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AS RELAÇÕES EXISTENTES ENTRE MICRORGANISMOS E ORGANISMO HUMANO

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1 
 
AS RELAÇÕES 
EXISTENTES ENTRE 
MICRORGANISMOS 
E ORGANISMO 
HUMANO 
 
Entende-se por microbiota do 
organismo a presença de micro-
organismos que estabelecem residência 
permanente ou não, sem causar infecções 
ou nenhum outro dano ao hospedeiro em 
situações normais. 
Importante salientar que: a 
distribuição dos microrganismos pelo seu 
organismo ocorre de forma heterogênea, ou 
seja, diferentes partes do seu corpo 
abrigam diferentes seres. Isso se deve ao 
fato que cada região do seu corpo possui 
diferentes faixas de pH, temperatura, 
disponibilidade de nutrientes, dentre outros 
fatores que atraem esses seres 
microscópicos. 
A microbiota pode ser dividida em: 
a) transitória ou alóctone: 
compreendendo os micro-organismos que 
permanecem por pouco tempo no 
organismo, sem estabelecer uma 
colonização significativa. Órgãos como 
esôfago, estômago e pulmões normalmente 
abrigam essa população. 
b) residente ou autóctone: 
compreendendo os micro-organismos que 
colonizam o organismo em condições de 
simbiose com o hospedeiro, por período de 
tempo indeterminado, em situações 
normais. Órgãos como boca e intestino 
grosso são comuns a esse tipo de grupo. 
Alguns fatores são importantes que 
afetam essa microbiota são: idade, sexo, 
estresse, hospitalização, condições 
socioeconômicas e, principalmente, 
condições de higiene. 
A instalação dessa microbiota ainda 
é um assunto em estudo. Durante a 
gestação, o ambiente uterino é estéril e o 
recém-nascido passa a ser colonizado ainda 
no canal vaginal materno, durante o parto 
normal. Crianças nascidas de parto cesáreo 
passam a ser colonizadas logo após o 
nascimento, por micro-organismos 
maternos, do ambiente local e da equipe 
médica que o manipula. 
Com poucos dias de vida, o recém-
nascido já se encontra totalmente 
colonizado, porém, o tempo que a 
microbiota residente leva para se 
estabelecer pode variar, levando até dois 
anos para se estabilizar, como é o caso da 
microbiota intestinal. 
1.Relembrando conceitos 
 A relação entre a microbiota normal 
e o hospedeiro é chamada de simbiose, uma 
relação entre dois organismos na qual pelo 
menos um é dependente do outro. A 
simbiose abrange, principalmente, três 
mecanismos de relação. São eles: 
mutualismo, comensalismo e parasitismo. 
 
1.1.Comensalismo 
Um dos organismos beneficia-se, 
enquanto o outro não é afetado. Muitos dos 
microrganismos que fazem parte da nossa 
 
2 
 
microbiota normalmente são comensais; 
incluindo Staphylococcus epidermidis, que 
habita a superfície da pele, as 
corinebactérias, que habitam a superfície 
do olho, e determinadas micobactérias 
saprofíticas, que habitam o ouvido e as 
genitálias externas. Essas bactérias vivem 
em secreções e células descamadas e não 
trazem nenhum benefício ou prejuízo 
aparente para o hospedeiro. 
1.2.Mutualismo 
É um tipo de simbiose que beneficia 
ambos os organismos. Por exemplo, o 
intestino grosso contém bactérias, como a 
E. coli, que sintetizam vitamina K e 
algumas vitaminas do complexo B. Essas 
vitaminas são absorvidas pela corrente 
sanguínea e distribuídas para uso pelas 
células do corpo. Em troca, o intestino 
grosso oferece nutrientes utilizados pelas 
bactérias, permitindo a sua sobrevivência. 
1.3.Parasitismo 
Um organismo beneficia-se 
obtendo nutrientes à custa de outro 
organismo. Muitas bactérias causadoras de 
doenças são parasitas. 
 
