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Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed TUTORIA IV Problema 3 – Módulo 1 Tema: Icterícia Neonatal; Mecanismo da Bilirrubina. Problemática: Desinformação acerca do fator RH, e das causas e consequências de icterícia neonatal. Objetivo 01: Discutir a fisiologia da formação da bilirrubina. Introdução A detecção de icterícia tem importante valor semiológico. Reflete perturbações na síntese ou nas etapas do metabolismo e excreção da bilirrubina e pode ser manifestação clínica de inúmeras doenças hepáticas e não hepáticas. A icterícia pode ser a primeira ou a única manifestação de hepatopatia. Pode ser evidenciada na esclera, pele, língua e outros locais ricos em elastina, devido à grande capacidade desses tecidos de se impregnarem do pigmento biliar. Formação da bilirrubina O metabolismo dos pigmentos biliares revela a produção de bilirrubina como produto final da degradação do grupo heme, o qual pode provir das hemoglobinas envelhecidas, dos eritrócitos da medula óssea por eritropoese ineficaz e, em menor parte, formada a partir da degradação de outros complexos proteicos (catalase, mioglobina e citocromo P- 450), especialmente no baço, onde é posteriormente transportado para o fígado pela circulação esplênica. A bilirrubinemia está em excesso quando a produção de bilirrubina é elevada e atinge o máximo da capacidade de ligação do pigmento pela albumina, sai da circulação e dirige-se para vários tecidos, em especial fígado, rins, pulmões, coração, glândulas suprarrenais e cérebro. As concentrações elevadas de bilirrubina, quando depositadas na pele e esclerótica, nem sempre significam que a bilirrubina sérica reflita realmente a concentração do composto acumulado. Metabolismo Fisiológico da Bilirrubina O metabolismo da bilirrubina pode ser subdividido em captação, armazenamento, conjugação e secreção hepática, na qual se encontram enzimas cujas atividades podem ser alteradas causando processos patogênicos. As hemácias são formadas na medula óssea e se destinam ao sistema circulatório, circulam por 120 dias e são destruídas. No transcorrer desse período, seu sistema metabólico torna- se cada vez menos ativo, a sua membrana fica mais frágil (senescente) e rompe-se durante sua passagem em lugares estreitos. Muitas hemácias se autodestroem no baço, onde os espaços entre as trabéculas estruturais da polpa vermelha pelos quais devem passar a maioria das hemácias medem apenas 3 μm de largura em Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed comparação com o diâmetro de 8 μm das hemácias. A ruptura das hemácias libera a hemoglobina, que é fagocitada de imediato pelos macrófagos em muitas partes do organismo, especialmente pelas células de Kupffer, no fígado, e pelos macrófagos no baço e na medula óssea. É captada pelo sistema retículo-endotelial, sendo transformada a sua hemoglobina pela heme-oxigenase em biliverdina, monóxido de carbono e ferro. A biliverdina-redutase converte a biliverdina em bilirrubina livre, sendo gradualmente liberada dos macrófagos para o plasma. A taxa de conversão da biliverdina em bilirrubina livre é de 4 mg/kg/dia. Essa bilirrubina é lipossolúvel e apolar, podendo ligar-se à albumina e sua fração livre atravessar a barreira hematoencefálica. A bilirrubina livre atravessa facilmente a barreira hematoencefálica, sendo potencialmente tóxica para o tecido nervoso. A afinidade da bilirrubina pelo tecido nervoso não conjugada concomitante às concentrações elevadas no sangue em recém-nascidos pode impregnar os gânglios da base, causando kernicterus. A bilirrubina sérica se liga fortemente à albumina plasmática, sendo transportada por todo o sangue e fluido intersticiais. Observa-se que a pequena fração de bilirrubina não ligada ao plasma pode aumentar na doença hemolítica grave ou quando drogas ligadoras de proteínas deslocam a bilirrubina da albumina. A bilirrubina ligada às proteínas plasmáticas é denominada “livre”, a fim