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Prof. Thiago Kich Fogaça ESTUDO DAS TRANSFORMAÇÕES DA PAISAGEM AULA 1 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro aluno! Você deve saber que as ações mal planejadas da nossa sociedade – tais como desmatamentos, ocupações irregulares, falta de manejo do solo na agricultura, extração mineral irregular, entre outros – causam diversos impactos aos ambientes, o que configura um importante debate entre os cientistas das mais diversas áreas. Assim, por se tratarem de temas de importância global e que exigem soluções imediatas, devido aos riscos que os desastres ambientais podem representar às sociedades humanas, os geógrafos têm se dedicado, entre outros assuntos, às pesquisas relacionadas ao ambiente. Dessa forma, as investigações relativas às consequências das ações das sociedades no ambiente apresentam um caráter complexo que envolve muitas variáveis, sendo uma possibilidade de interpretação científica os estudos sobre a paisagem geográfica que subsidiam o entendimento dos processos que envolvem a evolução e o desenvolvimento das paisagens. Em linhas gerais, por meio dos estudos da paisagem, os geógrafos são capazes de observar além dos processos naturais, os efeitos das ações humanas na natureza, bem como as condições de adaptação e vulnerabilidade das sociedades em um determinado ambiente. Nesta aula será apresentada a teoria geográfica da paisagem, as diferentes concepções teóricas e como algumas teorias são atualmente aplicadas aos estudos geográficos. Veremos também, as correntes teóricas que fundamentam a análise geográfica com a história da ciência e com o ensino e as práticas profissionais da Geografia. Antes de tudo, assista ao vídeo de apresentação do professor e da disciplina no material on-line. 3 CONTEXTUALIZANDO Um problema muito comum enfrentado pela sociedade dos países em desenvolvimento diz respeito às questões relacionadas a ocupações irregulares. A dificuldade em oferecer a estrutura necessária para a boa sobrevivência das populações mais carentes, tem levado diversas populações a habitarem em locais considerados de alto risco, como leitos de rios e encostas. Neste sentido os estudos das transformações da paisagem e do relevo são de vital importância para compreender a natureza dos elementos físicos que se encontram no ambiente habitado, sendo também importante considerar o conhecimento prévio que muitas populações possuem na adaptação ao ambiente, como no caso das comunidades ribeirinhas que entendem os processos relacionados aos regimes de cheia e vazante dos rios dos quais se avizinham. É importante perceber que a interação sociedade-ambiente se dá em um viés teórico, ao estudar geograficamente a paisagem e o relevo e também num viés empírico, ou seja, da experiência em que encontramos a influência mútua existente entre a população que habita uma área de risco e os elementos físicos que os compõe. Para os geógrafos a análise integrada dos fenômenos passou por diversas percepções, no intuito de tornar científico os estudos da paisagem, diversos pesquisadores se dedicaram ao aprofundamento teórico e metodológico do que conhecemos como ciência da paisagem. Por isso, primeiramente iremos nos ater a estudar os diferentes olhares geográficos sobre o conceito de paisagem. Preparado? Antes de iniciarmos nossos estudos, assista à contextualização que o professor Thiago Fogaça faz dos assuntos de hoje! Acompanhe as palavras dele no material on-line. TEMA 1 – Introdução ao Conceito de Paisagem na Geografia 4 Ao longo da trajetória da geografia enquanto ciência, diversos foram os pesquisadores que se dedicaram a estudar a paisagem geográfica. Assim, para realizarmos um estudo sobre o espaço geográfico, podemos adotar diferentes categorias de análise, tal como: região, território, lugar e paisagem. Dentre esses conceitos, o último – a paisagem – é aquele que melhor se adéqua à nossa proposta de compreender as transformações do ambiente. Esse importante conceito passou por diversas adaptações ao longo da história da Geografia, e por