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Farmacologia II - Dayana Colatino - Antimicrobianos e fármacos do SNC

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Farmacologia II 
2018.2 
 
 
Dayana Colatino 
 
 
 
 
 
 
 
 
@dayanacolatino 
@missaocrm 
 
 
 
 
 
 
Farmacologia II 
Responsável: Dayana Colatino 
Aula 1: Introdução da disciplina; Princípios do tratamento antimicrobiano; Introdução 
aos β-lactâmicos 
25/Jul/2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Farmacologia tem importância direta na vida do profissional de medicina e é um 
dos principais pilares da prescrição médica, sendo esta, um ato inerente ao médico. Com isso, 
para prescrever, dentro de uma complexidade de matérias, uma das disciplinas que vai 
alicerçar tal ação é a Farmacologia. 
 
-- PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO ANTIMICROBIANO -- 
 
Para abordar inicialmente as características do tratamento antimicrobiano, é 
interessante discutir a seguinte matéria divulgada no portal de notícias da Globo, o G1: 
“Paraíba confirma 20 casos de infecção pela superbactéria KPC em 2018”. A matéria foi 
publicada em Junho deste ano. 
Superbactérias são bactérias que apresentam multirresistência a antibióticos. São 
micróbios que constituem um problema extremamente atual, com o qual os profissionais da 
área de saúde já convivem e que sua tendência natural é se agravar cada vez mais. Um dos 
principais fatores que leva a piora desse cenário é falta de inovação no campo do tratamento 
microbiano e uso de recursos muito antigos. 
Ainda com relação à notícia, a bactéria KPC, Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase, 
tem a capacidade de produzir uma enzima carbapenemase, eficaz na quebra de fármacos 
1 
 
carbapenêmicos (classe de ​β-lactâmicos que será abordada em aulas futuras​). A grande 
apreensão reside no fato de os carbapenêmicos (e.g. Meropenem; Imipenem) constituírem 
uma das principais ferramentas da atualidade para o combate a esses patógenos e tais 
bactérias terem a capacidade de anulá-los em decorrência da carbapenamase. 
Hodiernamente, a multirresistência é um problema envolvendo microrganismos que se 
demonstra deveras inquietante. No entanto, os microrganismos já são motivo de preocupação 
à séculos, como ocorre em doenças como a sífilis. 
A sífilis é uma doença transmitida por via sexual e tem como agente causador dos 
sintomas o ​Treponema pallidum​. A patologia se manifesta em estágios, sendo o primeiro 
deles a aparição de uma ferida 
genital que caso não tratada 
pode evoluir para um quadro de 
rash cutânea em 
aproximadamente 2 meses de 
infecção. Se a bactéria não for 
contida, anos depois o paciente 
tem os órgãos internos 
acometidos e vem a óbito. 
Hoje em dia 
praticamente não existem casos 
de morte por sífilis, pois os quadros são tratados com ferramentas farmacológicas como os 
antimicrobianos. Mas nem sempre foi assim. É possível notar que na 
história da humanidade esse tratamento é muito recente. Ao pesquisar 
mais sobre o assunto, notam-se registros de até 500 anos atrás que 
ilustram pessoas que provavelmente estavam com sintomas de sífilis. 
A sífilis é apenas um exemplo de infecção, mas já é possível 
perceber que a expectativa de vida da população era pequena muito 
em função dessa carência de medicamentos capazes de tratar quadros 
infecciosos. Todavia, houveram diversas outras purgas populacionais induzidas por 
microrganismos que causaram muito estrago, como a peste negra que dizimou quase metade 
da Europa. 
Essas patologias eram motivo de preocupação até o desenvolvimento da terapia 
antimicrobiana. Tal tratamento nasce no começo do século XX com o alemão Paul Ehrlich. O 
bacteriologista foi responsável pela criação da Teoria das cadeias laterais. A partir de um 
trabalho com corantes, o pesquisador percebeu que para uma substância se ligar à outra é 
necessária uma afinidade química. Ainda dentro deste trabalho, compreendeu o conceito de 
barreira hematoencefálica, pois notou que dentre todos os órgãos, apenas o encéfalo não se 
pigmentava com a utilização de corantes e deduziu que há uma junção mais aderida entre as 
células dos capilares, formando um bloqueio entre a corrente sanguínea e o sistema nervoso 
central. 
A Teoria das cadeias laterais foi um dos pontos embasadores usados por Sir Henry 
Dale na criação do conceito de receptor farmacológico, dando uma notoriedade imensa para o 
 
 
Paul Ehrlich. O bacteriologista pensou na seguinte hipótese: se uma pessoa está com uma 
infecção, por exemplo por ​Treponema pallidum​, e as substâncias possuem afinidade química, 
será que é possível haver algum composto que tenha afinidade apenas pelo microrganismo e 
não pelo hospedeiro? 
Assim, o alemão inicia a busca por componentes tóxicos para o ​Treponema pallidum e 
inócuas para o portador. Na tentativa de número 606, ele encontra um composto que atende 
aos seus interesses e tal substância recebe o nome de “salvarsan”, sendo testado em humanos 
em 1909. Um detalhe da história é que logo depois que a substância começou a ser usada 
pelos médicos em seus pacientes, conta-se que ela estava causando um efeito deletério nos 
usuários. Com isso, Paul Ehrlich faz novas análises do salvarsan e detecta que quando a 
substância é deixada em prateleiras por um longo período de tempo, ela se degrada e forma 
um derivado tóxico. Após mais 300 tentativas de aperfeiçoamento, ele cria o neosalvarsan em 
meados de 1911. 
Esses eventos constituem o nascimento da quimioterapia antimicrobiana. Durante o 
semestre serão abordados quatro grupos principais: antibacterianos; antivirais; antifúngicos e 
antiparasitários (divididos ainda em antihelmínticos e antiprotozoários). 
 
-- BASE MOLECULAR DA TERAPIA ANTIMICROBIANA -- 
 
Em geral, a população sempre associa as bactérias a eventos negativos e querem 
eliminá-las a qualquer custo. No entanto, o corpo precisa delas para funcionar plenamente. 
Iogurtes como Yakult, Chamyto e Activia contém microrganismos em sua composição que 
auxiliam na regulação da microbiota intestinal. Ainda, em quadros de desarranjo intestinal é 
indicado uso de medicamentos como Repoflor e Floratil, que possuem ​Saccharomyces 
boulardii​ (levedura que possui atividade probiótica). 
Naturalmente, o organismo possui cerca de 9 bactérias para cada célula, o que 
representa uma proporção bastante significativa. Com isso, sempre que se faz um tratamento 
antimicrobiano para combater uma bactéria patogênica, como em um quadro de pneumonia, 
parte das bactérias comensais que constituem a microbiota normal também são atingidas, uma 
vez que a seletividade dos fármacos não é tão grande. Assim, esse é um dos riscos de tal 
tratamento (na esmagadora maioria dos casos, 
o benefício é maior que o risco). 
Para matar uma bactéria é necessário 
danificar uma estrutura essencial ou 
interromper um processo metabólico 
fundamental a ela. Por exemplo, é possível 
gerar comprometimento à parede celular; 
interromper o processo de síntese e 
manutenção da membrana plasmática; 
inutilizar as subunidades ribossômicas e, com 
isso, bloquear a produção de proteínas; inibir o 
metabolismo de ácidos nucléicos; paralisar a 
 
 
função de topoisomerases (importantes para o processo de duplicação de DNA); impedir a 
formação de um aminoácido específico ou folato indispensável, entre outros. 
 
-- FARMACOCINÉTICA DO TRATAMENTOANTIMICROBIANO -- 
 
Antes de compreender os mecanismos de ação, que se relacionam mais intimamente à 
Farmacodinâmica, é de extrema importância rever alguns conceitos da Farmacocinética. Para 
tal, é interessante observar a seguinte pesquisa envolvendo o medicamento Ciprofloxacino. 
O Ciprofloxacino é um antimicrobiano muito utilizado hoje em dia, principalmente 
para infecções do trato urinário. Em 1986, esse fármaco ainda estava sendo estudado e 
desejava-se conhecer mais a respeito da sua farmacocinética. Assim, para realizar os testes, 
pesquisadores reuniram um grupo de 26 pacientes (23 homens e 3 mulheres) que seriam 
submetidos a cirurgias longas. Logo, foi administrado Ciprofloxacino endovenoso nos 
pacientes e, durante o procedimento cirúrgico, foram coletadas amostras de hora em hora de 
sangue e tecidos e observadas as concentrações de fármaco. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico das concentrações de Ciprofloxacino no sangue (soro) no decorrer do tempo 
 
A partir da mensuração da concentração de Ciprofloxacino no sangue (média dos 
pacientes) construiu-se o gráfico acima. Nele, é possível perceber que a concentração do 
medicamento diminui ao longo do tempo. É notável também que a plotagem não indica 
nenhum período de absorção (apenas de “eliminação”), uma vez que a via usada foi 
endovenosa. Sabe-se que absorção remete à passagem da substância de um compartimento do 
corpo para a circulação sanguínea e, nesse caso, o fármaco foi aplicado diretamente no 
 
 
sangue. Gráficos que representam fases de absorção assemelham-se aqueles que retratam 
administração por via oral. 
Outro dado interessante que o gráfico fornece é o tempo de meia-vida do fármaco. De 
1 para 2 horas, a concentração cai de 0,85 para 0,46, ou seja, é quase reduzida pela metade. 
Com isso, nessa primeira fase, o tempo de meia-vida é de 1 hora (rápida; parte mais íngreme 
do gráfico), mas há uma tendência para a mudança desse quadro. Depois, o tempo de 
meia-vida no intervalo de 0,2 para 0,1 é maior que 3 horas aproximadamente (demorada; 
parte mais constante do gráfico). Isso se deve ao fato do medicamento sair da corrente 
sanguínea e, em seguida, ocupar os tecidos (e.g.: em casos de infecção urinária, o fármaco 
migra do sangue para o TGU para iniciar sua ação). Por isso, o tempo de meia-vida inicial é 
chamado de tempo de meia-vida ​α ou de distribuição e o da próxima fase corresponde ao 
tempo de meia-vida ​β ou ​de metabolização e excreção. 
Para comprovar isso, pode-se plotar um novo gráfico que represente as concentrações 
de Ciprofloxacino nos tecidos. 
 
