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Resumo do bloco I de farmaco III - Gabriela Guntzel

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1 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
❖ Resumo elaborado com base nas aulas e slides apresentados em 2021/1, nos livros “Rang & Dale - 
Farmacologia”, “As Bases Farmacológicas da Terapêutica De Goodman e Gilman - Brunton”, 
“Farmacologia Básica e Clínica – Katzung”, “Farmacologia Ilustrada – Karen Whalen”, “Farmacologia 
Clínica e Terapêutica – Fuchs”, “Princípios De Farmacologia: A Base Fisiopatológica – Golan” e 
“Farmacologia Clínica – Rosane Gomez”, nos materiais do Ministério da Saúde e no site “Medicplus”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
SUMÁRIO 
Aula.................................................................................................................................Página 
Tratamento farmacológico anticâncer.....................................................................................3 
Antirretrovirais...................................................................................................................... 19 
Antifúngicos.......................................................................................................................... 36 
Antiparkinsonianos............................................................................................................... 45 
Anticonvulsivantes................................................................................................................ 56 
Tratamento do diabetes melito ............................................................................................ 69 
Tratamento da obesidade..................................................................................................... 81 
Antitrombóticos.................................................................................................................... 88 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → TRATAMENTO FARMACOLÓGICO ANTICÂNCER 
» Introdução 
O câncer caracteriza-se pela multiplicação descontrolada e a disseminação de formas anormais de 
células do próprio corpo. Uma célula normal torna-se cancerosa em decorrência de uma ou, mais 
frequentemente, várias mutações em seu DNA, que podem ser herdadas ou adquiridas, geralmente por 
meio da exposição a vírus ou substâncias cancerígenas (p. ex., produtos que contêm tabaco, radiação 
ultravioleta, amianto). Um bom exemplo é o câncer de mama: mulheres que herdam uma única cópia 
defeituosa dos genes de supressão tumoral BRCA1 e BRCA2 apresentam risco maior para o desenvolvimento 
do câncer de mama. 
Entretanto, a carcinogênese é um processo complexo de múltiplos estágios, envolvendo, em geral, 
mais de uma alteração genética, bem como outros fatores epigenéticos (hormonais, cocarcinogênicos e 
efeitos de promoção tumoral) que, por si sós, não levam ao câncer, mas aumentam a probabilidade de que 
mutações genéticas terminem por resultar nele. Tais mutações acumulam-se e levam à “instabilidade 
genômica”, que é um pilar da carcinogênese. Existem duas categorias principais de alterações genéticas 
importantes: 
 
1. A ativação de proto-oncogenes a oncogenes: Proto-oncogenes são genes que normalmente controlam 
divisão, apoptose e diferenciação celular, mas que podem ser convertidos por vírus ou carcinógenos em 
oncogenes, os quais induzem alterações malignas. 
 
2. A inativação de genes de supressão tumoral: As células normais contêm genes que suprimem alterações 
malignas – denominados genes de supressão tumoral (antioncogenes) –, e mutações nesses genes estão 
comumente associadas a vários cânceres diferentes. A perda de função dos genes de supressão tumoral 
pode ser um evento crítico na carcinogênese. 
 
 
4 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Nos últimos anos, descobriram-se diversos 
genes associados ao câncer. Cada gene do câncer tem 
uma função específica, cuja desregulação contribui 
para a origem ou a progressão da malignidade. É 
melhor, portanto, considerar os genes relacionados ao 
câncer no contexto de várias alterações fundamentais 
na fisiologia celular, as chamadas características do 
câncer, que em conjunto ditam o fenótipo maligno. Seis 
delas são ilustradas na figura ao lado: 
• Autossuficiência nos sinais de crescimento 
• Insensibilidade aos sinais inibidores de crescimento 
• Evasão da morte celular 
• Potencial ilimitado de replicação 
• Desenvolvimento de angiogênese sustentada 
• Capacidade de invadir e metastatizar 
 
 
 
Atualmente, ainda se acrescenta a essa lista duas características “emergentes” de câncer, que são 
reprogramação do metabolismo de energia e evasão ao sistema imune, e duas características 
capacitantes, que são instabilidade genômica e inflamação promotora de tumor. 
» Princípios do tratamento farmacológico anticâncer 
Existem três abordagens principais para o tratamento do câncer estabelecido – excisão cirúrgica, 
irradiação e tratamento farmacológico (ainda muitas vezes referido como quimioterapia) – e o valor 
relativo de cada uma dessas abordagens depende da doença e de seu estágio de desenvolvimento. 
► Objetivos do tratamento: 
O principal objetivo da quimioterapia é a cura. A verdadeira cura exige a erradicação de cada célula 
neoplásica. Se a cura não é alcançável, o objetivo passa a ser o controle da doença (interromper o 
crescimento e a difusão do câncer) para prolongar a vida e manter sua qualidade. 
► Diferença entre quimioterapia primária, neoadjuvante e adjuvante: 
Na atualidade, a quimioterapia é usada em três situações clínicas principais: (1) tratamento de 
indução primária para a doença avançada ou para cânceres para os quais não existe outra abordagem 
efetiva; (2) tratamento neoadjuvante para pacientes que apresentam doença localizada, para os quais as 
formas locais de terapia, como cirurgia, radioterapia ou ambas, não se mostram adequadas; e (3) 
tratamento adjuvante para métodos locais de tratamento, incluindo cirurgia, radioterapia ou ambas. 
 
• Quimioterapia primária: A quimioterapia primária refere-se à quimioterapia administrada como 
tratamento primário a pacientes que apresentam câncer avançado para os quais não existe tratamento 
alternativo. A quimioterapia de indução primária tem sido a principal conduta no tratamento de pacientes 
com doença metastática avançada, e, na maioria dos casos, tem por objetivo avaliar os sintomas 
relacionados com o tumor, melhorar a qualidade global de vida e prolongar o tempo de progressão do 
tumor. 
 
 
5 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
• Quimioterapia neoadjuvante: Nesse caso, a quimioterapia é administrada ANTES da realização da 
cirurgia. A meta da abordagem neoadjuvante consiste em reduzir o tamanho do tumor primário, de modo 
que a ressecção cirúrgica possa ser realizada com mais facilidade. 
 
• Quimioterapia adjuvante: Nesse caso, a quimioterapia é administrada DEPOIS da realização da cirurgia, 
e o seu objetivo consiste em reduzir a incidência de recidiva local e sistêmica e em melhorar a sobrevida 
global dos pacientes. 
► Relação do ciclo celular com os fármacos anticâncer: 
A compreensão do ciclo celular é essencial para o uso racional dos fármacos antineoplásicos. 
 
 
Muitos agentes citotóxicos atuam através de lesão do DNA. Assim, sua toxicidade é maior durante 
a fase S, a fase de síntese de DNA do ciclo celular. Outros agentes, como os alcaloides da vinca e os taxanos, 
bloqueiam a formação de um fuso mitótico funcional na fase M. Logo, esses agentes são mais efetivos 
contra células que estão entrando na mitose. Por conseguinte, os cânceres humanos mais suscetíveis à 
quimioterapia são os que exibem uma alta porcentagem de células em proliferação. Infelizmente, como 
consequência, os tecidos normais que proliferam rapidamente (medula óssea, folículos pilosos e epitélio 
intestinal) também são suscetíveis à lesão por agentes citotóxicos. 
Outra coisa importante de senotar é que as células em repouso, na fase G0, embora não se dividam, 
têm potencial para fazê-lo. E, dessa forma, a sua existência dificulta a quimioterapia do câncer, visto que 
essas células não são muito sensíveis aos fármacos citotóxicos e são passíveis de reentrar no ciclo celular 
depois da quimioterapia. 
► Efeitos adversos gerais dos fármacos anticâncer: 
Como colocado posteriormente, à medida que o alvo principal dos fármacos anticâncer é a divisão 
celular, eles afetarão todos os tecidos normais em divisão rápida, e assim é provável que produzam, em 
maior ou menor grau, os seguintes efeitos tóxicos gerais: 
• Toxicidade à medula óssea (mielossupressão), com queda na produção de leucócitos e, portanto, queda 
na resistência a infecções 
• Comprometimento da cicatrização 
• Perda de pelos/cabelos (alopecia) 
• Dano ao epitélio gastrointestinal 
• Náuseas e vômitos 
• Depressão do crescimento em crianças 
• Esterilidade 
• Teratogenicidade 
• Fase G1: É a fase que precede a síntese de DNA. 
• Fase S: É a fase de síntese de DNA. 
• Fase G2: É o intervalo após o término da 
síntese de DNA. 
• Fase M: É a fase mitótica durante a qual a 
célula, que contém um duplo complemento 
de DNA, divide-se em duas células-filhas. 
• Fase G0: Existe a probabilidade de a célula passar 
para um estado quiescente e permanecer imóvel 
por longos períodos de tempo. 
 
