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------------------------------- Tuberculose: características gerais -------------------------------- ● Tuberculose é uma doença infecciosa crônica e progressiva; ● Agente etiológico: micobactérias, principalmente a Mycobacterium tuberculosis, conhecida como bacilo de Koch; ● Bacilo de Koch: parede celular rica em lipídios confere baixa permeabilidade, o que reduz a efetividade da maioria dos antibióticos, facilita sua sobrevida nos macrófagos, e os torna é álcool-ácido resistente (BAAR); ● Transmissão: via aérea, de pessoa pra pessoa; ● Diagnóstico: exame bacteriológico microscópico de escarro (baciloscopia) para verificar a existência de bacilos álcool-ácido-resistentes (BAAR), com o auxílio de corantes de Ziehl-Neelsen ou Kinyoun. ○ Cultura: necessária para isolar as bactérias para o teste de suscetibilidade aos fármacos. ● Crianças com tuberculose pulmonar: em geral, têm baciloscopia negativa e, por isso, pouca importância na cadeia de transmissão da doença. ● Prognóstico: em pacientes imunocompetentes, o tratamento normalmente é curativo. Nos pacientes imunocomprometidos ou debilitados por outras razões, a mortalidade é de 10% dos casos. A tuberculose disseminada e as meningites por tuberculose podem ser fatais em até 25% dos casos, apesar de tratamento adequado. ● Sintomas: o paciente pode não apresentar nenhum sintoma. ○ Tosse: muito comum, pode ser produtiva de escarro amarelo ou verde; ○ Hemoptise: ocorre com tuberculose cavitária (devido a danos granulomatosos nos vasos, mas às vezes por causa de crescimento fúngico na cavidade); ○ Febre baixa e suores noturnos; ○ Dispneia. ● Prevenção: vacinação com bacilo Calmette-Guérin (BCG), a qual pode prevenir a infecção e reduz a taxa de tuberculose extra torácica em crianças, especialmente meningites por tuberculose. ● Infecção primária: 95% das infecções primárias são assintomáticas, pois o sistema imune suprime a replicação bacilar; ● Tuberculose primária: ocorre logo após a infecção primária, comum em crianças e imunossuprimidos. É grave, mas com baixa transmissibilidade; ● Infecção latente: os bacilos no pulmão ou em outros locais se transformaram em granulomas, onde sobrevivem durante anos; Caso haja um equilíbrio entre a resistência do hospedeiro e a virulência microbiana a infecção torna-se ativa; ● Infecção ativa: pessoas saudáveis infectadas têm risco de 5% a 10% de desenvolverem doença ativa ● Tuberculose pós-primária/secundária/latente: reativação da infecção; ● Tuberculose extrapulmonar: pode ocorrer em qualquer local, sendo que a meningite é a mais temida por causa de sua alta mortalidade. --------------------------------------------- Tratamento ---------------------------------------------- ● É primordial o acolhimento do usuário no serviço de saúde, desde o diagnóstico até a alta, sendo necessária uma abordagem humanizada e o estabelecimento de vínculo entre profissional de saúde e usuário, auxiliando no diagnóstico e na adesão ao tratamento. ● O paciente deve ser orientado, de forma clara, quanto às características clínicas da tuberculose e do tratamento. ● Informações referentes aos medicamentos, consequências do uso irregular, eventos adversos, controle de contatos e duração do tratamento devem ser fornecidas desde o primeiro contato com o paciente. Bases bacteriológicas e farmacológicas ● Medicamentos antituberculose: ou interferem no sistema enzimático do bacilo, ou bloqueiam a síntese de algum metabólito essencial para o seu crescimento; ● Os bacilos em estado de latência (sem atividade metabólica) não são atingidos pelos medicamentos, mas são destruídos pelo sistema imunológico; ● O bacilo é aeróbio e tem seu comportamento modulado pela concentração de