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Direitos Sociais e Competências em Serviço Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.a Mariana Aparecida da Silva Prof.a Dr.a Maria Raimunda Chagas Vargas Rodriguez Revisão Técnica: Prof. Me. Denis Barreto da Silva Revisão Textual: Prof.a Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social • Entendendo o Neoliberalismo • Tendências Teóricas e Teórico-Metodológicas no Debate Profissional na Década de 1990 • O Desenvolvimento do Projeto Ético-Político do Serviço Social • Implicações do Contexto Neoliberal para o Serviço Social · Analisar o Serviço Social no contexto no século XX; · Contextualizar o Neoliberalismo como doutrina e como conjunto de políticas econômicas; · Compreender as mudanças nos padrões de proteção social e suas implicações para o Serviço Social. OBJETIVO DE APRENDIZADO Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Contextualização Para entender historicamente como se desenvolveu o modelo Neoliberal, estudaremos como o então conhecido Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) aponta uma contradição entre a seguridade e proteção social em detrimento da manutenção da acumulação capitalista, além de atentarmos às suas repercussões em contexto global. A reportagem abaixo traz algumas características do Neoliberalismo. Durante a leitura tente apontar alguma (as) e registre-as para posterior conferência junto ao estudo do conteúdo. FMI diz que políticas neoliberais aumentaram desigualdade https://goo.gl/VsF9zC Ex pl or 8 9 Entendendo o Neoliberalismo Para aprofundarmos nossos estudos e entendermos o contexto que marcou o cenário mundial e a identidade do Serviço Social, vamos estudar um pouco o Neoliberalismo? Segundo Perry Anderson, o Neoliberalismo nasceu na Europa e América do Norte, logo após a Segunda Guerra Mundial, em meados da década de 1940. O neoliberalismo nasceu logo depois da II Guerra Mundial, na região da Europa e da América do Norte onde imperava o capitalismo. Foi uma reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem-estar. (ANDERSON, 1995, p. 09) É a partir dessa pequena contextualização que o Neoliberalismo começa a se expandir como movimento ideológico. O modelo pioneiro ocorreu na Inglaterra, em 1979, com o regime do governo Thatcher, sendo o primeiro a cortar gastos sociais e a criar níveis altíssimos de desemprego. Em seguida, ao modelo inglês foram surgindo os modelos, como o norte-americano, além de modelos de países europeus (França, Espanha, Portugal, entre outros). Na América Latina, o modelo neoliberal iniciou sua tentativa de instalação, em 1988, com a presidência de Salinas, no México, como cita Anderson (1995, p. 20). A partir da tentativa mexicana, a Argentina, a Venezuela, o Peru e também o Brasil embarcaram na mesma iniciativa. Linha do Tempo Inglaterra EstadosUnidos América Latina 1979 1982 1988 Após essa contextualização inicial, vamos direcionar o estudo sobre a crise da sociedade contemporânea a partir das citações de alguns autores. Netto cita que houve dois grandes colapsos históricos que incrementaram a crise global do capital: o primeiro colapso foi a crise do socialismo real e o segundo foi a chamada crise do capitalismo democrático, em sua camuflagem de Estado de Bem-estar social. “Entretanto, não é somente a crise do socialismo real que peculiariza a quadra histórica contemporânea. Conjuntamente com ela (na verdade, com alguma anterioridade), vem correndo, desde a passagem da década de sessenta à de setenta, a crise do “capitalismo democrático” (NETTO, 2007, p. 67-68) 9 UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Essas duas crises representam a crise global da sociedade contemporânea. A crise do socialismo real derivou da falta ou nenhuma socialização do poder político e econômico. Os objetivos do socialismo real são incompatíveis com a ditadura imposta pelo capital. A interferência do estilo de vida americano (american way of life) como exemplo para outros países, principalmente os que tentaram desenvolver o socialismo (antiga União Soviética, por exemplo) carrega grande força, pois prega aberturas econômicas e políticas através da estatização e de um modelo de vida que opta pela liberdade de escolha e principalmente de consumo. Imagem representando o estilo de vida americano Fonte: bigbighome.org Mas todas essa coorte de implicações