2. Principais microrganismos 
encontrados pelo organismo 
 
2.1.Pele 
A microbiota da pele encontra-se 
aderida à superfície do extrato córneo e no 
interior do folículo piloso. Uma vez que a 
microbiota do extrato córneo é removida 
por processos mecânicos ou químicos, a 
microbiota do folículo piloso é a 
responsável pela recolonização da pele, e 
em até 8 horas, a microbiota já está 
restabelecida. 
 A microbiota normal da pele 
contem números relativamente altos de 
bactérias gram-positivas, como os 
estafilococos e os micrococos. Essas 
bactérias tendem a ser encontradas sem 
soluções concentradas de sal ou açúcar. A 
pele ou epiderme não é um ambiente muito 
favorável para colonização por diversos 
fatores, porém possui outras áreas com 
características favoráveis a proliferação 
bacteriana. Algumas considerações 
importantes: 
• em algumas partes do corpo, como 
axilas, ouvido, palmas, períneo e 
região anal, a quantidade de água 
disponível é suficientemente alta 
para albergar uma microbiota 
residente; 
• o pH (4-6) da pele é levemente 
ácido, devido a quantidade de 
ácidos orgânicos produzidos por 
estafilococos (mutualismo) e 
secreções oleosas e salinas, pelas 
glândulas sebáceas e sudoríparas, 
respectivamente. Esse pH faz com 
que certos microrganismos não 
sejam capazes de se instalar. O suor 
contém cloreto de sódio, fazendo 
com que a pele se torne 
hiperosmóstica, acarretando assim 
um estresse osmótico nas bactérias; 
• ocorre, na pele, a produção de 
lisozima (muramidase) pelas 
glândulas sudoríparas, enzima esta 
que é capaz de lisar a parede celular 
de Staphylococus epidermidis; 
• as glândulas sebáceas secretam 
lipídeos complexos que podem ser 
parcialmente degradados por 
enzimas produzidas por 
Propionibacterium acne (coco 
Gram positivo) e transformados em 
ácidos graxos insaturados que tem 
atividade microbicida em 
determinadas espécies de bactérias 
e fungos. Alguns desses óleos são 
 
3 
 
voláteis e podem causar um certo 
odor; 
#detalhe: Os produtos secretados por tais 
glândulas, também servem de nutrientes 
(água, uréia, eletrólitos e ácidos graxos), 
especialmente para S. epidermidis e 
corinebactérias (comensalismo). Bactérias 
Gram negativas normalmente são 
encontradas em locais mais úmidos. 
 
Staphylococus epidermidis 
 
2.2. Ouvido externo 
A microbiota normal do ouvido 
externo é muito semelhante à da pele, com 
estafilococos coagulase negativa e 
Corynebacterium, predominantemente. 
Menos freqüentes estão os Bacillus, 
Micrococcus e algumas espécies de 
Neisseria. Alguns bacilos Gram negativos 
também podem estar presentes, como 
Proteus, Escherichia e Pseudomonas, 
ocasionalmente. Alguns fungos também 
podem ser encontrados nesta aéreacomo os 
dos gêneros Aspergillus, Alternaria, 
Penicillum, Candida e Saccharomyces. 
 
2.2.Olho 
As células epiteliais que cobrem os 
olhos podem ser consideradas como uma 
continuação da mucosa ou da pele. Muitos 
micróbios podem infectar os olhos, 
principalmente através da conjuntiva, a 
membrana mucosa que recobre a parte 
interna das pálpebras e a região branca dos 
globos oculares. Ela é uma camada 
transparente de células vivas que 
substituem a pele. A conjuntiva pode ser 
estéril ou estar colonizada por ureus, 
corinebactérias (difteróides) e S. 
pneumoniae. Culturas da córnea e da 
conjuntiva também podem apresentar 
Brahamella catarrhalis, Escherichia, 
Klebsiella, Proteus, Enterobacter, 
Neisseria e algumas espécies de Bacillus; 
poucos anaeróbios estão presentes. 
2.3.Vias aéreas 
Vários microrganismos 
potencialmente patogênicos fazem parte da 
microbiota normal do trato respiratório 
superior. Entretanto, geralmente não 
causam doença, uma vez que os 
microrganismos predominantes da 
microbiota normal suprimem seu 
crescimento competindo com eles por 
nutrientes e produzindo substâncias 
inibidoras- fenômeno que chamamos de 
antagonismo. Em contrapartida, o trato 
respiratório inferior é quase estéril– 
embora a traqueia possa conter algumas 
bactérias –, devido ao funcionamento 
geralmente eficaz do elevador ciliar nos 
brônquios. 
SAIBA MAIS... 
O gênero Staphylococcus é um 
dos principais colonizadores da 
pele humana. S. epidermidis 
está presente como principal 
componente da microbiota da 
pele em 90% da população; já S. 
aureus é encontrado em torno 
de 10 e 40%. 
 
