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Universidade Tiradentes - Medicina P4 Vulvovaginites e DIP TUTORIA GENERALIDADES: ● O gênero Candida é constituído por diversas espécies de leveduras saprófitas, que habitam os mais diferentes tecidos e secreções do corpo humano. ● Entretanto, as leveduras podem passar de saprófitas para patogênicas. ● No trato genital feminino, a Candida sp. pode ser encontrada em aproximadamente 20% das mulheres saudáveis assintomáticas. ● Estima-se que 75% das mulheres em idade reprodutiva apresentarão pelo menos um episódio de vulvovaginite por Candida sp. durante suas vidas; ● Episódios recorrentes: quatro ou mais episódios por ano, confirmados clínica e laboratorialmente. ● A candidíase vulvovaginal pode sintomas, que são muito desagradáveis, por facilitar a aquisição/transmissão de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), inclusive o HIV. ● Candida albicans é a espécie mais prevalente, responsável por 85% a 95% dos casos; ● Isso ocorre porque apenas a espécie albicans apresenta a capacidade de dismorfismo. ● A ingestão de antibióticos atua no mesmo sentido, provavelmente por alterar a flora protetora lactobacilar. FATORES DE RISCO: ● Idade fértil e reposição hormonal: A colonização vaginal por fungos parece ser hormônio-dependente, já que é rara na infância e pós-menopausa e frequente na idade reprodutiva ou em uso de terapia hormonal. ● Uso de antibióticos: ● Diabetes mellitus descompensada; ● Tabagismo; ● Distúrbios alimentares com excesso de ingestão de hidratos de carbono; ● Hábitos de higiene ou vestuário inadequados; 1 2 ● Estresse excessivo; ● Gravidez e uso de contraceptivos: Condições que alterem a concentração hormonal (gravidez e uso de contraceptivos) facilitam a proliferação dos fungos. ● Imunocomprometidos: Lúpus, uso de corticóides; ● acredita-se que a capacidade de dimorfismo, ou seja, de alterar sua forma habitual para a forma de micélio, mais invasiva, pode estar relacionado ao sistema imunológico do hospedeiro. ● Quando o sistema imune não consegue inibir a proliferação dos fungos, ocorre a passagem do estado saprófita para o patogênico, com consequente aparecimento de sinais e sintomas. ● Um dos componentes do sistema imune é a proteína “lectina ligadora de manose”,, possuindo a capacidade de reconhecer e ligar-se a manose presente na superfície dos microrganismos. ● Tal ligação desencadeia a cascata do sistema complemento, levando à lise celular e à fagocitose. ● Entretanto, um polimorfismo no gene que determina a secreção da mesma resulta em menor secreção e consequente diminuição nas concentrações dessa proteína; QUADRO CLÍNICO: ● O quadro clínico da vulvovaginite fúngica caracteriza-se por: ○ Prurido, de intensidade variável; ○ Corrimento geralmente esbranquiçado (fluido ou com aspecto de “leite talhado”); ○ Pode haver queixa de desconforto, dor, disúria e dispareunia. ○ Ao exame ginecológico, é frequente observar hiperemia vulvar, edema e fissuras. ○ O exame especular mostra hiperemia da mucosa vaginal e conteúdo vaginal esbranquiçado; ○ O corrimento pode ser em quantidade escassa, moderada ou abundante, de aspecto espesso ou flocular, aderido ou não às paredes vaginais. ○ O pH vaginal encontra-se geralmente abaixo de 4,5. 2 3 ○ O teste das aminas (whi� test) é negativo na candidíase. ● Candidíase “não complicada”: se apresenta em episódios esporádicos, de intensidade leve ou moderada, cujo agente etiológico provavelmente é a Candida albicans e ocorre em mulheres não imunocomprometidas. ● Candidíase “complicada”: recorrente ou severa ou por espécies não albicans ou em mulheres com diabetes, condições que comprometam o sistema imune (HIV), debilitadas ou recebendo imunossupressores. DIAGNÓSTICO: ● Diagnóstico diferencial: sintomas alérgicos, vaginose citolítica, líquen escleroso e outras dermatoses vulvares. ● O diagnóstico clínico deve sempre ser confirmado pela presença de fungos (exame a fresco, bacterioscopia, com coloração pelo método de Gram e cultura em meios específicos). ● O exame a fresco é feito colocando-se em uma lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de soro fisiológico ou hidróxido de potássio a 10% e observando-se ao microscópio); ● Nos casos esporádicos, a positividade do exame a fresco dispensa a continuidade na investigação. ● Entretanto, se tal exame for negativo e houver sintomas, está indicada a continuação do processo diagnóstico, com a bacterioscopia pelo Gram e cultura. ● Testes com técnicas de biologia molecular (PCR) têm sido utilizados apenas para pesquisas. TRATAMENTO: ● Para o tratamento e prevenção de novos episódios, é importante a eliminação ou pelo menos o controle de fatores predisponentes, como: ○ Diabetes mellitus descompensada; ○ Estados de imunossupressão; ○ Tabagismo; ○ Distúrbios alimentares com excesso de ingestão de hidratos de carbono; ○ Hábitos de higiene ou vestuário inadequados; ○ Estresse excessivo; ● A terapêutica dever ser individualizada, optando-se por via local ou sistêmica, dependendo da preferência. ● Tratamento da “candidíase não complicada”: podem ser utilizados antifúngicos por via vaginal, sob a forma de cremes, óvulos ou comprimidos. ○ Nitrato de fenticonazol (sob a forma de creme vaginal durante 7 dias ou óvulo vaginal em dose única); ○ Clotrimazol (creme vaginal para uso durante 3 dias, ou comprimido vaginal em dose única), ○ Nitrato de miconazol (creme vaginal durante 14 dias); ○ Butaconazol (creme em dose única); ○ Terconazol (creme por 5 dias); ○ Tioconazol (por 7 dias). 