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OBSTETRICIA FORENSE

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GRAVIDEZ 
 Estágio fisiológico da mulher quando 
ela carrega em seu interior o produto 
da concepção. 
 Duração variada, em média de 9 
meses, normalmente. 
 Pericialmente, o diagnóstico da 
gravidez é importante nos mais 
variados casos, baseando-se em 
exames objetivos e subsidiários. 
 Situações mais relevantes no 
diagnóstico da gestação: 
 investigação da paternidade; 
 simulação e dissimulação da 
gravidez; 
 verificação da gravidez nos casos de 
infanticídio; 
 prova de violência carnal; 
 atestados de pejamento para fins 
administrativos e trabalhistas. 
 Exame objetivo baseia-se nos Sinais 
de Presunção, de Probabilidade e de 
Certeza. 
 Sinais de Presunção: perturbações 
digestivas, máscara gravídica, 
lanugem, pigmentação da linha alba, 
congestão das mamas, hipertricose e 
estrias abdominais. 
 Sinais de probabilidade: amenor-
reia, cianose na vulva (sinal de 
Kluger), cianose da vagina (sinal de 
Jaquemier), pulsação vaginal (sinal 
de Oseander), redução das dimensões 
do colo uterino e dos fundos de saco 
vaginais, rechaço vaginal (sinal de 
Puzos), flexibilidade do istmo uterino 
(sinal de MacDonal), hipertrofia do 
útero (sinal de Noble), alteração da 
forma uterina ( sinal de Piskacek), 
depressibilidade do istmo (1º sinal de 
Reil-Hegar), modificação das 
glândulas mamárias – aumento de 
volume/ rede venosa superficial 
(sinal de Haller)/ decréscimo dos 
mamilos/aumento de pigmentação 
das aréolas/ secreção/presença de 
estrias e vergões, aumento do volume 
uterino. 
 Sinais de Certeza: movimentos do 
feto (perceptíveis a partir da 18ª 
semana de gestação), batimentos do 
coração fetal (em torno de 20 a 21 
semanas), sopro uterino, rechaço 
uterino (sinal de Puzos - em torno da 
16ª e a 18ª semanas), palpação de 
segmentos fetais (a partir de dezoito 
semanas da gravidez) , estudo 
radiológico do esqueleto fetal, 
ultrassonografia, laparoscopia e 
testes biológicos da gravidez. 
 Em caso de morte, o exame pericial 
consiste na realização de exame 
histopatológico do ovário, do útero e 
da hipófise. 
 
 LAPAROSCOPIA: procedimento 
cirúrgico pouco invasivo, utilizado 
principalmente em casos de suspeita 
de gravidez tubária não rota, em 
gravidez ectópica. 
 RADIOGRAFIA: exame possível a 
partir da 7ª semana de gravidez pelo 
surgimento dos primeiros pontos de 
ossificação na clavícula; uso 
contraindicado pois pode provocar 
malformações e até o abortamento. 
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 ULTRASSONOGRAFIA: 
metodologia inócua e não invasiva 
também por meio de imagens; não 
indicado sua realização de forma 
exacerbada, principalmente na fase 
inicial da gestação, mesmo não 
existindo nenhuma certeza sobre 
possíveis efeitos nocivos ao feto. 
 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: 
exame realizado por meio de 
vibrações transmitidas a átomos de 
hidrogênio; apesar de ser uma técnica 
sofisticada não identifica tão bem o 
feto até a 22ª semana de gestação; 
empregada para diagnóstico precoce 
de anomalias fetais. 
 Reação de Aschheim-Zondeck, 
identificando um hormônio 
hipofisário para o diagnóstico 
precoce da gravidez, por meio da 
injeção da urina de mulher com 
suspeita de gravidez em 
camundongas, e da posterior análise 
do útero e dos ovários do animal. Na 
variante de Friedmann-Tales 
Martins, o animal utilizado no teste é 
uma coelha adulta isolada do macho, 
sendo o teste positivo, neste caso, 
quando se constatam folículos 
hemorrágicos recém-rotos e corpos 
amarelos recentes nos ovários 
observados após 48 h depois da 
aplicação de 10 mL de urina. 
 Teste de Sola-Orellana-Gonzales: 
outra técnica baseada em injetar 15 
mL de urina de mulher com suspeita 
de gravidez no interior do peritônio 
de ratos, com a idade de 21 a 55 dias 
(30 a 100 g), analisando os ovários e 
as trompas em apenas 2h para o 
diagnóstico precoce de gravidez. 
 Reação de Fleischmann-Kann: teste 
biológico para o diagnóstico precoce 
de gravidez realizado em um peixe 
japonês (Archelognathus 
intermedium), injetando-se 4 mL de 
urina da suposta futura mamãe e 
avaliando os efeitos no comprimento 
do seu oviduto após 24h. 
 Reação de Galli Mainini: teste 
biológico realizado no sapo Bufo 
arenarum Hensel. 
 Reação de Mário Magliano: exame 
rápido (em torno de 3 min), 
consistindo na identificação do 
hormônio específico da gravidez 
(hormônio gonadotrofina coriônica 
humana – hCG) na urina, por meio do 
soro anti-hCG; teste realizado 
geralmente 12 dias após a ausência da 
menstruação, utilizando a primeira 
urina do dia pela maior concentração 
do hormônio. 
 Prova de Inibição da 
Hemaglutinação: reação de 
aglutinação através da sedimentação 
das hemácias, com o uso da 
gonadotrofina coriônica como 
antígeno. A presença do hCG 
bloqueia a ação do antissoro, 
impedindo a aglutinação. 
 Prova da Hemaglutinação Invertida: 
neste teste, as hemácias são 
adsorvidas com antissoro hCG, ao 
contrário do teste anterior, ocorrendo 
a aglutinação das hemácias pelo hCG 
presente na urina da grávida. 
