e enzimas líticas por estes patógenos que respondem por algumas das manifestações clínicas (teste de whiff positivo) e pelo substrato fisiopatológico das complicações da VB. Há também um pequeno aumento dos leucócitos que justifica a resposta inflamatória discreta. Cabe aqui a lembrança de que a Gardnerella vaginalis predomina na VB. É a principal causa de corrimento vaginal. Ocorre com maior frequência em mulheres com vida sexual ativa. • Odor desagradável (piora após o coito e no período perimenstrual) CARACTERIZAR VULVOVAGINITES E DESCREVER AS TRÊS PRINCIPAIS CAUSAS: CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: @resumosdamed_ 2 DIAGNÓSTICO: • Corrimento vaginal (pequena intensidade, homogêneo, branco- acinzentado) • Atenção: O quadro não apresenta habitualmente prurido encontra eritematosa, e o exame do colo uterino não revela anormalidades. CRITÉRIOS DE AMSEL: Mulheres não brancas, gravidez prévia, múltiplos e novos parceiros do sexo feminino e masculino, uso de DIU, uso de duchas vaginais, tabagismo e a não utilização de condom. Os critérios diagnósticos clínicos: • pH igual ou maior que 4,5. • Teste de aminas (whiff) positivo (odor semelhante a “peixe podre” ao se adicionar duas gotas de KOH a 10% ao conteúdo vaginal). • Presenc de “Clue Cells” (células epiteliais recobertas por das mais O quadro clínico caracteriza-se por corrimento de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido. Por vezes, a paciente refere apenas o odor, estando o corrimento ausente. O odor fétido piora com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação, devido à volatização de aminas aromáticas, resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual. O corrimento vaginal é fluido, homogêneo, branco acinzentado (mais comum) ou amarelado (raro), normalmente em pequena quantidade e não aderente, e pode formar microbolhas. A presença de sintomas inflamatórios, como dispareunia, irritação vulvar e disúria, é exceção. A parede vaginal das mulheres com VB é de aparência normal e não eritematosa. A VB é relatada por alguns especialistas como a causa mais frequente dos sintomas vaginais que resultam em consultas médicas. Entre os sintomas, descarga vaginal sem irritação e com mau cheiro é característica, mas nem sempre está presente. Em regra, a vagina não se cocobacilos Gram lábeis) ao exame bacterioscópico. CRITÉRIOS DE NUGENT: O escore de Nugent é um sistema empregado para diagnosticar VB utilizando o exame microscópico de esfregaço de secreção vaginal corado pelo Gram. A predominância de três tipos de morfologia e coloração bacterianas: 1. grandes bastonetes gram-positivos (Lactobacillus spp.), 2. pequenos bastonetes com resultado variável pelo Gram (G. vaginalis ou Bacteroides spp.) e 3. bastonetes curvos de Gram variável (Mobiluncus spp.). Pontuações entre 7 e 10 são consistentes com VB. Vários desfechos ginecológicos adversos são observados em mulheres com VB, incluindo vaginite, endometrite, endometrite pós-abortamento, doença inflamatória pélvica (DIP) não associada à N. gonorrhoeae ou à Chlamydia trachomatis e infecções pélvicas agudas após cirurgia pélvica, em especial histerectomia. FATORES DE RISCO: QUADRO CLÍNICO: @resumosdamed_ 3 Portanto, esse critério fundamenta-se principalmente na presença ou não dos lactobacillus e de bacilos curvos. • Normal: 0 a 3; • Flora indefinida: 4 a 6; • Vaginose Bacteriana: 7 a 10. O tratamento de mulheres assintomáticas, não é recomendado pelo CDC. Até o momento, não existem recomendações para o tratamento do(s) parceiro(s) sexual(is) para melhorar o índice de cura ou prevenção das recorrências da VB. O tratamento da VB visa eliminar os sintomas e reestabelecer o equilíbrio da flora vaginal fisiológica, principalmente pela redução dos anaeróbios. De acordo com o Center for Disease Control (CDC), o tratamento pode ser realizado: RECOMENDADOS: • Metronidazol 500 mg por via oral duas vezes ao dia durante sete dias; OU • Metronidazol gel 0,75% – 5g (um aplicador) intravaginal ao deitar durante cinco dias; OU • Clindamicina creme 2% – 5g (um aplicador) intravaginal ao deitar durante sete dias. O Metronidazol não apresenta restricã̧ o formal de uso no 2º e 3º trimestre de gestação, o tratamento na gravidez deve acompanhar a mesma indicac o de mulheres não grávidas. Saliente-se o fato que o metronidazol Candidíase Vulvovaginal (CVV) é a segunda causa mais comum de corrimento vaginal, sendo uma infecção da vulva e vagina causada por um fungo do gênero Candida, Gram-positivo, dimorfo, saprófita do trato genital e gastrointestinal, com virulência limitada. A Candida é capaz de se proliferar em ambiente ácido, apesar da ação dos lactobacilos. A Candida é capaz de proliferar em ambiente ácido, apesar da ação dos lactobacilos. A via sexual não constitui a principal forma de transmissão, este fungo Gram- positivo é encontrado na vagina em 30% das mulheres sadias e assintomáticas. A candidíase é frequente no menacme, sendo rara em crianças ou na menopausa, sugerindo que a colonização do trato genital por fungos é hormônio dependente. Condições associadas com elevada produção de hormônios como gestação, diabetes, contraceptivos de alta dosagem podem associar-se a candidíase. vaginal pH vaginal também é absorvido no epitélio vaginal e alcança a circulação materna, sendo metabolizado pelo fígado. ALTERNATIVOS: • Tinidazol 2g por via oral duas vezes ao dia durante dois dias; OU • Tinidazol 1g via oral uma vez ao dia durante cinco dias; OU • Clindamicina 300 mg por via oral a cada 12 horas durante sete dias. Episódios esporádicos de CVV geralmente ocorrem sem fator desencadeante identificado. No entanto, existem situações que predispõem ao seu aparecimento, como: gravidez; uso de contraceptivos orais com altas dosagens de estrogênio; terapia de reposição hormonal somente com estrogênio; diabetes mellitus (descompensado); uso de DIU; tireoidopatias; obesidade; uso de antibióticos, corticoides ou FATORES DERISCO: TRATAMENTO: CANDIDÍASE VULVOVAGINAL (CVV): @resumosdamed_ 4 QUADRO CLÍNICO: DIAGNÓSTICO: TRATAMENTO: imunossupressores; hábitos de higiene e vestuário inadequados (diminuem a ventilação e aumentam a umidade e o calor local); contato com substâncias alérgenas e/ou irritantes (ex.: talco, perfume, desodorante); alterações na resposta imunológica (imunodeficiência, estresse), inclusive a infecção pelo HIV. O quadro clínico da vulvovaginite fúngica caracteriza-se por prurido, de intensidade variável, acompanhado por corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com aspecto de “leite talhado”); dependendo da intensidade do processo inflamatório, pode haver queixa de desconforto, dor, disúria e dispareunia. Ao exame ginecológico, é frequente observar hiperemia vulvar, edema e fissuras. O exame especular mostra hiperemia da mucosa vaginal e conteúdo vaginal esbranquiçado, em quantidade escassa, moderada ou abundante, de aspecto espesso ou flocular, aderido ou não às paredes vaginais. O pH vaginal encontra-se geralmente abaixo de 4,5. O teste das aminas (whiff test) é negativo na candidíase. Na maioria dos casos, o quadro clínico e o exame a fresco são suficientes para o diagnóstico. Na vigência de candidíase vulvovaginal recorrente, a realização de cultura (meios de ágar-Sabouraud ou Nickerson) pode ser útil para avaliar a presença de espécies não albicans. Além da anamnese e do exame ginecológico cuidadosos, é necessária a comprovação laboratorial para o correto diagnóstico. Os exames microbiológicos compreendem: 1. Bacterioscopia a Fresco: realizada colocando-se em uma lâmina de vidro uma gote de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina ou de hidróxido de potássio a 10%. Visualizam-se ao microscópio as hifas e/ou esporos, característicos da infecção. O exame com KOH, embora evidencie claramente o fungo pode dificultar a visualização das células descamativas. Lembrar que o exame a fresco pode ser negativo em aproximadamente 50% das pacientes com culturas positivas. Assim, se existirem sintomas e o exame a fresco for negativo, deve-se prosseguir a investigação diagnóstica. 