3 4 ○ Nistatina (creme por 14 dias). ● De maneira geral, o tratamento tópico não apresenta efeitos colaterais. ● Deve-se lembrar de que a base oleosa de cremes e óvulos pode enfraquecer preservativos. ● As drogas para uso sistêmico são: ○ Fluconazol (comprimido em dose única), cetoconazol; ○ Itraconazol (cápsulas, duas cápsulas pela manhã e duas à noite). ● Para os episódios de candidíase “não complicada”, os tratamentos em dose única ou de curta duração (um a três dias) costumam ser eficazes. ● O tratamento do parceiro sexual não é recomendado nos episódios simples. ● Nos raros casos em que ocorre balanite (inflamação da glande peniana), pode haver benefício no uso de antifúngicos tópicos. ● Tratamento da “candidíase complicada”: requer a confirmação diagnóstica para a identificação de cepas não albicans. ● Na candidíase recorrente as mulheres apresentam alterações específicas na imunidade local. ● Os episódios isolados de maneira geral respondem aos esquemas de tratamento anteriormente mencionados; ● Tratamento prolongado dos episódios agudos. ○ Agentes tópicos por período de 7 a 14 dias ou antifúngico por via oral (fluconazol) em um total de três doses, com intervalo de 72 horas entre as doses. ○ Após a remissão dos episódios agudos, podem ser utilizados fluconazol uma vez por semana, durante seis meses. ● Vulvovaginite por fungos se manifesta por sintomas severos: ○ Medicamentos por via local no período de 7 a 14 dias ou fluconazol em duas doses com intervalo de 72 horas. ● Tratamento das espécies não albicans: ○ Não existem recomendações terapêuticas comprovadamente eficazes. ● Até o momento não existem dados que orientem sobre o tratamento dos parceiros sexuais. ● Entretanto, nos casos de candidíase recidivante, em que provavelmente exista deficiência imunológica local, questiona-se se a redução da população de fungos no trato genital masculino eventualmente poderia trazer algum benefício. ● Mulheres portadoras de imunodeficiência e outras condições predisponentes: ○ Pouca resposta a terapias de curta duração. ● Gestação: ○ Apenas o uso de azólicos por via vaginal é recomendado. 4 5 GENERALIDADES: ● Vaginose bacteriana é o desequilíbrio da flora vaginal, dado pela substituição da flora microbiana saudável (Lactobacillus) por microbiota variável, bactérias anaeróbias e facultativas. ● As espécies microbianas mais frequentemente identificadas são: ○ Gardnerella; ○ Atopobium; ○ Prevotella; ○ Megasphaera; ○ Leptotrichia;○ Sneatia; ○ Bifidobacterium; ○ Dialister; ○ Clostridium; ○ Mycoplasmas. ● É a mais frequente afecção do trato genital inferior feminino, estando relacionada à ampla variedade de distúrbios do trato reprodutivo; ● Tem prevalência 3x mais elevada em mulheres inférteis e é associada a 2x o risco de abortamento após fertilização in vitro. ● É relatada associação de VB com infecção pelo HPV e lesões intraepiteliais cervicais e aumento em até seis vezes na taxa de aquisição do HIV. ● Pode facilitar a transmissão/aquisição de outros agentes de transmissão sexual como C. trachomatis e N. gonorrhoeae. ● Associação da vaginose bacteriana com salpingite e infertilidade de causa tubária. ● Quando presente, particularmente no início da gestação, tem sido associada a aumento no risco de parto prematuro, aborto espontâneo, baixo peso ao nascer, aumento na morbidade neonatal e altas taxas de endometrite pós-parto. ● Tais associações ainda são motivo de debate; fatores imunes do hospedeiro com suas variações e a virulência específica de cada cepa microbiana influenciam a ocorrência de eventos adversos e complicações. ● Estimativas mundiais de prevalência variam de 10% a 30%). ● No Brasil, dependendo da população estudada, a afecção é responsável por até 40% dos casos de queixas vaginais. FATORES DE RISCO: ● Os fatores de risco para VB são variados, incluindo: ○ Raça negra; ○ Uso de duchas vaginais; ○ Tabagismo; ○ Menstruação; ○ Estresse crônico; ○ Comportamentos sexuais: elevado número de parceiros masculinos, sexo vaginal desprotegido, sexo anal antes do sexo vaginal e sexo com parceiro não circuncisado. ○ Mulheres que fazem sexo com mulheres têm alta prevalência de VB (25% a 52%). QUADRO CLÍNICO: ● Corrimento de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido (caracterizado frequentemente como “odor de peixe” ou amoniacal). 