6 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
• Carcinogenicidade – visto que muitos fármacos citotóxicos são mutagênicos 
► Resistência a fármacos anticâncer: 
Um problema fundamental na quimioterapia do câncer consiste no desenvolvimento de resistência 
celular aos fármacos. Algumas células neoplásicas (p. ex., melanoma) são inerentemente resistentes à 
maioria dos fármacos anticâncer. Outros tipos tumorais podem adquirir resistência aos efeitos citotóxicos 
de um fármaco por mutação, particularmente após administração prolongada de doses subótimas. 
► Princípios farmacocinéticos e farmacodinâmicos da quimioterapia do câncer: 
 A FARMACOCINÉTICA estuda a atuação do 
 quimioterápico no interior do organismo a partir 
dos parâmetros de velocidade de absorção, 
distribuição, metabolização e eliminação do fármaco. 
Após a administração de determinada dose de um 
quimioterápico, sua concentração plasmática 
aumenta rapidamente, até atingir a concentração 
sérica máxima; depois disso, na medida em que se 
distribui entre os tecidos e é eliminado ou 
metabolizado, sua concentração no sangue vai 
diminuindo progressivamente até se tornar nula. A representação gráfica da relação concentração sérica 
do fármaco com o tempo (horas) é dada pela curva mostrada acima. 
Já a FARMACODINÂMICA relaciona as concentrações do fármaco com sua atividade antineoplásica 
e a sua toxicidade. 
Atividade antineoplásica: Fenômeno de morte logarítmica 
Os princípios básicos da cinética do ciclo celular foram inicialmente estabelecidos usando-se a 
leucemia L1210 murina como modelo de sistema experimental. A L1210 é uma leucemia de crescimento 
rápido, com alta porcentagem de células que sintetizam DNA. Como a leucemia L1210 apresenta uma fração 
de crescimento de 100% (i.e., todas as células estão ativamente progredindo pelo ciclo celular), seu ciclo de 
vida é consistente e previsível. Com base no modelo da L1210 murina, observou-se que a destruição das 
células cancerosas pelos quimioterápicos segue uma cinética de primeira ordem, ou seja, uma dada dose 
do fármaco destrói uma fração constante de células. A expressão “morte logarítmica” é usada para 
descrever esse fenômeno. 
Por exemplo, o diagnóstico de leucemia, em geral, é feito quando há 109 células leucêmicas (total). 
Consequentemente, se o tratamento leva à morte de 99,999%, então 0,001% de 109 células (ou 104 células) 
vão permanecer. Isso é definido como uma morte “log 5” (redução de 105 células). Nesse ponto, o paciente 
se torna assintomático, ou seja, está em remissão. Para a maioria das infecções bacterianas, uma redução 
“log 5” (100.000 vezes) no número de microrganismos resulta em cura, porque o sistema imune consegue 
destruir as células bacterianas restantes. Contudo, as células tumorais não são eliminadas facilmente, e é 
necessário tratamento adicional para eliminar totalmente a população de células leucêmicas. 
 A partir desse fenômeno, uma regra fundamental da quimioterapia foi estabelecida: quanto menor 
o tumor, menos doses de quimioterapia são necessárias. 
Na figura da próxima página, são apresentadas três abordagens alternativas de tratamento 
farmacológico, comparadas com a evolução do crescimento tumoral quando não se administra qualquer 
tratamento (linha tracejada). No protocolo esquematizado na parte superior do gráfico, o tratamento 
(indicado pelas setas) é administrado com pouca frequência, e o resultado consiste em prolongamento 
 
7 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
da sobrevida, porém com recidivas dos sintomas entre os 
ciclos de tratamento e morte eventual do paciente. O 
tratamento por poliquimioterapia, esquematizado no meio 
do gráfico, é instituído em uma fase mais precoce e de modo 
mais intensivo. A destruição das células tumorais ultrapassa 
seu novo crescimento, não há desenvolvimento de 
resistência a fármacos, e obtém-se uma “cura”. Nesse 
exemplo, o tratamento foi mantido por muito tempo após o 
desaparecimento de todas as evidências clínicas de câncer (1 
a 3 anos). Essa abordagem foi considerada eficaz no 
tratamento da leucemia aguda infantil, dos cânceres 
testiculares e do linfoma Hodgkin. No tratamento 
esquematizado na parte inferior do gráfico, recorreu-se à 
cirurgia precoce para remover o tumor primário, e 
administrou-se quimioterapia adjuvante intensiva por um tempo suficiente (até um ano) para erradicar 
as células tumorais remanescentes que formavam as micrometástases ocultas. 
 
Toxicidade dos fármacos antineoplásicos 
As potenciais consequências farmacodinâmicas do uso de um fármaco pelo paciente podem ser 
descritas por um gráfico onde a intensidade do efeito do fármaco é traçada em relação à dose do fármaco. 
Infelizmente, a maioria dos medicamentos usados na quimioterapia anticâncer frequentemente produzem 
toxicidade em doses próximas às necessárias para um efeito terapêutico (isto é, possuem uma estreita 
janela terapêutica). 
 
 
Para o tratamento paliativo (quando não há chance de cura), deve-se manter a toxicidade dentro 
de limites aceitáveis. Portanto, a otimização da dose deve se concentrar no gerenciamento da toxicidade. 
Em contraste, para a terapia curativa (quando há chance de cura), eventos tóxicos mais graves podem ser 
aceitos, desde que o medicamento possa atingir seu efeito terapêutico máximo. Nesse caso, a otimização 
da dose deve se concentrar nos desfechos de eficácia. 
 
Escolha da dose 
 Para alguns agentes antineoplásicos, como a carboplatina, a área abaixo da curva (AUC) geralmente 
é utilizada para calcular a dose de fármaco necessário para cada indivíduo, levando em conta sexo, idade, 
peso e função renal. 
Exemplo: A dose de carboplatina para o tratamento de José é de 5 AUC. 
 
8 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Já para a maioria dos agentes antineoplásicos restantes, a dose de fármaco necessária é calculada 
pela superfície corporal do indivíduo. 
 
𝑆𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑐𝑜𝑟𝑝𝑜𝑟𝑎𝑙 = (
𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑒𝑚 𝑐𝑚 𝑥 𝑝𝑒𝑠𝑜 𝑒𝑚 𝑘𝑔
3600
)
1/2
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀ 
 
Exemplo: Tendo em vista que a dose de doxorrubicina para o tratamento de linfoma de Hodgkin é 25mg/m2 
e que Maria possui 65 kg e 1,63 m (logo, uma superfície corporal de 1,7 m2), a dose para Maria é de 42,5 mg. 
» Classificação do tratamento farmacológico anticâncer 
 Os principais fármacos anticâncer podem ser divididos nas seguintes categorias gerais: 
• Fármacos citotóxicos (ou quimioterápicos) 
⤷ Agentes alquilantes e substâncias relacionadas, que formam ligações covalentes com o DNA e, 
assim, impedem sua replicação. 
⤷ Antimetabólitos,que bloqueiam ou subvertem uma ou mais vias metabólicas envolvidas na síntese 
do DNA. 
⤷Antibióticos citotóxicos, ou seja, substâncias de origem microbiana que evitam a divisão celular nos 
mamíferos. 
⤷ Derivados de plantas (p. ex., alcaloides da vinca, taxanos, campotecinas), sendo que a maioria desses 
agentes afeta de forma específica a função microtubular e, portanto, a formação do fuso mitótico 
• Hormônios e seus antagonistas 
• Terapias alvo 
• Outros agentes 
» Fármacos citotóxicos ou quimioterápicos 
► Agentes alquilantes e substâncias relacionadas: 
Agentes alquilantes e substâncias relacionadas 
contêm grupos químicos que conseguem formar ligações 
covalentes com substâncias nucleofílicas particulares na 
célula (como o DNA). A alquilação do DNA no interior do 
núcleo provavelmente representa a principal interação que 
leva à morte celular. O principal local de alquilação dentro do 
DNA é a posição N7 da guanina; entretanto, outras bases 
também são alquiladas, ainda que em grau menor, incluindo 
N1 e N3 da adenina, N3 da citosina e O6 da guanina, bem 
como átomos de fosfato e proteínas associadas ao DNA. Essas 
interações podem ocorrer em uma única fita ou em ambas 
as fitas de DNA, por meio de ligação cruzada, visto que os 
principais fármacos alquilantes são, em sua maioria, 
bifuncionais, apresentando dois grupos reativos. 
 
 
 
Os agentes alquilantes estão entre os mais empregados de todos os fármacos anticâncer. As 
principais classes e seus principais representantes estão citados abaixo. 
 
9 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
→ Mostardas nitrogenadas: 
• Ciclofosfamida 
• Ifosfamida 
• Estramustina 
• Melfalana 
• Clorambucila 
• Bendamustina 
→ Nitrosureias: 
• Lomustina 
• Carmustina 
→ Bussulfano 
→ Compostos de platina: 
• Cisplatina 
• Oxaliplatina 
• Carboplatina 
→ Agentes metilantes de DNA (alquilantes “atípicos”): 
• Dacarbazina 
• Procarbazina 
• Bendamustina 
• Temozolamida 
Efeitos adversos 
Todos os agentes alquilantes deprimem a função da medula óssea e causam perda de cabelo, 
diarreia, náusea e vômito, depressão da gametogênese (levando à esterilidade) e aumento do risco de 
doença maligna secundária com o uso prolongado. 
Infelizmente, a resistência a determinado agente alquilante desenvolve-se rapidamente quando o 
fármaco é utilizado como monoterapia. Isto ocorre principalmente por aumento nas atividades das vias de 
reparo do DNA, corrigindo os erros causados pelos alquilantes. 
► Antimetabólitos: 
O desenvolvimento de fármacos com ações sobre o metabolismo intermediário das células em 
proliferação tem sido importante no combate ao câncer. As principais classes e seus principais 
representantes estão citados abaixo. 
→ Antagonistas do folato: Folatos são essenciais para a síntese de nucleotídios purínicos e timidilato, os 
quais, por sua vez, são vitais para a síntese de DNA e a divisão celular. Assim, a principal ação dos 
antagonistas do folato é interferir na síntese de timidilato. 
Representantes: 
 
• Metotrexato (MTX): O MTX é estruturalmente relacionado ao ácido fólico e atua como um antagonista 
dessa vitamina, inibindo a di-hidrofolato redutase (DHFR), enzima que converte o ácido fólico na sua forma 
de coenzima ativa, o ácido tetra-hidrofólico (FH4). 
 
• Pemetrexed: É um anti-metabólito com mecanismo similar ao do MTX. Contudo, além de inibir a DHFR, 
ele também inibe a timidilato sintetase e outras enzimas envolvidas no metabolismo do folato e na síntese 
de DNA. 
 
10 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
→ Fluoropirimidinas: 
• 5-fluorouracil: A fluoruracila, um análogo da uracila, também interfere na síntese de 2’-desoxitimidilato 
(dTMP). É convertida em um nucleotídio “falso”, o monofosfato de fluorodesoxiuridina (FdUMP), que 
interage com a timidilato sintetase, mas não pode ser convertido em dTMP. O resultado é a inibição do 
DNA. 
 
• Capecitabina: É metabolizada para fluoruracila e, logo, possui o mesmo mecanismo de ação desta. 
→ Análogos de desoxicitidina: 
• Citarabina (cistosina arabinosídeo [ara-C]): A citarabina é um análogo do nucleosídio de ocorrência 
natural 2’-desoxicitidina (envolvido na formação da base nitrogenada citosina). O fármaco entra na célula-
alvo e sofre as mesmas reações de fosforilação que o nucleosídio endógeno, produzindo trisfosfato de 
citosina arabinosídeo, que inibe a DNA polimerase. 
 