2. Bacterioscopia com Coloração pelo Método de Gram: permite melhor definição das hifas e esporos. Estudos tem demonstrado que a positividade na bacterioscopia correlaciona-se com a concentração de fungos na vagina. Assim em mais baixas o fungo será identificado apenas pela cultura. 3. Culturas em Meios Específicos: os mais utilizados são os de Sabouraud e Nickerson, possibilitando também a identificação das espécies de fungos. 4. PCR: utilizado basicamente para pesquisas. Para o tratamento e prevenção de novos episódios, é importante a eliminação ou pelo menos o controle de fatores predisponentes como diabetes mellitus descompensada, estados de imunossupressão, tabagismo, distúrbios alimentares com excesso de ingestão de hidratos de carbono, hábitos de higiene ou vestuário inadequados, estresse excessivo e outros fatores, se presentes. @resumosdamed_ 5 FATORES DE RISCO: QUADRO CLÍNICO: DIAGNÓSTICO: TRATAMENTO: A tricomoníase é a infecção causada por um protozoário flagelado denominado Trichomonas vaginalis, anaeróbico facultativo, que possui os seres humanos como os únicos hospedeiros conhecidos. É a terceira causa mais comum de corrimento vaginal, na maioria dos casos, a tricomoníase encontra-se associada a outras doenças de transmissão sexual, além de facilitar a transmissão do HIV. As mulheres são em sua maioria sintomáticas, podendo, em algumas circunstâncias, permanecerem assintomáticas, como após a menopausa. Pode cursar de forma assintomática nos homens. A tricomoníase somente se relaciona com a prática da atividade sexual desprotegida. Assim, a tricomoníase é uma DST e sua via de transmissão é quase unicamente sexual. Os sintomas classicamente descritos na infecção são corrimento geralmente profuso, amarelado ou amarelo-esverdeado, frequentemente acompanhado de ardor genital, sensação de queimação, disúria e dispareunia. Os sintomas acentuam-se no período pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal e à aquisição de ferro da hemoglobina pelo parasita, o que aumenta sua virulência. Ao exame ginecológico, geralmente se observam hiperemia dos genitais externos e presença de corrimento espesso, de aspecto purulento, exteriorizando-se pela fenda vulvar. Ao exame especular, verifica-se aumento do conteúdo vaginal, de coloração amarelada ou amarelo- esverdeada, por vezes acompanhado de pequenas bolhas. As paredes vaginais e a ectocérvice apresentam-se hiperemiadas, observando-se ocasionalmente o “colo uterino com aspecto de morango” (colpitis maculáreis), devido às pequenas sufusões hemorrágicas. A medida do pH vaginal revela valores acima de 4,5 e o teste das aminas (whiff test) pode ser positivo devido à presença de germes anaeróbios associados à VB. É importante lembrar que em muitas mulheres os sintomas podem ser discretos ou mesmo ausentes. Na maioria das vezes, é realizado com base nos dados da anamnese, achados ao exame físico, medida do pH vaginal, teste de whiff e microscopia a fresco do fluido vaginal. O pH vaginal normalmente é igual ou superior a 5,0 (entre 5,0 e 6,0). O teste de whiff é positivo, mesmo que fracamente. A cultura em meio de Diamond era considerada o método padrão-ouro para o diagnóstico da tricomoníase, antes que os métodos de detecção moleculares se tornassem disponíveis. Ela apresenta uma sensibilidade de 75 a 96% e uma especificidade próxima de 100%. O Teste de Amplificação do Ácido Nucleico (NAAT) é altamente sensível. É o método mais sensível e específico disponível, mas só está indicado nas pacientes em que a suspeita de tricomoníase não foi confirmada pela microscopia. Deve ser sistêmico, pois o tratamento tópico não atinge níveis terapêuticos nas glândulas vaginais e na uretra. TRICONOMÍASE: @resumosdamed_ 6 As úlceras genitais (UGs) são lesões localizadas na vulva, vagina ou colo uterino com perda de tecido, envolvendo a epiderme e a derme ou apenas a epiderme. As UGs podem se apresentar em tamanho e número variados, quase sempre associadas a processo inflamatório. Necrose, infecção, sangramento e tecido granulomatoso podem estar presentes. Representa uma doença infecciosa, sistêmica, de evolução crônica, sujeita a surtos de agudização e a períodos de latência. Na maior parte dos casos, é transmitida pela via sexual. Sua evolução caracteriza-se por episódios sintomáticos (doença ativa) interrompidos por períodos de latência. Apresenta fácil detecção, terapêutica simples, barata, e com alta eficácia. A contaminação durante a gestação implica em acometimento fetal, de gravidade preocupante. É causada por uma bactéria espiroqueta anaeróbia de movimentos lentos – gênero Treponema pallidum. A umidade é fator indispensável para o seu desenvolvimento e, por isso, as lesões crescem preponderantemente na boca e nas regiões genitoanais. SÍFILIS PRIMÁRIA: A lesão indicadora dessa infecção é chamada de cancro, onde as espiroquetas são abundantes. É uma úlcera clássica, isolada, firme ao toque, com bordas arredondadas levemente elevadas e uma base integrada não infectada. No entanto, pode se tornar infectada secundariamente e dolorosa. Em geral, os cancros são encontrados no colo uterino, na vagina ou na vulva, mas também podem se formar na boca ou ao redor do ânus. Essa lesão pode se desenvolver em 10 dias a 12 semanas após a exposição, com um período médio de incubação de três semanas. O período de incubação está diretamente relacionado ao grau de inoculação. Sem tratamento, essas lesões cicatrizam espontaneamente em até seis semanas. SÍFILIS SECUNDÁRIA: Esta fase está associada à bacteriemia e desenvolve-se em seis semanas a seis meses após o surgimento do cancro. Sua manifestação é um exantema maculopapular que pode envolver todoo corpo e inclui palmas, plantas e mucosas. Esse exantema dissemina ativamente as espiroquetas. Nas áreas corporais quentes e úmidas, esse exantema pode produzir placas grandes, rosadas ou cinzas esbranquiçadas, altamente infecciosas, denominadas condylomata lata. Como a sífilis é uma infecção sistêmica, outras manifestações podem incluir febre e mal-estar. Além disso, sistemas orgânicos, como renal, hepático, osteoarticular e o nervoso central (SNC) (meningite), podem ser envolvidos. SÍFILIS LATENTE: Denomina-se sífilis latente secundária o período de um ano após o surgimento de sífilis secundária sem tratamento, durante o qual podem surgir sinais e sintomas secundários. Entretanto, as lesões associadas a essas manifestações, em geral, não são contagiosas. A sífilis latente tardia é CARACTERIZAR AS PRINCIPAIS ISTS (QUADRO CLÍNICO, ETIOLOGIA, TRANSMISSÃO E TRATAMENTO): SÍFILIS: QUADRO CLÍNICO: Pode ser transmitida pela via sexual ou transplacentária, podendo ser classificada, respectivamente, em sífilis adquirida ou congênita. Em termos epidemiológicos, ambas são divididas em recente e tardia. @resumosdamed_ 7 DIAGNÓSTICO: definida como aquela na qual se tenha passado um ano desde a infecção inicial. SÍFILIS TERCIÁRIA: Esta fase da sífilis não tratada pode surgir até 20 anos após a latência. Durante essa fase, evidencia-se o envolvimento cardiovascular, do SNC e do sistema musculo esquelético. de quatro vezes no título (duas diluições) em paciente previamente tratada para sífilis determina a necessidade de confirmação com testes específicos para treponema. Assim, para a confirmação do diagnóstico em uma paciente com resultado positivo para teste não treponêmico de anticorpo ou com suspeita clínica de sífilis, as melhores opções são FTA-ABS ou TP-PA. Finalmente, para as medições quantitativas de títulos de anticorpos para avaliar a resposta ao tratamento, os testes mais utilizados são RPR ou VDRL. A infecção