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1 GRAVIDEZ Estágio fisiológico da mulher quando ela carrega em seu interior o produto da concepção. Duração variada, em média de 9 meses, normalmente. Pericialmente, o diagnóstico da gravidez é importante nos mais variados casos, baseando-se em exames objetivos e subsidiários. Situações mais relevantes no diagnóstico da gestação: investigação da paternidade; simulação e dissimulação da gravidez; verificação da gravidez nos casos de infanticídio; prova de violência carnal; atestados de pejamento para fins administrativos e trabalhistas. Exame objetivo baseia-se nos Sinais de Presunção, de Probabilidade e de Certeza. Sinais de Presunção: perturbações digestivas, máscara gravídica, lanugem, pigmentação da linha alba, congestão das mamas, hipertricose e estrias abdominais. Sinais de probabilidade: amenor- reia, cianose na vulva (sinal de Kluger), cianose da vagina (sinal de Jaquemier), pulsação vaginal (sinal de Oseander), redução das dimensões do colo uterino e dos fundos de saco vaginais, rechaço vaginal (sinal de Puzos), flexibilidade do istmo uterino (sinal de MacDonal), hipertrofia do útero (sinal de Noble), alteração da forma uterina ( sinal de Piskacek), depressibilidade do istmo (1º sinal de Reil-Hegar), modificação das glândulas mamárias – aumento de volume/ rede venosa superficial (sinal de Haller)/ decréscimo dos mamilos/aumento de pigmentação das aréolas/ secreção/presença de estrias e vergões, aumento do volume uterino. Sinais de Certeza: movimentos do feto (perceptíveis a partir da 18ª semana de gestação), batimentos do coração fetal (em torno de 20 a 21 semanas), sopro uterino, rechaço uterino (sinal de Puzos - em torno da 16ª e a 18ª semanas), palpação de segmentos fetais (a partir de dezoito semanas da gravidez) , estudo radiológico do esqueleto fetal, ultrassonografia, laparoscopia e testes biológicos da gravidez. Em caso de morte, o exame pericial consiste na realização de exame histopatológico do ovário, do útero e da hipófise. LAPAROSCOPIA: procedimento cirúrgico pouco invasivo, utilizado principalmente em casos de suspeita de gravidez tubária não rota, em gravidez ectópica. RADIOGRAFIA: exame possível a partir da 7ª semana de gravidez pelo surgimento dos primeiros pontos de ossificação na clavícula; uso contraindicado pois pode provocar malformações e até o abortamento. 2 ULTRASSONOGRAFIA: metodologia inócua e não invasiva também por meio de imagens; não indicado sua realização de forma exacerbada, principalmente na fase inicial da gestação, mesmo não existindo nenhuma certeza sobre possíveis efeitos nocivos ao feto. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: exame realizado por meio de vibrações transmitidas a átomos de hidrogênio; apesar de ser uma técnica sofisticada não identifica tão bem o feto até a 22ª semana de gestação; empregada para diagnóstico precoce de anomalias fetais. Reação de Aschheim-Zondeck, identificando um hormônio hipofisário para o diagnóstico precoce da gravidez, por meio da injeção da urina de mulher com suspeita de gravidez em camundongas, e da posterior análise do útero e dos ovários do animal. Na variante de Friedmann-Tales Martins, o animal utilizado no teste é uma coelha adulta isolada do macho, sendo o teste positivo, neste caso, quando se constatam folículos hemorrágicos recém-rotos e corpos amarelos recentes nos ovários observados após 48 h depois da aplicação de 10 mL de urina. Teste de Sola-Orellana-Gonzales: outra técnica baseada em injetar 15 mL de urina de mulher com suspeita de gravidez no interior do peritônio de ratos, com a idade de 21 a 55 dias (30 a 100 g), analisando os ovários e as trompas em apenas 2h para o diagnóstico precoce de gravidez. Reação de Fleischmann-Kann: teste biológico para o diagnóstico precoce de gravidez realizado em um peixe japonês (Archelognathus intermedium), injetando-se 4 mL de urina da suposta futura mamãe e avaliando os efeitos no comprimento do seu oviduto após 24h. Reação de Galli Mainini: teste biológico realizado no sapo Bufo arenarum Hensel. Reação de Mário Magliano: exame rápido (em torno de 3 min), consistindo na identificação do hormônio específico da gravidez (hormônio gonadotrofina coriônica humana – hCG) na urina, por meio do soro anti-hCG; teste realizado geralmente 12 dias após a ausência da menstruação, utilizando a primeira urina do dia pela maior concentração do hormônio. Prova de Inibição da Hemaglutinação: reação de aglutinação através da sedimentação das hemácias, com o uso da gonadotrofina coriônica como antígeno. A presença do hCG bloqueia a ação do antissoro, impedindo a aglutinação. Prova da Hemaglutinação Invertida: neste teste, as hemácias são adsorvidas com antissoro hCG, ao contrário do teste anterior, ocorrendo a aglutinação das hemácias pelo hCG presente na urina da grávida. Dosagem de beta-hCG plasmática (RIA): teste de maior especificidade e sensibilidade, sendo realizado por amostra do sangue da mulher. Demonstra resultados positivos a partir de 4 a 6 dias após a nidação. 