 Dosagem de beta-hCG plasmática 
(RIA): teste de maior especificidade 
e sensibilidade, sendo realizado por 
amostra do sangue da mulher. 
Demonstra resultados positivos a 
partir de 4 a 6 dias após a nidação. 
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 Teste do hCG on step plus: detecta 
qualitativamente o hormônio hCG 
em amostras de soro ou de urina. 
 Para o diagnóstico do tempo de 
gravidez realiza-se a medida do 
fundo do útero (regra de MacDonald 
e a Tabela de Belizan), a análise dos 
movimentos fetais e batimentos 
cardíacos, radiografia e 
ultrassonografia. 
 Superfecundação: dois ou mais 
óvulos fecundados no mesmo ciclo 
em um só coito ou em diversos 
coitos, podendo ser com o mesmo 
homem ou com homens diferentes 
(gravidez dupla – 1/100; tripla – 
1/7.000; quádrupla – 1/700.000). 
 Superfetação: fecundação de dois ou 
mais óvulos de ciclos distintos. 
Ocorre uma segunda onda de 
recrutamento folicular, ou seja, tem 
início o crescimento de um novo 
óvulo e, por consequência, uma nova 
ovulação. 
 Gravidez ectópca: é um problema 
que surge quando o óvulo fecundado 
implanta-se de forma equivocada em 
outras estruturas que não o útero. Em 
98% dos casos de gravidez ectópica é 
a gravidez tubária, que ocorre dentro 
das trompas de Falópio. Nos 2% 
restantes, a implantação do ovo 
ocorre em outras estruturas, como 
ovário, colo do útero ou cavidade 
abdominal. 
 Gravidez anembrionária (“ovo 
cego”): gravidez rara, caracterizada 
pela presença apenas da placenta e 
sem o desenvolvimento do embrião 
(ausência dos anexos embrionários). 
não há causa específica aparente. 
Notado nas primeiras semanas de 
gestação; sintomas: cólicas pouco 
intensas, escape e sangramento leve. 
O aborto pode ser espontâneo ou 
induzido por medicamentos ou por 
um procedimento cirúrgico. 
 Gemeliparidade univitelina: gêmeos 
univitelinos, ou seja, formados da 
fragmentação de um único ovo, 
gerando indivíduos idênticos e 
monozigóticos. 
 
PARTO 
 Conjunto de fenômenos mecânicos e 
fisiológicos cuja a finalidade é a 
expulsão do feto e dos seus anexos. 
 O diagnóstico do parto é importante 
para a análise de diversos tipos 
penais, como no caso do aborto e do 
infanticídio. 
 O período de gestação normal de uma 
mulher: 9 meses. 
 Parto prematuro - quando o feto 
viável é expulso antes do seu 
completo desenvolvimento; ocorre 
no período situado entre mais de 22 
semanas e menos de 37 semanas pela 
Obstetrícia. 
 Parto empelicado - parto sem o 
rompimento da bolsa ou saco 
amniótico; situação rara na qual a 
bolsa não se rompe antes nem durante 
o trabalho de parto. 
 O perito em seu exame, deve analisar 
os elementos caracterizadores da 
ocorrência de parto, tanto em mulher 
viva como em morta, além de 
analisar a sua recentidade. 
 Parto Recente 
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 O exame pericial deve analisar as 
alterações dos genitaisexternos, a 
constatação das lesões internas e 
externas, a biopsia do endométrio e 
as alterações das mamas mais 
volumosas e com secreções lácteas 
(de 4 a 6 semanas pós-parto a meses 
ou anos), e da parede abdominal. 
 Constatação e análise das carúnculas 
mirtiformes. Os fluxos genitais são 
sanguinolentos (lóquios) inicialmen-
te, até em torno do 3º dia, tornando-
se seroros até por volta do 8º dia, 
chegando a atingir a quantidade de 
100 a 200 mL/dia, desaparecendo 
após este período (podem durar até o 
12º/15º dia). 
 O fundo do útero fica um dedo acima 
da cicatriz umbilical no 1º dia; na 
cicatriz umbilical no 2º dia; 2 dedos 
abaixo do 5º dia ao 6º dia; 3 dedos 
acima do púbis no 9º dia; e ao nível 
da sínfise púbica em torno do 12º dia. 
 Exame microscópico do útero e 
ovários por análise histológica para a 
comprovação de gravidez ou de parto 
pregresso. O útero está com maior 
volume e com coágulos fibrinosos 
nos dias iniciais. 
 Parto antigo 
 Reconhecimento por estigmas, como 
pela presença de estrias em diversas 
regiões anatômicas, flacidez 
abdominal, cicatrizes himenais, 
mudança da forma e cicatrizes do 
óstio externo do colo uterino, 
pigmentação das mamas com 
tonalidade mais escura. 
 Não há método seguro para se 
afirmar a quantidade de vezes que 
uma mulher pariu. 
 Leite e colostro: colostro é o primeiro 
leite que a mulher produz para 
amamentar o bebê durante os 
primeiros 2 a 4 dias depois do parto; 
possui macro e micronutrientes; de 
cor amarela, rico em carotenoides, 
sendo transformados em vitamina A, 
exercendo papel na imunidade e na 
saúde visual, atuando como 
antioxidante e ajudando na 
diminuição do risco de 
desenvolvimento de doenças 
crônicas. 
 
 
PUERPÉRIO 
 Também chamado de sobreparto ou 
pós-parto, compreende o período que 
vai do desprendimento da placenta 
até o regresso do organismo da mãe 
as suas condições anteriores à 
gravidez, com duração de 6 a 8 
semanas. 