isso mesmo é necessário conhecermos um pouco mais sobre a teoria geográfica da paisagem. Veremos agora, os marcos teóricos do conceito de paisagem na Geografia, que são alguns dos primeiros estudos a se aprofundar na discussão deste conceito; a importância da teoria geral dos sistemas como referência nos estudos da paisagem, que já apontavam para uma perspectiva integradora, mas que, adquiriram funcionalidade por meio da perspectiva sistêmica; e, a partir do desenvolvimento de certas teorias geográficas amparadas na abordagem sistêmica, vamos entender a atualidade dos estudos da paisagem com enfoque nos estudos geomorfológicos – ou seja, do relevo. Você já observou que é comum um mesmo tema ser visto por meio de diversos pontos de vista? E que essas perspectivas se modificam de acordo com a cultura e o tempo histórico? Sendo assim, questionamos: como você definiria paisagem? Para a Geografia, o termo paisagem é uma importante categoria de análise, pois você já sabe que os geógrafos trabalham com diferentes escalas e fenômenos espaciais. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse conceito como termo científico da Geografia, por meio de diferentes perspectivas que se encontram inicialmente em três escolas: a alemã, a francesa e a norte-americana. Segundo a escola alemã Na Alemanha, o conceito de Landschaft (paisagem) foi concebido por Alexander von Humboldt (1769-1859) em sua obra Ansichten der Natur (Quadros da 5 natureza), de 1808. Nela, os autores nos apresentam a reflexão acerca da ideia de paisagem como uma representação das propriedades físicas observadas em um determinado local ou, conforme escreve Pedras (2000, p.100), a paisagem humboldtiana (relativo ou pertencente a Alexander von Humboldt, naturalista alemão 1769-1859), seria a “transcrição exata da imagem visualizada no contato direto junto à natureza, e a paisagem que, embora programada pelo cálculo exato e pontual, vai ser manipulada e reconstruída a fim de atingir uma paisagem ideal”. Podemos observar assim, que a paisagem para Humboldt se fixa na representação dos aspectos físicos, visto que esse eminente geógrafo fez parte de expedições que buscavam observar os aspectos naturais dos locais explorados e, portanto, as experiências de Humboldt ficaram impressas em seu conceito de paisagem. Segundo a escola francesa Anos mais tarde, na França, Paul Vidal de La Blache (1845-1918) propôs a análise da paysage (paisagem) como categoria de análise da Geografia em seu livro Tableau de la Géographie de la France (Quadro da Geografia da França), de 1903, e também no artigo “De l’interprétation géographique des paysages” (Da interpretação geográfica da paisagem) de 1908, nos quais observamos o desenvolvimento da ideia de paysage (ou pays) que, para La Blache, estava pautada na interação do homem com seu espaço físico, em que determinados gêneros de vida poderiam se manifestar. Essa concepção de paysage influenciou diretamente a Geografia Francesa. Segundo a escola norte-americana Também é importante destacarmos, no escopo da contribuição norte-americana ao conceito de paisagem, o trabalho de Carl Ortwin Sauer (1889-1975), The Morfology of Landscape (A morfologia da paisagem), de 1925, em que ela é definida como “uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais”, por meio da qual “sua estrutura e função são determinadas por formas integrantes e dependentes” (Sauer, 1998. p.46). Sauer (1998) também enfatiza o aspecto cultural da paisagem, que é modelada a partir 6 de uma paisagem natural por um grupo cultural, sendo “a cultura é o agente, a área o meio, e a paisagem cultural o resultado”. Considerando as abordagens que apresentamos acima, podemos observar que elas são complementares,no sentido de apresentarem avanços na concepção da paisagem. Humboldt contribuiu com a observação dos aspectos físicos, La Blache considerou a interação dos aspectos físicos e humanos e Sauer contribuiu com a perspectiva cultural de paisagem. Além dessas importantes contribuições, outras teorias foram igualmente relevantes para construir a perspectiva