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1 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides Analgésicos opioides Dor lombar: como tratar? ● Anti-inflamatórios não esteroidais (AINES); ● Paracetamol; ● Opioides; ● Relaxantes musculares; ● Antidepressivos tricíclicos; ● Anticonvulsivantes. Artigo pra quem quiser se aprofundar no tratamento de dor lombar: Uso Racional de Medicamentos: fundamentação em condutas terapêuticas e nos macroprocessos da Assistência Farmacêutica. O que é dor? O termo dor é referido não apenas para uma sensação desagradável e nociva fisicamente; nos referimos a dor por experiências “não boas”, como término de um relacionamento, perda de um familiar. Isso é importante porque será diferenciado os termos “dor” e “nocicepção”. ● É uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidual potencial ou real, ou descrita em termos que sugerem tal dano. Dor x nocicepção ● Dor: percepção no córtex somatossensorial da sensação nociceptiva. ● Nocicepção: detecção fisiológica do estímulo nociceptivo. ● A percepção da dor pode ser modulada por eventos/outros fatores que diferem do estímulo que levou aquela percepção dolorosa. Ex: hoje eu acordei bem e não tive nenhuma notícia ruim. Dei uma topada no sofá da sala, tive um estímulo nociceptivo e a dor percebida por mim foi na intensidade x. ● Imagine que em outra semana eu recebo uma notícia triste, acordo meio desanimada, e bato o mesmo dedinho, na mesma quina no sofá com a mesma intensidade, ou seja, ativei os mesmos nociceptores nos mesmos níveis, e a minha percepção de dor foi maior, porque a minha percepção de dor envolve todo o meu Córtex somatossensorial. Componentes da via da dor ● A nocicepção, ou a condução fisiológica do estímulo doloroso até chegar ao córtex (local onde acontece a percepção de fato), segue um caminho, uma via de neurônios que são estimulados até ao tálamo. ● Do tálamo até o córtex, entram esses aspectos emocionais, anímicos, que vão modular a percepção. Os componentes: Na imagem: do local lesionado até o tálamo Neurônio aferente primário nociceptivo (nociceptor – terminações nervosas), que vai encontrar com o neurônio aferente secundário em uma região da medula conhecida como corno dorsal da medula espinhal (bolinha na medula), que vai ser o local da primeira sinapse. O neurônio de segunda ordem então segue via ascendente até o tálamo e ativa algumas regiões específicas. Nociceptores X Neurônio aferente primário: o neurônio aferente primário normalmente é um neurônio longo, que vai desde a o local da lesão até o corno dorsal da medula, e os corpos celulares desse neurônio se encontram reunidos nos gânglios (os gânglios da raiz dorsal). Então, diferentes neurônios primários que inervam todo o nosso sistema periférico, tem os seus corpos celulares reunidos em um gânglio. Assim, vários corpos celulares formam o gânglio da raiz dorsal. Eles seguem depois para a primeira sinapse localizada no corno dorsal da medula espinal. Então os nociceptores são apenas as terminações nervosas do neurônio primário, não é uma célula! É a região especializada dos neurônios primários nociceptivos. É justamente na região dos nociceptores que os estímulos dolorosos vão ser percebidos, sejam estímulos térmicos, químicos, mecânicos. Vai ocorrer uma transdução do estímulo químico, por exemplo, para elétrico, e com isso vai ocorrer despolarização dos nociceptores e o estímulo vai ser conduzido ao longo do componente da via da dor. A percepção da dor ocorre após a passagem do estímulo pelo tálamo. Então, do tálamo para o córtex sensorial é quando o indivíduo vai ter a percepção da 2 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides intensidade e da gravidade, que vai disparar reflexos de fuga. Tudo isso acontece a partir do estímulo do córtex sensorial. Neurônio sensorial primário → Medula espinhal → Tálamo → Córtex sensorial. Vias descendentes – Controle da dor São os mecanismos endógenos de controle da dor; As vias ascendentes vão levar o estímulo nociceptivo até o tálamo, depois esse estímulo vai chegar até o córtex. Então, vai ser possível perceber o que aconteceu e reagir fisicamente e fisiologicamente, onde