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1 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA OPIÓIDES ● Morfina, codeína, papaverina, tebaína: São os opioides que são extraídos da papola. ● ¨Os efeitos analgésicos dos opioides são tão poderosos porque eles mimetizam um sistema endógeno de modulação da dor→ Encefalinas. ● Os opioides possuem efeito analgésico muito potentes, pois eles mimetizam um sistema endógeno de modulação da dor. Acredita-se que seu efeito tão grande se deve justamente ao fato dos opioides utilizarem uma maquinaria do próprio corpo para controlar a dor. ● Os analgésicos não opioides, como dipirona e os AINES também são analgésicos, mas não tem uma função tão potente quanto os opioides. ● Na década de 70, o mecanismo de ação dos opioides já foi desvendado. A comprovação do seu efeito foi feita de forma farmacológica, onde foi administrada um antagonista para bloquear o efeito opioide e confirmar o seu mecanismo. Depois disso, foram descobertos os sítios dos receptores (MU, delta e Kappa), os quais passaram a ser estudados. Depois, foi visto que o nosso corpo produz moléculas do receptor opioide, que são as encefalinas. Esses são os subtipos do receptor opioide e suas funções fisiológicas, os 3 são relacionados a analgesia, porém alguns subtipos estão restritos a determinadas regiões. ➢ Kappa: relacionado à redução do TGI ➢ Receptor M(mu) é responsável pelo principal efeito adverso e o maior risco do uso dos opioides: a depressão respiratória. Ao longo dos anos o que se vem buscando é por opioides potentes que não se liguem ao receptor Mu. A tabela acima apresenta vários tipos de opioides, e seus efeitos relativos aos receptores, tendo opióides muito seletivos para M, como a sufentanilha que apesar de se liga ao M, mas também ativa os outros. Nela tem também a dose, e a razão do potencial oral com parenteral, duração da analgesia (em horas) e eficácia máxima ● Os opioides são agonistas dos mesmos receptores da endorfina, logo eles aproveitam de toda maquinaria que já temos de controle da dor (por isso seus efeitos analgésicos são tão fortes). ● Os analgésicos mais potentes do mundo são as encefalinas endorfinas. Não existe nada mais potente para controle da dor do que elas. O que os opioides fazem é uma fração da potência das encefalinas endorfinas. OPIÓIDES ENDÓGENOS Após um evento traumático, o nosso corpo produz endorfina e encefalinas que irão modular via descendente a condução do estímulo doloroso e o indivíduo tem uma analgesia endógena. O que os opioides fazem é uma fração do que o nosso corpo já é capaz de fazer. ● Participam da manutenção da homeostasia corporal; são neuromoduladores da resposta a estímulos externos. ● As encefalinas, endorfinas são chamadas de opioides endógenos. O papel dos opioides endógenos são: ● Modulação sensorial: analgesia; ● Modulação hormonal: inibem hipotálamo - adenohipófise - córtex suprarrenal: diminuição do nível de corticoides; Analgésicos Opioides 2 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA ● Modulação do trato gastrointestinal, plexos entéricos; ● Recompensa e motivação: vias dopaminérgicas; ● Humor (euforia, tranquilidade), ansiedade, emoção; ● Cognição: aprendizagem e memória; ● Regulação da temperatura corporal A partir dessas funções das encefalinas endorfinas, é possível correlacionar com alguns efeitos adversos e farmacológicos dos opioides exógenos. Ex: Os opioides endógenos participam do nosso processo de recompensa e motivação através das vias dopaminérgicas, estando intimamente relacionados com a dependência provocada por esses opioides. O indivíduo usa tanto opioide que ele tem permanentemente esses estímulos de recompensa e motivação. É através desse estímulo que as drogas de abuso funcionam. MECANISMO DOS OPIOIDES Impede a liberação de neurotransmissores. ● Os opioides exógenos (fármacos) atuam por vias idênticas aos endógenos, no nível de transmissão neurônio aferente primário e neurônio secundário no corpo dorsário da medula espinhal. ● O primeiro mecanismo de analgesia de um opioide é impedir a liberação de neurotransmissores (glutamato, substância P, e CGRP). O opioide, a encefalina e endorfina agem no mesmo alvo (receptor opioide). O fármaco exógeno (ex:morfina) funciona como agonista de opioide. Se é um agonista, quando o opioide interage com o receptor, acontece uma mudança conformacional