5 6 ● Por vezes, a paciente refere apenas o odor, estando o corrimento ausente. ● O odor fétido piora com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação, devido à volatização de aminas aromáticas resultantes do metabolismo das bactérias anaeróbias pela alcalinidade do sêmen ou do sangue menstrual. ● Ao exame ginecológico, o conteúdo vaginal apresenta-se homogêneo, em quantidade variável (geralmente escassa) e com coloração geralmente esbranquiçada, branco-acinzentada ou amarelada. ● A VB isolada não é causa de disúria ou dispareunia, pois não é acompanhada de processo inflamatório. ● Entretanto, quando se apresenta associada a outras afecções vaginais como candidíase, os sintomas podem ser mais variados, por exemplo, queixa de prurido. DIAGNÓSTICO: ● Para o diagnóstico, foram propostos alguns critérios, incluindo achados clínicos e laboratoriais ou apenas dados microbiológicos. ● Os critérios mais conhecidos e divulgados são os de Amsel e os de Nugent. ● Os critérios propostos por Amsel requerem três dos quatro itens a seguir: ○ Corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às paredes vaginais; ○ Medida do pH vaginal maior do que 4,5; ○ Teste das aminas (whi� test) positivo, ou seja, desprendimento de odor fétido após a adição de KOH 10% a uma gota de conteúdo vaginal; ○ Presença de “células-chave” (“clue cells”), que são células epiteliais recobertas por cocobacilos Gram variáveis na bacterioscopia. ● O escore de Nugent baseia-se em elementos avaliados na bacterioscopia com coloração pelo método de Gram, particularmente os morfotipos de Lactobacillus, de Gardnerella vaginalis e de Mobiluncus sp. O resultado da avaliação é traduzido em escores, assim considerados: ○ Escore de 0 a 3 – padrão normal; ○ Escore de 4 a 6 – flora vaginal intermediária; ○ Escore de 7 a 10 – vaginose bacteriana. ● Outros testes incluem: ○ O AFFIRM VP III, que é um teste de hibridização para altas concentrações de Gardnerella vaginalis; ○ O OSOM BV Blue test, que detecta a enzima sialidase ativada presente no fluido vaginal de mulheres com VB; ○ PCR tem sido utilizada para detecção de microrganismos associados à VB apenas para pesquisas. ● Cultura para Gardnerella vaginalis não é recomendada para o diagnóstico. ● O estudo do microbioma vaginal por métodos independentes de cultura tem 6 7 sido utilizado até o momento apenas para pesquisas. TRATAMENTO: ● O tratamento da VB visa eliminar os sintomas e reestabelecer o equilíbrio da flora vaginal fisiológica, principalmente pela redução dos anaeróbios. ● Recomendados: ○ Metronidazol por via oral duas vezes ao dia durante sete dias ou ○ Metronidazol gel (um aplicador) intravaginal ao deitar durante cinco dias ou ○ Clindamicina creme (um aplicador) intravaginal ao deitar durante sete dias. ● Os efeitos colaterais dos imidazólicos podem incluir náuseas, vômitos, cefaléia, insônia, tontura, boca seca e gosto metálico. ● Recomendar abstinência de álcool durante 24 horas (efeito dissulfiram) e abstenção de atividade sexual ou o uso de preservativos correto durante o tratamento. ● A clindamicina tem base oleosa e pode enfraquecer preservativos e diafragmas até cinco dias após o uso. ● Não se recomenda o uso de duchas para aliviar os sintomas. ● Alternativos: ○ Tinidazol por via oral duas vezes ao dia durante dois dias OU; ○ Tinidazol via oral uma vez ao dia durante cinco dias OU ○ Clindamicina por via oral a cada 12 horas durante sete dias. ● São válidas as considerações anteriores sobre abstinência de álcool, aumentando-se o período de abstinência para 72 horas após o uso de tinidazol. ● O tratamento de mulheres assintomáticas, embora ainda seja motivo de debate, não é recomendado pelo CDC. ● Até o momento, não existem recomendações para o tratamento do(s) parceiro(s) sexual(is) para melhorar o índice de cura ou prevenção das recorrências da VB. ● Recidivas ocorrem em mais de 30% dos casos, aproximadamente três meses após o término do tratamento. ● Diante de múltiplas recorrências, pode-se utilizar: ○ Metronidazol por via oral duas vezes ao dia, durante 10 a 14 dias. ○ Se não for efetivo, utilizar metronidazol gel intravaginal duas vezes por semana, durante quatro a seis meses. ● Os efeitos dos probióticos no tratamento e prevenção de recorrências da VB, ainda não tem conclusões definitivas. GENERALIDADES: ● É também denominada blenorragia, blenorreia ou gonorreia. ● É uma infecção cuja transmissão se dá pelo contato sexual, pelo canal do parto ou por fômites. ● O risco de aquisição em uma única exposição é estimado em cerca de 20% para o homem e 80% para a mulher. ● Causa infecções não complicadas de mucosas, 7 8 incluindo colo uterino, reto e garganta. ● Quando não tratada, está associada com número considerável dos casos de DIP, infertilidade de causa tubária, gestação ectópica e dor pélvica crônica. ● Forte evidência de que a infecção pelo gonococo facilita a transmissão do HIV. ● Segundo o CDC, o rastreamento anual deve ser recomendado para mulheres com < 25 anos ou para