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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA: dos debates ao sentir e agir como possibilidade de compreensão e superação da realidade brasileira Neuton Alves de Araújo Cristiane de Sousa Moura Teixeira Francisco Antonio Machado Araujo Organização 2019 EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA: dos debates ao sentir e agir como possibilidade de compreensão e superação da realidade brasileira Educação e formação humana: dos debates ao sentir e agir como possibilidade de compreensão e superação da realidade brasileira / Neuton Alves de Araújo, Cristiane de Sousa Moura Teixeira, Francisco Antonio Machado Araujo, organizadores. – Teresina, PI: EDUFPI, 2019. E-book. ISBN: 978-85-509-0523-5 1. Educação – Pesquisa Científica. 2. Formação Docente. 3. Prática Pedagógica. I. Araújo, Neuton Alves de (Org.). II. Teixeira, Cristiane de Sousa Moura (Org.). III. Araujo, Francisco Antonio Machado (Org.). IV. Título. CDD: 370.7 E21 Reitor Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes Vice-Reitora Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira Superintendente de Comunicação Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO HUMANA: dos debates ao sentir e agir como possibilidade de compreensão e superação da realidade brasileira © Neuton Alves de Araújo • Cristiane de Sousa Moura Teixeira Francisco Antonio Machado Araujo 1ª edição: 2019 Revisão Francisco Antonio Machado Araujo Editoração Francisco Antonio Machado Araujo Diagramação Wellington Silva Capa Mediação Acadêmica Editor Ricardo Alaggio Ribeiro EDUFPI – Conselho Editorial Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente) Acácio Salvador Veras e Silva Antonio Fonseca dos Santos Neto Wilson Seraine da Silva Filho Gustavo Fortes Said Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz Viriato Campelo Ficha Catalográfica elaborada de acordo com os padrões estabelecidos no Código de Catalogação Anglo-Americano (AACR2) Bibliotecária Responsável: Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188 53 módulos 1 9 m ó d u lo s APRESENTAÇÃO PARTE 1 – DEBATES SOBRE PROCESSOS FORMATIVOS: FORMAÇÃO, ENSINO E APRENDIZAGEM, PRÁTICA PEDAGÓGICA E CURRÍCULO COMO QUESTÕES CENTRAIS PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES Carla Valéria Lopes Rodrigues Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Levinsky Alves de Sousa Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS Maria do Socorro de Resende Borges O CURRÍCULO NAS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DA COMUNIDADE ACADÊMICA DO CURSO DE PEDAGOGIA Jânio Jorge Vieira de Abreu Carla Valéria Lopes Rodrigues Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira SU M Á R IO 9 19 19 29 47 67 O TRABALHO DO SUPERVISOR EDUCACIONAL JUNTO AO PROFESSOR DIANTE DOS DESAFIOS DE ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS EM SALA DE AULA Marcileide Sobral Xavier Elizângela Fernandes Martins MODELOS DIDÁTICOS COMO FERRAMENTA INCLUSIVA NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA Marlene Rodrigues de Carvalho Sâmia Clara Rodrigues de Oliveira CURRÍCULO ESCOLAR E INTERFACES COM QUESTÕES DAS DIVERSIDADES E MULTICULTURAIS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Thayná Guedes Assunção Martins Mary Gracy e Silva Lima MUSEUS COMO ARTEFATO CULTURAL NA FORMAÇÃO DOCENTE E PRÁTICA PEDAGÓGICA Alexandre Gomes Soares Sérgio Teixeira da Silva O ENSINO DE GEOGRAFIA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ESCOLA, COMUNIDADE E RESÍDUOS SÓLIDOS Antonio Michel de Jesus de Oliveira Miranda GÊNERO, RAÇA E CLASSE NA EJA: TRAJETÓRIAS DE VIDA DE MULHERES AFRODESCENDENTES DE SUCESSO EDUCACIONAL Efigênia Alves Neres AFETOS E AFECÇÕES: VIVÊNCIA DE CORPOS Rosalina de Souza Rocha da Silva 87 109 123 139 159 179 197 131 215 231 245 257 PARTE 2 - EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE CRISE: ENSAIOS PARA SENTIR E AGIR OS REVISIONISMOS E OS NEGACIONISMOS QUE AMEAÇAM A EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA Marta Gouveia de Oliveira Rovai A APRENDIZAGEM DA DOCÊNCIA EM UM CENÁRIO DE MUDANÇAS Joelson de Sousa Morais IDEOLOGIA DE GÊNERO, EDUCAÇÃO E CRISE SOCIAL NO BRASIL (2018-2019) Lorena Maria de França Ferreira Rannyelle Rocha Teixeira SOBRE OS AUTORES APRESENTAÇÃO 9 APRESENTAÇÃO [...] uma escola promove a justiça social cumprindo sua tarefa básica de planejar e orientar a atividade de aprendizagem dos alunos, tornando-se, com isso, uma das mais importantes instâncias de democratização social e de promoção da justiça social (LIBÂNEO, 2017, p. 14). Como se evidencia no pensamento de Libâneo (2017), conforme explicitado na epígrafe acima, cabe à escola criar condições a fim de que se torne “uma das mais importantes instâncias de democratização social e de promoção da justiça social”, possibilitando, desse modo, a emancipação humana dos indivíduos que dela participam (crianças, jovens e adultos). Assim, conscientes do papel da escola e movidos pela necessidade de se aprofundar estudos e pesquisas, “em tempos de crise”, considerando a relação educação e formação humana no âmbito acadêmico e político nacional/local, nesta coletânea, pesquisadores de diferentes áreas, dentre outros, estudantes de graduação, mestrado e doutorado, professores da Educação Básica e da Educação Superior, apresentam resultados de suas 10 investigações. Partem do pressuposto de que “[...] a escola é instituição privilegiada no que diz respeito às possibilidades de humanização do homem”. (RIGON; ASBABR; MORETTI, 2010, p. 33). Dessa forma, as investigações se constituíram em desafios para esses pesquisadores. Primeiro, porque aprofundam debates sobre processos formativos, em que a formação de professores, o ensino e aprendizagem, a prática pedagógica e o currículo são as questões centrais. Segundo, porque autores denunciam que o papel da escola vem sendo mascarado, em decorrência da perspectiva empresarial e mercadológica, do controle ideológico da atividade dos profissionais da educação por intermédio do Movimento da Escola Sem Partido e da implantação da Base Nacional Comum Curricular – BNCC. Só para reforçarmos essa afirmação, em um de seus capítulos, a pesquisadora Rovai assim pontua: “nos últimos anos, a educação democrática vem sendo ameaçada em sua liberdade de ensinar e de aprender, por discursos e práticas advindos de setores conservadores da sociedade que tendem a desqualificar o conhecimento secularmente acumulado e produzido nas escolas e universidades.”. Feitas as considerações, este livro está organizado em duas partes. A Parte 1 - Debates sobre processos formativos: formação, ensino e aprendizagem, prática pedagógica e currículo como questões centrais -, é constituída de 11 (onze) capítulos. No primeiro capítulo intitulado “Pedagogas em formação inicial: pesquisa de campo sobre Educação Infantil e questões curriculares”, as autoras Carla Valéria Lopes Rodrigues, Maria Vanessa Vieira da Costa e Raquel Silva de Oliveira apresentam relatos de pesquisa de campo em que o objetivo foi o de conhecer a prática pedagógica desenvolvida em determinado Centro Municipal de Educação Infantil - CMEI com ênfase, sobretudo, no currículo deste nível de ensino. APRESENTAÇÃO 11 No segundo capítulo - “A formação docente e as práticas pedagógicas para o ensino de música na educação infantil” -, de autoria de Levinsky Alves de Sousa, Lívia Silva Alves e Jânio Jorge Vieira de Abreu, esses autores discutem o ensino de música na Educação Infantil compreendendo que a inserção da música neste nível de ensino se dá em razão da possibilidade desse desse ensino garantir o desenvolvimento integral da criança, além de promover uma perspectiva de ensino em que a mesma aprenda brincando, condição necessária para que possa desenvolver suas funções psicológicas superiores. Partindo deste pressuposto, os autores objetivam neste artigo analisar como a musicalização é trabalhada na Educação Infantilpor professores não licenciados em música. Após recorrer a um levantamento das pesquisas já realizadas acerca da temática, concluem que a Educação Infantil ainda consiste em nível de ensino que se desenvolve em condições precárias em relação às inovações metodológicas para o uso e o ensino que envolva a música. Aliada às essas condições precárias, evidenciam ainda a fragilidade da formação inicial dos professores que atuam neste nível de ensino, o que os instigam a reforçar a imprescindibilidade de formação docente que possa atender às demandas postas. Maria do Socorro de Resende Borges, autora do artigo intitulado “O profissional da Educação Infantil: sua formação específica, perspectivas, avanços e conquistas”, discute a formação de professores para educação infantil, destacando as conquistas que este nível de ensino teve após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/1996, conquistas estas expressas nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN) e no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI). Nesse estudo, o objetivo é discutir a importância da formação dos professores da Educação Infantil. Para tanto, a autora destaca a necessidade de que esta 12 formação se dê na perspectiva prática e teórica e, portanto, considera que este aspecto é um dos fatores que incidem na melhoria da prática pedagógica. No artigo “O currículo nas concepções e práticas da comunidade acadêmica do curso de Pedagogia”, os autores Jânio Jorge Vieira de Abreu, Carla Valéria Lopes Rodrigues, Maria Vanessa Vieira da Costa e Raquel Silva de Oliveira fazem uma análise