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APG 26 - Aborto

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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
 
O abortamento é a interrupção da gestação, espontânea ou 
intencional, ocorrida até a 20ª-22ª semana da gravidez ou com feto 
pesando <500g. É a complicação mais comum da 1ª metade da 
gestação. 
Nos primeiros meses da gestação, a expulsão espontânea do ovo é 
quase sempre precedida pela morte do feto. Por essa razão, a 
consideração da etiologia do aborto praticamente se resolve com a 
determinação da causa da morte fetal. Nos últimos meses, por outro 
lado, o feto costuma nascer vivo, e outros fatores devem ser 
investigados para explicar a sua expulsão. 
❖ As mulheres com aborto mais tardio ou com abortos 
recorrentes têm mais chance de apresentar uma causa 
repetitiva que pode ser modificada. 
No início da gestação, o abortamento é um evento comum. A 
maioria das perdas precoces se origina de anormalidades genéticas 
ou de razões ainda não identificadas. Assim, a possibilidade de 
prevenção é atualmente pequena. 
EPIDEMIOLOGIA E FATORES DE RISCO 
Estima-se que seu diagnóstico clínico ocorra em 12-15% das 
gestações. É provável, entretanto, que a proporção de óvulos 
fertilizados que evolui para abortamento seja muito maior, já que a 
maioria não chega a se apresentar como gravidez clínica. A 
incidência de abortamento é decrescente conforme a IG, situando-
se ao redor de 1% após as 16 semanas. 
Cerca de 75% dos ovos fertilizados são abortados, e em mais da 
metade deles isso ocorre antes da 1ª falha menstrual. Em gestações 
diagnosticadas clinicamente, 10% terminam espontaneamente até 
12 semanas, representando 80% de todos os abortamentos. 
O abortamento representa a 4ª causa de mortalidade materna no 
Brasil, diferentemente do que ocorre em países desenvolvidos, onde 
essas taxas de morte, especificamente por aborto, são reduzidas. 
Mulheres jovens e em plena idade produtiva e reprodutiva são as 
que estão mais sujeitas às complicações, como hemorragias, 
infecções, perfurações de órgãos e infertilidade, levando-as 
desnecessariamente à morte ou acarretando sequelas à sua saúde 
física, mental e reprodutiva. Aliás, as complicações do abortamento 
representam a 3ª causa de ocupação dos leitos obstétricos no Brasil. 
A idade materna é o principal fator de risco para a ocorrência de 
abortamento, devido à maior incidência de cromossomopatias com 
o avançar da idade da gestante. 
❖ As taxas de abortamento crescem conforme a idade, podendo 
atingir 50-80% das implantações a partir dos 40 anos. Junto a 
isso, destaca-se a história prévia de abortamento, sendo maior 
o risco conforme o número de abortos prévios. 
 
Consumo de tabaco, álcool, cocaína e AINEs, extremos de peso e 
doenças da tireoide também estão relacionados com o 
abortamento. 
A incidência de alterações cromossômicas em abortamentos 
esporádicos de 1º trimestre é de 50%. Analisando abortos com 
cariótipo anormal, a Síndrome de Turner (45,X0) é a alteração mais 
frequente, com incidência de 19%. 
Abortos trissômicos são vistos para todos os autossomos, exceto 
para os cromossomos 1, 5, 11, 12, 17 e 19. Trissomia 16, triploidia 
e tetraploidia são as anormalidades autossômicas mais comuns. 
Aproximadamente 80% das trissomias 21 terminam em 
abortamento. 
CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS DE ABORTAMENTO 
PRECOCE OU TARDIO 
O abortamento pode ser precoce ou tardio, conforme a idade 
gestacional, ou seja: 
❖ Precoce -> até a 12ª semana. 
❖ Tardio -> entre 13ª-20ª semana. 
Os abortamentos precoces, com menos de 12 semanas, respondem 
por 80% dos abortamentos e reconhecem uma multiplicidade 
maior de causas. Além da etiologia, os abortamentos precoces e 
tardios também apresentam condutas terapêuticas diferentes. 
ESPONTÂNEO 
É aquele que ocorre sem nenhuma intervenção externa e pode ser 
causado por doenças da mãe ou por anormalidades do embrião ou 
feto. A incidência na população geral é de 10-15%. Mais de 80% dos 
abortamentos espontâneos ocorrem nas 12 primeiras semanas de 
gestação. 
Nas perdas gestacionais do 1º trimestre, a morte do embrião/feto 
quase sempre ocorre antes da expulsão espontânea. Em geral, a 
morte é acompanhada de hemorragia dentro da decídua basal, 
seguido pela necrose dos tecidos adjacentes, que estimula as 
contrações uterinas e a expulsão. 
Um saco gestacional intacto costuma estar cheio de fluido. Um 
abortamento anembrionado não contém elementos embrionários 
identificáveis (“ovo cego”). Os casos restantes são abortamentos 
embrionados, que em geral apresentam alguma anormalidade do 
desenvolvimento do embrião, do feto, da vesícula vitelina ou, às 
vezes, da placenta. 
❖ Nas perdas gestacionais mais tardias, o feto geralmente não 
morre antes da expulsão. 
 
