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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O abortamento é a interrupção da gestação, espontânea ou intencional, ocorrida até a 20ª-22ª semana da gravidez ou com feto pesando <500g. É a complicação mais comum da 1ª metade da gestação. Nos primeiros meses da gestação, a expulsão espontânea do ovo é quase sempre precedida pela morte do feto. Por essa razão, a consideração da etiologia do aborto praticamente se resolve com a determinação da causa da morte fetal. Nos últimos meses, por outro lado, o feto costuma nascer vivo, e outros fatores devem ser investigados para explicar a sua expulsão. ❖ As mulheres com aborto mais tardio ou com abortos recorrentes têm mais chance de apresentar uma causa repetitiva que pode ser modificada. No início da gestação, o abortamento é um evento comum. A maioria das perdas precoces se origina de anormalidades genéticas ou de razões ainda não identificadas. Assim, a possibilidade de prevenção é atualmente pequena. EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO Estima-se que seu diagnóstico clínico ocorra em 12-15% das gestações. É provável, entretanto, que a proporção de óvulos fertilizados que evolui para abortamento seja muito maior, já que a maioria não chega a se apresentar como gravidez clínica. A incidência de abortamento é decrescente conforme a IG, situando- se ao redor de 1% após as 16 semanas. Cerca de 75% dos ovos fertilizados são abortados, e em mais da metade deles isso ocorre antes da 1ª falha menstrual. Em gestações diagnosticadas clinicamente, 10% terminam espontaneamente até 12 semanas, representando 80% de todos os abortamentos. O abortamento representa a 4ª causa de mortalidade materna no Brasil, diferentemente do que ocorre em países desenvolvidos, onde essas taxas de morte, especificamente por aborto, são reduzidas. Mulheres jovens e em plena idade produtiva e reprodutiva são as que estão mais sujeitas às complicações, como hemorragias, infecções, perfurações de órgãos e infertilidade, levando-as desnecessariamente à morte ou acarretando sequelas à sua saúde física, mental e reprodutiva. Aliás, as complicações do abortamento representam a 3ª causa de ocupação dos leitos obstétricos no Brasil. A idade materna é o principal fator de risco para a ocorrência de abortamento, devido à maior incidência de cromossomopatias com o avançar da idade da gestante. ❖ As taxas de abortamento crescem conforme a idade, podendo atingir 50-80% das implantações a partir dos 40 anos. Junto a isso, destaca-se a história prévia de abortamento, sendo maior o risco conforme o número de abortos prévios. Consumo de tabaco, álcool, cocaína e AINEs, extremos de peso e doenças da tireoide também estão relacionados com o abortamento. A incidência de alterações cromossômicas em abortamentos esporádicos de 1º trimestre é de 50%. Analisando abortos com cariótipo anormal, a Síndrome de Turner (45,X0) é a alteração mais frequente, com incidência de 19%. Abortos trissômicos são vistos para todos os autossomos, exceto para os cromossomos 1, 5, 11, 12, 17 e 19. Trissomia 16, triploidia e tetraploidia são as anormalidades autossômicas mais comuns. Aproximadamente 80% das trissomias 21 terminam em abortamento. CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE ABORTAMENTO PRECOCE OU TARDIO O abortamento pode ser precoce ou tardio, conforme a idade gestacional, ou seja: ❖ Precoce -> até a 12ª semana. ❖ Tardio -> entre 13ª-20ª semana. Os abortamentos precoces, com menos de 12 semanas, respondem por 80% dos abortamentos e reconhecem uma multiplicidade maior de causas. Além da etiologia, os abortamentos precoces e tardios também apresentam condutas terapêuticas diferentes. ESPONTÂNEO É aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa e pode ser causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou feto. A incidência na população geral é de 10-15%. Mais de 80% dos abortamentos espontâneos ocorrem nas 12 primeiras semanas de gestação. Nas perdas gestacionais do 1º trimestre, a morte do embrião/feto quase sempre ocorre antes da expulsão espontânea. Em geral, a morte é acompanhada de hemorragia dentro da decídua basal, seguido pela necrose dos tecidos adjacentes, que estimula as contrações uterinas e a expulsão. Um saco gestacional intacto costuma estar cheio de fluido. Um abortamento anembrionado não contém elementos embrionários identificáveis (“ovo cego”). Os casos restantes são abortamentos embrionados, que em geral apresentam alguma anormalidade do desenvolvimento do