das concepções e práticas de alunos e coordenadores pedagógicos de três instituições de ensino superior acerca do currículo, visando compreender como tais concepções constituem a cultura escolar e acadêmica. O estudo evidencia que o curso de Pedagogia conseguiu ampliar as composições curriculares, mas ainda necessita garantir formação para atuação fora do espaço escolar. “O trabalho do supervisor educacional junto ao professor diante dos desafios de alunos com necessidades especiais em sala de aula” é o título do artigo de autoria de Marcileide Sobral Xavier e Elizângela Fernandes Martins. Partindo da preocupação com a inclusão de alunos com necessidades especiais e considerando que o supervisor escolar atua no planejamento escolar e, por conseguinte, tem possiblidades de auxiliar os professores ante as suas dificuldades é que desenvolveram pesquisa com o objetivo de discutir as contribuições que o supervisor escolar pode oferecer junto às dificuldades enfrentadas pelos professores no trabalho com alunos com necessidades especiais. Através da pesquisa foi possível apontar algumas oportunidades de melhorias no processo ensino e aprendizagem inclusivo e, assim, sugerir propostas de planejamento pedagógico que ofereçam à equipe educacional uma prévia da realidade do ano letivo. Marlene Rodrigues de Carvalho e Sâmia Clara Rodrigues de Oliveira assinam o artigo intitulado “Modelos didáticos como ferramenta inclusiva no ensino-aprendizagem em biologia”, artigo que apresenta experiência didática desenvolvida para possibilitar APRESENTAÇÃO 13 práticas inclusivas destinadas ao ensino de Biologia. Visando transpor alguns obstáculos presentes no ensino de Biologia, sobretudo no ensino de microrganismos, é que as autoras elegeram os modelos didáticos como ferramenta para favorecer o processo de ensino e aprendizagem dentro de uma dimensão global, em que o aluno é levado a construir seu próprio conhecimento. As autoras destacam o valor dessa metodologia em razão da confecção de modelos didáticos inclusivos pelos próprios alunos possibilitar sensibilização às causas inclusivas, levando-os a investigar o material, formular suas próprias ideias e tirar suas dúvidas através de uma discussão direta com o professor e colegas de classe, tornando o conhecimento significativo e prazeroso. A compreensão de um currículo multicultural está presente no artigo de autoria de Thayná Guedes Assunção Freitas e Mary Gracy e Silva lima, intitulado “Currículo escolar e interfaces com questões das diversidades multicultarais: algumas considerações”. As autoras entendem que a padronização formativa desejada e idealizada pelo currículo escolar para certas classes sociais - as dos alunos das escolas públicas -, atualmente, vem sendo questionada acerca da sua inviabilidade pela própria dinamicidade do mundo, dos novos ideários e da concepção de escola, de homem e de sociedade, reafirmando que o currículo é um território de disputa, de poder e de ideologias, questões estas que afirmam a relevância da educação escolar com ênfase na produção do conhecimento para a convivência harmônica respeitosa no processo de aprendizagem entre alunos de diferentes contextos socioculturais por meio do respeito mútuo. A análise dos museus virtuais como potência educativa na formação continuada e na prática docente é o objetivo do artigo de Alexandre Gomes Soares e Sérgio Teixeira da Silva, intitulado, “Museus como artefato cultural na formação docente e prática pedagógica”. O museu virtual é um campo novo nas 14 discussões sobre as possibilidades de formação e prática pedagógica docente, pois há reduzida produção sobre o tema, em se tratando do potencial dessa ferramenta. A reflexão evidencia uma necessidade de mais estudos sobre a relação entre museus virtuais e as práticas pedagógicas no âmbito da educação. Antônio Michel de Jesus de Oliveira Miranda é o autor do artigo intitulado “O ensino de Geografia e a Educação Ambiental: escola, comunidade e resíduos sólidos”. Aqui o autor discute a Educação Ambiental desenvolvida pelo professor de geografia nas escolas da rede pública em comunidades do entorno dos lixões no município de Parnaíba (PI). O estudo evidencia há uma tímida postura referente à educação ambiental, seja por parte do professor de Geografia ou da escola, uma vez que consideram a inconsistência de pressupostos em seus planejamentos e discursos. Efigênia Alves Neres é autora do artigo “Gênero, raça e classe na EJA: trajetórias de vida de mulheres afrodescendentes de sucesso educacional”. Neste artigo, a autora, por meio de uma análise sociológica, assevera que na atualidade ainda permeia no imaginário social a representação negativa referente à mulher afrodescendente, bem como os “lugares” “ocupados” pela mesma na sociedade. Apesar dessas representações sociais, que as colocam como um dos grupos mais marginalizados da sociedade, em sua tripla acepção: sexual, social e racial, há aquelas que estão conseguindo superar os desafios e alcançar a mobilidade social. No último artigo desta primeira parte da obra, trazemos o artigo “Afetos e afecções: vivência de corpos” de autoria de Rosalina de Souza Rocha Silva, no qual a autora explicita as ações realizadas por um corpo docente que afetou e foi afetado criando elos de relações com outros corpos em prol da educação. A autora ainda destaca que o resultado dessa APRESENTAÇÃO 15 vivência indica que existe a possibilidade e indícios de prática ético-afetiva em que os estudantes consigam sistematizar os conhecimentos com objetividade em colaboração. A segunda parte, intitulada: “Educação em tempos de crise: ensaios para sentir e agir”, compõe-se de três artigos. O primeiro é de autoria de Marta Gouveia de Oliveira Rovai, intitulado “Os revisionismos e os negacionismos que ameaçam a educação democrática”. A autora faz uma importante reflexão acerca do momento histórico do país, momento esse que tem sido marcado pela intolerância e pela pós-verdade. Neste cenário, revisionismos e negacionismos vigentes se constituam em violações históricas que têm o propósito de desqualificar o passado. Para o empreendimento dessa reflexão, desenvolve suas reflexões em duas seções: na primeira, trata do revisionismo histórico e, sob este aspecto, destaca que o atualdiscurso acerca do marxismo cultural já se fez presente na década de 1960; na segunda, contesta o viés ideológico presente no ideário da Escola Sem Partido. Na sequência, o artigo “A aprendizagem da docência em um cenário de mudanças”, de Joelson de Sousa Morais, é discutida a aprendizagem da docência em um cenário de mudanças. Neste sentido, o autor ressalta que os impactos sócio-econômicos- políticos e culturais atravessam a educação, bem como as transformações políticas provocam implicações no processo de formação e desenvolvimento profissional de professores(as) iniciantes. No último texto, “Ideologia de gênero, Educação e crise social no Brasil”, de Lorena Maria de França Ferreira e Rannyelle Rocha Teixeira, as autoras refletem acerca da educação e ideologia de gênero num momento de crise no Brasil. As reflexões das autoras giram em torno de questões, tais como: o que é ideologia de gênero? Qual o papel do campo educacional em questões que tangenciam o gênero e a sexualidade? 16 Diante dessas considerações e apresentação, destacamos que os(as) autores(as) são professores(as) e pesquisadores(as) que atuam em uma realidade sócio-histórica e que se colocaram no desafio de escrever, mediante seu pertencimento teórico e suas características pessoais de expressão escrita, acerca da educação. Para isso, destacam múltiplos objetos e processos educativos que constituem a realidade da educação brasileira, objetivando a promoção de práticas educativas e a necessidade da produção do conhecimento como atividade coletiva, mediada pela intenção de transformar a realidade. Enfim, fica então o convite para se fazer a leitura dos textos e apreciação desta obra. Cristiane de Sousa Moura Teixeira Neuton Alves de Araújo (organizadores) REFERÊNCIAS LIBÂNEO, J. C. Prefácio. In: MORETTI, V. D.; CEDRO, W. L. (Orgs.). Educação Matemática e a Teoria Histórico-Cultural: um olhar sobre as pesquisas. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2017. p. 9-15. RIGON, A. J.; ASBABR, F. da S. F.; MORETTI, V. D. Sobre o processo de humanização. In: MOURA, M. O. de (Org.). A atividade pedagógica na Teoria Históric-Cultural. Campinas, SP: 2016. p. 15-50. PARTE 1 – DEBATES SOBRE PROCESSOS FORMATIVOS: FORMAÇÃO, ENSINO E APRENDIZAGEM, PRÁTICA PEDAGÓGICA E CURRÍCULO COMO QUESTÕES CENTRAIS PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES 19 PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES Carla Valéria Lopes Rodrigues Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira A Educação Infantil é compreendida como a primeira etapa da educação básica, por ser a fase em que criança tem contato inicial com a educação formal. Posto isto, vale afirmar que o currículo da educação infantil com suas nuances torna-se norteador para o desenvolvimento de uma educação integral e de qualidade de ensino com foco nos objetivos de aprendizagem para a idade infantil. Desta forma, torna-se imprescindível estudá-lo, pesquisá- lo e situá-lo como emergente para o cenário escolar, a fim de perceber sua complexidade e possibilidades formativas do ser humano em processo de desenvolvimento. O currículo é flexível, não sendo uma cápsula fechada e sim, um instrumento 20 Carla Valéria Lopes Rodrigues • Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira educativo e pedagógico sujeito a constantes modificações que tenciona atender as necessidades dos alunos. Diante disso, conhecer a organização da rotina da educação infantil, como elemento organizativo do currículo escolar, torna-se fundamental para compreender o dinamismo das práticas pedagógicas neste ambiente e assim estabelecer a relação entre o currículo prescrito e real. Para tanto, recorreu-se ao Referencial Nacional para a Educação Infantil, onde afirma que “As Instituições de Educação Infantil precisam organizar um cotidiano de situações agradáveis, estimulantes, que desafiem o que cada criança e seu grupo de crianças já sabem sem ameaçar sua autoestima nem promover competitividade, ampliando as possibilidades infantis de cuidar e ser cuidada, de se expressar, comunicar e criar, de organizar, pensamentos e ideias, de conviver, brincar e trabalhar em grupo, de ter iniciativa e buscar soluções para os problemas e conflitos que se apresentam as mais diferentes idades, e lhes possibilitem apropriar-se de diferentes idades, e lhes possibilitem apropriar-se de diferentes linguagens e saberes que circulam em nossa sociedade, selecionados pelo valor formativo que possuem em relação aos objetivos definidos em seu Projeto Político Pedagógico” (BRASIL, 1998, p. 9). Este texto apresenta breve relato de uma pesquisa de campo realizada na disciplina Currículo da educação infantil no curso de pedagogia, objetivando conhecer a rotina da educação infantil, analisar os documentos que norteiam as práticas pedagógicas desenvolvidas nessa etapa da educação básica e observar a influência do ambiente escolar na aprendizagem dos alunos, desenvolveu-se esta pesquisa de campo diagnosticando a realidade de um CMEI, e estudos de documentos específicos que normatizam e propõem a organização e construção da PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES 21 educação infantil com o arcabouço teórico adquirido na academia. Metodologia Para observar a realidade do CMEI e posterior análise crítica e reflexiva de como se dá a organização e funcionamento da educação infantil e sua interface com o currículo prescrito e real, como afirma Gil (2014, p.57), onde defende que, “[...] no estudo de campo estuda-se um único grupo ou comunidade em termos de sua estrutura social, ou seja, ressaltando a interação de seus componentes. Assim, o estudo de campo tende a utilizar muito mais técnicas de observação do que de interrogação”. Corroborando com o referido autor, compreende-se que para o futuro pedagogo/a é indispensável o contato direto com o ambiente no qual atuará, assim a pesquisa de campo torna- se uma ferramenta de aprendizagem fundamental para um processo de formação mais consistente. Neste sentido, e de acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 113), para os quais, “o trabalho de campo refere-se ao estar dentro do mundo do sujeito”. A atividade e atitude investigativa possibilitam uma maior aproximação com a realidade dos sujeitos investigados, propicia uma integração com o modo de pensar do outro, criando uma empatia que resguarde a reflexão. Dessa forma, a afinidade com a realidade educacional permitiu vislumbrar as experiências exitosas, bem como os desafios e anseios do campo escolhido. Um dos instrumentais de produção de dados utilizado foi o roteiro de entrevista, que, de acordo com Richardson (1999, p. 205) permite uma estreita relação entre as pessoas, “é a melhor situação para 22 Carla Valéria Lopes Rodrigues • Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira participar da mente de outro ser humano”, pois consente uma proximidade que possibilita entrar na mente, vida e definição dos indivíduos. Assim, as atividades de pesquisa ocorreram também por meio da análise do Projeto Político Pedagógico, observação da dinâmica escolar e de entrevistas com os sujeitos participantes na condução dos processos educativos da instituição. O lócus desta pesquisa foi um Centro Municipal de Educação Infantil, localizado no bairro Alto da Ressurreição. Atualmente, atende 260 alunos de 2 a 5 anos de idade matriculados distribuídos em turmas de maternal I e II, 1º e 2º períodos da Educação Infantil, divididos nos turnos manhã e tarde. Este espaço escolar contava, no ato da pesquisa primeiro semestre de 2018, com os recursos humanos de 27 profissionais. As instalações físicas do mesmo atendem perfeitamente aos padrões de estética e funcionalidade com arquitetura planejada de acordo com as necessidades das crianças. Resultadose discussão No que se refere à apresentação de alguns dos resultados e discussão, cabe ressaltar que, quanto às instalações físicas da escola, houve uma preocupação em transformar o local em um ambiente prazeroso, acolhedor e principalmente encantador para as crianças. Segundo relato da gestão deste CMEI a estrutura física e pedagógica foi pensado de maneira que despertasse e favorecesse uma aprendizagem leve e significativa. Diante dos aspectos formativos do currículo da educação infantil, perfilhou-se a compreensão de que a partir de um todo organizado de redes sociais que se interligam podem assegurar às crianças o desenvolvimento pleno de suas habilidades, competências e permitirá essa aprendizagem significativa. Sendo assim, evidenciou-se pelo relato da gestora e equipe PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES 23 docente que houve uma chamada a responsabilidade de todos os envolvidos nessa relação para a construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) do CMEI. É basilar na construção de um currículo que defende os objetivos de aprendizagem da educação infantil mediada por uma gestão democrática que promova a participativa efetiva da comunidade escolar, famílias, estado e sociedade em geral, conforme preconiza a Constituição Federal, no Título VIII, Capítulo III, seção I, que trata da educação e assim a descreve no o Art. 205, “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (BRASIL, 2016, p.123, 126, grifo nosso). Ao analisar o PPP desta escola de educação infantil, e ao observar a realidade e a rotina da escola, ouvindo relato na entrevista acerca do processo de construção e efetivação deste documento orientador do currículo escolar, constatou-se que foi construído e fundamentado legalmente visando atender o objetivo de cuidar e educar crianças para ser e aprender a ser criança, investindo a participação e o envolvimento de toda da comunidade escolar, professores, funcionários, pais e alunos participaram dessa construção. Este processo colaborativo, segundo a gestão e professores, deu-se por meio de reuniões de estudos, questionários e debates com todos os envolvidos no processo para analisar o contexto social, tendo como base os pressupostos legais existentes que amparam a criança e que legislam sobre a educação, para assim proporem ações possíveis de serem desencadeadas a fim de que o objetivo da educação fosse alcançado. 24 Carla Valéria Lopes Rodrigues • Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira Como defende Oliveira e Cruz, “gestão democrática da proposta curricular deve contar na sua elaboração, acompanhamento e avaliação, tendo em vista o Projeto Político Pedagógico da unidade educacional, com a participação coletiva de professoras e professores, demais profissionais da instituição, famílias, comunidade e das crianças, sempre que possível e à sua maneira”. (OLIVEIRA; CRUZ, 2010, p. 7) Para fundamentar epistemologicamente e teoricamente a organização do ensino e o trabalho educativo pedagógico da escola, objetivou-se desenvolver a formação integral das crianças de 2 a 5 anos nos aspectos afetivos, cognitivos, psicossociais de forma a possibilitar uma aprendizagem significativa e efetiva para as crianças, bem como a construção do conhecimento nesses aspectos da dimensão formativa da criança em educação infantil tendo como base o cuidar, o brincar e o educar, possibilitando que as crianças se apropriem dos saberes e valores, crescendo pessoal e socialmente. Por meio de dados obtidos nesta pesquisa foi ressaltado que no anseio de ser uma escola acolhedora, que compreende as diferentes necessidades e a diversidade dos seus alunos, sem deixar de oferecer as condições e estímulos para que as crianças avancem no seu desenvolvimento cognitivo, motor e social, o CMEI desenvolve continuamente em seu currículo, atividades de artes, musicalização, identidade e autonomia, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade, matemática e expressão corporal. Contemplando assim, o que preconiza o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, ao determinar que, “Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES 25 desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis.” (BRASIL, 1998, p. 23). Deste modo, este currículo considera a aprendizagem como sócio interativo, envolvendo valores e criando condições para que os alunos vivenciem a realidade a partir de várias perspectivas, trabalhando-se principalmente o desenvolvimento do raciocínio e da reflexão, do aprender a pensar, buscar soluções, criar e agir em diferentes situações utilizando suas habilidades e capacidades. Referente à questão da avaliação do processo de ensino e aprendizagem e da realidade neste CMEI, esta realiza-se conforme está predito na LDB, no art. 31, em que “avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção”, sendo contínua e servindo como instrumento para adequação dos estímulos para a superação dos níveis que se encontram para os mais avançados. O corpo docente do CMEI trabalha com a proposta da metodologia