 
Gráfico das concentrações de Ciprofloxacino no sangue (em azul) e nos tecidos (em vermelho) 
no decorrer do tempo 
 
O traçado vermelho mostra os níveis de Ciprofloxacino no tecido muscular. Por meio 
do gráfico, é possível observar que o nível de fármaco está aumentado, o que indica o 
medicamento migrou do sangue para os tecidos, incluindo os músculos (a concentração 
diminui no sangue e aumenta no músculo). Na sequência, há uma nova queda de concentração 
nos tecidos, pois o composto retorna para a corrente sanguínea para ser eliminado (chega no 
tecido, faz seu “trabalho” e retorna à circulação). 
 
 
Se o paciente estiver, por exemplo, com um abscesso muscular, o medicamento 
chegará ao local, mesmo que seja administrado sistemicamente. No entanto, a substância não 
age em todos os tecidos. Esse fato é mostrado no próximo gráfico, que mostra as 
concentrações de Ciprofloxacino na pele. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gráfico das concentrações de Ciprofloxacino no sangue (em azul), nos tecidos (em vermelho) 
e na pele (em verde) no decorrer do tempo 
 
Baseado no esquema acima, é possível notar que caso haja uma infecção na pele, o uso 
de Ciprofloxacino sistêmico não seria eficiente, uma vez que o medicamente não consegue 
atingir a concentração adequada no tecido cutâneo. Nesse caso, o mais indicado seria a 
administração por via tópica. 
Por meio dos gráficos, fica claro a importância do conhecimento em Farmacocinética 
para o sucesso da terapia antimicrobiana, pois é ela que determinará se fármaco alcançará ou 
não o local de ação. 
Sendo assim, deve-se encarar a Farmacocinética e a via de administração como fatores 
determinantes para tratar os pacientes nos mais variados casos. Por exemplo, no caso de uma 
pneumonia, deseja-se que o medicamento chegue até as vias aéreas, mas é necessário 
considerar o compartimento de absorção. Pela via oral, o compartimento de absorção é o trato 
gastrointestinal. Na sequência, o fármaco é absorvido e vai para a corrente sanguínea. Depois, 
é preciso considerar a capacidade do medicamento de se distribuir até o tecido onde ele é 
necessário. Chegando lá, a substância também pode retornar à circulação. Daí, é importante 
considerar que a droga pode se distribuir para outros tecidos, como os rins (recebem 25% do 
débito cardíaco). Esses dois pequenos órgãos recebem um volume de sangue muito grande e é 
 
 
natural que se tenha um acúmulo desses fármacos. Um tratamento de pneumonia com 
Gentamicina pode levar a um quadro de nefrotoxicidade, devido aos fatores já mencionados. 
Por isso, deve-se levar em conta que a droga vai se distribuir tanto para o tecido de interesse 
como para alguns outros. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
-- TESTES DE SENSIBILIDADE -- 
 
Além das questões de Farmacodinâmica, é 
importante relembrar alguns conceitos de 
Microbiologia. O ​teste de sensibilidade​, por exemplo, 
é essencial no desenvolvimento de fármacos. Como 
visto no 2º período, pode-se fazer testes de 
sensibilidade para avaliar o crescimento bacteriano 
em contato com determinado antibiótico. Essa 
verificação é feita conforme a imagem ao lado, onde 
são semeadas bactérias em uma placa e colocados 
diversos discos contendo diferentes antimicrobianos. 
A sensibilidade dos patógenos é classificada 
conforme o tamanho do halo de inibição que se forma 
ao redor no fármaco. A resistência bacteriana é indicada por um halo muito pequeno ou 
mínimo. O teste não permite quantificar a dose de medicamento que deve ser administrada, 
por isso essa determinação é dada pela ​concentração inibitória mínima (CIM)​. 
A CIM é definida da seguinte maneira: em um primeiro tubo não há fármaco e nos 
demais há uma dose crescente do antimicrobiano. Depois, é colocada a mesma quantidade de 
bactérias em todos os tubos. Com isso, aqueles que têm muito pouco ou nada de antibiótico 
possibilitam que a bactéria cresça e torne o conteúdo do recipiente turvo. Mas, haverá um 
tubo em que a concentração será grande o suficiente para inibir o crescimento bacteriano. 
Logo, essa será tida como a concentração inibitória mínima. 
Se o antibiótico X tem a CIM de 2 ​μ​g/ml e o antibiótico Y, 16 ​μ​g/ml, sabe-se que o 
medicamento X é mais potente, pois uma concentração menor é capaz de destruir a mesma 
quantidade de bactérias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Não será cobrado durante a disciplina esquema posológico, mas sim escolha 
terapêutica​. No entanto, no futuro, todos os médicos vão se deparar com situações onde a 
escolhaposológica é trivial. Imagine dois cenários: primeiro, tem-se uma dose de 120 mg de 
determinado medicamento sendo administrada de uma única vez (A); em outro cenário (B), é 
dada a mesma dose ao paciente, só que dividida 
em três partes de 40 mg a cada 8h. Sabe-se que 
para que o antibiótico funcione, é necessário 
que ele chegue no local da infecção com uma 
concentração acima da CIM. Na figura ao lado, 
o traço pontilhado representa a concentração 
inibitória mínima. Pela representação gráfica, é 
possível perceber que no cenário B a 
concentração é mantida pela maior parte do dia. 
No quadro A essa concentração se mantém por 
aproximadamente 12h apenas. Daí, faz-se o 
questionamento: o esquema posológico sempre 
vai ser esse? E a resposta é não. Em algumas 
situações, os fármacos têm efeito 
pós-antibiótico, pois o efeito permanece por 
mais tempo, mesmo depois da concentração ter 
diminuído abaixo da CIM (o medicamento tem 
seu alvo no interior da bactéria. Assim, ainda 
que a concentração externa tenha caído, o 
fármaco já teria entrado no patógeno e 
 
 
perpetuado sua atividade). É válido salientar que esse tipo medicamento “ataca” um 
microrganismo dentro de um outro organismo, então a sistemática nem sempre é igual a de 
outras classes terapêuticas. 
 
-- TIPOS E OBJETIVOS DO TRATAMENTO ANTIMICROBIANO -- 
 
Quando discute-se questões sobre o tratamento antimicrobiano, é importante que use 
os termos de forma correta. O tratamento antimicrobiano pode ser: 
• Profilático: é aquele em que se começa a administrar o antibiótico para uma pessoa 
que não tem infecção, não apresenta sinais dela e não está em um grupo de risco, mas 
será submetida a algum procedimento que aumentará muito a probabilidade de 
adquirir uma infecção. Por exemplo, para extração de um dente, é comum que o 
cirurgião-dentista prescreva um antimicrobiano cerca de dois dias antes da intervenção 
(no dia que paciente faz uso do fármaco, ele não apresenta sinal algum de infecção); 
• Preventivo: aqui, já se sabe que existe uma infecção incipiente e que o paciente está 
em um grupo de risco, tendo 100% de chance de ser infectado. Um exemplo muito 
comum são os portadores do vírus do HIV. Por estarem imunocomprometidos, 
pressupõe-se que esses paciente logo logo sejam acometidos por uma infecção, já que 
seus níveis de linfócitos T CD4​+ e sua defesa natural encontram-se muito fragilizados. 
Por isso, são administrados antibióticos de forma preventiva; 
• Empírico: é um tipo de tratamento bem comum. Por exemplo, um paciente chega ao 
consultório com infecção bem avançada das vias aéreas e aparentemente debilitado. 
Dessa forma, são coletadas amostras para análise laboratorial a fim de saber qual a 
bactéria responsável pela patologia (ou ainda o médico não tem um laboratório 
disponível). Durante o tempo de espera do resultado dos exames, faz-se um tratamento 
empírico, ou seja, o paciente tem a infecção, manifesta os sintomas e com base nisso, 
se analisa quais patógenos geralmente estão envolvidos nesses quadros, fazendo-se 
uma prescrição que contemple tais agentes (e.g.: 90% dos casos de infecção do TGU 
são por ​E. coli​, por isso em tratamentos empíricos para casos como esse, são utilizados 
antibióticos com boa cobertura para Gram-negativa). Esse tipo de tratamento é 
realizado a partir de dados clínicos e epidemiológicos e sua execução será discutida 
ao longo de todo o semestre; 
• Definitivo: é o tratamento no qual se conhece o patógeno e a qual medicamento ele é 
sensível. Por exemplo, um paciente chega ao hospital com uma infecção bastante 
avançada e, por isso, solicita-se uma cultura. Com o resultado do exame em mãos 
(e.g.: ​Pseudomonas aeruginosa sensível a carbapenêmicos), o médico pode prescrever 
o melhor tratamento para aquele quadro (sem erros), um tratamento definitivo (que no 
caso seria ​Imipenem + Cilastatina)​; 
• Supressor: pacientes com recorrentes quadros infecção, que pertencem a grupos de 
risco com propensão a esse tipo de problema ou que tem abscessos de difícil acesso (o 
fármaco não chega até o local com facilidade) precisam de um tratamento que se 
 
 
estenda além do habitual. Todo tratamento acima do tempo necessário é chamado de 
supressor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
-- RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS -- 
 
