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Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |1| NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |2| Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |3| NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |4| Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |5| INTRODUÇÃO Olá, caríssimo aluno do curso do Curso do Professor Gustavo Brígido, é para você que me dirijo nessa introdução! Primeiramente, meus parabéns em dobro para você, tanto por optar pelo sacerdócio que é a preparação para o concurso público, como a confiança depositada nessa preparação! Nesse nosso material veremos os pontos que o edital prevê como conteúdo para o concurso da gloriosa e centenária Polícia Militar do Estado do Ceará no que tange à nova disciplina de Criminologia, assunto nunca antes cobrado para o cargo de Soldado e que são essenciais para a aprovação. Sou o professor Humberto Quezado, minhas graduações são em Direito e Ciências Sociais, com especialização em Direito Público, e mestrado na área de Transplantes (Medicina). Como servidor da Perícia Forense do Estado do Ceará, trabalho em casos de pessoas desaparecidas e pacientes desconhecidos, e vejo a Segurança Pública como ela é de fato. Como professor da Academia Estadual de Segurança Pública, de Universidades e do Curso Professor Gustavo Brígido, levo essa experiência de mais de dez anos de sala de aula para a sua aprovação. Sem mais delongas, vamos falar sobre Criminologia? ASSUNTOS PREVISTOS NO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DO EDITAL Após o edital, verificamos que os seguintes assuntos que entraram como previstos no conteúdo programático para o concurso são os seguintes: 1. O crime como fato social. 2. Instituições sociais relacionadas com o crime: as Polícias, o Poder Judiciário, o Ministério Público, os sistemas penitenciários etc. 3. A extensão da criminalidade no mundo e no Brasil. 4. O crime como fenômeno de massa: narcotráfico, terrorismo e crime organizado. 5. O crime como fenômeno isolado: estudo do homicídio. 6. Classificação de tipos criminosos: criminoso nato; criminoso ocasional; criminoso habitual ou profissional; criminoso passional; criminoso alienado; criminoso menor (delinquência juvenil); a mulher criminosa. 7. As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de criminalidade. CRIMINOLOGIA - CONCEITO Criminologia seria um hibridismo, ou seja, a junção de duas palavras de idiomas diferentes, formando uma terceira palavra com um novo significado. No caso, a junção do latim crimino com o grego logos, significando, nesse contexto, o estudo do crime. Ocorre que essa origem etimológica pode nos levar a um reducionismo, pois a Criminologia moderna não estuda tão somente o crime. Atualmente, a doutrina é uníssona em delinear os objetos de estudo da Criminologia como sendo: O Crime O Delinquente A Vítima O Controle Social O crime consiste na conduta contrária às normas sociais, ao Direito, e que pode ser objeto da devida reprimenda por parte da sociedade. Há um conceito jurídico de crime, o qual compreende-se que o crime é fato típico, antijurídico e culpável, sendo objeto de estudo do Direito Penal e análise do Direito Processual Penal. É mais importante, para o nosso contexto, o conceito social do crime, o crime enquanto fato social, e veremos isso em momento posterior. O delinquente é a pessoa que pratica a conduta delituosa. As teorias mais modernas têm o delinquente como centro de seus estudos, visto que muitas delas entendem-no como centro e fim dos chamados fatores criminógenos (que levam determinada pessoa a cometer o crime). A vítima vem redescobrindo, modernamente seu papel de importância na compreensão do fenômeno criminoso. A vitimologia, enquanto área desta ciência que estamos agora analisando, tem um papel importantíssimo na análise de todo esse fenômeno, e das formas que ele pode ser combatido efetivamente. Por fim, o controle social são os mecanismos dos quais a sociedade lança mão para, de fato, controlar nosso comportamento. Um exemplo simples são as multas de trânsito, que (ao menos em tese) impedem as pessoas de atravessarem um farol vermelho. Veremos isso com maior profundidade quando vermos as instituições. De modo a compreendermos, eu trouxe duas definições clássicas de Criminologia. Vejamos: “A ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto o crime, o delinquente, a vítima e o controle social do comportamento delitivo; e que aporta uma informação válida, contrastada e confiável sobre a gênese, dinâmica e variáveis do crime – contemplado este como fenômeno individual e problema social, comunitário; assim como sobre sua prevenção eficaz, as formas e estratégias de reação ao