• Gencitabina 
→ Antagonistas de purina: 
• Fludarabina: A fludarabina é metabolizada para trisfosfato e inibe a síntese de DNA por ações 
semelhantes às da citarabina. 
 
• Pentostatina: A pentostatina apresenta um mecanismo de ação diferente. Inibe a adenosina desaminase, 
a enzima que transforma adenosina em inosina. Tal ação interfere em vias críticas no metabolismo da 
purina e pode ter efeitos significativos na proliferação celular. 
 
• Cladribina 
 
• 6-mercaptopurina (6-MP) 
 
• 6-tioguanina (6-TG) 
► Antibióticos citotóxicos: 
A triagem de produtos microbianos levou à descoberta de diversos compostos inibidores do 
crescimento, que demonstraram ser clinicamente úteis na quimioterapia do câncer. Muitos desses 
antibióticos ligam-se ao DNA por sua intercalação entre bases específicas e bloqueiam a síntese de RNA, 
DNA ou ambos, produzem clivagem das fitas de DNA e interferem na replicação celular. 
→ Antraciclinas: As antraciclinas exercem sua ação citotóxica por meio de quatro mecanismos principais: 
(1) inibição da topoisomerase II; (2) ligação de alta afinidade ao DNA por intercalação, com consequente 
bloqueio da síntese de DNA e RNA, bem como ruptura das fitas de DNA; (3) produção de radicais livres de 
semiquinona e radicais livres de oxigênio, por um processo redutor mediado por enzima e dependente de 
ferro; e (4) ligação às membranas celulares, alterando a fluidez e o transporte de íons. 
Representantes: 
• Doxorrubicina 
• Idarrubicina 
• Daunorrubicina 
• Epirrubicina 
• Aclarrubicina 
• Mitoxantrona 
Efeitos adversos: 
O principal efeito tóxico de todas as antraciclinas, que limita sua dose, é a mielossupressão, sendo 
que a neutropenia é mais comumente observada que a trombocitopenia. Em alguns casos, a mucosite é 
 
11 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
limitante da dose. Além disso, foram observadas duas formas de cardiotoxicidade. A forma aguda ocorre 
durante os primeiros 2 a 3 dias e apresenta-se como arritmias e anormalidades na condução, outras 
alterações eletrocardiográficas, pericardite e miocardite. Esta forma é geralmente transitória e, na maioria 
dos casos, é assintomática. A forma crônica resulta em miocardiopatia dilatada associada à insuficiência 
cardíaca dependente da dose. A toxicidade cardíaca crônica parece ser o resultado da produção aumentada 
de radicais no miocárdio. 
→ Dactinomicina 
→ Bleomicina 
→ Mitomicina 
→ Hidroxicarbamida 
► Derivados de plantas: 
Vários produtos vegetais que ocorrem naturalmente exercem potentes efeitos citotóxicos e têm 
aplicação como medicamentos anticancerígenos. Atuam diminuindo o crescimento do tumor, porém não 
tem efeito de matar o tumor. 
 → Alcalóides da vinca: Os alcaloides da vinca derivam da vinca rosa (Catharanthus roseus). Os fármacos 
ligam-se à tubulina e inibem a polimerização em microtúbulos, 
impedindo a formação do fuso nas células em divisão e originando 
a parada na metáfase. Seus efeitos manifestam-se apenas durante 
a mitose. Eles também inibem outras atividades celulares que 
requerem o funcionamento microtubular, como a fagocitose de 
leucócitos e a quimiotaxia, bem como o transporte axonal em 
neurônios. 
 
 
 
Representantes: 
• Vincristina 
 
12 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
• Vinblastina 
• Vindesina 
• Vinorelbina 
→ Taxanos: Os taxanos são derivados de um composto que ocorre naturalmente, 
encontrado na casca da árvore do teixo do Pacífico (Taxus spp.). Esses agentes 
atuam nos microtúbulos, estabilizando-os (na verdade, “congelando-os”)no 
estado polimerizado e alcançando efeito semelhante ao dos alcaloides da vinca. 
 
 
 
 
 
 
Representantes: 
• Paclitaxel 
• Docetaxel 
→ Etoposide: O etoposídeo é um derivado semissintético da podofilotoxina, que é extraída da raiz do 
podófilo (Podophyllum peltatum). O principal modo de ação consiste na inibição da enzima do DNA, a 
topoisomerase II. 
→ Campotecinas: As campotecinas são produtos naturais derivados da árvore Camptotheca acuminata, 
originalmente encontrada na China. Essas substâncias inibem a atividade da topoisomerase I, a enzima-
chave responsável pela quebra e religação das fitas simples de DNA. A inibição da enzima resulta em lesão 
do DNA. 
Exemplos: 
• Irinotecano 
• Topotecano 
» Exemplos de esquemas quimioterápicos 
➔ Tratamento de Linfoma de Hodgkin: 
Antigamente, o tratamento de linfoma de Hodgkin era o MOPP (M, mecloretamina; O, 
oncovin/vincristina; P, procarbazina; e P, prednisona). Na época, este tratamento foi revolucionário, pois 
 
13 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
transformou essa neoplasia em uma doença curável. Note a presença de prednisona nesse esquema: 
linfomas e leucemias com origem em linfócitos quase sempre têm no esquema de tratamento um 
corticoide, que é utilizado como um fármaco citotóxico. 
Atualmente, no entanto, utiliza-se 4 ciclos de ABVD (A, adriamicina/doxorrubicina; B, bleomicina; 
V, vinblastina; e D, dacarbazina). Cada ciclo deve durar 28 dias e devem ser administradas duas doses por 
ciclo. O ABVD é menos tóxico e mais eficaz que o MOPP. 
 
 
 Existem dois tipos de esquemas alternativos: Stanford V (doxorrubicina, vimblastina, mecloretamina, 
vincristina, bleomicina, etoposide, prednisona) semanalmente por 12 semanas ou BEACOPP (bleomicina, 
etoposide, doxorrubicina, ciclofosfamida, vincristina, procarbazina, prednisona) em 8 ciclos. 
➔ Tratamento de Linfoma não Hodgkin: 
Existem vários possíveis tratamentos para os linfomas não Hodgkin, como o CHOP-R (composto por 
ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina, prednisona e rituximab) e o MOPP. 
➔ Leucemia linfoide aguda: 
O tratamento da leucemia linfoide aguda é dividido em duas fases. Na fase inicial, de indução, faz-se 
a administração de um glicocorticóide, vincristina, uma antraciclina e/ou L-asparaginase por 4 a 6 semanas. 
Durante essa fase, conhecida por ser intensa e com altas doses, a maioria das células tumorais serão mortas. 
Todavia, algumas células leucêmicas encontram santuários em tecidos como o sistema nervoso central 
(SNC), onde as limitações de transporte impedem a penetração de certos quimioterápicos. A partir de 
então, inicia-se a segunda fase do tratamento, conhecida como intensificação ou consolidação. Tal fase é 
feita através da administração intratecal de fármacos, para eliminar as células leucêmicas no SNC. 
Geralmente, utiliza-se metrotrexato e citarabina. 
» Hormônios e seus antagonistas 
Os tumores que surgem em tecidos sensíveis a hormônios (p. ex., mama, útero, próstata) podem 
ser hormonodependentes, um efeito relacionado com a presença de receptores de esteroides nas células 
malignas, calibrados pelos receptores presentes nas amostras de biopsias avaliadas. Assim, seu crescimento 
pode ser inibido por agonistas ou antagonistas hormonais, ou por agentes que inibem a síntese do 
hormônio. 
Tais fármacos, por si sós, raramente levam à cura, mas de fato retardam o crescimento do tumor e 
aliviam os sintomas do câncer e, assim, desempenham importante papel no manejo clínico de tumores 
dependentes de hormônios sexuais. 
A
• Adriamicina (doxorrubicina):
• 25 mg/m2, IV, no D1 e no D15
B
• Bleomicina:
• 10 μm/m2, IV, no D1 e no D15
V
• Vinblastina:
• 6 mg/m2, IV, no D1 e no D15
D
• Dacarbazina:
• 375 mg/m2, IV, no D1 e no D15
EFEITOS ADVERSOS: 
◼ Agudos: 
– Mielosupressão 
– Mucosite (adriamicina) 
– Alopecia (adriamicina) 
– Náusea e vômitos 
– Anafilaxia 
– Neuropatia (vinblastina) 
◼ Tardios 
– Cardiotoxicidade (adriamicina) 
– Fibrose pulmonar (bleomicina) 
– Mialgia (vinblastina) 
– Hiperpigmentação (bleomicina) 
 
14 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
► Glicocorticoides: 
Os glicocorticoides têm efeitos inibidores pronunciados na proliferação de linfócitos e são usados 
no tratamento de leucemias linfocítcas e linfomas. Além disso, os glicocorticoides atenuam alguns dos 
efeitos secundários dos fármacos anticâncer, tais como náuseas e vômitos, tornando-os úteis como terapia 
de apoio ao tratamento de outros cânceres, bem como em cuidados paliativos. 
Exemplos: 
• Prednisolona 
• Dexametasona 
► Antiestrógenos: 
 Dentre os fármacos antiestrógenos, existem os antagonistas dos receptores de estrógenos e os 
inibidores da aromatase. 
→ Antagonistas dos receptores de estrógenos: São eficazes em alguns casos de câncer de mama 
hormonodependente e podem desempenhar papel relevante na prevenção desses cânceres. No tecido 
mamário, tais fármacos competem com estrógenos endógenos por receptores de estrógeno e, portanto, 
inibe a transcrição de genes estrógeno-responsivos. 
 