 Diagnóstico do Puerpério A perícia 
para determinação do puerpério deve 
considerar os seguintes elementos 
caracterizadores, de acordo com 
França (2017): 
 Vagina: torna-se ampla, pálida e 
flácida após o parto. Retorno das 
rugas por volta de 4 semanas e do 
aspecto normal do epitélio vaginal 
em torno de 8 a 10 semanas. 
 Ovário e ovulação: a primeira 
ovulação ocorre geralmente em torno 
da 10ª semana. As mulheres lactantes 
menstruam normalmente após 30 a 
36 semanas após o parto; já as não 
lactantes menstruam em torno da 12 
semana. 
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 Útero e Colo: o útero diminui o seu 
volume e o colo apresenta aspecto 
frouxo, com presença de pequenos 
sangramentos e de lóquio, 
consistindo em corrimento contendo 
sangue, muco e descamação de 
tecidos do interior do útero. 
 - No pós-parto imediato (1 a 10 dias): 
o colo uterino apresenta-se flácido, com 
suas bordas distensíveis e com 12 cm de 
comprimento do rebordo do púbis ao fundo 
do útero. Cérvice reconstituída após 3 dias, 
com os lóquios vermelhos de 2 a 3 dias 
(lochia rubra), mais pálidos por volta do 5º 
dia (lochia serosa), e brancoamarelados a 
partir do 7º dia (lochia alba). 
- No pós-parto tardio (10 a 45 dias): fase de 
grande influência da lactação no processo 
fisiológico. O útero se encontra reduzindo o 
seu volume, já no interior da pélvis, e o colo 
se apresenta em forma de fundo transverso. 
O corrimento loquial serossanguinolento se 
torna seroso (lochia serosa ou lochia flava), 
indo até no máximo por volta de 4 semanas, 
adquirindo tonalidade branca (lochia alba). 
 - No pós-parto remoto (além de 45 
dias): varia de acordo com a lactação, sendo 
mais longo e impreciso, principalmente nas 
mulheres lactantes. A loquiação se 
apresenta lochia alba ou inexistente já neste 
período. 
 Mucosidade vaginal: constatação de 
epitélio vaginal pela presença do 
glicogênio, corado de castanho pela 
reação de Weigman. 
 Mecônio: corresponde às primeiras 
fezes do bebê, sendo uma massa 
compacta formada por todos os 
componentes dissolvidos e 
absorvidos pelo bebê no líquido 
amniótico; geralmente eliminado 
apenas depois do nascimento, quando 
o recém-nascido começa a se 
alimentar. 
 Quesitos, ditos oficiais, para tais 
situações 
 Exame de Gravidez – Propósito 
 É perícia criminal de natureza 
médico-legal especificamente 
realizada sobre mulher viva para 
diagnóstico de gravidez. 
1. A paciente está grávida? 
2. Qual é a idade gestacional? 
3. É possível estabelecer o período em 
que se deu a cópula que resultou na 
gravidez? 
 Parto Pregresso – Propósito 
 É perícia criminal de natureza 
médico-legal especificamente 
realizada sobre mulher viva para 
diagnóstico de parto recente. 
1. Houve parto? 
2. Qual a data provável desse parto? 
 Pós-Parto e Puerpério - Propósito 
 É perícia criminal de natureza 
médico-legal especificamente 
realizada sobre mulher viva para 
diagnóstico de estado de puérpera. 
1. Houve parto? 
2. Há sinais de que a examinada se 
encontre no puerpério? 
3. Qual a data provável desse parto? 
 
ABORTO 
 Tardieu, em sua clássica definição, 
conceituou o aborto como sendo “a 
expulsão prematura e violentamente 
provocada do produto da concepção, 
independentemente de todas as 
circunstâncias de idade, viabilidade e 
mesmo de formação regular”. 
 O aborto, configurado como crime 
contra a vida, consiste na morte 
dolosa da vida intrauterina (período 
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de gestação, anterior ao parto), com a 
cessação prematura da gravidez pela 
morte do concepto de forma 
intencional ou quando da sua 
expulsão violenta seguida de morte, 
sem distinção entre ovo, embrião ou 
feto na Medicina Legal e no Direito 
os crimes contra a vida. 
 O termo “abortamento” se refere ao 
ato da prática abortiva. 
 Do latim ‘ab-ortus’ - privação do 
nascimento. 
 Segundo a OMS abortamento é a 
interrupção da gestação antes da 20-
22 semanas ou com peso inferior a 
500 gramas. 
 Abortamento precoce: quando ocorre 
até a 12ª semana de gestação. 
 Abortamento tardio: quando se dá 
entre a 12ª e 20-22ª semanas. 
 Quando o tempo da gravidez é 
desconhecido deve-se considerar o 
peso ou ainda o limite de 16 cm de 
comprimento. 
 No Brasil realizar um aborto 
induzido é considerado um crime 
contra a vida, tal regimento é 
disciplinado entre os artigos 124 e 
128 do Código Penal desde o ano de 
1984. 
 A gestante pode ser punida com pena 
de detenção de um a três anos. A pena 
pode variar de três a dez anos para 
quem realizar o aborto sem o 
consentimento da mulher, e de um a 
quatro quando o processo é feito com 
a sua anuência. 
 Artigo 128 do CP permite a 
interrupção da gravidez em dois 
casos específicos: quando a gravidez 
é resultante de estupro ou para salvar 
a vida da mulher. 
 Há ainda uma terceira situação a 
qual, embora não esteja expressa no 
regulamento pois deriva de um 
entendimento do Supremo Tribunal 
Federal, é autorizada o aborto. Nesse 
sentido, de acordo com a Arguição de 
Descumprimento de Preceito 
Fundamental (ADPF) n° 54, é 
possível a interrupção terapêutica da 
gestação quando o feto for 
anencefálico. 
