Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 1 Abdome agudo inflamatório Definição Pode ser definido como quadro de dor abdominal súbito e inesperado, originado de um processo inflamatório e/ou infeccioso localizado na cavidade abdominal. Em algumas situações, o quadro apresenta-se com peritonite, sendo mandatório o manejo cirúrgico nesses casos. Epidemiologia Fisiopatologia Baseia-se em: Extensão do processo inflamatório/infeccioso ao peritônio Modificações do funcionamento do trânsito intestinal Após instalada a peritonite, a deterioração clínica do indivíduo pode ser rápida, constituindo sinal de gravidade e mau prognóstico. Quadro clínico Clínica de AAI: Dor abdominal A dor é o sintoma preponderante, podendo ser decorrente de processo recente como apendicite aguda ou por processo crônico agudizado como em: Litíase biliar -> colecistite aguda; Doença diverticular do cólon -> diverticulite. Pode ser exacerbada a movimentação e habitualmente indica peritonite. Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 2 Náuseas e vômitos Pode ser decorrente da dor intensa ou da estase intestinal decorrente da irritação do peritônio visceral. Febre Pode surgir nas fases iniciais do processo com temperaturas mais brandas e piorar com a evolução do quadro. Constipação Ocorre secundária à paralisia das alças intestinas. No entanto, diarreia também pode estar presente, sobretudo em casos de abscessos pélvicos. Apendicite aguda Fisiopatologia Corpo estranho ou processo inflamatório -> obstrução do lúmen apendicular. Essa obstrução pode ocorrer em razão de fezes espessadas (fecalito e apendicolito), hiperplasia linfoide, matéria vegetal ou sementes, parasitas, neoplasma, tumores benignos ou malignos. A distensão luminal produz a sensação de dor visceral experimentada pelo paciente como dor periumbilical. Além disso o dano subsequente da drenagem venosa e linfática leva à isquemia da mucosa. A inflamação do peritônio adjacente dá origem a dor localizada no quadrante inferior direito. Além disso, pode ocorrer perfuração – tipicamente após 48 horas do início dos sintomas. Bacteriologia A natureza polimicrobiana da apendicite perfurada está bem estabelecida. Escherichia coli, Streptococcus viridans e espécies de Bacteroides e Pseudomonas são frequentemente isolados, e muitos outros micro-organismos podem ser cultivados. Entre os pacientes com apendicite não perfurada aguda, as culturas do líquido peritoneal em geral são negativas. Diagnóstico Histórico A apresentação típica começa com dor periumbilical, causada pela ativação dos neurônios aferentes viscerais, seguida por anorexia (não é uma regra) e náuseas. A dor localiza-se, então, no quadrante inferior direito, mais especificamente na fossa ilíaca direita – ponto de McBurney; conforme o processo inflamatório evolui para envolver o peritônio parietal sobrejacente do apêndice. Esse padrão clássico de dor migratória é o sintoma mais confiável de apendicite aguda. Obs.: o ponto de McBurney é localizado no limite Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 3 entre o terço médio e lateral de uma linha traçada da espinha ilíaca anterossuperior direita ao umbigo. Vômitos e febre podem ocorrer – pela leucocitose. Embora a maioria dos pacientes com apendicite desenvolva um íleo adinâmico e ausência de movimentos intestinais no dia da apresentação, pacientes ocasionais podem ter diarreia. No caso de perfuração o paciente pode apresentar duas apresentações clínicas: perfuração bloqueada é quando um abscesso é formado, o paciente queixa-se de desconforto em fossa ilíaca direita e pode haver presença de plastrão (massa palpável); e na perfuração livre ocorre dor de grande intensidade e com aspecto difuso. O abdome do paciente se apresenta em tábua com rigidez generalizada e temperatura maior que 39 graus. Esse segundo quadro pode evoluir para sepse. Exame físico Posição antálgica Sinais de irritação peritoneal -> contratura da musculatura e/ou defesa voluntária à palpação Movimentos podem aumentar a dor + Sinais do obturador e iliopsoas também podem estar positivos, indicando um apêndice pélvico ou retrocecal, respectivamente. Exames complementares A tomografia computadorizada (TC) é comumente usada na avaliação de pacientes adultos com suspeita de apendicite aguda – exame de maior acurácia. Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 4 Achados clássicos incluem: Distensão de mais de 7 mm de diâmetro Espessamento circunferencial da parede e realce Gordura periapendicular retorcida Edema Apendicolitos – estruturas calcificadas dentro do apêndice (A) (B) TC mostra um apêndice distendido (seta) com líquido periapendicular e espessamento difuso da parede. Em relação à USG: A ultrassonografia possui sensibilidade de cerca de 85% e especificidade de 90% para o diagnóstico de apendicite aguda. Apesar de possuir limitações caso o paciente for obeso ou apresentar distensão abdominal, é bastante útil quando o diagnóstico é duvidoso. Os achados sonográficos compatíveis com apendicite aguda incluem: Apêndice de 7 mm ou mais no diâmetro anteroposterior; Estrutura luminal não compressível e de parede espessada vista em secção cruzada, referida como lesão- alvo, ou Presença de um apendicolito Laparoscopia diagnóstica Embora a maioria dos pacientes com apendicite venha a ser precisamente diagnosticada com base na história, exame físico e dados laboratoriais e, se necessário, estudos de imagem, existe um pequeno número no qual o diagnóstico permanece inconclusivo. Para esses pacientes, a laparoscopia diagnóstica pode proporcionar tanto um exame direto do apêndice como uma pesquisa da cavidade abdominal para outras possíveis causas da dor. Usamos essa técnica primariamente para mulheres em idade reprodutiva nas quais o ultrassom ou a TC pélvica pré- Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 5 operatória falharam em estabelecer um diagnóstico. Preocupações sobre possíveis efeitos adversos de uma perfuração e peritonite sobre uma fertilidade futura algumas vezes levam à intervenção precoce nessa população de pacientes. Caso clínico Homem, previamente hígido, 30 anos, magro, procurou o pronto atendimento com dor abdominal aguda, que iniciou periumbilical e se localizou na fossa ilíaca direita, de início há 1 dia. Relata também inapetência. Ao exame físico apresenta descompressão brusca dolorosa na fossa ilíaca direita. Realizou o seguinte exame: Resposta: O exame revela o sinal inflamatório de densificação da gordura que, por isso, aparece mais radiopaca (branca) na imagem. No entanto, nesse caso, talvez o USG seria um melhor método para diagnóstico, principalmente considerando que se trata de um paciente magro. Algoritmo para avaliação e tratamento: Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 6 Diverticulite aguda É o processo inflamatório de um ou mais divertículos do cólon: um divertículo é um saco ou uma bolsa anormal que faz uma protrusão da parede de um órgão oco – o cólon. Um divertículo verdadeiro é composto por todas as camadas da parede intestinal, enquanto um falso divertículo, ou pseudodivertículo, não possui uma das porções da parede intestinal. Os divertículos que comumente ocorrem no cólon humano são protrusões da mucosa através das camadas musculares do intestino. Pelo fato de estas herniações mucosas serem destituídas de camadas musculares normais, eles são pseudodivertículos. A diverticulite é o resultado da perfuração de um divertículo colônico. O termo é, sem dúvida, uma denominação errônea, pois a doença, na realidade, é uma infecção pericólica extraluminar, causada pelo extravasamento de fezes através do divertículo perfurado. Peridiverticulite seria o termo que mais apropriadamente descreveria o processo infeccioso.Fatores de risco Presença de diverticulose; Idade avançada; Obesidade; Álcool e