ocorre na sífilis recente pelo contato e na sífilis latente por meio do fluido corporal (principalmente pelo sangue). O contágio pode ser direto, quase sempre genital, e, mais raramente, cutâneo e bucal. A espiroqueta é capaz de penetrar o organismo através da pele ou das mucosas, determinando, no local da inoculação, a lesão característica da fase primária, o protossifiloma. A sífilis precoce é diagnosticada principalmente pelo exame em campo escuro ou pelo teste de imunofluorescência direta do líquido da lesão. Na ausência de diagnóstico positivo, o diagnóstico suposto pode ser confirmado com os testes sorológicos não treponêmicos: (1) teste VDRL ou (2) teste da reagina plasmática rápida (RPR). Como alternativa, pode-se optar pelos testes treponêmicos: (1) teste de absorção de anticorpo de treponema ou (2) teste de aglutinação passiva para anticorpo contra Treponema pallidum. Os médicos devem estar familiarizados com o uso dos testes sorológicos para sífilis. Para rastreamento na população, os testes RPR ou VDRL são apropriados. Para aferições quantitativas dos títulos de anticorpos para avaliar a resposta ao tratamento, costuma-se utilizar os testes RPR ou VDRL. O resultado positivo em uma paciente que tenha sido tratada para sífilis ou o aumento A penicilina é o agente terapêutico de primeira linha para essa infecção, e a escolha primária é a penicilina benzatina. Com o tratamento, pode haver uma resposta aguda e febril autolimitada, chamada de reação de Jarisch- Herxheimer, dentro das primeiras 24 horas após o tratamento da doença inicial, acompanhada de cefaleia e mialgia. Assim como com todas as DSTs, as pacientes tratadas para sífilis e seus contatos sexuais devem ser testadas para outras DSTs. As pacientes com envolvimento neurológico ou cardíaco evidente devem ser tratadas por um especialista em doenças infecciosas. Após o tratamento inicial, as mulheres devem ter consultas agendadas em intervalos de seis meses para avaliação clínica e novos testes sorológicos. Espera-se redução de quatro vezes na titulação. Caso isso não ocorra, o tratamento terá fracassado ou a paciente foi reinfectada. Nesse caso deve ser reavaliada e retratada. A recomendação para retratamento é penicilina G benzatina, 2,4 milhões de unidades IM/semana, por três TRATAMENTO: TRANSMISSÃO: @resumosdamed_ 8 ETIOLOGIA: QUADRO CLÍNICO: TRANSMISSÃO: DIAGNÓSTICO: TRATAMENTO: semanas. Assim, no caso de não ser possível acompanhar de perto as pacientes alérgicas à penicilina ou quando sua adesão ao tratamento for questionável, recomenda-se teste cutâneo, dessensibilização e tratamento com penicilina benzatina IM. A doença ulcerativa genital granuloma inguinal também é conhecida como donovanose, e é causada por uma bactéria intracelular gram- negativa, Calymmatobacterium (Klebsiella) granulomatis. Doença crônica progressiva, de baixo contágio. Mais frequente nas regiões tropicais, na raça negra e em pessoas de baixo nível socioeconômico. Acomete preferencialmente pele e mucosas das regiões genitais, perianais e inguinais. Inicialmente, apresenta-se como uma pápula ou nódulo indolor, única ou múltipla, de localização subcutânea, geralmente nos lábios ou no introito vaginal. A lesão evolui para ulceração de borda plana ou hipertrófica, bem delimitada, com fundo granulomatoso, vermelho-viva e friável (sangramento fácil ao toque), que evolui lentamente para lesão vegetante ou ulcerovegetante. Por autoinoculação, vão surgindo lesões satélites que se unem, alcançando grandes áreas. Não cursa normalmente com adenite, somente pseudobubões (granulações subcutâneas) quase sempre unilaterais, e que podem ser confundidos com aumento linfonodal. São encontrados na região inguinal, em geral unilaterais, e são causados por granulações subcutâneas devido à inflamação local. Pode evoluir para forma elefantiásica na mulher, devido à obstrução linfática. Esta sequela pode exigir correção cirúrgica. Os locais mais acometidos na mulher são dobras e região perianal, como os lábios menores, região perineal, e às vezes, colo e trato genital superior Pode ocorrer por contaminação fecal ou autoinoculação. Sua transmissão provavelmente não é somente sexual, pois pode ser encontrada em crianças, jovens inativos sexualmente, é rara em profissionais do sexo, rara em parceiros de casos-índice e não possui período de incubação definido. A região genital é afetada em 90% dos casos e a inguinal em 10% Parece que o grau de contágio dessa doença é médio, requerendo exposições repetidas, e possui um período longo de incubação, que varia de trinta dias a seis meses (média de cinquenta dias). Realizado através da identificação dos corpúsculos de Donovan em esfregaço com coloração de Wright, Giemsa ou Leishman ou histopatológico. A cura é incomum na ausência de tratamento. A lesão evolui para extensa destruição tecidual com cicatrizes retráteis, deformidades cutâneas e estase linfática. O Ministério da Saúde recomenda a adição de um aminoglicosídeo (gentamicina 1 mg/kg IV 8/8 horas) por pelo menos três semanas ou até a cicatrização das lesões caso não haja melhora evidente após os primeiros dias de terapia com ciprofloxacina ou eritromicina. O CDC recomenda que parceiros que tiveram contato sexual com mulheres que desenvolveram o granuloma inguinal, nos 60 dias que precederam o aparecimento dos sintomas, deverão ser examinados. No entanto, o valor GRANULOMA INGUINAL: @resumosdamed_ 9 da terapia empírica na ausência de sinais clínicos e sintomas não foi estabelecido. Já o Ministério da Saúde considera que, devido à baixa infectividade, não é necessário o tratamento dos parceiros sexuais. O critério de cura é clínico, baseado no desaparecimento da lesão. A paciente com a doença se apresenta inicialmente com uma pápula eritematosa que evolui para pústula que sofre ulceração em 48 horas. As bordas dessasúlceras dolorosas, em geral, são irregulares, com limites eritematosos sem enduração. A base da úlcera costuma ser avermelhada e granular e, em contraste com o cancro sifilítico, tem consistência amolecida. Em regra, as lesões são recobertas com material purulento e, quando secundariamente infectadas, exalam odor fétido. Nas mulheres as localizações mais comuns são a fúrcula vulvar, o vestíbulo, o clitóris e os grandes lábios. As úlceras no colo uterino ou na vagina podem ser duras. Simultaneamente, quase metade das pacientes desenvolverá linfadenopatia inguinal mole unilateral ou bilateral. Quando as úlceras são grandes e flutuantes, são chamadas de bubão. Às vezes podem supurar e formar fístulas, e sua drenagem resultará na formação de outra úlcera. Acredita-se que a infecção ocorra por múltiplas microabrasões epidérmicas durante o coito. Este dado baseia-se em experiências clínicas, que demonstraram a necessidade de abrasão cutânea para ocorrência da infecção. Cancro mole é uma das DSTs clássicas causada por um bacilo sem motilidade, não formador de esporos, facultativo, gram-negativo, o Haemophilus ducreyi. Em geral, o período de incubação é de 3 a 10 dias, e o acesso ao hospedeiro requer a presença de fissura na pele ou na mucosa. O cancro mole não causa reação sistêmica, e não há síndrome prodrômica descrita. Nenhum método de identificação possui uma sensibilidade adequada. 1. Exame Físico: é bem sugestivo. O achado de úlcera dolorosa com adenopatia inguinal dolorosa é bastante sugestivo e quando se associa à presença de supuração, é considerada patognomônica. Sua diferenciação clínica pode ser difícil mesmo quando realizada por observadores muito experientes. 2. Bacterioscopia com Coloração de Gram ou Giemsa: pode ser utilizado com material da punção do bubão ou raspado das bordas QUADRO CLÍNICO: TRANSMISSÃO: DIAGNÓSTICO: CANCRO MOLE: @resumosdamed_ 10 TRATAMENTO: LINFOGRANULOMA VENÉREO (LGV): QUADRO CLÍNICO: da lesão, com sensibilidade de 70%. Serão encontrados germes Gram-negativos intracelulares (cocobacilos) com as extremidades mais coradas, dispostos em cadeias longas e paralelas (paliçada ou impressão digital), em disposição em “cardume de peixe” ou em cadeias isoladas. É grande a chance de falso-negativos. 