Tão importante quanto o compreender o mecanismo de ação antibacteriano, é 
conhecer os mecanismos de resistência. Esse problema é ilustrado pelas charges abaixo: 
 
A imagem à esquerda é uma figura de jornal do final da Segunda Guerra Mundial, 
cuja manchete diz “Graças a Penicilina, eles vão voltar para casa!”, representando como o 
desenvolvimento da Penicilina e o avanço da terapia antimicrobiana impactaram a qualidade 
de vida da população, evitando que muitos soldados morressem por infecções bacterianas 
contraídas após os ferimentos de combate (não só os soldados, mas a população local como 
um todo) em meados dos anos 1940. 
A ilustração da direita é uma charge atual e retrata uma superbactéria (MRSA - 
Staphylococcus aureus resistente à meticilina) invadindo a casa do Tio Sam (​Home sweet 
home - Lar doce lar). Ao entrar na residência, a bactéria fala “Aquilo que não me mata, me 
fortalece!”, referindo-se ao uso indevido de antimicrobianos que favorecem a resistência. 
A Penicilina desenvolvida na década de 40 foi produzida a partir de pesquisas com 
Staphylococcus aureus e, atualmente, praticamente todas as cepas dessa espécie são 
 
 
resistentes a ela (em 1929, ​Fleming mostra a ação da Penicilina em cima de cepas de ​S. 
aureus​). Em um espaço de menos de 70 anos teve-se a completa inutilidade de uma 
substância que era a principal ferramenta de controle destas bactérias. 
Com relação especificamente à resistência, um fato que deve ser levado em 
consideração é a sua base. A maior parte dos processos de resistência ocorrem devido a 
mutações. Para que determinado antimicrobiano exerça seu efeito, é necessário que ele tenha 
afinidade por um alvo farmacológico na bactéria. Se esse alvo apresenta determinada 
conformação e a bactéria sofre uma mutação capaz de mudar o formato da estrutura alvo, o 
fármaco se torna inútil e a cepa adquire resistência a ele, ou seja, a alteração genética induziu 
uma alteração conformacional do alvo, de forma que o medicamento não funciona mais. Essa 
informação está contida no DNA da bactéria. 
A bactéria tem um revestimento que guarda seu material genético, o qual geralmente 
se apresenta de forma circular (diferente do DNA humano que mostra-se como uma dupla fita 
em forma de helicoidal). No entanto, 
também há a possibilidade da 
bactéria ter pequenos fragmentos de 
DNA fora da principal cadeia de 
ácidos nucleicos, os plasmídeos. 
Imagine que determinada 
bactéria sofre uma mutação 
genética, inicia uma alteração 
conformacional e ganha resistência. Provavelmente, essa informação genética está situada no 
DNA principal do microrganismo. Todavia, tal informação pode acabar permutando com 
plasmídeos e gerar transposons que se repliquem neles com facilidade (a informação genética 
é capaz de transitar entre o DNA e os plasmídeos).Um 
fator preocupante dessas mutações é o fato de toda a 
prole da cepa conter a mesma resistência. Outro 
agravante encontra-se no processo de conjugação, onde 
as bactérias podem transferir plasmídeos de resistência 
entre si. 
A base da resistência é genética, onde cepas 
específicas terão alterações de natureza conformacional 
e expressão de novas proteínas. 
As possibilidades de resistência são: 
• Liberação de enzimas microbianas que destroem o antibiótico: a bactéria libera 
enzimas - como a carbapenemase - que clivam o fármaco, inutilizado-o; 
• Alterações das proteínas-alvo: mudanças na estrutura-alvo da bactéria alteram a 
afinidade do medicamento por ela; 
• Acesso reduzido ou aumento da eliminação do antibiótico por bombas de efluxo: se o 
alvo da droga é dentro da bactéria, é necessário que o fármaco chegue ao domínio 
intracelular. Para tal, ele pode usar uma aquaporina. Assim, um dos mecanismos de 
resistência é a redução da expressão dessas estruturas na superfície bacteriana e a 
 
 
consequente diminuição da quantidade de fármaco que entraria na célula. Além disso, 
a bactéria adquire a capacidade de desenvolver na MP bombas de efluxo que são 
responsáveis por bombear a droga para fora (dificulta o acesso do fármaco ao domínio 
intracelular por duas maneiras: fechando a porta de entrada ou colocando um 
“segurança” para expulsar a substância tóxica); 
• Desenvolvimento de vias metabólicas alternativas às que foram suprimidas pelo 
antibiótico: suponha que um fármaco tenha como alvo farmacológico a enzima A. 
Quando o medicamento entra na bactéria e se liga a essa enzima, a cepa pode ter 
desenvolvido uma outra enzima B que desempenhe a mesma função, fazendo com que 
o fármaco não gere um prejuízo ao microrganismo no final das contas (muito comum 
para resistência à sulfonamidas e trimetoprima). 
 
-- INTRODUÇÃO AOS ​β-LACTÂMICOS -- 
 
Os ​β-lactâmicos compõem um vasto grupo de antimicrobianos. O termo “β-lactâmico” 
se refere à estrutura química do medicamento e dentro desse grupo existem subdivisões: as 
penicilinas (que serão abordadas mais adiante na aula), as cefalosporinas e os 
carbapenêmicos. 
Todavia, antes de mais nada, é importante revisar a técnica de coloração de Gram, pois 
o espectro da substância medicamentosa, em muitos casos, se baseia nela. O procedimento 
segue as seguintes etapas: 
1º. A amostra é posta na lâmina; 
2º. Coloca-se um corante cristal violeta (cora todas as bactérias); 
3º. Aplicação de iodo (na forma de Lugol, por exemplo) como mordente, ajudando na 
fixação do corante nas Gram-positivas; 
4º. Lavagem da lâmina com álcool para que o cristal violeta ​(púrpura) saía das bactérias, 
com exceção das​ Gram-positivas ​(nessa etapa, as gram-negativas ficam sem cor); 
5º. Faz-se a contra-coloração com safranina ou eosina ​(rosa) para que as ​Gram-negativas 
se tornem visíveis (ao final nesse passo, é possível ver os dois tipos de bactérias). 
A repercussão estrutural da coloração de Gram diz respeito à presença ou não de 
parede celular nas bactérias. Tem-se diferenças no revestimento desses micróbios a depender 
de ser Gram-positiva ou negativa. As Gram-positivas têm uma parede celular muito mais 
espessa e uma única membrana plasmática, enquanto que as Gram-negativas possuem uma 
parede celular mais discreta e uma dupla bicamada lipídica (uma mais externa e uma mais 
interna). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tendo revisado isso, agora discutir-se-á de fato os ​β-lactâmicos. Historicamente, 
sempre que as penicilinas são mencionadas, um nome que vem a mente é o de Alexander 
Fleming. Em 1929, o britânico trabalhava em um hospital em Londres tanto como clínico 
como pesquisador. Seus estudos destinavam-se à análise antimicrobiana de algumas enzimas. 
Certo dia, o médico vai para uma viagem e esquece algumas placas de cultura fora do local de 
armazenamento apropriado. Quando retorna, percebe que muitas delas estavam repletas de 
fungos. Ao observar tais placas, nota que ao redor do fungo havia um halo de inibição e 
percebe que esses organismos eram capazes de inibir do crescimento bacteriano. A partir daí, 
começa pesquisar a mais sobre a espécie do fungo que havia crescido na placa e tenta 
entender o processo. 
O cientista compreende que aquele fungo - o ​Penicillium notatum - produzia alguma 
substância que impedia o crescimento bacteriano e a esse composto dá o nome de Penicilina. 
Uma das limitações do estudo se o encontrava no fato do Fleming não conseguir isolar a 
Penicilina. 
Por volta de 9 anos após a publicação de Fleming sobre a Penicilina, dois 
pesquisadores (Ernst Boris Chain, químico e Howard Walter Florey, médico patologista) em 
Oxford que também estudavam enzimas de atividade antimicrobiana, ao buscar artigos sobre 
o assunto, se depararam com o escrito de Fleming e decidiram replicar o experimento, só que 
uma proporção maior (ao invés de cultivar os fungos em placas, eles usaram penicos de 
barros). Assim, conseguiram extrair Penicilina e iniciaram os testes em camundongos (estudo 
pré-clínico). Uma das vantagens da utilização desses animais, é que eles pesam entre 30-40g 
e, por isso, a quantidade de substância administrada é pequena. 
No estudo foram usados 8 camundongos. Administrou-se ​Streptococcus em grande 
quantidade em todos eles, de forma a induzir a sepse aguda. Apenas ratos 4 receberam doses 
de Penicilina (10mg; 5mg e doses de manutenção de 5mg no decorrer das horas). 
Dentre os quatro animais que não receberam Penicilina, um morreu 12 horas após a 
administração de bactérias, outros dois, 14 horas e o último, 16 horas depois. Já entre os 
camundongos tratados, um sobreviveu por 4 dias, o segundo por 6 dias, o terceiro por 13 dias 
e o último por mais de 6 
semanas. 
Ao publicar os 
resultados obtidos no 
experimento no renomado 
periódico ​The Lancet​, 
Chain, Florey e Fleming 
receberam o prêmio Nobel 
por conta do 
desenvolvimento da 
Penicilina. 
Com os resultados dos 
testes em animais nas mãos, 
o que desejava-se era iniciar 
 
