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Carolina Melo – Histologia – P3 UC7 FISIOPATOLOGIA DA ICTERÍCIA METABOLISMO DA BILIRRUBINA: A bilirrubina corresponde a um produto advindo do catabolismo das hemácias, denominado hemocaterese, realizado aproximadamente nos 120 dias de vida dessas hemácias (ocorre dentro do Sistema fagocítico mononuclear, mais precisamente, no macrófago). Portanto, quando a hemácia é rompida, a hemoglobina libera a globina do grupo heme. Este grupo heme tem um núcleo tetrapirrólico centralizado por uma molécula de ferro. Sob a ação de uma enzima chamada hemo-oxigenase, o núcleo tetrapirrólico abre-se e libera o átomo de ferro, formando dessa forma um pigmento chamado de biliverdina. A biliverdina é um composto instável, que sob a ação de uma enzima chamada biliverdina redutase, transforma-se em um composto chamado de bilirrubina não conjugada (livre), e por ser um composto pouco hidrossolúvel, circula no sangue associado a uma molécula de albumina e passa a ser chamada de bilirrubina não conjugada (indireta). Do sangue, quando chega ao hepatócito, o hepatócito capta avidamente a BNC, através de umas proteínas carregadoras de membrana do hepatócito. Quando essa bilirrubina entra no citoplasma desse hepatócito a BNC é transportada por algumas proteínas carreadoras, chamadas de proteínas z e y (ligandina) e vai para o Retículo endoplasmático Liso. No REL, a BNC é conjugada com o Ácido glicurônico, graças a ação da enzima glicoronil transferase (UGT1A1), esse composto, agora hidrossolúvel, vai passar a ser chamado de bilirrubina conjugada (direta). Em seguida, essa bilirrubina cai nos canalículos biliares por meio de um transporte ativo concedido por uma bomba na membrana plasmática dos hepatócitos. Nos canalículos, a bilirrubina percorre todas as vias biliares para ser liberada pela Ampola hepatopancreática, na 2° porção do duodeno. Essa bilirrubina conjugada não pode ser absorvida pelo intestino por ser polar, assim, no íleo e no cólon a bilirrubina é reduzida a urobilinogênio por meio de enzimas bacterianas chamadas de beta glicuronidase. Como o urobilinogênio é apolar, ele pode ser parcialmente reabsorvido pelo intestino e voltar de novo para o fígado ou excretado pelos rins (sendo denominado de urobilina), ou pode ser liberado nas fezes na forma de estecorbilina (é o que dá a cor das fezes). FISIOPATOLOGIA: Tanto bilirrubina não conjugada quanto a bilirrubina conjugada (glicuronídeos de bilirrubina) podem sofrer acúmulo sistêmico. Existem duas diferenças fisiopatológicas importantes entra as duas formas de bilirrubina que são importantes destacar: A BNC (bilirrubina não conjugada) é praticamente insolúvel em água em PH fisiológico e existe na forma de complexos estáveis com albumina sérica. Essa forma não pode ser excretada na urina, mesmo que os níveis sanguíneos estejam elevados. Normalmente, uma quantidade muito pequena de bilirrubina não conjugada está presente com um ânion livre de albumina no plasma. Contudo, essa fração de bilirrubina não ligada pode se difundir para os tecidos, particularmente o cérebro em lactentes (bebês), e produzir lesão tóxica. A fração plasmática não ligada pode aumentar na Doença Hemolítica Severa ou quando alguns medicamentos deslocam a bilirrubina da albumina. Consequentemente, a Doença Hemolítica do RN (Eritroblastose fetal) pode levar ao acúmulo de BNC no cérebro, o que pode causar uma lesão neurológica grave, conhecida como kernicterus. A BC (bilirrubina conjugada) é hidrossolúvel, atóxica e está ligada apenas frouxamente à albumina. Em virtude de sua solubilidade e fraca associação com a albumina, o excesso de bilirrubina conjugada no plasma pode ser excretado pela urina. A icterícia neonatal é uma patologia conhecida como Icterícia fisiológica do RN, causada pelo acúmulo de pigmento bilirrubínico não conjugado, que é lipossolúvel e pode causar danos ao SNC. Carolina Melo – Histologia – P3 UC7 Causas para essa patologia: ▪ Sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito ▪ Menor capacidade de captação, conjugação e excreção hepática da bilirrubina. Essa sobrecarga decorre da produção aumentada de BI no RN, já que produz 2 a 3 vezes mais bilirrubina do que o adulto, por causa da maior quantidade proporcional de hemoglobina e menor vida média das hemácias, que é de 70 a 90 dias. HIPERBULINEMIA INDIRETA Durante a vida intra-uterina o feto apenas produz bilirrubina indireta, que era eliminada pela placenta. Ao nascer o RN precisa começar a conjugar a bilirrubina indireta para que essa se torne bilirrubina direta e seja eliminada. No entanto, o RN ainda apresenta um fígado pouco desenvolvido, por isso a captura e conjugação lá no fígado nos hepatócitos se torna prejudicada, causando um acúmulo de bilirrubina indireta no corpo. Dessa forma, o RN depende do leite materno, pois esse leite apresenta grandes quantidades da enzima Beta-glicuronidase, que é responsável