de distinguir-se da forma conjugada. A bilirrubina livre, quando chega ao fígado, é recolhida pelos hepatócitos por meio de sistemas proteicos, transportadores de membrana (proteínas X e Y), num processo chamado captação. É a seguir liberada da albumina plasmática e conjugada por ação de enzimas microssomais (UDP glicuroniltransferase) com uma ou duas moléculas de ácido glicurônico, formando um composto mais polar e hidrossolúvel, a “bilirrubina conjugada”. Parte dessa bilirrubina liberada nos hepatócitos pode-se ligar a uma proteína citoplasmática denominada ligandina, etapa posterior à sua conjugação, que impede o efluxo dessa substância do hepatócito para o plasma. A bilirrubina conjugada é excretada através do polo biliar dos hepatócitos que está em íntimo contato com os canalículos biliares e daí para os intestinos. A conjugação da bilirrubina ocorre majoritariamente no fígado, sendo também observada nas células dos túbulos renais e nos enterócitos. A bilirrubina conjugada é transportada como complexo lipídico-micelar até o duodeno através do ducto biliar principal, sendo desconjugada e reduzida no cólon por ação das glicuronidases bacterianas, formando os urobilinogênios. Essas moléculas são excretadas nas fezes, em sua maioria, e pequena parte é reabsorvida através da mucosa intestinal e volta ao fígado pelo sistema porta, constituindo o ciclo entero- hepático da bilirrubina; e cerca de 5% são excretados na urina pelos rins. A ligação forte da bilirrubina não conjugada com a albumina plasmática e o estabelecimento de interações fracas com os sais biliares, micelas mistas e vesículas lipídicas Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed tornam-se sua excreção renal limitada, razão pela qual é eliminada, sobretudo pelo fígado. Objetivo 02: Compreender a definição e classificação das icterícias. Definição Icterícia refere-se à tonalidade amarelada dos tecidos corporais, incluindo a coloração amarela da pele e dos tecidos profundos. A causa usual de icterícia é a grande quantidade de bilirrubina nos líquidos extracelulares, tanto em sua forma não conjugada como na conjugada. As causas comuns de icterícia são (1) destruição aumentada de hemácias, com rápida liberação da bilirrubina no sangue; e (2) obstrução dos ductos biliares ou lesão das células hepáticas, de modo que, mesmo as quantidades normais de bilirrubina, não possam ser excretadas pelo trato gastrointestinal. Esses dois tipos de icterícia são denominados respectivamente icterícia hemolítica e icterícia obstrutiva. Classificação • Icterícia Hemolítica É provocada por hemólise das hemácias. Na icterícia hemolítica, a função excretora do fígado não está comprometida, mas as hemácias são hemolisadas tão rápido que as células hepáticas simplesmente não podem excretar a bilirrubina com a mesma intensidade que é formada. Consequentemente, a concentração plasmática de bilirrubina livre se eleva acima dos níveis normais. Outrossim, a formação de urobilinogênio no intestino fica bastante aumentada; muito dele é absorvido pelo sangue e posteriormente excretado na urina. • A Icterícia Obstrutiva É Provocada pela Obstrução dos Ductos Biliares ou por Doença Hepática. Na icterícia obstrutiva, provocada pela obstrução dos ductos biliares (o que ocorre com maior frequência quando cálculo biliar ou câncer bloqueiam o ducto biliar comum) ou pela lesão dos hepatócitos (que ocorre na hepatite), a formação da bilirrubina é normal, mas a bilirrubina formada não pode passar do sangue para os intestinos. A bilirrubina não conjugada ainda adentra os hepatócitos, sendo conjugada do modo usual. Essa bilirrubina conjugada é então devolvida ao sangue, provavelmente pela ruptura dos canalículos hepáticos congestionados, drenando de forma direta a bile para a linfa que deixao fígado. Consequentemente, a maior parte da bilirrubina no plasma é do tipo conjugado, em vez do tipo não conjugado. Etiologias (1) Produção excessiva de bilirrubinas: pode ocorrer nas anemias