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@resumosdamed_ 1 SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL E DISMENORREIA ENTENDER O CONCEITO DE SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL • O sangramento uterino anormal é uma afecção frequente que pode afetar negativamente aspectos físicos, emocionais, sexuais e profissionais, piorando a qualidade de vida das mulheres. • Nos casos de sangramento intenso e agudo, as mulheres podem necessitar de tratamento de urgência, com reposição volumétrica e substâncias hemostáticas. • Essa definição inclui os sangramentos classicamente denominados disfuncionais (anovulatório ou ovulatório), aqueles que têm causas estruturais (miomas, pólipos, carcinoma endometrial, complicações de gravidez) e aqueles relativos a condições sistémicas (coagulopatias), podendo ainda estar relacionados com o uso de contraceptivos ou terapia hormonal. • Na pré-menopausa o sangramento é diagnosticado como anormal quando há alteração substancial na frequência, duracão ou volume dos sangramentos menstruais ou entre os períodos. Na pós-menopausa, qualquer sangramento que ocorra I ano após a cessação dos ciclos menstruais é considerado anormal e deve ser investigado. • Complicações de gestação inicial não diagnosticada também podem manifestar-se como sangramentos anormais. • Alterações do eixo hipotálamo-hipófise-ovário e disfunções endometriais podem ser a causa de sangramento anormal. Além disso, são citadas também as doenças sistémicas, como as coagulopatias e os distúrbios tireoidianos. • O SUA crônico foi definido como o sangramento do corpo uterino anormal em volume, regularidade ou frequência presente na maioria dos últimos 6 meses. • O sangramento anormal pode apresentar vários padrões. o Menorragia, uma menstruação cíclica prolongada ou intensa. Menstruação por mais de sete dias ou com perda sanguínea superior a 80 mL. o O sangramento intermenstrual é denominado metrorragia. Sangramento anormal (breakthrough bleeding) é um termo mais informal para a metrorragia associada à administração de hormônios. o É comum as mulheres se queixarem de ambos os padrões, a menometrorragia. o Hipermenorreia: aumento da duração do sangramento (mais que 7 a 8 dias). Geralmente atribuída à insuficiência lútea ou folicular o Ciclos com intervalos acima de 35 dias caracterizam o estado de oligomenorreia. • O termo sangramento de privação refere-se ao sangramento previsto decorrente da retirada súbita da progesterona. @resumosdamed_ 2 IDENTIFICAR AS CAUSAS MAIS COMUNS DE SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL, ENTENDENDO COMO CADA UMA DELAS SE ASSOCIA A OCORRÊNCIA DO SANGRAMENTO ASSOCIADO À GRAVIDEZ: • Sangramento anormal no início da gravidez é encontrado em 15 a 20% das gestações. Embora seja frequente não encontrar qualquer razão, o sangramento pode indicar abortamento em fase inicial, gravidez ectópica, infecção do colo uterino, mola hidatiforme, eversão do colo uterino ou pólipo. PATOLOGIAS ASSOCIADAS AO AUMENTO DO ÚTERO LEIOMIOMA • É uma neoplasia benigna do músculo liso que quase nunca se torna maligno (leiomiossarcoma). • Leiomiomas uterinos são originados de células musculares lisas do útero contendo uma quantidade aumentada de matriz extracelular. • Podem crescer, diminuir ou manter-se do mesmo tamanho. ADENOMIOSE • A adenomiose é uma doença semelhante, porém, neste caso, a presença do endométrio não ocorre em outros órgãos, mas sim dentro do miométrio, que é a camada muscular do próprio útero. • Na adenomiose, toda vez que a mulher fica menstruada, também há um sangramento dentro da musculatura do útero, o que provoca grande irritação do mesmo. Portanto, podemos dizer que a adenomiose é uma endometriose que ocorre no próprio útero. PÓLIPOS ENDOMETRIAIS: • Esses tumores intrauterinos de consistência mole e carnuda são formados por glândulas endometriais e estroma fibrótico cobertos por epitélio superficial. • Estrogênio e progestogênio foram implicados com seu crescimento. Esses hormônios alongam glândulas, estroma e artérias espiraladas endometriais, levando à formação do aspecto polipoide característico. • Grande