Exemplos: 
• Tamoxifeno 
• Fulvestranto 
 
Efeitos adversos: 
Os efeitos adversos são semelhantes aos sentidos por mulheres depois da menopausa. Os 
potencialmente mais graves incluem eventos hiperplásicos no endométrio, que podem evoluir para 
alterações malignas, e risco de tromboembolia. 
Tratamento contra o câncer prostático 
Tratamento contra o câncer de mama 
 
15 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Efeitos protetores: 
Todavia, o tamoxifeno tem efeitos menos destrutivos devido ao fato de ser um agonista parcial dos 
tipos de receptores de estrógenos encontrados no endométrio, osso e sistema cardiovascular. Também há 
relatos de efeitos cardioprotetores do tamoxifeno, em parte devido à sua capacidade de proteger as 
lipoproteínas de baixa densidade contra o dano oxidativo, ou por inibição da esterificação de colesterol e 
formação de células esponjosas. 
Logo, existem vantagens e desvantagens, e o uso desses agentes deve ser pensando junto aos 
pacientes. 
→ Inibidores da aromatase: A reação da aromatase é responsável pela síntese extrassuprarrenal do 
estrogênio, a partir da androstenediona, que ocorre nos tecidos hepático, adiposo, muscular, cutâneo e 
mamário, incluindo os tumores de mama. A aromatização periférica é uma fonte importante de estrogênio 
na mulher após a menopausa. Assim, os inibidores da aromatase são eficazes no tratamento do câncer de 
mama em mulheres na pós-menopausa (mas não na pré-menopausa), nas quais são um pouco mais 
eficazes do que o tamoxifeno. 
 
Exemplos: 
• Anastrazol 
• Letrozol 
• Exemestano 
► Antiandrógenos: 
Os antagonistas de andrógeno podem ser usados como monoterapia ou em combinação com 
outros agentes para tratar tumores da próstata. 
 
Exemplos: 
• Flutamida 
• Bicalutamida 
• Nilutamida 
• Ciproterona 
► Análogos de GnRH: 
O GnRH normalmente é secretado pelo hipotálamo e estimula a hipófise anterior a secretar os 
hormônios gonadotrópicos: 1) LH (hormônio luteinizante), o estímulo primário para a secreção de 
testosterona pelos testículos; e 2) FSH (hormônio folículo-estimulante), que estimula a secreção de 
estrogênios. Logo, a administração contínua e prolongada de fármacos agonistas de GnRH, que ocupam o 
receptor GnRH na hipófise, leva à sua dessensibilização e, consequentemente, à inibição da liberação de 
FSH e LH. Assim, diminui a síntese de androgênios e estrogênios. No câncer prostático, a resposta à 
leuprolida é equivalente à da orquiectomia, com regressão do tumor e alívio da dor óssea. Além disso, 
esses fármacos têm algum benefício na mulher na pré-menopausa com câncer de mama avançado. 
 
Exemplos: 
• Leuprolida 
• Goserelin 
» Terapias alvo 
O desenvolvimento das terapias direcionadas para alvos no tratamento do câncer é o resultado do 
processo contínuo de descoberta de alterações moleculares que impulsionam a progressão maligna dos 
cânceres humanos.Um número rapidamente crescente de fármacos está sendo desenvolvido para bloquear 
 
16 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
vias oncogênicas específicas que levam a uma desregulação no crescimento e na sobrevida das células 
cancerosas. 
Os receptores dos fatores de crescimento e as moléculas de sinalização distais estão entre os alvos 
mais ativamente explorados na descoberta de fármacos para o câncer. Os fatores que propulsionam o 
crescimento de um câncer consistem em vias oncogênicas nas próprias células malignas (p. ex., receptores 
e cinases mutantes), na reação do microambiente tumoral (p. ex., angiogênese) e no escape das células 
malignas à vigilância imune do hospedeiro. 
Os principais instrumentos direcionados para as vias oncogênicas são anticorpos monoclonais 
(terminam em MABE), que reconhecem antígenos de superfície celular ou liberados (p. ex., receptores de 
fatores de crescimento ou ligantes de receptores), e pequenas moléculas (terminam em IBE), que podem 
entrar nas células e ligar-se a alvos intracelulares, muitos dos quais consistem em cinases. 
 
Exemplos: 
• Erlotinibe, gefitinibe, afatinibe, osimertinibe, 
cetuximabe, panitumumabe e necitumumabe: O 
receptor do fator de crescimento epidérmico 
(EGFR) é essencial para o crescimento e a 
diferenciação das células epiteliais. A ligação do 
ligante ao domínio extracelular dos membros da 
família do EGFR provoca dimerização do receptor e 
estimula a atividade da proteína tirosina-cinase do 
domínio intracelular, resultando em 
autofosforilação de vários resíduos Tyr localizados 
na cauda C-terminal dos monômeros por receptor. 
 
17 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Essas fosfotirosinas fornecem sítios de interação para uma variedade de proteínas adaptadoras, resultando 
em estimulação de vias de sinalização, incluindo as vias MAPK, PI3K/Akt e STAT. Nos cânceres epiteliais, a 
hiperexpressão do EGFR é um achado comum. Assim, fármacos que atuam inibindo a função do EGFR 
revolucionaram o tratamento de diversos cânceres epiteliais. 
• Imatinib (Gleevec®): Uma cinase BCR-ABL desregulada está presente nas células leucêmicas de quase 
todos os pacientes com leucemia mieloide crônica. O imatinib é uma pequena molécula que inibe essa 
cinase e, dessa forma, sua descoberta transformou a leucemia mieloide crônica de uma doença de péssimo 
prognóstico em uma doença de controle crônico. Foi uma grande revolução médica! 
 
• Trastuzumabe (Herceptin®): Em pacientes com 
câncer de mama metastático, a superexpressão do 
fator de crescimento epidermal transmembrana 
humano – receptor proteína 2 (HER2) – é 
encontrado em 25 a 30% dos pacientes. O 
trastuzumabe, um anticorpo monoclonal 
humanizado, atua especificamente no domínio 
extracelular do receptor de crescimento HER2, que 
tem atividade tirosinocinase intrínseca. Assim, inibe 
a hetero e homodimerização e a transdução de 
sinais. Além disso, a ligação do trastuzumabe a 
células que hiperexpressam o HER2 pode induzir 
citotoxicidade dependente de anticorpo e mediada 
por células imunes. 
Resultados preliminares revelam que o 
trastuzumabe, administrado em conjunto com 
quimioterapia-padrão, resulta em uma taxa de 
sobrevida de 1 ano em 79% das pacientes com essa 
forma agressiva de câncer de mama que são virgens 
de tratamento. 
A toxicidade mais grave associada ao uso do trastuzumabe é a insuficiência cardíaca congestiva. A 
toxicidade é agravada se esse fármaco for administrado em combinação com antraciclínicos. Deve haver 
extrema cautela quando o fármaco é administrado em pacientes com disfunção cardíaca preexistente. 
 
18 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
• Ipilimumabe: Aprovado em 2011 para o tratamento do melanoma, o ipilimumabe tem como alvo o 
sistema de checkpoint imune, conhecido como proteína 4 citotóxica associada aos linfócitos T (CTLA-4), 
que é um receptor de superfície celular que deprime o sistema imune para promover autotolerância e 
suprimir a ativação de células T. Os cânceres usam frequentemente esse mecanismo para evadir-se à 
imunodetecção. O ipilimumabe tem sido usado no tratamento do melanoma, com eficácia demonstrada 
no combate aos cânceres de pulmão e pâncreas. Como um efeito adverso, podem surgir doenças 
autoimunes. 
 
» Outros agentes 
► Asparaginase: 
As células tumorais, tais como as da leucemia linfoblástica, perdem a capacidade de sintetizar 
asparagina e, portanto, precisam de uma fonte exógena dessa molécula. Assim, a crisantaspase é uma 
formulação da enzima asparaginase, que converte a asparagina em ácido aspártico e amônia. Dessa forma, 
as células tumorais, sem sua fonte de asparagina, morrem. Por outro lado, as células normais são capazes 
de sintetizar asparagina sem problemas e, assim, são menos suscetíveis à ação citotóxica da asparaginase. 
► Terapias pró-diferenciação: 
→ Tretinoína: 
A tretinoína (uma forma de vitamina A) é um potente indutor da diferenciação nas células 
leucêmicas, sendo usada como adjunto à quimioterapia para induzir à remissão. 
→ Moduladores epigenéticos: 
 
 
 
19 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → ANTIRRETROVIRAIS 
» Introdução 
O vírus da imunodeficiência humana também conhecido por HIV (sigla em inglês para human 
immunodeficiency virus), pertence à família dos retrovírus que têm a sua informação genética codificada 
em ácido ribonucleico (RNA). Ele é o agente causador da doença infectocontagiosa que, na maioria das 
vezes, resulta na deficiência progressiva da imunidade, ocasionando a síndrome da imunodeficiência 
adquirida (AIDS), o estágio final da infecção. 
A capacidade que o HIV tem de penetrar em determinados tipos de células, conhecida como tropismo 
celular do vírus, é determinada pela expressão de receptores específicos do vírus na superfície dessas 
células. Assim, o vírus HIV infecta células que carregam o antígeno CD4 em sua superfície; portanto, além 
das células T CD4+, ele pode infectar monócitos e macrófagos, dentre outras células que expressam CD4. 
Esta preferência por células CD4+ é devida a uma interação de alta afinidade entre a glicoproteína viral 
gp120 e a molécula CD4 na célula hospedeira. No entanto, essa interação por si só não é suficiente para 
entrada viral e infecção produtiva. A expressão de outra molécula da superfície celular, chamada 
coreceptor, é necessária para o acesso do HIV à célula. Os correceptores possíveis são CCR5 e CXCR4. 
Posteriormente, outra glicoproteína viral, a gp41, causa, então, a fusão do envelope viral com a 
membrana plasmática da célula. Uma vez que um vírion do HIV entra em uma célula, as enzimas do 
complexo de nucleoproteína tornam-se ativas e iniciam o ciclo replicativo viral. O núcleo da 
nucleoproteína viral rompe-se, há transcrição reversa do genoma de RNA do HIV para uma forma de DNA 
de cadeia dupla pela transcriptase reversa viral, e o DNA do vírus entra no núcleo. A integrase viral 
também entra no núcleo e catalisa a integração do DNA viral ao genoma da célula hospedeira. O DNA do 
HIV integrado é chamado de provírus. Os provírus podem permanecer transcricionalmente inativos durante 
meses ou anos, com pouca ou nenhuma produção de novas proteínas virais ou vírions, e deste modo a 
infecção pelo HIV de uma célula individual pode permanecer latente. Ou, o provírus integrado é transcrito. 
A síntese de partículas virais infecciosas maduras começa após os transcritos totalmente completos de RNA 
viral serem sintetizados e os genes virais expressos como proteínas. Então, a protease viral cliva as 
poliproteínas virais para produzir as proteínas do vírion e as enzimas virais. A montagem das partículas 
virais infecciosas, a seguir, inicia-se pelo acondicionamento dos transcritos completos de RNA do genoma 
proviral dentro de um complexo de nucleoproteína. Este complexo de nucleoproteína então brota através 
da membrana plasmática, capturando glicoproteínas do hospedeiro como parte de seu envelope.A taxa 
de produção de vírus pode atingir níveis suficientemente altos para causar morte celular. 
» Fármacos 
Como os vírus sequestram muitos dos processos metabólicos da própria célula do hospedeiro, é difícil 
encontrar fármacos que sejam seletivos para o patógeno. No entanto, como exposto, há algumas enzimas 
que são específicas do vírus, e estas se tornaram alvos úteis para os fármacos. 
Os fármacos antivirais, dos quais muitos estão agora disponíveis, podem ser agrupados 
convenientemente de acordo com os seus mecanismos de ação. 
• Inibidores da entrada viral 
• Inibidores da transcriptase reversa 
⤷ Inibidores nucleosídeos e nucleotídeos da transcriptase reversa (INTR) 
⤷ Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTR) 
• Inibidores da integrase 
• Inibidores da protease 
 