 Portanto, a gestante que se adeque em 
uma dessas três situações, é apoiada 
pelo governo e pode realizar o aborto 
legal gratuitamente pelo SUS 
 ABORTO TERAPÊUTICO Trata-se 
do aborto realizado pelo médico 
quando não há outra forma de salvar 
a vida da gestante, consistindo em um 
excludente de ilicitude pelo estado de 
necessidade. A vida do feto deve ser 
sacrificada para salvar a vida da mãe 
quando o caso atender aos seguintes 
critérios, de acordo com França 
(2017): “1 – a mãe apresenta perigo 
vital; 2 – este perigo esteja sob a 
dependência direta da gravidez; 3 – a 
interrupção da gravidez faça cessar 
esse perigo para a vida da mãe; 4 – 
esse procedimento seja o único meio 
capaz de salvar a vida da gestante; 5 
– sempreque possível, com a 
confirmação ou concordância de 
outros dois colegas”. 
 ABORTO SENTIMENTAL 
(PIEDOSO OU MORAL) Trata-se 
do aborto praticado pelos médicos 
nos casos de gravidez resultante de 
estupro, com o consentimento da 
mãe, uma vez que o filho seria fruto 
de um ato de conjunção carnal sem 
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consentimento da vítima. Nestes 
casos, os riscos para a vida e/ou saúde 
da gestante sempre devem ser 
levados em consideração para a 
prática abortiva. 
 ABORTO SOCIAL - Trata-se da 
interrupção de uma gravidez por 
questões de ordens econômicas ou 
sociais. Outro tipo de aborto que gera 
bastante polêmica e discussão e que 
se configura como crime pelo CP. 
 ABORTO EUGÊNICO - Tipo de 
aborto que gera maior polêmica e 
discussão, uma vez que se trata do 
desejo de abortar fetos defeituosos ou 
com possibilidades de o serem. Com 
exceção do caso de fetos anencéfalos, 
este tipo de aborto se configura em 
crime pela legislação brasileira, uma 
vez que a deficiência ou doença não 
autoriza ninguém a retirar o direito à 
vida de um ser humano. Segundo 
França (2017), atualmente se discute 
sobre a interrupção da gravidez por 
médicos até a 24ª semana de 
gestação, em casos de a futura 
criança ser portadora de “condições 
capazes de determinar alteração 
patológica incompatível com a 
plenitude de vida e sua integração na 
sociedade”, como em casos de 
algumas doenças, aberrações 
cromossômicas, graves alterações do 
sistema nervoso, dentre outras 
condições patológicas. 
 Além do aborto provocado – legal, há 
o aborto acidental, ou seja, aquele 
decorrente de um traumatismo 
acidental, por exemplo, 
atropelamento, queda de escada, 
acidente motociclístico. O aborto 
decorrente de acidente também não 
configura crime. 
 Qualquer outra prática diversa das 
duas previstas pelo Código Penal 
Brasileiro e de acidentes é 
considerado crime. 
 Portanto, o aborto eugênico, 
econômico, social ou estético são 
práticas criminosas. 
 Meios abortivos - Não há nenhuma 
substância especificamente abortiva, 
mas sim substâncias destinadas a 
finalidades diversas e que podem 
provocar o aborto devido a sua 
respectiva ação no organismo. 
 Os meios abortivos podem ser 
tóxicos (medicamentosos) e 
mecânicos, atuando das seguintes 
formas, de acordo com França 
(2017): 
a) intoxicação da gestante determinando a 
morte sem que se verifique o aborto; b) 
intoxicação da grávida seguindo-se o aborto 
e a morte da mulher; 
c) intoxicação sem determinação da morte 
do ovo e cura posterior da gestante; 
d) intoxicação da mulher grávida, com 
aborto, e cura da matriz. 
 As substâncias tóxicas podem 
apresentar origem vegetal ou 
mineral: 
 Substâncias tóxicas de origem 
vegetal: o apiol, a arruda, cabeça-de-
negro, centeio-espigado, jalapa, 
quinino, dentre outras. 
 Substâncias tóxicas de origem 
mineral: o arsênico, fósforo, 
antimônio, o bário, o chumbo e o 
mercúrio. 
 Meios mecânicos podem ser diretos e 
indiretos: 
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 Meios mecânicos diretos: aqueles 
utilizados diretamente na cavidade 
vaginal, como cópulas repetidas e 
tamponamentos; no colo do útero, 
como dilatadores mecânicos, 
esponjas e cauterização; e na 
cavidade uterina, como pela punção e 
pelo desprendimento das 
membranas, como o DIU (dispositivo 
intrauterino), método do curage 
(introdução de uma sonda para 
contrações na cavidade uterina ou 
pela aplicação de líquidos pelo 
método de Cohen) e a curetagem. 
 Meios mecânicos indiretos: aqueles 
de utilização extragenital, como pelo 
aborto provocado pelo uso de 
radiação (raios-X), excitações 
mamárias e traumatismos 
abdominais para o abortamento. 
 Aborto Espontâneo 
 É a morte embrionária ou fetal não 
induzida ou a eliminação dos 
produtos da concepção antes de 20 
semanas de gestação. 
 A ameaça de abortamento é a 
ocorrência de sangramento vaginal 
sem dilatação cervical nesse período 
de tempo e indicando possível 
abortamento espontâneo em uma 
mulher com gestação intrauterina 
viável confirmada. 
 O diagnóstico é efetuado por critérios 
clínicos e ultrassonografia. 
 O tratamento normalmente é 
observação expectante de ameaças de 
abortamento e, se o aborto 
espontâneo ocorreu ou parece 
inevitável, observação ou evacuação 
uterina. 
 Fatores de risco de aborto 
espontâneo: Idade > 35; História de 
aborto espontâneo. Tabagismo. Uso 
de certas drogas (p. ex., cocaína, 
álcool, altas doses de cafeína); 
Doença crônica mal controlada (p. 
ex., diabetes, hipertensão, distúrbios 
da tireoide evidentes) na mãe. 
