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RESUMO EXPANDIDO DO CAPÍTULO 22 DO LIVRO “BIOLOGIA MOLECULAR DO GENE”: BIOLOGIA DE SISTEMAS Biologia Molecular do Gene - 7ª ed., 2015. CAPÍTULO 22 - pg. 775 a 791 BIOLOGIA DE SISTEMAS Os rápidos e constantes progressos tecnológicos das últimas décadas permitiram o advento de uma nova biologia molecular, capaz de identificar e caracterizar cada componente de um processo celular complexo. Em decorrência disso, há uma nova vertente que une a biologia molecular experimental tradicional e a análise computacional: a biologia de sistemas. As estratégias tradicionais, que investigavam mecanismos subjacentes de sistemas relativamente simples, são substituídas por estratégias holísticas que abordam sistemas mais complexos de organização biológica. A biologia de sistemas descreve as propriedades das redes de interações que controlam as funções dos organismos, a partir de uma metodologia interdisciplinar, baseada em matemática, biologia molecular e celular, engenharia, física e ciência da computação. Aplicando a biologia de sistemas à biologia molecular do gene, o objetivo é revelar princípios dos circuitos reguladores gênicos que não podem ser compreendidos a partir de uma abordagem isolada dos seus componentes. A biologia de sistemas associa-se diretamente à biologia sintética, a qual objetiva, a partir da formulação de redes artificiais que mimetizam circuitos reguladores gênicos, elucidar os princípios de tais circuitos. Além disso, como a evolução é impulsionada muito mais pelas alterações das redes de regulação gênica do que dos genes propriamente ditos, a biologia de sistemas é de alto interesse para a compreensão da evolução. CIRCUITOS REGULADORES Os circuitos reguladores são redes simples constituídos por nós, os quais representam os genes, e bordas, as quais representam a regulação de um gene pelo produto de outro (Fig. 1-a). As bordas indicam a direcionalidade da regulação e se esta é positiva ou negativa. Uma linha terminando em “⊥” e partindo de A para B, por exemplo, indica uma regulação negativa do gene B pelo produto de A (Fig. 1-b). Já uma linha com uma seta estendendo-se de A para B indica uma regulação positiva do gene B pelo produto de A (Fig. 1-c). Portanto, o circuito representa a regulação, desencadeada por um sinal, do gene B pelo produto do gene A, o qual pode agir como um repressor ou como um ativador. Figura 1. Em (a), um circuito com um comutador simples, em que o regulador produto do gene A age na expressão do gene B. Em (b), regulação negativa e em (c), regulação positiva. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7ª ed., 2015. A regulação do operon da lactose é um exemplo que integra os dois tipos de circuitos, em que a transcrição é desencadeada por um indutor que inativa o repressor Lac e pelo aumento da concentração de cAMP, que promove a ligação do ativador CAP ao DNA. Portanto, a expressão do operon Lac requer a ausência do repressor e a presença de CAP ligado a cAMP. Essa regulação segue a lógica da “porta AND” (porta “e”), em que duas condições de entrada são necessárias para um evento de saída (Fig. 2). Figura 2. Porta AND na regulação do operon da lactose. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7ª ed., 2015. AUTORREGULAÇÃO A autorregulação negativa abafa o ruído e permite um rápido tempo de resposta De um modo geral, os genes reguladores controlam sua própria expressão, bem como de outros genes. Essa autorregulação pode ser negativa (Fig. 1-d) ou positiva (Fig. 1-e). Na autorregulação negativa, o gene de um repressor é reprimido por seu próprio produto. No bacteriófago λ, por exemplo, a ligação do repressor CI ao sítio operador OR3 bloqueia sua própria transcrição. Figura . Em (d), autorregulação negativa. Em (e), autorregulação positiva. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7ª ed., 2015. Dessa forma, a autorregulação negativa funciona como um mecanismo de homeostase para garantir que a concentração da proteína reguladora seja constante. No bacteriófago λ, se o nível de CI cair, a expressão do gene cI e de outros genes-alvo volta a ser ativada até o momento que a concentração de CI aumenta novamente e reprime o gene. Se os níveis de CI forem muito altos, a autorregulação negativa garante que o gene cI seja silenciado até que os níveis do repressor se diluam por crescimento celular ou ação proteolítica. A autorregulação negativa tem a vantagem ainda de permitir um rápido tempo de resposta, em que um promotor relativamente forte garante o rápido aumento no nível da proteína reguladora e a autoinibição da transcrição cancela o excesso do regulador