4 
 
As fossas nasais são colonizadas 
predominantemente por Staphylococcuse 
Corynebacterium. Há indivíduos que após 
receberem antibióticos β-lactâmicos 
passam a serem colonizados por Klebsiella 
pneumoniae, E. coli e P. aeruginosa, 
devido à supressão ou redução da 
microbiota da região. 
Na faringe e traqueia encontramos 
Streptococcus alfa-hemolíticos e não 
hemolíticos, Neisseria, Staphylococcus, 
difteróides, Haemophilus e Mycoplasma. 
Os bronquíolos e alvéolos são 
normalmente estéreis. 
 
2.4.Trato Geniturinário 
A urina normal é estéril, porém 
pode se tornar contaminada com a 
microbiota da pele próxima ao final de sua 
passagem pela uretra. Assim, a urina 
coletada diretamente da bexiga tem um 
menor número de micróbios contaminantes 
que a urina eliminada normalmente. 
Em se tratando das mulheres: quando a 
menina nasce, o nível de estrogênio 
materno presente no organismo estimula a 
proliferação de Lactobacillus, gênero 
dominante nos primeiros seis meses de 
vida. A presença de Lactobacillus 
(mutualismo) em mulheres saudáveis é 
importante na manutenção do equilíbrio da 
microbiota, uma vez que as bactérias deste 
gênero fermentam o glicogênio presente na 
vagina, diminuindo o valor do pH local, 
criando, assim, um ambiente desfavorável 
às bactérias com crescimento em pH 
neutro. A maior parte dos lactobacilos da 
vagina produz peróxido de hidrogênio, que 
também inibe o crescimento de outras 
bactérias. O estrogênio (hormônio sexual) 
promove o crescimento dos lactobacilos 
pelo aumento da produção de glicogênio 
pelas células do epitélio vaginal. O 
glicogênio é rapidamente decomposto em 
glicose, que os lactobacilos metabolizam 
em ácido láctico. Outras bactérias, como os 
estreptococos, vários anaeróbios e algumas 
gram-negativas, também são encontradas 
na vagina. O fungo leveduriforme Candida 
albicans é parte da microbiota normal de 10 
a 25% das mulheres, mesmo que elas sejam 
assintomáticas. 
Durante a pré-menarca e a 
menopausa, o valor do pH vaginal aumenta 
e a população de Lactobacillus já não é 
mais tão abundante, coexistindo com 
Corynebacterium, Staphylococcus e 
Escherichia. A gravidez e a menopausa 
frequentemente são associadas a altas taxas 
de infecções no trato urinário. A razão é 
que os níveis de estrogênio são mais 
baixos, resultando em populações menores 
de lactobacilos e, portanto, em menor 
acidez vaginal. 
A uretra masculina normalmente é 
estéril, exceto por contaminações 
microbianas próximas à abertura externa. 
A microbiota da uretra é composta 
basicamente por Staphylococcus 
epidermidis, Corynebacterium, 
Streptococcus e E. coli. 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2.5.Trato gastrointestinal 
 
É no trato gastrointestinal que temos a 
maior quantidade e diversidade de espécies 
da nossa microbiota. 
 