hemolíticas, reabsorção de sangue de hemorragias internas e nas síndromes de eritropoese ineficaz. (2) Captação reduzida pelo hepatócito: nas interferências de drogas com sistemas de Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed transportes na membrana e alguns casos na síndrome de Gilbert. (3) Conjugação prejudicada: aparece nas icterícias fisiológicas do recém-nascido, nas deficiências genéticas da atividade de UGT1A1 (síndrome de Crigler-Najjar I e II, síndrome de Gilbert) e na doença hepacelular difusa. (4) Excreção hepatocelular reduzida: pode ocorrer na deficiência de transportadores na membrana canalicular (síndrome de Dubin- Johnson); (5) Fluxo biliar prejudicado: como nas colestase. Os três primeiros produzem hiperbilirrubinemia não conjugada e os dois últimos hiperbilirrubinemia predominantemente conjugada. Objetivo 03: Estudar icterícias neonatais (conceito, fatores de risco, quadro clínico, classificação e diagnósticos diferenciais) e suas complicações (principalmente neurológicas - Kernicterus). Conceito A icterícia é a expressão clínica da hiperbilirrubinemia e é, na maioria dos casos, um processo benigno e secundário ao aumento da bilirrubina indireta. As bilirrubinas vêm da quebra da hemoglobina. Inicialmente é insolúvel em água (bilirrubina indireta), é conjugada no fígado (bilirrubina direta) e sua excreção acontece pelo intestino. O aumento sérico de bilirrubinas totais (BT) pode ocorrer em decorrência da elevação de bilirrubina indireta (BI) ou direta (BD). Na prática, 98% dos RN apresentam níveis séricos aumentados de BI na primeira semana de vida, decorrente da adaptação neonatal ao metabolismo da bilirrubina (hiperbilirrubinemia fisiológica) ou de um processo patológico. Por vezes, a hiperbilirrubinemia indireta decorre de um processo patológico, podendo-se alcançar concentrações elevadas de bilirrubinas lesivas ao cérebro, instalando-se o quadro de encefalopatia bilirrubínica. O termo kernicterus é reservado à forma crônica da doença, com sequelas clínicas permanentes resultantes da toxicidade da bilirrubina ➢ Hiperbilirrubinemia Fisiológica A hiperbilirrubinemia fisiológica é aquela em ocorre o aumento dos níveis de bilirrubina sem a necessidade de tratamento. Causas desse aumento: (1) Hemácias de maior volume e com menor meia-vida quando comparado com adultos (2) Eritropoiese ineficaz, aumentando o turnover celular (3) Aumento da circulação êntero-hepática (população bacteriana intestinal reduzida e trânsito intestinal mais lento) (4) Redução da captação hepática e da atividade das enzimas de conjugação (5) Redução da excreção hepática para o intestino. O RN a termo apresenta icterícia visível com bilirrubina >7 mg/dL, e esta alcança um pico de 6 a 8 mg/dL em torno do 3º dia de vida. Nos pré-termos o pico pode ser de até 10-12 mg/dL no 5º dia de vida, podendo alcançar 15 mg/dL sem nenhuma alteração específica no metabolismo da bilirrubina. Na prática, 98% dos RN apresentam níveis séricos de bilirrubina total acima de 1 mg/dL durante a primeira semana de vida, sendo que cerca de dois terços ou mais desenvolvem icterícia com valores superiores a 5 mg/dL. Várias são as limitações do metabolismo da bilirrubina que explicam a icterícia fisiológica, tais como: a sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito e a menor capacidade de captação, conjugação e excreção hepática da bilirrubina. A sobrecarga de bilirrubina ao Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed hepatócito decorre da produção e da circulação êntero-hepática aumentadas de bilirrubina indireta. O neonato produz duas a três vezes mais bilirrubina do que o adulto, devido à menor vida média das hemácias, que é de 70-90 dias, e à maior quantidade de hemoglobina. Uma vez que o catabolismo de 1 g de hemoglobina fornece 34 mg de bilirrubina, a produção diária de bilirrubina no neonato é de 8-10mg/kg, sendo 75% derivada do catabolismo dos eritrócitos e 25% do heme livre, das proteínas hepáticas e da