3. Cultura: a cultura com identificação do Haemophilus ducreyi faz o diagnóstico definitivo. No entanto, apresenta difícil execução pelas exigências de crescimento do bacilo que necessita do fator X (ferriprotoporfirina, derivada da hemoglobina não destruída por ocasião do aquecimento indispensável para o preparo do Ágar chocolate). Na cultura identifica-se crescimento em pares e em cadeias paralelas. O CDC não recomenda o diagnóstico de cancroide baseado na identificação do micro-organismo pela cultura. 4. PCR: alta sensibilidade, porém de alto custo e pouco disponível. Segundo o CDC, o diagnóstico presuntivo do cancro mole é definido por: presença de uma ou mais lesões ulceradas; ausência de evidência do T. pallidum em exame de campo escuro ou teste sorológico (este realizado após sete dias do aparecimento da lesão); aspecto da úlcera e da linfadenopatia regional característicos do cancroide; teste negativo (PCR, cultura) para herpesvírus na lesão ulcerada. O tratamento bem-sucedido resultará em melhora sintomática em três dias e evidência objetiva de melhora em uma semana. A linfadenopatia cura mais devagar e, se flutuante, podem ser necessárias uma incisão e uma drenagem. Aquelas mulheres com infecção por HIV coexistente podem precisar de um tratamento mais prolongado, e as falhas de tratamento são mais comuns. Portanto, alguns regimes mais longos são recomendados para o tratamento inicial de pacientes sabidamente infectadas com HIV. Essa doença genital ulcerativa é causada pela Chlamydia trachomatis, sorotipos L1, L2 e L3. O ciclo de vida da clamídia é formado por três fases. Inicialmente, partículas infectantes (corpos elementares) penetram na célula do hospedeiro, onde se desenvolvem, evoluindo para corpos reticulares metabolicamente ativos. A divisão binária dentro da célula permite que os corpos reticulares se transformem em múltiplos corpos elementares. Finalmente, estes corpos são liberados por exocitose. Em geral, a infecção divide-se em três fases, como se segue: (1) vesícula ou pápula pequena; (2) linfadenopatia inguinal ou femoral; e (3) síndrome anogenitorretal. Seu período de incubação varia entre três dias e duas semanas. As pápulas iniciais cicatrizam rapidamente e não deixam cicatrizes. Surgem principalmente na fúrcula vulvar e na parede vaginal posterior até o colo uterino. A inoculação repetida pode resultar em lesões em várias regiões. Durante a segunda fase, algumas vezes denominada síndrome inguinal, observa-se o aumento progressivo dos linfonodos inguinal e femoral. Os linfonodos aumentados e dolorosos podem fundir-se em qualquer lado do ligamento inguinal, criando um “bubão” característico, que aparece em até 20% das mulheres infectadas. Além disso, os linfonodos aumentados podem romper completamente a pele, resultando em drenagem crônica por fístulas. É possível haver febre antes do rompimento. É comum as @resumosdamed_ 11 DIAGNÓSTICO: TRATAMENTO: QUADRO CLÍNICO: Normalmente, os sintomas são mais graves, mas pode não produzir sintomas. Os pródromos incluem prurido, ardência, hipersensibilidade, queimação e parestesia. mulheres com LGV desenvolverem infecção sistêmica e manifestarem mal- estar e febre. Além disso, pneumonia, artrite e hepatite são relatadas com essa infecção. Na terceira fase do LGV, a paciente desenvolve prurido retal e descarga mucoide pelas úlceras retais. Se forem infectadas, a descarga tornar-se-á purulenta. Essa apresentação é resultado da obstrução linfática que sucede a linfangite e que, em princípio, pode resultar em elefantíase da genitália externa e fibrose do reto. O sangramento retal é comum, e a paciente pode se queixar de cólicas, dores abdominais com distensão abdominal, dor retal e febre. É possível haver peritonite em consequência de perfuração intestinal. Também há relatos de estenose da uretra e da vagina. O LGV pode ser diagnosticado depois da avaliação clínica com exclusão de outras etiologias e teste positivo para clamídia. Uma sorologia com título ≥ 1:64 corrobora o diagnóstico. Além disso, pode ser realizada cultura para C. trachomatis ou teste por imunofluorescência ou PCR de amostras obtidas nos linfonodos por esfregaço ou aspiração. O esquema recomendado pelo CDC é doxiciclina, 100 mg, por via oral (VO), duas vezes ao dia, por 21 dias. Como alternativa, eritromicina base, 500 mg, VO, quatro vezes ao dia, pelo mesmo período. Recomenda-se que parceiros sexuais dos 60 dias anteriores sejam testados para infecção uretral ou cervical e tratados de modo idêntico com o esquema-padrão anticlamídia. É a doença ulcerosa genital de maior prevalência e é uma infecção crônica. O vírus penetra nas terminações dos nervos sensoriais e é transportado retrogradamente pelo axônio para as raízes dos gânglios dorsais, onde fica potencialmente latente por toda a vida. A reativação espontânea por várias causas resulta no transporte anterógrado de partículas/proteínas do vírus para a superfície, onde se dissemina, com ou sem formação de lesões. Postulou-se que mecanismos imunológicos controlariam a latência e a reativação. Há dois tipos do vírus herpes simples, o HSV-1 e o HSV-2. O HSV-1 é a causa mais frequente das lesões orais. O HSV-2 costuma ser encontrado nas lesões genitais, embora ambos os tipos possam causar herpes genital. Apresenta duas formas básicas de infecção: a primária e a recorrente. PRIMÁRIA: As lesões cutâneas sucedem os sintomas prodrômicos em horas ou dias. Estas são transmitidas por contato direto ou fômites. Caracterizam-se por pápulas eritematosas de 3 a 10 mm, seguindo-sede vesículas agrupadas com conteúdo citrino. As vesículas se rompem e originam ulcerações dolorosas, com bordas lisas, de mínima profundidade, não ultrapassando 1 mm e que não sangram à manipulação. Posteriormente, são recobertas por crostas sero-hemáticas que cicatrizam por completo. Após a infecção primária, sintomática ou não, o vírus ascende através dos nervos periféricos sensoriais, penetra nos núcleos das células ganglionares e entra em estado de latência. No homem, as lesões são mais frequentes na glande e no prepúcio; em alguns casos, observa-se corrimento genital e disúria. Na mulher, as lesões HERPES GENITAL: @resumosdamed_ 12 TRANSMISSÃO: DIAGNÓSTICO: TRATAMENTO: são mais frequentes nos pequenos lábios, no clitóris, nos grandes lábios, na fúrcula e no colo do útero. RECORRENTE: As recorrências, independentemente do tipo viral, tornam-se menos frequentes com o passar do tempo. A recorrência é mais branda, complica menos, tem menor duração (média de nove dias contra doze dias da infecção primária), menor liberação viral e menos lesões clínicas. O risco de recorrência após o episódio inicial de herpes genital é de 50% para o tipo 1 e 80% para o tipo 2. Geralmente os episódios são mais curtos e mais brandos. Também podem ser precedidos por sintomas prodrômicos (sensibilidade local, prurido, queimação, mialgias, fisgadas) em 50% dos casos A reativação pode ser desencadeada após episódios febris, exposição solar, frio intenso, traumatismos, menstruação, estresse físico ou emocional, antibioticoterapia prolongada e imunodeficiência. A cicatrização ocorre em torno de 10 dias, sem sequelas estéticas devido à superficialidade das lesões. Transmissão sexual, inclusive orogenital. O padrão-ouro para o diagnóstico de lesão(ões) herpética(s) é a cultura tecidual. A especificidade é alta, mas a sensibilidade é baixa e declina à medida que as lesões cicatrizam. O teste da reação em cadeia da polimerase (PCR) é de 1,5 a 4 vezes mais sensível do que a cultura, sendo provável que venha a substitui-la. É importante observar que