A cavidade oral contém 
microrganismos capazes de resistir a 
remoção mecânica que acontece na 
superfície das gengivas e dentes. Aqueles 
que não são capazes de se aderir acabam 
sendo removidos durante o movimento da 
saliva na boca sendo levados ao estômago 
e destruídos pelo ácido clorídrico. A 
contínua descamação celular que acontece 
na superfície do epitélio também contribui 
para sua remoção. Aqueles 
microrganismos capazes de colonizar a 
boca encontram um ambiente bastante 
propício para crescimento, já que existe 
água e nutrientes em abundância, pH 
neutro, temperatura e a presença de outros 
fatores de ajudam o crescimento. A boca é 
colonizada horas após o nascimento. 
Inicialmente é composta por 
Streptococcus, Neisseria, Actinomyces, 
Veillonella e Lactobacillus. Algumas 
leveduras também estão presentes. A 
maioria dos microrganismos da boca são 
aeróbios e anaeróbios obrigatórios. 
Quando o primeiro dente nasce, os 
anaeróbios (Porphyromonas, Prevotella e 
Fusobacterium) tornam-se predominantes 
devido ao ambiente anaeróbio criado no 
espaço entre os dentes e gengivas. Quando 
os dentes começam a crescer, 
Streptococcus sanguis e S. mutans aderem 
a sua superfície; S. salivarius (mutualismo) 
adere à superfície epitelial da boca e da 
gengiva e coloniza a saliva. Esses 
estreptococos produzem glicocálix e outros 
fatores de aderência que contribuem para 
sua adesão as superfícies da cavidade oral. 
A presença dessas bactérias contribui para 
a formação de biofilme, cáries, gengivite e 
doença periodontal. 
Alguns microrganismos da boca 
desembocam no estômago, onde o pH é 
bastante baixo, chegando a valores entre 2 
e 3, o que acarreta a morte de tais 
microrganismos. Por esta razão o estômago 
contém menos de 10 bactérias viáveis por 
milímetro de fluido gástrico. As mais 
frequentes são as dos gêneros Sarcina, 
Streptococcus, Staphylococcus, 
Lactobacillus, Peptostreptococcus e 
algumas leveduras como Candida. Caso 
ultrapassem rapidamente o estômago, ou 
sejam ingeridos com a comida, alguns 
microrganismos podem até resistir ao 
baixo pH, como é o caso das micobactérias. 
 
O duodeno contém poucos 
microrganismos porque recebe o suco 
gástrico, a ação da bile e a secreção 
pancreática. Cocos e bastonetes Gram 
positivos, Enterococcus faecalis, 
Lactobacillus, difteróides e leveduras 
 
6 
 
(Candida albicans) estão normalmente 
presente no jejuno. Na porção distal do 
íleo, a microbiota torna-se mais parecida 
com a do cólon. É no íleo que o pH se torna 
mais alcalino. Com isso bactérias 
anaeróbias Gram negativas e membros da 
família Enterobacteriaceae começam a se 
estabelecer. 
O intestino grosso ou cólon 
apresenta a maior comunidade microbiana 
no corpo. O cólon pode ser visto como um 
local onde ocorre uma enorme fermentação 
e a microbiota consiste basicamente de 
anaeróbios, Gram negativos, não 
formadores esporos, e bastonetes Gram 
positivos formadores de esporos e não 
formadores de esporos. Não apenas a 
maioria dos microrganismos é de 
anaeróbios, mas várias espécies estão 
presentes e em grande número. 
 