por transformar a bilirrubina direta em urobilinogênio, para que este seja excretado pelas fezes ou urina ou reabsorvido, voltando para a forma de bilirrubina indireta, mantendo o ciclo entero-hepático. A avaliação da bilirrubina transcutânea é realizada, de preferência, no esterno. Exames laboratoriais na investigação: Icterícia fisiológica: A literatura classicamente atribui o valor de 13mg/dL como máximo para delimitar a icterícia fisiológica. Causas não fisiológicas: A idade gestacional entre 35 e 36 semanas, independentemente do peso ao nascer, é considerada um dos fatores de risco mais importantes para hiperbilirrubinemia significativa em razão da capacidade diminuída da conjugação hepática da bilirrubina e da dificuldade na sucção e deglutição para manter oferta adequada de leite materno. ICTERÍCIA PELO ALEITAMENTO MATERNO: Essa patologia é causada por um déficit de ingestão de leite materno pela dificuldade de sucção ou pela pouca oferta de leite. Isso provoca uma perda de peso e também desidratação do RN. A fisiopatologia deve-se ao aumento da circulação entero-hepática que causa uma sobrecarga de bilirrubina indireta no hepatócito, representando um quadro de hiperbulinemia indireta SÍNDROME DA ICTERÍCIA PELO LEITE MATERNO: Corresponde a uma predisposição genética da mãe que apresenta um leite materno com menor quantidade da enzima glicuronil transferase (UGT1A1). Dessa forma, a captura hepática de bilirrubina indireta pode até funcionar em pequenas quantidades, porém a conjugação nunca irá funcionar enquanto o RN estiver em contato com o leite Carolina Melo – Histologia – P3 UC7 materno. Essa patologia é uma hiperbilirrubinemia indireta persistente que não causa perda de peso. OUTRAS CAUSAS: Outra causa frequente de hiperbilirrubinemia indireta é o jejum prolongado, que favorece a absorção da bilirrubina no nível intestinal e seu maior aporte para a circulação sanguínea. Lembrar que a icterícia prolongada pode ser a única manifestação do hipotireoidismo congênito, pois o hormônio tireoidiano é um indutor da atividade da glicuroniltransferase. A deficiência de G6PD deve ser pesquisada em todo RN que apresente icterícia não fisiológica, mesmo que outra causa explique a hiperbilirrubinemia. É uma doença genética associada ao cromossomo X. INCOMPATIBILIDADE RH (ANTÍGENO D) A hemólise ocorre quando as hemácias do feto e RN, portadoras do antígeno D, são destruídas por anticorpos maternos IgG anti‐D. São mães sensibilizadas em gestações anteriores que não receberam imunoglobulina específica, com prova de Coombs indireta positiva. A intensidade da hemólise pode determinar formas leves da doença, com icterícia tratável no máximo por fototerapia e anemia, que pode perdurar entre 1 e 3 meses, formas moderadas, tratadas com fototerapia por vários dias, às vezes com indicação de exsanguinotransfusão(EST) anemia mais profunda e também encontrada até 1 a 3 meses, e formas graves, com hidropsia fetal e péssimo prognóstico. O Coombs direto é sempre positivo, e a contagem de reticulócitos, alta. INCOMPATIBILIDADE ABO Caracterizada pela tipagem A ou B em RN de mãe O, seja Rh positivo ou negativo. Mais encontrada na primeira gestação, com curso variável. A icterícia costuma aparecer nas primeiras 24 ou 36 horas de vida, e a hemólise pode ocorrer por até 2 semanas. O nível de BT pode atingir valores altos, como 20 mg/dL. A anemia não é proeminente. Menos grave do que a incompatibilidade Rh, também exige cuidados. Usualmente tratada por fototerapia; em alguns casos, a EST é indicada. Prova de Coombs positiva pode ser evidenciada em 20% dos casos, sem traduzir hemólise maciça. TRATAMENTO DA HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA As formas de terapia mais utilizadas no tratamento da hiperbilirrubinemia indireta compreendem a fototerapia e a EST, e, em alguns casos, a imunoglobulina standard endovenosa. Os níveis de bilirrubinas para indicar fototerapia e EST, de acordo com idade gestacional e tempo de vida. HIPERBULINEMIAS HEREDITÁRIAS Muitas mutações genéticas podem causar hiperbilirrubinemia hereditária. Por exemplo, a enzima de conjugação hepática UGT1A1 (enzima que catalisa a via de conjugação da bilirrubina), é a única isoforma responsável pela glicuronidação da bilirrubina. Mutações em UGT1A1 causam as hiperbilirrubinas não conjugadas hereditárias: a síndrome de Crigler-Najjar tipos I e II e a síndrome de Gilbert. A Síndrome de Crigler-Najjar tipo 1 é causada pela deficiência grave de UGT1A1 e é fatal perto da época do nascimento, enquanto a Crigler-Najjar tipo II e na Síndrome de Gilbert há alguma atividade de UGT1A1 e os fenótipos são muito mais leves. Em contraste, a síndrome de Dubin-Johnson e a síndrome de Rotor resultam de outros defeitos que levam à hiperbilirrubinemia conjugada. Ambas são distúrbios autossômicos recessivos e inócuos. Carolina Melo – Histologia – P3 UC7
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