uma cultura negativa não significa inexistência de infecção herpética. Há testes sorológicos tipo-específicos para glicoproteína-G disponíveis para detectar anticorpos específicos para glicoproteína-G2 (HSV-2) e para glicoproteína- G1 (HSV-1). A especificidade do ensaio é ≥ 96%, e a sensibilidade do teste de anticorpos anti-HSV-2 varia entre 80 e 98 por cento. Embora esses testes sejam utilizados para confirmar a infecção por herpes simples, o tratamento e o rastreamento-padrão adicional podem ser iniciados nos casos clinicamente evidentes logo após o exame físico. O herpes é uma doença recorrente e incurável. O tratamento possui o objetivo de encurtar o curso da doença, diminuir sua intensidade e recorrências. TRATAMENTO SINTOMÁTICO: Pode ser realizado com analgésicos orais para alívio de sintomatologia dolorosa e limpeza local com compressas de solução fisiológica. Não devem ser empregados corticoides. Podem ser utilizados antibióticos tópicos (neomicina) nos casos de infecções secundárias. TRATAMENTO ESPECÍFICO DO PRIMEIRO EPISÓIDO: Pode ser realizado com aciclovir, valaciclovir ou fanciclovir por sete a dez dias(CDC). Caso não haja cura até dez dias pode-se estender o tratamento. Ou apenas o aciclovir (MS) TRATAMENTO TÓPICO OU ANTIVIRAL: Não erradica o vírus, mas pode reduzir a frequência e duração das recorrências após a infecção primária (vanciclovir, fanciclovir, aciclovir) quando usado de forma profilática. Não parece alterar o curso da doença e sua utilização deve ser desencorajada. Convém lembrar que antibióticos tópicos, como a neomicina, podem ser empregados nos casos de infecções secundárias. @resumosdamed_ 13 ETIOLOGIA: QUADRO CLÍNICO: DIAGNÓSTICO: TRATAMENTO DAS RECORRÊNCIAS: No caso de recorrência, o tratamento deve ser iniciado aos primeiros sintomas prodrômicos, por cinco dias de duração. TRATAMENTO EM CASOS GRAVES: Em caso de manifestações graves o uso de aciclovir deverá ser venoso (5 a 10 mg/kg, 8/8h, 5-7 dias ou até regressão). TRATAMENTO SUPRESSIVO: Está indicado em pacientes que apresentam recidiva de seis ou mais vezes ao ano e consiste em aciclovir 400 mg VO duas vezes por dia (opções: fanciclovir 250 mg VO duas vezes ao dia, valaciclovir 500 mg ou 1 g VO uma vez ao dia) por seis meses a um ano. Muitas mulheres com N. gonorrhoeae no colo uterino são assintomáticas. Por essa razão, as mulheres em grupo de risco devem ser rastreadas periodicamente Neisseria gonorrhoeae é um cocobacilo gram-negativo que invade as células epiteliais colunares e transicionais, passando para o meio intracelular. Por essa razão, o epitélio vaginal não é envolvido. Os fatores de risco para pacientes portadoras de gonococos com infecção potencial do trato reprodutivo superior são as seguintes: idade igual ou inferior a 25 anos, presença de outras infecções sexualmente transmissíveis, antecedente de infecção por gonococos, parceiro sexual recente ou múltiplos parceiros, prática sexual sem preservativos, compartilhamento de seringas ou objetos cortantes com resíduo de sangue e profissionais do sexo. O rastreamento de mulheres não gestantes e de baixo risco não é recomendado. A gonorreia sintomática do trato reprodutivo inferior feminino pode se apresentar na forma de vaginite ou de cervicite. Em geral, as mulheres portadoras de cervicite descrevem uma secreção vaginal profusa sem odor, não irritante e de cor branca-amarelada. Os gonococos também podem infectar as glândulas de Bartholin e de Skene e a uretra, e ascender para o endométrio e as tubas uterinas, causando infecção no trato reprodutivo superior. Para a identificação do gonococo estão disponíveis os testes NAAT que substituíram a cultura na maioria dos laboratórios. Anteriormente as amostras ideais eram coletadas da ectocérvice ou da uretra. Entretanto, novos testes NAAT estão disponíveis para coletas específicas de vagina, ectocérvice ou urina. Para as mulheres submetidas à histerectomia (sem colo uterino), coleta-se amostra da primeira urina da manhã. Para aquelas com colo uterino, amostras coletadas por swab vaginal são tão sensíveis e específicas quanto aquelas obtidas com swab cervical. Amostras do colo uterino são aceitáveis nos casos em que se esteja realizando exame físico da pelve. As amostras de urina, embora aceitáveis, não são preferenciais nas pacientes com colo uterino uterina. Contudo, se esta for a opção, deve- se coletar o jato inicial de urina, e não o intermediário. Observe-se que esses testes não culturais não estão habilitados pela FDA para a identificação diagnóstica da doença no reto ou na faringe. Assim, nos pacientes que estejam sendo pesquisados para esses locais anatômicos, devem ser realizadas culturas. Todas as pacientes investigadas para gonorreia devem ser testadas para outras infecções sexualmente transmissíveis, e seus parceiros sexuais GONORREIA: @resumosdamed_ 14 TRATAMENTO: ETIOLOGIA: QUADRO CLÍNICO: avaliados e tratados ou encaminhados para exame e tratamento. Deve haver abstinência sexual até que a terapia tenha sido concluída e até que a paciente e os parceiros tratados tenham seus sintomas resolvidos. Chlamydia trachomatis é um parasita intracelular obrigatório que depende de células do hospedeiro para sobreviver, causando causa infecção no epitélio colunar. Este organismo é a segunda espécie mais prevalente entre as DSTs nos Estados Unidos, e sua maior prevalência está entre os jovens com menos de 25 anos de idade. Uma vez que muitas pessoas com esses organismos são assintomáticas, recomenda-se rastreamento anual nas mulheres sexualmente ativas com idade ≥ 25 anos e naquelas consideradas de risco. Os sintomas refletem a infecção de glândulas ectocervicais, com resultante descarga mucopurulentaou secreções ectocervicais. Se infectado, o tecido ectocervical costuma se apresentar edemaciado e hiperêmico. A uretrite é outra infecção do trato genital inferior que pode ocorrer com intensa disúria. A análise microscópica das secreções em preparado salino em geral revela 20 ou mais leucócitos por campo microscópico. Como exames mais específicos, cultura, NAAT e ensaio imunoenzimático (Elisa) estão disponíveis para amostras ectocervicais. A alternativa mais utilizada é um teste combinado para gonococo e clamídia. Assim como ocorre para gonorreia, surgiram novos kits de NAAT que permitem coletas seletivas de vagina, endocérvice ou urina. Os swabs com material de vagina são tão sensíveis e específicos quanto os de colo uterino. Amostras de colo uterino são aceitas quando a paciente estiver sendo submetida a exame físico da pelve, mas amostras obtidas da vagina são consideradas adequadas mesmo nos casos de exame físico completo da pelve. As amostras de urina, embora aceitas, são menos utilizadas em mulheres que tenham colo uterino. Contudo, para pacientes histerectomizadas dá-se preferência ao primeiro jato de urina. Se for diagnosticada C. trachomatis ou houver suspeita, recomenda-se rastreamento para outras DSTs. TRATAMENTO: A azitromicina tem a óbvia vantagem de garantir a adesão ao tratamento por permitir ao médico observar a ingestão do medicamento no momento do diagnóstico. Após o tratamento, não há necessidade de novo teste caso os sintomas tenham sido resolvidos. Para evitar outras infecções, recomenda-se abstinência sexual até que a paciente e seu(s) parceiro(s) tenham sido tratados e estejam assintomáticos. Os parceiros sexuais devem ser encaminhados para investigação ou examinados, orientados, testados e CLAMÍDIA: DIAGNÓSTICO: @resumosdamed_ 15 ETIOLOGIA: QUADRO CLÍNICO: TRANSMISSÃO: DIAGNÓSTICO: tratados. Assim como para a gonorreia, o CDC sancionou o uso de EPT para pacientes selecionados. Trata-se de um parasita intracelular, capaz de acelerar a velocidade das mitoses celulares, o que aumenta a chance de desenvolvimento de atipias. Na maioria das vezes a infecção cervical pelo HPV é transitória e regride