parte das mulheres com pólipos endometriais irão se queixar de menorragia ou metrorragia. Especificamente, acredita-se que a congestão estromal dentro do pólipo leve à estase venosa com necrose apical e sangramento. • A prevalência de hiperplasia ou câncer nos pólipos é baixa, especialmente nas mulheres em pré-menopausa, nas assintomáticas ou naquelas cujo tamanho da lesão é pequeno (<18mm). PÓLIPOS ENDOCERVICAIS • Essas lesões representam crescimento aumentado de estroma endocervical benigno coberto por epitélio. Também chamados pólipos cervicais, eles costumam aparecer como massa única, vermelha, alongada, de consistência mole, estendendo-se a partir do canal endocervical. @resumosdamed_ 3 • Os pólipos variam de tamanho desde poucos milímetros até 2 ou 3 centímetros. Esses tumores comuns são encontrados com maior frequência em multíparas e raramente em pré-púberes. • Os pólipos endocervicais são caracteristicamente assintomáticos, mas podem causar hemorragia, sangramento pós-coito e leucorreia vaginal sintomática. DOENÇA RENAL • A disfunção renal grave frequentemente é acompanhada de distúrbios endócrinos que, muitas vezes, resultam em hipoestrogenismo, amenorreia e infertilidade. O fato é preocupante, considerando que o sangramento pode agravar a anemia crônica associada à insuficiência renal. O mecanismo responsável por essas anormalidades não está esclarecido, mas suspeita-se da desregulação hipotalâmica da secreção de gonadotrofina. DOENÇA HEPÁTICA • Dependendo da sua gravidade, a disfunção hepática pode causar anormalidades menstruais. O mecanismo subjacente ao sangramento não está esclarecido, mas como na insuficiência renal, a disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-ovário está envolvida. • O fígado desempenha papel importante no metabolismo e na excreção dos hormônios sexuais, e a disfunção hepática está associada a níveis altos de estrogênio circulante. Isto, por sua vez, pode levar aos níveis séricos inapropriadamente baixos de hormônio luteinizante (LH) e de hormônio folículoestimulante (FSH) observados nessas pacientes. • A disfunção hemostática também pode contribuir para o sangramento anormal. Com exceção do fator de von Willebrand, todas as demais proteínas de coagulação e a maioria dos seus inibidores são sintetizadas no fígado. DOENÇA TIREOIDIANA • O hipertireoidismo e o hipotireoidismo podem causar distúrbios menstruais, variando de amenorreia a menorragia. Em muitas mulheres essas anormalidades menstruais antecedem outros sinais e sintomas clínicos de doença da tireoide. Assim, na maioria das mulheres com sangramento uterino anormal, recomenda-se a dosagem do nível sérico do hormônio estimulante da tireoide (TSH). • No hipertireoidismo, hipomenorreia e amenorreia são queixas mais frequentes, e amenorreia é observada em apenas 5% dos casos. • As mulheres com hipotireoidismo grave em geral se apresentam com anovulação, amenorreia e SUD anovulatório. Essas mulheres também podem apresentar defeitos na hemostasia. Isso pode ocorrer em razão de redução nos níveis de vários fatores de coagulação identificados em algumas pacientes com hipotireoidismo. COAGULOPATIA • Muitos defeitos da coagulação que causam menorragia podem ser classificados genericamente em: o Disfunção da aderência das plaquetas o Defeitos na estabilização da agregação plaquetária. • Primeiro, durante as fases iniciais da hemostasia, as plaquetas aderem a falhas na parede do vaso por meio da ligação dos seus receptores ao @resumosdamed_ 4 colágeno exposto (ligação essa que depende do fator de von Willebrand (vWF), uma proteína plasmática) Uma vez ligadas, as plaquetas são ativadas e liberam um agonista potente para sua agregação, o tromboxano.Assim, redução no número de plaquetas ou inibidores do tromboxano pode levar à insuficiência na aderência das plaquetas e menorragia. • Segundo, a cascata da coagulação leva à formação de fibrina que estabiliza as plaquetas agregadas. Falhas nos fatores da coagulação que formam essa cascata também predispõem a sangramento anormal. • As coagulopatias mais comuns são doença de von Willebrand (vWD), trombocitopenia e distúrbios da