integradora da paisagem. Além das concepções apresentadas, outra escola de geografia que merece destaque nos estudos da paisagem foi a escola Russa. No final do século XIX a perspectiva alemã de paisagem – landshaft e a perspectiva francesa – paysage permearam as discussões na academia russa de geografia, devido à demanda por compreender o vasto território russo. Sobre os assuntos que estudamos, o professor Thiago Fogaça traz outros pontos importantes. Acesse o material on-line! TEMA 2 – A Teoria Geral dos Sistemas como Marco Integrador da Paisagem Conforme vimos anteriormente os estudos da paisagem na geografia tiveram um momento de desinteresse por parte dos geógrafos devido à onda de matematização e cientificidade de que se instalou a partir da década de 1920 na geografia. A paisagem não era vista como uma categoria que pudesse ser quantificada, e era considerada pouco científica para alguns. Foi então que entre as teorias que poderiam contribuir para os estudos da paisagem, que demandavam uma análise integrada dos fenômenos, podemos destacar a teoria geral dos sistemas (TGS), que foi proposta na década de 1950 pelo biólogo austríaco Ludwig Von Bertalanffy (1901-1972). Em um primeiro momento essa teoria foi desenvolvida para atender as demandas de estudos relacionados à Biologia e, a partir de então, a comunidade científica passou a 7 conceber a natureza como um elemento passível de ser analisado sistematicamente. A TGS passou a ser utilizada por diversos ramos científicos entre eles a economia e mais tarde a computação. Bertalanffy (1973) entendia que os sistemas são compreendidos como uma entidade, e não apenas como um aglomerado de partes; ou seja, considerava que o todo era maior que a soma de suas partes, e que os elementos do sistema realizam trocas de matéria e energia entre si. Os efeitos da TGS puderam ser percebidos também nos estudos geográficos em que surgiram diversas outras teorias que entendiam a natureza em uma perspectiva sistêmica, tal como a teoria ecossistêmica e a geossistêmica, cujas bases iriam contribuir enormemente para os estudos da paisagem. De acordo com Schier (2003. p.80), até a década de 1940, a Geografia alemã utilizou a paisagem como categoria científica que considerava “um conjunto de fatores naturais e humanos (Otto Schlüter, SiegfriedPassarge e Karl Hettner) ”, sendo que foi somente na década de 1950 que a teoria geral dos sistemas passou a ser adotada pelas ciências em geral como uma perspectiva integradora. De acordo com Mendonça (1998), para a Geografia, esse fato configurou um esforço do espírito de cientificidade que os geógrafos buscavam, pois foi pela aplicação da teoria geral dos sistemas, associada à modelagem matemática e à quantificação dos fenômenos espaciais, que a chamada Nova Geografia (New Geography) se configurou como um modelo aceito pela comunidade científica da época. Sobre a aplicação da teoria geral dos sistemas na Geografia, Mendonça (1998) esclarece que a teoria ecossistêmica, proposta primeiramente pelo ecologista inglês Arthur Tansley (1871-1955), influenciou a Geomorfologia de Richard John Chorley (1927-2002), a teoria geossistêmica do russo Viktor Borisovich Sotchava (1905-1978), a teoria da paisagem do biogeógrafo francês Georges Bertrand (nascido em 1932) e a teoria ecodinâmica do também francês Jean Tricart (1920- 2003). Entenda melhor essa situação com a explicação do professor Thiago Fogaça. Confira no material on-line. 8 TEMA 3 – Geossistema-Território-Paisagem Nessa perspectiva integradora, a teoria geossistêmica elaborada por Sotchava na década de 1960 foi difundida mundialmente pelo biogeógrafo Bertrand, por meio do artigo “Paysage et géographie physique globale: esquisse méthodologique” (Paisagem e Geografia Física global: esboço metodológico) de 1968, republicado pela Revista RA’E GA em 2004. Nesse texto, Bertrand argumenta sobre a importância de embasar os estudos da paisagem na teoria geossistêmica, sendo fundamental adequar a escala do fenômeno, para mensurá-lo e cartografá-lo, o que se diferenciado conceito de ecossistema, que