 
APG 26 - ABORTAMENTO 
 
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
PROVOCADO 
Refere-se à interrupção da gravidez causada por intervenção 
externa e intencional. Estima-se que são realizados em torno de 1 
milhão de abortamentos provocados no Brasil por ano, a grande 
maioria de forma insegura. 
SEGURO E INSEGURO 
Seguro -> é aquele realizado por médico bem treinado, com os 
meios necessários e em ambiente adequado, o que implica risco 
extremamente baixo para a mulher. 
Inseguro -> é procedimento de risco para interromper uma gravidez 
indesejada, realizado por pessoas que não têm as habilidades 
necessárias ou em ambiente que não tem os padrões médicos 
mínimos, ou ambos. 
❖ O elevado número de abortos inseguros realizados 
anualmente e suas consequências para a saúde reprodutiva 
das mulheres demonstram que a criminalização desse ato não 
tem sido suficiente para diminuir sua incidência (OMS, 2007). 
❖ Em países cujas leis foram flexibilizadas para estarem 
adequadas aos direitos sexuais e reprodutivos, evitando-se a 
clandestinidade do aborto inseguro, constatou-se redução da 
mortalidade materna pela melhora da qualidade e presteza do 
atendimento. 
FORMAS E QUADRO CLÍNICO 
AMEAÇA DE ABORTAMENTO 
Consiste, fundamentalmente, em hemorragia, que traduz anomalia 
decidual e/ou deslocamento do ovo, e dor, sinal de contração 
uterina. 
Esse diagnóstico é considerado quando há secreção vaginal 
sanguinolenta ou sangramento pelo orifício cervical fechado 
durante as primeiras 20 semanas -> pode estar acompanhado por 
desconforto suprapúbico, cólicas leves, pressão pélvica ou lombalgia 
persistente. 
❖ Entre os sintomas, o sangramento certamente é o fator de risco 
mais preditivo de perda gestacional. 
A hemorragia é o elemento mais comum e costuma ser o primeiro a 
revelar distúrbios na evolução da gravidez. De modo geral, o fluxo 
sanguíneo na fase de ameaça é menor que na interrupção inevitável. 
 
❖ Os sangramentos precoces, de longa duração, escuros e do 
tipo “borra de café” são considerados mais sérios. 
As dores precedem, acompanham e geralmente sucedem a 
hemorragia. São provocadas por metrossístoles fugazes e 
intermitentes. Contrações regulares, como as do trabalho de parto, 
espelham processo irreversível. 
O abortamento, muitas vezes, é precedido pela morte do embrião, 
e as perdas sanguíneas e cólicas, antes de constituírem ameaça, 
anunciam interrupção inevitável. 
Exame Físico -> confirma, exceto nas primeiras semanas, o útero 
aumentado, cujo volume é proporcional à data da amenorreia. O 
toque não é esclarecedor, porque não existem modificações 
cervicais. 
❖ O exame especular pode afastar causas ginecológicas da 
hemorragia. 
 