no receptor. Essa mudança leva a uma sinalização intracelular. A proteína G que está acoplada ao receptor estimula o bloqueio de canais de cálcio, o que reduz o influxo de cálcio na terminação central do neurônio sensorial primário. A consequência da redução do influxo de cálcio é a redução da liberação da vesícula na fenda sináptica contendo os neurotransmissores. Com isso, a sinalização está prejudicada e a transmissão do estímulo está menor do que no receptor. ● Também há receptores opioides nos neurônios secundários, nos quais o mecanismo de ação de diminuição do potencial é diferente no neurônio primário. Nesse caso, no pós sináptico, não há interferência do cálcio e não há modulação do cálcio pós ativação do receptor opioide. O que modula são os canais de potássio. Então, os receptores mi opioides, quando ativados, já que o opioide é um agonista, provoca uma mudança conformacional nesse receptor e estimula o mecanismo da proteína G. A proteína G facilita a abertura dos canais de potássio e, junto com isso, há um aumento da condutância do potássio, uma hiperpolarização pós-sináptica, uma redução da abertura dos canais de sódio regulados por voltagem alcançando o limiar e, consequentemente uma diminuição da geração do potencial de ação. Então, através de dois mecanismos é possível reduzir o potencial de ação no neurônio pós-sináptico. ● Se há o aumento do efluxo de potássio, há uma atividade inibitória, e consequentemente um efeito global total. ● No neurônio pré-sináptico há uma diminuição do influxo de cálcio, que também leva a uma atividade inibitória, e consequentemente um efeito global de inibição. Então, tanto impede a liberação de neurotransmissores quanto reduz a resposta neuronal pós-sináptica EFEITO PRÉ-SINÁPTICO E PÓS-SINAPTICO ● PRÉ-SINÁPTICO: Redução de neurotransmissores ● PÓS-SINÁPTICO: Hiperpolarização da fibra MECANISMO DO EFEITO PERIFÉRICO DOS OPIOIDES INIBIÇÃO DO ADENILATO CICLASE Além do efeito dos opioides na medula, eles também têm efeito a nível periférico nos receptores. Existem algumas vias pelas quais os efeitos periféricos dos opioides se apresentam. A prostaglandina é uma molécula que sensibiliza o nó receptor, então, ela se liga ao receptor do nó receptor transmembrana. Esse receptor é acoplado a uma proteína G, a qual se solta do receptor pós ligação e ativa adenilil ciclase. A adenilil ciclase é uma enzima que intracelularmente converte ATP em AMP cíclico. O AMP cíclico estimula PKA e PKC a fosforilam canais de potássio e canais de sódio. Quando essas enzimas fosforilam canais de potássio e canais de sódio, em um nível periférico, acontecem coisas diferentes. Com a fosforilação do canal de potássio há uma inibição do efluxo de potássio e, com a fosforilação do canal de sódio há uma abertura do canal de sódio (entrada de sódio). A consequência disso é o aumento do potencial de despolarização e condução do estímulo elétrico. O estímulo químico da prostaglandina gera um influxo de íons positivos e aumenta o potencial, promovendo a propagação ao longo de todo neurônio aferente primário. 3Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA Como que a morfina atua dessensibilizando essa via de condução do estímulo doloroso? O opioide se liga ao receptor mi opioide nos receptores, que também é um receptor acoplado a proteína G. Quando a mudança conformacional acontece pós ligação, uma fração dessa proteína G é liberada e inativa a ação da adenilciclase (AC), consequentemente não há ativação da AMP cíclico e nem de PKA e PKC. Ou seja, é dificultada a propagação do estímulo elétrico. HIPERPOLARIZAÇÃO DO NEURÔNIO AFERENTE PRIMÁRIO Descobriu-se que além da via da adenilato ciclase, os opioides eram capazes de reduzir a condução do estímulo doloroso do aferente primário a partir da guanilato ciclase (outro sistema similar a adenilato ciclase) Tudo acontece a partir do momento em que o opioide interage com o receptor e por ser agonista provoca mudanças conformacionais e sinalização intracelular. Essa sinalização é a partir do receptor acoplado a proteína G que estimula a ativação da enzima fosfatidilinositol 3 quinase. Essa enzima ativa uma outra enzima chamada de óxido nítrico sintetase, a qual sintetiza óxido nítrico (NO). Uma vez ativada, essa via vai estimular a produção de NO nos neurônios aferentes primários. A medida em que ele vai aumentando no aferente primário