função plaquetária. Deficiências nos fatores VII e IX (hemofilia A e B) e deficiências de outros fatores raramente estão envolvidas. TROMBOCITOPENIA OU DISFUNÇÃO PLAQUETÁRIA • As plaquetas são parte integrante da formação de trombos, e contagens reduzidas podem levar a sangramento anormal. A trombocitopenia pode ser classificada genericamente como resultante de distúrbios que aumentam a destruição plaquetária, que reduzem a produção plaquetária ou que aumentem o sequestro plaquetário. Alternativamente, é possível que a contagem de plaquetas esteja normal, mas a paciente apresente disfunção plaquetária e, consequentemente, os problemas na agregação podem ser subjacentes ao sangramento anormal. • Primeiro, o uso prolongado de inibidores do tromboxano, como os AINEs e o ácido acetilsalicílico, pode levar à disfunção plaquetária. Esses fármacos são utilizados com frequência por mulheres com sangramento anormal em razão da associação frequente com dismenorreia. Consequentemente, as pacientes devem ser inquiridas sobre o uso crônico desses fármacos. • Muito mais raramente, defeitos genéticos primários nos receptores plaquetários levam à disfunção de plaquetas e a sangramento anormal.. DOENÇA DE VON WILLEBRAND • O fator de von Willebrand (vWF) é uma glicoproteína sintetizada nas células endoteliais e nos megacariócitos e parte integrante do processo de aderência das plaquetas nos sítios de lesão endotelial. Também evita a eliminação do fator VIII que, sem a presença do vWF, é rapidamente depletado causando deficiência clinicamente evidente. Quantidades reduzidas ou função inibida do vWF caracterizam as diversas variantes da vW. A vWD é um distúrbio herdado da coagulação, havendo padrões de transmissão autossômicos dominante e recessivo. • As pacientes afetadas comumente se queixam de menorragia. Nessas pacientes, menstruações volumosas costumam iniciar junto a menarca. • É importante observar que os níveis do fator VIII e do vWF atingem o ponto mais baixo durante a menstruação e aumentam relativamente nas mulheres que usam COCs. DEFICIÊNCIAS DE FATORES DA COAGULAÇÃO • Essas coagulopatias geralmente se manifestam com prolongamento do tempo de protrombina ou do tempo de tromboplastina parcial ativada @resumosdamed_ 5 (TTPa). Assim como na doença de von Willebrand, as mulheres portadoras podem se apresentar com menorragia. As hemofilias A e B, ligadas ao X, são deficiências, respectivamente, dos fatores VIII e IX. Entretanto, as mulheres portadoras do gene podem apresentar níveis reduzidos do fator VIII ou IX. Em alguns casos, os níveis dos fatores são suficientemente baixos para causar hemofilia leve, que pode se manifestar na forma de sangramento anormal. MALFORMAÇÕES MÜLLERIANAS • Lesões estruturais congênitas do trato reprodutivo algumas vezes causam sangramento intermenstrual superposto ao ciclo menstrual normal. • Na maioria dessas mulheres, há sítios de sequestro patentes que capturam o fluxo menstrual para liberá-lo lentamente produzindo sangramento episódico. MALFORMAÇÕES ARTERIOVENOSAS (MAVS) • Trata-se de uma mistura de canais arteriais, venosos e capilares com ligações fistulosas. • As MAVs uterinas podem ser congênitas ou adquiridas, e o tamanho dos vasos varia consideravelmente. • As MAVs adquiridas geralmente são formadas por vasos únicos de grande calibre que se formam após trauma de cesariana ou associado a D&C ou que se desenvolvem concomitantemente com câncer do colo uterino ou de endométrio, doença trofoblástica gestacional ou com uso de dispositivo intrauterino. • As MAVs uterinas são raras e com maior frequência envolvem o corpo, mas também podem ser encontradas no colo uterino. • As pacientes afetadas frequentemente se apresentam com menorragia ou menometrorragia após abortamento, curetagem ou outra cirurgia uterina intracavitária. O sinal de apresentação pode ser sangramento uterino intenso não associado a trauma do colo uterino ou à perfuração uterina. • Os sintomas podem se instalar lentamente ou aparecer subitamente e com sangramento potencialmente letal. FONTES EXTERNAS DISPOSITIVO INTRAUTERINO (DIU) DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS CONTENDO COBRE: • Esses dispositivos intrauterinos há muito foram relacionados à menorragia e à metrorragia. Foram propostas várias explicações para esse sangramento. • No nível celular, proporções desequilibradas de prostaglandinas e tromboxano foram propostas como possível causa da menorragia induzida por DIU. • No nível tecidual, há aumento de vascularização endometrial, congestão e degeneração nas usuárias de DIU. Essas alterações resultam em hemorragia cornual que pode levar à metrorragia. • No nível do órgão, alguns pesquisadores sugeriram que a rotação, a fixação ou a perfuração do DIU podem causar sangramento excessivo. Existem estudos que sustentam e outros que contestam essa sugestão. @resumosdamed_ 6 SISTEMA INTRAUTERINO LIBERADOR DE LEVONORGESTREL (SIU-LNG) • Esse sistema, comercializado como Mirena, pode levar a sangramento uterino anormal em algumas usuárias. A causa do sangramento não está esclarecida, mas down-regulation do estrogênio e dos receptores de progesterona, aumento da população local de leucócitos e alterações na morfologia vascular endometrial, na hemostase e no reparo endometrial, foram propostos como possíveis causas. • Supõe-se que os efeitos endometriais dos progestogênios sejam predominantes, e acumulam-se evidências de que os progestogênios em dose baixa aumentam a fragilidade vascular endometrial. • O sistema SIU-LNG está associado ao desenvolvimento de vasos superficiais com paredes finas e diâmetros aumentados. Em combinação com a irregularidade da superfície endometrial, podem causar sangramento de escape frequentemente observado. À medida que o endométrio se torna atrófico, essas anormalidades vasculares gradualmente resolvem-se no momento que se supõe • Às pacientes pode-se assegurar que, em sua maioria, as usuárias apresentam redução do fluxo menstrual e normalmente se mostram satisfeitas com o produto após três meses. CONTRACEPÇÃO APENAS COM PROGESTOGÊNIO • Os problemas com sangramento são comuns não apenas com o SIU- LNG, mas também com outros métodos de controle da natalidade usando apenas progestogênio. Esse sangramento é caracteristicamente irregular e leve, mas também pode ser frequente e prolongado. CONTRACEPÇÃO HORMONAL COMBINADA • O sangramento associado a contraceptivos orais combinados (COCs) é comum. • De 30 a 50% das mulheres experimentam sangramento uterino anormal no primeiro mês de uso dos COCs. • Presume-se que a causa desse sangramento seja a atrofia endometrial, que é induzida pelo componente progestogênio dos COCs. Durante esse processo, as arteríolas normalmente espiraladas não formam espiral, tornando-se mais finas e sinuosas. Além disso, as vênulas ficam dilatadas e propensas à trombose. • Em geral, esse quadro leva ao infarto tecidual local, sendo considerado a causa do sangramento de escape. • A incidência do sangramento diminui de forma significativa com o passar do tempo. TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL (TH) • O sangramento ou o escape irregular é um efeito colateral bem- conhecido da terapia de reposição hormonal, sendo uma razão comum para sua suspensão. O sangramento pode ocorrer tanto nas mulheres submetidas à terapia contínua (diária) quanto naquelascom administração hormonal cíclica (sequencial), mas é menos provável no primeiro ano nas mulheres que usam o esquema cíclico. TAMOXIFENO @resumosdamed_ 7 • Esse modulador seletivo do receptor de estrogênio (MSRE) é utilizado como adjunto no tratamento do câncer de mama positivo para receptor de estrogênio. • Embora reduza a ação do estrogênio no tecido mamário, o tamoxifeno estimula a proliferação no endométrio. O uso do tamoxifeno foi relacionado com hiperplasia, pólipos e carcinoma endometriais, e com sarcomas uterinos. CAUSAS SISTÊMICAS SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL • Uma vez que as causas orgânicas já descritas de sangramento uterino anormal tenham sido excluídas, o termo sangramento uterino disfuncional (SUD) passa a ser usado. Até metade das mulheres com sangramento anormal são portadoras de SUD. • O termo é complementarmente classificado em SUD anovulatório e SUD ovulatório. Oitenta a 90% dos