embrião, do feto, da vesícula vitelina ou, às vezes, da placenta. ❖ Nas perdas gestacionais mais tardias, o feto geralmente não morre antes da expulsão. APG 26 - ABORTAMENTO Maria Luiza Sena – Med XIV FASA PROVOCADO Refere-se à interrupção da gravidez causada por intervenção externa e intencional. Estima-se que são realizados em torno de 1 milhão de abortamentos provocados no Brasil por ano, a grande maioria de forma insegura. SEGURO E INSEGURO Seguro -> é aquele realizado por médico bem treinado, com os meios necessários e em ambiente adequado, o que implica risco extremamente baixo para a mulher. Inseguro -> é procedimento de risco para interromper uma gravidez indesejada, realizado por pessoas que não têm as habilidades necessárias ou em ambiente que não tem os padrões médicos mínimos, ou ambos. ❖ O elevado número de abortos inseguros realizados anualmente e suas consequências para a saúde reprodutiva das mulheres demonstram que a criminalização desse ato não tem sido suficiente para diminuir sua incidência (OMS, 2007). ❖ Em países cujas leis foram flexibilizadas para estarem adequadas aos direitos sexuais e reprodutivos, evitando-se a clandestinidade do aborto inseguro, constatou-se redução da mortalidade materna pela melhora da qualidade e presteza do atendimento. FORMAS E QUADRO CLÍNICO AMEAÇA DE ABORTAMENTO Consiste, fundamentalmente, em hemorragia, que traduz anomalia decidual e/ou deslocamento do ovo, e dor, sinal de contração uterina. Esse diagnóstico é considerado quando há secreção vaginal sanguinolenta ou sangramento pelo orifício cervical fechado durante as primeiras 20 semanas -> pode estar acompanhado por desconforto suprapúbico, cólicas leves, pressão pélvica ou lombalgia persistente. ❖ Entre os sintomas, o sangramento certamente é o fator de risco mais preditivo de perda gestacional. A hemorragia é o elemento mais comum e costuma ser o primeiro a revelar distúrbios na evolução da gravidez. De modo geral, o fluxo sanguíneo na fase de ameaça é menor que na interrupção inevitável. ❖ Os sangramentos precoces, de longa duração, escuros e do tipo “borra de café” são considerados mais sérios. As dores precedem, acompanham e geralmente sucedem a hemorragia. São provocadas por metrossístoles fugazes e intermitentes. Contrações regulares, como as do trabalho de parto, espelham processo irreversível. O abortamento, muitas vezes, é precedido pela morte do embrião, e as perdas sanguíneas e cólicas, antes de constituírem ameaça, anunciam interrupção inevitável. Exame Físico -> confirma, exceto nas primeiras semanas, o útero aumentado, cujo volume é proporcional à data da amenorreia. O toque não é esclarecedor, porque não existem modificações cervicais. ❖ O exame especular pode afastar causas ginecológicas da hemorragia. ABORTAMENTO INVEVITÁVEL É o abortamento não mais compatível com o prosseguimento da gestação. Traduz-se clinicamente pela dilatação da cérvice, que se deixa permear pelo dedo, que detecta, na maioria das vezes, as membranas ovulares ou o próprio embrião. Outra característica é o sangramento profuso que compromete a hemodinâmica da paciente, mesmo com cérvice impermeável ao dedo. Há proporcionalidade entre as dimensões do útero e a IG estimada pela DUM. Nas amenorreias de curta duração em que o ovo é pequeno,o processo pode ser confundido com menstruação, diferenciando-se dela pela maior quantidade de sangue pela presença de embrião e decídua ao exame do material eliminado. O episódio é, quase sempre, precedido por período de ameaça de abortamento; excepcionalmente, pode manifestar-se pela primeira vez no estágio de iminente expulsão. ❖ As hemorragias tendem a ser mais abundantes que as da fase de ameaça, e o sangue apresenta cor viva. O colo mostra-se permeável, notando-se as membranas herniadas pelo orifício externo na cavidade uterina. O quadro clínico inconfundível dispensa exames complementares. ABORTAMENTO COMPLETO É frequente até 8 semanas de gestação. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Considera-se completo quando, após expulsão do ovo, cessam as cólicas e o sangramento reduz-se a perdas muito discretas. Só a evolução do caso confirma o diagnóstico. O relato de sangramento profuso, cólicas e eliminação de tecidos é comum. ❖ As pacientes devem ser instruídas a trazer os tecidos eliminados, onde pode haver uma gestação completa que deve ser diferenciada de coágulos de sangue ou um molde de decídua. USG -> “útero vazio” é indicação certa de abortamento completo. Ecos intrauterinos centrais e escassos/moderados podem representar coágulos sanguíneos, decídua, glândulas endometriais e placenta. ABORTAMENTO INCOMPLETO Está relacionado com a eliminação parcial do ovo, que causa hemorragia persistente e é terreno propício à infecção. É comum após 8 semanas, quando as vilosidades coriônicas ficam aderidas ao útero. Expulsa o concepto e permanece a placenta/restos. Nos abortamentos tardios, a paciente consegue distinguir páreas e o concepto e, geralmente, informa a eliminação apenas do feto. O sangramento não cessa, é intermitente, pode ser intenso, e ocorre porque os restos ovulares impedem a contração uterina adequada. As cólicas persistem. O útero, amolecido, tem volume aumentado, mas o escoamento do líquido amniótico e, comumente, do feto reduz suas dimensões, que ano são as previstas pela IG. O colo está entreaberto. É a forma clínica mais frequente. O diagnóstico é eminentemente clínico, geralmente caracterizado por meio da sintomatologia esboçada. USG -> massa focal ecogênica caracteriza o diagnóstico de restos ovulares. ABORTAMENTO INFECTADO Sucede, quase sempre, à interrupção provocada em más condições técnicas, mas esta não é a sua única origem. Espontâneo ou intencional, há sempre antecedentes que a anamnese esclarece: ❖ Abortamento incompleto. ❖ Manipulação instrumental cavitária. ❖ Introdução de sondas, laminárias, soluções diversas. Tanto no abortamento espontâneo como no induzido, microrganismos podem invadir os tecidos miometriais, causando parametrite, peritonite e septicemia. A maioria das bactérias que causam aborto infectado são parte da flora vaginal normal. ❖ São especialmente preocupantes as infecções necrosantes graves e a síndrome do choque tóxico causada por estreptococos do grupo A – S. pyogenes. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA A anamnese tem valor muito grande na definição diagnóstica ao identificar na história o episódio provocador. O contexto clínico é multifacetário e a sintomatologia está na dependência direta do grau de evolução da entidade patológica em epígrafe. O sangramento, em geral, não é profuso. Costuma se manifestar por sangue aguado, escuro, tipo “lavado de carne”, costumeiramente com odor fétido. A classificação clínica mais utilizada é feita em 3 formas: I – Endo(mio)metrite -> é o tipo mais comum. A infecção é limitada ao conteúdo da cavidade uterina, à decídua e, provavelmente, ao miométrio. A sintomatologia é semelhante à do abortamento completo/incompleto. ❖ A elevação térmica é pequena (pouco acima de 38ºC), e o estado geral é bom; as dores são discretas. ❖ Não há sinais de irritação peritoneal, e tanto a palpação do abdome como o toque vaginal são tolerados. ❖ Hemorragia escassa é regra. II – Pelveperitonite -> por conta da virulência do microrganismo e do terreno, a infecção progride, agora localizada no miométrio, nos paramétrios e anexos, comprometendo o peritônio pélvico. ❖ Hemorragia não é um sinal relevante -> o sangue escorre mesclado a líquido sanioso, cujo odor é fecalóide, com presença de anaeróbios. ❖ A temperatura está em torno de 39ºC, e o estado geral está afetado (taquicardia, desidratação, paresia intestinal e anemia). ❖ As dores são constantes e espontâneas. ❖ A defesa abdominal está limitada ao hipogástrio e não se estende ao andar superior do abdome. Nessa classificação, o exame pélvico é praticamente impossível, tal a dor despertada. Nota-se útero amolecido, mobilidade reduzida e paramétrios empastados. O colo costuma estar entreaberto. III – Peritonite -> forma extremamente grave da infecção generalizada. As condições da genitália repetem as da forma anterior. Há peritonite, septicemia e choque séptico, decorrentes do acometimento por Gram-negativos (E. coli), mas também de bacteroides e Clostridium. ❖ Temperatura está elevada, pulso rápido, filiforme, hipotensão, abdome distendido, desidratação acentuada, oligúria e icterícia. ❖ Em outras pacientes, há endocardite, miocardite e subsequente falência do órgão. ❖ Tromboflebite pélvica e embolia pulmonar podem ser encontradas. ❖ São comuns abscessos no fundo de saco posterior, entre as alças e o epíploo, retroperitoneais, sub-hepáticos e subdiafragmáticos. ABORTAMENTO RETIDO O útero retém o ovo morto por dias/semanas. Após a morte fetal, pode ou não haver sangramento vaginal. O útero mantém-se estacionário e pode até diminuir. USG -> não exibe BCF após o embrião ter atingido > ou igual 7mm ou se o SG for > ou igual 25mm e o embrião estiver ausente. Chama-se ovo anembrionado o tipo de abortamento retido no qual a USG não identifica o embrião, estando o SG > ou igual a 25mm. ❖ O diagnóstico definitivo de abortamento retido no qual a USG não identifica o embrião deve ser sempre confirmado por duas USG espaçadas de 7-10 dias. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ABORTAMENTO HABITUAL OU RECORRENTE É definido como a perda de 2 ou mais gestações. Afeta cerca de 5% dos casais tentando conceber. A idade materna e o número de abortamentos anteriores são 2 fatores de risco independentes para uma nova interrupção. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO No Brasil, a técnica farmacológica para tratamento do abortamento é o Misoprostol, o qual tem como apresentação comprimidos para uso vaginal de 25, 100 e 200mcg, devendo ser utilizado apenas em contexto hospitalar. As vantagens do seu uso são: ❖ Ausência de possibilidade de perfuração uterina e formação de sinéquias. ❖ Redução dos riscos decorrentes da dilatação do colo. ❖ Eliminação do risco anestésico. ! Vale ressaltar que o uso do Misoprostol deve ser feito com base no tamanho uterino e não com base na IG. TRATAMENTO MECÂNICO A interrupção da gestação pode ser realizada por diversos métodos cirúrgicos. Na ausência de doença clínica materna grave, os procedimentos de abortamento não requerem hospitalização. ❖ Porém, instalações cirúrgicas ambulatoriais devem poder fornecer reanimação de emergência e transferência imediata para um hospital. PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO A evacuação cirúrgica é realizada por via transvaginal através de um colo uterino adequadamente dilatado -> o amadurecimento cervical pré-operatório é preferido por muitos profissionais, geralmente associado a menor necessidade de dilatação cervical. Para o amadurecimento, os dilatadores higroscópicos (dilatadores osmóticos), são dispositivos que absorvem a água dos tecidos circundantes e se expandem para dilatar gradualmente o canal endocervical. Os dilatadores existem de 2 tipos (Laminaria e Dilapan-S), e cada tipo expande o diâmetrofinal de 3-4x o seu estado seco. Porém, o Dilapan-S alcança esse objetivo em 4-6hs, mais rápido que as Laminarias. A - Laminária. B – Dilapan-S. No caso de dilatadores higroscópicos, a inserção pouco profunda gera dilatação insuficiente do orifício interno ou expulsão do dilatador, mas a colocação profunda demais causa risco de deslocamento para dentro da cavidade uterina. Assim, a quantidade de esponjas e dilatadores inseridos deve ser cuidadosamente contabilizada e registrada no prontuário do paciente. Após a inserção dos dilatadores, a colocação de várias esponjas de gaze no orifício externo ajuda a evitar a expulsão dos dilatadores. As pacientes podem deambular, urinar ou evacuar sem limitação. Em vez dos dilatadores higroscópicos, o Misoprostol costuma ser usado para o amadurecimento cervical. A dose típica é de 400μg administrados por via sublingual, bucal ou colocados no fórnice vaginal posterior 3-4hs antes da cirurgia. ❖ Outro agente efetivo para o amadurecimento cervical é o antiprogestágeno mifepristona, 200mg administrados por via oral 24-48hs antes da cirurgia. Os dilatadores higroscópicos aumentam a duração do procedimento e podem ser desconfortáveis, ao passo que o Misoprostol introduz os efeitos colaterais de febre, sangramento e condições gastrintestinais. ASPIRAÇÃO À VÁCUO Também chamada de dilatação ou curetagem por aspiração, é uma abordagem transcervical ao abortamento cirúrgico. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O colo uterino é inicialmente dilatado e, depois, os produtos da concepção são evacuados. Para isso, uma cânula rígida é acoplada a uma fonte elétrica de vácuo ou a uma seringa manual de 60mL como fonte de vácuo -> esses procedimentos são, respectivamente, a aspiração a vácuo elétrica (AVE) e a aspiração manual intrauterina (AMU). A dilatação e curetagem (D&C), na qual o conteúdo é mecanicamente raspado somente com uma cureta cortante, não é atualmente recomendada para a evacuação da gestação devido à maior perda sanguínea, dor e duração do procedimento. Depois do exame bimanual para determinar o tamanho e a orientação do útero, insere-se um espéculo e aplica-se iodopovidona ou uma solução equivalente com um swab no colo uterino. ❖ O lábio cervical anterior é tracionado com uma pinça com dentes. O colo uterino, a vagina e o útero são profusamente inervados por nervos do plexo de Frankenhäuser, situado no interior do tecido conectivo lateral aos ligamentos uterossacros e cardinais. Assim, a aspiração a vácuo exige a administração IV/oral de sedativos ou analgésicos, e alguns