 Finalidade da Perícia 
 No exame pericial, o perito médico-
legista deve analisar qual foi o meio 
causador do aborto, realizando 
exames tanto na mãe quanto nos 
restos fetais, com a finalidade de 
excluir as hipóteses de abortos 
espontâneos e acidentais e confirmar 
a prática do aborto intencional. 
 Comprovando-se a presença de 
gravidez atual ou recente, deve-se 
tentar estimar o tempo de gestação e 
em que época ocorreu o aborto. 
 Não havendo comprovação de 
gravidez não pode haver aborto e por 
conseguinte trata-se de crime 
impossível. 
 Deve diferenciar aborto espontâneo, 
traumático (acidental), provocado e 
decorrente de lesão corporal. 
 Na viva, o exame de aborto recente 
deverá ser conduzido na concepção 
de que o aborto é um ‘parto em 
miniatura’ e, por esse fato, deixa 
modificações genitais e extragenitais, 
idênticas a mulher que pariu. Os 
abortos provocados são realizados, 
em sua grande maioria, no início da 
gestação, não serão observados tais 
modificações. 
 O perito deverá examinar os seios, 
cloasma, linha nigra, hipertricose, 
etc. 
 O exame da genitália tem primordial 
valor no diagnóstico do aborto, 
devendo ser observados edemas nos 
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grandes e pequenos lábios; presença 
de lóquios; lesões do períneo; lesões 
do colo do útero. 
 Quanto mais antigo for o aborto, mais 
difícil será a perícia. 
 No caso de aborto provocado a 
perícia deverá verificar a presença de 
vestígios de trauma (lesões, secreção 
purulenta), buscando comprovar a 
prática abortiva e estabelecer o nexo 
causal entre a ação e o dano, 
identificando o meio causador do 
aborto, sempre que possível. 
 Os restos fetais e placentários devem 
ser encaminhados para exame 
necroscópico ou anátomopatológico. 
 A paciente / pericianda é um ser 
humano e deve ser dada especial 
atenção ao estado clínico geral, 
padrões hemodinâmicos, sinais de 
infecção, procedendo o exame com 
descrição completa. 
 O estado psicológico da 
paciente/pericianda também deve ser 
descrito, devido o risco de 
intoxicações. Sugere-se coleta de 
exame toxicológico, ou pelo menos, 
que se mantenha amostra disponível 
no caso de solicitação judicial. 
 Exames complementares devem ser 
realizados sempre que necessário. 
 Sugere-se a realização de radiografia 
do conteúdo expelido que pode 
comprovar a existência de partículas 
ósseas imperceptíveis a olho nu. 
 As lesões observadas no embrião 
devem ser relatadas em prontuário 
pelo médico assistente que 
posteriormente encaminhará o feto e 
anexos para o Instituo Médico Legal. 
 Havendo informações, descrever a 
data e as manobras realizadas e 
horário das expulsões. Do mesmo 
modo, se houver relato de ingestão de 
droga, procurar estabelecer o que, 
quando e quanto (dose). 
 As lesões podem ser associadas ao 
aborto provocado, havendo presença 
de escoriações, perfurações do útero 
e da vagina e das vísceras 
abdominais. As lesões poderão ser 
observadas também no próprio 
produto do aborto. 
 Na morta o estudo será orientado para 
os órgãos mais internos, analisando 
suas formas e dimensões. 
 Observar também a disposição do 
colo uterino; as lesões e secreções do 
leito uterino. 
 Observação do perimétrio (mais 
externa das três camadas que formam 
a parede do útero), que emcasos de 
aborto se apresenta de forma 
espessado e lacerado. 
 A cavidade uterina apresentará 
tumefação, coloração vermelho-
escura, consistência diminuída, 
presença de restos de vilosidades 
coriônicas e sinais de inserção 
placentária. 
 Exame histológico para a 
comprovação da gravidez. 
 Exame dos ovários a procura do 
corpo amarelo. 
 Quesitos na Perícia de Aborto 
 Aborto – Exame de corpo de delito: 
1. Há vestígio de provocação de aborto? 
2. Qual o meio empregado? 
3. Em consequência de aborto ou do 
meio empregado para provocá-lo a 
gestante sofreu incapacidade para as 
ocupações habituais por mais de 30 
dias, ou perigo de vida, ou debilidade 
permanente ou perda ou inutilização 
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de membro, sentido ou função, ou 
incapacidade permanente para o 
trabalho, ou enfermidade incurável, 
ou deformidade permanente? 
4. Havia outro meio de salvar a vida da 
gestante (quando o aborto é praticado 
por médico)? 
5. A gestante é alienada ou débil 
mental? 
 Quesitos na Perícia de Aborto 
 Aborto – Exame de corpo de delito: 
1. Há vestígio de provocação de aborto? 
2. Qual o meio empregado? 
3. Em consequência de aborto ou do 
meio empregado para provocá-lo a 
gestante sofreu incapacidade para as 
ocupações habituais por mais de 30 
dias, ou perigo de vida, ou debilidade 
permanente ou perda ou inutilização 
de membro, sentido ou função, ou 
incapacidade permanente para o 
trabalho, ou enfermidade incurável, 
ou deformidade permanente? 
4. Havia outro meio de salvar a vida da 
gestante (quando o aborto é praticado 
por médico)? 
5. A gestante é alienada ou débil 
mental? 
