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Citocinas e Subtipos de Linfócitos Th As células do sistema imune podem sintetizar e secretar centenas de proteínas que controlam as repostas imunológicas por mediarem a comunicação entre as células. Estas proteínas são as citocinas. As citocinas são fatores solúveis de vida curta e baixo peso molecular e natureza glicoproteica que podem agir localmente e/ou sistemicamente. Como características temos: → Pleiotrópicas: afetam diferentes células induzindo respostas diferentes; → Redundantes: muitas citocinas diferentes exercem as mesmas funções; → Sinergismo: algumas citocinas são mais eficazes quando pareadas a outras; → Antagonismo: algumas citocinas apresentam efeitos opostos. As citocinas são produzidas em resposta a muitos estímulos, como antígenos, imunocomplexos, PAMPs, etc. Elas atuam sobre diversos alvos, tendo diferentes modos de ação. Podem se ligar a receptores nas células que as produzem, exercendo efeitos autócrinos. Podem se ligar a receptores nas células vizinhas, exercendo efeitos parácrinos ou afetar células-alvo distantes, tendo efeitos endócrinos. Modos de ação das citocinas Nomenclatura das Citocinas A nomenclatura e a classificação das citocinas são baseadas em células de origem ou pelo ensaio biológico usado para identifica-las. As interleucinas são as citocinas que medeiam a sinalização entre os linfócitos e outros leucócitos. Elas foram numeradas sequencialmente na ordem que foram descobertas. Os interferons são produzidos em resposta a infecções virais ou à estimulação imunológica. Seu nome deriva do fato de interferirem no RNA viral e na síntese proteica imunológica. Interferons do tipo I são primariamente antivirais, como o IFN-α e IFN- β e interferons do tipo II (IFN-γ) e do tipo III (IFN-λ) são primariamente imunomoduladores. Os TNFs (fatores de necrose tumoral) são citocinas secretadas por macrófagos e linfócitos T, sendo capazes de destruir células tumorais. O TNF-α é o principal mediador da inflamação aguda. Existem também fatores de crescimento e fatores estimuladores de colônias que controlam a produção de células sanguíneas. As quimiocinas são citocinas importantes na quimiotaxia, circulação, migração e ativação de leucócitos. Receptores das Citocinas As citocinas agem por meio de receptores localizados na célula-alvo. Estes receptores são compostos por pelo menos duas unidades funcionais, uma para a interação com o ligante e outra para transdução do sinal. A citocina se liga ao receptor, estimulando a sinalização. Com isso há a transdução do sinal, levando a um fator de transcrição para a criação de uma nova proteína. Transdução do Sinal Muitas citocinas usam a via JAK-STAT para a transdução do sinal. A interação entre o ligante e seu receptor provoca sua dimerização, ativando o JAK (Janus-quinase). Moléculas de JAK ativadas fosforilam resíduos de tirosina em uma das proteínas STAT (transdutor de sinais e ativador de transcrição). As proteínas STAT fosforiladas dimerizam-se, dissociam-se da JAK e vão para o núcleo, onde agem como fatores de transcrição e modulam a expressão dos genes- alvo. A ativação dos genes depende da presença de uma combinação apropriada de fatores de transcrição. Estes fatores ativam a RNA polimerase, iniciando a transcrição gênica. Citocinas e Imunidade As citocinas podem atuar tanto na imunidade inata quanto na adaptativa. Na imunidade inata os macrófagos podem secretar IL-12, a qual age sobre a célula NK, essa então produz o IFN-γ, o qual age sobre o macrófago, ativando-o e aumentando sua atividade microbicida. Os macrófagos podem produzirem TNF, IL-1 e quimiocinas, os quais agem sobre células endoteliais possibilitando a migração do neutrófilo para a área de infecção por meio da diapedese. Na imunidade adaptativa a apresentação de antígenos pela APC para o linfócito T CD4+ o estimula a secretar IL-2, a qual promove a proliferação dos linfócitos T. Esses linfócitos podem passar a produzir IFN- γ, o qual ativa os macrófagos, secretam também IL-2, IL-4, IFN- γ e IL-5 os quais agem sobre