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1 FARMACOLOGIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Antimicrobianos INTRODUÇÃO • Características gerais: o Antimicrobianos são substâncias que suprimem o crescimento da colônia de microrganismos responsáveis por infecções (suprimir o aumento de quantitativo desses agentes) o Há 2 formas de fazer isso, matando (bactericida) ou impedindo a proliferação (bacteriostático) dos microrganismos/bactérias (mas, o resultado dos 2 é impedir o crescimento desses agentes) ▪ A ação básica é reduzir diretamente o quantitativo ou reduzir a velocidade de proliferação ▪ Uma diferença entre essas 2 formas é que o bacteriostático precisa de um sistema imunológico eficiente para completar o serviço, tendo em vista que a droga não mata a bactéria, mas só inibe a proliferação ❖ Em pacientes imunossuprimidos, devemos usar o bacteriostático apenas associado a um bactericida o Apesar deste aspecto comum, os antimicrobianos diferem marcadamente em suas propriedades físicas, químicas, farmacológicas e espectro de ação (maior diversidade farmacocinética entre medicamentos) CLASSIFICAÇÃO Dentro da pluralidade dos antimicrobianos, na farmacodinâmica é possível resumir os mecanismos de ação desses fármacos a 5 principais subtipos. Ocasionalmente, um mesmo medicamento pode estar classificado em mais de 1 dessas categorias. • Inibidores da síntese da parede bacteriana: o Obrigatoriamente bactericidas → Leva à solução de continuidade na bactéria (morre muito rápido) o A maioria também atua como desagregador da membrana celular o A principal e mais usada classe de antimicrobianos existente (os betalactâmicos) faz parte desse grupo • Desagregadores de membrana celular: o Obrigatoriamente bactericidas → Leva à solução de continuidade na bactéria (morre muito rápido) o Os betalactâmicos também são desagregadores de membrana ▪ A velocidade de resposta de um betalactâmico é muito rápida porque esses mecanismos bactericidas (inibição de síntese da parede e desagregação de membrana) são muito agressivos para as bactérias ▪ Normalmente se o paciente está tomando um bactericida como o betalactâmico e não apresenta melhora dos parâmetros clínicos em até 72h é bastante sugestivo de resistência • Interferentes na função ribossomal: o Obrigatoriamente bacteriostáticos o Também podem ser chamados de interferentes na síntese proteica bacteriana o As principais drogas desse grupo (que mais usamos atualmente) são os macrolídeos (eritromicina, claritromicina e azitromicina), mas também temos as tetraciclinas, o cloranfenicol e os aminoglicosídeos PROF. RONEY OLIVEIRA 2 FARMACOLOGIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Os aminoglicosídeos representam a exceção dessa classe, porque em baixas doses têm ação bacteriostática, mas em altas doses bactericida, então provavelmente têm um mecanismo de ação desconhecido • Inibidores da função nuclear: o Obrigatoriamente bactericidas → Ao desestabilizar o DNA, mesmo as funções vegetativas da bactéria são interrompidas, então tanto as funções reprodutivas quanto as vegetativas serão inibidas o As principais drogas desse grupo são as quinolonas (no BR as mais usadas são as fluoroquinolonas) • Antimetabólicos: o Podem ser bacteriostáticos ou bactericidas o Interferem sempre com uma atividade metabólica importante da bactéria o Se atuar numa atividade metabólica essencial para a sobrevivência da bactéria será bactericida e se atuar numa atividade metabólica essencial para a reprodução da bactéria será bacteriostática ▪ Porém, todas as drogas antimetabólicas utilizadas hoje são apenas bacteriostáticas, porque as bactericidas que foram desenvolvidas acabavam matando o indivíduo também e não só a bactéria o As principais drogas desse grupo são as sulfonamidas, como o sulfametoxazol (normalmente associado ao trimetoprim), que atuam inibindo a síntese de ácido fólico da bactéria (só afetam bactérias que sintetizam seu próprio ácido fólico, limitando seu espectro de ação) SUSCEPTIBILIDADE E RESISTÊNCIA • Susceptibilidade x Resistência: o A susceptibilidade não é algo adquirível como a resistência ▪ A resistência é algo que depende de mutação que leva a um mecanismo que altere o alvo da droga, que inative a droga ou que faz que a droga não atinja seu alvo ▪ Um microrganismo que é susceptível a uma droga pode se tornar resistente a ela (mas não deixa de ser usado o termo susceptível) o Susceptibilidade está relacionada com o mecanismo de ação da droga ter um efeito compatível com certo microrganismo ▪ O agente infeccioso é considerado sensível/susceptível a algum fármaco quando é possível atingir concentrações suficientes para inibir seu crescimento ▪ Ex.: As sulfonamidas agem inibindo a produção de ácido fólico. A enzima que elas inibem só existe em bactérias que sintetizam seu próprio ácido fólico. Então, nas bactérias que não produzem, as sulfonamidas não têm onde se ligar e agir, portanto essas bactérias não são susceptíveis a elas o A resistência não é algo intencional e sim aleatória. Inclusive, dentro de uma colônia pode ser que um bactéria sofra uma mutação que reverta uma resistência existente (porém, na presença do fármaco essas acabarão morrendo e não serão selecionadas para continuar a se reproduzir) o Se não há susceptibilidade, não tem como nem pensar em resistência ▪ Por isso, em antibiogramas, nem todos os fármacos são testados para resistência em determinadas bactérias, já que o mecanismo de ação deles nunca foi capaz de alterar seu crescimento/sobrevivência o Há um segundo fator na susceptibilidade → Às vezes, o microrganismo apenas não está susceptível a uma droga naquele momento (não quer dizer que ela não seja nunca susceptível a esse fármaco) ▪ Ex.: A bactéria está atuando/infectando