oxigênio; ● Resistência adquirida na lesão pulmonar cavitária: há boa oferta de oxigênio, pH neutro e presença de substâncias nutritivas. Por conta dessas condições ideais, há intensa atividade metabólica e crescimento bacilar rápido. Em consequência das várias divisões, ocorrem mutações genéticas que conferem resistência natural aos medicamentos. Por isso, se o esquema terapêutico for equivocado, realizado de maneira irregular, com doses inadequadas ou interrompido, podem ser selecionadas cepas resistentes. ● A atuação dos medicamentos antituberculose difere conforme a localização e o metabolismo da população bacilar: Local ph [ ] O2 Medicamentos Intracelular (macrófagos) Ácido Baixa Rifampicina Pirazinamida Isoniazida Etambutol Lesões caseosas fechadas Neutro ou ácido Baixa Rifampicina Isoniazida Pirazinamida Lesão cavitária Neutro Boa Rifampicina Isoniazida Estreptomicina Etambutol Escolha do melhor esquema para o tratamento: ● É necessário levar em consideração a localização e o comportamento metabólico do bacilo; ● Deve apresentar: ○ Atividade microbicida precoce: capacidade de matar a maior quantidade de bacilos, o mais rapidamente possível (com mais velocidade). Características desejáveis: rápida melhora clínica, redução das chances de óbito, diminuição rápida da capacidade infectante e redução da possibilidade de selecionar bacilos resistentes. Medicamentos, em ordem de importância: isoniazida, rifampicina, fluoroquinolona, injetáveis, linezolida e etionamida. ○ Capacidade de prevenir o surgimento de bacilos resistentes: para tanto, é necessária a associação de diferentes medicamentos, uma vez que bacilos resistentes a um, podem ser sensíveis a outro. ○ Capacidade esterilizante: eliminar todos os bacilos presentes no indivíduo (em qualquer local). É definida pela proporção de recidivas que ocorrem após o término do tratamento. Característica desejável: evitar a possibilidade de recidivas. Medicamentos, em ordem de importância: rifampicina, pirazinamida, fluoroquinolonas, linezolida, clofazimina. ○ *A isoniazida e a rifampicina são ativas em todas as populações bacilares sensíveis, Atividade microbicida precoce Atividade esterilizante Prevenção de resistência Isoniazida Rifampicina Rifampicina Rifampicina Pirazinamida Isoniazida Levo e moxifloxacino Levo e moxifloxacino Etambutol Esquemas de tratamento para tuberculose ● No Brasil, o esquema de tratamento da tuberculose é padronizado de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde; ● Compreende duas fases: ○ Fase intensiva: tem como objetivo reduzir rapidamente a população bacilar (diminuindo a contagiosidade) e eliminar bacilos com resistência a algum medicamento. Por isso, são associados medicamentos com alto poder bactericida; ○ Fase de manutenção: tem como objetivo eliminar bacilos latentes ou persistentes, reduzindo a possibilidade de recidiva da doença. São associados dois medicamentos com boa atuação em todas as populações bacilares. ● Esquema básico de tratamento de adultos e adolescentes: 4 fármacos na fase intensiva e 2 fármacos na fase de manutenção, em forma de comprimidos do tipo 4 em 1 (RHZE) ou 2 em 1 (RH). ● Esquema básico de tratamento de crianças: 3 fármacos na fase intensiva (RHZ) e 2 fármacos na fase de manutenção, em forma de comprimidos ou suspensão individuais. ● Esquemas especiais para diferentes populações: o Ministério da Saúde recomenda sua utilização em unidades com perfis assistenciais especializados. R Rifampicina H Isoniazida Z Pirazinamida E Etambutol Esquema básico para o tratamento de adultos e adolescentes ● Indicado para as formas pulmonares e não pulmonares ativas (exceto meningoencefálica e osteoarticular). Duração Esquema Peso Dose 2 meses (fase intensiva) RHZE 150/75/400/275 