mesmo e as técnicas de intervenção positiva no infrator.” Antônio Garcia Pablos de Molina “Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam o fenômeno e as causas da criminalidade, a personalidade do delinquente, sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo” Edwin Sutherland Assim como toda e qualquer ciência, a Criminologia também serve a determinados objetivos, quais sejam: • Compreensão do fenômeno criminal. • Fornecimento de informações para intervenções preventivas. • Compreensão da etiologia do crime. • Defesa da necessidade de rapidez e a certeza da aplicação da sanção penal. • Estabelecimento de diálogo entre o Direito Penal e outros saberes relativos ao fenômeno delitivo. • Avaliação dos diferentes modelos de resposta ao crime. • Demonstração das dimensões individual e social do fenômeno criminal. • Diálogo entre protagonistas do crime. • Reparação do dano. • Pacificação social. Firmados esses conceitos, é importantíssimo lembrarmos que ele vai dar o tom de todos os nossos estudos. Sigamos com os próximos pontos do edital. Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |6| Crime enquanto fato social É público e notório que o crime acontece na sociedade, e não só é algo corriqueiro, como algumas teorias até o entendem como algo necessário, e que uma sociedade sem crimes é uma sociedade doente. Mas, antes de tudo, o que é um fato social? Esse conceito é fornecido por Émile Durkheim, e se refere a hábitos e maneiras de agir (e de pensar) que determinam a forma como os indivíduos se comportam em determinada sociedade. “Toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações individuais que possa ter” (Durkheim – As Regras do Método Sociológico) A partir dessa definição, e da doutrina majoritária em Sociologia, entende-se que todo fato social possui as seguintes características: Gerais: Apresentam-se como regras gerais, que induzem o modo de agir das pessoas. Dizer que determinado fato social é geral, é compreender que há, no seio da sociedade uma verdadeira consciência em torno de determinado fato, oriunda da própria sociedade. Em outros termos, é algo que acontece com generalidade. Ex.: Casamento. Independente da concepção do casamento, há uma instituição casamento, que é observada como existente na maioria das sociedades. Coercitivos: Uma vez que são formados por uma consciência coletiva, ele é verificável e não pode ser modificado pela ação individual. A vontade individual não é forte o suficiente para impedir o acontecimento do fato social. Ex.: Independe da vontade de qualquer pessoas, casamentos continuarão acontecendo, e gerando efeitos na sociedade. Exteriores: Estão “fora” do indivíduo, existem exteriormente e anteriormente à ele. Ex.: Mantendo-nos ainda no casamento, esta instituiçãotambém existe antes de nós, e nos é exterior (ao menos o casamento alheio!). Assim, conhecedores do conceito de fato social em sentido amplo, podemos concluir que o crime é, sobretudo, um fato social. Contudo, ele possui um revés: Além de ser um fato social, com todas as suas características, ao crime podemos vincular um conceito sociológico, onde se aponta que este possui as seguintes características: Incidência massiva na população: Não há como se atribuir a condição de crime a evento isolado, ainda que cause certa abjeção da comunidade. Há necessidade que o fato se repita. Deve haver reiteração da conduta no seio da sociedade. Incidência aflitiva: O fato deve produzir sofrimento e mal-estar na vítima e na sociedade como um todo. Não é razoável que um fato desprovido de qualquer relevância seja punido na esfera penal. Está intimamente ligado com o Princípio da Insignificância! Persistência espaço-temporal: Não se deve criminalizar um fato que não se distribua por todo o território nacional, e ao longe de determinado período. o Exemplo (Rogério Sanches): Lei 12.663/2012 (Lei Geral da Copa), com vigência até 31.12.2014 (lei temporária), que criminaliza a falsificação do “logo” da FIFA: “art. 33. Expor marcas, negócios, estabelecimentos, produtos, serviços ou praticar atividade promocional, não autorizados pela FIFA ou por pessoa por ela indicada, atraindo de qualquer forma a atenção pública nos locais da ocorrência dos Eventos, com o fim de obter vantagem econômica ou publicitária: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa”. Inequívoco consenso social de etiologia e reação: A sociedade como um todo deve apresentar um consenso acerca das origens dessa conduta (criminosa e antissocial por definição), bem como um mesmo consenso sobre a necessidade de reação (da sociedade) contra essa conduta. o Exemplo: Abuso de álcool. Percebamos que o álcool não deixa de ser uma droga, visto que causa dependência, destrói famílias e