dialética, partindo dos seguintes princípios: que o conhecimento se constrói a partir de conhecimentos anteriores; que o conhecimento acontece por sua ação sobre o objeto; que os sujeitos aprendem em tempos diferentes e na interação com o objeto de estudo, que o aluno não aprende na reprodução e na passividade. O processo de conhecimento dá-se principalmente por meio do lúdico, que é utilizado como forma de estimular 26 Carla Valéria Lopes Rodrigues • Maria Vanessa Vieira da Costa Raquel Silva de Oliveira a curiosidade, o que remete a criança à descoberta. No PPP destaca-se que esta realidade da educação infantil apresenta a missão de contribuir para a construção da identidade individual e coletiva de cada criança, assim como no brincar, no imaginar, no desejar e no aprender; criando um ambiente de bem-estar e interação com o outro. À guisa de algumas conclusões Perspectivando apresentar aspectos conclusivos produzidos nesta atividade de formação de pedagogos, por meio da presente pesquisa, foi possível estabelecer a unidade teoria e a prática no que se refere a base legal, fundamentos teóricos e curriculares que possibilitam compreender melhor a organização da educação escolar infantil, conhecendo a função dos sujeitos envolvidos na construção e articulação do processo de ensino e aprendizagem. Para a realização das reflexões acerca da temática discutida foi necessária uma aproximação com os documentos normativos que regem a escola, o que propiciou uma reflexão acerca do quão importante, necessária e urgente é a gestão democrática e suas consequências para a educação e as práticas pedagógicas. Através da observação nas dependências da escola, conheceu-se sua estrutura física, constatou-se que a mesma oferece um espaço favorável ao desenvolvimento e aprendizagem dos alunos, um ambiente aconchegante e acolhedor que nos faz desejar viver a infância. No que se refere ao compromisso dos professores paramediar e orientar a aprendizagem neste nível de escolarização, os mesmo são empenhados em criar o melhor ambiente educativo, contudo, é importante afirmar que a falta de formação continuada neste espaço escolar para lidar com as PEDAGOGAS EM FORMAÇÃO INICIAL: PESQUISA DE CAMPO SOBRE EDUCAÇÃO INFANTIL E QUESTÕES CURRICULARES 27 crianças especiais e alcançar as metas propostas pela rede educativa, sendo embargo para ter-se a educação que se busca que se espera em um currículo inclusivo para o desenvolvimento pleno e integral de todas as crianças de acordo com suas necessidades pedagógicas e humanas. Referências BOGDAN, Robert C. e BIKLEN, Sari Knoop. Investigação qualitativa em educação. São Paulo: Porto Editora, 1994. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações determinadas pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/94, pelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a 91/2016 e pelo Decreto Legislativo no 186/2008. – Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2016. 496 p. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2014. LDB: Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2017. OLIVEIRA, Z. M. R; CRUZ, V. O currículo na educação infantil: o que propõem as novas diretrizes nacionais? In: SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO. 2010, Belo Horizonte. Anais do I Seminário Nacional: Currículo em movimento – perspectivas atuais. Belo Horizonte, 2010. p. 1-14. A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 29 A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Levinsky Alves de Sousa Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu A Educação Infantil é caracterizada como um dos pilares essenciais da Educação Básica e é durante essa etapa de ensino onde são desenvolvidas e aperfeiçoadas inúmeras habilidades e capacidades motoras e cognitivas das crianças, através de brincadeiras e interações que estimulam as aprendizagens e o desenvolvimento. Atualmente muitas são as pesquisas que apontam para a ação de práticas docentes que busquem novos artifícios metodológicos de ensino. Dessa maneira a música aparece como uma aliada à possibilidade de garantir uma educação mais significativa e prazerosa para a criança. 30 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu Ensinar, produzir conhecimentos, formar o ser humano para determinadas atividades, por mais conteúdo que ele possa assimilar e por mais técnicas que ele consiga dominar, se não efetivar mudanças individuais e coletivas, se não operar o desenvolvimento da criança, não se caracteriza como prática educativa. O ato verdadeiramente educativo promove o ser humano, desenvolve o senso crítico e a capacidade criativa ou inventiva sobre a realidade porque amplia o olhar sobre o mundo e possibilita a liberdade. Durante a formação acadêmica em pedagogia pouco se vê sobre o ensino ou desenvolvimento de atividades musicalizadas, visto que a música, embora ainda não trabalhada de forma apropriada, é bastante ensinada e utilizada nas instituições de educação infantil. Assim, há diversas lacunas a serem preenchidas na educação musical ou na educação musicalizada e, portanto, faz-se as seguintes indagações: como professores recém-formados trabalham com a música? A música é utilizada na Educação Infantil somente como passa tempo, para entreter as crianças ou como atividade educativa? Percebe-se assim a necessidade da abertura de diálogos e realização de pesquisas a fim de analisar como estão sendo as formações dos profissionais de Educação Infantil e como eles enfrentam determinadas realidades educacionais. Legalmente, o ensino da música é assegurado em muitos documentos oficiais, como exemplos, na Constituição de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, além da Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008 que torna obrigatório o ensino de música na educação básica. Todavia, referindo-se à Educação Infantil, há o Referencial Curricular Nacional para a prática pedagógica nessa etapa do Ensino Básico e a atual Base Nacional Comum Curricular como diretrizes e orientações para o ensino da A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 31 música e para o trabalho educativo com a utilização da mesma. Esses dois documentos possibilitam ao aluno compreender o mundo por outra vertente, onde é possível criar e recriar, criticar e apreciar tornando o ensino muito mais significativo. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), observando as vantagens musicais, entende que Ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, jogos de mãos, etc., são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Aprender música significa integrar experiências que envolvem a vivência, a percepção e a reflexão, encaminhando-as para níveis cada vez mais elaborados. (BRASIL, 1998, p. 48). Isso significa que o uso da música como ferramenta de ensino perpassa os muros das salas de aulas e das escolas, proporcionando ao aluno a modificação da sua perspectiva sobre o seu interior e meio social. Com base nos documentos legais, o ensino de música torna-se obrigatório na educação básica, todavia, discute-se neste trabalho a Educação Infantil, por compreendê-la como um campo de conhecimento no qual a música pode oferecer muito mais contribuições em relação a outras áreas e níveis escolares em função do tipo de conteúdo e atividades trabalhadas e por ser a etapa em que a criança tem as suas estruturas cognitivas potencializadas deslanchando-se no seu desenvolvimento. Assim, pode-se afirmar que a música se insere no meio educacional com a possibilidade de garantir e promover o desenvolvimento integral da criança, na maneira em que esta 32 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu possa e tenha o direito de aprender brincando e também estar adquirindo novas capacidades cognitivas e aptidões que a ajudem no seu processo de aprendizagem. Dessa maneira, o objetivo deste trabalho é analisar como a musicalização é trabalhada na Educação Infantil por professores não licenciados em música. Percebe-se muitas possibilidades do campo de conhecimento da música na prática pedagógica tendo em vista a importância do ensino musical nesse nível da educação escolar como provedora do desenvolvimento, habilidades e aptidões cognitivas na criança. Procedimentos metodológicos O primeiro procedimento metodológico desenvolvido nesta pesquisa foi reunir informações de como o ensino musical é previsto em lei e nos documentos legais vigentes que são utilizados como parâmetros para a efetivação de uma Educação de qualidade. Em seguida, discutir a importância desse campo de conhecimento no desenvolvimento da criança e como os professores da Educação Infantil podem contribuir, com o ensino musical, no desenvolvimento de uma aprendizagem significativa para a criança. Com esse propósito fez-se um ensaio do estado da arte do tema com o estudo e organização de cinco pesquisas realizadas entre os anos de 2010 e 2016. Sendo estas publicações autoria de Stravacas (2010); Antunes (2013); Tavares (2013); Cunha (2014), e Viana (2016). Tais pesquisas foram coletadas na Plataforma da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e no banco de dados da Scielo, sendo avaliadas individualmente até chegar às análises a seguir. A FORMAÇÃO DOCENTEE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 33 Desenvolvimento: aspectos conceituais em discussão A primeira publicação analisada, intitulada “O papel da Música na Educação Infantil” é um artigo fruto de uma dissertação de mestrado de Stravacas e Gohn (2010) na qual foi analisado a presença e a forma de utilização da música