não deve ocultar a gênese da crise, tomada em sua universalidade: a dissincronia entre as instituições constitutivas do sistema sócio-político e o ordenamento econômico – a reduzidíssima socialização do poder político (cristalizada pela autocracia stalinista) e a estrangulada socialização da economia (resumida na estatização). (NETTO, 2007, p. 71) Segundo Faria (1998), T.H. Marshall, a partir de seus estudos da cidadania moderna definiu basicamente que o Estado de Bem-Estar Social “[...] seria a institucionalização dos direitos sociais, o terceiro elemento da cidadania.”, ou seja, os direitos mínimos ao cidadão (alimentação, saúde, habitação, educação etc.) seriam assegurados como uma política de seguridade social sem filantropia ou assistencialismo. A teoria do Welfare State (Estado de Bem-Estar Social) dá ao Estado responsabilidades mínimas para garantir os padrões de vida aos indivíduos que já não encontram esse suporte em instituições sociais tradicionais, como a família, por exemplo. O processo de industrialização teria criado novas demandas de gasto público, uma vez que a família não podia mais exercer suas funções tradicionais e o novo processo produtivo provocara a marginalização de determinados grupos de indivíduos. O Estado teria respondido de modo quase automático à emergência dessas novas demandas. (FARIA, 1998, p. 40) 10 11 Pereira (2009) cita que Marshall construiu uma teoria trifacetada com relação aos direitos de cidadania. Neste sentido, Marshall definiu que a cidadania era formada por direitos civis, políticos e sociais que foram se desenvolvendo em diferentes períodos históricos. A concepção dos direitos civis se deu no século XVIII e se referem à liberdade individual, como a liberdade de ir e vir, o direito de expressão de pensamentos, religião, direitos básicosque não limitem ou determinem as escolhas individuais. Os direitos civis são aqueles necessários às liberdades individuais (liberdades negativas, porque negam a interferência do Estado no seu desenvolvimento), tais como: liberdade de ir e vir, de imprensa, de pensamento, de fé, o direito à propriedade e o direito à justiça. Este último consiste no direito de defender e afirmar todos os direitos com vista à igualdade entre eles e ao devido encaminhamento processual. (PEREIRA, 2009, p. 96) Os direitos políticos surgiram em meio ao século XIX, e partiam da premissa de que qualquer indivíduo poderia participar das decisões políticas que fossem de seu interesse, o que conhecemos como direito à prática da cidadania. Segundo Marshall, os direitos políticos consistem no: [...] direito de participar do exercício do poder político, como um membro de um organismo investido de autoridade política ou como um eleitor dos membros de tal organismo. (MARSHALL, 1967, p. 163 in: PEREIRA, 2009, p. 96) Já os direitos sociais surgiram no século XX e se referem aos direitos mínimos dos indivíduos para viverem de forma digna em sociedade. Ou seja: [...] tudo que vai desde direito a um mínimo de bem-estar econômico e segurança ao direito de participar por completo na herança social e levar uma visa de um ser civilizado de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. (MARSHALL, 63-64 in: PEREIRA, 2009, p. 96) Para exemplificar os direitos sociais, podemos pensar no direito à remuneração pelas horas de trabalho (leis trabalhistas), o direito à seguridade social, como a aposentadoria por tempo de trabalho, além dos direitos que estão previstos desde a promulgação dos direitos humanos e que estão em nossa Constituição Federal de 1988. Importante! A partir da observação da imagem, quais refl exões são possíveis sobre o conteúdo? Tente elencar características estudadas para sistematizar as informações. https://goo.gl/Q8d12v Trocando ideias... 