20 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
► Inibidores da entrada viral: 
Os dois fármacos disponíveis nessa classe, enfuvirtida e maraviroque, apresentam diferentes 
mecanismos de ação, mas ambos 
impedem a entrada viral nas células 
do hospedeiro. 
Representantes: 
• Enfuvirtida: A enfuvirtida inibe a 
fusão das membranas virais e 
celulares mediada por interações 
entre gp41 e CD4. 
• Maraviroque: O maraviroque é um 
antagonista do receptor de 
quimiocina e liga-se ao receptor CCR5 
na célula hospedeira para bloquear a 
ligação da gp120 viral. 
 
 
21 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Inibidores nucleosídeos e nucleotídeos da transcriptase reversa (INTR): 
Os inibidores nucleosídeos e nucleotídeos da transcriptase reversa (ITRNs) são análogos dos 
ribosídeos nativos (nucleosídeos ou nucleotídeos contendo ribose) desprovidos do grupo 3′-hidroxila. Uma 
vez dentro das células, eles são fosforilados por enzimas celulares ao análogo trifosfato correspondente, 
que é preferencialmente incorporado ao DNA viral pela transcriptase reversa. Como o grupo 3′-hidroxila 
não está presente, não se forma a ligação 3′5′-fosfodiéster entre o trifosfato nucleosídeo e a cadeia de 
DNA em formação, interrompendo o alongamento do DNA. 
 
Representantes: 
• Zidovudina (AZT): Foi um dos fármacos mais utilizados historicamente, mas atualmente caiu para segunda 
linha. 
• Lamivudina: Atualmente, faz parte da primeira linha de tratamento junto com o tenofovir. 
• Tenofovir: Atualmente, faz parte da primeira linha de tratamento junto com a lamivudina. 
• Didanosina 
• Estavudina 
• Zalcitabina 
• Abacavir 
• Emtricitabina 
Efeitos adversos: 
A toxicidade seletiva desses fármacos depende de sua capacidade de inibir a transcriptase reversa do 
HIV sem inibir as DNA-polimerases da célula hospedeira. Embora os trifosfatos intracelulares para todos 
esses fármacos tenham baixa afinidade pela DNA-polimerase α e polimerase β humanas, alguns inibem a 
DNA-polimerase γ humana, que é a enzima mitocondrial. Em consequência, os efeitos tóxicos importantes 
comuns a essa classe de fármacos resultam, em parte, da inibição da síntese de DNA mitocondrial. Esses 
efeitos tóxicos consistem em anemia, granulocitopenia, miopatia, neuropatia periférica e pancreatite. 
Acidose láctica com ou sem hepatomegalia e esteatose hepática é uma complicação rara, porém 
 
22 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
potencialmente fatal, observada com estavudina, zidovudina e didanosina. A entricitabina, a lamivudina 
e o tenofovir fosforilados apresentam baixa afinidade pela DNA-polimerase γ e são, em grande parte, 
desprovidos de toxicidade mitocondrial. 
► Inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTR): 
Os inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa (INNTRs) são inibidores não competitivos de 
transcriptase reserva, altamente seletivos. Ligam-se à transcriptase reserva do HIV, em um local alostérico 
hidrofóbico adjacente ao local ativo, induzindo uma modificação de conformação que resulta na inibição 
da enzima. 
 
Representantes: 
• Efavirenz 
• Nevirapina 
• Delavirdina 
• Etravirina 
• Rilpivirina 
Efeitos adversos: 
A maioria dos efeitos adversos do efavirenz é tolerável e se relaciona com o SNC, incluindo tontura, 
cefaleia, sonhos vívidos e perda de concentração. Cerca da metade dos pacientes apresenta esses efeitos, 
que normalmente desaparecem em poucas semanas. 
► Inibidores da integrase: 
Os inibidores da integrase do HIV impedem a formação de ligações covalentes entre o DNA viral e 
do hospedeiro – um processo conhecido como transferência de cadeias – presumivelmente por 
interferência nos cátions divalentes essenciais no núcleo catalítico da enzima. 
 
23 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
Representantes: 
• Dolutegravir 
• Raltegravir 
• Elvitegravir 
► Inibidores da protease: 
Os inibidores da protease são inibidores reversíveis da aspartil protease (retropepsina) HIV, que é 
a enzima viral responsável pela clivagem da poliproteína viral em inúmeras enzimas essenciais 
(transcriptase reversa, protease e integrase) e várias proteínas estruturais. A inibição evita a maturação 
de partículas virais e resulta na produção de vírions não infecciosos. 
 
Representantes: 
• Saquinavir 
• Indinavir 
• Nelfinavir 
• Amprenavir 
 
24 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
• Lopinavir 
• Atazanavir 
• Tipranavir 
• Fosamprenavir 
• Darunavir 
• Ritonavir: O ritonavir não é mais empregado como inibidor da protease isoladamente, mas é usado como 
“reforçador farmacocinético” ou “reforçador booster” de outros inibidores da protease. O ritonavir é um 
potente inibidor da CYP3A e, simultâneo à sua administração (em dosagens baixas), aumenta a 
biodisponibilidade de um segundo inibidor da protease. 
» Quando iniciar o tratamento antirretroviral 
O início imediato da terapia antirretroviral (TARV) está recomendado para todas as pessoas 
vivendo com HIV, independentemente do seu estágio clínico e/ou imunológico. A recomendação de início 
precoce da TARV considera, além dos claros benefícios relacionados à redução da morbimortalidade em 
pessoas vivendo com HIV, a diminuição da transmissão da infecção, o impacto na redução da tuberculose 
– a qual constitui principal causa infecciosa de óbitos em pessoas vivendo com HIV no Brasil e no mundo – 
e a disponibilidade de opções terapêuticas mais cômodas e bem toleradas. 
Entretanto, algumas situações exigem maior urgência para o início da TARV, uma vez que seu início 
tem impacto importante na redução da mortalidade, na transmissão vertical e no tratamento de 
comorbidades graves. 
 
→ Pessoa vivendo com HIV sintomática: A TARV está indicada para todas as pessoas vivendo com HIV, em 
especial as sintomáticas, independentemente da contagem de LT-CD4+, uma vez que a presença de 
sintomas já demonstra fragilidade imunológica e incapacidade de controle viral. 
→ Contagem de linfócitos T CD4+ < 350 células/mm3: Para que ocorram todos os benefícios relacionados 
ao início imediato da TARV, é fundamental que os pacientes sejam diagnosticados no início da infecção pelo 
HIV. Infelizmente, muitos pacientes ainda são diagnosticados em estágios mais avançados da doença. 
Evidências de dois ensaios clínicos randomizados e vários estudos observacionais mostram que o início 
precoce de TARV com contagens de linfócitos T CD4+ iguais ou inferiores a 350 céls/mm³ reduz 
significativamente a mortalidade, a progressão da doença e a incidência de infecções oportunistas. 
 
25 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
→ Gestante: A TARV está indicada para toda gestante infectada pelo HIV, independentemente de critérios 
clínicos e imunológicos, e não deverá ser suspensa após o parto, independentemente do nível de linfócitos 
T CD4+. A TARV poderá ser iniciada na gestante a partir da 14ª semana de gestação, logo após a coleta de 
exames e antes mesmo de se ter os resultados de linfócitos T CD4+ e carga viral, principalmente nos casos 
de gestantes que iniciam tardiamente o acompanhamento pré-natal, com o objetivo de alcançar a 
supressão viral omais rapidamente possível. A supressão viral é um fator determinante na redução da 
transmissão vertical. O uso de TARV durante a gravidez – promovendo uma carga viral materna suprimida 
(carga viral plasmática abaixo de 50 cópias/mL) próxima ao parto – reduz a taxa de transmissão vertical do 
HIV de aproximadamente 30% para menos de 1%. 
→ Tuberculose ativa: A tuberculose ativa, sob qualquer apresentação clínica, é sinal de imunodeficiência; 
portanto, a coinfecção tuberculose-HIV deve caracterizar o portador de HIV como sintomático e indicar o 
início da TARV. Há evidências consistentes de que o início precoce da TARV nesses casos reduz a 
mortalidade, especialmente em indivíduos com imunodeficiência grave. 
→ Coinfecção HBV: A coinfecção pelo HIV tem um profundo impacto no curso da infecção pelo vírus da 
hepatite B (HBV). Há uma progressão mais rápida para cirrose e carcinoma hepatocelular, maior 
mortalidade relacionada à doença hepática e pior resposta ao tratamento em comparação com pessoas 
portadoras de HBV não infectadas pelo HIV. Assim, pacientes coinfectados com hepatite B e HIV devem 
iniciar a TARV com esquema contendo tenofovir independentemente da contagem de linfócitos T CD4+. 
→ Coinfecção HBC: Da mesma forma, a evolução clínica da doença hepática relacionada ao vírus da 
hepatite C (HCV) progride mais rapidamente em pessoas coinfectadas com HIV. Logo, o tratamento do HIV 
e do HCV é, portanto, uma prioridade para as pessoas com coinfecção HIV/HCV. 
→ Risco cardiovascular elevado (>20%): Embora certos esquemas de TARV possam aumentar o risco 
cardiovascular, os benefícios da TARV superam o pequeno risco adicional observado com seu uso. 
Portanto, recomenda-se o início imediato da TARV para todos os pacientes com risco cardiovascular 
elevado (escore de Framingham acima de 20%). 
» Esquema de TARV inicial preferencial em adultos 
A terapia antirretroviral inicial deve sempre incluir combinações de três fármacos, sendo dois 
inibidores nucleosídeos/nucleotídeos da transcriptase reversa (INTRs) associados a uma outra classe de 
antirretrovirais (inibidores da transcriptase reversa não análogos dos nucleosídeos, inibidores da protease 
ou inibidores da integrase). 
 