em práticas educativas da Educação Infantil. O estudo, por meio de reflexões e questionamentos, aborda as diversas possibilidades da música para a construção do conhecimento que são apontadas como necessárias para a criança. A música é uma arte presente em todas as culturas como linguagem simbólica, que permite à criança expressar suas emoções e sentimentos, contribuindo para sua formação integral. O trabalho com a musicalização infantil permite ao aluno desenvolver também sua percepção auditiva, controle rítmico-motor, o uso da voz falada e cantada, estimula a criatividade em todas as áreas, aumenta a concentração, o raciocínio, a memória dentre outras habilidades. Stravacas e Gohn (2010) mostram que uma das formas de se identificar o papel da música na Educação Infantil é investigar o conjunto de leis e documentos oficiais, tais como a Constituição de 1998; o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990); a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 (LDBEN) e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998) por meio dos quais a música passa a ter seu papel fundamentado, estando presente em todas as culturas, fazendo-se necessária e justificável dentro do contexto escolar. Entretanto, como afirmam Stravacas e Gohn (2010), a falta de formação especifica em música dificulta as ações pedagógicas do professor, fazendo com que muitos continuem 34 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu a tratá-la apenas como uma atividade do dia-a-dia sem maiores expectativas. Por exemplo, cantar uma música para tomar o lanche, formar a fila etc., não havendo uma aprendizagem significativa através dela. Quando a música é percebida pelos educadores como fonte de ensino-aprendizagem, as ações mais comuns realizadas transformam-se em vivências capazes de estimular o desenvolvimento da criança, que ocorre pela intensa relação da música com o brincar. A segunda publicação analisada tem como título “Música na Educação Infantil: estratégias, propostas e concepções de ensino de música” é uma dissertação de mestrado de Tavares (2013), que procurou identificar e compreender como se processa o ensino de música nos Centros Municipais de Educação Infantil do município de Vitória (ES), a partir do surgimento de dificuldades relacionadas ao ensino de música nessas instituições. Segundo Tavares (2013), a música é uma prática constante dentro dos espaços da educação infantil visto que esta exerce grande influência na criança. No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI, 1998), o documento enfatiza a importância da música na educação e a considera como área do conhecimento e não apenas como um “suporte” para atender as diversas outras propostas de ensino. Partindo desta perspectiva, Tavares (2013) assegura que algumas dificuldades relacionadas ao ensino de música foram emergindo nos Centros Municipais de Educação Infantil nos quais realizaram-se as pesquisas, como a ausência de uma organização curricular, a falta de espaços adequados e de materiais pedagógicos específicos para trabalhar a faixa etária das crianças nesse nível de ensino. A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 35 Outro ponto diz respeito aos profissionais licenciados em música, que exigem formação especifica para atuarem com a faixa etária desse segmento da educação, pois não recebem orientações durante sua formação universitária, além de se verem defrontados com turmas muito numerosas, a ausência de locais adequados para as aulas e a precariedade no uso irregular dos documentos que asseguram o ensino desse campo do conhecimento. A terceira publicação analisada, intitulada “Música e Educação Infantil: formação de profissionais atuantes em Brasília”, é uma dissertação de mestrado de Antunes (2013), a qual investiga a formação de profissionais que trabalham com a música em instituições de Educação Infantil em Brasília (DF). Essa pesquisa possibilitou identificar a vivência e a formação musical dos profissionais, conhecer suas experiências docentes, identificar as fontes de informação e conhecimento que complementa e atualiza a formação dos profissionais. Antunes (2013) afirma que a presença da música na Educação Básica é uma discursão recorrente no contexto educacional brasileiro. Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e a Lei nº. 11.769/2008, que institui a obrigatoriedade do conteúdo de música, estimularam- se debates abordando questões relacionadas à presença/ ausência da música na educação básica; as práticas pedagógico- musicais; as funções da música na escola; as políticas e ações de formação de professores, dentre outros questionamentos. Antunes (2013) esclarece ainda que na legislação a Educação Infantil é caracterizada como um espaço de atuação do pedagogo, entretanto no cotidiano da escola percebe- se uma situação diversificada com atuação de diferentes profissionais: licenciados em música, estudantes de música, 36 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu técnicos, músicos profissionais, animadores e outros, que são contratados para trabalhar como professores, monitores e voluntários, principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, observa-se que a escolaridade dos profissionais é diversa, desde o ensino médio completo à especialização completa. Antunes (2013) ressalta que a inserção desses profissionais tem acontecido de diversas maneiras, verificando- se a valorização de profissionais com “perfil musical”. No entanto, em muitos casos vê-se a ausência do contato com a prática na Educação Infantil em suas formações iniciais, ou seja, suas formações acadêmicas não abordam conhecimentos específicos desta etapa de escolarização, bem como reflexões sobre a criança, o ensino e aprendizagem musical nesse contexto educacional. Além de outras dificuldades também encontradas, como a falta de materiais e espaços adequados nas escolas para a prática musical. A quarta publicação analisada tem como título “Eu Canto pra Você: saberes musicais de professores na primeira infância”. É uma tese de doutorado de Cunha (2014), que enfocou os saberes que professores (as) da pequena infância utilizam para trabalhar a música quando não são especialistas no assunto e não passaram por um aprendizado profissionalizante nessa área. O trabalho mostra se há possibilidade de buscar aprofundamentos que promovam mudanças nas práticas musicais instituídas e construir um trabalho em que a música seja pensada também como uma área do conhecimento. Com base em experiências vivenciadas por Cunha (2014), em cursos de aperfeiçoamento e formação continuada na educação musical para professores, percebeu-se que, ao voltarem às suas escolas, os docentes quase nunca conseguiam A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 37 incorporar seus novos conhecimentos às suas práticas anteriores. A partir dessa situação foi elaborada uma proposta interventiva, na qual utilizando-se dos conhecimentos preexistentes e o interesse das professoras envolvidas na proposta, a pesquisadora desenvolveu um processo investigativo e reflexivo para as consequentes mudanças e contribuições no trabalho dessas docentes com o desenvolvimento de sua atuação em música. Isso possibilitou novos modos de fazer e ensinar música, pensando nesta como área do conhecimento, fazendo com que as professoras repensem suas concepções e práticas que muitas vezes utilizama educação musical apenas como um apoio para outras disciplinas ou como recreação e entretenimento. E também, propor avanços nas práticas docentes juntamente com a ação musical das crianças. Após o percurso de investigação Cunha (2014) propôs algumas reflexões pertinentes neste processo, como exemplo, o fato de não ser músico profissional, ao invés de ter trazido amarras, trouxeram aberturas, possibilidades múltiplas de construção de um trabalho consistente em música, onde as professoras em questão foram levadas a estabelecerem conexões entre os assuntos e buscarem caminhos, tornando visíveis os conteúdos trabalhados. Assim, propôs-se um currículo aberto e construído em sintonia com as crianças, pensando sobre a prática e também a certeza que o fazer artístico produz conhecimento. A quinta e última publicação analisada, intitulada “A Linguagem Musical na Educação Infantil: reflexões e possibilidades”, é uma dissertação de mestrado de Viana (2016), que teve como objetivo investigar a função da música na Educação Infantil de acordo com as exigências dos documentos, como as Diretrizes Curriculares Nacionais 38 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu para a Educação Infantil - DCNEI (BRASIL, 1999, 2010) e O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI (BRASIL, 1998), pois, de acordo com alguns estudos, a música vem atendendo a vários objetivos que não são próprios da linguagem musical. Viana (2016), partindo de algumas experiências em assessoria e formação continuada em educação musical para professores, observou que muitos docentes alegavam terem dificuldades para introduzir a música de forma eficiente em sala e, possuir a música como uma área do conhecimento. Tornou-se assim imprescindível observar e estudar como a musicalização contribui direta ou indiretamente na vida das crianças. O estudo levantou questões relacionadas à qualidade na formação do professor como propulsor do ambiente musical dentro da escola, o qual, como na Educação Infantil, não é especialista no assunto e sim um professor polivalente que precisa dar conta de todas as áreas do conhecimento, inclusive a música. Viana (2016) constatou