espontaneamente, entre seis meses a dois anos após a exposição. No pequeno número de casos nos quais a infecção persiste e, especialmente, é causada por um tipo viral oncogênico, pode ocorrer o desenvolvimento de lesões precursoras, cuja identificação e tratamento adequado possibilitam a prevenção da progressão para o carcinoma cervical invasivo. Além de aspectos relacionados à própria infecção pelo HPV (tipo e carga viral, infecção única ou múltipla), outros fatores ligados à imunidade, à genética e ao comportamento sexual parecem influenciar os mecanismos ainda incertos que determinam a regressão ou a persistência da infecção e, também a progressão para lesões precursoras ou câncer. A idade também interfere nesse processo, sendo que a maioria das infecções por HPV em mulheres com menos de 30 anos regride espontaneamente, ao passo que acima dessa idade a persistência é mais frequente. O HPV pode acometer pessoas de qualquer idade, mas é mais frequente na faixa compreendida entre 20 e 40 anos, período de maior atividade sexual. Podemos dizer que ela é endêmica entre os indivíduos sexualmente ativos. Após a exposição, o vírus coloniza todo o epitélio do trato genital inferior. Pode, então, existir uma ampla variação individual de manifestações clínicas, que, provavelmente, são reguladas pela resposta imunológica local ou sistêmica do hospedeiro, além da presença ou ausência de cofatores. A infecção pelo HPV pode ter diferentes evoluções: cura espontânea, com desaparecimento do vírus; persistência do vírus associada à citologia normal ou a alterações citopáticas discretas; alterações celulares transitórias que desaparecem espontaneamente; alterações celulares que, apesar de persistentes, não progridem; alterações celulares que evoluem para carcinoma in situ ou invasivo. A lesão mais evidente é o condiloma acuminado, que acomete a vulva e a pele do períneo e, menos frequentemente, o colo uterino. A infecção é transmitida por contato, e não apenas pelo coito. O uso regular de preservativo pode conseguir algo em torno de 60% de proteção, mas áreas não protegidas podem estar associadas à transmissão. Há grande possibilidade de transmissão genital sem que tenha havido a coitarca, apenas com o contato pele a pele dos genitais dos parceiros. A transmissão pode também ser não sexual, transmissão por fômites. Pode haver passagem de HPV de mãe para o concepto, em especial em casos de lesões genitais na passagem do canal de parto, o que pode causar a papilomatose respiratória. No entanto, a maioria dos neonatos elimina a infecção até o primeiro ano de vida. Os HPV, atualmente não podem ser propagados em sistemas de culturas de células. Por este motivo, o diagnóstico da infecção por HPV é obtido pela detecção dos seus efeitos morfológicos sobre a citologia e histopatologia, ou do seu Ácido Desoxirribonucleico (DNA). PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV): @resumosdamed_ 16 ENTENDER A DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA (DIP): AGENTES ETIOLÓGICOS: (2) Lesão subclínica: ® LSIL: pode ser expectante com seguimento até sua involução. Quadros persistentes podem ser tratados com métodos destrutivos, imunomodulação ou exérese dependendo do sítio; ® HSIL: dependendo da idade pode ser seguimento (≤ 24 anos) ou tratamento (> 24 anos). (3) Lesão clínica: pode ser por imunomodulação, exérese ou destruição conforme o sítio, número de lesões e experiência do especialista. A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) é um conjunto de sinais e sintomas secundário à ascensão e à disseminação, no trato genital feminino superior, de micro-organismos provenientes da vagina e/ou da endocérvice. Estes micro-organismos podem acometer o útero, trompas de falópio, ovários, superfície peritoneal e/ou estruturas contíguas (fígado). Resumidamente, a DIP é uma afecção que compreende vários espectros inflamatórios e infecciosos do trato genital superior feminino, que incluem quaisquer combinações de endometrite, salpingite, abscesso(s) tubo- ovariano(s) e peritonite pélvica. Ela constitui a complicação mais comum e grave das doenças sexualmente transmissíveis. A conduta deve variar conforme a apresentação do quadro infeccioso. (1) Infecção latente em qualquer sítio: conduta expectante. Entre os micro-organismos sexualmente transmissíveis, merecem destaque Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, pois são os agentes mais comuns da DIP, correspondendo a dois terços dos casos. A despeito do evento inicial, a microbiologia da DIP é polimicrobiana. Neste contexto, bactérias facultativas anaeróbias (ex.: G. vaginalis, H. influenza, S. agalactiae, entre outros), que compõem a flora vaginal, também têm sido associadas à DIP. Além disso, CMV, M. genitalium, M. hominis e U. urealyticum podem ser associados com alguns casos de DIP. Todas as TRATAMENTO: @resumosdamed_ 17 mulheres que têm DIP aguda devem ser rastreadas para N. gonorrhoeae e C. trachomatis e testadas para HIV, sífilis e hepatites virais. A DIP é um processo agudo, à exceção dos casos provocados por micro- organismos causadores da tuberculose e actinomicose. A DIP tuberculosa é uma infecção de caráter insidioso que ocorre como consequência da disseminação hematogênica do bacilo de Koch. Portanto, a DIP causada por esse agente etiológico não é sexualmente transmissível. Ela deve ser suspeitada naquelas pacientes que não apresentam melhora clínica após a terapêutica convencional para a DIP. A DIP por Actinomyces incide em usuárias de Dispositivo Intrauterino (DIU). Mas, em cerca de 90% dos casos, a DIP é originária de agentes sexualmente transmissíveis. A identificação dos fatores de risco para DIP pode ajudar na prevenção e no manejoterapêutico das pacientes. No entanto, é importante salientar que o seu diagnóstico não pode jamais se fundamentar no conhecimento dos fatores de risco, pois frequentemente esta associação não é fidedigna. Em outras palavras: as mulheres sem fatores de risco poderão apresentar a DIP com todas as suas complicações. Portanto, os fatores de risco compreendem: idade < 25 anos; início precoce da atividade sexual; estados civil e socioeconômico; tabagismo; alcoolismo; uso de drogas; múltiplos parceiros sexuais; parceiro sexual portador de uretrite; uso de métodos contraceptivos etc. A DIP começa com a ascensão de micro-organismos pelo trato genital, mais precisamente pela passagem destes pelo OI do colo uterino. Este processo é facilitado em dois períodos: período perimenstrual e pós-menstrual imediato. Ela ocorre mais frequentemente nestes dois períodos pela abertura do colo, pela fluidez do muco cervical imposta pela ação estrogênica, e pela sucção do conteúdo vaginal promovida pela contratilidade uterina. O principal sintoma da DIP é a presença de descarga vaginal purulenta, quase sempre acompanhada de dor abdominal infraumbilical, dor em topografia anexial, dor à mobilização do colo uterino e febre. Podem ocorrer também os chamados sintomas atípicos, como sangramento uterino anormal (hipermenorreia ou metrorragia), dispareunia e sintomas urinários. Contudo, algumas mulheres desenvolvem DIP de forma totalmente assintomática. Todo processo começa com uma endometrite, que se caracteriza pela presença de plasmócitos no estroma endometrial. Esta é a manifestação inicial da DIP. É devido à endometrite que a paciente se queixa comumente de dor à mobilização do colo uterino e de dor abdominal infraumbilical. A seguir, o processo infeccioso pode se dirigir às trompas. Nesta, o gonococo e a clamídia causam lesão direta e indireta do epitélio ciliar, que induz à intensa reação inflamatória, caracterizada por edema e infiltrado leucocitário. Isso explica a dor à palpação do(s) anexo(s). A inflamação da superfície tubária pode acarretar a formação de aderências. Estas justificam a queixa de dor pélvica crônica que algumas