DOIS inibidores 
nucleosídeos/nucleotídeos da 
transcriptase reversa (INTRs)
Inibidor da transcriptase 
reversa não análogo dos 
nucleosídeos
Inibidor da protease 
reforçado com ritonavir
Inibidor da integrase
 
26 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
No Brasil, para os casos em início de tratamento, o esquema inicial preferencial deve ser a 
associação de dois INTR – tenofovir e lamivudina – associados ao inibidor de integrase – dolutegravir. 
 
Dois inibidores nucleosídeos/nucleotídeos da 
transcriptase reversa (INTR): 
Um inibidor da integrase: 
Tenofovir e lamivudina Dolutegravir 
 
A associação de tenofovir com lamivudina (dois inibidores nucleosídeos/nucleotídeos da 
transcriptase reversa), além de estar disponível em coformulação e permitir tomada única diária, 
apresenta um perfil favorável em termos de toxicidade, supressão virológica, resposta de linfócitos T 
CD4+, lipoatrofia e toxicidade hematológica quando comparada a zidovudina. Aparentemente, 
apresenta um perfil favorável em termos de eficácia virológica quando comparada ao abacavir, em 
especial quando a carga viral >100.000 cópias/mL. 
O tenofovir é um análogo de nucleotídeo e sua maior desvantagem é a nefrotoxicidade, 
particularmente em diabéticos, hipertensos, negros, idosos, pessoas com baixo peso corporal 
(especialmente mulheres), doença pelo HIV avançada ou insuficiência renal pré-existente e no uso 
concomitante de outros medicamentos nefrotóxicos. Novo aparecimento ou agravamento da 
insuficiência renal tem sido associado ao uso de tenofovir. Porém, disfunções graves são muito raras. 
Pacientes com doença renal preexistente devem usar preferencialmente outra associação de INTR. 
Além disso, a diminuição da densidade óssea tem sido relacionada ao uso de tenofovir. 
 
O dolutegravir é um antirretroviral da classe dos inibidores da integrase. Esse fármaco tem as 
vantagens de alta potência, alta barreira genética, administração em dose única diária e poucos eventos 
adversos, garantindo esquemas antirretrovirais mais duradouros e seguros. 
As mulheres vivendo com HIV devem ser informadas quanto à contraindicação do uso do 
dolutegravir no momento da pré-concepção, pelo risco de má formação congênita. O dolutegravir pode 
ser indicado como parte da TARV para mulheres em idade fértil, desde que antes do início do seu uso seja 
descartada a possibilidade de gravidez e que a mulher esteja em uso regular de método contraceptivo 
eficaz, preferencialmente os que não dependam da adesão (DIU ou implantes anticoncepcionais), ou que 
a mulher não tenha a possibilidade de engravidar (método contraceptivo definitivo ou outra condição 
biológica que impeça a ocorrência da gestação). 
Além disso, o dolutegravir não é recomendado em pessoas vivendo com HIV em uso de alguns 
anticonvulsivantes, como fenitoína, fenobarbital, oxicarbamazepina, carbamazepina, dofetilida e 
pilsicainida. Pacientes devem ser avaliados quanto à possibilidade de troca dessas medicações a fim de 
viabilizar o uso do dolutegravir. 
O dolutegravir é geralmente bem tolerado. As reações adversas mais frequentes de intensidade 
moderada a grave foram insônia e cefaleia. Os casos de reações de hipersensibilidade foram relatados 
em <1% dos pacientes. Aos pacientes com insônia em uso de dolutegravir, recomenda-se utilizá-lo pela 
manhã. 
Além disso, o dolutegravir diminui a secreção tubular de creatinina sem afetar a função 
glomerular, com possível aumento na creatinina sérica observado nas primeiras quatro semanas de 
tratamento. A elevação da creatinina e a redução da TFG (10%-15%) ocorrem devido à inibição não 
patológica do transportador de cátions orgânicos tipo 2 (OCT2) nos túbulos renais proximais. 
 
27 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Entretanto, não há redução do clearance medido por iomalato ou inulina (padrão-ouro para avaliar 
filtração glomerular). Dessa forma, não há dados que contraindiquem uso de dolutegravir em casos de 
insuficiência renal, nem tampouco que o dolutegravir a cause, não havendo necessidade de ajuste de 
dose do medicamento. 
 
» Falha no tratamento antirretroviral 
O principal parâmetro para caracterizar a falha da terapia antirretroviral é a 
FALHA VIROLÓGICA, isto é, carga viral HIV detectável após seis meses do início ou da 
modificação do tratamento, ou rebote da carga viral em indivíduos que haviam 
atingido supressão viral sob tratamento. Inúmeros fatores podem contribuir para falha 
aos antirretrovirais, devendo ser considerados na investigação. 
A principal causa de falha da TARV é a má adesão do paciente ao tratamento. Fatores psicossociais, 
como depressão, uso de substâncias psicoativas, dificuldade de acesso e comorbidades, além de fatores 
relacionados aos medicamentos, como efeitos adversos e posologia complexa, contribuem para a má 
adesão. Durante os períodos de adesão irregular, níveis séricos baixos dos medicamentos, insuficientes 
para suprimir completamente a replicação viral, exercem pressão seletiva sobre a população viral e 
promovem a emergência de subpopulações 
resistentes aos medicamentos. A resistência viral 
adquirida, consequência imediata da má adesão, 
passa a ser causa da falha virológica. De fato, 
mutações de resistência aos antirretrovirais são 
detectadas em até 90% dos casos de falha 
virológica. 
 
 
28 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
A transmissão de vírus resistentes (resistência transmitida) é causa menos comum de falha 
virológica. Entretanto, na última década, um aumento progressivo da taxa de resistência transmitida aos 
INNTR tem sido documentado. Os inibidores da integrase como base do esquema de tratamento inicial 
contorna a questão da resistência transmitida, já que a transmissãode vírus com mutações de resistência 
no gene da integrase continua a ser rara. 
Esquemas inadequados, seja pela potência insuficiente, seja pela baixa barreira genética (terapia 
dupla, terapia tripla com três ITRN, monoterapia com inibidor da protease com ritonavir ou inibidor da 
protease sem potencialização pelo ritonavir), seja por interações medicamentosas, são associados a maior 
risco de falha da TARV. Comorbidades resultando em vômitos ou diarreia podem impedir a absorção 
adequada dos medicamentos e contribuir para a falha do tratamento. 
 
» Profilaxia pós-exposição (PEP) 
A profilaxia pós-exposição (PEP) é baseada no uso de TARV, após a exposição ao vírus, com o 
objetivo de limitar a capacidade do HIV de infectar determinado indivíduo. Dito de outra forma, uma vez 
que não se evitou o contato do indivíduo com o HIV, evita-se que o vírus esteja suficientemente robusto 
(viável) e possa se reproduzir no organismo exposto. 
► Indicação de PEP: 
No atendimento inicial, após a exposição ao HIV, é necessário que o profissional avalie como, 
quando e com quem ocorreu a exposição. Didaticamente, quatro perguntas direcionam o atendimento 
para decisão da indicação ou não da PEP. 
 
1. O tipo de material biológico é de risco para transmissão do HIV? 
2. O tipo de exposição é de risco para transmissão do HIV? 
3. O tempo transcorrido entre a exposição e o atendimento é menor que 72 horas? 
4. A pessoa exposta é não reagente para o HIV no momento do atendimento? 
Se todas as respostas forem SIM, a PEP para HIV está indicada. 
 
29 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
1) Tipo de material biológico: 
Existem materiais biológicos sabidamente infectantes e envolvidos na transmissão do HIV. Assim, 
a exposição a esses materiais constitui situação na qual a PEP está recomendada. 
 
2) Tipo de exposição: 
Existem exposições com risco de infecção e envolvidos na transmissão do HIV. Assim, o tipo de 
exposição constitui situação na qual a PEP pode estar recomendada. 
 
 
3) Tempo transcorrido entre a exposição e o atendimento: 
As situações de exposição ao HIV constituem atendimento de urgência, em função da necessidade 
de início precoce da profilaxia para maior eficácia da intervenção. A PEP deve ser iniciada o mais 
precocemente possível, tendo como limite as 72 horas subsequentes à exposição. Não há benefício da 
profilaxia com antirretroviral após 72 horas da exposição. 
 
4) Status sorológico da pessoa exposta: 
A indicação ou não de PEP irá depender do status sorológico para HIV da pessoa exposta, que deve 
sempre ser avaliado por meio de teste rápido em situações de exposições consideradas de risco: 
 
• Se teste rápido reagente: a PEP não está indicada. A infecção pelo HIV ocorreu antes da exposição que 
motivou o atendimento e a pessoa deve ser encaminhada para acompanhamento clínico e início da TARV. 
 
• Se teste rápido não reagente: a PEP está indicada, pois a pessoa exposta é susceptível ao HIV. 
 
30 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
5) Status sorológico da pessoa-fonte: 
Esse critério é o único não obrigatório, pois nem sempre a pessoa-fonte está presente e disponível 
para realizar a testagem. Além disso, é importante frisar que não se deve atrasar e nem condicionar o 
atendimento da pessoa exposta à presença da pessoa-fonte. 
 
• Se teste rápido reagente: a PEP está indicada para a pessoa exposta. Se o status sorológico da fonte era 
previamente desconhecido, a pessoa-fonte deve ser comunicada individualmente sobre os resultados da 
investigação diagnóstica e encaminhada para acompanhamento clínico e início da TARV. 
 