que a maioria das iniciativas de oficinas e formação continuada possuem características muito parecidas em oferecer atividades para que os professores possam utilizar com seus alunos em sala de aula. Quando há somente uma mera reprodução dessas atividades acaba não contribuindo para o desenvolvimento da autonomia desses profissionais resultando em práticas cravadas em receitas prontas. Como resultados de sua pesquisa, Viana (2016) constatou que há divergências entre o currículo proposto e a prática das professoras em sala de aula, mesmo que elas possuam consciência do que seja retratado nos documentos curriculares. Visto isso, a autora identificou alguns motivos que A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 39 são responsáveis por essa alteridade. A linguagem do RCNEI ser bastante específica ao contexto musical, dificultando a compreensão de quem necessita, a ideia equivocada de que para estudar música é preciso um horário específico, não aderindo à interdisciplinaridade e a falta de interesse dos profissionais em saber o que é proposto no RCNEI foram os motivos que a autora supracitada encontrou para explicar a diferença existente entre a prática e teoria. Resultados e discussões Com base nas informações levantadas através das pesquisas analisadas neste trabalho, percebeu-se que a música, embora seja exigida nos documentos legais que servem como eixos norteadores para uma “educação de qualidade” e já sendo um campo de conhecimento muito vasto o qual dispõe de inúmeras contribuições, ainda vem adentrando timidamente nos ambientes escolares, principalmente nos centros de Educação Infantil. Ela necessita ser ensinada pela sua verdadeira finalidade em garantir o desenvolvimento integral da criança e não somente ser trabalhada como uma forma de entretenimento e diversão, sem uma intencionalidade pedagógica. Com este propósito, torna-se necessário compreender o papel da Educação Infantil enquanto etapa da Educação Básica. Para Arce e Jacomeli (2012, p. 1-2): A educação infantil não pode ser vista em oposição ao processo de escolarização, muito pelo contrário, ela constitui-se em uma forma de início da escolarização da criança pequena. Entretanto, gostaríamos de mais uma vez esclarecer que quando falamos em escolarização para 40 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu as crianças pequenas o fazemos a partir do respeito às características que seu desenvolvimento traz. Também não pensamos ou propomos uma educação infantil preparatória para o ensino fundamental, nem poderíamos, porque a psicologia histórico-cultural, que tem pautado nossas investigações, nos chama a atenção para a riqueza que essa faixa etária possui e para as infinitas possibilidades de ensino para ela. A inserção da educação infantil como primeira etapa da educação básica, vai além da simples reestruturação de um sistema escolar e do reconhecimento da importância de um nível de ensino, mas é, acima de tudo, a garantia de que a educação escolar começa nos primeiros anos de vida e a educação infantil é essencial para o cumprimento da finalidade do Ensino Básico. Há uma discussão em torno da terminologia relativa à educação de crianças menores de 05 (cinco) anos. Fala-se de ensino, escolarização, educação infantil ou outra coisa, o que suscitaria uma questão para estudo referente a essa área e seus profissionais, afetando as propostas curriculares, o cotidiano escolar, a articulação com o ensino fundamental, e de certa maneira mantendo a “precarização” das condições de trabalho em que vivem os profissionais dessa área e até as questões de gênero, no que tange à presença das mulheres e dos homens na cultura escolar nesse nível de ensino (ABREU, 2017). A construção do perfil profissional, a ausência desses estudos na formação inicial e continuada, que passa a ser essencial quando não se tem um suporte acadêmico, são obstáculos para que os propósitos da música sejam alcançados. No entanto, embora se encontre algumas adversidades ainda nesse processo, é possível identificar profissionais que A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 41 conseguem desenvolver atividades musicalizadas para as crianças, colocando significação e intencionalidade em suas práticas e ações educativas. A nova proposta curricular, Base Nacional Comum Curricular – BNCC, introduz em seu texto uma seção destinada à disciplina de arte para o Ensino Fundamental e a música foi incluída como uma forma de arte a ser usada nas escolas. Porém, os objetivos, habilidades e competências trazidas para um determinado público, pode ser transferida facilmente à Educação Infantil, já que a base é uma orientação à prática dos professores. Analisando o ensino musical na perspectiva da Educação Infantil, nota-se a importância de se trabalhar esse conhecimento desde cedo, logo nos primeiros anos escolares, pois a BNCC diz que: A ampliação e a produção dos conhecimentos musicais passam pela percepção, experimentação, reprodução, manipulação e criação de materiais sonoros diversos, dos mais próximos aos mais distantes da cultura musical dos alunos. Esse processo lhes possibilita vivenciar a música interrelacionada à diversidade e desenvolver saberes musicais fundamentais para sua inserção e participação crítica e ativa na sociedade (BRASIL, 2017, p. 192). O documento orienta que através da música a criança explorará as próprias competências individuais e coletivas em meio às práticas musicais, conhecendo a si próprio e o próximo, compreenderá em qual cultura estará inserida, consequentemente entenderá quem ela é dentro dessa mesma cultura e perceberáonde e como deve atuar social e culturalmente. Além da possibilidade de o professor trabalhar 42 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu esses conhecimentos em outras disciplinas, possibilitando a execução da interdisciplinaridade. Visto isso, é importante levar em consideração que ao desenvolver atividades musicais elas não estarão voltadas somente para aprender a tocar um instrumento ou fazer cantigas, que se tornam até inviáveis para um profissional que não tem uma formação ou passou por um treinamento específico. Mas acaba indo além disso, pois há a possibilidade de utilizar os conhecimentos prévios, promovendo interdisciplinaridade e elaborando estratégias de ensino e na aplicação de atividades lúdicas, que estimulem as crianças ao prazer de conhecer e explorar coisas novas. Para isso, o primeiro ponto a ser colocado como mudança é o conhecimento acerca da importância desse conteúdo para o mundo e aprendizado da criança e após isso a real transformação da prática pedagógica, porque ela realmente estará fundamentada e bem direcionada para as possibilidades de desenvolvimento que a mesma pode atingir. Dessa forma, torna-se imprescindível que os professores e os futuros professores tenham a oportunidade e interesse em aprofundar- se, por meio de estudos e pesquisas, em outras áreas, que também produzam conhecimento afim de que possam refletir sobre as práticas, que muitas vezes se distanciam do verdadeiro propósito que tem a música para agregar no processo de ensino e aprendizagem. Conclusão Por fim, através das vivências e experiências relatadas nas pesquisas, é possível compreender o seguinte: que há ainda um cenário muito precário com relação às inovações metodológicas A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 43 para o uso e o ensino com a música nas realidades educacionais de ensino infantil; há falta de interesse ou déficit de aptidões práticas docentes e algumas instituições não oferecem um suporte adequado para a execução de tais procedimentos. Isso nos instiga a perceber a imprescindibilidade da formação docente e, por conseguinte, uma formação continuada para que assim os profissionais em educação consigam suprir e até mesmo revigorar os espaços escolares. Entretanto, apesar de ainda não existirem muitos casos de práticas interventivas, estas já representam uma grande iniciativa e a possibilidade de abertura de novos diálogos e trocas de experiências consideradas de fato praticas pedagógicas inovadoras no processo de ensino e aprendizagem. A educação escolar, em todos os níveis, necessita ser repensada, desde a formação do professor ao ofício docente, em função de uma prática que atenda aos anseios da realidade daqueles interessados no processo educativo. Nesse aspecto a formação do professor para a Educação Infantil ocupa um papel importante, pois somente o exercício de ensinar a aprender faz com que o educando evolua e esta prática só é possível na escola que ensina através da arte, da música, criando e recriando construtivamente. É assim, que quem ensina descobre o novo para ensinar e quem aprende descobre a novidade para intervir e mudar a realidade, o que pode ser trabalhado na formação inicial para atuação na Educação Infantil. Referências ABREU, Jânio Jorge Vieira de. Masculinidades e Educação Infantil na cultura escolar dos Cursos de Licenciatura em 44 Levinsky Alves de Sousa • Lívia Silva Alves Jânio Jorge Vieira de Abreu Pedagogia de Teresina – PI, Brasil. Teresina, 2017, 234 f., Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Piauí. ANTUNES, L. R. Música e Educação Infantil: Formação de profissionais atuantes em Brasília. Brasília, 2013. Dissertação (Mestrado em Educação Musical) – Programa de Pós- Graduação “Música em Contexto”, Universidade de Brasília. ARCE, Alessandra & JACOMELI, Mara Regina Martins (Orgs.). Educação infantil versus educação escolar?: entre a (des) escolarização e a precarização do trabalho pedagógico nas salas de aula. Campinas, SP: Autores Associados, 2012 – (Coleção Educação contemporânea). BRASIL, Ministério da Educação. Base nacional Comum Curricular. Brasília, 2017. BRASIL, Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília, 1998. CUNHA, S. M. da. Eu Canto pra você: saberes musicais de professores na primeira infância. São Paulo, 2014. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. GOHN, M. da G.; STAVRACAS, I. O papel da música na Educação Infantil. EccoS, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 85-103, jul./dez. 2010. TAVARES, C. D. Música na educação infantil: Estratégias, propostas e concepções de ensino de música em escolas de A FORMAÇÃO DOCENTE E AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DE MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 45 ensino regular do município de Vitória (ES). Belo Horizonte, 2013. Dissertação (Mestrado em Música) – Curso de Mestrado da Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais. VIANA, E. A Linguagem Musical na Educação Infantil: reflexões e possibilidades. Araraquara-SP, 2016. Dissertação (Mestrado em Processos de Ensino, Gestão e Inovação) – Programa de Pósgraduação em Processos de Ensino, Gestão e Inovação, Centro Universitário de Araraquara – UNIARA. O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS 47 O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS Maria do Socorro de Resende Borges A Educação Infantil vem paulatinamente se expandindo, a cada dia, o número de crianças inseridas nessa etapa de ensino é maior. Não obstante isso, ainda há um longo caminho a ser percorrido para sua universalização no Brasil. Nesse contexto, a formação de professores e educadores de infância é um componente importante no processo de desenvolvimento. Diante desse cenário, foi proposto o seguinte problema: Qual a importância da formação especifica do professor para a qualidade na Educação Infantil? Logo, a formação constitui-se em um dos fatores de promoção das práticas de qualidade. Portanto, a formação dos profissionais de crianças pequenas revela-se de extrema importância no desenvolvimento do contexto educacional. Nesse sentido foi produzido um estudo com o objetivo geral de 48 Maria do Socorro de Resende Borges analisar a importância da formação específica da professora para a qualidade na Educação Infantil. Assim os objetivos específicos se dispõem: compreender as contribuições da formação específica para a qualidade na Educação Infantil; reconhecer a especificidade que caracteriza a formação do professor da Educação Infantil. Sendo assim, os estudos foi fundamentado em pesquisa bibliográfica de alguns teóricos como: Silva (2008), Brasil (1994; 1996; 1998), Gatti e Barreto (2009), Gomes (2013), Oliveira (2002;2011), dentre outros, deram suporte aos conceitos acerca do assunto, fornecendo informações importantes para a produção deste trabalho. Formação de professores e sua prática docente na qualidade da educação infantil A formação de professores necessita ser compreendida como um direito, uma vez que esse profissional aprimorando sua prática docente vai adquirir conhecimentos necessários a melhoria da qualidade da educação infantil. É importante também salientar que a formação específica desse profissional contribui de maneira efetiva para o sucesso do ensino aprendizagem da criança pequena. Assim SILVA, (2008, p. 52): As qualidades da prática profissional dos professores de educação infantil em função do que requer o trabalho educativo o trabalho educativo (a profissionalidade) estão diretamente associadas à conquista dos direitos das crianças nas últimas décadas no Brasil, representando a base para sua compreensão. O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS 49 Desse modo,o professor é perspectivado como um sujeito de mudança para construção de uma sociedade mais justa e equitativa, e, simultaneamente, apontados como um dos recursos relevante para responder adequadamente aos desafios levantados pela sociedade em mudança. Contudo, apesar de atualmente haver uma preocupação ampla com a formação dos profissionais no campo da educação infantil, no Brasil existe ainda uma situação bastante complexa. Posto que, ainda subsiste uma grande parcela de educadores leigos, sem ao menos uma formação inicial para o magistério em nível médio, incluindo-se o meio urbano e rural. Segundo (BRASIL, 1998, p.39, V1): Nessa perspectiva, os debates têm indicado a necessidade de uma formação mais abrangente e unificadora para profissionais tanto de creche como de pré-escolas e de uma reestruturação dos quadros de carreira que leve em consideração os conhecimentos já acumulados no exercício profissional, como possibilidade e atualização profissional. Assim sendo, evidencia-se a necessidade de se ter professores com formação especifica na Educação Infantil, pois, tal formação traz como diferencial um docente mais preparado; capaz de promover múltiplas interações que envolva o acolhimento, a dimensão afetiva, o respeito às necessidades e interesses da criança e aos seus padrões culturais, captando-os para os propósitos do trabalho desenvolvido. E a atuação de um profissional diferenciado, com formação específica, gera: a ampliação permanente do universo sociocultural do aluno; um novo dimensionamento para educar, para o ensino e o aprender; uma permanente reflexão sobre os 50 Maria do Socorro de Resende Borges propósitos que guiam suas práticas e sobre as concepções, que embasam suas ações; e, não menos importante, um estímulo à construção de um processo de identidade profissional, que o conduzirá a olhar o próprio percurso formativo em uma perspectiva de desenvolvimento profissional. Em 2007, o Censo Escolar traz amostragem dos professores que atuam nas creches brasileiras em relação à formação dos docentes. A pesquisa apresenta que nessas instituições atuam 95.643 professores, 82,2% dos quais têm a formação requerida pela atual legislação para o exercício do ofício: 45% apresentam o magistério na modalidade Normal e 37,2% possuem nível superior com licenciatura. Assim, os resultados censitários evidenciam que quase a totalidade dos professores de creche (98,9%) lecionam em apenas uma escola e 88,6% ensinam para apenas uma turma. (BRASIL, 2007). O Censo de 2007 traz ainda que em relação à pré-escola, dos 240.543 docentes, somente 86,9% possuem a formação exigida pela LDB, sendo 45,5% com escolaridade superior e licenciatura e 41,4% com o curso Normal ou Magistério. Os demais professores dessa etapa que não apresentam a formação adequada, encontram-se distribuídos: 5,6% têm nível superior sem licenciatura e 7,5% cursam o ensino médio ou o ensino fundamental (BRASIL, 2007). Vale ressaltar que 30.993 docentes possuem curso de formação específica para atuar na pré-escola, número mais elevado do que o encontrado em creche (11.292) (BRASIL, 2007). Então, por esses dados pode-se observar que o maior número de professores habilitados se encontra na pré- escola. Isso está em consonância com o percurso histórico da creche, pois o seu atendimento se expandiu na área da O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS 51 assistência social, sem exigência de um profissional com uma habilitação específica. Diferentemente das pré-escolas, que se desenvolveram no âmbito da educação e demandaram profissionais habilitados para o exercício do magistério. Segundo GATTI e BARRETO, (2009), em um estudo realizado no Brasil, identificou-se que na educação infantil se concentra professores mais jovens, mulheres, não brancas e com menor escolaridade. Outro fator preponderante apontado no referido estudo é que, justamente, nessa etapa da educação básica, onde se encontram as maiores frequências dos educadores que auferem remuneração mais baixa, na faixa de um a dois salários mínimos mensais, quando comparados com os demais docentes das outras etapas de ensino. Essa comparação leva em consideração as seguintes variáveis: formação, jornada de trabalho e vínculo empregatício. Portanto pode ser percebido que o descompromisso das políticas públicas com o professor da educação infantil compromete a qualidade das ações desenvolvidas com e para as crianças. Na tabela abaixo pode visualizar a distribuição percentual das funções docentes na Educação Infantil em relação à formação. 