3 Teste do hCG on step plus: detecta qualitativamente o hormônio hCG em amostras de soro ou de urina. Para o diagnóstico do tempo de gravidez realiza-se a medida do fundo do útero (regra de MacDonald e a Tabela de Belizan), a análise dos movimentos fetais e batimentos cardíacos, radiografia e ultrassonografia. Superfecundação: dois ou mais óvulos fecundados no mesmo ciclo em um só coito ou em diversos coitos, podendo ser com o mesmo homem ou com homens diferentes (gravidez dupla – 1/100; tripla – 1/7.000; quádrupla – 1/700.000). Superfetação: fecundação de dois ou mais óvulos de ciclos distintos. Ocorre uma segunda onda de recrutamento folicular, ou seja, tem início o crescimento de um novo óvulo e, por consequência, uma nova ovulação. Gravidez ectópca: é um problema que surge quando o óvulo fecundado implanta-se de forma equivocada em outras estruturas que não o útero. Em 98% dos casos de gravidez ectópica é a gravidez tubária, que ocorre dentro das trompas de Falópio. Nos 2% restantes, a implantação do ovo ocorre em outras estruturas, como ovário, colo do útero ou cavidade abdominal. Gravidez anembrionária (“ovo cego”): gravidez rara, caracterizada pela presença apenas da placenta e sem o desenvolvimento do embrião (ausência dos anexos embrionários). não há causa específica aparente. Notado nas primeiras semanas de gestação; sintomas: cólicas pouco intensas, escape e sangramento leve. O aborto pode ser espontâneo ou induzido por medicamentos ou por um procedimento cirúrgico. Gemeliparidade univitelina: gêmeos univitelinos, ou seja, formados da fragmentação de um único ovo, gerando indivíduos idênticos e monozigóticos. PARTO Conjunto de fenômenos mecânicos e fisiológicos cuja a finalidade é a expulsão do feto e dos seus anexos. O diagnóstico do parto é importante para a análise de diversos tipos penais, como no caso do aborto e do infanticídio. O período de gestação normal de uma mulher: 9 meses. Parto prematuro - quando o feto viável é expulso antes do seu completo desenvolvimento; ocorre no período situado entre mais de 22 semanas e menos de 37 semanas pela Obstetrícia. Parto empelicado - parto sem o rompimento da bolsa ou saco amniótico; situação rara na qual a bolsa não se rompe antes nem durante o trabalho de parto. O perito em seu exame, deve analisar os elementos caracterizadores da ocorrência de parto, tanto em mulher viva como em morta, além de analisar a sua recentidade. Parto Recente 4 O exame pericial deve analisar as alterações dos genitaisexternos, a constatação das lesões internas e externas, a biopsia do endométrio e as alterações das mamas mais volumosas e com secreções lácteas (de 4 a 6 semanas pós-parto a meses ou anos), e da parede abdominal. Constatação e análise das carúnculas mirtiformes. Os fluxos genitais são sanguinolentos (lóquios) inicialmen- te, até em torno do 3º dia, tornando- se seroros até por volta do 8º dia, chegando a atingir a quantidade de 100 a 200 mL/dia, desaparecendo após este período (podem durar até o 12º/15º dia). O fundo do útero fica um dedo acima da cicatriz umbilical no 1º dia; na cicatriz umbilical no 2º dia; 2 dedos abaixo do 5º dia ao 6º dia; 3 dedos acima do púbis no 9º dia; e ao nível da sínfise púbica em torno do 12º dia. Exame microscópico do útero e ovários por análise histológica para a comprovação de gravidez ou de parto pregresso. O útero está com maior volume e com coágulos fibrinosos nos dias iniciais. Parto antigo Reconhecimento por estigmas, como pela presença de estrias em diversas regiões anatômicas, flacidez abdominal, cicatrizes himenais, mudança da forma e cicatrizes do óstio externo do colo uterino, pigmentação das mamas com tonalidade mais escura. Não há método seguro para se afirmar a quantidade de vezes que uma mulher pariu. Leite e colostro: colostro é o primeiro leite que a mulher produz para amamentar o bebê durante os primeiros 2 a 4 dias depois do parto; possui macro e micronutrientes; de cor amarela, rico em carotenoides, sendo transformados em vitamina A, exercendo papel na imunidade e na saúde visual, atuando como antioxidante e ajudando na diminuição do risco de desenvolvimento de doenças crônicas. PUERPÉRIO Também chamado de sobreparto ou pós-parto, compreende o período que vai do desprendimento da placenta até o regresso do organismo da mãe as suas condições anteriores à gravidez, com duração de 6 a 8 semanas. Diagnóstico do Puerpério A perícia para determinação do puerpério deve considerar os seguintes elementos caracterizadores, de acordo com França (2017): Vagina: torna-se ampla, pálida e flácida após o parto. Retorno das rugas por volta de 4 semanas e do aspecto normal do epitélio vaginal em torno de 8 a 10 semanas. Ovário e ovulação: a primeira ovulação ocorre geralmente em torno da 10ª semana. As mulheres lactantes menstruam normalmente após 30 a 36 semanas após o parto; já as não lactantes menstruam em torno da 12 semana. 