tabaco; Alimentação; Medicações: AINES, corticosteroides e analgésicos opiáceos; Histórico familiar. Fisiopatologia Abrasão da mucosa do divertículo por um fecalito -> acúmulo de resíduos particulados -> obstrução do óstio estreito do divertículo -> supercrescimento bacteriano, isquemia tecidual local, inflamação e microperfurações. Características do paciente: Taquipneia discreta Distensão abdominal se houver íleo associado Dor à descompressão brusca do abdome – pode haver uma defesa voluntária da musculatura abdominal inferior Massas palpáveis dolorosas – sugestivas de fleimão (o que é?) ou abscesso. Obstrução do intestino delgado secundária ao processo inflamatório. Toque retal costuma ser doloroso Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 7 Disúria e polaciúria – acometimento das vias urinárias Diagnóstico Em muitos casos, o diagnóstico de uma diverticulite pode ser presumido com um razoável grau de confiabilidade por uma história e um exame físico cuidadosos, e é razoável começar o tratamento com antibióticos apenas com estas evidências. No entanto, se o diagnóstico for duvidoso, quatro testes diagnósticos podem ser considerados — tomografia computadorizada (TC) do abdome (com contraste intravenoso e luminal), ressonância magnética (RM), a ultrassonografia abdominal e enema com contraste hidrossolúvel. Todos os exames demonstraram ser úteis em estabelecer o diagnóstico, mas, dentre eles, a TC é a mais indicada e o clister opaco não tem sido muito utilizado por conta dos riscos de aumentar a pressão colônica e causar um extravasamento adicional de fezes. Estágios Em pacientes com achados cirúrgicos de abscessos e peritonites, Hinchey et al. classificaram a gravidade da diverticulite aguda em quatro níveis: Estádio I: Abscesso pericólico ou mesentérico Estádio II: Abscesso pélvico bloqueado Estádio III: Peritonite difusa purulenta Estádio IV: Peritonite difusa fecal Tratamento Baseia-se em tratamento de suporte e específico: 1. Analgesia 2. Reposição volêmica 3. Correção de distúrbios eletrolíticos 4. Tratamento do íleo adinâmico -> jejum, sonda nasogástrica nos casos de distensão ou vômitos incoercíveis 5. Antibioticoterapia ou antibioticoprofilaxia 6. Tratamento de falência orgânica Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 8 Apendicite aguda A maioria dos pacientes com apendicite aguda é tratada por remoção cirúrgica imediata do apêndice. Um breve período de reposição HE geralmente é suficiente para assegurar a indução segura da anestesia geral e deve ser administrado antibióticos pré-operatórios e, para portadores de apendicites perfuradas ou gangrenosas, continua-se com a administração de antibióticos intravenosos no pós-operatório até o paciente estar afebril. Vários estudos randomizados prospectivos têm comparado a apendicectomia laparoscópica e a aberta, e as diferenças globais nos resultados ainda são pequenas. A porcentagem de apendicectomias realizadas por laparoscopia continua a crescer. Vantagens da laparoscopia: Pacientes obesos sentem menos dor e têm hospitalizações mais curtas Pacientes com apendicite perfurada têm taxas menores de infecções da ferida após a remoção por laparoscopia Melhor qualidade de vida duas semanas após a cirurgia Taxas mais baixas de readmissão Desvantagens da laparoscopia: Maiores custos Maior dificuldade por perda de sensação tátil na cirurgia Diverticulite aguda Formas complicadas da doença (presença de abcesso, perfuração ou peritonite e pacientes que não respondem ao tratamento clínico ou com episódios recorrentes de diverticulite aguda) – cirurgia é indicada. Pacientes estáveis hemodinamicamente devem ser submetidos à ressecção definitiva do segmento colônico acometido. Em pacientes classificados como Hinchey I ou II pode-se proceder à anastomose primária com ou sem ostomia protetora. Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 9 Pacientes instáveis necessitam de abordagem menos invasiva, como ressecção limitada ou drenagem percutânea de coleções -> procedimento à Hartmann é preferido. Pacientes com diverticulite aguda sem complicações e sem comorbidades significativas. Dieta: Dieta líquida é recomendada no início do curso, com avanço gradual para uma dieta pobre em fibras até os sintomas passarem. Após a regulação dos sintomas a dieta deve ser rica em fibra e pobre em carne vermelha. Analgesia: Paracetamol e antiespasmódicos – agente de primeira linha. Antibiótico: Devem ser usados de maneira seletiva e não rotineira em pacientes imunocompetentes. Pacientes com alto risco devem receber atibioticoterapia – contra gram-negativos e anaeróbios – o quanto antes. Reposição volêmica Assim, nos casos leves faz-se a continuação ou início do tratamento em caráter ambulatorial com antibioticoterapia oral por 7 a 10 dias, evolução gradual da dieta, com reavaliações a cada 2 a 3 dias inicialmente e semanalmente até resolução completa do quadro. Aula - Gilberto APENDICITE AGUDA O que é Processo inflamatório do apêndice cecal, órgão que tem como função, na infância, a proliferação de tecido linfoide, produzindo linfócitos que colonizam o lúmen do intestino grosso. No entanto, no indivíduo adulto parece não ter nenhuma função específica. É a causa mais comum de abdome agudo inflamatório. Fisiopatologia Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 10 Edema, hiperemia – processo inflamatório -> processo infeccioso – com a colonização bacteriana. Nesse momento, a inflamação piora e o apêndice, com coleções líquidas entre outras, vai aumentando de tamanho. A perda da drenagem venosa pode levar a gangrena. Quadro clínico Dor mal localizada, periumbilical/epigástrica que, com o passar do tempo (1 a 2 dias) se localiza na fossa ilíaca direita. Esse é o padrão clássico. Alteração do hábito intestinal – constipação, diarreia pode acontecer, mas não é tão comum. Em crianças – febre. Náuseas e vômitos Astenia Anorexia Mas, a dor é o sintoma mais importante Exame físico Temperatura axilar – febre? Frequência cardíaca – taquipnéico? Sinal de Blumberg – em quadros inicias que a dor não se localizou ainda, podemos ter esse sinal negativo. Com o tempo, ele pode positivar. Sinal do obturador, sinal do psoas também podem estar positivos. Com a evolução podemos ter perfuração bloqueada ou livre, isso muda o quadro clínico: Defesa voluntária Choque séptico Massa palpável Estágios da apendicite 1. Edematosa/Inflamatória – edema, obstrução linfática, venosa; distensão do apêndice. Mas não tenho um quadro infeccioso tão acentuada. 2. Supurativa – processo infeccioso importante 3. Gangrenosa – trombose venosa, isquemia e posso ter necrose de uma porção menos vascularizada do apêndice – porção anti-mesentérica do apêndice. A artéria mesentérica inferior está no meso que chega na parte próxima ao meso 4. Não peguei essa parte Exames complementares BHG Leucograma Raio-X: quase não é utilizado atualmente. O que vejo nele? Posso fazer diagnóstico diferencial com abdome agudo obstrutivo e pneumoperitôneo, por exemplo. Mas, em relação ao apêndice eu posso encontrar os seguintes achados: Ana Isabel S. Lima| Clínica Cirúrgica (P5) 11 Apendicolito Apagamento do músculo psoas Em fases avançadas – gás no lúmen Espessamento das paredes Massa extensa na região do ceco O USG é um exame bom para o diagnóstico, mas tem limitações como ser operador-dependente ou ter a presença de gases nas alças abdominais. O padrão-ouro é a tomografia computadorizada, tendo alta acurácia, conseguimos avaliar melhor os achados. Tratamento Apendicectomia. Embora existam trabalhos que visem o tratamento clínico, osprotocolos ainda preconizam a cirurgia. DIVERTICULITE AGUDA Ocorre predominantemente no cólon sigmoide, em pacientes de origem asiática, não tem predomínio de sexo, é mais prevalente em idosos. Ocorre principalmente nessas regiões do cólon por ser mais estreito.
Compartilhar