está atrelado a um elemento vivo e não a um fenômeno espacial. Pela teoria de Bertrand (2004), podemos concluir que a visão geossistêmica busca sintetizar os conhecimentos sobre a paisagem elaborados por geógrafos e pesquisadores anteriores a ele. Bertrand considera a dinâmica do geossistema passível de integrar aspectos naturais e culturais, conforme expõe no seguinte trecho: [...] o geossistema é um complexo essencialmente dinâmico mesmo em um espaço-tempo muito breve, por exemplo, de tipo histórico. O ‘clímax’ está longe de ser sempre realizado. O potencial ecológico e a ocupação biológica são dados instáveis que variam tanto no tempo como no espaço. A mobilidade biológica é bem conhecida (dinâmica natural da vegetação e dos solos, intervenções antrópicas etc.). De outro lado, parece que os naturalistas se interessaram pouco pela evolução própria do potencial ecológico que precede, acompanha ou segue as modificações de ordem biológica. Por exemplo, a destruição de uma floresta pode contribuir para a elevação do lençol freático ou desencadear erosões susceptíveis de transformar radicalmente as condições ecológicas. As noções de fator – limitante e de mobilidade ecológica 9 merecem um exame aprofundado da parte do geógrafo advertido dos fenômenos de geomorfogênese e de degradação antrópica (Bertrand, 2004, p. 147). Ainda outros dois aspectos são destacados por Bertrand (2004): o primeiro está relacionado à tipologia da paisagem, ou seja, sua taxonomia (classificação), em que cada unidade de paisagem deve ser considerada em sua dinâmica e adequada à escala de análise. O segundo aspecto é relativo à cartografia da paisagem que, para o autor, necessita de atenção e deve ser apresentada detalhadamente. Sobre o cuidado na realização dos levantamentos da paisagem, o autor afirma: O essencial do trabalho se efetua no terreno: levantamentos geomorfológicos, pedológicos e fitogeográficos, exame das águas superficiais, observações meteorológicas elementares, inquéritos sobre o sistema de valorização econômica (gestão florestal, percursos pastoris, direitos de uso etc.). Essas informações e levantamentos temáticos são completados pelos trabalhos de arquivos e inquéritos diversos (cadastro, serviços administrativos etc.). A consulta da bibliografia especializada é, bem entendido, indispensável, mas ela é muitas vezes difícil de ser utilizada por causa da diferença de ponto de vista (Bertrand, 2004 p.151). O geossistema de Bertrand considera assim a morfologia, o funcionamento e o comportamento dos elementos a serem cartografados por meio de diferentes escalas espaciais que, em ordem decrescente de área, podemos apresentar como: zona, domínio, região, geossistema, geofácies e geótopo. Dessa forma, em um primeiro momento, a teoria da paisagem de Bertrand, baseada na concepção geossistêmica, é compreendida como um método de análise geográfica, cujo objetivo é facilitar o entendimento da dinâmica e da interação 10 dos fenômenos terrestres por parte dos geógrafos, por meio de sistematizações, modelagens, levantamentos e mapeamentos. Em outro momento, Bertrand (Bertrand.Bertrand,2007) avançam na teoria geossistêmica devido às demandas da sociedade por métodos que possibilitem não apenas o entendimento dos fenômenos, mas também que sejam passíveis de aplicaçãono planejamento da paisagem. Portanto, a paisagem se torna uma ferramenta de ação territorial, sendo o território um novo elemento a ser considerado nos estudos da paisagem, o qual representaria o aspecto socioeconômico do sistema. Bertrand e Bertrand (2007, p.142) consideram que o território “é de alguma forma a interpretação socioeconômica do geossistema”, sendo que o uso desse conceito possibilitaria a interpretação das relações políticas ocorridas no geossistema. Como você pode notar, o estudo da paisagem, desde seu início, na Geografia, trouxe questionamentos a respeito da integração entre paisagem cultural e natural. Nessa direção, Bertrand e Bertrand (2007) propõem um método de análise conhecido como geossistema-território-paisagem (GTP), buscando uma integração