5 Útero e Colo: o útero diminui o seu volume e o colo apresenta aspecto frouxo, com presença de pequenos sangramentos e de lóquio, consistindo em corrimento contendo sangue, muco e descamação de tecidos do interior do útero. - No pós-parto imediato (1 a 10 dias): o colo uterino apresenta-se flácido, com suas bordas distensíveis e com 12 cm de comprimento do rebordo do púbis ao fundo do útero. Cérvice reconstituída após 3 dias, com os lóquios vermelhos de 2 a 3 dias (lochia rubra), mais pálidos por volta do 5º dia (lochia serosa), e brancoamarelados a partir do 7º dia (lochia alba). - No pós-parto tardio (10 a 45 dias): fase de grande influência da lactação no processo fisiológico. O útero se encontra reduzindo o seu volume, já no interior da pélvis, e o colo se apresenta em forma de fundo transverso. O corrimento loquial serossanguinolento se torna seroso (lochia serosa ou lochia flava), indo até no máximo por volta de 4 semanas, adquirindo tonalidade branca (lochia alba). - No pós-parto remoto (além de 45 dias): varia de acordo com a lactação, sendo mais longo e impreciso, principalmente nas mulheres lactantes. A loquiação se apresenta lochia alba ou inexistente já neste período. Mucosidade vaginal: constatação de epitélio vaginal pela presença do glicogênio, corado de castanho pela reação de Weigman. Mecônio: corresponde às primeiras fezes do bebê, sendo uma massa compacta formada por todos os componentes dissolvidos e absorvidos pelo bebê no líquido amniótico; geralmente eliminado apenas depois do nascimento, quando o recém-nascido começa a se alimentar. Quesitos, ditos oficiais, para tais situações Exame de Gravidez – Propósito É perícia criminal de natureza médico-legal especificamente realizada sobre mulher viva para diagnóstico de gravidez. 1. A paciente está grávida? 2. Qual é a idade gestacional? 3. É possível estabelecer o período em que se deu a cópula que resultou na gravidez? Parto Pregresso – Propósito É perícia criminal de natureza médico-legal especificamente realizada sobre mulher viva para diagnóstico de parto recente. 1. Houve parto? 2. Qual a data provável desse parto? Pós-Parto e Puerpério - Propósito É perícia criminal de natureza médico-legal especificamente realizada sobre mulher viva para diagnóstico de estado de puérpera. 1. Houve parto? 2. Há sinais de que a examinada se encontre no puerpério? 3. Qual a data provável desse parto? ABORTO Tardieu, em sua clássica definição, conceituou o aborto como sendo “a expulsão prematura e violentamente provocada do produto da concepção, independentemente de todas as circunstâncias de idade, viabilidade e mesmo de formação regular”. O aborto, configurado como crime contra a vida, consiste na morte dolosa da vida intrauterina (período 6 de gestação, anterior ao parto), com a cessação prematura da gravidez pela morte do concepto de forma intencional ou quando da sua expulsão violenta seguida de morte, sem distinção entre ovo, embrião ou feto na Medicina Legal e no Direito os crimes contra a vida. O termo “abortamento” se refere ao ato da prática abortiva. Do latim ‘ab-ortus’ - privação do nascimento. Segundo a OMS abortamento é a interrupção da gestação antes da 20- 22 semanas ou com peso inferior a 500 gramas. Abortamento precoce: quando ocorre até a 12ª semana de gestação. Abortamento tardio: quando se dá entre a 12ª e 20-22ª semanas. Quando o tempo da gravidez é desconhecido deve-se considerar o peso ou ainda o limite de 16 cm de comprimento. No Brasil realizar um aborto induzido é considerado um crime contra a vida, tal regimento é disciplinado entre os artigos 124 e 128 do Código Penal desde o ano de 1984. A gestante pode ser punida com pena de detenção de um a três anos. A pena pode variar de três a dez anos para quem realizar o aborto sem o consentimento da mulher, e de um a quatro quando o processo é feito com a sua anuência. Artigo 128 do CP permite a interrupção da gravidez em dois casos específicos: quando a gravidez é resultante de estupro ou para salvar a vida da mulher. Há ainda uma terceira situação a qual, embora não esteja expressa no regulamento pois deriva de um entendimento do Supremo Tribunal Federal, é autorizada o aborto. Nesse sentido, de acordo com a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n° 54, é possível a interrupção terapêutica da gestação quando o feto for anencefálico. Portanto, a gestante que se adeque em uma dessas três situações, é apoiada pelo governo e pode realizar o aborto legal gratuitamente pelo SUS ABORTO TERAPÊUTICO Trata-se do aborto realizado pelo médico quando não