destruição de eritrócitos imaturos. A circulação êntero-hepática elevada de bilirrubina decorre da escassa flora intestinal e da maior atividade da enzima beta- glicorunidase na mucosa intestinal. Existe diminuição da conversão de mono e diglicuronídeos de bilirrubina em urobilinogênio devido à pequena quantidade de bactérias intestinais, tornando os glicuronídeos suscetíveis à desconjugação pela beta-glicuronidase. Isso se reflete na entrada da bilirrubina não conjugada pela circulação êntero-hepática e na sobrecarga de bilirrubina ao hepatócito. A excreção hepática de bilirrubina também é limitada, ocorrendo contra o gradiente de concentração, uma vez que o nível biliar é muito superior ao citoplasmático no hepatócito. ➢ Hiperbilirrubinemia Não Fisiológica Fatores que sugerem icterícia não- fisiológica, devendo ser sempre investigados: (1) Início da icterícia antes de 24 horas de vida (2) Aumento da bilirrubina sérica > 0,2mg/dL/hora (3) Sinais de doença subjacente, como vômitos, letargia, recusa alimentar, perda de peso, apnéia, taquipnéia ou instabilidade térmica (4) Icterícia persistente após 8 dias de vida no RN a termo e após 14 dias no RN pré-termo Dados de anamnese e exame físico que podem direcionar o início da investigação: (1) Irmão que apresentou icterícia ou anemia: sugere incompatibilidade sanguínea ou icterícia do leite materno. (2) Doença materna durante a gestação: sugere infecções congênitas do grupo STORCH (sífilis, toxoplasmose, outras [hepatites, HIV], rubéola, citomegalovírus). (3) Relato de uso de drogas maternas que interferem com a conjugação da bilirrubina (4) Tocotraumatismo: associado com sangramento extra vascular (cefalohematoma, hematomas em geral). É uma causa frequente de icterícia em prematuros (5) Atraso na eliminação de mecônio ou eliminações infrequentes: sugere icterícia por baixo aporte ou obstrução intestinal com aumento da circulação êntero-hepática. (6) Policitemia: frequente em RNs pequenos para a idade gestacional (PIG), filhos de mãe com diabete gestacional e clampeamento tardio de cordão (7) RNs que sofreram hipóxia perinatal ou com lesão hepática: dificuldade hepática em conjugar e excretar a bilirrubina. (8) História familiar de icterícia, anemia, esplenectomia ou litíase biliar: sugere anemia hemolítica hereditária (9) História familiar de doença hepática: sugere galactosemia, deficiência de alfa-1- antitripsina, tirosinemia, doença de Gilbert ou Crigler-Naijar, fibrose cística Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed • Fatores de Risco (1) Alta hospitalar com níveis de bilirrubinas na zona de alto e intermediário risco para desenvolver hiperbilirrubinemia (2) IG < 38 semanas (3) Ganho de peso abaixo do ideal (perda de >7% do peso de nascimento) (4) Icterícia nas primeiras 24 horas (5) Presença de doença hemolítica (Rh, ABO, antígenos irregulares) (6) Irmão que apresentou icterícia com indicação de tratamento (7) Tocotraumatismos, ex: cefalohematoma (icterícia aparece 48- 72hs após o parto e pode ser prolongada) (8) Raça asiática Principais Causas • Icterícia associada ao baixo aporte de Leite Materno: (1) O principal fator responsável por este tipo de icterícia é o baixo aporte inicial de leite que leva ao aumento da circulação êntero- hepática com a redução da eliminação das bilirrubinas. (2) A incidência de um pico de bilirrubina >12 mg/dL em RNs a termo amamentados ao seio é de 12-13%. (3) É vista quando o aleitamento ainda não está adequado e o RN não ganha peso de forma consistente. Geralmente observada em RNs que perderam mais de 7% do peso de nascimento.(4) Associada à alta hospitalar precoce, com menos de 48 horas de vida. • Icterícia do Leite Materno: Icterícia que ocorre em 2-4% dos RN por uma provável interferência de fatores presentes no leite materno com o processo de conjugação da bilirrubina. A hiperbilirrubinemia pode atingir um pico de 20 mg/dl por volta do 14º dia de vida, com redução gradual em até 12 semanas. 