ABORTAMENTO INVEVITÁVEL 
É o abortamento não mais compatível com o prosseguimento da 
gestação. Traduz-se clinicamente pela dilatação da cérvice, que se 
deixa permear pelo dedo, que detecta, na maioria das vezes, as 
membranas ovulares ou o próprio embrião. 
Outra característica é o sangramento profuso que compromete a 
hemodinâmica da paciente, mesmo com cérvice impermeável ao 
dedo. Há proporcionalidade entre as dimensões do útero e a IG 
estimada pela DUM. 
Nas amenorreias de curta duração em que o ovo é pequeno,o 
processo pode ser confundido com menstruação, diferenciando-se 
dela pela maior quantidade de sangue pela presença de embrião e 
decídua ao exame do material eliminado. 
O episódio é, quase sempre, precedido por período de ameaça de 
abortamento; excepcionalmente, pode manifestar-se pela primeira 
vez no estágio de iminente expulsão. 
❖ As hemorragias tendem a ser mais abundantes que as da fase 
de ameaça, e o sangue apresenta cor viva. 
O colo mostra-se permeável, notando-se as membranas herniadas 
pelo orifício externo na cavidade uterina. O quadro clínico 
inconfundível dispensa exames complementares. 
ABORTAMENTO COMPLETO 
É frequente até 8 semanas de gestação. 
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
Considera-se completo quando, após expulsão do ovo, cessam as 
cólicas e o sangramento reduz-se a perdas muito discretas. Só a 
evolução do caso confirma o diagnóstico. 
 
O relato de sangramento profuso, cólicas e eliminação de tecidos é 
comum. 
❖ As pacientes devem ser instruídas a trazer os tecidos 
eliminados, onde pode haver uma gestação completa que 
deve ser diferenciada de coágulos de sangue ou um molde de 
decídua. 
 
USG -> “útero vazio” é indicação certa de abortamento completo. 
Ecos intrauterinos centrais e escassos/moderados podem 
representar coágulos sanguíneos, decídua, glândulas endometriais 
e placenta. 
 
ABORTAMENTO INCOMPLETO 
Está relacionado com a eliminação parcial do ovo, que causa 
hemorragia persistente e é terreno propício à infecção. É comum 
após 8 semanas, quando as vilosidades coriônicas ficam aderidas ao 
útero. Expulsa o concepto e permanece a placenta/restos. 
Nos abortamentos tardios, a paciente consegue distinguir páreas e 
o concepto e, geralmente, informa a eliminação apenas do feto. 
 
O sangramento não cessa, é intermitente, pode ser intenso, e 
ocorre porque os restos ovulares impedem a contração uterina 
adequada. As cólicas persistem. 
O útero, amolecido, tem volume aumentado, mas o escoamento do 
líquido amniótico e, comumente, do feto reduz suas dimensões, 
que ano são as previstas pela IG. O colo está entreaberto. 
É a forma clínica mais frequente. O diagnóstico é eminentemente 
clínico, geralmente caracterizado por meio da sintomatologia 
esboçada. 
USG -> massa focal ecogênica caracteriza o diagnóstico de restos 
ovulares. 
 