casos de SUD estão associados a anovulação. Nesta forma, os episódios de sangramento são irregulares e amenorreia, metrorragia e menorragia são comuns. • Por exemplo, muitas mulheres com anovulação podem apresentar amenorreia de semanas a meses seguida de sangramento intenso, irregular e prolongado. Os demais 10 a 20% dos casos de SUD são descritos como ovulatórios. • A ovulação ocorre em ciclos normais e acredita-se que a menorragia se origine em falhas nos mecanismos de controle do sangramento menstrual. ENTENDER A CLASSIFICAÇÃO DAS CAUSAS DE SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL EM ESTRUTURAIS E NÃO-ESTRUTURAIS • O acrónimo PALM-COEIN inclui nove categorias, sendo o grupo PALM composto por quatro entidades estruturais que podem ser diagnosticadas por imagem ou histopatologia (pólipo, adenomiose, leiomioma e malignidade). O grupo COEIN, por outro lado, inclui entidades não estruturais (coagulopatia, disfunção ovulatória, disfunção endometrial, iatrogênico e não classificado) PALM COEIN Pólipos Coagulopatias Adenomiose Ovulação Leiomiomas Endométrio Malignidade Iatrogenia Não classificado COMPREENDER A INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA DO SUA: • Na avaliação inicial de sangramento anormal, deve-se obter um histórico completo dos ciclos menstruais. Devem ser incluídos idade da menarca, dada da última menstruação e método usado no controle da natalidade. Também devem ser determinados período de sangramento, volume de fluxo e sintomas associados. Distúrbios no ciclo regular de proliferação e descolamento endometriais levam a sangramento uterino aberrante. • O objetivo diagnóstico em casos com sangramento uterino anormal é excluir as possibilidades de gravidez ou de câncer e identificar a doença @resumosdamed_ 8 subjacente para permitir o tratamento ideal. Dosagem sérica de b-hCG, ultrassonografia (com ou sem infusão salina), biópsia endometrial e histeroscopia são os exames realizados inicialmente. Em muitos quadros clínicos essas ferramentas podem ser utilizadas de forma intercambiável e a escolha da modalidade é baseada em variáveis ligadas à paciente, disponibilidade de recursos e/ou treinamento do profissional de saúde. EXAME FÍSICO: • Inicialmente, deve-se confirmar a localização do sangramento, o qual pode ter origem no trato reprodutivo inferior, sistema gastrintestinal ou trato urinário. A localização será dificultada caso não haja sangramento ativo. Nesses casos, o exame qualitativo de urina e a pesquisa de sangue oculto nas fezes com teste do guáiaco podem ser úteis como auxiliares ao exame físico. Durante o exame, sinais isolados ou em conjunto podem sugerir a etiologia. EXAMES LABORATORIAIS: • Após a exclusão de gestação, a evolução inicial inclui história detalhada do sangramento e de antecedentes, com foco em fatores de risco para câncer de endométrio, coagulopatias, medicações em uso, doenças concomitantes, além de exame físico completo, com foco em sinais da síndrome dos ovários policísticos, resistência insulínica, doenças da tireoide, petéquias, equimoses, lesões da vagina ou colo do útero, além de tamanho do útero. Para investigação complementar, pode-se utilizar hemograma, dosagem de ferritina e ultrassonografia pélvica. • A UTV é, por várias razões, a primeira etapa lógica. É bem tolerada, custo-efetiva e requer relativamente pouca habilidade técnica. Além disso, apresenta a vantagem da determinação confiável se a lesão é difusa ou focal e se está localizada em endométrio ou miométrio. • Uma vez identificadas lesões anatômicas, a etapa seguinte na avaliação é sua individualização. Se houver suspeita de hiperplasia ou de câncer endometrial, a biópsia endometrial pode oferecer vantagens. Alternativamente, possíveis lesões focais podem ser mais bem investigadas com histeroscopia ou com UIS. • Em última análise, o objetivo da investigação diagnóstica é identificar e tratar a patologia e especificamente excluir a possibilidade de carcinoma do endométrio. Assim, a seleção dos testes apropriados depende de sua acurácia na caracterização das lesões anatômicas mais prováveis. @resumosdamed_ 9 ENTENDER AS DIFERENTES