 
os estudos em humanos. No entanto, havia uma limitação: a quantidade de Penicilina. Para 
isso, deram início a produção do ​Penicillium em larga escala para isolar Penicilina suficiente 
para tratar um ser humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O caso relatado no box acima aconteceu de fato. Quando os estudiosos conseguiram 
isolar uma quantidade grande o suficiente de Penicilina, testou-se inicialmente em uma 
senhora e, por conta de problemas na purificação da substância, a paciente veio a óbito. O 
segundo tratamento começou a dar certo, porém os estoques do medicamento se esgotaram. 
Com isso, ao analisar a urina do paciente, o químico Ernst Chain percebeu que a Penicilina ali 
presente era a mesma daquela administrada, indicando que a substância não sofre 
metabolização e é excretada de forma inalterada. Dessa forma, era possível extrair o 
medicamento da urina do paciente e administrá-la novamente. Devido às perdas nos processos 
de extração e a decorrente falta de Penicilina, o paciente veio a óbito, mas esse foi o primeiro 
registro clínico de um sucesso terapêutico dessa substância (1940-1941).Na época das pesquisas, a Europa estava no auge da Segunda Guerra Mundial e a 
Inglaterra encontrava-se sem recursos para investir na recém descoberta. Por isso, Florey e um 
técnico de laboratório viajam até os Estados Unidos e lá dão sequência à pesquisa. Com 
auxílio das indústrias, eles conseguem aperfeiçoar o processo de isolamento e purificação de 
Penicilina e dar início aos testes clínicos em solo americano. Em 1942, o próprio Florey 
consegue conduzir o primeiro ensaio clínico em zona de Guerra no norte da África. Enquanto 
isso, ainda em Oxford, Ernst Chain estudava ainda mais sobre a composição da Penicilina e, 
em 1943, consegue determinar sua estrutura química. 
O quadrado vermelho da figura ao 
lado é chamado de anel ​β-lactâmico e é ele 
que caracteriza a classe (caracterização com 
base química). Todas as penicilinas 
possuem esse anel e tal estrutura está 
diretamente envolvido com mecanismo de 
ação do grupo. 
 
 
Mesmo tendo sido desenvolvida na década de 1940, até hoje a Penicilina é utilizada. A 
Penicilina G, popularmente conhecida pelo seu nome comercial de Benzetacil, é a mesma 
substância estudada a mais 70 anos atrás. 
A ​Penicilina G só é administrada por via intramuscular, mas no decorrer da história 
produziu-se a ​Penicilina V (Meracilina, nome comercial) que tem boa absorção por via oral. 
No entanto, atualmente a Penicilina V encontra-se em desuso por conta do surgimento de 
ferramentas melhores e pelo fato de praticamente todas as cepas terem desenvolvido 
resistência a essa substância. Hoje em dia, a Penicilina G é uma das únicas que tem relevância 
clínica. 
As duas Penicilinas - G e V - têm um espectro parecido, 
se diferenciando apenas por questões de Farmacocinética (V, 
boa administração por via oral e a G, apenas uso parenteral). 
Sempre que estuda-se uma classe de medicamentos, é 
importante se atentar ao espectro de ação. No caso das 
Penicilinas, esse espectro se dá principalmente contra bactérias 
Gram-positivas e dentro dessas, de forma mais ávida contra os 
Streptococcus​. Também age contra alguns cocos 
Gram-negativos e anaeróbios, desde que esses não produzam 
enzimas β-lactamases, que tem capacidade de clivar o anel 
β-lactâmico. No entanto, as chances disso ocorrer são mínimas, pois praticamente todas as 
cepas possuem essa resistência. Por isso, diz-se que no espectro “válido” constam apenas as 
Gram-positivas, essencialmente os ​Streptococcus​. 
Em 1929, quando o Alexander Fleming desenvolveu seu estudo, a pesquisa era em 
cima de uma cepa de ​Staphylococcus aureus (Gram-positiva) e o antibiótico funcionava muito 
bem. Porém, na década de 1940, ao receber o prêmio Nobel o britânico já afirmava que o 
fármaco não era mais efetivo contra ​S. aureus​, ou seja, desde o início da descoberta das 
terapias antimicrobianas já se enfrentava o problema de resistência. Esse fato impulsionou a 
criação de Penicilinas de segunda geração que tinham 
um espectro muito mais direcionado contra os 
Staphylococcus​. Assim, em meados de anos 1960, 
cria-se a ​Oxacilina (também chamada de Meticilina), 
uma penicilina antiestafilocócica, usada principalmente 
contra ​Staphylococcus aureus e ​Staphylococcus 
epidermidis​, demonstrando um espectro bem pontual e 
limitado. 
No entanto, após o desenvolvimento da Oxacilina, houve uma necessidade de 
fármacos não mais com um espectro restrito, mas sim medicamentos que tivessem espectro 
cada vez maior. Por isso, a terceira geração de Penicilinas vai na contramão e passa a incluir 
no espectro além das bactérias Gram-positivas, as Gram-negativas (são as chamadas 
Penicilinas de espectro ampliado). Os principais exemplos usados até hoje na clínica são 
Amoxicilina, Ampicilina e Piperacilina​. Esses fármacos conservam o espectro das Penicilinas 
 
 
originais contra as Gram-positivas (como ​Streptococcus e ​Staphylococcus​), mas ganharam 
espaço nas Gram-negativas (como ​Escherichia coli​, ​Proteus mirabilis​, ​Salmonella​ e ​Shigella​). 
Vale salientar que independentemente do microrganismo ser Gram-positivo ou 
negativo, se ele produzir β-lactamase, quebrará o anel β-lactâmico e, por consequência, 
desenvolverá resistência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Farmacologia II 
Responsável: Dayana Colatino 
Aula 2: β-lactâmicos (Penicilinas) 
27/Jul/2018 
 
As Penicilinas foram o primeiro grupo de β-lactâmicos estudados e, como já debatido 
na aula anterior, elas foram evoluindo com o passar dos anos. A primeira Penicilina foi 
produzida em meados da Segunda Guerra Mundial, então é óbvio que ao longo desse tempo 
teve-se uma ampliação considerável no desenvolvimento de novos fármacos. 
A primeira Penicilina estudada, atualmente é 
conhecida como Penicilina G (famosa Benzetacil, nome 
comercial). Esse fármaco é utilizado exclusivamente pela via 
parenteral. No entanto, com a avanço da indústria 
farmacêutica, foi produzida a Penicilina V, um medicamento 
que pode ser administrado por via oral. Hoje em dia, a 
Penicilina V se tornou obsoleta e pouco usada, ao passo que a 
Penicilina G ainda tem uma utilização muito importante em 
determinados casos. 
Independentemente da classe de medicamentos, é muito 
importante se atentar para algumas informações como o espectro de 
ação, ou seja, quais tipos de microrganismos são destruídas pelo uso 
do fármaco. 
As Penicilinas G e V são muito boas contra bactérias 
Gram-positivas (principalmente do tipo ​Streptococcus​)​, algumas 
poucas Gram-negativas e anaeróbios (no casos das duas últimas, não 
se tem um impacto clínico significativo). 
Quando o Alexander Fleming mostrou a ação antibacteriana da Penicilina, o 
experimento foi feito em cima de uma cepa de ​Staphylococcus aureus​. Ao fazer seu discurso 
durante a premiação do Nobel, ele diz: “Praticamente não existe mais nenhum ​Staphylococcus 
aureus que morra com Penicilina.”. Com isso, é possível notar que em um período de 15-20 
anos, os ​Staphylococcus desenvolveram uma resistência com muita facilidade a essa 
substância. Assim, a segunda geração de Penicilinas era direcionada específicamente contra 
Staphylococcus (​aureus ​e ​epidermidis​, 
principalmente), denominada antiestafilocócica. O 
único exemplo dessa classe que será requisitado é a 
Oxacilina (ou Meticilina)​, sendo um medicamento que 
tem um espectro bem direcionado a esse tipo de 
bactérias. 
 
 
Como visto na aula anterior, o tratamento antimicrobiano pode ser profilático, 
preventivo, empírico, definitivo e supressor. O tratamento empírico é aquele onde não se sabe 
exatamente qual bactéria está causando a patologia, mas faz-se uso de antimicrobianos com 
base em dados epidemiológicos e no relato clínico do paciente. Em casos assim, não é 
aconselhável utilizar fármacos muito específicos. Dessa forma, é possível notar que a 
tendência dos medicamentos, com exceção da Oxacilina, quase sempre é buscar uma 
ampliação de espectro. 
Então, as ​Penicilinas mais recentes (de terceira geração​; uso largamente difundido) são 
denominadas Penicilinas de espectro ampliado, pois atuam nos mesmos microrganismos das 
gerações anteriores ​(Gram-positivos)e ganham espaço do campo das Gram-negativas (como 
Escherichia coli​, espécies de ​Proteus​, ​Salmonella​, ​Shigella​)​. Os principais exemplos são a 
Amoxicilina, Ampicilina e Piperacilina​. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
É importante frisar que independentemente da Penicilina que se tenha, em um caso, 
por exemplo, de infecção por ​Escherichia coli capaz de produzir uma ​penicilinase (uma 
β-lactamase eficaz na quebra de um anel β-lactâmicos de uma Penicilina​), o tratamento não 
será eficiente, porque a bactéria adquiriu resistência. 
O espectro funciona para dar um direcionamento, mas é 
essencial sempre estar atento aos casos de resistência 
bacteriana. 
No que diz respeito ao ​mecanismo de ação, os 
β-lactâmicos (incluindo a Penicilina) atuam inibindo a síntese 
da parede celular da bactéria​. A proteína responsável pela 
produção da parede celular é uma enzima chamada de proteína 
de ligação da Penicilina (PBP - ​Penicillin-binding proteins​) ou 
transpeptidase. A Penicilina é capaz de se ligar à 
transpeptidase e inutiliza-la, inviabilizando a vida do 
microrganismo. 
 