há outra forma de salvar a vida da gestante, consistindo em um excludente de ilicitude pelo estado de necessidade. A vida do feto deve ser sacrificada para salvar a vida da mãe quando o caso atender aos seguintes critérios, de acordo com França (2017): “1 – a mãe apresenta perigo vital; 2 – este perigo esteja sob a dependência direta da gravidez; 3 – a interrupção da gravidez faça cessar esse perigo para a vida da mãe; 4 – esse procedimento seja o único meio capaz de salvar a vida da gestante; 5 – sempreque possível, com a confirmação ou concordância de outros dois colegas”. ABORTO SENTIMENTAL (PIEDOSO OU MORAL) Trata-se do aborto praticado pelos médicos nos casos de gravidez resultante de estupro, com o consentimento da mãe, uma vez que o filho seria fruto de um ato de conjunção carnal sem 7 consentimento da vítima. Nestes casos, os riscos para a vida e/ou saúde da gestante sempre devem ser levados em consideração para a prática abortiva. ABORTO SOCIAL - Trata-se da interrupção de uma gravidez por questões de ordens econômicas ou sociais. Outro tipo de aborto que gera bastante polêmica e discussão e que se configura como crime pelo CP. ABORTO EUGÊNICO - Tipo de aborto que gera maior polêmica e discussão, uma vez que se trata do desejo de abortar fetos defeituosos ou com possibilidades de o serem. Com exceção do caso de fetos anencéfalos, este tipo de aborto se configura em crime pela legislação brasileira, uma vez que a deficiência ou doença não autoriza ninguém a retirar o direito à vida de um ser humano. Segundo França (2017), atualmente se discute sobre a interrupção da gravidez por médicos até a 24ª semana de gestação, em casos de a futura criança ser portadora de “condições capazes de determinar alteração patológica incompatível com a plenitude de vida e sua integração na sociedade”, como em casos de algumas doenças, aberrações cromossômicas, graves alterações do sistema nervoso, dentre outras condições patológicas. Além do aborto provocado – legal, há o aborto acidental, ou seja, aquele decorrente de um traumatismo acidental, por exemplo, atropelamento, queda de escada, acidente motociclístico. O aborto decorrente de acidente também não configura crime. Qualquer outra prática diversa das duas previstas pelo Código Penal Brasileiro e de acidentes é considerado crime. Portanto, o aborto eugênico, econômico, social ou estético são práticas criminosas. Meios abortivos - Não há nenhuma substância especificamente abortiva, mas sim substâncias destinadas a finalidades diversas e que podem provocar o aborto devido a sua respectiva ação no organismo. Os meios abortivos podem ser tóxicos (medicamentosos) e mecânicos, atuando das seguintes formas, de acordo com França (2017): a) intoxicação da gestante determinando a morte sem que se verifique o aborto; b) intoxicação da grávida seguindo-se o aborto e a morte da mulher; c) intoxicação sem determinação da morte do ovo e cura posterior da gestante; d) intoxicação da mulher grávida, com aborto, e cura da matriz. As substâncias tóxicas podem apresentar origem vegetal ou mineral: Substâncias tóxicas de origem vegetal: o apiol, a arruda, cabeça-de- negro, centeio-espigado, jalapa, quinino, dentre outras. Substâncias tóxicas de origem mineral: o arsênico, fósforo, antimônio, o bário, o chumbo e o mercúrio. Meios mecânicos podem ser diretos e indiretos: 8 Meios mecânicos diretos: aqueles utilizados diretamente na cavidade vaginal, como cópulas repetidas e tamponamentos; no colo do útero, como dilatadores mecânicos, esponjas e cauterização; e na cavidade uterina, como pela punção e pelo desprendimento das membranas, como o DIU (dispositivo intrauterino), método do curage (introdução de uma sonda para contrações na cavidade uterina ou pela aplicação de líquidos pelo método de Cohen) e a curetagem. Meios mecânicos indiretos: aqueles de utilização extragenital, como pelo aborto provocado pelo uso de radiação (raios-X), excitações mamárias e traumatismos abdominais para o abortamento. Aborto Espontâneo É a morte embrionária ou fetal não induzida ou a eliminação dos produtos da concepção antes de 20 semanas de gestação. A ameaça de abortamento é a ocorrência de sangramento vaginal sem dilatação cervical nesse período de tempo e indicando possível abortamento espontâneo em uma mulher com gestação intrauterina viável confirmada. O diagnóstico é efetuado por critérios clínicos e ultrassonografia. O tratamento normalmente é observação expectante de ameaças de abortamento e, se o aborto espontâneo ocorreu ou parece inevitável, observação ou evacuação uterina. Fatores de risco de aborto espontâneo: Idade > 35; História de aborto espontâneo. Tabagismo. Uso de certas drogas (p. ex., cocaína, álcool, altas doses de cafeína); Doença crônica mal controlada (p. ex., diabetes, hipertensão, distúrbios da tireoide evidentes) na