mg (comprimidos combinados) 20 - 35 kg 2 comprimidos 36 - 50 kg 3 comprimidos 51 - 70 kg 4 comprimidos > 70 kg 5 comprimidos 4 meses (fase de manutenção) RH 300/150 mg (A) ou 150/75 mg (B) (comprimidos combinados) 20 - 35 kg 1 com. A ou 2 com. B 36-50 kg 1 com. A + 1 com. B ou 3 comprimidos B 51 - 70 kg 2 com. A ou 4 com. B > 70 kg 2 com. A + 1 com. B ou 5 comprimidos B ● Para o tratamento de tuberculose meningoencefálica e osteoarticular em adultos e adolescentes, utilizar o mesmo esquema, porém com 10 meses de duração nafase de manutenção. (Quando a tuberculose osteoarticular for de baixa complexidade, pode-se tratar em 6 meses). ● Nesses casos, associar corticoides como prednisona (1 a 2 mg/kg/dia) durante 4 semanas. Ou, nos casos de tuberculose meningoencefálica grave, dexametasona injetável (0,3 a 0,4 mg/kg/dia) durante 4 a 8 semanas, com redução gradual da dose nas quatro semanas subsequentes. Esquema básico para o tratamento de crianças < 10 anos Esquema/ fase Fármaco Peso e dosagem em mg/dia < 20 kg 21 - 25 kg 26 - 30 kg 31 - 35 kg 36 - 39 kg 40 - 44 kg > 45 kg 2 RHZ R 10-20 (15) 300 450 500 600 600 600 H 7-15 (10) 200 300 300 300 300 300 Z 30-40 (35) 750 1000 1000 1500 1500 2000 4 RH R 10-20 (15) 300 450 500 600 600 600 H 7-15 (10) 200 300 300 300 300 300 ● Especialistas podem avaliar a necessidade de incorporação de outros fármacos ao esquema de tratamento. Nesses casos, recomendamos que o seguimento ocorra em unidades de referência secundária e que seja registrado o esquema terapêutico individualizado no Sistema de Informação de Tratamentos Especiais de Tuberculose ● Assim como no tratamento de adultos, nos casos de tuberculose meningoencefálica ou osteoarticular, o tratamento da fase de manutenção deve ser feito por 10 meses. Totalizando 12 meses de tratamento. ● Além disso, também podem ser associados os mesmos corticosteróides utilizados em adultos. Considerações sobre o tratamento ● Em todos os esquemas, os medicamentos são ingeridos uma única vez diariamente. ● Em casos que não houver evolução clínica satisfatória, o tratamento poderá ser prolongado na sua segunda fase para sete meses. ● Uma vez iniciado o tratamento, ele não deve ser interrompido, salvo após uma rigorosa revisão clínica e laboratorial que determine mudança de diagnóstico. Seguimento do tratamento Procedimento 1º mês 2º mês 3º mês 4º mês 5º mês 6º mês Teste de HIV ✓ Consultas ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ Avaliação da adesão ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ Baciloscopia ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ ✓ Radiografia ✓ ✓ Tratamento em condições especiais: gestantes ● O tratamento da tuberculose, além de ser importante para a gestante, diminui o risco de transmissão ao feto e ao recém nascido. ● O Esquema Básico pode ser administrado nas doses habituais, exceto pelo risco de toxicidade neurológica ao feto da isoniazida, por isso recomenda-se o uso de piridoxina (50mg/dia). Deve-se dar uma atenção especial ao monitoramento das reações adversas. ● Não há contraindicações à amamentação, desde que a mãe não seja portadora de mastite tuberculosa. Mas, recomenda-se que faça uso de máscara cirúrgica ao amamentar e ao cuidar da criança, enquanto a baciloscopia do escarro se mantiver positiva. Tratamento em condições especiais: hepatopatias ● Alguns dos medicamentos antituberculose apresentam hepatotoxicidade, que pode ser potencializada por interações medicamentosas ou uso de doses acima das recomendadas. ● Em poucos pacientes, observa-se elevação assintomática dos níveis séricos das enzimas hepáticas. Porém, o tratamento só deve ser interrompido caso os valores das enzimas atinjam cinco vezes o valor normal em pacientes sem sintomas, ou