acrescentam um bloqueio paracervical ou intracervical com lidocaína. Outras opções são a anestesia geral ou regional. A sondagem uterina mede a profundidade e a inclinação da cavidade uterina (histerometria) antes da inserção de outro instrumento. Se necessário, pode-se aumentar a dilatação do colo uterino com dilatadores Hegar, Hank ou Pratt até que uma cânula de aspiração de diâmetro apropriado possa ser inserida. ❖ O grau de dilatação cervical necessária se aproxima da IG. Com a dilatação, o 4º e o 5º dedos da mão que introduz o dilatador devem permanecer sobre o períneo e as nádegas enquanto o instrumento é introduzido por meio do orifício interno -> essa técnica minimiza a expansão forçada e oferece proteção contra perfuração uterina. Após a dilatação, na maioria dos procedimentos de aspiração no 1º trimestre é apropriada uma cânula de Karman de 8-12mm. ❖ Cânulas pequenas acarretam o risco de deixar tecidos intrauterinos retidos depois do procedimento, enquanto cânulas grandes estão associadas ao risco de lesão cervical, além de causarem mais desconforto. Para começar, a cânula é lentamente movida em direção ao fundo uterino até que se encontre resistência. Então, a aspiração é ativada. A cânula é gradualmente puxada de volta em direção ao orifício, sendo girada lenta e circunferencialmente e para cobrir toda a superfície da cavidade uterina. O movimento é repetido até que não haja mais aspiração de tecidos. Uma curetagem delicada pode ser feita em seguida para remover quaisquer fragmentos de tecido remanescentes. LEGISLAÇÃO DO ABORTO O aborto é autorizado em 3 casos no Brasil: ❖ Gravidez decorrente de estupro. ❖ Risco à vida da mulher. ❖ Anencefalia do feto. Nas demais situações, a interrupção da gravidez é considerada crime, de acordo com o Código Penal. A legislação estabelece que a mulher que provocar um aborto em si mesma pode ser condenada a pena de 1-3 anos de prisão. Foi o Código Penal que fixou a possibilidade de aborto legal em caso de estupro. Já a interrupção da gravidez em caso de anencefalia do feto só foi permitida a partir de 2012, após decisão do STF. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Mulheres que atendem a esses critérios, porém, têm enfrentado obstáculos para ter acesso ao aborto legal no país. Código Penal -> decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 - dos crimes contra a vida: Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: ❖ Art. 124 -> Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lhe provoque. ❖ Pena: detenção, de 1-3 anos. Aborto provocado por terceiro: ❖ Art. 125 -> Provocar aborto, sem o consentimento da gestante. ❖ Pena - reclusão, de 3-10 anos. ❖ Art. 126 -> Provocar aborto com o consentimento da gestante. ❖ Pena - reclusão, de 1-4 anos. Parágrafo único: Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. ABORTO NECESSÁRIO I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; aborto no caso de gravidez resultante de estupro. II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. COMO FAZER UM ABORTO LEGAL? O Código Penal não exige qualquer documento para interromper uma gravidez decorrente de estupro, basta o consentimento da mulher ou de seu responsável legal. ❖ Na prática, porém, as mulheres enfrentam obstáculos para ter acesso ao aborto legal. Há relatos de hospitais que exigem apresentação de BO (boletim de ocorrência) ou exame de corpo de delito. Em casos de anencefalia do feto, basta um laudo médico atestando a condição. O HOSPITAL PODE INFORMAR A POLÍCIA SOBRE O ABORTO JUSTIFICADO POR ESTUPRO? Embora o Código Penal não estabeleça necessidade de aviso, uma portaria publicada em 2020 pelo MS orienta que médicos informem a polícia caso atendam mulheres que buscam interromper a gestação decorrente de estupro. ! A portaria, que não tem força de lei, foi muito criticada por especialistas, que argumentam que a medida viola a previsão de sigilo em atendimentos de saúde e aumenta as chances de a mulher recorrer ao aborto ilegal. O MÉDICO PODE SE NEGAR A REALIZAR UM ABORTO LEGAL? Se alegar objeção de consciência, sim. De acordo com o Código de Ética Médica, o profissional pode "recusar a realização de atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência”. Em alguns casos, porém, não cabe a objeção de consciência: ❖ Quando há risco de vida para a mulher. ❖ Quando não há outro médico que possa fazer o procedimento garantido por lei. ❖ No atendimento de complicações derivadas de aborto inseguro, por se tratar de caso de urgência.
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