das diferentes formas de compreensão da paisagem. De acordo com Passos (2013, p.178), o geossistema passaria a ser a representação do espaço- tempo antropizado, a entrada natural do sistema; o território seria a entrada socioeconômica, representando o espaço-tempo das sociedades; e, por fim, a paisagem representaria o espaço-tempo da cultura. Assim, podemos estabelecer que Bertrand e Bertrand (2007) realizaram um avanço na teoria geossistêmica, ao ir além dos elementos físicos, considerando também os aspectos políticos que envolvem o complexo sistema da paisagem. Conheça agora as regras de classificação para a correta designação do código a ser atribuído para determinada mercadoria. Antes desta aula, você já havia escutado o termo geossistema? E quanto a sua integração com as diferentes formas de compreensão da paisagem? Bem, para responder a essas questões o professor Thiago Fogaça preparou a videoaula a seguir. Confira no material on-line. 11 TEMA 4 – Ecodinâmica Em 1977, a Superintendência de Recursos Naturais e Meio Ambiente do Brasil (Supren) publicou a obra do geomorfólogo francês Jean Tricart (1920- 2003), intitulada Ecodinâmica. Nessa obra, o autor apresentou outra abordagem de sistemas, que buscava integrar sociedade e natureza. Nas palavras de Tricart (1977): “uma unidade ecodinâmica se caracteriza por certa dinâmica do meio ambiente que têm repercussões mais ou menos interativas sobre as biocenoses”. A morfodinâmica é o elemento determinante que depende do clima, da topografia (formas de vertentes), do material rochoso. Ela permite a integração desses vários parâmetros. O conceito de unidades ecodinâmicas é integrado ao conceito de ecossistema. Baseia-se no instrumento lógico do sistema e enfoca as relações mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e dos fluxos de energia e matéria do ambiente. (TRICART, 1977. p.32). De acordo com Guerra e Marçal, na obra Geomorfologia Ambiental (2006, p.113), Tricart (1977) discute a importância da Geomorfologia no estudo integrado e na organização da paisagem, enfatizando que a ótica dinâmica deve ser relevante em sua abordagem e define três grandes tipos de situações: os meios estáveis, os meios intermediários e os meios instáveis. Para o autor, a evolução geomorfológica gera diferenciações na unidade de relevo que, associadas às modificações das sociedades humanas, constroem unidades de paisagem territorialmente bem marcadas. Assim, como podemos perceber, os compartimentos geomorfológicos – ou seja, do relevo – têm grande importância no estudo da paisagem. Evidentemente, todos os compartimentos, como clima, vegetação, solos e hidrografia são igualmente importantes e serão refletidos na composição das 12 unidades de paisagem. Entretanto, o nosso enfoque será dado ao aspecto geomorfológico da paisagem, por meio do qual estudaremos como a Geomorfologia pode contribuir para as pesquisas ambientais. Agora, confira no material on-line o vídeo do professor Thiago Fogaça sobre este assunto. TEMA 5 – OS ESTUDOS DE GEOMORFOLOGIA NO BRASIL Além da influência davisiana, a Geomorfologia no Brasil foi permeada pelas concepções dos geógrafos franceses Emmanuel de Martonne (1973-1955) e Pierre Monbeig (1908-1987). Influenciado por esses pesquisadores, o geógrafo brasileiro Aziz NacibAb’Saber (1924-2012), considerado um dos pioneiros nos estudos da Geomorfologia, em 1958, apresentou na Universidade de São Paulo (USP) sua tese de doutorado, intitulada Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo, a qual é um importante marco teórico para Geomorfologia brasileira. O Congresso da União Geográfica Internacional (UGI), realizado no Rio de Janeiro em 1956, também foi um acontecimento importante para a Geografia nacional e mundial, pois seus participantes tiveram a oportunidade de conhecer as pesquisas que estavam sendo desenvolvidas no mundo nessa época. Para a Geomorfologia, esse evento representou a intensificação dos questionamentos sobre a interpretação da origem dos materiais depositados em vertentes, relacionados à Paleogeomorfologia. Na década de 