 Devido a presença de produtos 
ácidos, originados de processos 
fermentativos, o valor do pH luminal é, 
aproximadamente, 5,5. Este ambiente 
levemente acidificado permite a 
competição entre as bactérias produtoras 
de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), 
e bactérias que utilizam carboidratos, como 
Bacteroides spp., além de estimular a 
produção de butirato. A diminuição desse 
valor do pH, dificulta a permanência de 
bactérias do gênero Eubacterium, 
utilizadoras de lactato, e com isso, 
permitem acúmulo de ácido láctico. 
 A presença de butirato no cólon 
intestinal é responsável por modificações 
da microbiota. Os substratos butirogênicos 
levam a modulação da população 
microbiana colônica, induzindo a 
multiplicação de espécies produtoras de 
butirato e permitindo um equilíbrio entre a 
presença de Eubacterium spp. e 
Bifidobacterium spp. Bactérias produtoras 
de butirato são capazes de fermentar 
produtos do metabolismo de 
oligossacarídeos produzidos por 
bifidobactérias. Produtos intermediários 
de processos fermentativos de 
bifidobactérias da microbiota, como 
lactato, por exemplo, são encontrados 
em baixas concentrações em indivíduos 
saudáveis, pois são metabolizados por 
Eubacterium spp. 
O equilíbrio da diversidade na 
microbiota intestinal é mediado por 
interações bacterianas que modulam a 
composição da microbiota controlando a 
densidade celular. Essas interações são 
observadas tanto na produção de AGCC 
como visto acima, como também no 
controle de expressão gênica por “quorum 
sensing”. Bactérias benéficas controlam 
via “quorum sensing” a densidade 
polulacional de bactérias patogênicas 
presentes na microbiota, como 
Clostridium, por exemplo. 
A mucosa intestinal humana é a 
principal interface entre o sistema 
imunológico e o ambiente externo. O 
intestino é considerado o maior órgão 
imunológico do corpo humano, abrigando 
cerca de 80% das células imunológicas e é 
responsável pela produção de um terço de 
anticorpos, necessários ao SistemaImunológico Inato e Adaptativo, além de 
modular as funções digestivas, 
imunológicas, metabólicas, endócrinas e o 
tropismo intestinal. 
 
7 
 
O padrão de produção de anticorpos 
pelos linfócitos B intestinais é diferente do 
sistema imunológico sistêmico, de maneira 
que o isótipo de imunoglobulina produzido 
preferencialmente é a IgA, que possui 
várias funções importantes na proteção das 
superfícies mucosas. São produzidos 
dímeros de IgA ligadas a um componente 
secretório, sendo o complexo molecular 
chamado IgA secretória, diferente daquela 
encontrada no sangue. Esta IgA secretória 
alcança o lúmen intestinal e reage com 
antígenos específicos, impedindo a 
interação física dos agentes nocivos com a 
superfície da mucosa. 
 
3.A microbiota da criança até o 
adulto 
As bactérias anaeróbias facultativas 
como E. coli, Enterococos faecalis e E. 
faecium são as primeiras bactérias a 
colonizarem o TGI do recém-nascido, 
devido ao elevado teor de oxigênio que 
existe inicialmente. À medida que estas 
bactérias consomem o oxigênio, o meio se 
torna mais adequado para as bactérias 
anaeróbias restritas, como 
Bifidobacterium, Bacteriodes e 
Clostridium. Depois disso, pouco se 
conhece sobre quem são e como e quando 
se dá a entrada dos outros componentes do 
ecossistema digestivo. 
A microbiota da criança que nasce 
por parto vaginal é derivada inicialmente 
da microbiota fecal materna que contamina 
o canal de parto. Mais tarde a criança 
adquire bactérias presentes nos alimentos e 
no meio ambiente. Na criança que nasce 
por meio de parto cesáreo, não há 
participação da microbiota fecal materna, e 
o estabelecimento da microbiota intestinal 
normal é mais tardio. 
As crianças amamentadas com leite 
materno têm mais bifidobactérias e 
estafilococos na microbiota intestinal, em 
relação às que tomam mamadeira que têm 
maior número de enterococos e clostrídeos. 
O leite materno favorece o crescimento de 
alguns grupos bacterianos de importância 
para a saúde do hospedeiro como as 
bifidobacterias cujo crescimento é 
favorecido pelos fatores bifidi. A baixa 
capacidade tamponante do leite humano 
permite também uma melhor atuação das 
bactérias produtoras de ácido lático pela 
redução do valor do pH intestinal 
desfavorável ao crescimento de vários 
micro-organismos patogênicos. As 
crianças amamentadas ao seio, quando 
comparadas com as alimentadas 
artificialmente, são menos colonizadas por 
enterobactérias, como E. coli e Klebsiella, 
sendo ainda menor o número de sorotipos 
de E. coli enteropatogênicos. 
Quando o desmame inicia, as 
crianças são expostas, pela primeira vez, a 
muitos carboidratos, diferentes e 
complexos. Uma quantidade significativa 
destes carboidratos vai escapar da digestão 
no intestino delgado e chegar ao cólon, 
assim como toda fonte de fibra dietética. 
Sabe-se que esses produtos servem de 
substratos alimentares para as bactérias 
colônicas e, possivelmente, influenciariam 
sa composição da microbiota intestinal das 
crianças neste período de vida. Segundo 
estudos experimentais, o impacto da 
introdução de alimentos não lácteos, 
provavelmente persistirá até a vida adulta. 
O uso de antibiótico pode afetar o 
padrão de colonização do TGI na criança. 
Os agentes antimicrobianos têm efeitos 
específicos em componentes individuais da 
microbiota ao invés de uma supressão geral 
e não específica e o perfil microbiano 
resultante influencia a população que 
emerge após a parada do tratamento. 
 