as células B, estimulando a produção de anticorpos e trocas de isótipos. Além disso podem secretar IL-2 e IFN- γ, os quais agem sobre as células T CD8+ promovendo sua diferenciação em células T citotóxicas. Interleucina-1 A IL-1 é um mediador da resposta inflamatória aguda secretada principalmente por fagócitos mononucleares, mas pode ser sintetizada por todas as células nucleadas. Os macrófagos e monócitos sintetizam mais IL-β, enquanto queratinócitos sintetizam mais IL-α. Outras células sintetizam mais IL-γ. As formas α e β possuem atividades semelhantes, já a forma γ é um inibidor competitivo que bloqueia os efeitos da IL-1. As principais atividades de IL-1 (α e β) são estimular os linfócitos CD4+ a secretarem IL-2 e produzirem receptores para IL-2 e proliferar e ativar linfócitos B, neutrófilos, macrófagos e monócitos. Também estimula a adesão de leucócitos, aumenta a expressão de moléculas de adesão no endotélio, estimula hepatócitos a produzirem proteínas de fase aguda, estimula a hematopoese, entre outros. A IL-β, durante infecções graves, circula na corrente sanguínea junto com o TNF-α para gerar o comportamento doentio. Desse modo, atua no cérebro, provocando febre, letargia, mal-estar e falta de apetite. Atua nos músculos mobilizando aminoáicos, provocando dor e fadiga. Estimula a liberação de CRH pela neuro- hipófise, o que no final aumenta a produção de cortisol, o qual vai inibir a síntese de IL-1 e gerar hiperglicemia. Também aumenta a atividade dos osteoclastos e adipócitos, levando ao emagrecimento e a tendência de fraturas. Fator de Necrose Tumoral O TNF é um mediador da resposta inflamatória aguda a bactérias e outros microrganismos, podendo ser TNF-α ou TNF-β (linfotoxina). Sintetizado principalmente por macrófagos, mas monócitos, neutrófilos, células T e NK, após estimulação por LPS, também o sintetizam. O TNF-α desencadeia a liberação de quimiocinas e citocinas das células próximas e promove a adesão, migração, atração e ativação de leucócitos. Também aumenta a apresentação de antígenos e a ativação de linfócitos T. Aumenta a capacidade microbicida dos neutrófilos, os atraem para o sítio de lesão e aumenta sua adesão ao endotélio. Estimula a fagocitose por macrófagos e ativa mastócitos. Induz os macrófagos a aumentarem sua própria síntese junto com IL-1. Estimula a produção de outras citocinas, como IL-6. Um aumento local do TNF-α provoca os sinais clássicos de inflamação, estimula a adesão e produção de quimiocinas e ativa leucócitos. Em quantidades moderadas o TNF-α causa febre no cérebro, estimula a produção de proteínas de fase aguda no fígado e estimula a produção de leucócitos na medula óssea. Já em altas quantidades pode deprimir o débito cardíaco, induzir trombose microvascular e causar hipoglicemia, ou seja, leva ao choque séptico. Interleucina-6 A IL-6 é produzida por macrófagos, linfócitos T, mastócitos, células dendríticas, células endoteliais vasculares, fibroblastos e outras células em resposta a endotoxinas, IL-1 e TNF-α. Ela induz a síntese de proteínas de fase aguda pelo fígado, estimula a produção de neutrófilos na medula óssea, estimula a diferenciação de linfócitos Th17, leva a febre, fadiga e depressão, atua na regulação do metabolismo, induz a formação de anticorpos pelas células B, entre outros. É o principal mediador do choque séptico e da inflamação. Citocinas e Inflamação As citocinas TNF, IL-1 e IL-6 possuem múltiplos efeitos na inflamação. TNF-1 e IL-6 induzem as células endoteliais a expressarem E-selectina e aumentarem sua expressão de ligantes para as integrinas leucocitárias. Com isso temos aumento na adesão de neutrófilos e monócitosàs células endoteliais. TNF, IL-1 e IL-6 produzidas em sítios inflamatórios em quantidades moderadas causam a febre e o aumento da produção de leucócitos na medula óssea. Como já citado, se a produção de TNF for extrema temos consequências patológicas, como menor débito cardíaco, formação de trombos e resistência a insulina pelos músculos esqueléticos, levando ao choque séptico. Ações das citocinas na inflamação