1960, acentuou-se o uso da teoria geral dos sistemas nos estudos geomorfológicos e, na década de 1970, os geomorfólogos passaram a estudar o equilíbrio dinâmico do relevo, por meio da sistematização de dados geográficos em ambientes computacionais, o que permitiu a introdução de uma maior quantidade de dados numéricos para a compreensão dos sistemas geomorfológicos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2009), diversos foram os geógrafos que se dedicaram aos estudos de Geomorfologia no Brasil, auxiliando no desenvolvimento de seus conceitos e teorias: 13 Pela importância de seus trabalhos e pelo papel que desempenharam na formação de grande número de pesquisadores, citem-se nomes como os de Aziz Ab’Saber, Victor Leinz, Fernando Flávio Marques de Almeida, Rui Osório de Freitas, Amélia Alba Nogueira Moreira, Getúlio Vargas Barbosa, Teresa Cardoso da Silva, Maria Regina Mousinho de Meis, Olga Cruz, Antônio Christofoletti, Antônio Teixeira Guerra, Alfredo José Porto Domingues, Celeste Rodrigues Maio, João José Bigarella, DieterMuehe e Margarida Penteado, entre outros (IBGE, 2009. p.23). O desenvolvimento tecnológico no período pós-Segunda Guerra Mundial também foi um importante aliado dos geomorfólogos, pois por meio do aperfeiçoamento da fotogrametria e do desenvolvimento do sensoriamento remoto foi possível identificar e mapear as unidades de relevo. Nesse sentido, a Cartografia Geomorfológica passou a ser uma ferramenta essencial para a espacialização dos fenômenos geomorfológicos, pois tornou possível aos geógrafos a representação da gênese dos relevos, das estruturas e dos processos envolvidos. Desde a década de 1970, por meio de pesquisas em Cartografia, sensoriamento remoto e com o Projeto Radambrasil, os geógrafos puderam ter acesso a diversas bases de dados geográficos, que possibilitaram aprofundamento dos estudos geomorfológicos. Assim, o Projeto Radam Brasil representou um grande avanço técnico nesse período, visto que iniciou o levantamento de dados geográficos, primeiramente na região amazônica e depois em todo o território nacional. Considerando a extensão do território brasileiro, esse projeto também representou um importante marco no levantamento de dados ambientais, que passaram a ser mapeados de forma sistemática. Na sequência, o professor Thiago Fogaça continuará falando sobre Geomorfologia. Não deixe de acompanhar no material on-line. 14 SÍNTESE Chegamos ao fim de mais um encontro desta disciplina. Como você viu o seu desenvolvimento até aqui? Vale lembrar que sempre ao término de algum estudo, é de grande valia fazer uma sintetização, e caso tenha ficado dúvidas em alguma parte, nunca hesite em retomar o conteúdo, afinal é deste modo que você se tornará um expert no assunto! Vamos lá a uma rápida sintetização do que foi visto até aqui?! Hoje estudamos algumas diferentes perspectivas do conceitode paisagem, e agora você deve estar se perguntando até que ponto o conceito de paisagem pode interferir numa análise empírica (prática) de uma determinada paisagem? Quando inserimos os casos de eventos de deslizamento para refletirmos, nos dois casos haviam populações nos arredores das áreas afetadas, nós geógrafos dizemos que quando uma população se encontra numa área de risco de acontecer algum evento extremo ela está vulnerável, e essa visão atual veio a partir das discussões do conceito de paisagem do século XIX (assunto que será tratado na próxima aula). Veja o resumo de tudo que foi abordado nesta aula, na síntese elaborada pelo professor Thiago! Disponível no material on-line. REFERÊNCIAS BERTALANFFY, L. von. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. SCHIER, R. A. Trajetórias do conceito de paisagem na geografia. Revista RA’E GA: O Espaço Geográfico em Análise, Curitiba, n. 7, p. 79-85, 2003. MENDONÇA, F. A. Dualidade e dicotomia na Geografia moderna. Revista RA’E GA: O Espaço Geográfico em Análise, Curitiba, n. 2, p. 153-165, 1998a. _____. Geografia e meio ambiente. São Paulo: Contexto, 1998b. SOTCHAVA, V. B. 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