mulheres mais velhas com risco aumentado para DSTs. ● O agente etiológico é a Neisseria gonorrhoeae, um diplococo gram-negativo, aeróbio ou anaeróbio facultativo. ● Infecta o epitélio colunar ou de transição, podendo propagar-se por via hematogênica, por contiguidade e, ainda, ser carregada pelo próprio espermatozoide. QUADRO CLÍNICO: ● É assintomática em 60 a 80% dos casos ou produz sintomas frustos que podem ser diagnosticados apenas quando ocorre alguma complicação. ● Nos casos sintomáticos, ocorrem sinais e sintomas urogenitais: ○ Secreção endocervical mucopurulenta; ○ Dor pélvica; ○ Dispareunia; ○ Sangramento irregular; ○ Hiperemia vaginal; ○ Disúria; ○ Polaciúria ○ Além de sinais e sintomas extragenitais, estes de acordo com o tipo de infecção. ● A cervicite causada pelo gonococo é caracterizada por secreção purulenta visível no canal cervical ou presente em swab endocervical, estando, em alguns casos, associada à secreção vaginal anormal, ao sangramento fácil. DIAGNÓSTICO: ● Cultura da secreção endocervical para N. gonorrhoeae. ● Imunofluorescência direta e/ou indireta paraChlamydia trachomatis. ● Gram da secreção cervical, revelando diplococos gram-negativos associados a leucócitos polimorfonucleares na infecção por N. gonorrhoeae. ● Técnicas de biologia molecular também permitem o diagnóstico da infecção. ● Técnicas de teste de amplificação de ácido nucleico (NAAT). ● Em vários casos, não se identifica o agente etiológico. 8 9 Também é frequente a infecção assintomática por esse patógeno. TRATAMENTO: ● Vários estudos sugerem o surgimento de cepas resistentes à ceftriaxona isoladamente e recomendam a utilização dos seguintes esquemas combinados com a azitromicina: ○ Ciprofloxacino VO em dose única + azitromicina VO em dose única, e ○ Ceftriaxona intramuscular (IM) + azitromicina VO em dose única. ○ Na ausência de ceftriaxona, a alternativa é cefixima VO em dose única + azitromicina VO em dose única ou cefotaxima 500 IM em dose única. ● Monoterapia com azitromicina VO em dose única tem demostrado boa taxa de cura, porém, devem ser evitada a fim de impedir o surgimento de cepas resistentes. ● Deve-se tratar sempre o parceiro e oferecer tratamento para infecção por clamídia (40-60%). ● Deve-se orientar a suspensão das relações sexuais até a conclusão do tratamento e o desaparecimento dos sintomas. GENERALIDADES: ● A infecção por clamídia é duas a três vezes mais frequente do que a infecção pelo gonococo; ● Mais prevalente entre jovens sexualmente ativos ≤ 24 anos. ● Cerca de 1 a 25% das mulheres podem estar infectadas. ● A infecção por C. trachomatis é frequentemente assintomática e pode causar morbidade em longo prazo, especialmente em mulheres assintomáticas. ● Mais de um terço das pacientes pode desenvolver quadros de DIP; um quinto pode se tornar infértil; e um décimo dessas pacientes pode ter quadros de gestações ectópicas. ● É um bacilo gram-negativo que parasita exclusivamente os seres humanos, sendo responsável por várias síndromes infecciosas. ● As clamídias são bactérias intracelulares obrigatórias com tropismo pelas células epiteliais colunares (conjuntiva, uretra, endocérvice, endométrio e tubas uterinas). QUADRO CLÍNICO: Uretrite (síndrome uretral) ● Quinze a 25% das parceiras de homens infectados têm cultura uretral positiva. ● 65% das mulheres com sintomas urinários e uroculturas negativas apresentavam infecções pela clamídia. ● A síndrome de Rettig e Nelson consiste na persistência de corrimento de fluido seroso, disúria com ou sem infecção anal pela clamídia (sugestivo de uretrite) após tratamento de infecção pelo gonococo. Endocervicite mucopurulenta: ● A endocérvice é o local mais comum de infecção da clamídia, e geralmente é assintomática. ● Deve-se suspeitar do diagnóstico quando houver ectopia hipertrófica folicular 9 10 periorificial com secreção mucopurulenta endocervical ou quando se obtiver 10 ou mais leucócitos polimorfonucleares por campo de imersão corado pelo Gram. DIAGNÓSTICO: ● Técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) (NAAT) para o diagnóstico da clamídia em amostra de urina (primeira amostra) é o exame mais sensível e pode ser utilizado para a detecção da infecção. ● A imunofluorescência indireta possibilita o diagnóstico quando os títulos forem superiores ou iguais a 1:64 para imunoglobulina G (IgG) e 1:6 para IgM. ● A cultura é o exame-padrão, sendo realizada em células de mamíferos a partir de amostra endocervical. Possui especificidade de 100% e sensibilidade de 80 a 90%. ● A imunofluorescência direta assim como a coloração de Papanicolaou, foi praticamente abandonada pela dificuldade técnica e alta taxa de falsos-negativos e os falsos-positivos respectivamente. TRATAMENTO: ● Preferencialmente ○ Doxiciclina VO 2 ×/dia por 7 dias OU ○ Azitromicina VO em dose única. ● Tratamentos alternativos: ○ Estearato de eritromicina VO de 6/6 horas por 7 dias; ○ Etilsuccinato de eritromicina VO de 6/6 horas por 7 