é motor para a prática de crimes, porém é lícita. Assim, é possível qualificar o álcool como droga ilícita para fins penais? A instituições sociais relacionadas com o crime Naturalmente, o crime é um fato social, ou seja, ocorre, inevitavelmente, no seio da sociedade. Essa mesma sociedade é composta de Instituições, e, em nosso edital são nomeadas claramente, para fins didáticos: “Polícias, Poder Judiciário, Ministério Público, etc.” De fato, a sociedade passa e atinge seus objetivos também por intermédio de instituições. Mencionar a existência de Instituições Sociais que possuem relação com o crime traz a necessidade de falarmos o que são tais instituições: Possuem estrutura social permanente Marcada por padrões comportamentais Delimitadoras de valores e normas aos membros do grupo No caso do Estado, ou seja, Instituições Públicas, estão intimamente ligadas ao Controle Social Formal. E em que consiste essa modalidade de controle? Recebe o nome de controle social o conjunto de mecanismos, positivos ou negativos, que são acionados pela por cada sociedade, ou grupo social, que objetivam induzir os membros a adequarem seu comportamento às normas. A doutrina aponta que existem dois tipos de controle, o controle social formal e informal. Controle Social Formal: O controle é exercido por estruturas institucionalizadas. Existe a participação do Estado. A sanção aqui possui um caráter coercitivo (podendo envolver penas privativas de liberdade, restritivas de direito, e multas). Há, contudo, o devido processo legal. Temos como exemplos o Judiciário, Polícia, Sistema Penitenciário, Autoridades de Trânsito... Controle Social Informal: São exercidas por instituições que, a priori, não foram feitas para controlar, mas, na prática, moldam o comportamento de seus integrantes. A sanção reveste-se somente de um caráter social (pois é externada por intermédio de uma pressão do grupo social). Em geral, não existem procedimentos, nem devido processo legal. Ex.: Família, clube, escola. Polícias e Sistema Penitenciário CF. Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares; VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (...) § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei. (...) Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |7| Segurança Pública é uma situação onde a normalidade da vida em sociedade impera. Nesse sentido, o caput do artigo menciona claramente que a Segurança Pública é um dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. A alteração ilegítima dessa situação de normalidade afigura-se, portanto, em uma completa violação de direitos. Nesse contexto, é necessário compreender a Segurança Pública e o Sistema Penitenciário, e as Instituições integrantes, de modo a conhecer as atribuições de cada ator. Poder Judiciário CF. Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A - o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. O poder judiciário é o poder (ou função) estatal responsável pelo exercício da jurisdição. O ato ou efeito de “dizer o direito” é definido de forma magistral pelo professor Pedro Lenza: “uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça. Essa pacificação é feita mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso apresentado em concreto para ser solucionado; e o Estado desempenha essa função sempre por meio do processo, seja expressando imperativamente o preceito (através de uma sentença de mérito), seja realizando no mundo das coisas o que o preceito estabelece (através da execução forçada)” Essa importantíssima função possui também suas características próprias, quais sejam: Lide: A existência de uma “pretensão resistida”. Ou seja, uma vez que a obrigação legal não é cumprida espontaneamente, a parte lesada pode buscar o Judiciário para que, substituindo a vontade das partes, resolva o conflito. Inércia: Dizer-se inerte significa dizer que o Judiciário somente age por provocação. Noutros termos, o Judiciário adota uma postura quase “passiva” até que é provocado por uma das partes. Definitividade: Uma vez que as decisões exaradas pelo Judiciário transitem em julgado, elas se tornam definitivas, sem qualquer possibilidade de alteração. Ministério Público O Ministério Público é uma das funções essenciais à justiça. Isso significar dizer que é uma das instituições (juntamente com a advocacia, a advocacia pública e a defensoria pública) sem as quais a jurisdição não poderia ser exercida em sua plenitude. Em suma, o Ministério Público é responsável por defender os interesses da sociedade, e, da sua gama de funções, a que mais se sobressair é a de propor a ação penal, sendo o MP detentor do direito da ação penal pública (condicionada ou incondicionada). CF. Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interessessociais e individuais indisponíveis. Essas funções somente poderão ser exercidas por integrantes de carreiras específicas do MP, cujo ingresso na carreira é feito através de concurso público e provas e títulos, assegurada a participação da OAB, exigindo-se 3 anos de atividade jurídica na posse do cargo. Assim, tais instituições exercem, cada uma seguindo a sua competência e atribuições, parte do Controle Social Formal. Nesse contexto, o controle social formal pode ser organizado em cinco grupos: Polícia Militar: Policiamento ostensivo – prevenção criminal Polícia Judiciária (Civil/Federal/Perícia): Investigação Ministério Público: Acusação Judiciário: Julgamento Sistema Penitenciário: Ressocialização – Caráter Punitivo- Pedagógico da pena Extensão da criminalidade no mundo e no Brasil A violência, de fato, é integrante do espectro da personalidade humana. Desse modo, é possível mensurar a sua extensão diante do cenário mundial ou nacional. No mundo, esse estudo é feito pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, enquanto no Brasil, um dos principais Institutos de Pesquisa é o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No mundo O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) aponta que estatísticas mundiais sempre apresentarão desvios, pelos seguintes motivos: Metodologias diferentes para cada país; Crimes que pode não entrar nas estatísticas oficiais; Burocracia; Corrupção governamental. O UNODC aponta que os países mais violentos do mundo: Honduras, Venezuela, El Salvador, Jamaica, Guatemala, Colômbia, África do Sul, Trinidad e Tobago, Porto Rico, Brasil, República Dominicana, México, Panamá, Namíbia, Sudão do Sul, República Centro-Africana, Congo, Equador, Bolívia, Nicarágua. Taxa de homicídio por 100.000 habitantes de Honduras: 92,7 Taxa de homicídio por 100.000 habitantes de Caucaia/CE: 98,2 O Brasil, infelizmente, ocupa uma triste posição de destaque quando se fala em criminalidade, na medida em que ostenta, em alguns municípios (conforme se observou), taxas de homicídios superiores ao país mais violento do mundo. Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |8| À título de ilustração, vejamos o seguinte quadro: Figura 1. O Brasil tem mais assassinatos que todos os países em azul JUNTOS. (Fonte: UNODC) Muitos são os problemas apontados, visto que o Brasil é um país de dimensões continentais, aliado a um histórico de problemas e desigualdade sociais, corrupção endêmica e má utilização do dinheiro público. Em decorrência disso, o enfrentamento da violência torna-se um imenso desafio. No Brasil O Anuário Brasileiro de Segurança Pública é editado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, após a análise de uma série de dados acerca dos mais variados crimes (e vítimas). O Fórum criou um importante conceito – MVI (Mortes Violentas Intencionais), cujos crimes incluem: Homicídios Dolosos/Feminicídios Latrocínios Lesões Corporais Seguidas de Morte Mortes decorrentes de Intervenções Policiais Percebam que, na metodologia utilizada pelo Ipea não estão inclusos crimes como aborto, estupro com resultado morte, ou extorsão mediante sequestro com resultado morte. Considerando que tais crimes diferem juridicamente do homicídio, é preciso verificar de que forma tais condutas são registradas nas estatísticas criminais oficiais (gerenciadas pelas Secretarias de Segurança Pública dos Estados). Falando-se do Estado do Ceará, essa estatística é feita pela SUPESP, através de sua Gerência de Estatística e Geoprocessamento (GEESP), vinculada à Secretaria da Segurança Pública do Estado do Ceará (SSPDS). A metodologia da SUPESP é um pouco diferente, pois, ao invés de MVI, eles usam o conceito de CVLI’s (Crimes Violentos Letais e Intencionais), mas que incluem basicamente os mesmos crimes das MVI’s, à exceção das mortes por intervenção policial, pois, de acordo com a GEESP, tais mortes não são intencionais, pois possuem excludente de ilicitude. Percebamos a tabela relativa aos CVLI’s ocorridos no Ceará no ano de 2020: Figura 2. Fonte: GEESP/SUPESP/SSPDS Voltando-se ao Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, apontou-se também que, em 2020, os maiores crescimentos de MVI ocorreram no Maranhão, com 30,2%; Paraíba com 23,1%; e Piauí com 20,1%. As principais causas, de acordo com o Anuário, ainda são a expansão das facções criminosas, com episódios de confrontos e disputa de território. Uma variável socioinstitucional importante no ano de 2020 foi a recomendação da liberação de presos pelo CNJ. Isso aconteceu de forma pouco criteriosa, de modo que presos das mais diversas periculosidades, faccionados, homicidas e traficantes foram colocados em liberdade. Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |9| A flexibilização da aquisição de armas de fogo proporcionou um maior número de armas em circulação. Desde 2017, o número de armas em circulação dobrou. Saindo da esfera dos MVI’s, o Anuário apontou que a pandemia de Covid-19 também influenciou uma série de aspectos voltados à criminalidade. Uma menor circulação de pessoas levou a uma diminuição de crimes contra o patrimônio. Em 2020, o Brasil chegou a ter 29,7% do efetivos das forças de segurança pública infectados (e, consequentemente afastados) pelo Covid-19. Esse fato também contribuiu negativamente para o enfrentamento da criminalidade, haja vista o menor número de policiais nas ruas. O crime como fenômeno de massa: narcotráfico, terrorismo e crime organizado Narcotráfico Lei 11.343/06: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: É crime equiparado a hediondo, juntamente com Terrorismo e Tortura. Naturalmente, o tráfico de drogas é a maior fonte de financiamento do crime organizado, e nisso reside a necessidade de combater essa fatia da criminalidade. Da mesma forma, a discussão que há acerca da descriminalização do uso de certas drogas passa, necessariamente, pelo aspecto criminológico. Detalhe importante, o art. 28 da Lei de Drogas não é descriminalização do uso de drogas. De acordo com o STF, houve despenalização. A conduta permanece sendo crime, mas é punida de outra forma. Vejamos: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Terrorismo Combater o terrorismo consiste em um verdadeiro mandamento constitucional. Entende-se, nesse contexto, que no bojo de nossa Constituição existem uma série de mandados de penalização (ou de criminalização). Noutros termos, o legislador constitucional entendeu por bem criar a obrigação de legislar sobre determinados crimes, ao legislador infraconstitucional. CF. Art. 5º (...) XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Assim, criou-se a Lei nº 13.260/2016,prevendo e definindo Terrorismo. Lei 13.260/2016. (...) Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. § 1º São atos de terrorismo: I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento; V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa: Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência. A doutrina majoritária entendem que o terrorismo fere a paz pública, em seu sentido subjetivo (confiança coletiva na ordem jurídica e social). Os atos de terrorismo consistem na prática de atentados contra a vida, integridade física, ameaça, e mais uma série de condutas previstas no §1º do art. 2º da Lei de Terrorismo que tenham: • Especial motivo de agir (Motivação) o Aspecto que motiva os atos de terrorismo – Xenofobia, Discriminação ou Preconceito (raça, cor, etnia e religião) • Especial finalidade o O que pretende o agente com a sua conduta – Método terrorista – Provocar terror social ou generalizado – Criação de um sentimento disseminado de pânico. Crime Organizado A ideia de crime organizado é própria da legislação italiana, sendo a definição legal brasileira o fruto de toda uma construção social, e modernização legislativa, que veio para, através da ação em conjunto de todas as áreas da segurança pública, conseguir combater à contento as chamadas organizações criminosas. Nesse sentido, a lei nº 9.034/95, em seu §1º do art. 1º assim define: Lei 9.034/1995. Art. 1º § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. Importante perceber que a Organização Criminosa (o crime organizado) é um meio para a consecução de uma finalidade! E, para a lei brasileira, precisa ser: • Associação de 4 ou mais pessoas • Estruturalmente ordenada • Divisão de tarefas, ainda que informal • Objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 anos, ou de caráter TRANSNACIONAL. Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |10| Crimes como fenômenos de massa O que estes crimes tem em comum? Todas essas condutas e práticas reforçam o caráter coletivo do crime, de modo que o crime pode acontecer como expressão coletiva de determinado grupo, e como forma de manutenção e perpetuação de sua estrutura. Isso pode ser explicado pela Teoria da Associação Diferencial. A situação econômica norte-americana, na década de 30 era a seguinte: • Pós primeira guerra – economia norte americana em alta – gasto e investimentos desenfreados – Crise de 1929 (Grande Depressão) • 1933 –Franklin D. Roosevelt – new deal – Política de alta intervenção do estado na economia. As medidas intervencionistas encontraram resistência junto às grandes corporações. Assim, os grandes empresários, contrários às medidas intervencionistas do Estado, na tentativa de “defender-se”, iniciaram a prática de vários crimes do colarinho branco, como sonegação de impostos e evasão de divisas, com vistas a fugir