um local do organismo em que a droga não consegue chegar 3 FARMACOLOGIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Há alguns locais, como osso, olho, SNC, coração, áreas revestidas por pleura e pele, que captam de forma diferente várias drogas e isso influencia na resposta • 3 fatores devem ser avaliados na resistência: o A droga não atingiu seu alvo o A droga foi inativada o O alvo foi alterado • Formação de resistência: o Pode ser favorecida por situações que levam em conta a ação do médico e do paciente ▪ Posologia subótima → Se a posologia (concentração do fármaco e número de vezes de administração) estiver, por exemplo, abaixo do ideal, pode favorecer a resistência (concentração abaixo do nível inibitório) ❖ Pode ser tanto por prescrição malfeita quanto por mau adesão do paciente ▪ Tempo inadequado de tratamento → O que mais estimula os pacientes a tomar os medicamentos é ter algum sintoma, como dor. Então, quando esse sintoma termina antes do tempo estipulado para o tratamento, muitos abandonam o tratamento, o que não é adequado, porque o tempo é calculado baseado em atingir a resposta plena na maioria dos pacientes ▪ Indicação inadequada → Há uma exposição de várias bactérias, inclusive de flora, àquela droga administrada erroneamente, podendo haver uma mutação com resistência e seleção o Lembrando que a resistência é dada por uma mutação aleatória, então quanto + tempo a bactéria fica em contato com a droga, principalmente em concentrações abaixo do nível inibitório, maior a chance de desenvolver uma resistência que perpetuará o As medicações de amplo espectro são mais perigosas nesse quesito, por existirem mais microrganismos, inclusive da flora, que são susceptíveis a elas, podendo desenvolver essa resistência (por isso, quando possível, escolhemos sempre um tratamento objetivo com baixo espectro) • Reversão da resistência: o Assim que a resistência se estabeleceu, há algo que possa ser feito para reverter esse quadro? ▪ A melhor tática é interromper o uso da droga em toda a comunidade por um tempo estipulado (dependendo dotamanho da população atingida etc.) ▪ Isso porque, enquanto continuar o uso da droga, aquelas bactérias que fizeram a mutação de resistência serão as mais fortes e, portanto, a resistência continua sendo pressionada a ser efetiva ▪ O tempo em que se deve parar a utilização dessa droga não pode ser estabelecido previamente, porque leva em consideração alguns fatores, por exemplo: ❖ Quanto mais isolado é o município/local que ocorreu a mutação, menor precisa ser esse tempo ❖ Quanto mais próximo de áreas de passagem e metropolitanas é o local da mutação, maior o tempo ▪ Durante esse tempo de não utilização, deve-se acompanhar os dados de vigilância (da resistência ao medicamento) para avaliar o perfil de como a curva de resistência vai reduzindo ESCOLHA DO ANTIMICROBIANO • 3 Tipos de terapia podem ser definidas: o Profilaxia ou prevenção → Utilização de um antibacteriano diante de uma situação de alta taxa de probabilidade de ocorrência da infecção (Ex.: Cirurgia) 4 FARMACOLOGIA II RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Empírica de amplo espectro → Atua em vários microrganismos diferentes Às vezes, é necessário entrar com o tratamento antes da identificação da bactéria, então administra-se antimicrobiano de amplo espectro para iniciar a terapêutica o Terapia objetiva de baixo espectro → Atua mais objetivamente em certos tipos ou tipo de bactéria. É mais recomendado esse tipo de tratamento do que o de amplo espectro. Então, se for possível, quando identificada a bactéria, iniciar essa terapia (podendo até alterar um medicamento de amplo espectro já iniciado) • Devemos considerar: o A sensibilidade do agente in vitro → Se ele não é susceptível nem in vitro, não é in vivo que ele será o O local da infecção → A susceptibilidade é um fator também da capacidade do fármaco chegar no local da infecção numa concentração que atinja o nível inibitório ▪ Ex.: Tetraciclina é muito utilizada na dermatologia, porque ela tem uma captação na pele bem alta ▪ O local da infecção pode mudar até a posologia prescrita (uso de doses menores se em locais de maior captação e doses maiores se em locais de menor captação) o Via de administração → A via oral é sempre preferível o O estado imunológico do paciente → Está ligado à questão de bactericida/bacteriostático, de quanto o organismo do paciente ajudará a combater essa infecção (medicamentos bacteriostáticos necessitam do auxílio do sistema imune do paciente para acabar com a infecção) o A Idade do paciente → Existem drogas críticas no aspecto de segurança em neonatos ou em idosos o Fatores genéticos → Existem drogas que associadas a algumas alterações podem favorecer ou agravar alguns processos do paciente (Ex.: Crises convulsivas, alucinações, alterações hematológicas etc.) o Gravidez → É um fator crítico, sempre é preciso avaliar a gravidez quando irá administrar algum fármaco para qualquer mulher em idade fértil o Alergia a medicamentos → Só é possível saber na prática. Então, sempre perguntar se o paciente já apresentou algum processo alérgico a qualquer medicação ▪ Naquelas drogas em que a hipersensibilidade for mais pronunciada ou de maior gravidade, devemos sempre ficar atentos (Ex.: Casos de edema de glote com penicilina benzatina) o Distúrbios do SNC → Terão pacientes que serão sensíveis a crises epiléticas, a alucinações, a rebaixamentos cognitivos etc. Existem antimicrobianos com esse potencial, que em pacientes sem fatores de risco não é relevante, mas no que têm condições de base isso passa a ser bastante significante o Efeitos colaterais relevantes em cada caso → Ficar atento com interação medicamentosa (sempre checar)
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