Interleucina-2 A IL-2 é produzida principalmente por células T CD4+, sendo um fator de crescimento, sobrevivência e diferenciação para os linfócitos T. Também é capaz de promover a proliferação e diferenciação das células NK, monócitos, macrófagos e oligodendrócitos. A afinidade da IL-2 aumenta conforme a apresentação de antígenos. Com a apresentação de antígenos, os linfócitos T começam a secretar IL-2 para agir de forma autócrina, aumentando ainda mais sua proliferação e diferenciação. Interleucina-12 A IL-12 é secretada por células dendríticas e macrófagos, tendo a função de estimular a produção de IFN-γ por células T e NK e intensificar a citotoxicidade mediada pelas células T CD8+ e NK. Além disso, promove a diferenciação de células Th1. Vale ressaltar que o IFN-γ produzido pelas células NK ou pelas células T também estimulam a produção de IL-12, causando uma alça de feedback positivo. O IFN-γ também causa ativação de macrófagos. Células Th As células T CD4+ efetoras (ou células Th) são geradas nos órgãos linfoides secundários e transportadas aos sítios de infecção, onde auxiliam na eliminação de microrganismos. Elas trabalham secretando citocinas e ativando células. As três subpopulações principais de células T CD4+ efetoras são Th1, Th2 e Th17. Além disso temos Treg (reguladoras), as quais controlam as reações imunes. As características definidoras das subpopulações são as citocinas que estas produzem, seus fatores de transcrição e as citocinas que induzem sua diferenciação. Cada subpopulação produz citocinas que promovem seu próprio desenvolvimento e podem suprimir o desenvolvimento de outras subpopulações. Células Th1 As células Th1 são produtoras de IFN-γ e induzidas por microrganismos intracelulares. São responsáveis pela defesa do hospedeiro mediada por fagócitos. Sua diferenciação é estimulada por IL- 12 e IFN-γ, sendo também estimulada por bactérias intracelulares e vírus. IFN-γ também inibe a diferenciação de Th2 e Th17. IFN-γ induz e ativa os fatores de transcrição T-bet ao ativar o fator STAT1. T-bet promove a produção de IFN-γ, levando a uma alça de amplificação positiva. Já IL-12 ativa o fator de transcrição STAT4. A principal função das células Th1 é ativar macrófagos para que estes ingiram e destruam os microrganismos. As células Th1 ativam os macrófagos por meio de sinais mediados pelas interações CD40L-CD40 e pelo IFN-γ. Os macrófagos de “killing” (M1) são ativados pela via clássica. Desenvolvimento das células Th1 O IFN-γ é a principal citocina ativadora de macrófagos, sendo produzida por células Th1, células NK e células T CD8+. Macrófagos ativados matam microrganismos por meio das ações do NO, enzimas lisossômicas e ROS. Ativação do macrófago por células Th1 Ele também estimula a expressão de MHC nas células, atua nas células B promovendo a troca de isotipos para IgG e inibindo a troca para IgE. A troca para IgG favorece a opsonização. Além disso, ativa neutrófilos e promove atividade citotóxica das células NK. Indivíduos sem o IFN-γ são muito susceptíveis a infecções com microrganismos intracelulares. As células Th1 também podem produzir TNF, o qual recruta leucócitos e intensifica a inflamação e IL-2, promovendo o crescimento e diferenciação de outras células Th. Células Th2 Os linfócitos Th2 são mediadores de defesa contra helmintos (por meio de eosinófilos e mastócitos), na imunidade humoral e são responsáveis pelo desenvolvimento de doenças alérgicas. Sua diferenciação ocorre em resposta a helmintos e alérgenos e pela citocina IL-4. Desenvolvimento das células Th2 O IL-4 ativa o fator de transcrição STAT6, o qual induz a expressão do GATA-3. O GATA-3 estimula a produção das citocinas IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13. As células Th2 estimulam as reações mediadas por IgE, mastócitos e eosinófilos para o combate contra helmintos. Funções da célula Th2 A IL-4 é uma citocina indutora e efetora, sendo secretada por células Th2 e mastócitos. Ela estimula a troca de isotipo para IgE (o qual atua na defesa mediada por eosinófilos contra helmintos e atua