3,4 Em certos casos, intervenção médica se fará necessária. • Incompatibilidade ABO: (1) É a causa mais comum de doença hemolítica em RN. (2) Geralmente é vista em mães do tipo O e RNs tipo A ou B, sendo que a mãe produz anticorpos anti-A e anti-B da classe IgG, que ultrapassam a placenta, causando hemólise no RN, podendo ocorrer anemia, icterícia e retriculocitose. (3) Pode ocorrer já na primeira gestação, porque a mãe pode ser sido sensibilizada por alimentos, vacinas, bactérias, protozoários e vírus. (4) Somente 1/5 deste grupo irá desenvolver icterícia importante, pois a maioria, mesmo com anticorpos anti-A e anti-B na membrana da hemácia, não apresentará hemólise significativa. • Incompatibilidade Rh: (1) Ocorre quando a mãe é antígeno D negativo (Rh negativo) e RN Rh positivo. A mãe produz anticorpos anti-Rh da classe IgG que atravessam a barreira placentária hemolisando as hemácias fetais, produzindo anemia, icterícia e reticulocitose. (2) Geralmente causa doença mais severa do que a incompatibilidade ABO (a forma mais grave é conhecida como hidropsia fetal) (3) Exige uma sensibilização prévia (quantidades mínimas de sangue: alíquotas de 0,1ml): Na primeira exposição há a produção de IgM que não atravessa a placenta (4) A gravidade da doença aumenta com o número de sensibilizações (5) A prevenção é realizada através da administração de Imunoglobulina humana antiRh para mães Rh negativo não sensibilizadas (com coombs indireto [CI] negativo) em até 72 horas após as seguintes situações: parto, abortamento, amniocentese, biópsia de vilo, gravidez ectópica e sangramento durante a gestação. Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed (6) A incompatibilidade ABO protege contra incompatibilidade Rh. Os anticorpos maternos, anti-A e anti-B, eliminam os antígenos Rh fetais antes da sensibilização. (7) A hemólise é extravascular e ocorre principalmente no baço. • Deficiência de G6PD: (1) É uma doença associada ao X, porém afeta igualmente ambos os sexos (2) Atinge cerca de 7% população brasileira (3) Mais comum quando os ascendentes são da região do Mediterrâneo (4) Deve ser diagnóstico diferencial de RNs que internam por icterícia precoce ou prolongada ou investigação de doença hemolítica. (5) Hemólise aguda pode ocorrer quando o RN entrar em contato com agentes oxidantes (gestação, aleitamento materno e contato direto com algumas substâncias e drogas como naftalina, cloranfenicol, sulfas, anti- helmínticos dentre outros) ou apresentar acidose, hipoglicemia e infecções. (6) Os pais, após a alta, devem ser orientados em relação a evitar exposição com os agentes causadores de hemólise, incluindo medicações. ➢ Classificação A classificação da icterícia neonatal envolve 2 grandes grupos de patologias, que acolhem vários tipos de causas. Trata-se da hiperbilirrubinemia indireta, produzida pelo aumento sérico da fração livre (BI), e a direta, decorrente do acúmulo da fração conjugada, ou direta, da bilirrubina (BD). ➢ Hiperbilirrubinemia Indireta ➢ Hiperbilirrubinemia direta A elevação do nível de BD resulta de distúrbios hepáticos ou doenças sistêmicas potencialmente graves. A icterícia coles- tática caracteriza-se pelo aumento prolongado da bilirrubina conjugada e é reflexo da redução da excreção pelas células parenquimatosas hepáticas ou doença do trato biliar. A icterícia causada pela BD elevada confere à pele um tom esverdeado ou Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed amarelo-acastanhado opaco. As causas a serem consideradas envolvem obstrução, sepse, doença do trato biliar, toxinas, inflamação e doenças metabólicas ou genéticas. Entre os critérios que indicam hiperbilirrubinemia grave, está o aumento da bilirrubina conjugada > 1 mg/ dL, se BT < 5 mg/ dL, ou quando bilirrubina conjugada > 20% da bilirrubina total se BT > 5 mg/dL. A colestase é causada por uma obstrução extra ou intra-hepática ao fluxo biliar e resulta em retenção no soro de substâncias que normalmente são excretadas na bile, e o marcador