8 
 
Algumas características fazem com que 
determinadas bactérias sejam consideradas 
benéficas para os seres humanos. As 
bifidobactérias e os lactobacilos talvez 
sejam os principais representantes entre as 
bactérias benéficas. São micro-organismos 
que não apresentam nenhum fator de 
patogenicidade para o homem e nunca 
foram envolvidas em episódios infecciosos 
no trato gastrointestinal. 
 Alguns fatores favorecem a 
implantação destas bactérias no TGI dos 
recém-nascidos como o “fator bífido”, 
nutriente presente no leite materno que 
favorece especificamente a instalação e 
atuação destas bactérias, além de 
características próprias deste gênero 
bacteriano com uma alta capacidade de 
adaptação destas ao trato gastrointestinal 
humano. 
A otimização da microbiota 
intestinal pelo uso de pré e probióticos 
durante o período de colonização intestinal 
tem sido sugerida, entretanto, ressalta-se a 
importância de se conhecer mais 
profundamente como ocorre a instalação 
da microbiota e quais as consequências, em 
longo prazo, de possíveis intervenções 
neste processo. 
 
4. Probióticos 
Os probióticos são definidos como 
organismos vivos que proveem benefícios 
ao hospedeiro, quando inoculadas em 
quantidades adequadas. Os probióticos 
devem possuir pré-requisitos básicos para 
serem utilizados no ser humano, incluindo: 
ausência de propriedade virulenta, 
capacidade de sobreviver no ambiente 
gastrointestinal, capacidade de aderir às 
superfícies mucosas e células epiteliais e 
ação inibidora de patógenos. 
Alguns exemplos incluem, 
alimentos à base de leite fermentado, assim 
como aqueles que contém bactéria 
liofilizada. Os microrganismos comumente 
utilizados nestes produtos são lactobacilos 
e bifidobactérias. 
Alguns estudos já relataram que a 
espécie Lactobacilus acidophilus, quando 
utilizada como suplemento em crianças, foi 
capaz de causar aumento no peso. Em 
outros estudos, a administração de L. casei 
em crianças com diarréia aguda, causada 
por rotavírus, proporcionou uma melhora 
acentuada. Além disso, quando a vacina 
contra rotavírus foi administrada com L. 
casei, pode ser observado um aumento nas 
células secretoras de IgM específica, 
causando uma soro conversão de IgA anti-
rotavírus. 
Estudos indicam que o uso de 
probióticos pode aumentar a expressão de 
genes envolvidos na sinalização de 
proteínas das junções firmes, prevenindo a 
ruptura da barreira intestinal e também 
favorecendo sua recuperação após dano. 
Além disso, a capacidade de adesão 
tem sido uma das principais características 
buscada nos novos probióticos. Essa 
propriedade é importante para que 
interajam com as células epiteliais e células 
imunes do hospedeiro, e também para que 
estes atuem como antagonistas da adesão 
de patógenos. 
Algumas cepas de probióticos, 
como Lactobacillus reuteri, Lactobacillus 
plantarum, Bifidobacterium lactis, 
Bifidobacterium bifidum e 
Bifidobacterium longum produzem e 
secretam proteínas adesinas de muco, 
denominadas MUB (mucus-binding 
protein) que ficam ancoradas na parede 
celular, permitindo a adesão a estruturas 
específicas da mucosa intestinal humana. 
 