mãe. Finalidade da Perícia No exame pericial, o perito médico- legista deve analisar qual foi o meio causador do aborto, realizando exames tanto na mãe quanto nos restos fetais, com a finalidade de excluir as hipóteses de abortos espontâneos e acidentais e confirmar a prática do aborto intencional. Comprovando-se a presença de gravidez atual ou recente, deve-se tentar estimar o tempo de gestação e em que época ocorreu o aborto. Não havendo comprovação de gravidez não pode haver aborto e por conseguinte trata-se de crime impossível. Deve diferenciar aborto espontâneo, traumático (acidental), provocado e decorrente de lesão corporal. Na viva, o exame de aborto recente deverá ser conduzido na concepção de que o aborto é um ‘parto em miniatura’ e, por esse fato, deixa modificações genitais e extragenitais, idênticas a mulher que pariu. Os abortos provocados são realizados, em sua grande maioria, no início da gestação, não serão observados tais modificações. O perito deverá examinar os seios, cloasma, linha nigra, hipertricose, etc. O exame da genitália tem primordial valor no diagnóstico do aborto, devendo ser observados edemas nos 9 grandes e pequenos lábios; presença de lóquios; lesões do períneo; lesões do colo do útero. Quanto mais antigo for o aborto, mais difícil será a perícia. No caso de aborto provocado a perícia deverá verificar a presença de vestígios de trauma (lesões, secreção purulenta), buscando comprovar a prática abortiva e estabelecer o nexo causal entre a ação e o dano, identificando o meio causador do aborto, sempre que possível. Os restos fetais e placentários devem ser encaminhados para exame necroscópico ou anátomopatológico. A paciente / pericianda é um ser humano e deve ser dada especial atenção ao estado clínico geral, padrões hemodinâmicos, sinais de infecção, procedendo o exame com descrição completa. O estado psicológico da paciente/pericianda também deve ser descrito, devido o risco de intoxicações. Sugere-se coleta de exame toxicológico, ou pelo menos, que se mantenha amostra disponível no caso de solicitação judicial. Exames complementares devem ser realizados sempre que necessário. Sugere-se a realização de radiografia do conteúdo expelido que pode comprovar a existência de partículas ósseas imperceptíveis a olho nu. As lesões observadas no embrião devem ser relatadas em prontuário pelo médico assistente que posteriormente encaminhará o feto e anexos para o Instituo Médico Legal. Havendo informações, descrever a data e as manobras realizadas e horário das expulsões. Do mesmo modo, se houver relato de ingestão de droga, procurar estabelecer o que, quando e quanto (dose). As lesões podem ser associadas ao aborto provocado, havendo presença de escoriações, perfurações do útero e da vagina e das vísceras abdominais. As lesões poderão ser observadas também no próprio produto do aborto. Na morta o estudo será orientado para os órgãos mais internos, analisando suas formas e dimensões. Observar também a disposição do colo uterino; as lesões e secreções do leito uterino. Observação do perimétrio (mais externa das três camadas que formam a parede do útero), que emcasos de aborto se apresenta de forma espessado e lacerado. A cavidade uterina apresentará tumefação, coloração vermelho- escura, consistência diminuída, presença de restos de vilosidades coriônicas e sinais de inserção placentária. Exame histológico para a comprovação da gravidez. Exame dos ovários a procura do corpo amarelo. Quesitos na Perícia de Aborto Aborto – Exame de corpo de delito: 1. Há vestígio de provocação de aborto? 2. Qual o meio empregado? 3. Em consequência de aborto ou do meio empregado para provocá-lo a gestante sofreu incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente ou perda ou inutilização 10 de membro, sentido ou função, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou deformidade permanente? 4. Havia outro meio de salvar a vida da gestante (quando o aborto é praticado por médico)? 5. A gestante é alienada ou débil mental? Quesitos na Perícia de Aborto Aborto – Exame de corpo de delito: 1. Há vestígio de provocação de aborto? 2. Qual o meio empregado? 3. Em consequência de aborto ou do meio empregado para provocá-lo a gestante sofreu incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, ou perigo de vida, ou debilidade permanente ou perda ou inutilização de membro, sentido ou função, ou incapacidade permanente para o trabalho, ou enfermidade incurável, ou deformidade permanente? 4. Havia outro meio de salvar a vida da gestante (quando o aborto é praticado por médico)? 5. A gestante é alienada ou débil mental? 