mais comum é a hiperbilirrubinemia conjugada. Apesar de não ser neurotóxica, seu acúmulo é sempre patológico e deve ser feito o diagnóstico de forma precoce em razão do potencial de gravidade da atresia biliar, uma das causas mais comuns de colestase. Entre as várias causas, as mais prevalentes são a atresia de vias biliares e a hepatite neonatal. A atresia biliar é definida como ausência ou obliteração dos ductos biliares extra-hepáticos, sendo a principal indicação de transplante hepático em crianças. Os recém-nascidos desenvolvem icterícia progressiva nas primeiras 8 semanas de vida e podem apresentar acolia fecal, entretanto, muitas vezes no início do quadro aparentam bom estado geral e adequado ganho de peso. Os testes laboratoriais apresentam níveis eleva dos de bilirrubina conjugada, discretos ou moderados aumentos de aminotransferases e elevação da gama- glutamil transpeptidase (GGT). A hepatite neonatal idiopática é uma doença de causa desconhecida; inclui-se no diagnóstico diferencial da atresia, sendo caracterizada por aumento prolongado da bilirrubina conjugada e pelo achado histológico de células gigantes em biópsia hepática. A sepse neonatal causada por organismos Gram-positivos ou Gram-negativos está associada a colestase. Nos casos de infecção do trato urinário por Escherichia coli, a icterícia pode ser o único sinal presente. Em infecções congênitas, como nos casos de toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e sífilis, os recém-nascidos também podem evoluir com icterícia colestática. Erros inatos do metabolismo cursam com hiperbilirrubinemia direta, como nos casos de galactosemia ou tirosinemia, patologias que devem ser diagnosticadas precocemente para início de um tratamento eficaz e melhor prognóstico. Diagnósticos Diferenciais ➢ Icterícia fisiológica Icterícia de origem benigna que ocorre em 25- 60% dos RN, sem alteração no metabolismo da bilirrubina. No RN a termo a hiperbilirrubinemia pode atingir valores de 12- 15 mg/dl entre o 3º e o 5º dia de vida e nos pré-termos, o pico é de até 12-17 mg/dl entre o 5º e o 7º dia. A hiperbilirrubinemia fisiológica costuma regredir em uma semana nos RN a termo e até o 10º dia de vida nos prematuros. ➢ Icterícia ligada à amamentação ao seio Icterícia por baixo aporte de leite, levando ao aumento da circulação entero-hepática de bilirrubina. Ocorre em até 13% dos RN em aleitamento materno exclusivo, com pico de hiperbilirrubinemia maior que 12 mg/dl. ➢ Icterícia pelo leite humano Icterícia que ocorre em 2-4% dos RN por uma provável interferência de fatores presentes no leite materno com o processo de conjugação da bilirrubina. A hiperbilirrubinemia Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed pode atingir um pico de 20 mg/dl por volta do 14º dia de vida, com redução gradual em até 12 semanas. Em certos casos, intervenção médica se fará necessária. ➢ Icterícia patológica Icterícia que ocorre por sobrecarga de bilirrubina no hepatócito, deficiência/inibição da conjugação da bilirrubina ou colestase. Frequentemente, a bilirrubina sérica já atinge nível maior que 12 mg/dl nas primeiras 24 horas de vida. Complicações A toxicidade da bilirrubina varia com a prematuridade e com as comorbidades do paciente, implicando em lesão do SNC. Quanto mais prematuro ou doente for o paciente, maior é a chance de complicações, devido a maiorpermeabilidade da barreira hemato- encefálica (BHE) e redução da capacidade de conjugação da bilirrubina indireta (lipossolúvel), que atravessa com maior facilidade a BHE quando alguns fatores como anóxia, sepse, hipercapnia, hipoglicemia, meningite, hipotermia, NPO, hipertensão arterial estão presentes. • Encefalopatia Bilirrubínica Aguda Pode ser encontrada em RNs com doença hemolítica e bilirrubinas >20 mg/dL É dividida em 3 fases que são percebidas ainda no período neonatal: 1. Hipotonia, letargia, choro agudo e sucção débil 2. Hipertonia extensora com opsitótono, rigidez, crises oculogíricas, convulsões e