MODALIDADES DE TRATAMENTO PARA O SUA: TRATAMENTO DO SUA DE CAUSA ESTRUTURAL (PALM): • As alterações neoplásicas e pré-neoplásicas do endométrio têm grande importância como diagnóstico diferencial. PÓLIPO: • Na presença de pólipo endometrial causando SUA, a polipectomia histeroscópica é uma opção eficaz e segura para diagnóstico e tratamento, com recuperação rápida e precoce retorno às atividades. • Pequenos pólipos (< 0,5 cm) podem ser removidos ambulatoriamente. • Pólipos maiores (> 0,5 cm) podem ser removidos em bloco ou seccionado em fragmentos. MIOMA: • Cerca de 30% das pacientes com mioma uterino demandarão tratamento devido à presença de sintomas, incluindo SUA. • Na presença de sintomas, pode-se proceder ao tratamento farmacológico, que tem como alternativas os mesmos medicamentos disponíveis para a redução do sangramento não estrutural. Não havendo resposta ao tratamento clínico, deve-se considerar a abordagem cirúrgica, na qual a via e o tipo de abordagem dependerão do número, da localização, do tamanho do mioma e do desejo futuro de concepção. @resumosdamed_ 10 ADENOMIOSE: • Frequentemente associada a sangramento e a dismenorreia, a adenomiose geralmente é tratada com histerectomia. Porém, estudos mostram que os sintomas podem ser controlados com terapias supressivas semelhantes às utilizadas para SUA sem alteração estrutural, tais como contraceptivos combinados, progestagênios, sistema intrauterino liberador de levonorgestrel, em especial quando há desejo de manter a capacidade reprodutiva. TRATAMENTO DO SUA DE CAUSA NÃO ESTRUTURAL (COEIN): • Nestes casos, a terapêutica tem por princípio atuar na estabilidade endometrial ou no controle dos fatores que levam à descamação e à cicatrização do endométrio. Na falha desse tratamento, as opções cirúrgicas disponíveis também serão apresentadas. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO OU MEDICAMENTOSO: • O tratamento medicamentoso do SUA baseia-se na ação dos hormônios e de outros mediadores inflamatórios sobre o endométrio, além do controle hemostático do sangramento. As opções disponíveis são: HORMONAL: ESTROGÊNIO E PROGESTÂGENIO COMBINADOS: • Os contraceptivos combinados (CC) contendo estrogênio e progestagênio reduzem a perda sanguínea menstrual, sendo uma opção terapêutica para a maioria das causas de SUA sem alteração estrutural. • Geralmente os contraceptivos combinados monofásicos são usados em esquemas cíclicos, com pausas, mas podem também ser administrados continuamente, reduzindo também o número de episódios de menstruação. • Em nosso país, a indicação para redução do fluxo menstrual consta em bula. Uma limitação importante ao seu uso é o desejo reprodutivo imediato, uma vez que esses esquemas têm ação anovulatória.• No tratamento do SUA, os contraceptivos combinados também são norteados pelos critérios de elegibilidade da OMS para métodos contraceptivos, respeitando-se as contraindicações para o uso de estrogênios, tais como hipertensão, enxaqueca com aura, tabagismo após os 35 anos, trombofilias, entre outros. PROGESTAGÊNIO ISOLADO SISTÊMICO, PROGESTAGÊNIO INJETÁVEL E SISTEMA INTRAUTERINO LIBERADOR DE LEVONOGESTREL (SIU-LNG): • A progesterona é um hormônio produzido no organismo feminino durante a fase lútea do ciclo menstrual, responsável pela transformação secretória do endométrio. Quando a fecundação não ocorre e os níveis de estrogênio e progesterona caem, a menstruação ocorre. • Há vários derivados sintéticos da progesterona no mercado. Embora sua denominação não seja padronizada no Brasil, usa-se o termo progestagênio. • Os progestagênios promovem a atrofia endometrial por vários mecanismos e têm ação anti-inflamatória, porém ainda há lacunas no conhecimento de como promovem redução do sangramento. @resumosdamed_ 11 • Embora possam ser indicados para a maioria das mulheres, seu uso é particularmente relevante para as que apresentam contraindicação ou não toleram o uso de estrogênios. • Há diferentes progestagênios, utilizados por diferentes vias e doses, sendo seu uso contínuo, cíclico, por via oral, injetável ou intrauterina. O principal limitante ao uso contínuo de progestagênio isolado