6. É fato que o Código de Ética Médica 
e o próprio código Penal protege a 
paciente quando impede o médico de 
divulgar fato que obtenha 
conhecimento no exercício de sua 
profissão. No entanto, o direito da 
paciente não dá direito ao médico de 
deixar de relatar, em prontuário, fatos 
absolutamente pertinentes e 
importantes para a avaliação e 
conclusão pericial. Deste modo, 
torna-se facultativo à autoridade 
policial ou judiciária a solicitação do 
prontuário, a quem poderá ser 
entregue cópia integral, em envelope 
lacrado, devendo ser compulsado 
apenas por médico devidamente 
habilitado, pela própria paciente ou 
por seu representante legal, em 
decorrência dos limites legais e do 
Código de Ética Médica. 
Assim, o médico assistente e o perito devem 
descrever o exame de forma mais minuciosa 
possível 
 
INFANTICIDIO 
 Infanticídio - morte provocada de 
uma criança, especialmente de um 
recém-nascido. 
 Âmbito jurídico-penal - expressão 
adquire sentido específico, 
consistindo no crime praticado pela 
genitora que, sob a influência do 
estado puerperal, mata o próprio 
filho, durante o parto ou logo após. 
 A conduta está tipificada no art. 123 
do Código Penal, inserido no 
Capítulo I (“Dos crimes contra a 
pessoa”) do Título I (“Dos Crimes 
contra a vida) da Parte Especial. 
 Como o legislador não delimitou 
cronologicamente o período de 
influência do estado puerperal, 
empregando conceitos vagos 
(“durante” ou “logo após” o parto), 
há controvérsia a respeito da duração 
desse distúrbio psíquico. Discute-se, 
ainda, como deve ser comprovada a 
sua influência sobre a genitora, 
notadamente porque o infanticídio, 
geralmente, é praticado na 
clandestinidade, sem a presença de 
testemunhas. 
 Existe a divergência envolvendo o 
concurso de agentes. Indaga-se: O 
terceiro que toma parte no crime (o 
11 
 
qual, evidentemente, não age sob a 
influência do estado puerperal), 
responde por infanticídio ou por 
homicídio? 
 No infanticídio a perícia constitui o 
maior dos desafios médico-legais, 
devido às inúmeras dificuldades em 
caracterizar o crime. 
 Perícia de suma importância, dado 
seu objetivo de analisar os elementos 
essenciais que tipificam o delito. 
 Elementos do Infanticídio: o exame 
pericial orientar-se-á pela busca dos 
elementos que demonstrarão sua 
materialidade. 
 Tal crime exigirá, para sua 
caracterização, provas dos elementos 
constituintes do delito, a saber: 
natimorto, feto nascente, recém-
nascido, vida extrauterina, além do 
diagnóstico da causa de morte e o 
exame da puérpera. 
 Natimorto - É o feto morto no 
período perinatal que inicia a partir 
da 22ª semana de gestação e com um 
peso maior que 500g. 
 Feto nascente - É aquele que acabou 
de nascer, mas não teve a capacidade 
de respirar. 
 Feticídio - crime nesse estágio, 
ocorrido através de aborto 
provocado. 
 Infante nascido - É aquele que acabou 
de nascer, respirou, mas não recebeu 
nenhum cuidado. Suas características 
são: 
a) Estado sanguinolento (não foi 
limpo); 
b) Induto sebáceo (coberto de Vernix 
caseoso); 
c) Tumor de parto ou bossa 
serossanguínea (desaparece em 24-
36h); 
d) Presença de cordão umbilical ligado 
à placenta (o seu corte descaracteriza 
o infanticídio); 
e) Presença de mecônio; 
f) Respiração autônoma. 
 Recém-nascido - Caracterizado pelos 
vestígios que provam que houve vida 
intrauterina. Este estágio vai desde os 
primeiros cuidados após o parto até o 
sétimo dia de nascimento. 
Lembrando que este é um conceito 
médico-legal. 
 Provas de vida extrauterina – Provas 
que oferecem ao perito condições de 
um diagnóstico de vida 
independente. São chamadas de 
Docimásias (do grego dokimos – eu 
provo), que são provas baseadas na 
possível respiração do recém-nascido 
ou nos seus efeitos sistêmicos. 
 Causa jurídica de morte - A morte 
natural e a morte de causa acidental 
afasta a hipótese de infanticídio. 
A causa mortis criminosa é um dos 
elementos constituintes do delito. 
 Exame da puérpera – O perito 
realizará a avaliação do estado geral 
da paciente, o aspecto dos órgãos 
genitais externos, a presença de 
corrimento genital, o exame dos 
órgãos genitais internos pelo toque, a 
involução uterina, o aspecto das 
mamas, a presença de colostro ou 
leite, a parede abdominal com estrias 
e a pigmentação clássica (presença da 
linha nigra). 
 Realizará também exames 
laboratoriais para comprovar lóquios, 
12 
 
induto sebáceo, colostro, leite e 
mecônio. 
 Perícia do Estado Puerperal 
 O estado puerperal é considerado 
uma alteração temporária na mulher 
previamente sã, com colapso do 
senso moral e diminuição da 
capacidade de entendimento, seguida 
de liberação de instintos, culminando 
com agressão ao próprio filho. 
 A legislação vigente adotou como 
atenuante no crime de infanticídio o 
conceito biopsíquico do “estado 
puerperal”, como configurado na 
exposição de motivos do Código 
Penal, que justifica o infanticídio 
como delictum exceptum, praticado 
pela puérpera sob influência de tal 
estado. 
 A adoção do critério biopsíquico não 
é consenso, tendo resistência dentro 
da Medicina Legal, pois não existe 
elemento biopsíquico capaz de 
fornecer provas consistentes e 
seguras para afirmar que uma mulher 
matou seu próprio filho, durante ou 
logo após o parto, motivada por uma 
alteração chamada de “Estado 
Puerperal”, não existindo como 
patologia nos tratados médicos 
atuais. 