quando seu nível ótimo é atingido (Fig. 3). Figura 3. Cinética em resposta a um indutor, mostrando um comutador simples (B), um autorregulador negativo (A) e um autorregulador positivo ©. Fonte Biologia Molecular do Gene, 7ª ed., 2015. A expressão gênica está sujeita a muito ruído Quando se trata de ruído, na expressão gênica, é sobre o papel de autorregulação negativa na homeostase. Hoje em dia ele é conhecido, como níveis de expressão que podem variar substancialmente entre os indivíduos de uma população, até mesmo entre duas cópias do mesmo gene na mesma célula. Por isso define esse ruído , como uma variação na expressão gênica sob condições que são aparentemente uniformes. Quando há a existência de ruído indica que a estocastidade pode influenciar o nível de expressão de genes individuais. A estocasticidade ela pode indicar um processo no qual é caracterizado, até certo ponto, por aleatoriedade. Esse ruído, pode vir de duas formas, sendo elas : intrínseca e extrínseca. As duas levam diferenças na expressão gênica em uma população. Tratando se do ruído intrínseco, ele se refere á variação no nível de expressão de genes individuais de uma célula e deve se eventos estocáticos na maquinaria de expressão gênico. Já o ruído extrínseco refere se as diferenças na expressão gênica entre células em uma população aparentemente homogênea ou a alterações na expressão gênica na mesma célula, ao longo do tempo. Este ruído é provavelmente causado por micro hetegeneidade no ambiente da célula individual ou por flutuações na capacidade de as células realizarem a transcrição ou a síntese proteica ao longo do tempo. A auto regulação negativa , se vê que este motivo regulador ajuda as células a lidarem com ruído ao permitir que elas compensem variações no nível de expressão do gene autorregulado. Quanto ao circuito regulador negativo, que controla a síntese de CI do bacteriófago , é chamado de robusto. A estocasticidade não é peculiaridade de E.coli. É provável que ela seja bastante difundida entre os organismo. A autorregulação positiva retarda a expressão gênica Quando se trata da autorregulação positiva ocorre quando uma proteína ativadora estimula a transcrição do seu próprio gene. De novo, o gene cI do bacteriófago fornece um exemplo clássico, mas é complexo, sob baixas concentrações celulares, o repressor CI ocupa preferencialmente os operadores OR2 ou OR1 que estão a , do promotor que dirige a transcrição de Cl. A proteína CI ligada a O R2 contacta RNA- polimerase para estimular a transcrição, promovendo mais síntese de CI. Por isso , o gene cI esta sujeito para ambos tipo, tanto de autorregulação , positiva e negativa. O acúmulo do produto gênico em estado de repouso ocorre quando a taxa de síntese da proteína está em equilíbrio com a perda de proteína por degradação ou pode ser também por diluição por meio de crescimento e divisão da célula. O estado de repouso, ele se refere a uma condição na qual o nível do produto gênico apresenta variação não significativo ao longo do tempo. O ponto importante é que o tempo necessário para alcançar o estado de repouso depois de um gene, é ativado é mais longo para caso da autorregulação positiva do que para o caso da autorregulação negativa, oi para ausência total de retroalimentação. A autorregulação positiva, ela pode ser muito útil em processos biológicos que se desenrolam lentamente, como o desenvolvimento que podem beneficiar o acúmulo lento de proteínas envolvidas na morfogênese. Quando é a autorregulação positiva tem um beneficio adicional, ela é a base para um tipo de extremo de comutador conhecido como comutador biestável. Biestabilidade Os circuitos reguladores abordados até o momento são reversíveis do sentido de que, uma vez o sinal ativou um gene , ele é removido , o circuito volta ao estado desativado. Há alguns casos, no entanto quando o gene é ativado , ele permanece bloqueado, por períodos de tempo relativamente longos. Alguns circuitos reguladores persistem em estados alternativos Um exemplo de comutador bem estável é o circuito que controla se a B. subtilis irá ou não se tornar geneticamente competente, isto é, se ela entrará no estado em que para de crescer e é capaz de captar DNA nu e incorporar, por recombinação genética, sequências homólogas em seu genoma. O regulador-mestre de competência é a proteína ComK, ativadora de cerca de 100 genes, incluindo ele mesmo. O que o torna estável é a cooperatividade entre as ligações da região promotora de comK com as várias moléculas de ComK (Fig. 4). Figura 5. Biestabilidade. A) a biestabilidade é regulada por um comutador autorregulador positivo no qual a proteína ComK estimula a transcrição a partir do próprio gene comK, bem como de genes-alvo. B) Exemplo de biestabilidade: células de B. subtilis tem expressão para um gene-repórter sob controle de um promotor ativado pela ComK ativa (verde) ou inativa (vermelho). Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7ª ed., 2015. O potencial celular para ativar comK é controlado por uma via reguladora que atua em estabilidade proteolítica de ComK, ainda assim, no entendo, a ativação do comK é estocástica. Isto significa que, quando em condições nas quais ComK não corre risco de degradação, apenas algumas células se tornam competentes. A bifurcação em subpopulações ativa e inativa na figura x ocorre porque o circuito de retroalimentação positiva está no limiar entre ter ComK insuficiente para ativação do comK e ter ComK suficiente apenas para a ativar os genes controlados pelo seu circuito autorregulador positivo. Assim, as variações nos níveis de ComK entre as células, resultantes desta expressão ruidosa do comK, permitem que o ativador alcance a concentração-limiar somente em algumas células. Quadro 22 - 1 Biestabilidade e histerese Este experimento sobre a autorregulação positiva do comK é baseado no uso de uma cópia modificada do gene posta sob o controle de um promotor modulado para cima ou para baixo em resposta a um indutor. (Fig.1-A). Células com apenas o gene mutante não apresentam biestabilidade, sendo que o aumento do nível de expressão gênica dirigida por ComK em resposta aos níveis crescentes de indutor sugere distribuição unimodal dos níveis de expressão na subpopulação em qualquer concentração de indutor (Fig.1-B). Entretanto, em células com ambos genes original e mutante, concentrações crescentes de indutor fazem as células bifurcarem em uma subpopulação com baixa atividade de ComK e outra subpopulação com alta atividade de ComK (Fig.1-C). Em sentido estrito, o uso do termo “biestabilidade” exige um comutador que apresente histerese, ou seja, um tipo de memória que permita a não desativação imediata do comutador quando suas condições originais (que o ativaram) são revertidas. Comutadores bimodais variam em sua persistência Comutadores biestáveis são bimodais porque podem permanecer em estados estáveis alternativos por longos períodos de tempo, sendo que alguns desses circuitos com bimodalidade são ditos como "excitáveis" por não persistirem nos estados estáveis alternativos. Tais sistemas excitáveis, assim como os biestáveis, envolvem um circuito autorreforçador que gera respostas estereotipadas a uma pequena perturbação. No entanto, a mudança para um estado alternativo é efêmero e facilmente reversível. Um circuito excitável é o potencial de ação de um neurônio, por exemplo. Neurônios possuem um potencial de repouso de geralmente -70mV, no qual a concentração de cátions fora da célula é levemente maior que dentro dela. Se o potencial aumentar acima de um limiar (-55mV, a pequena perturbação) os canais iônicos que dependem de voltagem se abrirão, permitindo que íons de sódio adentrem a célula e assim gerando um pico de voltagem positiva (+40mV) dentro da célula (resposta estereotipada). Esta alta voltagem promove o fechamento dos canais iônicos, os íons de sódio em excesso são expelidos para fora do neurônio e assim a membrana retorna ao seu estado original de repouso (reversão rápida da resposta à perturbação). Da mesma forma, podem ser considerados excitáveis os circuitos autorreforçadores que não conseguem manter estados estáveis por longos períodos ou que desencadeiam eventos subsequentes que causam sua reversão. Assim, o sistema de competência genética abordado anteriormente também pode ser considerado excitável. A autorregulação positiva por ComK gera um comutador biestável capaz de manter altos níveis de ComK por longos períodos de tempo. No entanto, sobreposto à síntese autorreforçadora de ComK está um circuito de retroalimentação negativo que leva a proteína ativadora à destruição. Isso permite que as células competentes saiam deste estado e retornem ao estado vegetativo proliferativo. Mas como as células de B. subtilis mudam de um estado para o outro? Devido às proteínas SinR e SInR de um circuito duplo-negativo, no qual SinR reprime o gene da SInR e esta inibe SinR, prendendo-a em um complexo (SInR-SinR) no qual não consegue mais reprimir seu gene. Assim, um braço do complexo atua em nível de interação proteína-proteína e outro em nível de transcrição gênica. O comutador existe em dois estados autorreforçadores: o estado (I) SInR baixo , no qual seu gene está sendo reprimido por SinR, e o estado (II) SLnR alto , no qual esta inativa a proteína