o nosso corpo vai produzir e enviar substâncias para as sinapses nervosas da via da dor a fim de desestimular essa contínua estimulação nociceptiva. • Se está falando de transmissão nervosa, a regulação ocorre basicamente através de diminuição de neurotransmissores. Então, o objetivo é cancelar ou diminuir as etapas sinápticas entre os neurônios que constituem as vias ascendentes. • Moléculas neurotransmissoras envolvidas no controle descendente da dor: serotonina, endorfinas, noradrenalina, aceticolina, gaba. São essas moléculas que serão liberadas por neurônio descendente que em contato com neurônios pré- sinápticos vão desestimular a liberação de neurotransmissores e desestimular a continuidade do estímulo doloroso. Controle da dor Para o controle da dor tem diferentes tipos de intervenções, desde as não farmacológicas até as farmacológicas. ❖ Intervenções não farmacológicas (cirúrgicas, acupuntura, musicoterapia, eletroterapia). ❖ Intervenções farmacológicas (anestésicos locais, opióides, antidepressivos, anticonvulsivantes, corticóide, AINES). Depende: • Do tipo de dor envolvida (inflamatória, neuropática, etc); • Da intensidade da dor: ou seja, queixa do paciente. • Da duração do estímulo doloroso: Aguda ou crônica. Analgésicos: ▪ Não opióides: dor mais branda (aspirina), crônicas (pregabalina); ▪ Opióides: dor moderada a intensa (morfina, cadeína). Circuito nociceptivo Nociceptores; estímulos nocivos; alto limiar. • Nociceptores são terminações nervosas do aferente primário dos nociceptivos. • São terminações livres que são ativados mediante um alto estímulo. Existem também as outras terminações especializadas (barroreceptores, mecanorreceptores, termoreceptores), que são ativadas por outros estímulos sem ser os dolorosos. ❖ A percepção do toque é por conta que os barorreceptores e mecanorreceptores foram ativados. Dessa forma, o estímulo do toque é convertido em estímulo elétrico e conduzido através das vias ascendentes até o córtex. ❖ Sensação de uma água com a temperatura aumentando: inicialmente verificamos que a água está quente sem o estímulo doloroso. Se permanecemos com a mão nesse líquido que está esquentando, existe uma temperatura (55°c) que existe os estímulos dos nociceptores ❖ Lembrar: os nociceptores, diferente dos outros, não se adaptam. Imagine uma situação em que você está tomando um banho gelado, mas ao final parece que a água esquentou um pouco. Na verdade, o que ocorreu foi adaptação dos termorreceptores àquela temperatura. Esse mecanismo também ocorre com barrroreceptores e mecanorreceptores Observação: Nociceptores nunca se adaptam. Então, em situações como um caco de vidro no tênis, durante todo dia, o indivíduo irá sentir dor. Lembrar que a dor apresenta característica protetiva para nossa sobrevivência! 3 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides Importante: existem vários tipos de receptores que são responsáveis em transformar estímulo químico em elétrico. Há uma relação com algumas substâncias químicas e alguns tipos de receptores que desencadeia sinalização intracelular e que irão despolarizar o neurônio e iniciar a condução do estímulo elétrico. Tipos de fibras aferentes Existem diferentes tipos de fibras de condução nociceptivas. ❖ Beta: Consiste em fibras de condução rápida, que respondem com baixo limiar à estímulos mecânicos e que são ativadas por toque leve, vibração ou movimento de pelos; ❖ Delta: Inclui fibras que conduzem o impulso com velocidade intermediária e respondemà estímulos de frio, calor e mecânicos de alta intensidade. ❖ Fibras C: Conduzem o impulso lentamente; fazem sinapses na medula espinal e respondem, tipicamente, de modo multimodal; são capazes de produzir potenciais de ação em resposta ao calor, temperatura morna, estímulos mecânicos intensos ou irritantes químicos (nociceptores polimodais). Lembrete: As fibras do tipo A(beta) não conduzem estímulos dolorosos. Já as fibras A(delta) e C são capazes de terem nociceptores em suas terminações. Quando uma pessoa chuta a mesa e bate no dedo, normalmente a primeira resposta é aguda, local e de alta intensidade. Após alguns minutos, a sensação de dor diminui, porém