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Júlia Camargos FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA CLÍNICA MÉDICA - NEFROLOGIA AULA 8 - INFECÇÃO DE TRATO URINÁRIO ABORDAGEM INICIAL DAS ITUs: ● Alta (restrita a bexiga, cistite) ou Baixa (comprometimento fora da bexiga) ● Não-complicada ou Complicada (altera a morbidade e mortalidade) ● Comunitária ou Hospitalar Alta ou Baixa: ● ITU baixa (Cistite): Dissúria, polaciúria, urgência e dor suprapúbica e/ou hematúria. Bastante frequente em mulheres ● ITU Alta (Pielonefrite): Febre, dor lombar, náuseas, vômitos, Giordano + Não-Complicada ou complicada: ● Não complicada: Restrita à bexiga, Ausência de sinais e sintomas sugestivos de comprometimento do trato urinário superior ou infecção sistêmica ● Complicada: ITU aguda acompanhada de sinais e sintomas sugestivos de extensão da infecção além da bexiga: ○ Febre (>37,7oC), Tremores, calafrios, astenia, fadiga ou outros sintomas de doença sistêmica, Dor lombar, Giordano +, dor pélvica ou dor perianal em homens (acometimento da próstata) ● Populações Especiais: Gestantes e Transplantados renais Comunitária ou hospitalar: ● Comunitárias: principalmente E. coli e estafilococos. Menor frequência de Gram -. Maior susceptibilidade aos antimicrobianos que são utilizados na prática clínica. ● Hospitalar: Diferentes cepas de E. coli (com susceptibilidade diferente aos antibióticos normalmente utilizados), gram -, cândida, proteus e gram +) EPIDEMIOLOGIA: ● Cerca de 50 a 60% das mulheres sexualmente ativas terão pelo menos um episódio de cistite na vida; ● A incidência no homem adulto é rara: cerca de 50 a 80 episódios/100.000/ano. ● Região perineal é uma região naturalmente contaminada. As bactérias que ascendem e chegam na bexiga são bactérias próprias da paciente que colonizaram essa região ● Mulheres: uretra em torno de 5 cm ● Homem: em torno de 15 cm - muito maior, protege o homem, uretra seca, líquidos seminais possuem ação bacteriostática 1 Júlia Camargos MICROBIOLOGIA: ● Escherichia coli: 75 a 95% ● Staphylococcus saprophyticus (principalmente nas pacientes que estão iniciando suas atividades sexuais) ● Proteus mirabilis (relacionados à cálculos coraliforme), Klebsiella, enterococcus (mais frequente em mulheres idosas) e outros ● Clamydia: síndrome uretral ● Lembrar que existe a possibilidade da paciente ser portadora de um gram - multirresistente (avaliar de acordo com os critérios do quadro abaixo) SINTOMATOLOGIA: ● ITU baixa: Disúria, polaciúria, urgência, dor supra-púbica, hematúria; ● ITU alta: Febre, dor em flancos, punho-percussão dolorosa, náuseas e vômitos ● Vaginite: Descarga vaginal, dispareunia, prurido vaginal e odor; ● Síndrome Uretral: Disúria, descarga uretral, passado de DST, promiscuidade sexual; ● Mulheres idosas: Disúria crônica, incontinência urinária, noctúria, mal-estar generalizado. Uma queixa frequente em mulheres idosas é o odor fétido e urina turva. → Embora urina com odor fétido e turva possa se associar com presença de bactérias, não existe evidência que o tratamento dessas queixas com antibióticos seja benéfico. A cor e odor da urina são influenciados pela ingestão de certos alimentos, por desidratação e outros fatores não infecciosos, sendo que o aumento da ingesta de líquidos e a observação são a melhor abordagem nesses casos. QUADROS CLÍNICOS: ● Mulher de 32 anos, queixando-se de disúria e polaciúria, com piócitos no EAS → bacilos gram - no gram de gota (E. coli) ● Paciente de 65 anos (já tem algum grau de demência) com disúria e polaciúria e piúria no EAS → por mais q a E. coli seja mais frequente, há possibilidade de se encontrar enterococcus gram +; ● Paciente do sexo feminino, de 18 anos com disúria, polaciúria, iniciando atividade sexual e piúria no EAS → possibilidade de Staphylococcus saprophyticus (coagulase negativo); 2 Júlia Camargos ● Paciente do sexo feminino, diabética, 42 anos, com cateter de Foley (acabou de sair de um procedimento) → possibilidade de Candida (fungo); ● Paciente do sexo masculino, 22 anos, com disúria, polaciúria e descarga purulenta uretral → Gonococcus. CONDUTA: ● Sinais e sintomas de ITU complicada ou sinais e sintomas de vaginite ou uretrite (descarga vaginal, uretral, etc) ○ ITU Complicada: ITU aguda acompanhada de sinais e sintomas sugestivos de extensão da infecção além da bexiga (Febre (>37,7oC), Tremores, calafrios, astenia, fadiga ou outros sintomas de doença sistêmica, Dor lombar, Giordano +, dor pélvica ou perianal em homens) ● Se não existem Sinais e sintomas de ITU complicada ou sinais e sintomas de vaginite ou uretrite (quadro típico de cistite) nós não solicitamos urocultura → fazer tratamento (pode solicitar um EAS) ○ Urocultura é caro e demora para sair o resultado ○ Maioria das vezes as pacientes vão apresentar esse quadro ● Indicações para Urocultura: Suspeita de ITU complicada; Sintomatologia não característica (dúvida entre uretrite e cistite); Resistência à tratamento prévio; Recorrência menos de 01 mês após tratamento antimicrobiano. Situação especial: Piúria no EAS + urocultura negativa ● Piúria Asséptica: Contaminação da urina por solução esterilizante; Contaminação por leucócitos vaginais; Nefrite intersticial crônica (paciente com piúria e sem ITU); Nefrolitíase e Tumor (hematúria é mais comum); Clamídia, Ureoplasma, tuberculose do trato urinário . ESCOLHA DO ANTIBIÓTICO: ● Sulfametoxazol e ampicilina são agentes ruins ● Quinolonas não devem ser usadas como agentes de primeira linha no tratamento de ITU não-complicada em mulheres. Embora sejam eficazes em tratamentos curtos (três dias),existe risco de indução de resistência bacteriana. 3 Júlia Camargos ● Os agentes de primeira linha são nitrofurantoína, sulfametoxazol-trimetoprim ou fosfomicina. ● Brasil: alta incidência de resistência ao Bactrim® → evitar o uso dessa droga, exceto quando for orientado por cultura (que não vai ser realizada em uma cistite banal) ● Fosfomicina (Monuril®): 1 envelope (3gr) em 1/2 copo d'água em dose única ● Nitrofurantoína (Macrodantina®): 01 comp (100mg) de 06/06h durante 5 dias ● Amoxicilina-Clavulanato (Clavulin BD®): 01 comp(875 + 125) de 12/12h por 5 dias Acompanhamento Posterior: ● Não se solicitar urocultura de controle da ITU; ● O acompanhamento se baseia na melhora da sintomatologia; ● É indicado solicitar urocultura apenas na gravidez ou cistite complicada; ou se os sintomas não se resolvem após o tratamento. ITU COMPLICADA: ● É aquela que acompanhada de sinais e sintomas sugestivos de extensão da infecção além da bexiga: ○ Febre (>37,7oC); Tremores, calafrios, astenia, fadiga ou outros sintomas de doença sistêmica; Dor lombar; Giordano +; Dor pélvica ou perianal em homens (prostatite). ● Pacientes com anormalidades urológicas (nefrolitíase, estenose de JUP, duplo J), imunossuprimidos ou diabéticos com mau controle glicêmico, não são considerados inicialmente como ITU complicada, a não ser que tenham sinais de envolvimento do trato urinário superior ou infecção sistêmica, mas merecem atenção especial. Conduta: 4 Júlia Camargos ● Solicitar urocultura e gram de gota (feito na hora, urocultura demora) e EAS ● Paciente séptico ou com obstrução do trato urinário: obrigatoriamente deve-se solicitar exame de imagem. ○ ATB de amplo espectro com cobertura para bactérias produtoras de β-lactamases estendida e os S. aureus resistentes (Imipenem, Meropenem ou Doripenem + Vancomicina ou Linezolide). ● Se esse paciente não tem esses agravos (sepse, obstrução), temos que nos perguntar se tem alguma possibilidade de participação de bactérias resistentes (história positiva nos últimos 3 meses de gram negativo multirresistente, uso de quinolonas, Bactrim ou β-lactâmico de amplo espectro, viagem recente para locais de alta frequência de germes multirresistentes) → se SIM (quadro vermelho) e se NAO (quadro amarelo) Algoritmo de Conduta da ITU Complicada: ● Sempre escalonar o tratamento empírico de acordo com o antibiograma; ● Alterar de EV para VO, assim que o paciente melhore; ● Duração do tratamento de 5 a 14 dias , dependendoda resposta e do agente escolhido (5 a 7 dias para quinolonas, 10 a 14 dias para β-lactâmicos); ● Se não houver melhora em 48-72h ou se o paciente tem