11 UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Existem várias teorias para o Estado de Bem-Estar Social que foram se adequan- do a diferentes períodos e contextos. Segundo alguns autores neomarxistas, as políticas sociais podem ser muito funcionais para manter a acumulação do capital, pois ao mesmo tempo em que elas abrandam esse processo fornecendo suporte a algumas necessidades básicas humanas, elas também são capazes de abrandar os atritos entre capital e força de trabalho. No texto abaixo, podemos aprofundar nossos estudos sobre as teorias sobre o então conhecido Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social. De forma didática, o autor vai contextualizando e descrevendo as teorias, suas origens, expansão e crise desse modelo. Título: Uma Genealogia das Teorias e Modelos do Estado de Bem-Estar Social Autor: Carlos Aurélio Pimenta de Faria https://goo.gl/ZH79pb Ex pl or Tendências Teóricas e Teórico- Metodológicas no Debate Profissional na Década de 1990 Contextualizando A promulgação da Constituição Federal Brasileira, em 1988, apresentou a Assistência Social como política social ao instituir o tripé da Seguridade Social (Saúde, Previdência e Assistência Social). Outros marcos regulatórios reforçaram o caráter de política pública da Assistência Social como observamos na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS1 : Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. A partir desse contexto de mudanças e luta do Serviço Social em se afirmar como área de conhecimento, que abrange uma categoria profissional, e que tenta se estabelecer academicamente através do desenvolvimento de pesquisas, iremos vislumbrar algumas mudanças na situação econômica, política e social, não só no Brasil, mas em âmbito mundial perante o avanço do Neoliberalismo e da constante crise do capital. 1 Lei nº 8.742, de 7 de Dezembro de 1993. 12 13 Com a crise do Estado de Bem-Estar Social e do avanço do Neoliberalismo que essencialmente reduz o sistema de seguridade social a práticas assistencialistas e imediatistas em detrimento da acumulação capitalista, as manifestações da questão social surgem a partir da precarização do trabalho, do desemprego estrutural, das problemáticas ambientais, das multifaces da violência e dos diversos tipos de discriminação. Nessa conjuntura, emergem processos e dinâmicas que trazem para a profissão, novas temáticas, novos, e os de sempre, sujeitos sociais e ques- tões como: o desemprego, o trabalho precário, os sem terra, o trabalho infantil, a moradia nas ruas ou em condições de insalubridade, a violência doméstica, as discriminações por questões de gênero e etnia, as drogas, a expansão da AIDS, as crianças e adolescentes de rua, os doentes mentais, os indivíduos com deficiências, o envelhecimento sem recursos, e outras tantas questões e temáticas relacionadas à pobreza, à subalternidade e à exclusão com suas múltiplas faces. (YAZBEK, 2009, p. 16-17) Nesse sentido, a categoria profissional inicia o percurso de amadurecimento do Projeto Ético-Político do Serviço Social. A partir da influência, principalmente marxiana, os profissionais fortaleceram o processo de ruptura com as raízes conservadoras da profissão. Seguindo esse lastro, a década de 1990 é marcada por importantes conquistas no projeto profissional, como aponta Piana, o Código de Ética de 1993 e a Lei de Regulamentação da Profissão que surge no mesmo ano, além das diretrizes curriculares para os cursos de Serviço Social em 1996 e legislações importantes para atuação e intervenção profissionais, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA -1990), a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS -1993) e a Lei Orgânica da Saúde que surgem em 1990. No tocante às vertentes teóricas e metodológicas da profissão, a partir da década de 1980 e se expandindo para a década de 1990, além da influência de Marx nos estudos e práticas dos assistentes sociais, outros autores surgem para imprimir novas características à profissão. Nesta tradição o Serviço Social vai apropriar-se a partir dos anos 80 do pensamento de Antonio Gramsci [...] Vai chegar a Agnes Heller e à sua problematização do cotidiano, a George Lukács e à sua ontologia do ser social fundada no trabalho, a E.P. Thompson e à sua concepção acerca das “experiências humanas”, a Eric Hobsbawn um dos mais importantes historiadores marxistas da contemporaneidade e a tantos outros cujos pensamentos começam a permear nossas produções teóricas, nossas reflexões e posicionamentos ideopolíticos. (YAZBEK, 2009, p. 16-17) É importante ressaltar que a expansão universitária configurou um diferencial para o desenvolvimento de uma nova perspectiva profissional menos conservadora, pois mesmo com a inserção dos autores que já citamos, o interior da profissão ainda não estava e não está totalmente livre das raízes conservadoras que marcaram a profissão desde o seu nascimento. 