se mantém por um tempo maior (dor latejante, difusa com intensidade menor). As percepções são diferentes, já que o primeiro estímulo é proveniente das fibras delta (condução de velocidade rápida), diferentes das fibras do tipo C. Então, esse “bi fase” do estímulo doloroso é percebido em 2 tempos diferentes devido a diferentes fibras que conduzem tal estímulo doloroso. GRÁFICO: TEMPO X INTENSIDADE Excitatório X Inibitório ❖ Excitatório: relacionado a porção ASCENDENTE da dor. ❖ Inibitório: Relacionado a porção DESCENDENTE. Bioquímica excitatória da dor • Imagem: existe um neurônio aferente primário, porém em sua primeira sinapse com o neurônio dorsal. Ou seja, o estímulo doloroso aconteceu na porção superior ... canais voltagem dependente se abrem, o potencial de ação percorre todo neurônio até chegar no neurônio dorsal da coluna espinhal, para que assim ocorra a primeira sinapse. • Na porção terminal, existem diversos canais de cálcio voltagem dependente. Então, o potencial de ação estimula a abertura desses canais de cálcio O cálcio liberado estimula a liberação de vesículas na fenda sináptica. As vesículas são responsáveis por manter a condução do estímulo para chegar ao tálamo e córtex. • Existem alguns neurotransmissores responsáveis por alguns estímulos doloroso, como exemplo a GLUTAMINA, a SUBSTÂNCIA P e o NEUROPEPTÍDEO CGRP. Cada neurotransmissor é capaz de estimular um receptor diferente no neurônio pós sináptico. • Com isso, os neurotransmissores vão estimular a despolarização, até que o limiar dos canais de sódio aumente. Aumento do sódio desencadeia uma cascata e, essa abertura dos canais, faz com que o potencial de ação se propague. Bioquímica inibitória da dor • A atuação das moléculas inibitórias vai acontecer no neurônio primário, já que iremos impedir que o estímulo dos neurotransmissores aconteça. Dessa 4 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides forma, é uma tentativa a diminuição do potencial de ação. Com isso, o estímulo que chega no tálamo é o menor possível (menor percepção de dor possível) • Existem os receptores representados pré sináptico (receptor de noraepinefrina, receptores GABA e os receptores opioides (mi)) • No exemplo, a modulação dos receptores mi ou a ativação deles que diminui o efluxo de cálcio está acontecendo por endorfinas que são nossos opioides endógenos. • No momento que a via inibitória (descendente) está ocorrendo, existe noraepinefrina, gaba e endorfinas agindo nos nociceptores primários, para DIMINUIR a liberação desses neurotransmissores (GLUTAMINA, SUBSTÂNCIA P e NEUROPEPTÍDEO CGRP) na fenda sináptica. • Quando os receptores de noraepinefrina, gaba e endorfinas são ativados eles fecham os canais de cálcio dos neurônios pré sinápticos. Dessa forma, existe uma menor liberação de vesículas na fenda sináptica e, com isso, menos neurotransmissores. • Além disso, essas substâncias apresentam receptores no neurônio transmissor secundário, mas nessa região não é necessário o cálcio para mobilizar vesículas; são realizados estímulo ao CANAL de POTÁSSIO (efluxo de potássio). • Se estimula a saída do potássio em um neurônio transmissor secundário pós sináptico ocorre hiperpolarização do neurônio. Com isso ocorre diminuição do canal de sódio regulado por voltagem e, consequentemente, diminuição na geração do potencial de ação. Assim, é possível modular a sensação dolorosa por duas formas: 1. Fechando canal de cálcio em neurônios pré sinápticos, reduzindo neurotransmissores na fenda sináptica. 2. Abrindo o canal de potássio para hiperpolarização da célula e reduzindo a abertura do canal de sódio, o que reduz a geração do potencial de ação. Fisiopatologia da dor Imagem a seguir: resumo da ativação do canal de Na. Na região de transdução desse estímulo químico, térmico ou até mecânico para estímulo elétrico vai ter uma grande concentração do canal de sódio voltagem dependente, sendo eles que fazem o aumento enorme do limiar. Com isso, o potencial de ação será conduzido pelo neurônio. • Sensibilização periférica: é um estímulo químico, mecânico ou térmico, que causam a dor. Um estímulo mecânico lesiona a célula da região e libera substâncias