do Fisco. Criou-se a era dos White Collar Crimes (expressão cunhada por Sutherland) • Crimes que, em geral, não podem ser explicados por uma situação econômica desfavorável, ou mesmo falta de acesso à educação formal. • Crimes cujas cifras negras são altíssimas, pois às vezes a própria população e o governo sequer entende como crime de elevado potencial ofensivo. A Associação Diferencial é uma das Teorias do Consenso. O crime é visto como algo “aprendido” e doutrinado. Há um processo de internalização. Valoriza o caráter organizacional e coletivo do crime. “Uma pessoa torna-se delinquente por causa de um excesso de definições favoráveis à violação das leis sobre definições desfavoráveis à violação delas”. Edwin Sutherland Um dos maiores reflexos dessa teoria é a “Operação Lava Jato”, visto que boa parte dos envolvidos não estava ligada a histórico econômico desfavorável. Ao contrário, os acusados eram grandes empresários brasileiros que envolveram-se com o maior esquema de corrupção até então descoberto. Um ponto importante é que a Associação Diferencial não considera fatores impulsivos, ocasionais ou passionais. Nessas hipóteses, não se fala em aprendizado, mas em uma reação isolada. Crime como fenômeno individual: Estudo do Homicídio Aqui cuida-se não do crime enquanto fenômeno coletivo, mas como fenômeno individual. Dessa forma, a causa motivadora da prática do homicídio terá importância pois, em determinados casos transforma um homicídio simples em homicídio qualificado, ou em homicídio privilegiado! Vejamos como a lei define esses tipos penais: Homicídio Simples: Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. A conduta aqui consiste tão somente em matar, ou seja, a eliminação da vida extrauterina. Em sua modalidade simples não há motivação, não há modo específico através do qual o homicídio se dá. A consumação ocorre concomitantemente à morte da vítima. É, portanto, um crime Instantâneo, ou Instantâneo de efeitos permanentes. A conduta admite tentativa, na forma do art. 14, II-CP, visto que o homicídio pode não ocorrer por circunstâncias alheias à vontade do agente. Até então, cuida-se do homicídio simples, como se vê. Havendo, contudo, motivação, podemos hipóteses especiais, como o homicídio privilegiado ou qualificado. Homicídio “Privilegiado” – Caso de Diminuição de Pena: § 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. O que seria um motivo de Relevante Valor Social ou Moral? Relevante valor social – Diz respeito a um interesse da coletividade. Ex.: Matar o “maníaco do parque.” Relevante valor moral – Diz respeito a um interesse particular do responsável pela prática do homicídio, aprovado pelo conceito prático de moral. Ex.: Eutanásia. Homicídio Qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; II - por motivo futil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel a defesa do ofendido; V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de doze a trinta anos Existe um interesse criminológico maior, naturalmente,nas hipóteses qualificadoras de ordem subjetiva, visto que essas dizem respeito às motivações do crime. Estamos falando aqui dos incisos I, II e V. As demais são de ordem objetiva, e dizem respeito aos meios e modos de execução do homicídio. Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (...) Pena - reclusão, de doze a trinta anos. § 2o-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Homicídio Funcional VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: VIII - (VETADO): Pena - reclusão, de doze a trinta anos. As duas hipóteses qualificadoras acima dizem respeito à vítima. Noutros termos, o homicídio teve como elemento condutor, e como principal motivação a situação especial da vítima. Aqui, o interesse criminológico é extremo, na medida em que a figura da vítima é essencial ao cometimento do crime. Por fim, ainda sobre o homicídio, é importante lembrar que a modalidade qualificada, em qualquer de suas formas, é crime hediondo. Assim, são, portanto: • Inafiançáveis, insuscetíveis de graça, anistia e indulto. • Progressão de regime diferenciada o 2/5 da pena (primário) o 3/5 da pena (reincidente) • Livramento condicional após 2/3 da pena (sem reincidência específica) Módulo Online NOÇÕES DE CRIMINOLOGIA |11| Classificação dos Tipos Criminosos Tradicionalmente, a doutrina em Criminologia sempre se preocupou em realizar a tipologia criminosa. Classificar os tipos criminosos, buscando prever motivações e potencial criminógeno é um dado bastante importante em muitos estudos criminológicos. Todavia, historicamente, existem termos e classificações que estão francamente em desuso, conforme veremos. Pois bem, O primeiro a nos trazer uma classificação dos tipos criminosos foi Cesare Lombroso, em