• Se teste rápido não reagente: a PEP não está indicada. Contudo, a PEP poderá ser indicada quando a 
pessoa-fonte tiver história de exposição de risco nos últimos 30 dias, devido à possibilidade de resultados 
falso-negativos de testes imunológicos de diagnóstico (rápidos ou laboratoriais) durante o período de 
janela imunológica. No caso de utilização de testes de fluido oral, considerar janela imunológica de 90 dias. 
 
 
31 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Esquema antirretroviral para PEP: 
O seguinte esquema antirretroviral está indicado para realização da profilaxia pós-exposição, 
independentemente do tipo de exposição e material biológico envolvido: tenofovir + lamivudina + 
atazanavir/ritonavir. A duração da PEP deve ser de 28 dias. 
 
» Tratamento das infecções oportunistas associadas ao HIV 
O aparecimento de infecções oportunistas e neoplasias é definidor da AIDS. Entre as infecções 
oportunistas, destacam-se: pneumocistose, neurotoxoplasmose, tuberculose pulmonar atípica ou 
disseminada, meningite criptocócica e retinite por citomegalovírus. As neoplasias mais comuns são 
sarcoma de Kaposi (SK), linfoma não Hodgkin e câncer de colo uterino, em mulheres jovens. 
► Tratamento da pneumocistose: 
A pneumocistose é a causa mais comum de doença pulmonar oportunista em pessoas vivendo com 
HIV com contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 200 céls/mm³. A escolha do esquema terapêutico é 
guiada pela gravidade clínica do paciente. Assim, para fins terapêuticos, classifica-se a pneumonia em leve 
a moderada ou moderada a grave. 
 
 
32 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
► Tratamento da toxoplasmose: 
A toxoplasmose é a causa mais comum de lesões expansivas cerebrais em pessoas vivendo com 
HIV. Para o tratamento, os esquemas de escolha consistem nas seguintes associações: 
 
► Tratamento da candidíase: 
As candidíases orofaríngea e esofágica são comuns em pacientes com imunossupressão pelo HIV, 
sendo observadas, geralmente, em pacientes com contagem de linfócitos T CD4+ inferior a 200 céls/mm³. 
 
► Tratamento da histoplasmose: 
A contagem de linfócitos T CD4+ abaixo de 150 céls/mm³ aumenta o risco de doença por 
histoplasmose na forma disseminada. A escolha do esquema terapêutico deve ser orientada pela gravidade 
 
33 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
clínica. Assim, para fins de escolha do tratamento, classificam-se as formas clínicas em leve a moderada 
ou moderada a grave. 
 
» Profilaxia das infecções oportunistas associadas ao HIV 
A profilaxia de infecções oportunistas proporciona uma importante redução da morbimortalidade 
em indivíduos com disfunção imune secundária à infecção pelo HIV. Essa prevenção tem dois aspectos 
principais: a profilaxia primária e a secundária. 
► Profilaxia primária: 
A profilaxia primária é uma estratégia que visa evitar o desenvolvimento de infecções oportunistas 
em pessoas sem exposição prévia a essas doenças. Em outras palavras, busca-se evitar o primeiro episódio 
da doença. O principal parâmetro para orientar a introdução e a suspensão da profilaxia é a contagem de 
linfócitos T CD4+, uma vez que o risco de infecções oportunistas está diretamente associado ao nível dessas 
células de defesa. 
 
 
34 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
► Profilaxia secundária: 
 Por sua vez, a profilaxia secundária tem como objetivo evitar a recidiva de infecção oportunista 
anterior que já tenha recebido tratamento completo. Em outras palavras, busca-se evitar a recorrência da 
doença. 
 
35 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
 
 
36 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
FARMACOLOGIA → ANTIFÚNGICOS 
» Introdução 
 As infecções fúngicas (micoses) estão difundidas 
entre a população. Em pessoas saudáveis, são principalmente 
infecções menores, representando mais um incômodo do que 
uma ameaça. No entanto, tornam-se um problema mais grave 
quando o sistema imunológico é comprometido ou quando o 
organismo ganha acesso à circulação sistêmica. Quando isso 
ocorre, a infecção pode ser fatal. 
 
» Fármacos antifúngicos 
As classes de fármacos antifúngicos são: 
 
 
 
► Poliênicos: 
➔ Representantes: Anfotericina B e Nistatina 
→ Anfotericina B: 
O surgimento da anfotericina B (Anf B) na década de 1950 revolucionou o tratamento das infecções 
fúngicas. Apesar dalimitação imposta por sua alta toxicidade, o amplo espectro de ação e a capacidade 
• Poliênicos 
• Azólicos ou Azóis 
• Equinocandinas 
• Alilaminas 
• Griseofulvina 
• Flucitosina 
 
 
37 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
fungicida perpetuaram a anfotericina B como o fármaco mais utilizado no tratamento das micoses 
sistêmicas. 
Mecanismo de ação 
O mecanismo de ação primário da anfotericina B é 
decorrente de sua ligação ao ergosterol presente na membrana 
celular fúngica. Essa interação resulta em formação de poros na 
membrana e consequente extravasamento de íons, como 
potássio, levando o microrganismo à morte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Vias de administração 
A anfotericina B é utilizada pela via parenteral direta, exclusivamente pela via intravenosa, na 
forma de desoxicolato sódico, ou indireta, pela via tópica, em creme ou pomada. O fármaco não tem 
absorção oral; no entanto, tem efeito local, sendo eficaz contra fungos presentes no lúmen do trato 
gastrintestinal. Terapia intratecal também é opção em casos de falha medicamentosa com o uso de outros 
fármacos. 
Uso terapêutico 
A anfotericina B é virtualmente ativa contra todos os fungos que causam infecção em humanos, à 
exceção de Scedosporium apiospermum, Candida lusitaniae, C. guilliermondii, Scopulariopsis spp., 
Aspergillus terreus e Fusarium spp., que são considerados intrinsecamente resistentes. Com o advento dos 
azólicos, a anfotericina B passou a ser indicada para as infecções micóticas refratárias ao tratamento com 
outros fármacos ou para aquelas potencialmente fatais. Também é utilizada como terapia de indução, 
especialmente em pacientes imunossuprimidos, ou como terapia de salvação, nas quais os riscos de 
tratamento mais agressivo são superados por sua ação fungicida. 
Efeitos adversos 
Os efeitos adversos da anfotericina B estão relacionados à infusão do medicamento (febre, calafrios, 
hipotensão, vômitos, cefaleia) e ao comprometimento renal, mesmo em doses terapêuticas. Este quadro 
pode ser explicado pela ligação do fármaco ao colesterol presente na membrana dos mamíferos, e que, 
embora menor em relação à afinidade pelo ergosterol da membrana fúngica, é capaz de causar lesão, 
principalmente em doses mais altas ou em tratamentos prolongados. A nefrotoxicidade inclui diminuição 
da filtração glomerular e da perfusão sanguínea renal e acidose tubular, podendo acarretar 
hipopotassemia e hipomagnesemia. A produção de eritropoietina também pode ser afetada, resultando 
em anemia normocítica normocrômica. 
A toxicidade da anfotericina B pode ser atenuada utilizando formulações lipídicas, que modificam 
a farmacocinética e a distribuição tecidual do fármaco. As formulações disponíveis para uso médico são: 
 
38 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
lipossomal, em dispersão coloidal e em complexo lipídico. O alto custo dessas preparações limita a 
utilização das mesmas na rotina clínica. 
→ Nistatina: 
A nistatina é o segundo fármaco da classe dos poliênicos. Seu espectro de ação se restringe aos 
fungos leveduriformes, mais especificamente no tratamento das candidíases. É encontrada na forma de 
solução oral e comprimido para o tratamento de candidíase da cavidade bucal e esofágica e na forma de 
creme, pomada e comprimidos vaginais para os casos de candidíase vulvovaginal. A nistatina não deve ser 
utilizada para o tratamento de infecções sistêmicas pois não tem absorção no trato gastrintestinal. 
► Azólicos ou Azóis: 
Os azóis compreendem grande classe de fármacos antifúngicos que, quando introduzidos na década 
de 1970, marcaram o início de nova era na terapia das micoses sistêmicas. Além da terapêutica, os azóis 
também são utilizados no tratamento profilático ou de suporte em pacientes imunossuprimidos, tais como 
portadores de HIV, transplantados, em quimioterapia antineoplásica, entre outros. 
Classificação 
Os antifúngicos azóis se dividem em imidazóis e triazóis, conforme o número de átomos de 
nitrogênio presente no anel azólico (dois e três, respectivamente). 
 
Mecanismo de ação 
O principal efeito de ambos os grupos sobre os 
fungos consiste na inibição da enzima 14-α-esterol 
desmetilase, que faz parte dos CYP microssomais. Dessa 
maneira, há inibição da conversão de lanosterol a 
ergosterol, principal esteroide presente na membrana 
citoplasmática fúngica, e consequente 
comprometimento do crescimento dos fungos. 
 