três vezes o valor normal se houver sintomas dispépticos, ou logo que a icterícia se manifeste. ● Segue tabela com esquema de tratamento. Siglas: R (rifampicina), E (etambutol) Lfx (levofloxacino), Cm (capreomicina). ● *As fluoroquinolonas induzem à resistência microbiana em curto período. ● *Substituir a capreomicina por estreptomicina quando for sensível e sem história de utilização prévia da estreptomicina. Paciente Caso Fármacos Duração Com doença hepática prévia Sem cirrose TGO/TGP até 5x > normal Esq. básico 6 meses TGO/TGP > 5x normal RELfx 9 meses Cm* E Lfx 5 meses Com cirrose Cm* E Lfx 5 meses E Lfx 7 meses Sem doença hepática prévia (com hepatotoxicidade) TGO/TGP >5x normal (sem sintomas) Interromper o tratamento e, após normalização, retornar ao Esquema Básico.TGO/TGP >3x normal (com sintomas) Se após 4 semanas mantiver TGO/TGP >3x normal ou em casos graves Cm* E Lfx 5 meses E Lfx 7 meses Cm* deve ser administrada 3x na semana. Cm* E Lfx e E Lfx não são administrados em doses combinadas. Tratamento em condições especiais: nefropatias ● Nos pacientes com nefropatia é preciso conhecer a taxa de depuração de creatinina/clearance, que avalia a velocidade e a eficiência da filtração sanguínea nos rins, ajudando a detectar disfunção renal ou diminuição do fluxo sanguíneo renal. ● Então, as doses precisam ser ajustadas de acordo com a eliminação renal. ● Para nefropatas (clearance < 30 ml/min) que utilizarão o Esquema Básico, a fase intensiva deve ser feita da seguinte forma: RHZE (2ª, 4ª e 6ª-feira) e RH (3ª, 5ª, Sábado e Domingo). ● Para pacientes em hemodiálise, os medicamentos deverão ser tomados após o procedimento, no mesmo dia. ● No Anexo III, encontram-se os ajustes nas doses e frequências dos medicamentos recomendados para pacientes com clearance de creatinina menor que 30 ml/min ou para pacientes em hemodiálise. Tratamento em condições especiais: diabetes ● Como o diabetes retarda a resposta microbiológica, pode ocorrer diminuição das taxas de cura, aumento das recaídas, além de maior evolução para tuberculose resistente. ● A rifampicina É um potente indutor do complexo enzimático P450, que acelera o metabolismo de vários medicamentos, incluindo os hipoglicemiantes orais: sulfonilureias (glibenclamida, glimepirida, glipizida), metiglinidas (repaglinida e nateglinida) e biguanidas (metformina). ● A isoniazida pode diminuir a ação da metformina. ● Por conta dessas interações medicamentosas, se o controle glicêmico não for atingido durante o tratamento da tuberculose, deve-se instituir insulinoterapia. ● Recomenda-se também que os pacientes recevam piridoxina (vitamina B6) 50mg/dia durante o tratamento com isoniazida, devido ao risco aumentado de neuropatia periférica Tratamento em condições especiais: pacientes HIV + ● Mesmas recomendações do Esquema Básico. ● Contudo, esses pacientes apresentam maior índice de falha terapêutica, recidiva, resistência aos fármacos e reações adversas (hepatotoxicidade e neuropatia periférica). ● A neuropatia periférica pode ocorrer com o uso de isoniazida e ser potencializada pela utilização de antirretrovirais. ● Todos devem receber TARV (tratamento antirretroviral),independentemente da contagem de T CD4+. ● Pode ser indicada a não administração de rifampicina, sendo recomendada a substituição por rifabutina. Esquemas com essa substituição são menos eficazes e não contam com doses fixas combinadas (RHZE e RH), o que diminui a adesão ao tratamento. Esquema com rifabutina Fármacos Fase de ataque (2 meses) Rfb H Z E Fase de manutenção (4 meses) Rfb H *A rifabutina não é recomendada para gestantes. Diferentes situações de tratamento para HIV + tuberculose ● Tratamento para pacientes HIV + já em uso de antirretrovirais: Devem ser tratados