ABORTAMENTO INFECTADO 
Sucede, quase sempre, à interrupção provocada em más condições 
técnicas, mas esta não é a sua única origem. Espontâneo ou 
intencional, há sempre antecedentes que a anamnese esclarece: 
❖ Abortamento incompleto. 
❖ Manipulação instrumental cavitária. 
❖ Introdução de sondas, laminárias, soluções diversas. 
Tanto no abortamento espontâneo como no induzido, 
microrganismos podem invadir os tecidos miometriais, causando 
parametrite, peritonite e septicemia. A maioria das bactérias que 
causam aborto infectado são parte da flora vaginal normal. 
❖ São especialmente preocupantes as infecções necrosantes 
graves e a síndrome do choque tóxico causada por 
estreptococos do grupo A – S. pyogenes. 
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
A anamnese tem valor muito grande na definição diagnóstica ao 
identificar na história o episódio provocador. O contexto clínico é 
multifacetário e a sintomatologia está na dependência direta do 
grau de evolução da entidade patológica em epígrafe. 
O sangramento, em geral, não é profuso. Costuma se manifestar 
por sangue aguado, escuro, tipo “lavado de carne”, 
costumeiramente com odor fétido. 
A classificação clínica mais utilizada é feita em 3 formas: 
I – Endo(mio)metrite -> é o tipo mais comum. A infecção é limitada 
ao conteúdo da cavidade uterina, à decídua e, provavelmente, ao 
miométrio. A sintomatologia é semelhante à do abortamento 
completo/incompleto. 
❖ A elevação térmica é pequena (pouco acima de 38ºC), e o 
estado geral é bom; as dores são discretas. 
❖ Não há sinais de irritação peritoneal, e tanto a palpação do 
abdome como o toque vaginal são tolerados. 
❖ Hemorragia escassa é regra. 
II – Pelveperitonite -> por conta da virulência do microrganismo e 
do terreno, a infecção progride, agora localizada no miométrio, nos 
paramétrios e anexos, comprometendo o peritônio pélvico. 
❖ Hemorragia não é um sinal relevante -> o sangue escorre 
mesclado a líquido sanioso, cujo odor é fecalóide, com 
presença de anaeróbios. 
❖ A temperatura está em torno de 39ºC, e o estado geral está 
afetado (taquicardia, desidratação, paresia intestinal e 
anemia). 
❖ As dores são constantes e espontâneas. 
❖ A defesa abdominal está limitada ao hipogástrio e não se 
estende ao andar superior do abdome. 
Nessa classificação, o exame pélvico é praticamente impossível, tal 
a dor despertada. Nota-se útero amolecido, mobilidade reduzida e 
paramétrios empastados. O colo costuma estar entreaberto. 
III – Peritonite -> forma extremamente grave da infecção 
generalizada. As condições da genitália repetem as da forma 
anterior. Há peritonite, septicemia e choque séptico, decorrentes 
do acometimento por Gram-negativos (E. coli), mas também de 
bacteroides e Clostridium. 
❖ Temperatura está elevada, pulso rápido, filiforme, hipotensão, 
abdome distendido, desidratação acentuada, oligúria e 
icterícia. 
❖ Em outras pacientes, há endocardite, miocardite e 
subsequente falência do órgão. 
❖ Tromboflebite pélvica e embolia pulmonar podem ser 
encontradas. 
❖ São comuns abscessos no fundo de saco posterior, entre as 
alças e o epíploo, retroperitoneais, sub-hepáticos e 
subdiafragmáticos. 
 
 
ABORTAMENTO RETIDO 
O útero retém o ovo morto por dias/semanas. Após a morte fetal, 
pode ou não haver sangramento vaginal. O útero mantém-se 
estacionário e pode até diminuir. 
USG -> não exibe BCF após o embrião ter atingido > ou igual 7mm 
ou se o SG for > ou igual 25mm e o embrião estiver ausente. 
 
Chama-se ovo anembrionado o tipo de abortamento retido no qual 
a USG não identifica o embrião, estando o SG > ou igual a 25mm. 
 
❖ O diagnóstico definitivo de abortamento retido no qual a USG 
não identifica o embrião deve ser sempre confirmado por duas 
USG espaçadas de 7-10 dias. 
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
ABORTAMENTO HABITUAL OU RECORRENTE 
É definido como a perda de 2 ou mais gestações. Afeta cerca de 5% 
dos casais tentando conceber. A idade materna e o número de 
abortamentos anteriores são 2 fatores de risco independentes para 
uma nova interrupção. 
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO 
No Brasil, a técnica farmacológica para tratamento do abortamento 
é o Misoprostol, o qual tem como apresentação comprimidos para 
uso vaginal de 25, 100 e 200mcg, devendo ser utilizado apenas em 
contexto hospitalar. 
As vantagens do seu uso são: 
❖ Ausência de possibilidade de perfuração uterina e formação de 
sinéquias. 
❖ Redução dos riscos decorrentes da dilatação do colo. 
❖ Eliminação do risco anestésico. 
! Vale ressaltar que o uso do Misoprostol deve ser feito com base no 
tamanho uterino e não com base na IG. 
 