-- RESISTÊNCIA AOS β-LACTÂMICOS -- 
 
O principal mecanismo de resistência desenvolvido pelas bactérias a Penicilina foi a 
capacidade de produzir β-lactamase, assim, o anel β-lactâmico, que é indispensável para que a 
substância funcione, é clivado e perde seu efeito (a β-lactamase se liga à PBP/transpeptidase). 
 
Para que a Penicilina seja efetiva, é necessário que ela tenha afinidade química pela 
PBP. Assim, se a bactéria sofrer uma mutação que altere a conformação da transpeptidase, o 
fármaco, que se liga apenas à forma natural da enzima, fica impossibilitado de se acoplar a 
ela. Desse modo, tem-se uma enzima capaz de sintetizar parede celular de peptidoglicano e 
que não tem afinidade pelas Penicilinas. ​A alteração estrutural da proteína-alvo conferiu 
resistência da bactéria às Penicilinas​. 
Em alguns casos, para que o 
antimicrobiano faça efeito, é necessário 
que ele chegue ao domínio 
periplasmático (principalmente nas 
Gram-negativas). Entretanto, se a 
bactéria diminui a expressão das 
porinas (estruturas que permitem a 
entrada de substâncias na célula), o 
medicamento tem dificuldade de acesso 
e bactéria torna-se resistente. Outra 
possibilidade, é o microrganismo criar 
estruturas capazes de movimentar o 
fármaco para o ambiente extracelular, 
as bombas de efluxo. 
Esses quatro mecanismos podem conferir resistência a uma cepa específica de 
determinada bactéria (o mais importante é a produção de β-lactamase). 
 
-- USO CLÍNICO -- 
 
➢ PENICILINAS 
Atualmente, a Penicilina G é muito utilizada para infecções estreptocócicas, 
principalmente nos casos de faringite por ​Streptococcus pyogenes (agente patogênico mais 
comum). 
Ainda, a Penicilina G é usada como primeira escolha terapêutica em quadros de Sífilis. 
 
➢ OXACILINA (PENICILINA ANTIESTAFILOCÓCICA) 
Utilizada em infecções por ​Staphylococcus​. 
 
➢ PENICILINAS DE ESPECTRO AMPLIADO 
Amoxicilina, Ampicilina e Piperacilina podem ser utilizadas, normalmente, para 
infecções das vias aéreas superiores, tanto por ​Streptococcus pyogenes e ​Streptococcus 
pneumoniae (Gram-positivas), quanto por ​Haemophilus influenzae (Gram-negativa; muito 
comum em infecções desse tipo). Isso representa uma vantagem desses fármacos no 
tratamento empírico, pois o espectro de atuação deles é maior (objetivo do tratamento 
empírico: cobrir o maior espectro dentro das possibilidades). 
 
Esses medicamentos também podem ser empregados no tratamento para sinusite, otite 
média, exacerbações agudas de bronquite e epiglotite. 
Com relação a infecções do trato urinário, esses medicamentos já foram mais 
utilizados, entretanto, hoje em dia tem-se outras opções mais comumente escolhidas. A ​E. coli 
(Gram-negativa) é habitualmente responsável por infecções do TGU, mas existem escolhas 
terapêuticas melhores para estes casos (se está no espectro, é uma possibilidade, porém não 
são os fármacos mais utilizados). 
 
-- INIBIDORES DE β-LACTAMASE -- 
 
A pesquisa por novos β-lactâmicos era muito baseada em “tentativa e erro”. Dentre 
essas tentativas, testou-se moléculas como o Ácido clavulânico, o Sulbactam e o Tazobactam. 
 
 
É possível notar que os três fármacos têm estrutura tipo anel β-lactâmico, mas ​não 
possuem atividade antimicrobiana​. Entretanto, essas moléculas apresentam um potencial 
muito bom, pois ​são capazes de inibir a β-lactamase​. 
Assim, faz-se associação do antimicrobiano (mais comumente uma Penicilina de 
espectro ampliado) com um inibidor da β-lactamase. 
O inibidor da β-lactamase sozinho não é capaz de matar a bactéria, contudo permite a 
ação do β-lactâmico. Por isso, essa classe não é categorizada como β-lactâmico (mesmo que 
tenham o anel), mas sim por sua função: inibidor de 
β-lactamase. 
O Clavulin é um fármaco bastante utilizado e 
consiste na combinação de Amoxicilina com Ácido 
Clavulânico, uma das formulações mais comuns de se ver. 
Nunca se prescreve apenas Ácido Clavulânico (ou 
Clavulanato), mas sim um β-lactâmico com um inibidor da 
β-lactamase (ou somente um β-lactâmico). 
Para o tratamento empírico, essa combinação é uma 
ferramenta interessantíssima. Além disso, as associações são 
fixas: Amoxicilina com Ácido clavulânico; Ampicilina com 
Sulbactam e Piperacilina com Tazobactam. 
 
 
 
 
 
Farmacologia II 
Responsável: Dayana Colatino 
Aula 3: ​β-lactâmicos (cefalosporinas e carbapenêmicos); Glicopeptídeos 
01/Ago/2018 
 
Os ​β-lactâmicos são assim classificados com base em uma estrutura química (anel 
β-lactâmico). Dentro desse grupo, tem-se uma subdivisão: Penicilinas, Cefalosporinas e 
Carbapenêmicos. A presente aula abordará as Cefalosporinas e os Carbapenêmicos, além do 
grupo dos Glicopeptídeos. 
Sempre que se estuda antimicrobianos, é muito importante ter um domínio básico da 
microbiologia clínica. Assim, é essencial entender quais os principais microrganismos 
associados a cada tipo de infecção. Por exemplo, nos quadros de infecção urinária, o principal 
patógeno envolvido é a bactéria Gram-negativa ​Escherichia coli​. Esse tipo de informação é de 
interesse clínico, sobretudo na execução de tratamentos empíricos. 
 
-- CEFALOSPORINAS -- 
 
As Cefalosporinas têm uma origem muito semelhante a das Penicilinas, onde havia um 
fungo produtor de uma substância capaz de inibir o crescimento bacteriano. No caso das 
Cefalosporinas, o efeito inibitório era muito sutil (fraco). Por isso, os pesquisadores pegaram 
a molécula produzida pelo fungo e a melhoraram quimicamente (processo de síntese com base 
neste precursor), resultando num derivado semissintético obtido a partir desses produtos 
naturais. Tais derivados exibiam uma atividade antimicrobiana excelente. 
As ​β-lactamases não são de um único tipo. Se atuam contra Penicilinas, por exemplo, 
são chamadas de Penicilinases. Assim, pode-se ter uma bactéria resistente à Penicilina, mas 
ainda sensível a uma Cefalosporina (para que a cepa seja resistente a essa classe de 
β-lactâmicos, ela tem possuir uma enzima Cefalosporinase). 
Como as Cefalosporinas possuem anel β-lactâmico, são classificadas de acordo com 
tal estrutura. O mecanismo de ação se mantém para toda a classe, ou seja, inibição da síntese 
da parede celular. 
Didaticamente,os livros de Farmacologia organizam as Cefalosporinas em gerações 
(alguns até a 5ª geração). Na presente aula, serão abordadas 8 Cefalosporinas (consideradas as 
mais importantes) agrupadas em 4 gerações. 
 
➢ CEFALOSPORINAS DE PRIMEIRA GERAÇÃO 
São as Cefalosporinas mais antigas. Com relação ao espectro de ação, caracterizam-se 
por serem eficazes contra microrganismos Gram-positivos, principalmente ​Staphylococcus e 
Streptococcus ​(não tem uma ação muito boa contra ​Enterococcus​, não só na primeira geração, 
 
 
mas também nas demais) e alguns poucos Gram-negativos, como ​Escherichia coli​, ​klebsiella 
pneumoniae e ​Proteus mirabilis​. ​Não tem ação contra uma série de microrganismos 
importantes clinicamente, como por exemplo ​Pseudomonas aeruginosa e ​Haemophilus 
influenzae ​(ambas Gram-negativas). Somado a isso, muitas das bactérias citadas já 
desenvolveram resistência devido ao uso do medicamento por um longo período. A parte do 
espectro de ação contra Gram-negativas se mostra bem deficiente nessa geração, além de 
apresentar ineficácia contra anaeróbios (espectro de ação bem limitado). 
Com relação ao espectro de ação dos antibióticos, é importante sempre destacar se o 
fármaco é eficiente contra Gram-positivas, Gram-negativas, anaeróbias e ​Pseudomonas 
aeruginosa​ (Gram-negativa “problemática”; requer um olhar diferenciado). 
Os principais exemplos são: 
• Cefalexina (via oral); 
• Cefadroxila (via oral); 
• Cefazolina (via parenteral); 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São utilizados em infecções variadas como do trato urinário, da pele, de tecidos moles, 
como também em algumas situações de infecção das vias aéreas superiores (infecções mais 
simples de garganta). 
 
➢ CEFALOSPORINAS DE SEGUNDA GERAÇÃO 
As Cefalosporinas de segunda geração ganham espaço no campo das bactérias 
Gram-negativas, porém continuam funcionando contra ​Staphylococcus e ​Streptococcus​. Os 
fármacos desta geração passam a ter êxito contra ​Haemophilus influenzae e ​Moraxella 
catarrhalis (ambas Gram-negativas), microrganismos importantes que a primeira geração não 
cobria. Continuam ineficazes contra ​Enterococcus e 
Pseudomonas aeruginosa​. 
Os dois principais representantes são o Cefaclor 
(via oral) e Cefuroxima (vias oral e parenteral). Os 
quadros onde esses fármacos são empregados são 
casos de sinusite, otite média e infecções das vias 
aéreas. Como pode-se observar, são usados em 
infecções mais simples, não severas. 
 