imediatamente para tuberculose, com o Esquema Básico, observando-se as possíveis interações medicamentosas e a necessidade de ajustes dos antirretrovirais. ● Tratamento em caso de diagnóstico simultâneo de HIV e tuberculose: ● O tratamento para tuberculose deve ser instituído imediatamente e os antirretrovirais devem ser introduzidos de acordo com o grau de imunossupressão (avaliado através da contagem de linfócitos T CD4+). Pacientes com contagens de LT-CD4+ <50 cel/mm³ apresentam maior risco de morte caso a terapia antirretroviral não seja iniciada precocemente. Imunodeficiência avançada (LT-CD4+ <50 cel/mm³) Iniciar antirretrovirais em até 2 semanas após o início do tratamento para tuberculose. Ausência de sinais de imunodeficiência (LT-CD4+ >50 cel/mm³) Iniciar antirretrovirais na 8º semana (no início da fase de manutenção. ● Há necessidade de avaliação sobre possíveis interações entre os medicamentos para tratamento da TB e os antirretrovirais. Interações medicamentosas: tratamento antirretroviral e de tuberculose ● As duas rifamicinas (rifampicina e rifabutina) estão associadas a interações significativascom os inibidores da protease (IP), os ITRNN (inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos), os antagonistas de CCR5+ (maraviroc) e o inibidores de integrase (raltegravir, dolutegravir). ● O risco de interações medicamentosas com os IP é menor com a rifabutina do que com a rifampicina. ● A rifampicina induz o sistema enzimático hepático P-450 CYP3A, levando à redução dos níveis séricos dos antirretrovirais que são metabolizados por essa via. Então, há emergência de resistência viral por supressão incompleta da replicação do HIV. ● Os esquemas antirretrovirais compostos por dois ITRN + EFV em dose padrão constituem a opção de primeira escolha de antirretrovirais para pacientes em uso de rifampicina e virgens de terapia antirretroviral. ● Há boa resposta virológica e imunológica com doses padrão de efavirenz (EFV) e, em menor grau, com a nevirapina (NVP), quando combinadas com rifampicina. ● O raltegravir (RAL) associado a tenofovir (TDF) e lamivudina (3TC) é a opção para casos de pacientes com critérios de gravidade ou com contraindicação ao uso do EFV. O RAL apresenta menor interação medicamentosa com a rifampicina e a dose recomendada é a dose padrão de 400 mg, duas vezes ao dia. Situação da TB + HIV Terapia antirretroviral Sem gravidade TDF2/3TC/EFV (dose combinada) Com gravidade TDF (B)/3TC + RAL ● Síndrome inflamatória de reconstituição imune (SIR): consiste em uma exacerbação da resposta TH1, resultando em agravamento de lesões preexistentes ou aparecimento de novos sinais e sintomas. Pode apresentar-se como linfadenomegalias acompanhadas de sinais flogísticos, que podem fistulizar, comprimir estruturas nobres ou perfurar órgãos (por exemplo, intestino). Durante o tratamento de tuberculose, após a introdução da terapia antirretroviral, a SIR pode apresentar-se como um caso novo de tuberculose ou como piora clínica. Não é indicado interromper o antirretroviral ou o tratamento da tuberculose para obter melhora, uma vez que os benefícios do início do antirretroviral superam o risco da SIR, um fenômeno que pode ser manejado, com baixo risco de morte. ------------------------ Reações adversas e interações medicamentosas ------------------------ ● A maioria dos pacientes completa o tratamento sem qualquer reação adversa relevante. ● As reações adversas podem ser divididas em: reações adversas “menores”, em que normalmente não é necessária a suspensão do tratamento; e reações adversas “maiores”, em que normalmente é necessária a suspensão do tratamento. ● A frequência das reações adversas “maiores” varia de 3% a 8%. ● Fatores de risco: idade (a partir da quarta