intracelulares, as quais vão ativar os nociceptores. • Quando se fala de estímulo térmico, alguns tipos de canais confortantes são modulados pela temperatura, ou seja, esses canais podem se abrir ou se fechar a depender se a temperatura está alta ou baixa, a depender do receptor. • Estímulos químicos: ex. estímulos de ácidos; terão receptores específicos que vão detectar a quantidade de H+. Quanto mais H+ na região, maior será o estímulo do nociceptor. • Moléculas que são produzidas no organismo vão provocar, ou até mesmo sensibilizar a ativação do nociceptor, precipitando a ativação. EX: bradicininas, prótons, histamina, prostaglandina e fator de crescimento do nervo (NGF). Quando os receptores forem ativados, vai gerar ativação de fosfoquinase C, fosfoquinase A, que vão fosforilar os canais de Na, fazendo com que se abram. TIPOS DE ABERTURA DE CANAIS ❖ Canais que são abertos por ativação de fosfato; ❖ Canais aberto por temperatura; ❖ Canais abertos por potencial de voltagem e etc. Termos associados a dor que vale a pena diferenciar: (Obs. Ambos estão associados a sensibilização periférica e ao estímulo no nociceptor) ❖ Alodinia: indivíduos têm a sensação dolorosa, a partir de uma estimulo que não era pra ser doloroso. Ex: tato; são estímulos que teoricamente não era pra sentir dor. 5 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides ❖ Hiperalgesia: O paciente tem uma exacerbação de um estímulo doloroso, ou seja, ao provocar uma dor, o paciente vai sentir essa dor em uma escala muito maior; nesse caso, se tem um tecido hiperalgésico. Obs: Na fibromialgia e herpes zoster ou até mesmo numa palpação do abdômen doente o paciente tem uma alodinia. Opioides • Opio = deriva do grego que significa suco. No caso, seria um suco da papola. • Morfina, codeína, papaverina, tebaína: São os opioides que são extraídos da papola. • ¨Os efeitos analgésicos dos opioides são tão poderosos porque eles mimetizam um sistema endógeno de modulação da dor¨→ Encefalinas. • Acredita-se que seu efeito tão grande se deve justamente ao fato dos opióides utilizarem uma maquinaria do próprio corpo para controlar a dor. • Os analgésicos não opióides, como dipirona e AINES não tem uma função tão potente quanto os opióides. • Na década de 70, o mecanismo de ação dos opioides já foi desvendado. A comprovação do seu efeito foi feita de forma farmacológica, onde foi administrada um antagonista para bloquear o efeito opioide e confirmar o seu mecanismo. Depois disso, foram descobertos os sítios dos receptores (MU, delta e Kappa), os quais passaram a ser estudados. Depois, foi visto que o nosso corpo produz moléculas do receptor opiode, que são as encefalinas. Tabela: Subtipos de receptores de opioides, suas funções e afinidades com peptídeos endógenos. Esses são os subtipos do receptor opióide e suasfunções fisiológicas; os 3 são relacionados a analgesia, porém alguns subtipos estão restritos a determinadas regiões. ❖ Kapa: relacionado à redução do TGI; ❖ Receptor M(mu) é responsável pelo principal efeito adverso e o maior risco do uso dos opióides: a depressão respiratória. Ao longo dos anos, o que se vem buscando é por opioides potentes que não se liguem ao receptor M. Tabela: vários tipos de opióides, e seus efeitos relativos aos receptores. Mostra opióides muito seletivos para M, como a sufentanilha que apesar de se liga ao M, também ativa os outros; Dose, razão do potencial oral com parenteral, duração da analgesia (em horas) e eficácia máxima. • OBS. Endorfirnas x Encefalinas: ambas são moléculas produzidas pelo corpo para a modulação da dor, contudo, as endorfinas (produzidas na hipófise) tendem a ser mais potente do que as encefalinas. Além da potência, a diferença está na sequência da cadeia de aminoácidos e no local em que foram produzidas. Ambas são moléculas endógenas, diferentemente dos fármacos opióides, tal como a morfina. • Os opióides são agonistas dos mesmos receptores da endorfina, logo eles aproveitam de toda maquinaria que já temos de controle da dor (por isso seus efeitos analgésicos são tão fortes). • Os analgésicos mais potentes do mundo são as encefalinas endorfinas. Não existe nada mais potente para controle da dor do que elas. O que os opióides fazem é uma fração da potência das encefalinas endorfinas. Opióides endógenos Após um evento traumático, o nosso corpo produz endorfina e encefalinas, que irão modular via descendente a condução do estímulo doloroso para que o indivíduo tenha uma analgesia endógena. O que os opioides fazem é uma fração do que o nosso corpo já é capaz de fazer. 