dias; ○ Ofloxacino VO de 12/12 horas por 7 dias; ○ Levofloxacino VO 1 ×/dia por 7 dias; ● Recomenda-se testagem para HIV e sífilis. GENERALIDADES: ● Tricomoníase é a infecção sexualmente transmissível não viral mais comum no mundo. ● Existem aproximadamente 170 milhões de casos reportados anualmente em pessoas entre 15 e 49 anos. ● Estudos no Brasil referem prevalência que varia de 2,6% a 20% no sexo feminino. ● O parasita Trichomonas vaginalis possui quatro flagelos e uma membrana ondulante, responsável por sua grande mobilidade. ● A transmissão é predominantemente sexual, embora raramente possam ocorrer outras formas, pois o parasita pode sobreviver fora de seu habitat por algumas horas em condições de umidade. ● Deve adquirir nutrientes do meio externo para sua sobrevivência e consegue isso fagocitando fungos, vírus e bactérias (Micoplasmas, Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae), transportando-os ao trato genital superior e facilitando o aparecimento de DIP. ● É importante cofator na transmissão e aquisição do HIV. FATORES DE RISCO: ● A incidência depende de vários fatores como idade, atividade sexual, número de parceiros sexuais, sexo desprotegido, 10 11 outras ISTs e condições socioeconômicas. QUADRO CLÍNICO: ● Aproximadamente um terço das mulheres infectadas são assintomáticas e a infecção pode persistir por meses ou anos. ● Os homens, geralmente apresentarem menos sintomas e servem como vetores assintomáticos da infecção. ● A resposta imune celular ao Trichomonas vaginalis pode ser agressiva, com inflamação da mucosa da vagina e exocérvice em mulheres e da uretra em homens. ● Ocorre intensa infiltração de leucócitos, incluindo os da linhagem TCD4, que são alvo do HIV. ● Ao penetrar na vagina, o parasita cobre-se com as proteínas do hospedeiro, o que permite a evasão dos mecanismos de defesa locais; além disso, possui a capacidade de sobreviver no meio vaginal durante longos períodos de tempo. ● No homem, infecta a uretra inferior, podendo atingir a próstata, vesícula seminal e epidídimo. ● Na mulher, além da vagina e exocérvice, pode acometer a uretra, bexiga, glândulas de Skenne e Bartholin e endocérvix. ● Após a infecção, o parasita raramente é eliminado, podendo permanecer indefinidamente no trato genital. ● O impacto da infecção durante a gravidez não está totalmente determinado, mas estudos têm demonstrado correlação com prematuridade. ● A infecção do trato genital feminino pelo protozoário não induz imunidade duradoura, sendo comuns as infecções recorrentes. ● Os sintomas classicamente descritos na infecção são: ○ Corrimento geralmente profuso, amarelado ou amarelo-esverdeado; ○ Ardor genital; ○ Sensação de queimação; ○ Disúria; ○ Dispareunia. ● Os sintomas acentuam-se no período pós-menstrual devido à elevação do pH vaginal e à aquisição de ferro da hemoglobina pelo parasita, o que aumenta sua virulência. DIAGNÓSTICO: ● Exame ginecológico: geralmente se observam hiperemia dos genitais externos e presença de corrimento espesso, de aspecto purulento, exteriorizando-se pela fenda vulvar. ● Exame especular: verifica-se aumento do conteúdo vaginal, de coloração amarelada ou amarelo-esverdeada, por vezes acompanhado de pequenas bolhas. ● Colo uterino com aspecto de morango: As paredes vaginais 11 12 e a ectocérvice apresentam-se hiperemiadas, observando-se ocasionalmente o “colo uterino com aspecto de morango” (colpitis maculáreis), devido às pequenas sufusões hemorrágicas. ● Teste das aminas: A medida do pH vaginal revela valores acima de 4,5 e o teste das aminas (whi� test) pode ser positivo devido à presença de germes anaeróbios associados à VB. ● Exame a fresco: tem sensibilidade de apenas 50% a 60%, o que também não permite o diagnóstico de todas as mulheres. ● Bacterioscopia a fresco: O método mais utilizado para o diagnóstico, devido ao baixo custo e à praticidade, colocando-se em uma lâmina de vidro uma gota de conteúdo vaginal e uma gota de solução salina e observando-se ao microscópio; ● O parasita é identificado pela movimentação pendular. ● Bacterioscopia com coloração pelo Gram: também permite a identificaçãodo parasita, nesse caso sem os movimentos, o que pode dificultar o reconhecimento. ● Cultura, realizada em meio específico (Diamond): tem maior sensibilidade (75% a 96%) e especificidade de 100%, embora sejam necessários alguns dias para o resultado. ● Técnicas de biologia molecular: embora mais acuradas, têm sido pouco utilizadas na prática clínica. ● O teste de amplificação de ácido nucléico (NAAT) para detecção de T. vaginalis é altamente sensível. ● Teste imunocromatográfico, OSOM Trichomonas Rapid Test, e de hibridização, A�rm VP III, podem ser úteis no diagnóstico de T. vaginalis, mas não estão disponíveis no Brasil. ● Se a colpocitologia oncológica (Papanicolaou) referir a presença de T. vaginalis, idealmente se deve convocar a paciente para consulta para confirmação da presença do parasita. ● Se o teste for