 
➢ CEFALOSPORINAS DE TERCEIRA GERAÇÃO 
O ganho das Cefalosporinas de terceira geração encontra-se mais uma vez no campo 
das Gram-negativas, onde elas obtêm uma ampliação quase que definitiva do espectro dentro 
desse grupo de bactérias. Continuam agindo contra Gram-positivas, mas perdem um pouco da 
eficácia. Têm atividade excelente contra as Gram-negativas, como os elementos da família 
Enterobacteriaceae (​Escherichia coli​, ​Klebsiella sp​., ​Haemophilus influenzae​, ​Neisseria sp​. - 
gonorrhoeae e meningitidis​, principalmente-, ​Shigella sp.​, ​Moraxella sp​.). É importante 
observar que existem algumas espécies de bactérias têm maior facilidade para desenvolver 
resistência contra Cefalosporinas de terceira geração, tais como ​Citrobacter sp.​, ​Serratia sp. e 
Providencia sp.​, 
Os medicamentos deste subgrupo só estão disponíveis por via parenteral. Com isso, a 
partir da terceira geração, há uma mudança da utilização clínica das Cefalosporinas e elas 
passam a ser restritas do ambiente hospitalar (situações mais graves que exigem internação e 
cuidados mais intensivos). 
Os dois principais exemplos desses medicamentos são Ceftazidima e Ceftriaxona. A 
Ceftazidima pode ser usada para infecções por ​Pseudomonas aeruginosa (Ceftriaxona não). 
Outra vantagem dessas Cefalosporinas diz respeito à Farmacocinética, pois elas conseguem 
atravessar a barreira hematoencefálica e, assim, serem usadas em casos de meningites 
(também pelo fato de atuarem pelo principal agente causador da patologia, o Meningococo, 
Neisseria meningitidis​). Também podem ser utilizados para pneumonias de diferentes tipos, 
gonorréia, mas principalmente infecções a nível hospitalar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
➢ CEFALOSPORINAS DE QUARTA GERAÇÃO 
O único exemplo dessa geração que será requisitado é a Cefepima (ou Cefepime). Este 
medicamento mantém todas as vantagens adquiridas até a 
terceira geração (age contra Gram-positivos e negativos, 
Pseudomonas aeruginosa e é capaz de atravessar a barreira 
hematoencefálica). No entanto, de maneira geral, tem uma 
maior resistência a hidrólise por β-lactamases (ganho). 
As indicações clínicas são as mais variadas 
possíveis: desde pneumonias até septicemias e meningites. 
 
 
 Foram vistos 8 exemplos de fármacos divididos em quatro gerações de Cefalosporinas 
e eles tem em comum o fato de sempre iniciarem com as letras “Cef”. Assim, se porventura, 
durante a prática clínica, surgir um medicamento não citado nesta aula, mas que comece com 
“cef”, é muito provável, principalmente se for um antimicrobiano, que se trate de uma 
Cefalosporina. Outra dica de memorização, é aprender os fármacos das gerações mais novas 
para as mais velhas (4ª → 1ª), pois elas possuem menos exemplos. 
 
Classe Gram-positiva Gram-negativa Anaeróbias Pseudomonas 
aeruginosa 
Cefalosporinas de 
1ª geração 
Sim Não Não Não 
Cefalosporinas de 
2ª geração 
Sim Sim Não Não 
Cefalosporinas de 
3ª geração 
Sim Sim (definitiva) Não Sim (apenas 
Ceftazidima) 
Cefalosporinas de 
4ª geração 
Sim Sim (definitiva) Não Sim 
 
 
-- CARBAPENÊMICOS -- 
 
Dentre os Carbapenêmicos, apenas dois exemplos serão exigidos: o Imipenem e o 
Meropenem (ambos disponíveis apenas pela via parenteral). Uma diferença significativa entre 
esses medicamentos e que, geralmente, o Imipenem é utilizado em uma associação fixa com a 
Cilastatina e o Meropenem não. Isso se dá porque o Imipenem é facilmente degradado por 
enzimas renais, as desidropeptidases (por ser administrado sistemicamente, na hora que passa 
pelo rim, é quebrado) e, assim, seu tempo de meia-vida é bem pequeno. Com isso, a função da 
Cilastatina é inibir as enzimas responsáveis pela degradação renal, ou seja, diminuir a 
metabolização pelos rins e aumentar o tempo de meia-vida do Imipenem. A desidropeptidase 
é uma enzima humana, por isso que a Cilastatina não combate um mecanismo de resistência 
bacteriana, mas sim, tenta minimizar uma característica farmacocinética do indivíduo. O 
Meropenem não sofre essa degradação, logo não vem associado à Cilastatina. 
Os espectro de ação dos Carbapenêmicos abrange: 
• Gram-positivas, como ​Staphylococcus​, ​Streptococcus e ​Enterococcus (com exceção 
dos ​S. aureus​ resistentes à meticilina e ​E. faecium​); 
• Gram-negativas, inclusive a ​Pseudomonas aeruginosa​; 
• É excelente contra anaeróbias. 
Além do espectro vasto, outra vantagem da classe é que dificilmente um 
Carbapenêmico vai ser quebrado por uma penicilinase ou uma cefalosporinase. Do ponto de 
 
vista farmacocinético, esse grupo de fármacos têm a capacidade de atravessar a barreira 
hematoencefálica (assim como as Cefalosporinas de terceira e quarta geração). 
Por ser um medicamento tão completo, é compreensível a preocupação com pacientes 
que adquirem infecções hospitalares por KPC (​klebsiella pneumoniae carbapenemase),capazes de quebrar o anel β-lactâmico dos Carbapenêmicos. 
Esses medicamentos são indicados para uma imensa variedade de infecções: trato 
urinário, vias respiratórias, ​intra-abdominais (infecções normalmente relacionadas a 
microrganismos anaeróbios), ginecológicas, de pele, entre outras. Porém, em geral, não são 
medicamentos de primeira escolha, sendo “guardados” para quadros mais complicados 
(resistência, por exemplo). Logo, pacientes que têm bactérias com resistência a Penicilinas e 
Cefalosporinas, recomenda-se o uso de Carbapenêmicos (é necessária uma enzima mais 
específica para quebrá-los). 
Os usuários de Carbapenêmicos podem apresentar reações adversas que merecem 
destaque, como náuseas, vômito (1 a cada 5 pacientes) e convulsões (1,5% pacientes para o 
Imipenem e 0,5% para o Meropenem). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
-- GLICOPEPTÍDEOS -- 
 
Os Glicopeptídeos são fármacos que agem inibindo a 
síntese da parede celular bacteriana, só que por um mecanismo 
diferente dos β-lactâmicos (nesse caso, o β-lactâmico se liga à 
transpeptidase, enzima responsável por “construir” a parede). 
Esses fármacos se ligam com alta afinidade à extremidade 
terminal D-alanil-D-alanina (resíduos de aminoácido) das 
subunidades precursoras da parede celular. 
O único exemplo que será cobrado dessa classe de antibióticos é a Vancomicina. A 
molécula desse medicamento é muito maior e complexa quando 
comparada com as demais classes até agora estudadas, além de ser 
muito polar, possuindo diversos grupos hidroxila, átomos de cloro 
(bastante eletronegativos), grupos ácido carboxílico, etc. (pelo fato 
da molécula ser muito grande, ao se ligar ao substrato enzimático 
que iria compor a parede, acaba por inutilizá-lo). 
 
O mecanismo de resistência que as bactérias desenvolveram contra esse medicamento 
foi a alteração do alvo farmacológico. A Vancomicina consegue reconhecer resíduos de 
D-alanil-D-alanina e, por isso, a bactéria passa a utilizar resíduos de D-alanil-D-lactato, 
anulando o efeito do fármaco. 
A superfície de uma bactéria Gram-negativa é composta por duas membranas 
plasmáticas (uma mais interna e outra mais externa) e uma delgada parede celular entre elas. 
Já as Gram-positivas têm uma parede celular espessa e uma MP logo abaixo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assim, pelo fato da molécula da Vancomicina ser muito grande, nas Gram-negativas, 
o fármaco não consegue atravessar a bicamada lipídica e chegar até o alvo farmacológico na 
parede celular. Por isso, o espectro de ação da Vancomicina é exclusivamente bactérias 
Gram-positivas (todas elas, inclusive a ​Staphylococcus aureus resistente à meticilina - 
MRSA). Esse medicamento demora mais tempo para induzir um processo de recessão clínica 
(demora, mas funciona). 
A Vancomicina não é usada pela via oral. Isso se deve ao fato da molécula ser grande 
e não conseguir atravessar a bicamada lipídica das células epiteliais do trato gastrointestinal, 
não sendo, assim, absorvida. Ao ser usada pela via endovenosa, por exemplo, tal fármaco tem 
mais chance de chegar ao tecido infectado. Se a bactéria patogênica estiver na luz do TGI, aí 
sim, a Vancomicina será utilizada por via oral (nesse caso, administração EV não seria 
eficiente). Tudo vai depender do local da infecção: se for um órgão interno, usa-se pela via 
parenteral; caso seja na luz TGI, faz-se uso por via oral. Também não é indicada para 
infecções do sistema nervoso central, devido a incapacidade de atravessar a barreira 
hematoencefálica, mas há uma exceção. Quando se tem uma meningite, a permeabilidade da 
barreira hematoencefálica aumenta consideravelmente. Logo, durante a vigência do processo 
infeccioso (meningite por pneumococo, por exemplo), caso a bactéria patogênica seja 
resistente a outros fármacos, pode-se administrar Vancomicina (com o aumento da 
permeabilidade, o fármaco consegue passar). Vale salientar que a medida que a infecção for 
regredindo, a inflamação diminuirá e integridade da barreira vai ser restaurada, limitando o 
acesso da droga ao local. O medicamento possui eliminação renal, principalmente. 
A utilização clínica da Vancomicina se dá basicamente em qualquer infecção por 
Gram-positiva, em geral aquelas mais graves. Um exemplo bem característico onde o fármaco 
 
é empregado é a colite pseudomembranosa causada pelo ​Clostridium difficile 
(Gram-positivo). Outra possibilidade de uso, é na composição de um tratamento, por 
exemplo, de uma endocardite. Por atuar apenas contra Gram-positivas, associa-se 
Vancomicina a fármacos com boa cobertura contra Gram-negativos, como os 
Aminoglicosídeos (Gentamicina; Amicacina; usados em ambiente hospitalar / associação 
típica: Vanco + Genta). 
 