SinR e desinibe seu gene. Células no estado (I) expressão genes por motilidade e separação celular, portanto, são formas livres em suspensão. Células no estado (II) são reprimidas para genes de motilidade e separação celular, portanto, crescem como cadeias sésseis. Figura 6. Circuito excitável que controla a troca entre estados celulares alternativos. A) Representação do circuito duplo-negativo que controla motilidade e formação de cadeias (SIr=SInR e R=SinR). B) Canal microfluídico fechado na base e aberto no topo, à medida que as células crescem e se dividem elas saem pelo topo. O quimógrafo mostra uma série de micrografias de time-lapse tiradas em intervalos de 5 minutos. Uma célula móvel (em verde) na base esquerda troca para um estado de formação de cadeia (em vermelho), gerando progênie que mantém tal estado. Uma célula que forma cadeias (em vermelho) na base direita, retorna ao seu estado móvel (em verde) e gera progênie que mantém seu estado de motilidade. Circuitos de feed-foward Considerado uma grande contribuição no ramo de biologia de sistemas. É um achado entre os circuitos reguladores que são consideravelmente simples. São redes com três nós que possuem propriedades benéficas e são utilizados no desenvolvimento. Circuitos de feed-foward são redes com três nós que possuem propriedades benéficas Um bom exemplo são redes que consistem em três nós (Fig. 22-7a). São conhecidas 13 maneiras de conectar três nós com bordas, podendo ser diferenciadas pela direção delas, se as bordas conectam dois ou três nós ou se pares de nós são ligados por uma ou duas bordas, um dos 13 padrões são conhecidos como circuito de feed-forward (Fig. 22-7b). É referido como “motivo de rede” porque é um assunto recorrente em circuitos genéticos. O motivo de rede consiste em um fator de transcrição A que controla o gene para um segundo fator de transcrição B (Fig.22-7b). Que controlam o terceiro gene no motivo C. Quando os sinais são atribuídos às bordas direcionais, oito tipos de circuitos de feed-forwardpodem ser distinguidos. Porém, a seleção natural favoreceu dois que são encontrados mais frequentemente do que os outros. Um dos motivos são conhecidos como motivo coerente e o outro motivo incoerente, no motivo coerente, as vias direta e indireta levam ao gene-alvo e representam a saída possuindo o mesmo sinal e no motivo incoerente, as duas vias possuem sinais diferentes, com o gene-alvo C sujeito ao controle positivo por A na via direta e controle negativo por B na via indireta. Nos dois casos, a expressão do gene-alvo está sujeita à lógica de uma porta AND, isto é, a transcrição de C requer A “AND” B (A e B) na primeira e A “AND NOT” B (A, mnas não B), na última. O circuito de feed-forward coerente possui as propriedades de requerer uma entrada sustentada para que o gene-alvo C seja transcrito (Fig.22-7c). O motivo de feed-forward incoerente tem sua própria característica benéfica (Fig 22-7d), porque é um gerador de pulso que provoca a ligação da expressão gênica e seu desligamento; e o ativador A liga o gene-alvo C, porém com o tempo o acúmulo do repressor B vai causando o desligamento do gene-alvo. Assim, o circuito de feed-forward incoerente é útil quando a expressão gênica é necessária apenas por um pequeno período de tempo. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7º ed., 2015. Circuitos de feed-foward são utilizados no desenvolvimento Eles vão revelar princípios de design em vias complexas. Em certos casos, combinações de circuitos coerente e incoerentes é usada para produzir padrões elaborados de atividade gênica. Os circuitos que são coerentes garantem que a entrada para o circuito seja persistente e, portanto, que o desenvolvimento não seja desencadeado no momento e nem no local errado. Já os circuitos incoerentes são usados para gerar pulsos sucessivos de expressão gênica ao longo do curso da morfogênese. Um exemplo seria que um alvo direto da Dorsal é o gene twist. Este motivo regulador é, de fato um exemplo de um circuito feed forward coerente. Circuitos oscilantes Outro tipo de controle gênico de grande importância na biologia é a oscilação na qual a expressão de grandes números de genes é periodicamente ativada, e então desativada. A elucidação do circuito que controla este comportamento oscilatório, e fazê-lo de maneira quantitativa, é um dos principais desafios da biologia de sistemas. Figura 8. Os circuitos que controlam a formação de esporos são uma série de Feed-Forward conectados. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7º ed., 2015. Alguns circuitos geram padrões oscilantes de expressão gênica No ciclo celular da bactéria Caulobacter crescentus há um circuito regulador oscilante (Fig. 9). Nesse caso, os reguladores-mestres CtrA e GcrA estão presentes de forma alternada dirigindo a expressão gênica em um padrão oscilatório ao longo do curso do ciclo celular. Outro exemplo de comportamento oscilatório é o ciclo circadiano em moscas e mamíferos. Esse circuito é uma retroalimentação negativa que envolve as proteínas ativadoras Clock e Cycle e o autorepressor Per (Period). Essas proteínas se ligam à região reguladora de Per, estimulando sua transcrição até que as proteínas Per se acumule em níveis críticos. Nesse momento, a proteína Per consegue se contrapor a ação de Clock e Cycle e desligar a sua própria síntese. Com essa desativação a proteína Per é depletada da célula, levando a um nível sublimiar do autorrepressor, que é insuficiente para bloquear a ativação por Clock e Cycle. Esse ciclo de ativação/desativação ajuda a definir o ciclo de 24 horas da atividade gênica. O ciclo circadiano é dependente do tempo de síntese e degradação da proteína Per, mudanças de estabilidade nessa proteína pode desencadear frequências oscilantes a cada 22 ou 26 horas. A autorregulação negativa parece estar envolvida na expressão gênica oscilatória na formação dos somitos em embriões de vertebrados (Fig. 10a). Os somitos se formam da cabeça à cauda (pelo menos no zebrafish) e dependem da atividade oscilatória LIGADA/DESLIGADA dos genes reguladores her1 e her7. A expressão cíclica desses genes ocorre até que as células do somito estejam prontas para se diferenciar. O amadurecimento de cada novo lote de célula leva a interrupção da oscilação, algumas células ficam paradas no máximo de seu ciclo oscilatório e outros no mínimo. Essa expressão gênica foi submetida à modelagem matemática e a simulações de computador. Os níveis oscilantes dos produtos dos genes repressores regulam a expressão de outros genes para definir o padrão de cada novo somito. No zebrafish a cada 30 minutos um novo somito é formado, esse tempo decorre do atraso entre o período em que os genes her1 e her7 estão ligados e o acúmulo dos autorrepreçores até desligar a sua própria síntese (Fig. 10b). A sincronização da expressão gênica oscilatória em células vizinhas de um futuro somito ocorre por uma via intersinalização célula a célula. Os genes reguladores, her1 e her7, codificam a proteína de superfície celular Delta que irá que se liga à proteína receptora Notch em células vizinhas. Esse mecanismo ocasiona ciclos sobrepostos de autorregulação negativa e sinalização intercelular durante a oscilação das células que originam os somitos. Figura 9. Os reguladores CtrA e GcrA aumentam e diminuem em abundância fora de fase um com o outro durante o ciclo celular de Caulobacter. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7º ed., 2015. Figura 10. Expressão de genes de somitos no desenvolvimento dos vertebrados. Fonte: Biologia Molecular do Gene, 7º ed., 2015. Circuitos sintéticos mimetizam algumas das características das redes reguladoras naturais No campo da biologia sintética, os princípios do design que controlam as redes reguladoras podem ser entendidos pela construção de circuitos que mimetizam os sistemas naturais, o que é o caso do “repressilador” em E.coli. O repressilador é uma rede de três nós, em que três protéinas reguladoras estão ligadas umas às outras de maneira circular e com bordas negativas. Esse sistema consiste em genes para os repressores bacterianos λCI, LacI e TetR. Apesar de ser um circuito de três nós, o repressilador tem um padrão oscilatório de transcrição de impressionante 2 horas. Provavelmente, flutuações nos níveis dos três repressores ocasionada por ruídos impedem que o sistema alcance o estado de repouso, resultando em padrão oscilatório de expressão. O sistema do repressilador é muito menos robusto do que o comportamento dos sistemas naturais, mostrando que sistemas sintéticos são inadequados para mimetizar os circuitos mais complexos de osciladores naturais. Outras redes criadas sinteticamente são armazenadas em uma biblioteca de circuitos artificiais criada a partir de variedades de combinações de múltiplos fatores de transcrição e promotores. Em placas de ágar também são criadas linhagens “remetentes” (no centro da placa, produzem moléculas sinalizadoras) e “respondentes” (em toda a placa, respondem de maneiras diferentes de acordo com as concentrações recebidas de moléculas sinalizadoras). Os respondentes produzem proteínas- repórter cromogênicas distinguíveis, produzindo cor em padrão de halo de acordo com a distância das células remetentes.
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