positivo, são tomadas as decisões para o tratamento. ● O Papanicolaou não é considerado teste diagnóstico devido à baixa sensibilidade. TRATAMENTO: Recomendados: ● Metronidazol – via oral em dose única OU ● Tinidazol – via oral em dose única. Alternativo: ● Metronidazol – via oral a cada 12 horas durante sete dias. ● Restrições ao consumo de álcool devem ser observadas durante 24 horas após o uso de metronidazol e 72 horas após o uso de tinidazol. ● O tratamento com metronidazol gel por via vaginal não é recomendado, porque o medicamento não atinge níveis terapêuticos na uretra e glândulas de Skene e Bartholin. ● Recomenda-se abstinência sexual durante o tratamento. ● O(s) parceiro(s) sexuais devem ser referenciados para tratamento, por tratar-se de infecção sexualmente transmissível. ● Devido à elevada taxa de reinfecção em mulheres, recomenda-se nova avaliação três meses após o término do tratamento. 12 13 ● Diante da recorrência, devem-se evitar os esquemas para dose única, utilizando-se metronidazol por via oral a cada 12 horas, durante sete dias, ou tinidazol por via oral, durante sete dias. ● Mulheres vivendo com HIV/aids. O tratamento com metronidazol por via oral durante sete dias mostrou-se mais eficaz. INTRODUÇÃO: ● A DIP é considerada como sendo um conjunto de processos inflamatórios da região pélvica devido à propagação de microrganismos a partir do colo do útero e da vagina para o endométrio, tubas, peritônio e estruturas adjacentes. ● Essa propagação ocorre de forma direta do colo para os órgãos superiores, denominada de via canalicular. ● A DIP manifesta-se, habitualmente, com um padrão clínico subagudo e oligossintomático, e dor abdominal em intensidade variável é sintoma obrigatório. ● É mais comum em mulheres jovens. ● É uma das mais importantes complicações das infecções sexualmente transmissíveis (IST). ● Apresenta relevância devido às suas complicações, tanto de emergência no caso da pelviperitonite ou ruptura de abscesso tubo-ovariano (ATO), como em longo prazo, podendo provocar infertilidade, gravidez ectópica e dor pélvica crônica. FATORES DE RISCO: ● Podem-se citar a adolescência e o comportamento sexual contribuindo para aumento da suscetibilidade à DIP. ○ Múltiplos parceiros; ○ Sexo desprotegido; ○ Maior superfície passível de ser infectada. ○ Múltiplas parcerias sexuais e parceria sexual atual portadora de uretrite por si só também são fatores importantes. ○ 1 em cada 5 casos de DIP ocorre em menores de 19 anos. ○ Jovens de 17 a 21 anos têm duas vezes mais 13 14 chance de serem diagnosticadas com DIP. ● Maior chance de recorrência em jovens: apresentaram risco cinco vezes maior de relatar dor pélvica crônica em sete anos após serem diagnosticadas com DIP. ● História passada ou atual de IST: Pessoas com infecção por clamídia, micoplasmas e/ou gonococo na cérvice uterina têm maior chance de desenvolver essa infecção no trato genital superior. ○ A infecção por Chlamydia trachomatis promove a possibilidade de desenvolver infecção do trato genital superior a partir de cervicite em até 30% dos casos. ○ Pacientes com salpingite prévia têm chance aumentada em 23% de desenvolver um novo episódio infeccioso. ● Uso de dispositivos intrauterinos (DIUs) pode representar um risco três a cinco vezes maior para o desenvolvimento de uma DIP, se a paciente for portadora de cervicite na época de inserção. ● Idade menor que 25 anos; ● Sexarca com menos de 15 anos; ● Baixo nível socioeconômico; ● Estado civil de solteira; ● Nuliparidade; ● No entanto, 64% dos casos não foram associados a nenhuma dessas situações. ETIOLOGIA ● Nos estudos iniciais de DIP, a Neisseria gonorrhoeae (gonococo) era o patógeno mais comumente isolado. ● Entretanto, como a prevalência dessa doença sexualmente transmitida tem diminuído, sua importância como agente causal de DIP também diminuiu. ● A Chlamydia trachomatis é atualmente o patógeno mais comumente detectado em até 60% das mulheres confirmadas com salpingite ou endometrite. ● Bactérias da classe das Molicutes (Mycoplasma hominis, Mycoplasma genitalium, Ureaplasma urealyticum) também podem estar envolvidas. ● O Mycoplasma genitalium tem se mostrado de grande importância em termos de frequência e resistência bacteriana. ● Um pool de bactérias incluídas no meio ambiente vaginal, como Gardnerella vaginalis, Bacteroides spp. e outros, pode contribuir para o quadro. ● A presença de agentes de vaginose bacteriana aumentam em mais que duas vezes o risco de DIP. ● À medida que o processo evolui, ocorre gradativamente diminuição da concentração de oxigênio localmente, aumentando a presença dos anaeróbios. ● Em mulheres com infecção por gonococo e clamídia, a detecção de anaeróbios no trato genital superior está frequentemente associada com doença mais grave; ● Portanto, a DIP possui etiologia polimicrobiana, fato importante na definição do manejo terapêutico. FISIOPATOLOGIA: ● A fisiopatologia da DIP pode ser analisada de forma segmentar, desde a infecção no colo uterino até a instalação da infecção nas tubas uterinas, podendo atingir ovários e peritônio pélvico. 