tem-se a ativação de uma enzima chamada de guanilato ciclase, essa converte GTP em GMP cíclico. Esse GMP cíclico produzido por essa cascata, ativa uma outra enzima chamada de fosfoquinase G, que adiciona ou retira um grupamento fosfato. Essa fosfoquinase G em um aferente primário retira grupamento fosfato do canal potássio ATP. Quando o fosfato é retirado do canal potássio ATP tem-se o fechamento desse canal de potássio e com o seu fechamento ocorre hiperpolarização e assim, mais dificuldade para conduzir o estímulo elétrico ao longo do aferente primário. EFEITOS FARMACOLÓGICOS DOS OPIÓIDES ● Analgesia: É o principal efeito. É utilizado quando há dor associada à lesão, inflamação e câncer; mais efetivos na dor contínua (crônica) do que na aguda e intermitente. ● Euforia: bem-estar e contentamento → Importante componente da analgesia em pacientes com dor crônica (geralmente tem mais medo e são mais ansiosos): diminuição do medo, ansiedade, sofrimento. O mecanismo de recompensa e de bem- estar dopaminérgico pode ser aproveitado nesses pacientes. TGI: Diminuição da motilidade gástrica (esvaziamento): Diminuição do HCL, das secreções biliares, pancreáticas e intestinais; redução da propulsão; aumento da reabsorção de água: constipação (efeito adverso mais comum). ● Liberação de histamina por mastócitos: prurido, vasodilatação, hipotensão, broncoconstrição; ● Hipotensão e bradicardia; ● Depressão respiratória: redução da quimiossensibilidade do bulbo ao Co2 e redução da frequência respiratória. Os opiodes desregulam a sensibilidade química, tendo excesso de Co2 no sangue sem que o corpo reaja a isso. ● Tolerância: dependência física e psicológica. Morfina, codeína e seus derivados são os mais utilizados para o controle da dor. A morfina é um derivado da codeína. Quando a morfina é administrada ela sofre uma acetilação virando codeína. TOLERÂNCIA É a diminuição do efeito da droga com administrações repetidas. ★ Diminuição da sensibilidade dos receptores opioides através do mecanismo de beta arrestina. Ao longo das utilizações, o receptor opioide é fosforilado (antes tinha 1 fosfato e depois passou a ter 3). A medida em que o uso vai ocorrendo, alguns mecanismos intrínsecos fosforilam esses receptores até que esse receptor tem uma quantidade de fosfato ideal para ser alvo de uma proteína chamada de beta arrestina. Essa se encaixa no receptor opioide e quando esse encaixe ocorre, o receptor é retirado da superfície que ele se encontrava e vai deixando de ser apto para ligação do agonista. Assim, tem-se uma diminuição dos números disponíveis de receptores opioides e por isso a tolerância se instala. DEPENDÊNCIA Os opioides em vias endógenas exercem inúmeros tipos de regulações, porém conforme se administra opioides exógenos, o corpo entende que aquele nível de regulação em diferentes sistemas é o basal do corpo. Quando se retira esse fármaco, ocorre um distúrbio na homeostasia do novo ¨normal¨ e o 4 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA indivíduo começa a ter sinais de dependência física e psicológica. ● Física: relacionada à tolerância - síndrome de abstinência; Ex. tremores, dores de cabeça, diarreia, febre. ● Psicológica: Desejo mórbido/desejo da recompensa pela droga. Lembrar que os opioides participam do sistema de recompensa dopaminérgico. Então, como qualquer outro vício que causa dependência psicológica, a morfina age da mesma forma. os níveis de dopamina, ânimo, recompensa e bem-estar do paciente passam a ser aquele. Se você retira, o paciente anseia pela mesma sensação novamente. DEPENDÊNICA FÍSICA A síndrome de abstinência por opioides pode ser dividida em 3 estágios: 1. Paciente apresenta ansiedade, suplica pelo fármaco, tem lacrimejamento e rinorreia 2. Paciente apresenta midríase, irritabilidade, tremor, sudorese, calafrios 3. Paciente apresenta náuseas, vômitos, dores abdominais e insônia severa. Obs; Caso o indivíduo tenha a síndrome de abstinência e faça o uso do fármaco, apresenta melhora imediata desses sinais e sintomas de dependência. OPIÓIDES SINTÉTICOS Anteriormente, foi comentado sobre alguns opioides derivados do OPIO → morfina, cadeína. Mas, ao longo do tempo, pesquisadores desenvolveram moléculas sintéticas baseadas na relação das moléculas naturais, mas sintetizadas em laboratório. Nessa, foi procurado melhorar os aspectos da morfina e cadeína. METADONA ● Tratamento de dependência química e tratamento da dor; é utilizada para pacientes em recuperação por uso de cocaína. Nesse caso, supre a necessidade de cocaína por doses controladas de metadona. A nível de tratamento analgésico, ela gera alívio da dor, tendo o efeito de duração de até 8 h. ● Proporciona o alívio prolongado da dor: ½ vida de 24h e efeito analgésico de até 8 horas. FENTANIL ● Altamente lipossolúvel; ● 100X mais potente do que a morfina; ● Biodisponível a partir de diversas vias de administração. É possível encontrar o fentanil via oral, intravenosa e em forma de dispositivo de liberação de opioide via subcutânea. AGENTES ESPASMÓLICOS ➔ Bloqueio do cAMP, ➔ Bloqueio do canal de cálcio, ➔ Abertura do canal de potássio E isso depende se vai ser num nociceptor, neurônio pré- sináptico ou pós-sináptico, cada efeito vai acontecer em um local diferente. Conforme o indivíduo faz o uso da morfina, vai havendo fosforilação na porção intracelular do receptor. Essas fosforilações são tudo que a beta arestina precisa. Quando ela se encontra com esse receptor, ele é englobado e retirado da superfície celular. Depois ele pode ser reciclado, recolocado, mas há uma diminuição da quantidade de receptores na membrana da célula que esse opioide precisa agir. ● Possuem uma estrutura química muito parecida. ● A morfina, quando administrada, é metilada e convertida em codeína que também tem ação no receptor Miopioide. ● A codeína é um opioide menos efetivo do que a morfina. A afinidade da codeína aos receptores miopioides é baixa. ● A codeína é metabolizada tanto pela CYP2D6, quanto pela CYP3A4, para depois ser conjugada e eliminada. INDICAÇÕES CLÍNICAS ● Dor aguda e crônica associada com lesão tecidual, inflamação, infecção e câncer. ● Pré-operatório: reduz dose de anestésico, ansiolítico; ● Infarto do miocárdio: analgesia, vasodilatação, bradicardia; ● Câncer: via oral facilitaadministração prolongada, componente afetivo; ● Cirurgia abdominal e torácica: via epidural, preserva função motora; ● Dependência: agonistas M fracos de longa duração. Ex. Metadona. TRATAMENTO DA DOR LOMBAR ● Estudos demonstraram que o tramadol supera o placebo no controle da dor e restauração da função desses indivíduos. Se era um indivíduo que não conseguia praticar atividade, ou não conseguia ficar sentado por muito tempo, por exemplo, o tramadol foi superior no controle da dor e sua função. 5 Nicole Telles Moreira FARMACOLOGIA ● Assim, demonstra-se que de fato os opioides funcionam como estratégia terapêutica na dor lombar ● O tramadol é um opioide ★ Nos neurônios pós sinápticos: Funciona como agonista nos receptores miopioides, aumentando a abertura de potássio. ★ Nos pré-sinápticos: se liga no receptor mi, desestimulando a abertura de canais de cálcio – vai ter menor liberação de neuroreceptores envolvidos no estímulo doloroso (substância P, glutamato e CGPR). O tramadol, além dos efeitos pré e pós sinápticos (inerentes à classe opioide), possuem uma característica adicional: ★ Interferem na recaptação de noradrenalina e serotonina. Não o suficiente para ser considerado um antidepressivo, mas é um efeito adicional, para sensação de bem estar, capaz de restaurar o ânimo da pessoa com dor crônica... é importante! Assim, o Tramadol é capaz de reduzir a dor e estimular à sinapse de noradrenalina e serotonina. OUTRAS CLASSES ● AINES; ● Paracetamol; ● Antidepressivos tricíclicos. INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EFEITOS ADVERSOS SISTEMA NERVOSO CENTRAL : ● Sedação: afeta funções corticais → dificuldade de concentração - sonolência; ● Náuseas e vômitos: estimulação direta da zona deflagradora quimiorreceptora para êmese (bulbo, área prostrema); ● Miose: receptores M e K: ação excitatória nervo parassimpático; sinal de intoxicação importante; ● *Euforia: Elevação do humor, diminui ansiedade → sentimento de tranquilidade; ● Disforia: ansiedade desagradável e desânimo. ● Pele: rubor e alergia (liberação de histamina por degranulação de mastócitos -morfina) ● Efeitos cardíacos: hipotensão ortostática e desmaio (vasodilatação periférica → histamina). Com relação ao sinal de intoxicação importante, vale tanto para opioide quanto para cocaína. Atuam de forma parecida. Se o paciente chega com intoxicação por opioide ou overdose por cocaína, a miose é um bom indicativo!
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