sua obra O Homem Delinquente (1876), onde este classificava os criminosos em: • Criminoso Nato • Criminoso Louco • Criminoso de ocasião • Criminoso por paixão Para Lombroso, o crime era um fenômeno biológico, não um fenômeno exclusivamente social ou jurídico. Em outros termos, o criminoso o criminoso era um ser atávico, um selvagem que já nasce delinquente. Utilizando-se do método empírico-indutivo ou indutivo-experimental, o positivismo criminal de Lombroso buscava através da análise dos fatos, explicar o crime sob um viés científico. Em suma, concebia o criminoso como um indivíduo distinto dos demais, um subtipo humano. Dessa forma, fundamentava o direito de castigar, não como meio e finalidade de punir o agente que praticou o ato delituoso, mas sim, com o propósito de conservar a sociedade, combatendo assim a criminalidade. A despeito de sua inegável importância histórica, a classificação proposta por Lombroso não é mais utilizada. Criminoso Nato Na doutrina, somente dois autores mencionam o criminoso nato: Para Cesare Lombroso, o criminoso nato é o que tem instinto para a prática de delitos, nas palavras do autor, é um “selvagem para a vida em sociedade.” Após a aplicação de estudos antropométricos comparativos entre mais de 25 mil encarcerados e cadáveres oriundos de mortes violentas. Lombroso constatou que entre esses homens e cadáveres existiam características em comum, físicas e psicológicas, que o fizeram crer que eram os estigmas da criminalidade. A esses sinais ele deu o nome de atavismo, o retrocesso genético, que evidenciaria o “atraso” do delinquente diante da sociedade. Para Enrico Ferri, o criminoso nato possui deficiência do senso moral. Ao menos em tese, ele não teria nenhum problema psiquiátrico. Demonstraria, contudo, fortes estigmas que evidenciariam uma atrofia do senso moral. O criminoso, então seria alguém naturalmente desprovido de moralidade. Criminoso Ocasional Tem-se, em suma que o criminoso ocasional é levado, naturalmente, pela ocasião. Ele possui, ao menos em tese, personalidade normal, mas é influenciado pelo meio de convívio, levados por condições pessoais a cometerem crimes contra o patrimônio (majoritariamente). Embora já classificado pelos autores clássicos, também são abordados por autores modernos, como Guido Palomba e Odon Ramos Maranhão. Criminoso Habitual ou Profissional Classicamente, a definição de criminoso habitual é de Enrico Ferri, e consiste no criminoso que faz do crime seu meio de vida. Em virtude disso, os criminosos habituais são inevitavelmente reincidentes na ação criminosa. O art. 78 do Código Penal Militar define que é criminoso habitual quem: a) reincide pela segunda vez na prática de crime doloso da mesma natureza, punível com pena privativa de liberdade em período de tempo não superior a cinco anos, descontado o que se refere a cumprimento de pena; b) embora sem condenação anterior, comete sucessivamente, em período de tempo não superior a cinco anos, quatro ou mais crimes dolosos da mesma natureza, puníveis com pena privativa de liberdade, e demonstra, pelas suas condições de vida e pelas circunstâncias dos fatos apreciados em conjunto, acentuada inclinação para tais crimes. Evidentemente, essa definição cabe somente a crimes militares, sendo seus efeitos restritos à essa seara jurídica específica. Contudo, o Código de Processo Penal (após as mudanças do Pacote Anticrime) menciona “conduta criminal habitual”, quando estabelece que, nessas hipóteses, não poderá o agente ser beneficiado pelo acordo de não persecução penal. Código de Processo Penal. Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente: (...) § 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses: (...) II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas; Criminoso Passional Enrico Ferri também nos trouxe a primeira definição de criminoso passional. Segundo o autor clássico, este tipo criminoso age por impulso, durante transtorno psíquico. Modernizando a definição, Guido Palomba, o chama de criminoso impetuoso, posto que influenciados por impulsos momentâneos. Em geral, estão relacionados a crimes passionais, homicídios ou lesões corporais. Vinganças imediatas (sem planejamento), algumas hipóteses de feminicídio ou mesmo brigas de trânsito estariam incluídos aqui. Cometem, pois, o crime, movidos por impulsos emotivos e momentâneos sem premeditar o seu contento. São as paixões pessoais que guiam a conduta criminosa, ou mesmo fanatismo político ou social. Não raro se arrependem de sua conduta. Criminoso Alienado A denominação de criminoso alienado também é de Enrico Ferri, e diz respeito a problemas psiquiátricos graves relacionados à criminalidade. Modernamente, em especial o nosso Código Penal, é preciso relacionar esse tipo criminoso à inimputabilidade (enquanto elemento da culpabilidade). Em outros termos, se o autor do delito tem condições de compreender o caráter ilícito de sua conduta e de portar-se de acordo com este entendimento. Módulo Online NOÇÕESDE CRIMINOLOGIA |12| O Código Penal prevê, respectivamente, hipótese de exclusão de imputabilidade e de redução de pena, caso o autor seja totalmente ou parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito de sua conduta, ou de portar-se de acordo com este entendimento, na forma do seu art. 26: Código Penal. Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Importante mencionar, nesse contexto que o inimputável não é sujeito à pena de prisão, mas, por força do art. 97 do Código Penal, é sujeito à medida de segurança, ainda que por tempo indeterminado. Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Prazo § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. Perícia médica § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. Desinternação ou liberação condicional § 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade. § 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos. Criminoso Menor Embora não seja uma tipologia propriamente dita, a questão da criminalidade juvenil já foi objeto de intensos estudos criminológicos, na medida em que este fenômenos sempre existiu. Aqui merece destaque o Sociólogo norte-americano Alberto Cohen, o qual, em sua tese de PhD, denominada Delinquent Boys – The culture of the gang, criou a chamada Teoria da Subcultura Delinquente, a qual busca explicar justamente a delinquência juvenil, vislumbrando a prática criminosa como um elemento cultural, e verdadeiro motivo de coesão entre as gangues, compostas por pessoas cada vez mais jovens. Em nosso ordenamento jurídico temos que, conforme inteligência do art. 27 do Código Penal, os menores de idade são inimputáveis. Vejamos: Código Penal. Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial. A lei especial divide a figura do criminoso menor em duas importantes situações, quais sejam, criança e adolescente. ECA. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Assim sendo, temos que o menor não comete crime, mas ato infracional equiparado a crime. Sendo caso de criança (ou seja, até 11 anos), não pode sequer ser submetido a medidas socioeducativas. Em hipóteses extraordinárias ele pode ser abrigado. Existem, a serem aplicadas em situações excepcionais, algumas medidas socioeducativas, previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente: ECA. Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semi-liberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI A Mulher Criminosa É algo público e notório que mulheres cometem menos crimes que os homens. A população carcerária feminina subiu de 5.601 para 37.380 detentas entre 2000 e 2014, um crescimento de 567% em 15 anos, e, em sua maioria é por tráfico de drogas, motivo de 68% das prisões (dados do CNJ). Estudar-se a figura do feminino na Criminologia afigura-se importante, pois aponta-se o crescimento da participação feminina em crimes como tráfico de drogas, homicídio, estelionato e roubo. As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices da criminalidade A pena possui, no Brasil, caráter punitivo-pedagógico. Em outros termos, ela tem por objetivo punir (não vingar), e ensinar o autor, através das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos. Conforme sabemos, o Direito Penal é a chamada ultima ratio, ou seja, a pena, enquanto medida de proteção social, deve ser sempre uma situação de exceção, de modo que a liberdade é sempre a regra. Além dessa noção, uma vez aplicada a pena privativa de liberdade, em desfavor do autor, ele tem para si uma série de aspectos que devem ser observados no cumprimento de sua pena, previstos na Lei de Execuções Penais. Merecem destaque a Remição e a Detração Penal. A remição ocorre quando o preso condenado trabalha ou estuda, e diminui o seu tempo de pena. À cada 12h (divididas em 3 dias) de estudos diminui- se 1 dia de pena, e a cada 3 dias de trabalho, diminui-se 1 dia de pena. E a detração penal é o abatimento da pena do condenado do tempo que passou preso preventivamente. Sob o viés repressivo, há, também a criação de Delegacias, Juizados e Batalhões especializados, visando trabalhar com violência setorial (violência de gênero e homotransfobia, por exemplo). Além disso, o enfoque é multifatorial, ou seja, parte, além da repressão geral, uma série de aspectos destinados a setores específicos, tais como: • Violência de gênero • Delinquência juvenil • Violência policial • Preconceito e Discriminação Há 9 anos, transformando sonhos em aprovações!
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