14 15 ● Pré-DIP: No início do processo, temos os agentes implicados nas cervicites (principalmente a clamídia) instalados no colo uterino, caracterizando o estádio 0. ● Há chance (20% a 30%) de que a infecção de trato superior ocorra, sendo essa chance maior quanto menor a idade da mulher. ● A importância de identificar essa fase se deve à possibilidade de tratamento e prevenção da DIP. ● Após esse estádio, principalmente na época menstrual ou pós-menstrual imediata, há ascensão desses agentes e passagem pelo endométrio, ocasionando endometrite. ● A endometrite é habitualmente fugaz, havendo a possibilidade de sangramento discreto além da menstruação ou mesmo o prolongamento desta. ● Na ocasião da menstruação ou após, ocorre modificação do muco cervical facilitando esse processo. ● Alguns justificam essa situação pelo fato de o sangue menstrual ser alcalino e também propiciar um meio de cultura. ● Na sequência, os microrganismos que fazem parte do meio ambiente vaginal também ascendem através da cervicite, via canalicular, instalando-se na tuba uterina. ● Nesse local, com reação tecidual, se inicia a formação de conteúdo purulento, que pode se desprender, passar através das fímbrias e derramar no peritônio pélvico, ocasionando pelviperitonite. ● Pelo fato de o acúmulo ser maior no fundo de saco de Douglas, esse local se apresenta com maior sensibilidade, desencadeando dispareunia e dor ao toque vaginal e, sobretudo, no fundo de saco de Douglas. ● Nesse tempo, alças intestinais e epíplon tendem a bloquear o processo purulento, formando o denominado “complexo tubo-ovariano”. ● À medida que aumenta a viscosidade desse conteúdo, pode ocorrer a fusão das fimbrias tubárias, provocando aprisionamento de pus dentro das tubas, denominado de piossalpinge. ● Com esse conteúdo aprisionado, ocorrem diminuição dos níveis de oxigênio e aumento gradativo na proliferação dos anaeróbios. ● Esse conteúdo purulento pode se propagar para os ovários, constituindo, então, o ATO. ● Esse pode posteriormente ser esterilizado e formar uma massamulticística, denominado de hidrossalpinge, como forma de sequela do processo infeccioso e inflamatório. ● Embora menos frequente, o conteúdo do ATO pode aumentar a tensão intra-abscesso e se romper, podendo ocasionar um quadro grave com grande derramamento de pus no peritônio, choque séptico e até levar a óbito. 15 16 ● Felizmente, casos letais associados diretamente com a DIP são infrequentes. ● Em relação à dor, ela é desencadeada a partir da entrada dos agentes na cavidade uterina, tornando-se maior quando o conteúdo purulento contamina a cavidade pélvica. ● Quando há fusão das fímbrias, poderá ocorrer relativa diminuição da sensação dolorosa e se tornar máxima quando há ruptura do ATO. QUADRO CLÍNICO: ● Dor ao toque vaginal; ● Sensibilidade do fundo de saco de Douglas; ● Dor abdominal ou pélvica: embora muitas das pacientes que apresentem ou tenham apresentado DIP sejam oligo ou assintomáticas. A dor habitualmente não é severa, apresentando-se inicialmente como desconforto e eventualmente progredindo, sendo com maior frequência bilateral; ● Febre, calafrios; ● Corrimento vaginal ou cervical, coceira ou odor; ● Sangramento vaginal: alterações do ciclo menstrual na forma de aumento ou prolongamento da menstruação, devido à endometrite fugaz. ● Sangramento vaginal anormal de pouca quantidade após a menstruação (spotting); ● Dispareunia: devida à inflamação dos ligamentos pélvicos ou até mesmo ocasionada por algum grau de peritonite que possa existir; ● Disúria: associada à dor, sobretudo na presença de uretrite; ● Dor lombar; ● Náusea e vômitos. DIAGNÓSTICO: ● O diagnóstico da DIP pode ser difícil devido à ampla variação de sinais e sintomas, que podem incluir desde sinais leves até dor abdominal intensa. ● O diagnóstico é baseado primeiramente na evolução clínica, devendo-se iniciar o tratamento antes da confirmação laboratorial ou de imagem. ● A DIP deve ser suspeitada, como diagnóstico diferencial, principalmente em mulheres com idade entre 15 e 44 anos com dor abdominal baixa ou dor pélvica à mobilização da cérvice, mesmo se os sintomas forem leves. ● Nem a história clínica, nem exame físico ou testes laboratoriais são sensíveis ou específicos o suficiente para definir o diagnóstico com certeza. ● Para o diagnóstico definitivo em alguns casos, pode ser necessário exame laparoscópico. ● A paciente pode apresentar-se assintomática ou ter sintomas; ● 60% dos casos se apresentam na forma silenciosa e subclínica. 