pacientes apresentam. As aderências podem levar à oclusão do lúmen tubário ou à formação de traves. A oclusão da trompa justifica a sequela de infertilidade por fator tubário que algumas pacientes desenvolvem. Provavelmente, as traves são as responsáveis pelo aumento da incidência de gestações ectópicas. A aglutinação das fímbrias pode produzir oclusão tubária total e a formação de piossalpinge. Em alguns casos, as fímbrias envolvem o ovário, e formam o abscesso tubo- ovariano. O processo infeccioso pode, então, progredir em direção à cavidade peritoneal. Eventualmente, o conteúdo dos abscessos pode cair na cavidade e constituir um abscesso em fundo de saco de Douglas, ou entre alças intestinais, ou no espaço subdiafragmático. Neste estágio, as pacientes já apresentam sinais de irritação peritoneal. FATORES DE RISCO: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: @resumosdamed_ 18 Nas infecções por gonococo e clamídia, podem incidir pequenos abscessos na superfície hepática, conhecidos como síndrome de Fitz-Hugh-Curtis (SFHC). A fase aguda da SFHC caracteriza-se pela presença de exsudato purulento visível na cápsula de Glisson, na ausência de aderências ou acometimento do parênquima hepático. Na fase crônica há as aderências do tipo “corda de violino” entre a parede abdominal anterior e a superfície hepática. As manifestações clínicas incluem dor pleurítica à direita e dor em hipocôndrio direito. Na fase inicial da DIP, o estado da paciente normalmente não se altera. No entanto, à medida que a doença progride, pode-se observar piora do mesmo, com surgimento de desânimo, fácies de sofrimento e ansiedade. A disúria pode ocorrer em 20% dos casos, principalmente se há uretrite. O corrimento genital purulento é referido por 50% das pacientes. A febre pode se manifestar em aproximadamente 30 a 40% dos casos. A dor pélvica aguda é o sintoma principal e se exacerba quando são realizadas manobras de palpação do hipogástrio e/ou das fossas ilíacas. Ao toque vaginal, a mobilização do colo uterino é altamente dolorosa. Com a progressão da doença, podem surgir sinais de irritação peritoneal, com exacerbação da dor e ocorrência de náuseas e vômitos. Nesta fase, a palpação abdominal evidenciará sinais de defesa em 90% e dor à descompressão em aproximadamente 70% dos casos. Massa palpável nas fossas ilíacas poderá ser encontrada em aproximadamente 50% dos casos durante o toque vaginal. Os ruídos hidroaéreos quase sempre estão presentes. O diagnóstico é difícil em função da grande variação na intensidade de sinais e sintomas em mulheres com esta condição – as pacientes podem apresentar desde infecções assintomáticas a quadros emergenciais. Para complicar, não existe um teste diagnóstico definitivo para o diagnóstico de DIP. Assim, embora impreciso, o diagnóstico da DIP usualmente é baseado em achados clínicos. O objetivo é impedir a perda de diagnóstico nos casos subclínicos e ser suficientemente específico para evitar a antibioticoterapia em mulheres não infectadas. É importante destacar que atrasos no diagnóstico e na instituição da conduta terapêutica contribuem para a ocorrência de sequelas no trato reprodutivo superior feminino. Tradicionalmente, o diagnóstico baseia-se na presença de três critérios maiores mais um critério menor, ou na presença de apenas um critério elaborado. Sendo que os critérios maiores ou mínimos estão relacionados à presença de dor. Enquanto os critérios menores ou adicionais estão relacionados às alterações encontradas no exame físico (com exceção de dor) e nos exames laboratoriais. Os critérios elaborados ou definitivos, como o próprio nome já diz, estão relacionados às alterações encontradas em procedimentos elaborados (biópsia de endométrio, exames de imagem, videolaparoscopia). Na maioria dos casos de DIP, o diagnóstico é realizado pela história clínica e por achados ao exame físico. Porém, como muitos casos são subagudos QUADRO CLÍNICO: DIAGNÓSTICO: @resumosdamed_ 19 TRATAMENTO: ou silentes, em determinadas situações está justificado o emprego de métodos auxiliares para o diagnóstico. O exame de sangue mostrará em linhas gerais os achados encontrados em infecções bacterianas (leucocitose com desvio para esquerda, aumento da VHS e da proteína C reativa). O diagnóstico diferencial deve considerar causas ginecológicas e não ginecológicas antes da instituição da terapêutica. Deve-se iniciar imediatamente o tratamento antimicrobiano nas mulheres jovens, sexualmente ativas, com queixa de desconforto ou dor pélvica, e que preencham os critérios clínicos para DIP. A decisão de tratar a paciente ou de referi-la para unidade de maior complexidade baseia-se na gravidade do quadro clínico e nas condições locais de trabalho para assistência e cuidados, considerando que o atraso no tratamento pode acarretar danos irreversíveis no sistema reprodutor feminino. Em virtude da dificuldade de diagnóstico e do potencial dano à saúde reprodutiva da mulher, mesmo nas DIP leves ou subclínicas, o tratamento empírico deve ser iniciado em mulheres jovens sexualmente ativas e naquelas com risco de DST, que apresentem dor pélvica sem que nenhuma outra causa possa ser identificada além da DIP e que possuam pelo menos um critério mínimo no exame pélvico. Neste contexto, a indicação de um determinado tipo de tratamento deve considerar disponibilidade, custo, aceitação da paciente e susceptibilidade antimicrobiana. @resumosdamed_ 20 ACOLHIMENTO: Devem ser disponibilizados serviços capacitados para acolher as vítimas de violência sexual aptos a desencadear todos os procedimentos médicos e legais necessários. Dessa forma, a mulher vitimizada pode ser encaminhada diretamente às instituições de saúde credenciadas,e não somente ao IML. A principal característica desses serviços é o treinamento das equipes, constituídas por assistentes sociais, psicólogos e médicos, que, desde o acolhimento da vítima, seguem os preceitos fundamentais da ética, privacidade e sigilo. O acolhimento é realizado em ambiente reservado, estando a paciente amparada desde o início por um membro da equipe capacitada, um enfermeiro, assistente social ou psicólogo. Nesse momento, cria-se um ambiente seguro, buscando identificar a pertinência ou não daqueles que a acompanham de permanecerem com ela durante todo o atendimento. Após a obtenção de um breve histórico dos fatos que caracterizaram a violência sexual, realiza-se contato com as delegacias de referência para a solicitação dos exames periciais, acionando-se as unidades da Delegacia da Mulher ou, nos casos de vítimas menores de 14 anos, os Núcleos de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria). Dessa forma, enfatiza-se que a vítima de violência sexual pode dirigir-se diretamente a uma das instituições de saúde credenciadas, não havendo a necessidade de previamente realizar boletim de ocorrência na delegacia ou de comparecer à sede do IML, evitando-se constrangimentos com consequente aumento na procura de atendimento médico e notificações dos casos de violência. A partir da análise inicial da equipe de atendimento, são solicitados exames periciais, podendo ser de conjunção carnal, ato libidinoso, lesões corporais e exame toxicológico. A conjunção carnal conceitualmente refere-se à DISCUTIR SOBRE A ABORDAGEM DA PACIENTE VÍTIMA DE VIOLÊNCIA SEXUAL: @resumosdamed_ 21 EXAME MÉDICO PERICIAL: penetração completa ou incompleta do pênis na cavidade vaginal e o ato libidinoso relaciona-se a qualquer outro ato de natureza sexual, diverso da conjunção carnal, incluindo-se o coito anal, sexo oral, manipulação genital e masturbação. Priorizam-se a avaliação do estado geral de saúde, a orientação e proteção contra as doenças de transmissão sexual, a prevenção de gravidez e a coleta de materiais biológicos ou outros indícios materiais que permitam a identificação do agressor. É fundamental