 Sujeitos Ativo e Passivo 
 O sujeito ativo do crime é a 
parturiente. Cuida-se, portanto, de 
crime próprio, exigindo uma 
condição especial do sujeito ativo. 
 O sujeito passivo é o nascente 
(durante o parto) ou neonato (recém-
nascido). Como se requer condição 
especial também do sujeito passivo, 
parte da doutrina classifica o delito 
como crime bi-próprio. 
 No caso de erro quanto à pessoa, 
aplicam-se as regras do art. 20, § 3º, 
do Código Penal (“O erro quanto à 
pessoa contra a qual o crime é 
praticado não isenta de pena. Não se 
consideram, neste caso, as condições 
ou qualidades da vítima, senão as da 
pessoa contra quem o agente queria 
praticar o crime”). Logo, se cometido 
o crime contra outra criança, 
acreditando ser opróprio filho, a 
autora responderá por infanticídio. 
Isso porque devem-se levar em 
consideração as condições ou 
qualidades da vítima contra quem se 
pretendia praticar o crime (vítima 
virtual), e não as daquela 
efetivamente atingida (vítima real). 
Essa hipótese, por vezes, é 
denominada infanticídio putativo. 
 A conduta de matar o próprio filho, 
fora das hipóteses do art. 123 (ex.: 
ausente a influência do estado 
puerperal ou o elemento temporal), 
configura o crime de homicídio (art. 
121). 
 Tem-se o delito de aborto (art. 124 e 
seguintes), e não infanticídio, se a 
agressão contra o feto for cometida 
antes do parto. 
 Verifica-se o crime de exposição ou 
abandono de recém-nascido (art. 
134) se a agente expõe ou abandona 
a vítima com a finalidade específica 
de ocultar desonra própria, não se 
exigindo que tal fato tenha ocorrido 
logo após o parto e a conduta, nem a 
influência do estado puerperal. 
 Se o abandono decorre da influência 
do estado puerperal, sendo praticado 
logo após o parto, haverá apenas o 
tipo do art. 123, sendo o abandono 
13 
 
nada mais que um meio para a sua 
prática. 
 Por fim, se a genitora, após a prática 
do infanticídio, destruir, subtrair ou 
ocultar o cadáver do nascente ou 
neonato, responderá pelo crime de 
infanticídio em concurso material 
com o tipo penal do art. 211. 
 Quesitos na Perícia de Infanticídio 
 Infanticídio – A diferenciação entre o 
óbito antes, durante ou depois do 
parto contribui para o diagnóstico 
diferencial do tipo penal, exigindo 
quesitos próprios: 
1. Houve morte? 
2. A morte ocorreu durante ou logo após 
o parto? 
3. Qual a causa da morte? 
4. Qual o instrumento ou meio que 
produziu a morte? 
5. A morte foi produzida por meio de 
veneno, fogo, explosivo, asfixia ou 
tortura, ou por outro meio insidioso 
ou cruel? 
 
DOCIMÁSIAS 
 A vida extrauterina apresenta 
profundas modificações capazes de 
oferecer ao Perito condições de 
diagnóstico de vida independente. 
 Tais modificações são causadas 
principalmente pela respiração 
autônoma do infante nascido (aquele 
que acabou de nascer, respirou, mas 
não recebeu nenhum cuidado 
especial) e do recém-nascido. 
 O diagnóstico de vida extrauterina é 
feito através da comprovação da 
respiração pelas docimásias e pelas 
provas ocasionais. 
 As Docimásias (do grego dokimos – 
eu provo), são provas baseadas na 
possível respiração do recém-
nascido ou nos seus efeitos 
sistêmicos. 
 Docimásias Pulmonares: 
I. Docimásia Diafragmática de Ploquet 
- quando aberta a cavidade 
toracoabdominal, observa-se o 
músculo diafragma horizontal, 
quando houve respiração; ao passo 
que este pode apresentar 
convexidade exagerada das 
hemicúpulas quando a respiração não 
ocorreu, essa convexidade é devido à 
pressão exercida pelas vísceras 
abdominais. 
II. Docimásia Óptica ou Visual de 
Bouchut - consiste na observação da 
superfície do pulmão que, de um 
aspecto parenquimatoso, quando não 
há respiração, assume um aspecto de 
mosaico, em face de ocorrerem 
mudanças circulatórias que 
circunscrevem os lóbulos 
pulmonares. 
III. Docimásia Táctil de Nerio Rojas - 
quando da palpação interdigital, o 
parênquima pulmonar dá a sensação 
de fofura e crepitação, caso tenha 
havido respiração. 
IV. Docimásia Radiológica de Bordas - 
trata da opacidade dos pulmões que 
não foram insulflados de ar, os 
diafragmas não são vistos, nem a 
silhueta cárdio-aórtica. 
V. Docimásias Hidrostáticas de Icard - 
realizada para complementar a prova 
de Galeno (dúvida ou só a 4ª fase deu 
positiva), pois necessita de 
quantidade mínima de ar nos 
fragmentos de pulmão. 
VI. Docimásia Histológica de Balthazard 
- esta é a prova mais perfeita, pois 
14 
 
pode ser usada mesmo em pulmões 
putrefeitos. Consistem no estudo 
microscópico do tecido pulmonar 
através da técnica histológica 
comum. 
VII. Docimásia Óptica de Icard - esta 
prova se realiza por meio de 
pequenos cortes de fragmento de 
pulmão, de dimensão reduzida, 
esmagado entre duas lâminas de 
modo a transformá-lo num esfregaço. 
Nos casos em que houve respiração, 
nota-se inúmeras bolhas de ar no 
esfregaço. Prova sem valor para 
pulmões putrefeitos (gases simulam 
resultado falso-positivo). 