16 17 ● Dos casos sintomáticos, 36% são leves a moderados, enquanto 4% são mais graves; ● O diagnóstico diferencial deverá ser feito com manifestações urinárias, gastrointestinais e musculoesqueléticas. ○ Gravidez ectópica; ○ Tumor, torção ou cisto ovariano; ○ Aborto séptico incompleto; ○ Endometriose, adenomiose, leiomioma uterino, endometrioma roto; ○ Nefrolitíase, pielonefrite, cistite; ○ Litíase urinária; ○ Apendicite, síndrome do intestino irritável e outras doenças gastrointestinais. Exames complementares ● Hemograma completo que possa sugerir presença de processo inflamatório (leucocitose e/ou bastonetose); ● Exames de urina tipo I e urocultura, para afastar infecção do trato urinário; ● Provas bioquímicas inflamatórias (velocidade de hemossedimentação – VHS – e proteína C reativa). Embora inespecíficas; ● Exame bacterioscópico para avaliar vaginose bacteriana; ● Identificação do agente preferencialmente por provas de biologia molecular para diagnóstico de clamídia e gonococo, bem como por cultura para gonococo e, se possível, com antibiograma e determinação de resistência; ● Teste de gravidez, se essa não pode ser excluída com certeza, principalmente para afastar gravidez ectópica; ● Ultrassonografia transvaginal (USTV): método de escolha para a avaliação inicial de dor pélvica, pode mostrar imagem de: ○ Espessamento da parede tubária maior que 5 mm (100% de sensibilidade); ○ Septos incompletos intratubários; ○ Sinal da roda dentada (corte transversal) (95% a 99% de especificidade); ○ Espessamento e líquido tubário; ○ ATO. ● A USTV tem habilidade limitada para o diagnóstico de DIP aguda. 17 18 ● Tomografia computadorizada da pelve: pode evidenciar alterações nos planos fasciais do assoalho pélvico, espessamento dos ligamentos uterossacrais, inflamação tubária ou ovariana, coleção líquida anormal; ● Ressonância magnética (RM) pode mostrar: ATO, piossalpinge, líquido intratubário, aparência de policistose ovariana com líquido livre na pelve. A RM tem maior acurácia quando comparada com a USTV para o diagnóstico de DIP e pode, portanto, substituir a laparoscopia; ● Laparoscopia pode ser usada para confirmar o diagnóstico. ● Todas as mulheres que têm DIP aguda devem ser rastreadas para clamídia e gonococo e devem ser testadas para a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV); ● Outros exames bioquímicos na dependência de cada caso e de sua gravidade: provas de função hepática e renal, avaliação hidroeletrolítica, entre outros. ● O diagnóstico da DIP, é eminentemente clínico, e deve basear-se nos seguintes critérios, segundo o CDC: ○ 3 maiores + 1 menor OU 1 específico; ● Existem também os CRITÉRIOS ESPECÍFICOS, que por si só definem a presença de DIP, sendo eles: ○ USG endovaginal ou RM ou outro método de imagem sugerindo a presença de ATO ou complexo tubo-ovariano; ○ Biópsia endometrial demonstrando a presença de endometrite; ○ Laparoscopia com sinais sugestivos de infecção tubária ou tuboperitonial. TRATAMENTO: ● O tratamento da DIP tem a finalidade de resolver o quadro infeccioso atual e prevenir as possíveis complicações futuras. Orientações: ● Individualizar o tratamento conforme disponibilidade, custo e aceitação do paciente. ● Atentar para a presença de outras ISTs associadas e rastrear outras infecções. HIV, sífilis e hepatites sempre devem ser solicitadas, bem como rastreamento de neoplasias associadas como a infecção pelo papilomavírus humano (HPV). ● Compreender que a contaminação nem sempre ocorreu recentemente, mas que o parceiro atual é aconselhado a ser examinado. ● Orientar medidas gerais como repouso e hidratação. ● Nos casos de associação com DIU, a remoção ou permanência do dispositivo deverá ser individualizada. ● Nos casos de DIP leve ou moderada, o tratamento oral ou 18 19 parenteral parece apresentar eficácia semelhante. ● A decisão de tratamento ambulatorial ou hospitalar depende do julgamento médico, e a presença das seguintes situações sugere o tratamento com a paciente internada: ○ Emergências cirúrgicas (por exemplo, apendicite); ○ Presença de ATO ou peritonite; ○ HIV+ ou imunossuprimidas; ○ Uso de DIU; ○ Antibioticoterapia oral não tolerada ou não efetiva; ○ Estado tóxico e grave de início; ○ Gravidez. Esquemas de antibioticoterapia: ● Os esquemas de antibioticoterapia são considerados de forma empírica e devem ser de amplo espectro e instituídos precocemente. ● Devem focar em cobrir aeróbios e anaeróbios. ● Nos casos de ATO: esquema de antibióticos o metronidazol ou a clindamicina. ● À medida que a paciente melhora e não apresenta quadro de temperatura elevada, o esquema pode ser trocado para VO, a clindamicina ou o metronidazol, para completar pelo menos 14 dias de tratamento, com doxiciclina ou azitromicina. ● Na presença de ATO, sugere-se a continuação do tratamento após a alta com azitromicina, associada a metronidazol por mais três semanas. ● Culdocentese: Em algumas situações, opta-se por drenagem do fundo de saco de Douglas pela via vaginal, com coleta de material para pesquisa de agentes. ● O esquema ampicilina/sulbactam mais a doxiciclina foi investigado e tem ampla cobertura do espectro, sendo eficaz contra clamídia e gonococo também em casos de ATO. 19
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