6 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides ▪ Participam da manutenção da homeostasia corporal; são neuromoduladores da resposta a estímulos externos. ▪ As encefalinas, endorfinas são chamadas de opióides endógenos. O papel dos opióides endógenos são: ❖ Modulação sensorial: analgesia; ❖ Modulação hormonal: inibem hipotálamo - adenohipófise - córtex suprarrenal: diminuição do nível de corticóides; ❖ Modulação do trato gastrointestinal, plexos entéricos; ❖ Recompensa e motivação: vias dopaminérgicas; ❖ Humor (euforia, tranquilidade), ansiedade, emoção; ❖ Cognição: aprendizagem e memória; ❖ Regulação da temperatura corporal. A partir dessas funções das encefalinas endorfinas, é possível correlacionar com alguns efeitos adversos e farmacológicos dos opióides exógenos. Ex: os opióides endógenos participam do nosso processo de recompensa e motivação através das vias dopaminérgicas, estando intimamente relacionados com a dependência provocada por esses opióides. O indivíduo usa tanto opióide que ele tem permanentemente esses estímulos de recompensa e motivação. É através desse estímulo que as drogas de abuso funcionam. Opioides - mecanismo Impede a liberação de neurotransmissores. • Os opióide exógenos (fármacos) atuam por vias idênticas aos endógenos, no nível de transmissão neurônio aferente primário e neurônio secundário no corpo dorsal da medula espinhal. • O primeiro mecanismo de analgesia de um opióide é impedir a liberação de neurotransmissores (glutamato, substância P, e CGRP). O opióide, a encefalina e endorfina agem no mesmo alvo (receptor opióide). O fármaco exógeno (ex: morfina) funciona como agonista de opióide. Se é um agonista ... quando o opióide interage com o receptor, acontece uma mudança conformacional no receptor. Essa mudança conformacional leva a uma sinalização intracelular. A proteína G que está acoplada ao receptor estimula o bloqueio de canais de cálcio, o que reduz o influxo de cálcio na terminação central do neurônio sensorial primário. A consequência da redução do influxo de cálcio é a redução da liberação da vesícula na fenda sináptica contendo os neurotransmissores. Com isso, a sinalização está prejudicada e a transmissão do estímulo está menor do que no receptor. • Também há receptores opióides nos neurônios secundários, nos quais o mecanismo de ação de diminuição do potencial é diferente no neurônio primário. Nesse caso, no pós sináptico, não há interferência do cálcio e não há modulação do cálcio pós ativação do receptor opióide. O que modula são os canais de potássio. Então, os receptores miopioides, quando ativados, já que o opióide é um agonista, provoca uma mudança conformacional nesse receptor e estimula o mecanismo da proteína G. A proteína G facilita a abertura dos canais de potássio e, junto com isso, há um aumento da condutância do potássio, uma hiperpolarização pós-sináptica, uma redução da abertura dos canais de sódio regulados por voltagem alcançando o limiar e, consequentemente uma diminuição da geração do potencial de ação. Aumento do efluxo de potássio; diminuição do influxo de cálcio → Atividade inibitória → Inibição. 7 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides Então, através de dois mecanismos é possível reduzir o potencial de ação no neurônio pós-sináptico. • Se há o aumento do efluxo de potássio, há uma atividade inibitória, e consequentemente um efeito global total. • No neurônio pré-sináptico há uma diminuição do influxo de cálcio, que também leva a uma atividade inibitória, e consequentemente um efeito global de inibição. Então, tanto impede a liberação de neurotransmissores quanto reduz a resposta neuronal pós-sináptica. Efeito pré-sináptico e pós-sináptico ❖ PRÉ-SINÁPTICO: Redução de neurotransmissores; ❖ PÓS-SINÁPTICO: Hiperpolarização da fibra. Mecanismo do efeito periférico dos opioides Inibição do adenilato ciclase Além do efeito dos opióides na medula, eles também têm efeito a nível periférico nos receptores. Existem algumas vias pelas quais os efeitos periféricos dos opióides se apresentam. A prostaglandina é uma molécula que sensibiliza o nó receptor, então, ela se liga ao receptor do nó receptor transmembrana. Esse receptor é acoplado a uma proteína G, a qual se solta do receptor pós ligação e ativa adenilil ciclase. A adenilil ciclase é uma enzima que intracelularmente converte ATP em AMP cíclico. O AMP cíclico estimula PKA e PKC a fosforilarem canais de potássio e canais de sódio. Quando essas enzimas fosforilam canais de potássio e canais de sódio, em um nível periférico, acontecem coisas diferentes. Com a fosforilação do canal de potássio há uma inibição do efluxo de potássio e, com a fosforilação do canal de sódio há uma abertura do canal de sódio (entrada de sódio). A consequência disso é o aumento do potencial de despolarização e condução do estímulo elétrico. O estímulo químico da prostaglandina gera um influxo de íons positivos e aumenta o potencial, promovendo a propagação ao longo de todo neurônio aferente primário. Como que a morfina atua dessensibilizando essa via de condução do estímulo doloroso? O opioide se liga ao receptor mio opioide nos receptores, que também é um receptor acoplado a proteína G. Quando a mudança conformacional acontece pós ligação, uma fração dessa proteína G é liberada e inativa a ação da adenilciclase (AC), consequentemente não há ativação da AMP cíclico e nem de PKA e PKC. Ou seja, é dificultada a propagação do estímulo elétrico. Mecanismo: hiperpolarização do neurônio aferente primário Um outro mecanismo discutido acerca da hiperpolarizacão do neurônio aferente primário sobre a condução desse estímulo por uma via que não a da adenilato ciclase foi descoberto em 2008. Descobriu-se que além da via da adenilato ciclase, os opióides eram capazes de reduzir a condução do estímulo doloroso do aferente primário a partir da guanilato ciclase (outro sistema similar aadenilato ciclase) Tudo acontece a partir do momento em que o opióide interage com o receptor e, por ser agonista, provoca mudanças conformacionais e sinalização intracelular. Essa sinalização é a partir do receptor acoplado a proteína G que estimula a ativação da enzima fosfatidilinositol 3 quinase. Essa enzima ativa uma outra enzima chamada de óxido nítrico sintetase, a qual sintetiza óxido nítrico (NO). Uma vez ativada, essa via vai estimular a produção de NO nos neurônios aferentes primários. 8 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides A medida em que ele vai aumentando no aferente primário tem-se a ativação de uma enzima chamada de guanilato ciclase, que converte GTP em GMP cíclico. Esse GMP cíclico produzido por essa cascata, ativa uma outra enzima chamada de fosfoquinase G, que adiciona ou retira um grupamento fosfato. Essa fosfoquinase G em um aferente primário retira grupamento fosfato do canal potássio ATP. Quando o fosfato é retirado do canal potássio ATP, tem-se o fechamento desse canal de potássio e com o seu fechamento ocorre hiperpolarização e assim, mais dificuldade para conduzir o estímulo elétrico ao longo do aferente primário. Efeitos farmacológicos dos opioides • Analgesia: É o principal efeito. É utilizado quando há dor associada à lesão, inflamação e câncer; mais efetivos na dor contínua (crônica) do que na aguda e intermitente, • Euforia: bem-estar e contentamento → importante componente da analgesia em pacientes com dor crônica (geralmente tem mais medo e são mais ansiosos): diminuição do medo, ansiedade, sofrimento. O mecanismo de recompensa e de bem-estar dopaminérgico pode ser aproveitado nesses pacientes. TGI: Diminuição da motilidade gástrica (esvaziamento): Diminuição do HCL, das secreções biliares, pancreáticas e intestinais; redução da propulsão; aumento da reabsorção de água: constipação (efeito adverso mais comum). ❖ Liberação de histamina por mastócitos: prurido, vasodilatação, hipotensão, broncoconstrição; ❖ Hipotensão e bradicardia; ❖ Depressão