febre. Muitos RNs evoluem para óbito nesta fase. Todos os sobreviventes desenvolvem encefalopatia crônica 3. Hipotonia após 1 semana de evolução. • Kernicterus É o diagnóstico histopatológico da bilirrubina impregnada no tecido cerebral apresentando morte neuronal e gliose (coloração amarelada). Os locais mais acometidos são: gânglios da base, núcleos de nervos cranianos, núcleos do tronco e cerebelo, hipocampo e células anteriores da medula espinhal. Está relacionada à sequela crônica e permanente = encefalopatia bilirrubínica crônica Forma crônica e permanente da encefalopatia bilirrubínica. O RN desenvolve paralisia cerebral atetoide, neuropatia auditiva, displasia dentária, e ocasionalmente, deficiência mental. Os RN a termo ictéricos que desenvolvem kernicterus evoluem inicialmente com os seguintes sintomas: hipotonia, debilidade de sucção, recusa alimentar e convulsões. Esse conjunto de sintomas progride em três a quatro dias para hipertonia, opistótono, hipertermia e choro com tonalidade aguda. Nessa fase, 70% dos pacientes podem evoluir para óbito devido à parada respiratória. Nos sobreviventes, ocorre uma melhora aparente até que, em período variável, aparecem as sequelas definitivas: paralisia cerebral espástica, movimentos atetoides, distúrbios de deglutição e fonação, surdez e deficiência mental leve a moderada. Estudar o que é COOMBS Direto e Indireto Teste da Antiglobulina Direto(Coombs Direto): A principal finalidade deste teste é a detecção de hemácias revestidas de anticorpos, ou seja, hemácias sensibilizadas "in vivo". É muito utilizado na investigação de reações transfusionais, no diagnóstico de doença hemolítica perinatal e de anemias hemolíticas auto-imunes. Sara Luiza Costa Silva – MEDICINA 4° Período @saraluizacfazmed Teste da Antiglobulina Indireto(Coombs Indireto) : Consiste na Pesquisa de Anticorpos Irregulares(P.A.I.), onde iremos determinar a ausência ou a presença de anticorpos livres no soro ou plasma de doadores e pacientes. Quando obtivermos um P.A.I. Positivo, será indicativo da presença de um anticorpo irregular no plasma deste paciente ou doador de sangue, o que nos levará a realização de um outro teste denominado de Identificação de Anticorpos Irregulares(I.A.I.), onde iremos determinar a especificidade deste anticorpo, ou seja, contra que aglutinógeno específico este anticorpo é voltado. A Doença Hemolítica Perinatal, é responsável pela hemólise do sangue fetal decorrente da sensibilização da mãe Rh negativo às hemácias fetais Rh positivo e da produção de anticorpos maternos anti-Rh que passam a placenta. A presença dos anticorpos anti-Rh no sangue materno é identificada pelo teste de Coombs indireto e no sangue do recém- nascido é identificada pelo teste de Coombs direto. Na primeira consulta pré-natal, todas as gestantes devem realizar a tipagem pelo grupo sanguíneo ABO e do fator Rh. Se o fator Rh for negativo, deve-se solicitar a pesquisa do teste de Coombs indireto no início da gestação e repetir mensalmente, se a tipagem do parceiro for desconhecida ou for Rh positiva. Gestante Fator RH Negativo e Parceiro com Fator RH Positivo ou Desconhecido: Solicitar teste de Coombs indireto. Se o Coombs indireto for negativo, repeti-lo mensalmente. Quando o Coombs indireto for positivo, encaminhar a gestante ao pré-natal de alto risco. Tutoria (professora): No intestino, a bilirrubina não conjugada é convertida em conjugada pela ação de bactérias da flora intestinal, auxiliando a reabsorção e eliminação. No recém-nascido, existe uma pequena quantidade de bactérias intestinais, podendo ocorrer a icterícia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BEHRMAN, Richard E.; KLIEGMAN, Robert; JENSON, Hal B. Nelson - Tratado de Pediatria. 19. ed. Rio de Janeiro: Elsevier / Medicina Nacionais, 2013. 2 v. 2. MURAHOVSCHI, Jayme. Pediatria – Diagnóstico + Tratamento. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Sarvier, 2013.
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