 
 
 
 
 
 
Farmacologia II 
Responsável: Dayana Colatino 
Aula 4: Aminoglicosídeos; Sulfonamidas, trimetoprima e quinolonas; Tetraciclinas 
08/Ago/2018 
 
Todos os fármacos abordados até agora (​β-lactâmicos e Glicopeptídeos) ​atuam na 
inibição da parede celular. Na presente aula serão abordadas novas classes de medicamentos 
que têm um mecanismo de ação diferente. 
 
-- AMINOGLICOSÍDEOS -- 
 
Da mesma forma que tantas outras classes, os Aminoglicosídeos são produzidos a 
partir de moléculas/estruturas derivadas de microrganismos e que têm atividade 
antimicrobiana. 
Ao se estudar o ​Streptomyces griseus​, normalmente encontrado no solo, descobriu-se 
sua ação antimicrobiana. De início, havia uma confusão, pois, ao fazer a coloração de Gram, o 
microrganismo se assemelhava muito a um 
fungo. Depois de análises, pode-se afirmar 
que se tratava de uma bactéria. 
Com interesse de encontrar uma 
substância capaz de matar o agente causador 
da tuberculose (a Mycobacterium 
tuberculosis​), o Selman Waksman começou 
a testar substâncias com atividade 
antimicrobiana produzidas pelo 
Streptomyces griseus​. No começo da década 
de 40, o pesquisador consegue isolar uma molécula de estreptomicina (batizada assim por 
causa do fungo) e ela demonstra eficaz atividade antibacteriana, mais precisamente, ação 
antimicobacteriana (contra ​Mycobacterium tuberculosis​). Assim, a estreptomicina é o 
primeiro aminoglicosídeo, o primeiro fármaco com capacidade de matar ​Mycobacterium 
tuberculosis​. 
Da mesma forma que tantas outras, a 
classificação dos Aminoglicosídeos é feita com base 
na estrutura química do medicamento. Essa classe 
possui uma hexose central (açúcar) e dois 
aminoaçúcares nas extremidades, além disso tem-se 
glicídios com função amina na molécula e esse fato dá 
nome a classe. A mesma estrutura que se encontra na 
 
 
estreptomicina foi preservada nos fármacos desenvolvidos posteriormente, como a 
Gentamicina e a Amicacina (mais importantes e mais usados). 
Com relação ao mecanismo de ação, os Aminoglicosídeos atuam na inibição da síntese 
proteica, pois têm bastante afinidade pela ​subunidade 30s dos ribossomos bacterianos 
(estruturas responsáveis por ler as tríades de bases do RNA e, a depender da combinação, 
traduzir a informação em aminoácidos que se conectam e formam cadeias peptídicas) e, ao se 
ligar à ela, causam a inibição da função ribossomal. Essa ligação tem três possibilidades: 
• Bloqueia o início da síntese proteica; 
• O ribossomo começa a produçãoda cadeia peptídica normalmente, mas o fármaco 
interrompe o processo, gerando uma proteína disfuncional; 
• O ribossomo até constrói a cadeia completa, porém incorpora aminoácidos incorretos, 
fazendo com que a conformação tridimensional da proteína seja modificada e também 
sejam concebidas proteínas disfuncionais. 
Independentemente da forma que o Aminoglicosídeo se ligue, a bactéria terá 
significativo prejuízo (perde proteínas de três formas diferentes). 
 
 
 
 
 
Em se tratando dos mecanismos de resistência, a principal forma contra os 
Aminoglicosídeos é a produção de enzimas inativadoras. Essas enzimas agem de modo 
diferente das ​β-lactamases (que danificam o anel ​β-lactâmico), pois elas não quebram, mas 
sim, incorporam alguma molécula grande ao fármaco (por exemplo, um grupo fosfato ou 
acetato) e alteram sua conformação química, diminuindo assim, a afinidade pelo alvo 
farmacológico. Outro mecanismo de resistência é o impedimento da entrada do 
Aminoglicosídeo dentro da bactéria e, com isso, a impossibilidade de agir sobre os 
ribossomos. No entanto, os transportadores que fazem esse influxo são dependentes de 
oxigênio. Tal fato confere a estes fármacos uma melhor ação contra bactérias aeróbias e uma 
resistência contra as anaeróbias (o espectro de ação não cobre as anaeróbias). As bactérias 
também podem se tornar resistentes alterando a proteína ribossomal, ou seja, o ribossomo 
muda sua conformação e o fármaco fica impossibilitado de agir (mecanismo menos 
importante). 
 
Do ponto de vista farmacocinético, vale a pena destacar que as moléculas dos 
Aminoglicosídeos são bastante polares (muitos agrupamentos amina e hidroxila). Por isso, a 
absorção pelo trato gastrointestinal é limitada (a Gentamicina e a Amicacina têm uma 
utilização quase exclusivamente pela via parenteral - EV ou IM). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em geral, esses medicamentos são administrados em esquemas posológicos diferentes, 
podendo ser utilizados várias vezes ao dia ou com apenas uma ou duas aplicações por dia 
(mesmo com o tempo de meia-vida de 2-3 horas; possui efeito pós-antibiótico, ou seja, sua 
ação perdura mesmo que as concentrações no sangue caiam abaixo da CIM). 
Alguns efeitos adversos dos Aminoglicosídeos merecem 
destaque. Os néfrons possuem na membrana luminal uma série de 
transportadores e canais iônicos, bem como, o sistema auditivo 
dispõe de estruturas parecidas (a movimentação dos cílios faz com 
que haja abertura de canais e, dessa forma, ocorre despolarização 
com a posterior compreensão da informação pelo SNC). Os 
Aminoglicosídeos têm uma afinidade considerável por esses 
canais iônicos. O problema é que tal afinidade vem acompanhada 
por um efeito deletério, promovendo prejuízo às estruturas, ao 
ponto de poder levar à nefrotoxicidade ou à ototoxicidade. Essas 
são duas possibilidades de efeitos adversos que podem ocorrer 
com a utilização de Gentamicina ou Amicacina. Normalmente, há 
uma maior probabilidade de haver Nefrotoxicidade com o uso de 
Gentamicina e de Ototoxicidade com a administração de Amicacina, mas ambos podem 
induzir os dois efeitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os efeitos provocados pelos Aminoglicosídeos merecem atenção, pois existem casos 
relatados na literatura de tratamentos pediátricos feitos com fármacos dessa classe que 
fizeram com que a criança (3-4 anos) perdesse a audição (efeito irreversível). 
O espectro de ação desse grupo cobre principalmente as ​Gram-negativas aeróbias 
(anaeróbias não). Pode haver alguma variação de potência dentro da classe. Por exemplo, 
contra ​E. coli um medicamento pode se sobressair a outro e isso também ocorre com 
Pseudomonas aeruginosa​. A potência da atividade antimicrobiana é comparada por meio da 
concentração inibitória mínima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pela tabela é possível perceber que é necessária uma concentração menor de 
Gentamicina para combater a ​E. coli do que de Amicacina, no entanto, para ​Pseudomonas 
aeruginosa​, o quadro se inverte. Na prática, ambos funcionam, o que varia é apenas a 
quantidade que será requisitada. Especificamente com relação a Amicacina, é importante 
relembrar que é o fármaco mais novo da classe. Por isso, uma de suas vantagens é a 
possibilidade de maior resistência contra as enzimas inativadoras já comentadas (devido a sua 
conformação, é menos susceptível). 
A utilização clínica se dá em infecções por bactérias Gram-negativas (desde que elas 
sejam aeróbias). Durante a prática clínica, é mais comum o uso de Gentamicina do que de 
Amicacina e essa utilização se dá por dois motivos: custo menor e tempo de experiência (é 
mais antiga, com grau de evidência maior). Uma outra prática frequente é a combinação de 
um Aminoglicosídeo com outro fármaco, como ocorre na associação de Gentamicina + 
Vancomicina. Isso se dá para que o espectro de ação seja ampliado e se tenha uma maior 
eficácia de tratamentos empíricos (Genta → Gram-negativa / Vanco → Gram-positiva), mas 
também, tais associações podem buscar um sinergismo, ou seja, os efeitos dos fármacos se 
complementam e garantem uma melhor eficácia final (a conjunção dos dois promove uma 
eficácia superior do que se fossem usados individualmente). Outra vantagem das associações 
é que a bactéria pode ser acometida em mais 
de ponto (mecanismos de ação diferentes; por 
exemplo, pode-se inibir a síntese da parede 
celular e a função ribossomal). Além disso, é 
bem mais difícil/raro que ela desenvolva 
mecanismos de resistência para os dois 
fármacos simultaneamente quando 
comparado a uma monoterapia. 
 