respiratória: redução da quimiossensibilidade do bulbo ao Co2 e redução da frequência respiratória. Os opiodes desregulam a sensibilidade química, tendo excesso de Co2 no sangue sem que o corpo reaja a isso. ❖ Tolerância: dependência física e psicológica. Morfina, codeína e seus derivados são os mais utilizados para o controle da dor. A morfina é um derivado da codeína. Quando a morfina é administrada, ela sofre uma acetilação e vira codeína. Tolerância É a diminuição do efeito da droga com administrações repetidas. Existem diversos mecanismo de tolerância; os mais aceitos para os opioides se diz respeito a: ❖ Diminuição da sensibilidade dos receptores opióides através do mecanismo de beta arrestina. Ao longo das utilizações, o receptor opioide é fosforilado (antes tinha 1 fosfato e depois passou a ter 3). A medida em que o uso vai ocorrendo, alguns mecanismos intrínsecos fosforilam esses receptores até que esse receptor tenha uma quantidade de fosfato ideal para ser alvo de uma proteína chamada de beta arrestina. Essa se encaixa no receptor opioide e quando isso ocorre, o receptor é retirado da superfície que ele se encontrava e vai deixando de ser apto para ligação do agonista. Assim, tem-se uma diminuição dos números disponíveis de receptores opióides e por isso a tolerância se instala. Dependência A dependência é um fator importante quando se fala de opioide. Complexas mudanças no ajuste homeostático do organismo - retirada brusca do medicamento causa um distúrbio na homeostasia. O indivíduo passa a se acostumar com as sinalizações provocadas pelo fármaco. Os opioides em vias endógenas exercem inúmeros tipos de regulações, porém conforme se administra opioides exógenos, o corpo entende que aquele nível de regulação em diferentes sistemas é o basal do corpo. Quando se retira esse fármaco, ocorre um distúrbio na homeostasia do novo ¨normal¨ e o indivíduo começa a ter sinais de dependência física e psicológica. ❖ Física: relacionada à tolerância - síndrome de abstinência; Ex. tremores, dores de cabeça, diarreia, febre. 9 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides ❖ Psicológica: Desejo mórbido/desejo da recompensa pela droga. Lembrar que os opioides participam do sistema de recompensa dopaminérgico. Então, a morfina age da mesma forma que qualquer outro vício que causa dependência psicológica, pois os níveis de dopamina, ânimo, recompensa e bem- estar do paciente passam a ser aquele. Se você retira, o paciente anseia pela mesma sensação novamente. DEPENDÊNCIA FÍSICA Síndrome de abstinência: interrupção abrupta após administração crônica do opioide. A síndrome de abstinência por opiódes pode ser dividida em 3 estágios: 1. Paciente apresenta ansiedade, suplica pelo fármaco, tem lacrimejamento e rinorréia; 2. Paciente apresenta midríase, irritabilidade, tremor, sudorese, calafrios; 3. Paciente apresenta náuseas, vômitos, dores abdominais e insônia severa. Obs. Caso o indivíduo tenha a síndrome de abstinência e faça o uso do fármaco, ele apresenta melhora imediata desses sinais e sintomas de dependência. Opióides sintéticos Anteriormente, foi comentado sobre alguns opioides derivados do OPIO → morfina, cadeína. Mas, ao longo do tempo, pesquisadores desenvolveram moléculas sintéticas baseadas na relação das moléculas naturais, mas sintetizadas em laboratório. Nessa, foi procurado melhorar os aspectos da morfina e cadeína. Metadona ❖ Tratamento de dependência química e tratamento da dor; É utilizada para pacientes em recuperação por uso de cocaína. Nesse caso, supre a necessidade de cocaína por doses controladas de metadona. A nível de tratamento analgésico, ela gera alívio da dor, tendo o efeito de duração de até 8 h. ❖ Proporciona o alívio prolongado da dor: ½ vida de 24h e efeito analgésico de até 8 horas. Fentanil ❖ Altamente lipossolúvel; ❖ 100X mais potente do que a morfina; ❖ Biodisponível a partir de diversas vias de administração; ❖ É possível encontrar o fentanil via oral, IV e em forma de dispositivo de liberação de opioide via subcutânea. Agentes espamólicos Imagem: mostra o mecanismo ação (no lado esquerdo da img) e de tolerância (lado direito da img). Mostra todos os