são os sangramentos inesperados decorrentes da atrofia endometrial. • A maioria dos estudos sobre o uso de progestagênio contínuo refere-se ao uso do SIU-LNG, que libera 20 mcg de levonorgestrel diariamente, resultando, por vários mecanismos, em atrofia endometrial, com redução do sangramento. É considerado mais efetivo para o controle do SUA do que os tratamentos orais. Além da grande redução, de 71% a 96%, no volume de sangramento e consequente melhoria na qualidade de vida, parece ter melhor aceitação considerando o tratamento prolongado, com menos incidências de efeitos adversos. Este método não deve ser usado quando a cavidade uterina não é regular, devido ao risco aumentado de expulsão. O efeito adverso mais relatado é a ocorrência de sangramento inesperado, mais frequentemente nos primeiros meses de uso. Nessa situação, a utilização de ácido tranexâmico ou anti-inflamatórios pode trazer benefícios. NÃO-HORMONAL: ANTIFIBRINOLÍTICOS: • Estudos têm mostrado que mulheres com aumento do fluxo menstrual podem apresentar ativação do sistema fibrinolítico durante a menstruação, com aceleração da degradação do coágulo de fibrina, formado para conter o sangramento. Medicações que atuam reduzindo a fibrinólise podem reduzir o sangramento. • Nesta categoria, o ácido tranexâmico é um medicamento frequentemente indicado. Desde seu lançamento no mercado, foi prescrito para mulheres com hemofilia, von Willebrand, trombastenia de Glanzmann e SUA, com bons resultados. Porém, ainda há questionamentos quanto à dose e contraindicações. ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO HORMONAIS: • Os NSAID exercem sua ação por meio da inibição da ciclooxigenase, que é a enzima que catalisa a transformação de ácido araquidônico para prostaglandina e tromboxane. • Estudos comparando sangramento normal e aumentado têm demonstrado que o aumento da inflamação no endométrio está associado com aumento na perda de sangue durante a menstruação, servindo de base para a indicação dos NSAID no tratamento do SUA, que limitariam a produção de mediadores inflamatórios. • Podem ser usados isoladamente ou como terapia adjuvante de um tratamento hormonal. • Talvez o NSAID mais estudado com esta finalidade seja o ácido mefenâmico, que proporciona redução de 25% a 50% no volume de sangramento. Deve ser usado durante a menstruação e apresenta o benefício da redução da dismenorreia. Os efeitos colaterais mais frequentes estão relacionados a efeitos gastrointestinais, devendo ser evitados em mulheres com história de úlcera. @resumosdamed_ 12 ENTENDER O MECANISMO DE DISMENORREIA (PRIMÁRIA NO CASO) COM E ̂NFASE NA FISIOLOGIA DA CONTRAC ̧ÃO UTERINA (EX. PROSTAGLADINA F2- ALFA). • Dismenorreia primária :descreve a dor menstrual cíclica sem patologia associada identificada • Dismenorreia 2ª em geral se relaciona-se com endometriose, leiomiomas, DIP, adenomiose, pólipos endometriais e obstrução e fluxo menstrual. Por essa razão, a dismenorreia secundária pode estar associada a outros sintomas ginecológicos, como dispareunia, disúria, sangramento anormal ou infertilidade. • Comparada com a dismenorreia secundária, a dismenorreia primaria, em regra, inicia-se logo após a menarca. • É raro que as características da dor sejam diferenciadas entre os dois tipos, sendo que a dismenorreia primária geralmente é diagnosticada após terem-se excluído as causas conhecidas associadas ao sintoma. • Durante a descamação endometrial, as células endometriais liberam prostaglandinas no início da menstruação. As prostaglandinas estimulam as contrações miometriais e desencadeiam isquemia. As mulheres com dismenorreia mais intensa apresentam niveis mais altos de prostaglandinas no liquido menstrual, e esses niveis muito altos durante os dois primeiros dias de menstruação. • As prostaglandinas também estão implicadas na dismenorreia secundária. Entretanto também é possível identificar mecanismos anatômicos para a dismenorreia, dependendo do tipo da doença pélvica que a acompanha. REFERENCIAS • Manual Sogimig De Ginecologia E Obstetrícia • Ginecologia de Williams 2ª edição
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