6. É fato que o Código de Ética Médica e o próprio código Penal protege a paciente quando impede o médico de divulgar fato que obtenha conhecimento no exercício de sua profissão. No entanto, o direito da paciente não dá direito ao médico de deixar de relatar, em prontuário, fatos absolutamente pertinentes e importantes para a avaliação e conclusão pericial. Deste modo, torna-se facultativo à autoridade policial ou judiciária a solicitação do prontuário, a quem poderá ser entregue cópia integral, em envelope lacrado, devendo ser compulsado apenas por médico devidamente habilitado, pela própria paciente ou por seu representante legal, em decorrência dos limites legais e do Código de Ética Médica. Assim, o médico assistente e o perito devem descrever o exame de forma mais minuciosa possível INFANTICIDIO Infanticídio - morte provocada de uma criança, especialmente de um recém-nascido. Âmbito jurídico-penal - expressão adquire sentido específico, consistindo no crime praticado pela genitora que, sob a influência do estado puerperal, mata o próprio filho, durante o parto ou logo após. A conduta está tipificada no art. 123 do Código Penal, inserido no Capítulo I (“Dos crimes contra a pessoa”) do Título I (“Dos Crimes contra a vida) da Parte Especial. Como o legislador não delimitou cronologicamente o período de influência do estado puerperal, empregando conceitos vagos (“durante” ou “logo após” o parto), há controvérsia a respeito da duração desse distúrbio psíquico. Discute-se, ainda, como deve ser comprovada a sua influência sobre a genitora, notadamente porque o infanticídio, geralmente, é praticado na clandestinidade, sem a presença de testemunhas. Existe a divergência envolvendo o concurso de agentes. Indaga-se: O terceiro que toma parte no crime (o 11 qual, evidentemente, não age sob a influência do estado puerperal), responde por infanticídio ou por homicídio? No infanticídio a perícia constitui o maior dos desafios médico-legais, devido às inúmeras dificuldades em caracterizar o crime. Perícia de suma importância, dado seu objetivo de analisar os elementos essenciais que tipificam o delito. Elementos do Infanticídio: o exame pericial orientar-se-á pela busca dos elementos que demonstrarão sua materialidade. Tal crime exigirá, para sua caracterização, provas dos elementos constituintes do delito, a saber: natimorto, feto nascente, recém- nascido, vida extrauterina, além do diagnóstico da causa de morte e o exame da puérpera. Natimorto - É o feto morto no período perinatal que inicia a partir da 22ª semana de gestação e com um peso maior que 500g. Feto nascente - É aquele que acabou de nascer, mas não teve a capacidade de respirar. Feticídio - crime nesse estágio, ocorrido através de aborto provocado. Infante nascido - É aquele que acabou de nascer, respirou, mas não recebeu nenhum cuidado. Suas características são: a) Estado sanguinolento (não foi limpo); b) Induto sebáceo (coberto de Vernix caseoso); c) Tumor de parto ou bossa serossanguínea (desaparece em 24- 36h); d) Presença de cordão umbilical ligado à placenta (o seu corte descaracteriza o infanticídio); e) Presença de mecônio; f) Respiração autônoma. Recém-nascido - Caracterizado pelos vestígios que provam que houve vida intrauterina. Este estágio vai desde os primeiros cuidados após o parto até o sétimo dia de nascimento. Lembrando que este é um conceito médico-legal. Provas de vida extrauterina – Provas que oferecem ao perito condições de um diagnóstico de vida independente. São chamadas de Docimásias (do grego dokimos – eu provo), que são provas baseadas na possível respiração do recém-nascido ou nos seus efeitos sistêmicos. Causa jurídica de morte - A morte natural e a morte de causa acidental afasta a hipótese de infanticídio. A causa mortis criminosa é um dos elementos constituintes do delito. Exame da puérpera – O perito realizará a avaliação do estado geral da paciente, o aspecto dos órgãos genitais externos, a presença de corrimento genital, o exame dos órgãos genitais internos pelo toque, a involução uterina, o aspecto das mamas, a presença de colostro ou leite, a parede abdominal com estrias e a pigmentação clássica (presença da linha nigra). Realizará também exames laboratoriais para comprovar lóquios, 12 induto sebáceo, colostro, leite e mecônio. Perícia do Estado Puerperal O estado puerperal é considerado uma alteração temporária na mulher previamente sã, com colapso do senso moral e diminuição da capacidade de entendimento, seguida de liberação de instintos, culminando com agressão ao próprio filho. A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infanticídio o conceito biopsíquico do “estado puerperal”, como configurado na exposição de motivos do Código Penal, que justifica o infanticídio como delictum exceptum, praticado pela puérpera sob influência de tal estado. A adoção do critério biopsíquico não é consenso, tendo resistência dentro da Medicina Legal, pois não existe elemento biopsíquico capaz de fornecer provas consistentes e seguras para afirmar que uma mulher matou seu próprio filho, durante