década); dependência ao álcool (ingestão diária de álcool > 80g); desnutrição (perda de mais de 15% do peso corporal); história de doença hepática prévia; e coinfecção pelo vírus HIV, em fase avançada de imunossupressão. ● As reações adversas mais frequentes ao são: mudança da coloração da urina (ocorre universalmente), intolerância gástrica (40%), alterações cutâneas (20%), icterícia (15%) e dores articulares (4%). ● Quando a reação adversa corresponde a uma reação de hipersensibilidade grave, como trombocitopenia, anemia hemolítica e insuficiência renal, o medicamento suspeito não pode ser reiniciado após a suspensão, pois na sua reintrodução a reação adversa pode ser ainda mais grave. ● O monitoramento laboratorial com hemograma e bioquímica (função renal e hepática) em pacientes com sinais e/ou sintomas relacionados e em pacientes com maior risco de desenvolvimento de efeitos adversos deve ser realizado mensalmente ou em intervalos menores de acordo com critério médico. Reações adversas menores ao Esquema Básico Efeitos adversos Fármacos Alteração da cor da urina (avermelhada) R Intolerância gástrica/digestiva (náusea, vômito) RHZE Prurido e exantema leve RH Dor articular HZ Neuropatia periférica HE Hiperuricemia (deposição de ácido úrico) ZE Cefaleia, euforia, insônia, depressão leve, ansiedade e sonolência H Febre RH Reações adversas maiores ao Esquema Básico Efeitos adversos Fármacos Exantema ou hipersensibilidade RHE Psicose, crise convulsiva, encefalopatia tóxica, coma H Neurite óptica E Hepatotoxicidade RHZ Trombocitopenia, leucopenia, eosinofilia, anemia hemolítica, agranulocitose, vasculite R Nefrite intersticial R Rabdomiólise com mioglobinúria e insuficiência renal Z ● Se houver efeitos adversos maiores, suspender o uso do fármaco. Interações medicamentosas: ● Podem ocorrer a nível de absorção ou de metabolismo do fármaco. ● A rifampicina, a isoniazida e o etambutol requerem meio ácido para sua absorção, podendo ser reduzida com o uso concomitante de fármacos que aumentam o pH gástrico. Antiácidos reduzem a absorção de rifampicina, isoniazida e etambutol. ● A rifampicina é um exemplo de indutor enzimático, produzindo interações com muitos medicamentos. ● Rifampicina: ○ Reduz os níveis séricos de: analgésicos, anticoagulantes orais, anticoncepcionais, barbitúricos, beta-agonistas, cetoconazol e fluconazol, corticoides, digitálicos, enalapril, hipoglicemiantes orais, inibidores de protease, metadona, propafenona, quinidina, teofilina. ○ Maior hepatotoxicidade com uso concomitante de: etionamida, fenil-hidantoína, isoniazida, pirazinamida e sulfas. ● Isoniazida: ○ Maior hepatotoxicidade com uso concomitante de: fenilhidantoína, acetaminofen, rifampicina. ○ Potencializa os efeitos dos benzodiazepínicos. ○ Indução de neurotoxicidade: carbamazepina, cicloserina/ terizidona. ○ Aumenta o metabolismo da isoniazida: corticoide. ○ Hipoglicemia: sulfonilureia. ● Pirazinamida: maior hepatotoxicidade com uso concomitante de: cetoconazol, isoniazida e rifampicina. ------------------------ Tuberculose droga resistente ------------ ● O tratamento da tuberculose droga resistente é um dos maiores desafios para o controle da doença no mundo. ● Especialmente a resistência à rifampicina, pois é o medicamento mais ativo contra o bacilo da TB. ● Resistência adquirida: tratamento inadequado ou incompleto. ● Prevenção da tuberculose droga resistente: diagnóstico precoce e tratamento de alta qualidade. Referências MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. 2. ed. Brasília: Editora MS, 2019. TIERNEY, D. ; NARDELL, E. A. Tuberculose (TB). Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/micobact%C3%A9rias/t uberculose-tb?query=tuberculose#v1010685_pt> Acesso em: 01 jun 2021.