que o prazo decorrido entre o momento da violência sexual e o atendimento hospitalar seja o menor possível, não ultrapassando 72 horas. Após esse período, tanto a profilaxia para as DST e prevenção de gravidez como a coleta de material biológico para identificação do agressor tornam-se muito pouco eficazes. O Decreto Presidencial nº 7.958/2013 “Estabelece diretrizes para o atendimento às vítimas de violência sexual pelos profissionais de segurança pública e da rede de atendimento do Sistema Único de Saúde” e os posteriores dispõem sobre os registros que devem constar em prontuário: A anamnese deve transcorrer de maneira livre e espontânea, evitando-se na sequência das perguntas imprimir o caráter de depoimento pré- formatado. As pacientes que apresentam déficit cognitivo, alterações mentais ou deficiência física, assim como as menores de 14 anos, são consideradas vítimas de violência presumida, pela vulnerabilidade em que se encontram. A procura dos pais para a realização de exames em menores vítimas de suposto abuso sexual, mesmo na ausência de evidências do fato, deve ser valorizado e incentivado. O exame é realizado pelo médico perito obrigatoriamente com a presença de uma auxiliar e, quando a vítima for menor de 14 anos, com a presença da mãe ou responsável. Inicialmente, procede-se ao exame geral à procura de lesões motivadas por agressão ou contenção forçada, historiando-as e localizando-as nas diversas regiões do corpo. Descrevem-se as características de tamanho, número, forma, e grau de comprometimento, diferenciando-as como recentes ou não. Alternativamente, após o consentimento da paciente e de forma que não a identifique, podem ser obtidas fotografias das lesões. ATENDIMENTO CLÍNICO: @resumosdamed_ 22 EXAMES FORENSES: EXAMES PROTETIVOS: No reconhecimento das lesões, é importante definir as suas principais características: Devem ser iniciadas de imediato a profilaxia para as doenças sexualmente transmissíveis e a proteção para gravidez nas pacientes sem métodos de anticoncepção efetivo. Os exames laboratoriais de interesse médico legal são realizados pelo médico perito e subsidiam a investigação e identificação do(s) agressor(es), assim como a elaboração de laudos periciais. São eles: • Sangue da Pessoa Agredida: para possível posterior confronto de DNA, para dosagem alcoólica/toxicológica e ß HCG para mulheres em idade fértil; • Urina: para análise toxicológica; • Swabs: para pesquisa de sangue, espermatozóide e PSA (antígeno prostático específico), nas seguintes regiões: vagina, boca, vulva, ânus e pênis (esfregaços de regiões excepcionais podem ser realizados, dependendo do histórico da agressão, região entre seios, interglútea, ou outras superfícies corporais com relato de ejaculação por parte do agressor). • Outros Materiais: absorvente, papel higiênico, vestes íntimas e roupas em geral. Destinam-se à proteção da vítima de violência sexual: • Conteúdo Vaginal: exame bacterioscópico; pesquisa de clamídia e gonococo; • Sangue: pesquisa de HIV; hepatite B (HbsAG e anti-Hbs); hepatite C (anti-HCV); sífilis e β-HCG (para mulheres em idade fértil). EXAMES LABORATORIAIS: @resumosdamed_ 23 PREVENÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS: Após a identificação das lesões e a coleta de materiais para os exames, o médico perito detalhará, ao médico plantonista da instituição que acolheu a paciente, as lesões decorrentes de agressões físicas e/ou sexuais que possam requerer cuidados. O atendimento passa a integrar a rotina dos serviços de emergência. Procedimentos como suturas na região genital ou perianal são de responsabilidade do serviço de emergência do hospital. Com a paciente estabilizada e devidamente orientada quanto aos procedimentos submetidos e a necessidade de realizar sua proteção diante das possíveis consequências da agressão sexual, recomendam-se as seguintes ações: Indicada para todas as mulheres em período reprodutivo que tiveram conjunção carnal ou diante da possibilidade de contato com o sêmen na região genital. As pacientes que apresentam relatos duvidosos ou que tenham dificuldades de caracterizar a agressão sofrida devem igualmente receber proteção anticonceptiva. A AE deve ser administrada o mais precocemente possível, dentro das primeiras 72 horas após o abuso. A pessoa vítima de abuso sexual deve ser orientada quanto ao uso de preservativos nas relações sexuais subsequentes à violência até que sejam descartadas possíveis contaminações. No momento do atendimento emergencial a pessoa pode não dispor de interesse em ouvir sobre atividade sexual futura, desta forma, poderá receber apoio e informação nos atendimentos posteriores nas Unidades de Atenção Primária à Saúde ou no Hospital de Referência. É fundamental a ênfase a ser dada pela equipe de saúde para essa proteção. A profilaxia deve ser iniciada de imediato, com orientação para continuidade domiciliar. Os exames coletados são enviados aos ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA: CUIDADOS MÉDICOS POSTERIORES: @resumosdamed_ 24 laboratórios de referência, com agendamento do retorno para a verificação dos resultados no serviço de infectologia. A profilaxia é realizada em todos os casos de exposição com risco de transmissão, independentemente da presença de lesões. A profilaxia ARV do HIV é considerada abordagem protocolar de emergência nos casos de violência sexual com contato de fluidos do agressor e deve ser iniciada idealmente nas primeiras 02 horas, ou, no máximo em 72 horas e o esquema terapêutico deve ser mantido por quatro semanas consecutivas. Caso seja possível a identificação sorológica do agressor e este seja negativo para HIV, a quimioprofilaxiapoderá ser interrompida ou não iniciada. Nos casos de estupro por pessoa desconhecida, deve-se considerar como soropositivo o agressor. Porém, resultados falso-negativos devem ser analisados dentro da condição clínica e contexto epidemiológico do agressor. O esquema medicamentoso nos casos em que o agressor é sabidamente soropositivo e está em tratamento deverá ser indicado por especialista, porém, até o atendimento deste profissional, a profilaxia deve ser iniciada considerando o esquema recomendado. Nos casos de abuso crônico, com exposição repetida ao mesmo agressor, a profilaxia não está indicada, devido às possibilidades de contaminação já terem ocorrido. Porém, o ciclo de violência deve ser interrompido e o contexto ser avaliado e individualmente. A imunoprofilaxia contra a hepatite B deve ser considerada nos casos em que haja suspeita ou confirmação de exposição da vítima ao sêmen, sangue ou outros fluidos corpóreos do agressor; pois pessoas com esquema vacinal completo não necessitam de reforço ou uso de imunoglobulina humana anti-hepatite B (IGHAHB). Nos casos em que não haja contato com fluidos, o agressor seja vacinado ou use preservativo durante todo o ato de violência sexual ou nos casos de violência crônica (geralmente intrafamiliar), a imunoprofilaxia contra hepatite B não está recomendada. O início da profilaxia está indicado nos casos de dúvida, desconhecimento do estado vacinal ou esquema vacinal incompleto e não deve estar condicionada a coleta e análise de exames. A primeira dose da vacina contra hepatite B deve ser administrada na ocasião do atendimento e as doses posteriores realizadas nas unidades de atenção primária à saúde, após análise dos exames de primeira consulta. A IGHAHB poderá ser administrada em até, no máximo, 14 dias após a violência sexual, mas recomenda-se aplicação nas primeiras 48 horas após a violência nos casos de não imunização, esquema vacinal desconhecido ou incompleto das vítimas. A gestação não contraindica a imunização com vacina ou soro, em qualquer idade gestacional. Ginecologia de Williams. 2a edição. Manual SOGIMIG de ginecologia e obstetricia
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