13 UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Para agregar conhecimento e relembrar alguns pontos estudados. Vamos lá? Vídeo sobre a consolidação da Assistência Social como Política Pública por Aldaíza Sposati https://goo.gl/HIF7Gl Ex pl or A década de 1990, em outra perspectiva, aponta sintomas do movimento de neoliberalização que irá influenciar o contexto profissional para ações refilantropizadas, ou seja, ações “caritativas” camufladas em regulamentações estatais paliativas à questão social. É um momento marcado por privatizações e crescimento do terceiro setor, visto que o Estado não consegue abarcar as consequências da expansão da crise do sistema econômico, social e político desigual em que estamos inseridos. Assim, a solidariedade difundida sustenta-se no ideário da benemerência e da refilantropização. A retórica da solidariedade, da flexibilizaçãoe da parceria embeveceram muitos ingênuos cidadãos comprometidos, tornando-se palavras- chave nos discursos governamentais no Brasil [...] (VIANA, 2000, p. 47) O Desenvolvimento do Projeto Ético- Político do Serviço Social Como estamos estudando, é a partir da década de 1990 que questões éticas começam a surgir na atuação profissional dos assistentes sociais que pela sua participação em espaços de discussão em prol da garantia de direitos, vislumbra a necessidade de construir um Projeto Ético-Político que essencialmente tenha em seu conteúdo os questionamentos quanto à teoria e à práxis do serviço social perante o espraiamento das desigualdades sociais e que represente a categoria profissional, afinal, a imagem dos profissionais é construída a partir de suas definições de intervenção em seus diversos espaços de trabalho. Nesse sentido: Este projeto profissional reafirma o compromisso da categoria com um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero. Ele tem como aspecto central a liberdade, ou seja, a possibilidade de o ser humano fazer concretamente suas escolhas, e com isso comprometer-se com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos indivíduos. (PIANA, 2009, p. 106) A apropriação dos profissionais da realidade social tornou-se imprescindível para análises de conjuntura, o que possibilita a ampliação do conhecimento da 14 15 categoria em torno dos direitos sociais que foram ganhando forma pelo processo democrático brasileiro. A criação de um projeto profissional para a categoria criou desafios ao explicitar a necessidade da formação continuada dos profissionais, além de ir contra conceitos socialmente engessados ao instituir que os cidadãos devem ter garantidos os direitos sociais, civis, políticos e econômicos. Nesse sentido, a postura dos assistentes sociais também teve que mudar a partir do movimento de intenção de ruptura com a essência conservadora do Serviço Social. Para atuar com um projeto profissional crítico e reflexivo, os profissionais tiveram que desenvolver essas potencialidades como forma, principalmente, de estudo da sociedade e das determinações da classe dominante. Para a categoria profissional a releitura do trabalho do assistente social exigiu a ruptura com posicionamentos ideológicos e ações restritas, endógenas e focalistas do Serviço Social, transpondo as determinações da classe dominante. Com isso faz-se necessário um profissional propositivo, reflexivo, crítico [...] (PIANA, 2009, p. 109) Para entender melhor o contexto Neoliberal e sua infl uência para a categoria profi ssional, leia o conteúdo do link abaixo. https://goo.gl/EI5hll Ex pl or Implicações do Contexto Neoliberal para o Serviço Social Como estamos observando, o modelo neoliberal é fruto das relações econômicas e políticas do capitalismo. Percebemos também como ele influenciou nos contextos pessoais e profissionais da sociedade. Nessa perspectiva, para o Serviço Social, não seria diferente. O Brasil passou por modificações econômicas e políticas nas décadas de 1980 e 1990 com o processo de privatizações na indústria, o crescimento do terceiro setor e aumento das inflações, o que rebateu fortemente na organização da força de trabalho. Esse contexto influenciou em como a profissão deveria se organizar diante da então crise do capital. Montaño (2007) analisa que as questões oriundas desse momento afetaram: [...] substantivamente a base de sustentação funcional ocupacional do Serviço Social que devem ser consideradas para poder determinar a magnitude de suas consequências [sic] sobre a