ou logo após o parto, motivada por uma alteração chamada de “Estado Puerperal”, não existindo como patologia nos tratados médicos atuais. Sujeitos Ativo e Passivo O sujeito ativo do crime é a parturiente. Cuida-se, portanto, de crime próprio, exigindo uma condição especial do sujeito ativo. O sujeito passivo é o nascente (durante o parto) ou neonato (recém- nascido). Como se requer condição especial também do sujeito passivo, parte da doutrina classifica o delito como crime bi-próprio. No caso de erro quanto à pessoa, aplicam-se as regras do art. 20, § 3º, do Código Penal (“O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime”). Logo, se cometido o crime contra outra criança, acreditando ser opróprio filho, a autora responderá por infanticídio. Isso porque devem-se levar em consideração as condições ou qualidades da vítima contra quem se pretendia praticar o crime (vítima virtual), e não as daquela efetivamente atingida (vítima real). Essa hipótese, por vezes, é denominada infanticídio putativo. A conduta de matar o próprio filho, fora das hipóteses do art. 123 (ex.: ausente a influência do estado puerperal ou o elemento temporal), configura o crime de homicídio (art. 121). Tem-se o delito de aborto (art. 124 e seguintes), e não infanticídio, se a agressão contra o feto for cometida antes do parto. Verifica-se o crime de exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134) se a agente expõe ou abandona a vítima com a finalidade específica de ocultar desonra própria, não se exigindo que tal fato tenha ocorrido logo após o parto e a conduta, nem a influência do estado puerperal. Se o abandono decorre da influência do estado puerperal, sendo praticado logo após o parto, haverá apenas o tipo do art. 123, sendo o abandono 13 nada mais que um meio para a sua prática. Por fim, se a genitora, após a prática do infanticídio, destruir, subtrair ou ocultar o cadáver do nascente ou neonato, responderá pelo crime de infanticídio em concurso material com o tipo penal do art. 211. Quesitos na Perícia de Infanticídio Infanticídio – A diferenciação entre o óbito antes, durante ou depois do parto contribui para o diagnóstico diferencial do tipo penal, exigindo quesitos próprios: 1. Houve morte? 2. A morte ocorreu durante ou logo após o parto? 3. Qual a causa da morte? 4. Qual o instrumento ou meio que produziu a morte? 5. A morte foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura, ou por outro meio insidioso ou cruel? DOCIMÁSIAS A vida extrauterina apresenta profundas modificações capazes de oferecer ao Perito condições de diagnóstico de vida independente. Tais modificações são causadas principalmente pela respiração autônoma do infante nascido (aquele que acabou de nascer, respirou, mas não recebeu nenhum cuidado especial) e do recém-nascido. O diagnóstico de vida extrauterina é feito através da comprovação da respiração pelas docimásias e pelas provas ocasionais. As Docimásias (do grego dokimos – eu provo), são provas baseadas na possível respiração do recém- nascido ou nos seus efeitos sistêmicos. Docimásias Pulmonares: I. Docimásia Diafragmática de Ploquet - quando aberta a cavidade toracoabdominal, observa-se o músculo diafragma horizontal, quando houve respiração; ao passo que este pode apresentar convexidade exagerada das hemicúpulas quando a respiração não ocorreu, essa convexidade é devido à pressão exercida pelas vísceras abdominais. II. Docimásia Óptica ou Visual de Bouchut - consiste na observação da superfície do pulmão que, de um aspecto parenquimatoso, quando não há respiração, assume um aspecto de mosaico, em face de ocorrerem mudanças circulatórias que circunscrevem os lóbulos pulmonares. III. Docimásia Táctil de Nerio Rojas - quando da palpação interdigital, o parênquima pulmonar dá a sensação de fofura e crepitação, caso tenha havido respiração. IV. Docimásia Radiológica de Bordas - trata da opacidade dos pulmões que não foram insulflados de ar, os diafragmas não são vistos, nem a silhueta cárdio-aórtica. V. Docimásias Hidrostáticas de Icard - realizada para complementar a prova de Galeno (dúvida ou só a 4ª fase deu positiva), pois necessita de quantidade mínima de ar nos fragmentos de pulmão. VI. Docimásia Histológica de Balthazard - esta é a prova mais perfeita, pois 14 pode ser usada mesmo em pulmões putrefeitos. Consistem no estudo microscópico do tecido pulmonar através da técnica histológica comum. VII. Docimásia Óptica de Icard - esta prova se realiza por meio de pequenos cortes de fragmento de pulmão, de dimensão reduzida, esmagado entre duas lâminas de modo a transformá-lo num esfregaço. Nos casos em que houve respiração, nota-se inúmeras bolhas de ar no esfregaço. Prova sem valor para pulmões putrefeitos (gases simulam resultado falso-positivo). VIII. Docimásia Química de Icard - consiste em colocar um fragmento de pulmão