52 Maria do Socorro de Resende Borges TABELA 1 - Funções docentes na educação básica e na Educação Infantil (creche e pré-escola) no Brasil e respectiva distribuição percentual segundo formação, 2011. Variável Funções Docente Educação Básica Educação Infantil Total Creche Pré-escola Brasil 2.045.350 408.379 163.148 265.000 Fundamental 1 1 2 1 Médio 6 8 9 8 Médio-Normal Magistério 19 33 33 33 Superior 74 57 56 59 - Superior s/Licenciatura* 17,5 15 15 15 Com curso específico de 40 horas - - 15 17,4 Fonte: INEP, Sinopse estatística da educação básica, 2011. * O percentual se refere ao total dos que possuem curso superior. Em 1994 o Ministério da Educação e Cultura (BRASIL/ MEC 1994) promoveu o I Simpósio Nacional de Educação Infantil, com a finalidade de abordar questões relativas às políticas públicas da educação. Dentre essas questões pode-se destacar a preocupação com o currículo da Educação Infantil e dos cursos de formação de seus professores. O trecho do relatório salienta que a prática desse currículo só se torna significativa mediante a constante reflexão crítica do mesmo, reflexão esta que precisa ser feita tanto pelos professores das mais diversas instâncias quanto pela comunidade em que atuam/atuarão esses professores. (BRASIL/MEC 1994). O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS 53 Outra questão entre as alternativas pedagógicas abordadas no relatório foi a da necessidade de integrar o cuidar-educar, a qual deveria fundamentar a Educação Infantil e a formação de seus professores, concebendo as duas dimensões como de igual interesse no desenvolvimento do trabalho pedagógico na Educação Infantil, como ressalta o seguinte trecho do relatório do MEC 1994: Se a Educação Infantil fundamenta-se no binômio cuidar/ educar, a formação de seus professores deve também pautar-se nele. A conjugação dessas atividades, bem como o preparo para exercê-las, precisa necessariamente despir-se de uma visão hierarquizada das atividades de educar e cuidar, uma vez que ambas partilham de igual importância no cotidiano da Educação Infantil. Não deve haver distanciamento e/ou sobreposição do trabalho da professora que cuida e da que educa, entre a universidade e a escola básica, entre o trabalho manual e o intelectual entre o fazer e o pensar, uma vez que, tal como o homem a que se dirigem, são indissociáveis. (BRASIL/MEC 1994). Com a nova LDB (Lei de Diretrizes Bases da Educação Nacional) de 1996, estabeleceu-se de forma incisiva pela primeira vez na história do Brasil, o vínculo entre o atendimento da criança de 0 a 6 anos e a educação, bem como, cresceram as discussões e os diagnósticos sobre a situação da educação infantil. Portanto, é possível constatar que a questão da habilitação adequada do professor que irá atuar junto à educação infantil é importante, tendo em vista a sua especificidade, conforme o artigo 62: Art.62 A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos 54 Maria do Socorro de Resende Borges superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, namodalidade Normal. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 20 de dezembro de 1996, tanto no seu artigo 21, inciso I como no seu artigo 29 elevam a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica, e o artigo 29 ainda destaca como finalidade “o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social complementando a ação da família e da comunidade” (art.29). Considerando o exposto GOMES, (2013, p.55) comenta: Em um momento em que a educação infantil se firma como porta de entrada da educação básica, direito da criança e opção da família, ações que promovam a socialização profissional de professores de educação infantil podem colaborar para o avanço de conquistas duramente alicerçadas no âmbito legal, sobretudo quando se levam em conta pesquisas que apontam um quadro de insuficiências a formação inicial e contínua dos profissionais de creche. (p.55). O fato de a educação infantil ser considerada a primeira etapa da Educação Básica e compor o sistema de ensino possibilitou a criação de projetos educativos que não dissociam o cuidado da educação. Outro ponto preponderante é que a LDB ao indicar a formação de professores para Educação Básica no âmbito da educação superior, mesmo admitindo a modalidade Normal como formação mínima, tornou legal a exigência de tal formação ao profissional da educação infantil. O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS 55 Após a promulgação da LDB, foram criados fóruns estaduais e regionais de educação infantil como espaços de reivindicações por mais verbas para programas de formação profissional para professores dessa área. Nesse contexto histórico em que tais discussões que vêm ocorrendo, é possível constatar que elas são motivadas pela importância da profissionalização docente para atuar na área da educação infantil. Assim sendo, exige-se um trabalho de ações conjuntas entre todos os profissionais da instituição, pais, governantes e a sociedade. Para OLIVEIRA (2002, p.12), “esse desafio precisa ser prioritariamente enfrentando pelas políticas do governo. Todavia, os professores são profissionais essenciais na construção dessa nova escola”. Em 1988 foi publicado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil pelo Ministério da Educação e do Desporto, o documento é fruto de um amplo debate nacional, no qual participaram professores e diversos profissionais que atuam diretamente com as crianças. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil pelo Ministério da Educação e do Desporto – RCNEI – surgiu da necessidade da busca de soluções educativas para superar a dicotomia existente entre a tradição assistencialista das creches, propondo, assim, a estreita vinculação entre concepções de crianças, educação, cuidados e aprendizagem para o desenvolvimento das práticas do professor na Educação Infantil, conforme consta em seu texto. (...) contribuir com a implantação ou implementação de práticas educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições necessárias para o exercício da cidadania das crianças brasileiras. Sua função é 56 Maria do Socorro de Resende Borges contribuir com as políticas e programas de educação infantil, socializando informações, discussões e pesquisas, subsidiando o trabalho educativo de técnicos, professores e demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais e municipais (BRASIL, 1998, p.15, V.1). De acordo com o RCNEI verificou-se que muitos dos profissionais que atuam na Educação Infantil “não têm formação adequada, recebem remuneração baixa e trabalham sob condições bastante precárias” (BRASIL, 1998, p 39, V 1). Portanto, segundo as concepções adotadas pelo o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil pelo Ministério da Educação e do Desporto) o profissional que irá trabalhar com crianças da Educação Infantil deve ser: um profissional polivalente; com ampla formação e que dialogue com as famílias e com a comunidade. (BRASIL, 1998, p.42, V.1) A publicação do RCNEI, associada à normatização imposta pela LDB e ao Parecer CEB/CNE nº22/98 (da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação), culminou na instituição de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil através da Resolução nº 1, de 7 de abril de 1999 (CEB 1/99) significando a implementação de princípios norteadores, fundamentos e procedimentos que devem ser comuns a todas as instituições de Educação Infantil no Brasil (BRASIL, 1998, p.42, V.1). Embora hoje haja uma grande preocupação com a formação dos professores no âmbito da Educação Infantil, existe ainda contraste entre a lei e a realidade, visto que no Brasil, como apontado anteriormente, ainda há uma quantidade significativa de professores leigos, sem ao menos uma formação O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL: SUA FORMAÇÃO ESPECÍFICA, PERSPECTIVA, AVANÇOS E CONQUISTAS 57 inicial para o magistério em nível médio atuando na Educação Infantil. Segundo OLIVEIRA, (2002, p. 39) aponta que: A nova dimensão da educação infantil, como primeira etapa da educação básica, gerou uma valorização do papel do profissional que se dedica à criança de 0 a 6 anos, com um novo patamar de habilitação, derivado das responsabilidades sociais e educativas que se espera dele. Sabemos, entretanto, que embora o nível de formação dos profissionais que atuam nas pré-escolas venha aumentando, ainda temos um percentual significativo que não têm o 2º grau completo. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) foi criado pela Emenda Constitucional nº 53, publicada no Diário Oficial da União, em 20 de dezembro 2006 e regulamentado pela Lei 11.494/2007e pelo Decreto nº 6.253/2007, sua implantação começou em 1º de janeiro de 2007, sendo plenamente concluído e regulamentado em 2009. Destaca-se que nessa proposta toda a educação básica: educação infantil; ensino fundamental; ensino médio e educação de jovens e adultos; passou a ser beneficiada com recursos federais. Um compromisso da União com a educação básica, com vigência estabelecida de 2007 a 2020. (BRASIL/ MEC_CEB 1/99) O FUNDEB tem como objetivo aumentar os recursos aplicados pela União, estados e municípios na educação pública e na melhoria da formação e dos salários dos profissionais da educação. Com a implantação do FUNDEB fica registrada uma importante conquista da Educação Infantil que é a sua inclusão. (BRASIL/MEC_CEB 1/99) 58 Maria do Socorro de Resende Borges As Diretrizes de 1999 (Parecer CNE/CEB nº22/98 e a Resolução CNE/CEB nº01/99) partiram da crítica às políticas públicas para a infância historicamente construídas no país, baseadas em iniciativas de assistência aos pobres e sem caráter emancipatório, e defenderam um novo paradigma de atendimento com base na Constituição Federal de 1988, que definiu o direito à educação das crianças de zero a cinco anos de idade em instituições de Educação Infantil. Tais Diretrizes trataram o cuidar e o educar como aspectos indissociáveis e defenderam uma concepção de criança como sujeito ativo que interage com o mundo por meio da brincadeira e principalmente como alguém com direito de viver sua infância. Daí a preocupação, manifestada no parecer, em combater a antecipação de rotinas e práticas características do Ensino Fundamental para orientar o trabalho com as crianças pequenas. (BRASIL/MEC_CEB 1/99) As diretrizes ainda apontaram as condições necessárias para a concretização dessas concepções (a concepção de avaliação, a formação dos professores e gestores, a atenção multidisciplinar às crianças conjunturais para o trabalho pedagógico). Os princípios curriculares nelas estabelecidas marcaram uma linha de continuidade com as demais etapas da Escola Básica, direcionando o olhar dos professores para a construção
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