TRATAMENTO MECÂNICO 
A interrupção da gestação pode ser realizada por diversos métodos 
cirúrgicos. Na ausência de doença clínica materna grave, os 
procedimentos de abortamento não requerem hospitalização. 
❖ Porém, instalações cirúrgicas ambulatoriais devem poder 
fornecer reanimação de emergência e transferência imediata 
para um hospital. 
PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO 
A evacuação cirúrgica é realizada por via transvaginal através de um 
colo uterino adequadamente dilatado -> o amadurecimento cervical 
pré-operatório é preferido por muitos profissionais, geralmente 
associado a menor necessidade de dilatação cervical. 
Para o amadurecimento, os dilatadores higroscópicos (dilatadores 
osmóticos), são dispositivos que absorvem a água dos tecidos 
circundantes e se expandem para dilatar gradualmente o canal 
endocervical. 
Os dilatadores existem de 2 tipos (Laminaria e Dilapan-S), e cada 
tipo expande o diâmetrofinal de 3-4x o seu estado seco. Porém, o 
Dilapan-S alcança esse objetivo em 4-6hs, mais rápido que as 
Laminarias. 
 
A - Laminária. B – Dilapan-S. 
No caso de dilatadores higroscópicos, a inserção pouco profunda 
gera dilatação insuficiente do orifício interno ou expulsão do 
dilatador, mas a colocação profunda demais causa risco de 
deslocamento para dentro da cavidade uterina. Assim, a quantidade 
de esponjas e dilatadores inseridos deve ser cuidadosamente 
contabilizada e registrada no prontuário do paciente. 
 
Após a inserção dos dilatadores, a colocação de várias esponjas de 
gaze no orifício externo ajuda a evitar a expulsão dos dilatadores. 
As pacientes podem deambular, urinar ou evacuar sem limitação. 
Em vez dos dilatadores higroscópicos, o Misoprostol costuma ser 
usado para o amadurecimento cervical. A dose típica é de 400μg 
administrados por via sublingual, bucal ou colocados no fórnice 
vaginal posterior 3-4hs antes da cirurgia. 
❖ Outro agente efetivo para o amadurecimento cervical é o 
antiprogestágeno mifepristona, 200mg administrados por via 
oral 24-48hs antes da cirurgia. 
Os dilatadores higroscópicos aumentam a duração do 
procedimento e podem ser desconfortáveis, ao passo que o 
Misoprostol introduz os efeitos colaterais de febre, sangramento e 
condições gastrintestinais. 
ASPIRAÇÃO À VÁCUO 
Também chamada de dilatação ou curetagem por aspiração, é uma 
abordagem transcervical ao abortamento cirúrgico. 
 
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
O colo uterino é inicialmente dilatado e, depois, os produtos da 
concepção são evacuados. Para isso, uma cânula rígida é acoplada 
a uma fonte elétrica de vácuo ou a uma seringa manual de 60mL 
como fonte de vácuo -> esses procedimentos são, respectivamente, 
a aspiração a vácuo elétrica (AVE) e a aspiração manual intrauterina 
(AMU). 
A dilatação e curetagem (D&C), na qual o conteúdo é 
mecanicamente raspado somente com uma cureta cortante, não é 
atualmente recomendada para a evacuação da gestação devido à 
maior perda sanguínea, dor e duração do procedimento. 
Depois do exame bimanual para determinar o tamanho e a 
orientação do útero, insere-se um espéculo e aplica-se 
iodopovidona ou uma solução equivalente com um swab no colo 
uterino. 
❖ O lábio cervical anterior é tracionado com uma pinça com 
dentes. 
O colo uterino, a vagina e o útero são profusamente inervados por 
nervos do plexo de Frankenhäuser, situado no interior do tecido 
conectivo lateral aos ligamentos uterossacros e cardinais. Assim, a 
aspiração a vácuo exige a administração IV/oral de sedativos ou 
analgésicos, e alguns acrescentam um bloqueio paracervical ou 
intracervical com lidocaína. Outras opções são a anestesia geral ou 
regional. 
A sondagem uterina mede a profundidade e a inclinação da 
cavidade uterina (histerometria) antes da inserção de outro 
instrumento. Se necessário, pode-se aumentar a dilatação do colo 
uterino com dilatadores Hegar, Hank ou Pratt até que uma cânula 
de aspiração de diâmetro apropriado possa ser inserida. 
❖ O grau de dilatação cervical necessária se aproxima da IG. 
Com a dilatação, o 4º e o 5º dedos da mão que introduz o dilatador 
devem permanecer sobre o períneo e as nádegas enquanto o 
instrumento é introduzido por meio do orifício interno -> essa 
técnica minimiza a expansão forçada e oferece proteção contra 
perfuração uterina. 
 