realidade ocupacional do assistente social, a funcionalidade e a legitimidade da profissão. (MONTAÑO, 2007, p. 3) 15 UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Ainda em seus estudos, Montaño aponta as mudanças no mundo do trabalho, principalmente após a inserção da tecnologia na práxis profissional que ocasionou no corte de funcionários de muitas empresas e um grande impacto na infraestrutura das organizações. A automação da produção possibilitou o giro mais rápido do capital, pois a mão de obra humana foi substituída por máquinas, ou seja, o mercado tecnológico começou a se expandir e a substituir o trabalho vivo. O desenvolvimento de softwares em detrimento da humanização da produção começou a dominar o mercado. Vislumbramos, assim, a instalação do desemprego estrutural. Se desde a Revolução Industrial a máquina suplanta e substitui o homem, este nunca pode ser totalmente eliminado do processo produtivo dada a necessidade de comando humano sobre a máquina. Esta, sem a manipulação do homem, nada podia fazer. A informática veio ocupar, através do comando pré-programado de atividades- desenvolvido nos software -, este papel. Com este panorama, não somente o trabalhador manual resulta supérfluo, senão muitos cargos gerenciais, de inspeção, de engenharia industrial, administrativos, resultam prescindíveis. (MONTAÑO, 2007, p. 4) Nessa perspectiva, há a flexibilização dos contratos de trabalho, uma vez que os funcionários já não são mais imprescindíveis para as rotinas completas de trabalho, mas sim por demandas especificas a partir de subcontratações, e, assim, consequentemente, os direitos trabalhistas também foram flexibilizados, a previdência social já não é mais garantida. Imagem que representa a incorporação da tecnologia no mundo globalizado Fonte: iStock/Getty Images 16 17 No debate de mudança de contexto no mundo do trabalho, Montaño também inicia a discussão sobre a globalização ou “mundialização do capital” que otimizou a velocidade da produção e do escoamento de produtos. A subcontratação de mão de obra permitiu que um mesmo produto passasse por diferentes países até a entrega final. A empresa mantém uma matriz e espalha “filiais” pelo mundo, principalmente em locais que possam receber algumas vantagens com relação a isenções fiscais. Assim, hoje se pode produzir (e de fato assim se faz) uma mercadoria montando peças produzidas em vários países, através da subcontratação de empresas no estrangeiro. Este fenômeno permite a empresa matriz subcontratar as empresas que produzem melhor e mais barato não só a nível nacional, senão no mundo inteiro. Desta maneira, um produto determinado pode ser confeccionado a partir de subprodutos (peças), cada um deles procedentes de um país diferente em função das vantagens que, para cada peça, ofereçam esses países. (MONTAÑO, 2007, p. 6) O rebatimento desse contexto para o Serviço Social começa a aparecer no direcionamento da intervenção dos profissionais. O desemprego estrutural, os altos índices de inflação e a terceirização da responsabilidade estatal para as ONGs formatam um panorama diferenciado e que necessita de estratégias para a atuação dos assistentes sociais. As políticas sociais começam a ser focalizadas e executadas para determinados grupos de indivíduos, sem o caráter da universalidade. Ao se deslocar a responsa- bilidade do Estado para o terceiro setor, cada organização pode executar o serviço para o público-alvo que for determinado pela sua constituição como entidade, o que torna a garantia de direitos deficitária, pois as múltiplas expressões da questão social não se limitam a serviços socioassistenciais focalizados. É assim que, em primeiro lugar, a orientação das políticas sociais é alterada de forma significativa. Por um lado elas são privatizadas, retiradas paulatinamente da órbita do Estado (passam ao âmbito da sociedade civil − Igreja, ONGs, Instituições de Apoio, Organizações de vizinhos etc.)12; por sua vez essas políticas sociais são focalizadas (contra o princípio universalista, elas se destinam hoje, apenas a uma população carente de determinado serviço pontual [...] (MONTAÑO, 2007, p. 10) Não é apenas o viés social das políticas que sofreram alterações, mas também o econômico. A partir do momento em que focalizamos a ação das políticassociais, ela exclui uma parte da população que supostamente pode se autossustentar. Assim, há a diminuição de investimento na área social, pois a execução da política social perde sua amplitude. 