da parte central de um lobo, que foi previamente lavado em álcool puro, em uma solução alcoólica de potassa cáustica a 30%. Inicialmente, o fragmento fica preso ao fundo do frasco, porém, se houve respiração, deverão se desprender bolhas de ar originadas do parênquima destruído pelo líquido. Se o pulmão estiver putrefeito, a dissolução da víscera será rápida e as bolhas grandes, decorrentes do enfisema putrefativo. IX. Docimásia Epimicroscópica Pneumo-Arquitetônica de Hilário Veiga De Carvalho - fundamenta-se no estudo da superfície externa do pulmão por meio do ultra-opak. Para isto, o pulmão deve ser lavado em formalina, depositado em uma placa de Petri, cortado em fragmentos, unido a uma gota de glicerina e visualizado com a lente objetiva de imersão. Quando houve respiração, as cavidades cheias de ar mostram-se arredondadas com refringência contrastada em fundo negro. O pulmão que não respirou, mostra apenas um fundo negro uniforme e sem imagens. No pulmão putrefeito, as bolhas são grandes, disformes e de distribuição irregular. Docimásias Extrapulmonares- Respiratórias I. Docimásia Gastrintestinal De Breslau - se baseia na existência de ar no tubo digestivo, ingressado por deglutição toda vez que o feto tenha respirado. Nos casos em que durante as manobras de ressuscitação houve insuflação de ar no estômago do feto, apenas este órgão flutuará, enquanto que o resto do tubo digestivo afundará na água. II. Docimásia Auricular De Vreden, Wendt e Gelé - baseaia-se na ocorrência de ar na cavidade do ouvido médio que lá ingressara através da tuba timpânica (trompa de Eustáquio) desde que o recém- nascido tenha respirado. Consiste na punção da membrana timpânica, com a cabeça do feto mergulhada na água, caso o mesmo tivesse respirado, surgirá uma bolha de ar que sobe até a superfície do recipiente. III. Docimásia Hematopneumo-Hepática de Severi - consiste em determinar as taxas de oxiemoglobina do sangue existente no pulmão e no fígado. Se essas taxas forem idênticas, significa que não houve hematose, logo, não houve respiração; pois se houvesse respiração, a taxa de oxiemoglobina no sangue pulmonar deveria ser obrigatoriamente mais elevada. 15 IV. Docimásia Plêurica de Placzek - baseia-se no fato fisiológico de que quando houve respiração, deve haver, portanto, uma pressão negativa na cavidade pleural. V. Docimásia Traqueal De Martin - liga- se a traquéia na parte superior e coloca-se um manômetro bem sensível por corte transversal. Em seguida, faz-se pressão nos pulmões, e, caso haja ar em seu interior devido à respiração, o líquido do manômetro irá oscilar. Porém, esta prova não tem valor em pulmões putrefeitos. VI. Docimásia Hematopulmonar De Zalesk - procura estabelecer se houve ou não respiração pelo estudo do conteúdo hemático dos pulmões. VII. Docimásia Ponderal De Pulcquet - baseia-se na diferença de peso relativo dos pulmões e do corpo do infante que respirou ou não. VIII. Docimásia Do Volume D'Água Deslocado De Bernt - o diagnóstico da respiração, neste caso, é dado pelo grau de deslocamento do líquido quando neste estão imersos o pulmão e o coração. Docimásias Extrapulmonares – Não- Respiratórias I. Docimásia Siálica De Souza-Dinitz - consiste na pesquisa de saliva no estômago do feto. A reação positiva é um indicativo de que existiu vida extra-uterina. II. Docimásia Alimentar De Beoth - consiste na pesquisa de leite ou outrosalimentos no estômago do feto; referidos elementos não existem no natimorto. Porém, neste caso, é importante não confundir estes restos de alimentos com o induto sebáceo que pode Ter sido deglutido pelo feto antes de nascer. III. Docimásia Do Nervo Óptico De Mirto - fundamenta-se no estado de mielinização do nervo óptico, a qual se inicia logo após o nascimento. Tem muito mais valor como determinante do tempo de sobrevivência do recém-nascido. Este fenômeno se inicia 12 horas após o nascimento e se completa dentro de 4 dias aproximadamente. IV. Docimásia Bacteriana De Malvoz - os fenômenos putrefativos, no feto natimorto, começam pelos orifícios da boca, nariz e ânus. Nos casos em que o feto teve vida extra-uterina, a putrefação se inicia pelo tubo digestivo e pelo sistema respiratório. Procura-se também pela presença de bactérias Bacterium colli como evidência de que houve respiração, porém, sua presença é um tanto contraditória, pois fala a favor da deglutição de alimentos do que propriamente à respiração. V. Docimásia Úrica De Budin-Ziegler - esta docimásia será positiva se forem encontrados uratos nos condutos renais, como marca da respiração do recém-nascido. Esses sedimentos se apresentam sob a forma de estrias amareladas dispostas radialmente na zona medular. Esta docimásia é baseada no conceito de que a presença de sedimentos de ácido úrico é muito comum naqueles que sobreviveram por um ou dois dias (Virchow).