9 
 
Alguns probióticos são capazes de 
sintetizar ácidos orgânicos e substâncias 
antibacterianas denominadas 
bacteriocinas. Os ácidos orgânicos, 
particularmente o ácido acético e o ácido 
lático, têm um forte efeito inibitório sobre 
bactérias Gram-negativas, e têm sido 
considerados os principais compostos 
antibacterianos responsáveis pela atividade 
inibitória dos probióticos sobre patógenos. 
Quando penetram a célula bacteriana, eles 
causam a redução do valor do pH 
intracelular ou o acúmulo de ácidos 
orgânicos ionizados, levando a morte 
bacteriana pela formação de poros e/ou 
inibição da síntese da parede celular. Foi 
demonstrado que determinados 
lactobacilos e bifidobacterias probióticas 
são capazes de matar diretamente a 
Salmonella typhimurium, in vitro. Além 
disto, alguns probióticos, principalmente 
lactobacilos, seriam capazes de produzir 
substancias inibidoras do crescimento de 
fungos. 
Bactérias probióticas têm 
demonstrado aumentar os níveis de IgA 
total e específica contra patógenos em 
vigência de infecção, sem induzir a 
produção de IgA contra o próprio 
probiótico. Micro-organismos simbiontes e 
probióticos podem induzir um estado de 
tolerânciaimunológica mediado pela 
ativação dos receptores do tipo Toll (TLR) 
na superfície das células dendríticas. Após 
ativação pelas bactérias probióticas, as 
células dendríticas iniciam uma resposta 
apropriada, induzindo a diferenciação do 
linfócito Tho em Treg, que tem um efeito 
inibitório sobre a resposta inflamatória 
Th1, Th2 e Th17. Lactobacillus induzem a 
diferentes perfis de secreção de citocinas 
pró e anti-inflamatória. 
 
 
5. Prebióticos 
Os prebióticos são substâncias não 
digeríveis, presentes nos alimentos, que 
estimulam seletivamente o crescimento e 
atividade de bactérias no cólon, trazendo 
efeitos benéficos ao hospedeiro. 
Inulina e oligofrutose (ou fruto-
oligossacarídeos - FOS), galacto-
oligossacarídeos (GOS) e lactose, são os 
principais compostos prebióticos. Estes 
compostos estão presentes naturalmente 
em alimentos como a cebola, o alho, 
chicória e o leite. 
Estes compostos, quando 
fermentados pelas bactérias colônicas, 
levam a produção de AGCC, 
principalmente o acetato, o propionato e o 
butirato (efeito butirogênico). A maioria 
dos AGCC é absorvida pelo organismo 
humano sob a forma de energia. O 
butirato é oxidado e utilizado pelo 
próprio epitélio colônico e é considerado 
o AGCC com maior impacto sobre saúde 
epitélio intestinal. Ele cria um ambiente 
mais ácido, que protege contra a 
colonização por patógenos, possui efeito 
trófico no epitélio, favorece a diferenciação 
do enterócito, inibindo a proliferação 
(efeito anticarcinogênico) e possui 
atividade anti-inflamatória. 
Se, como alguns autores já 
demonstraram, bifidobactéria é o gênero 
predominante durante na alimentação com 
o leite materno em bebês, então já se pode 
pensar em fórmulas para uso infantil deste 
prebiótico. 
 
 
 
Autor do resumo: Mário Sérgio 
Curso: Medicina / Semestre II

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