nas reações alérgicas) e IgG, estimula o desenvolvimento das células Th2, contribui para a ativação alternativa dos macrófagos, inibe a ativação clássica de macrófagos, estimula o peristaltismo intestinal e o recrutamento de leucócitos. A ativação alternativa dos macrófagos produz macrófagos M2, responsáveis por terminar a inflamação e iniciar seu reparo pela cicatrização e angiogênese. A IL-5 é uma ativadora de eosinófilos e mastócitos, sendo produzida por células Th2 e células linfoides inatas. Os eosinófilos ativados podem liberar seus grânulos para a destruição dos helmintos e os mastócitos desgranulam para induzir reações alérgicas. A IL-10 é responsável por inativar macrófagos e estimular a proliferação, diferenciação e produção de anticorpos. A IL-13 tem como principal função a produção de muco no intestino e nas vias aéreas, bloqueando a entrada e promovendo a expulsão de microrganismos. Células Th17 Os linfócitos Th17 são responsáveis pelo recrutamento de neutrófilos e monócitos para o sítio de infecção, promovendo a destruição de fungos e bactérias extracelulares. Produz principalmente IL-17 e IL-22. Sua diferenciação ocorre em resposta a IL-6 e TGF-β. Desenvolvimento de células Th17 TGF-β e IL-6 atuam em conjunto para produzir o fator de transcrição RORγt. IL-6 ativa o fator STAT3 que atua com RORγt para dirigir a resposta de Th17. O IL-17 induz a inflamação rica em neutrófilos, estimulando a produção de quimiocinas que recrutam neutrófilos e monócitos. Também aumenta a produção de G- CSF (fator estimulador de colônia de granulócitos) e estimula a produção de substâncias antimicrobianas pelo epitélio. O IL-22 é produzido por células Th17, células NK e células linfoides inatas, tendo a função de manter a integridade epitelial, estimulando as reações de reparo e induzindo a produção de peptídeos antimicrobianos. Portanto, a função de Th17 é destruir bactérias e fungos extracelulares pela inflamação neutrofílica e manter a integridade das barreiras epiteliais. Funções das células Th17 Células Treg As células Treg são responsáveis por suprimir as respostas imunes e manter a autotolerância. As Tregs são geradas no timo ou em órgãos linfoides secundários. No timo, o desenvolvimento das Tregs é um dos destinos das células T comprometidas com o reconhecimento de autoantígenos, sendo chamadas de Tregs tímicas ou naturais. Células Tregs Nos órgãos linfoides secundários, se desenvolvem a partir de linfócitos T CD4+ naive por ação do TGF-β, sendo chamadas de Tregs periféricas ou induzidas. Elas podem ser específicas para autoantígenos ou antígenos estranhos. O TGF-β estimula a expressão do fator de transcrição FoxP3. Vale ressaltar que a sobrevivência e a competência funcional das Tregs são dependentes da citocina IL-2. As células Treg suprimem as respostas imunológicas na indução da ativação das células T e na fase efetora dessas respostas. Podem também suprimir a ativação de células B e inibir a proliferação de células NK. Elas produzem IL-10 e TGF-β (citocinas imunossupressoras) e consomem IL- 2 (privando outras populações desse fator de crescimento). Além disso impedem que APCs estimulem linfócitos T ao ligarem o CTLA-4às moléculas B6 das APCs, inibindo competitivamente a coestimulação mediada por CD28. O TGF-β é produzido por Tregs, macrófagos e outros tipos celulares. Ele é sintetizado como um precursor inativo que é clivado no complexo de Golgi. Ele inibe a proliferação e as funções efetoras das células T, a ativação clássica dos macrófagos e suprime a ativação de neutrófilos e células endoteliais. Também pode inibir o desenvolvimento de células Th1 e Th2, estimular a produção de IgA e promover o reparo tecidual após a inflamação. A IL-10 é um inibidor de macrófagos e DCs produzido por macrófagos, DCs, Tregs, células Th2 e alguns linfócitos B. Ela inibe a produção de IL-12 por DCs e macrófagos, inibindo assim a produção de IFN-γ e de células Th1. Além disso, inibe a expressão de coestimuladores e de moléculas de MHC classe II nas APCs.
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