VIII. Docimásia Química de Icard - 
consiste em colocar um fragmento de 
pulmão da parte central de um lobo, 
que foi previamente lavado em álcool 
puro, em uma solução alcoólica de 
potassa cáustica a 30%. Inicialmente, 
o fragmento fica preso ao fundo do 
frasco, porém, se houve respiração, 
deverão se desprender bolhas de ar 
originadas do parênquima destruído 
pelo líquido. Se o pulmão estiver 
putrefeito, a dissolução da víscera 
será rápida e as bolhas grandes, 
decorrentes do enfisema putrefativo. 
IX. Docimásia Epimicroscópica 
Pneumo-Arquitetônica de Hilário 
Veiga De Carvalho - fundamenta-se 
no estudo da superfície externa do 
pulmão por meio do ultra-opak. Para 
isto, o pulmão deve ser lavado em 
formalina, depositado em uma placa 
de Petri, cortado em fragmentos, 
unido a uma gota de glicerina e 
visualizado com a lente objetiva de 
imersão. Quando houve respiração, 
as cavidades cheias de ar mostram-se 
arredondadas com refringência 
contrastada em fundo negro. O 
pulmão que não respirou, mostra 
apenas um fundo negro uniforme e 
sem imagens. No pulmão putrefeito, 
as bolhas são grandes, disformes e de 
distribuição irregular. 
 Docimásias Extrapulmonares- 
Respiratórias 
I. Docimásia Gastrintestinal De 
Breslau - se baseia na existência de ar 
no tubo digestivo, ingressado por 
deglutição toda vez que o feto tenha 
respirado. Nos casos em que durante 
as manobras de ressuscitação houve 
insuflação de ar no estômago do feto, 
apenas este órgão flutuará, enquanto 
que o resto do tubo digestivo 
afundará na água. 
II. Docimásia Auricular De Vreden, 
Wendt e Gelé - baseaia-se na 
ocorrência de ar na cavidade do 
ouvido médio que lá ingressara 
através da tuba timpânica (trompa de 
Eustáquio) desde que o recém-
nascido tenha respirado. Consiste na 
punção da membrana timpânica, com 
a cabeça do feto mergulhada na água, 
caso o mesmo tivesse respirado, 
surgirá uma bolha de ar que sobe até 
a superfície do recipiente. 
III. Docimásia Hematopneumo-Hepática 
de Severi - consiste em determinar as 
taxas de oxiemoglobina do sangue 
existente no pulmão e no fígado. Se 
essas taxas forem idênticas, significa 
que não houve hematose, logo, não 
houve respiração; pois se houvesse 
respiração, a taxa de oxiemoglobina 
no sangue pulmonar deveria ser 
obrigatoriamente mais elevada. 
15 
 
IV. Docimásia Plêurica de Placzek - 
baseia-se no fato fisiológico de que 
quando houve respiração, deve 
haver, portanto, uma pressão 
negativa na cavidade pleural. 
V. Docimásia Traqueal De Martin - liga-
se a traquéia na parte superior e 
coloca-se um manômetro bem 
sensível por corte transversal. Em 
seguida, faz-se pressão nos pulmões, 
e, caso haja ar em seu interior devido 
à respiração, o líquido do manômetro 
irá oscilar. Porém, esta prova não tem 
valor em pulmões putrefeitos. 
VI. Docimásia Hematopulmonar De 
Zalesk - procura estabelecer se houve 
ou não respiração pelo estudo do 
conteúdo hemático dos pulmões. 
VII. Docimásia Ponderal De Pulcquet - 
baseia-se na diferença de peso 
relativo dos pulmões e do corpo do 
infante que respirou ou não. 
VIII. Docimásia Do Volume D'Água 
Deslocado De Bernt - o diagnóstico 
da respiração, neste caso, é dado pelo 
grau de deslocamento do líquido 
quando neste estão imersos o pulmão 
e o coração. 
 Docimásias Extrapulmonares – Não-
Respiratórias 
I. Docimásia Siálica De Souza-Dinitz -
consiste na pesquisa de saliva no 
estômago do feto. A reação positiva é 
um indicativo de que existiu vida 
extra-uterina. 
II. Docimásia Alimentar De Beoth - 
consiste na pesquisa de leite ou 
outrosalimentos no estômago do 
feto; referidos elementos não existem 
no natimorto. Porém, neste caso, é 
importante não confundir estes restos 
de alimentos com o induto sebáceo 
que pode Ter sido deglutido pelo feto 
antes de nascer. 
III. Docimásia Do Nervo Óptico De 
Mirto - fundamenta-se no estado de 
mielinização do nervo óptico, a qual 
se inicia logo após o nascimento. 
Tem muito mais valor como 
determinante do tempo de 
sobrevivência do recém-nascido. 
Este fenômeno se inicia 12 horas 
após o nascimento e se completa 
dentro de 4 dias aproximadamente. 
IV. Docimásia Bacteriana De Malvoz - 
os fenômenos putrefativos, no feto 
natimorto, começam pelos orifícios 
da boca, nariz e ânus. Nos casos em 
que o feto teve vida extra-uterina, a 
putrefação se inicia pelo tubo 
digestivo e pelo sistema respiratório. 
Procura-se também pela presença de 
bactérias Bacterium colli como 
evidência de que houve respiração, 
porém, sua presença é um tanto 
contraditória, pois fala a favor da 
deglutição de alimentos do que 
propriamente à respiração. 
V. Docimásia Úrica De Budin-Ziegler - 
esta docimásia será positiva se forem 
encontrados uratos nos condutos 
renais, como marca da respiração do 
recém-nascido. Esses sedimentos se 
apresentam sob a forma de estrias 
amareladas dispostas radialmente na 
zona medular. Esta docimásia é 
baseada no conceito de que a 
presença de sedimentos de ácido 
úrico é muito comum naqueles que 
sobreviveram por um ou dois dias 
(Virchow).

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