 
 
 
 
→ Imidazóis: 
➔ Representantes: Miconazol, Clotrimazol e Cetoconazol 
Os imidazóis exibem menor grau de especificidade pelas enzimas do citocromo P450 dos fungos do 
que dos mamíferos quando comparados aos triazóis, o que justifica a sua maior incidência de interações e 
 
39 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
efeitos adversos. Além da inibição das enzimas microssomais, apresentam alto risco de hepatotoxicidade. 
Assim, com o surgimento dos triazóis, não há mais razão, do ponto de vista terapêutico, para a utilização 
sistêmica desses fármacos. 
Vias de administração 
Os imidazóis podem ser utilizados por via oral ou em preparações tópicas como pomadas, cremes e 
xampus e sprays. 
Uso terapêutico 
O primeiro antifúngico azólico introduzido para uso clínico por via oral foi o cetoconazol. Atualmente, 
seu uso oral é somente indicado para inibir a produção excessiva de glicocorticoides em pacientes com 
síndrome de Cushing. Por via tópica, é utilizado na forma de creme no tratamento de dermatite seborreica 
e pitiríase versicolor. 
Os dois imidazóis de uso tópico mais frequentemente utilizados são o miconazol e o clotrimazol. A 
absorção na pele intacta é baixa; em mucosas, como a via vaginal, a absorção é levemente maior, 
mantendo concentrações fungicidas por pelo menos três dias. O uso tópico de ambos os fármacos tem 
excelente eficácia em infecções de pele causadas por dermatófitos (tinhas) e na candidíase oral e 
vulvovaginal. 
Efeitos adversos 
Os principais efeitos adversos relatados são: ardência, prurido e irritação. 
→ Triazóis: 
➔ Representantes: Fluconazol, Itraconazol, Voriconazol e Posaconazol 
Os triazóis são fármacos com espectro de ação maior que os imidazóis e menor potencial de 
interação medicamentosa. A toxicidade dos triazóis também é menor, sendo comum haver, na maioria 
deles, transtornos gastrintestinais e elevação das transaminases hepáticas, o que pode resultar em 
hepatopatia. 
O fluconazol foi o primeiro membro da classe dos antifúngicos triazóis. Ele é o menos ativo de todos 
os triazóis, com a maioria do seu espectro limitado a leveduras e alguns fungos dimórficos. 
Via de administração do fluconazol 
O fluconazol está disponível em formulações de uso oral ou intravenoso. É bem absorvido após 
administração oral e distribui-se amplamente pelos líquidos e tecidos do organismo, sendo que é capaz de 
penetrar no líquido cefalorraquidiano. 
Uso terapêutico do fluconazol 
A formulação intravenosa de fluconazol é empregada no tratamento da meningite criptocócica de 
pacientes HIV positivo, após estabilização do quadro clínico utilizando anfotericina B por duas a três 
semanas. Alguns estudos mostram equivalência entre o tratamento com anfotericina B e fluconazol por via 
intravenosa em pacientes com contagens normais de leucócitos. O fluconazol também é indicado nas 
formas não meníngeas de criptococose, tais como infecção pulmonar, óssea ou de pele, em pacientes HIV 
positivos ou não. É o fármaco de escolha no tratamento da forma neurológica da coccidioidomicose. Além 
disso, na candidíase vulvovaginal, uma única dose de 150 mg de fluconazol tem demonstrado eficácia 
equivalente ao uso de azóis tópicos, contudo, com melhor aceitação pelos pacientes. A mesma dose pode 
 
40 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
ser utilizada em protocolos semanais nos casos de candidíase vulvovaginal recorrente ou de esôfago. O 
tratamento com fluconazol intravenoso também é recomendado para os casos de candidíase disseminada,comum em pacientes hospitalizados fazendo uso de dispositivos intravenosos. 
Infelizmente, o amplo uso do fluconazol na terapia e na profilaxia das infecções fúngicas 
oportunistas em hospitais levou ao aparecimento de isolados clínicos de Candida albicans e não-albicans 
com diferentes graus de resistência. Preconiza-se a realização de testes de identificação e de suscetibilidade 
dos isolados com substituição da terapia para voriconazol ou antifúngicos da classe das equinocandinas, 
quando pertinente. 
Efeitos adversos do fluconazol 
Os efeitos adversos mais comuns com o fluconazol são náuseas, êmese, cefaleia e urticária. Pode 
ocorrer hepatotoxicidade, e o fármaco deve ser usado com cautela em pacientes com disfunção hepática. 
Interações medicamentosas são observadas somente em concentrações elevadas, o que permite assim 
dosagem mais agressiva em infecções graves. 
O itraconazol é um triazol sintético que tem amplo espectro antifúngico, quando comparado com 
o fluconazol. 
Via de administração do itraconazol 
A formulação de cápsulas para uso oral tem melhor absorção em ambiente ácido, e as mesmas 
devem ser administrada junto às refeições. O itraconazol é bastante lipossolúvel, tem alta ligação com as 
proteínas plasmáticas e ampla distribuição em tecidos, mas não atravessa a barreira hematoencefálica. 
Ocorre diminuição das concentrações plasmáticas de itraconazol quando administrado principalmente com 
antibióticos do grupo das rifamicinas. 
Uso terapêutico do itraconazol 
Em função da alta afinidade pela queratina, o itraconazol é utilizado no tratamento das 
dermatofitoses e onicomicoses. É considerado o fármaco de escolha contra infecções fúngicas não 
meníngeas, tais como histoplasmose, blastomicose, coccidioidomicose e paracoccidioidomicose. Também 
pode ser usado no tratamento da esporotricose linfocutânea, embora na esporotricose disseminada ou 
pulmonar, recomende-se o tratamento inicial com anfotericina B. Apesar da boa atividade in vitro frente a 
isolados de Aspergillus spp. e da menor toxicidade em relação à anfotericina B, o itraconazol tem sido 
substituído pelo voriconazol nos casos de aspergilose pulmonar. 
Efeitos adversos do itraconazol 
Seu uso prolongado deve ser evitado em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva; é 
importante também monitorar as enzimas hepáticas e descontinuar a terapia em caso de 
hepatotoxicidade. O potencial teratogênico do itraconazol foi demonstrado em roedores, devendo, 
portanto, ser evitado em mulheres grávidas. 
Uso terapêutico do voriconazol 
O voriconazol possui boa atividade contra fungos do gênero Aspergillus e Candida não-albicans. O 
voriconazol se tornou a melhor opção para o tratamento da aspergilose invasiva, após estudos 
 
41 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
demonstrarem que, além da melhor tolerabilidade, a taxa de sobrevivência também foi maior em 
comparação à anfotericina B. 
Efeitos adversos do voriconazol 
A terapia com voriconazol deve ser acompanhada de perto em razão da possibilidade de interação 
medicamentosa, como quando associado à rifampicina ou ao ritonavir. A utilização de voriconazol por 
períodos acima de 12 semanas está associada a reações de fotossensibilidade, podendo progredir para 
câncer de pele em pacientes tratados por longos períodos (>12 meses), especialmente imunossuprimidos 
e aqueles frequentemente expostos à radiação solar. Seu uso não é recomendado em mulheres grávidas. 
Uso terapêutico do posaconazol 
O espectro de ação do posaconazol é igual ao do itraconazol, embora tenha demonstrado atividade 
superior a esse último contra fungos leveduriformes e filamentosos in vitro. 
O posaconazol tem sido empregado no tratamento da aspergilose invasiva, da candidíase 
orofaríngea e das infecções causadas por fungos dimórficos. Tem se mostrado também como opção no 
tratamento das mucormicoses, que têm como característica serem refratárias à antifungicoterapia. 
O itraconazol, o voriconazol e o posaconazol têm sido utilizados na prevenção da aspergilose em 
pacientes profundamente imunossuprimidos. No entanto, tal procedimento tem levantado preocupação 
quanto ao aparecimento de isolados fúngicos resistentes. 
Efeitos adversos do posaconazol 
Os efeitos adversos mais comuns incluem distúrbios gastrointestinais, como náuseas, êmese e 
diarreia, e cefaleia. Como outros azóis, o posaconazol pode causar elevação nas transaminases hepáticas 
séricas. Em função do potencial efeito teratogênico em animais, deve ser evitado em gestantes. 
► Equinocandinas: 
➔ Representantes: Caspofungina, Micafungina e Anidulafungina 
As equinocandinas representam a mais nova classe de medicamentos antifúngicos. 
Mecanismo de ação das equinocandinas 
Esses fármacos atuam inibindo a síntese da beta-(1,3)-D-glucana presente na parede celular dos 
fungos, resultando em ruptura da estrutura e consequente morte do patógeno. 
 
 
42 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
Via de administração das equinocandinas 
As equinocandinas são de uso exclusivo por via intravenosa. 
Uso terapêutico das equinocandinas 
As equinocandinas têm ação contra fungos dos gêneros Candida e Aspergillus. As equinocandinas 
representam excelente opção terapêutica principalmente contra isolados resistentes ao tratamento com 
azóis. Em função do mecanismo de ação diferente entre as equinocandinas e os azóis, não há, até o 
momento, relatos de resistência cruzada, embora a pressão de seleção ocasionada pelo aumento do uso 
das equinocandinas possa desencadear o fenômeno de multirresistência, principalmente frente a algumas 
espécies de Candida. 
Efeitos adversos das equinocandinas 
As equinocandinas geralmente são bem toleradas. Os efeitos adversos mais comuns são febre, 
flebite, náuseas e cefaleia. Elas têm demonstrado embriotoxicidade em estudos animais, mas não há 
maiores informações sobre o uso das mesmas em mulheres grávidas ou lactantes. 
► Alilaminas: 
➔ Representantes: Terbinafina 
Mecanismo de ação das alilaminas 
A terbinafina é o principal fármaco da classe das alilaminas. Sua ação antifúngica ocorre por inibição 
da esqualeno-epoxidase, enzima que catalisa a conversão de esqualeno a 2,3-esqualeno epóxido, 
precursor do lanesterol e, que por sua vez, é precursor do ergosterol da membrana fúngica. O efeito 
fungicida da terbinafina ocorre por acúmulo do esterol esqualeno, que é tóxico para o fungo. 
 
Assim, a terbinafina, por atuar um passo antes do que os azóis na cascata do ergosterol, produz 
efeito sinérgico quando associada aos mesmos, com a vantagem de não interagir com o sistema P450 e, 
por consequência, não apresentar interação medicamentosa significativa. 
Via de administração das alilaminas 
A terbinafina possui apresentação oral e tópica. 
Uso terapêutico das alilaminas 
Por ser queratinofílica e de baixa toxicidade, a terbinafina é largamente empregada para 
tratamento das infecções causadas por dermatófitos, como tinhas e onicomicoses, possibilitando terapia 
 
43 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 
de longo prazo com segurança. Em combinação com itraconazol, tem sido utilizada, com relativo sucesso, 
no tratamento da esporotricose. 
Efeitos adversos das alilaminas 
Os efeitos adversos mais comuns da terbinafina incluem distúrbios gastrointestinais (diarreia, 
dispepsia e náuseas), cefaleia e urticária. 
► Griseofulvina: 
Mecanismo de ação da griseofulvina 
Após a administração oral, a griseofulvina deposita-se nas células precursoras da queratina, nas 
quais atua inibindo a mitose fúngica por meio da sua ligação à tubulina e da consequente inibição da 
polimerização dos microtúbulos. Por ser fungistática, o tratamento com a mesma deve ser mantido até 
que o tecido infectado seja substituído por cabelos, pele ou unhas normais. 
 
Uso terapêutico da griseofulvina 
A griseofulvina não é utilizada para tratamento de doenças fúngicas sistêmicas. Esse fármaco foi 
muito usado no tratamento das dermatofitoses,

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