17 UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Essa mudança no caráter das políticas sociais influencia no campo de trabalho dos assistentes sociais que essencialmente as executam, no entanto, com a fragi- lização dessas políticas, a atuação profissional se torna vulnerável na mesma pro- porção tornando-se prescindível no mercado de trabalho e que pode ser substituída ou descartada. Vale dizer, se o assistente social surge como um profissional necessário para implementar um instrumento estatal (as políticas sociais) considerado fundamental a uma determinada estratégia, promovida pelos setores hegemônicos, de legitimação do sistema e de aumento da acumulação do capital e se estas perdem paulatinamente a importância que tinham, dadas as variações atuais na estratégia daquelas classes hegemônicas, então estes profissionais poderão ir passando a ser cada vez mais prescindíveis, menos necessários. Seu campo de trabalho na esfera estatal vai se reduzindo. Assim, as alterações nas políticas sociais dentro do contexto neoliberal não somente são prejudiciais as classes populares, beneficiárias de tais mecanismos, como também repercutem negativamente no (des) emprego do assistente social. (MONTANÕ, 2007, p. 12) Nesse sentido, os assistentes sociais passam a ser cada vez mais solicitados como “empresas”, que prestam certos serviços, como assessoria, ou consultoria em Serviço Social, por exemplo. Nós nos deparamos, então, com o novo panorama de empregabilidade do profissional que deve modificar sua identidade para se adequar às demandas neoliberais. O desenvolvimento de novas instrumentalidades é necessário para os assistentes sociais que passam pela terceirização do seu trabalho, bem como pela fragmentação de suas ações. Outra característica que podemos apontar nesse contexto de desemprego estrutural é a procura do profissional por vários empregos, que nos mostra a força da precarização do trabalho. Nas próximas unidades, aprofundaremos o conteúdo e a questão dos novos espaços de trabalho dos assistentes sociais. Mas, enquanto isso, que tal pensarmos um pouco em como modelos ideológicos podem influenciar nosso cotidiano, uma vez inseridos em um sistema econômico excludente? Ex pl or Importante! • Estudamos o histórico do Neoliberalismo e suas raízes europeias e norte-americanas • A influência desses modelos para a expansão neoliberal na América Latina • Estudamos as tendências históricas e teórico-metodológicas do debate do Serviço Social, nas décadas de 1980 e 1990, e os rebatimentos do Neoliberalismo para a categoria profissional. Em Síntese 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Uma genealogia das Teorias e Modelos do Estado de Bem-Estar Social FARIA, Carlos Aurélio Pimenta. Uma genealogia das Teorias e Modelos do Estado de Bem-Estar Social. In: Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. Rio de Janeiro, nº 46, 2º semestre de 1998, pp. 3-151. As Políticas Sociais e o Neoliberalismo: Reflexões suscitadas pelas experiências latino-americanas DRAIBE, S.M. As Políticas Sociais e o Neoliberalismo: Reflexões suscitadas pelas experiências latino-americanas. Revista USP. Política Social: temas & questões PEREIRA, P.A.P. Política Social: temas & questões. 2ed. São Paulo: Cortez, 2009. Balanço do neoliberalismo ANDERSON, P. Balanço do neoliberalismo. In: Pós-neoliberalismo: as políticas sociais e o Estado democrático. Org. Emir Sader, Pablo Gentili. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. Economia Política: uma introdução crítica NETTO,J.P; BRAZ,M. Economia Política: uma introdução crítica. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2012. 19 UNIDADE Neoliberalismo e o Estado de Bem-Estar Social Referências NETTO, J.P. Crise do Socialismo e Ofensiva Neoliberal. São Paulo: Cortez, 2007. PEREIRA, P.A.P. Política Social: temas & questões. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2009. PIANA, M.C. O serviço social na contemporaneidade: demandas e respostas. In: A construção do perfil do assistente social no cenário educacional [online]. São Paulo: Unesp, 2009. YAZBEK, M.C. Os fundamentos históricos e teórico-metodológicos do Serviço Social brasileiro na contemporaneidade. In: Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFESS, 2009. 20