-- SULFONAMIDAS E TRIMETOPRIMA -- 
 
Historicamente, as Sulfonamidas constituem uma classe muito importante, mas hoje 
em dia são pouco utilizadas. Tem-se um número bastante reduzido de medicamentos e apenas 
um será cobrado: o ​Sulfametaxazol​. 
O mecanismo de ação dessa classe 
é o seguinte: o Sulfametaxazol compete 
com o substrato natural da enzima 
Di-hidroptreoato sintetase. O Ácido 
p-aminobenzóico (PABA) é a substância 
usada pela Di-hidroptreoato sintetase para 
produzir Ácido di-hidrofólico, que por sua 
vez é transformado em Ácido 
tetra-hidrofólico, sendo este convertido em 
purinas (bases nitrogenadas) e, 
sequencialmente, em DNA. Sabe-se que 
multiplicação do DNA é um processo vital 
para que a bactéria vingue e forme 
colônias. Por isso, a rota metabólica ao 
lado é muito ativa em muitos microrganismos. Assim, a 
sulfonamida disputa com o substrato natural da 
Di-hidroptreoato sintetase, fazendo com que haja uma 
tendência do PABA o do Sulfametaxazol competirem por 
um mesmo sítio catalítico. Logo, os produtos subsequentes 
da cadeia vão diminuir significativamente (redução do 
número de folatos e, por consequência, de DNA) e a 
reprodução bacteriana se tornará deficiente. 
No tocante do espectro de ação, as Sulfonamidas contemplam as bactérias 
Gram-positivas e negativas, salvo algumas exceções, como a ​Enterococcus faecalis e a 
Pseudomonas aeruginosa ​(esses microrganismos usam outra rota metabólica para produção 
de DNA e, por isso, são primariamente resistentes). Além disso, apresentam atividade 
insuficiente contra anaeróbios. 
Os mecanismos de resistênciaestão diretamente relacionados ao PABA, pois as 
bactérias passaram a aumentar consideravelmente sua produção (quanto mais reagente, mais 
produto) e, assim, restaurar a quantidade de produtos, contrabalanceando as substâncias que 
estão competindo pelo sítio catalítico. Logo, a produção excessiva de Ácido ​p​-aminobenzóico 
é o principal artifício de resistência. Os mecanismos menos importantes são a produção de 
uma enzima com baixa afinidade pela Sulfonamida (mas preserva a compatibilidade pelo 
PABA) e a diminuição da permeabilidade da MP. 
No decorrer da história, as Sulfonamidas foram usadas em larga escala e, 
naturalmente, os mecanismos de resistência se tornaram cada vez mais frequentes. Assim, 
durante o avanço da Farmacologia, descobriu-se uma molécula denominada de Trimetoprima, 
 
capaz de inibir a enzima Di-hidrofolato 
redutase (a segunda enzima necessária na rota 
metabólica abordada anteriormente). Dessa 
maneira, a rota metabólica pode ser inibida em 
dois pontos diferentes com uma associação de 
Sulfametaxazol com Trimetoprima, criando 
duas “travas” na reação química 
(Di-hidroptreoato sintetase e Di-hidrofolato 
redutase) e comprometendo a produção de 
DNA. 
Boa parte da características se mantêm, 
como o espectro e mecanismos de resistência. 
No entanto, atualmente não se vê a utilização 
de Sulfonamida sozinha, quase sempre ela está 
associada a Trimetoprima, onde o principal exemplo é o Bactrim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um detalhe importante a respeito da combinação de Sulfonamida + Trimetoprima é 
que além de combater bactérias Gram-positivas e negativas, ela ​é capaz de matar um tipo de 
fungo que usa essa rota metabólica, o ​Pneumocystis jiroveci​. Este fungo tem uma importância 
clínica considerável, principalmente em pacientes imunocomprometidos (portadores de HIV, 
pacientes transplantados que se encontram em terapia imunossupressora, etc.), os quais 
apresentam facilidade em adquirir infecções das vias aéreas por tal patógeno. O Bactrim é 
bastante empregado em quadros assim, às vezes, até mesmo como tratamento preventivo. 
Além disso, dado o espectro Gram-positivo e negativo, há possibilidade de utilizar o Bactrim 
em uma variedade muito grande infecções respiratórias, intestinais e urinárias, como também 
em sinusites, otites e contra ​Neisseria gonorrhoeae (Gram-negativa; pode causar uretrite e 
cervicite). Todavia, já se têm cepas resistentes à associação. Logo, ​E. coli e pneumococo têm 
grandes chances de não serem danificados por este medicamento. 
 
-- FLUOROQUINOLONAS -- 
 
As Fluoroquinolonas são derivadas do Ácido nalidíxico, uma substância usada 
antigamente e que tinha uma atividade antibacteriana fraca e sutil. A partir dessa molécula, 
começaram a se produzir compostos, onde se incorporaram átomos de flúor, resultando em 
 
derivados fluorados do Ácido nalidíxico. Portanto, a denominação da classe origina-se nesse 
fato, ou seja, uma classificação com base na estrutura química. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os principais exemplos são o Ciprofloxacino, Norfloxacino e o Levofloxacino (todos 
os fármacos que terminam com “floxacino” são Fluoroquinolonas). 
Para que haja duplicação do 
DNA, é necessário “abri-lo”, ou seja, 
separar as fitas para que as bases 
complementares do RNA se 
encaixem e formem os dois 
filamentos. As enzimas que fazem a 
“abertura” da dupla fita são a 
DNA-girase (ou topoisomerase II) e 
a topoisomerase IV. Tais enzimas são 
o alvo das Fluoroquinolonas, pois são 
capazes de inibi-las e impedir a bactéria de se multiplicar (mecanismo de ação). 
O espectro de ação cobre tanto Gram-positivas, quanto negativas, mas pode apresentar 
variações dentro do grupo (essas variações podem interferir na escolha terapêutica). No que 
diz respeito à potência, o Norfloxacino é um pouco menos ativo que o Levofloxacino e o 
Ciprofloxacino. Assume-se que, dentro das Gram-negativas, esses medicamentos têm ação 
inclusive contra ​Pseudomonas aeruginosa (são fármacos que possuem atividade melhor 
contra Gram-negativas, porém também funcionam contra Gram-positivas). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os exemplos mais tradicionais da classe são os três medicamentos citados. Porém, já é 
frequente a prescrição de Moxifloxacino. Além disso, alguns fármacos que podem figurar 
entre os mais utilizados daqui a alguns anos são o Gatifloxacino e o Gemifloxacino. O 
primeiro, atualmente, encontra-se disponível em solução oftálmica para quadros de 
conjuntivite bacteriana, enquanto que o segundo é utilizado para tratamento por via oral de 
infeções. A vantagem dessa geração mais nova é que a atividade contra Gram-positivos foi 
melhorada, acrescida da eficiente ação contra Gram-negativas já conhecida dos fármacos mais 
antigos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O mecanismo de resistência se baseia principalmente na alteração da enzima alvo, ou 
seja, as topoisomerases mudam sua conformação a ponto do medicamento não conseguir mais 
se ligar. A resistência também pode se dar por alterações da permeabilidade da MP (impedir 
que o composto adentre a bactéria). 
No que se trata da Farmacocinética, a classe apresenta excelente biodisponibilidade 
pela via oral. Os medicamentos mais novos, em geral, apresentam essa característica de 
melhora da Farmacocinética. Por exemplo, o tempo 
de meia-vida do Ciprofloxacino varia de 3-5 h e do 
Levofloxacino é de 5-7h, enquanto que o T​1/2 do 
Gemifloxacino é de cerca de 8h. 
A utilização clínica se dá para infecções do 
trato genitourinário causada por diferentes 
microrganismos (na maior parte dos casos a ​E. coli​, 
mas cobre mesmo que a infecção seja causada por 
P. aeruginosa​); diarréias bacterianas causadas por 
Gram-negativas como ​Shigella​, ​Salmonella​, ​E. coli toxigênica e ​Campylobacter​; infecções 
dos tecidos moles e trato respiratório; infecções por gonococos (​Neisseria gonorrhoeae​) e 
meningococos (​Neisseria meningitidis​), ambas Gram-negativas. 
A utilização indiscriminada desses fármacos gera resistência bacteriana. Por volta de 
2000, haviam estudos que recomendavam Ciprofloxacino para pneumonias severas, 
atualmente, menos de 20 anos depois, este tratamento praticamente não é mais utilizado em 
casos assim. 
 
 
Boas opções para o quadro acima são Ciprofloxacino, Levofloxacino, principalmente, 
mas também poderia ser usada uma Penicilina de espectro ampliado associado a um inibidor 
de β-lactamase (não é preferível, mas daria certo). Não se deve continuar utilizando 
Sulfametaxazol com Trimetoprima, pois há grande possibilidade das cepas já terem adquirido 
resistência. Um ponto que vale a pena chamar a atenção é que as Fluoroquinolonas não devem 
ser administradas em conjunto com suplementos de cálcio (a paciente tem osteoporose), dado 
que o fármaco interage com os íons de cálcio (com outros ​cátions di e trivalentes também) e 
estes impedem sua absorção (os íons recobrem a molécula da droga e impossibilita que seja 
absorvida). Assim, a suplementação deve ser administrada cerca de 3-4 horas entre os 
medicamentos. O mesmo vale para o leite (já que ele é rico em cálcio) e para antiácidos, como 
o hidróxido de alumínio, e o leite de magnésio. 
 
-- TETRACICLINAS -- 
 
As Tetraciclinas,

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