 
Após a dilatação, na maioria dos procedimentos de aspiração no 1º 
trimestre é apropriada uma cânula de Karman de 8-12mm. 
❖ Cânulas pequenas acarretam o risco de deixar tecidos 
intrauterinos retidos depois do procedimento, enquanto 
cânulas grandes estão associadas ao risco de lesão cervical, 
além de causarem mais desconforto. 
Para começar, a cânula é lentamente movida em direção ao fundo 
uterino até que se encontre resistência. Então, a aspiração é 
ativada. A cânula é gradualmente puxada de volta em direção ao 
orifício, sendo girada lenta e circunferencialmente e para cobrir 
toda a superfície da cavidade uterina. 
 
O movimento é repetido até que não haja mais aspiração de 
tecidos. Uma curetagem delicada pode ser feita em seguida para 
remover quaisquer fragmentos de tecido remanescentes. 
 
LEGISLAÇÃO DO ABORTO 
O aborto é autorizado em 3 casos no Brasil: 
❖ Gravidez decorrente de estupro. 
❖ Risco à vida da mulher. 
❖ Anencefalia do feto. 
Nas demais situações, a interrupção da gravidez é considerada 
crime, de acordo com o Código Penal. A legislação estabelece que a 
mulher que provocar um aborto em si mesma pode ser condenada 
a pena de 1-3 anos de prisão. 
Foi o Código Penal que fixou a possibilidade de aborto legal em caso 
de estupro. Já a interrupção da gravidez em caso de anencefalia do 
feto só foi permitida a partir de 2012, após decisão do STF. 
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA 
 
❖ Mulheres que atendem a esses critérios, porém, têm 
enfrentado obstáculos para ter acesso ao aborto legal no país. 
Código Penal -> decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 - 
dos crimes contra a vida: 
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento: 
❖ Art. 124 -> Provocar aborto em si mesma ou consentir que 
outrem lhe provoque. 
❖ Pena: detenção, de 1-3 anos. 
Aborto provocado por terceiro: 
❖ Art. 125 -> Provocar aborto, sem o consentimento da 
gestante. 
❖ Pena - reclusão, de 3-10 anos. 
❖ Art. 126 -> Provocar aborto com o consentimento da gestante. 
❖ Pena - reclusão, de 1-4 anos. 
Parágrafo único: Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante 
não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o 
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou 
violência. 
ABORTO NECESSÁRIO 
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; aborto no caso 
de gravidez resultante de estupro. 
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de 
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu 
representante legal. 
COMO FAZER UM ABORTO LEGAL? 
O Código Penal não exige qualquer documento para interromper 
uma gravidez decorrente de estupro, basta o consentimento da 
mulher ou de seu responsável legal. 
❖ Na prática, porém, as mulheres enfrentam obstáculos para ter 
acesso ao aborto legal. Há relatos de hospitais que exigem 
apresentação de BO (boletim de ocorrência) ou exame de 
corpo de delito. 
Em casos de anencefalia do feto, basta um laudo médico atestando 
a condição. 
O HOSPITAL PODE INFORMAR A POLÍCIA SOBRE O ABORTO 
JUSTIFICADO POR ESTUPRO? 
Embora o Código Penal não estabeleça necessidade de aviso, uma 
portaria publicada em 2020 pelo MS orienta que médicos informem 
a polícia caso atendam mulheres que buscam interromper a 
gestação decorrente de estupro. 
 
! A portaria, que não tem força de lei, foi muito criticada por 
especialistas, que argumentam que a medida viola a previsão de 
sigilo em atendimentos de saúde e aumenta as chances de a mulher 
recorrer ao aborto ilegal. 
O MÉDICO PODE SE NEGAR A REALIZAR UM ABORTO LEGAL? 
Se alegar objeção de consciência, sim. De acordo com o Código de 
Ética Médica, o profissional pode "recusar a realização de atos 
médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos 
ditames de sua consciência”. 
Em alguns casos, porém, não cabe a objeção de consciência: 
❖ Quando há risco de vida para a mulher. 
❖ Quando não há outro médico que possa fazer o procedimento 
garantido por lei. 
❖ No atendimento de complicações derivadas de aborto 
inseguro, por se tratar de caso de urgência.

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