efeitos já discutidos: ➢ Bloqueio do cAMP; ➢ Bloqueio do canal de cálcio; ➢ Abertura do canal de potássio . E isso depende se vai ser num nociceptor, neurônio pré- sináptico ou pós-sináptico; cada efeito vai acontecer em um local diferente. Conforme o indivíduo faz o uso da morfina, vai havendo fosforilação na porção intracelular do receptor. Essas fosforilações são tudo que a beta arestina precisa. Quando ela se encontra com esse receptor, ele é englobado e retirado da superfície celular. Depois ele pode ser reciclado, recolocado, mas há uma diminuição da quantidade de receptores na membrana da célula que esse opióide precisa agir. 10 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides • Possuem uma estrutura química muito parecida. • A morfina, quando administrada, é metilada e convertida em codeína que também tem ação no receptor Miopioide. • A codeína é um opióide menos efetivo do que a morfina no tratamento da dor. A afinidade da codeína aos receptores miopioides é baixa. • A codeína é metabolizada tanto pela CYP2D6, quanto pela CYP3A4, para depois ser conjugada e eliminada. Indicações clínicas • Dor aguda e crônica associada com lesão tecidual, inflamação, infecção e câncer. • Pré-operatório: reduz dose de anestésico, ansiolítico; • Infarto do miocárdio: analgesia, vasodilatação, bradicardia; • Câncer: via oral facilita administração prolongada, componente afetivo; • Cirurgia abdominal e torácica: viaepidural, preserva função motora; • Dependência: agonistas M fracos de longa duração. Ex. Metadona. Na dependência: Por ser um agonista fraco, a chance de ter os principais efeitos adversos dos opioides é muito pequena. Então, funciona como um pseudo antagonista. Se liga no agonista, provoca um efeito pequeno, mas, por se ligar por longos períodos, dá uma sensação de ¨saciedade¨ ao sistema opióide. Tratamento da dor lombar • Estudos demonstraram que o tramadol supera o placebo no controle da dor e restauração da função desses indivíduos. Se era um indivíduo que não conseguia praticar atividade, ou não conseguia ficar sentado por muito tempo, por exemplo, o tramadol foi superior no controle da dor e sua função. • Assim, demonstra-se que de fato os opióides funcionam como estratégia terapêutica na dor lombar. O tramadol é um opioide ❖ Neurônios pós sinápticos: Funciona como agonista nos receptores miopioides, aumentando a abertura de potássio. ❖ Pré-sinápticos: se liga no receptor mi, desestimulando a abertura de canais de cálcio – vai ter menor liberação de neuroreceptores envolvidos no estímulo doloroso (substância P, glutamato e CGPR). O tramadol, além dos efeitos pré e pós sinápticos (inerentes à classe opióide), possuem uma característica adicional. ❖ Interferem na recaptação de noradrenalina e serotonina. Não o suficiente para ser considerado um antidepressivo, mas é um efeito adicional, para sensação de bem estar, sendo capaz de restaurar o ânimo da pessoa com dor crônica... é importante! Assim, o Tramadol é capaz de reduzir a dor e estimular à sinapse de noradrenalina e serotonina. Outras classes ● AINES; ● Paracetamol; ● Antidepressivos tricíclicos. Interações medicamentosas Efeitos adversos Sistema nervoso central ❖ Sedação: afeta funções corticais → dificuldade de concentração - sonolência; ❖ Náuseas e vômitos: estimulação direta da zona deflagradora quimiorreceptora para êmese (bulbo, área prostrema); ❖ Miose: receptores M e K: ação excitatória nervo parassimpático; sinal de intoxicação importante; 11 Beatriz Machado de Almeida Farmacologia – Aula 9 - Opioides ❖ *Euforia: Elevação do humor e diminuição da ansiedade → sentimento de tranquilidade; ❖ Disforia: ansiedade desagradável e desânimo. ❖ Pele: rubor e alergia (liberação de histamina por degranulação de mastócitos -morfina) ❖ Efeitos cardíacos: hipotensão ortostática e desmaio (vasodilatação periférica → histamina). Com relação ao sinal de intoxicação importante, vale tanto para opióide quanto para cocaína. Atuam de forma parecida. Se o paciente chega com intoxicação por opióide ou overdose por cocaína, a miose (diminuição do tamanho das pupilas) é um bom indicativo.
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