recorrência dos sintomas dentro de poucas semanas após o tratamento, o paciente deve ser submetido obrigatoriamente à exame de imagem (se ainda não realizado). ITU EM HOMENS: ● Cistite aguda simples é extremamente infrequente em homens entre 15 e 50 anos (5 a 8 episódios/10.000): ● Descartar uretrite (jovens, descarga uretral) e prostatite (idosos, febre, dor perianal); ● Fatores de risco: sexo anal, ausência de circuncisão; 5 Júlia Camargos ● Primeira infância, pré-escolar ou idosos: Obstrução do trato urinário, Instrumentação, Anormalidades urológicas ● Em homens sempre solicitamos urocultura, gram de gota e EAS ● Questionar os sintomas que são sugestivos de infecção além da bexiga ● Se for cistite simples: tratamento igual ao das mulheres ● Se for cistite complicada: mesmo algoritmo usado para mulheres com cistite complicada ● Se o paciente tem sinais e sintomas que nos levem a pensar prostatite: tratar com ATB que penetram bem a próstata (quinolonas - ciprofloxacinin e levofloxacin - e o sulfametoxazol-trimetoprim). Como a próstata tem baixa irrigação sanguínea, o tratamento deve ser mantido por no mínimo 6 semanas ● Se o paciente apresenta sinais e sintomas de uretrite: ceftriaxone (gonococo), azitromicina (gonococo) ou doxicilina (clamidia) GESTANTES: ● Urocultura é feita rotineiramente como exame de pré-natal (bacteriúria está relaciona a RN de baixo peso e maior incidência de abortamento); ● Tratar por 7 dias se não há suspeita de ITU alta; ● Evitar S-T no primeiro e terceiro trimestre; ● Drogas mais usadas: Cefalexina, nitrofurantoína, amoxicilina-clavulanato. ● Sempre com urocultura com controle de cura BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA: ● Mulher: duas uroculturas colhidas adequadamente com crescimento da mesma bactéria com contagem ≥105 colônias/mL; ○ Prevalência: 1% em garotas em idade escolar, >20% em idosas; ● Homem: uma urocultura colhida adequadamente com crescimento de bactéria com contagem ≥105 colônias/mL; ○ Prevalência: rara em jovens, 6-15% > 75 anos Quando tratar bacteriúria assintomática: ● Gestantes; 6 Júlia Camargos ● Pacientes que serão submetidos à ressecção transuretral de próstata ou outros procedimentos urológicos invasivos; ● Receptores de transplante de rim ou rim-pâncreas no primeiro ano de transplante. ● Não se trata bacteriúria assintomática na mulher jovem saudável não grávida ● Estudo Choosing Wisely: Uso inadequado de antibióticos para tratar bacteriúria assintomática é a principal causa de uso abusivo de antibióticos. Com exceção de gestantes, pacientes que serão submetidos à RTU ou outros procedimentos urológicos invasivos e receptores de transplante de rim ou rim-pâncreas no primeiro ano de transplante, NÃO existe indicação para se usar antibióticos para tratar bacteriúria assintomática. O uso de cateteres urinários aumenta o risco de bacteriúria, mas o uso de antibióticos não reduz a incidência de infecção associada a cateter e, salvo na presença de sintomas de infecção urinária, não há justificativa para pesquisar e tratar bacteriúria após retirada de cateter. CISTITE RECORRENTE: ● Mínimo 2 episódios no semestre ou 3 episódios/ano; ● Reinfecção (geralmente acontecem 30 dias após o tratamento adequado, agente diferente) ou recaída ● Alteração na flora vaginal normal, especialmente perda de lactobacilos; ● Fatores genéticos (incidência familiar de cistite recorrente) ● Fatores comportamentais ● Atividade sexual, espermicida (contido no preservativo), novos parceiros ● Fatores anatômicos ● Pós-menopausa: Diminuição do estrógeno, alterações urodinâmicas (história de múltiplas gestaçoes com parto normal). Como conduzir: ● Aumento da ingesta de líquidos; ● Urinar após intercurso sexual; ● Evitar espermicidas (muitas vezes contidos nos preservativos); ● Estrógenos tópicos na mulher pós menopausa; ● Em estudo: Cranberry; Probióticos; Anti-sépticos (metenamina); Vacinas; ● Automedicação é permitida nesses casos (paciente conhece seus sintomas); ● Profilaxia com antimicrobianos: Contínua ou Pós-coito (quando há história de ITU coincidindo com o ato sexula) Profilaxia Contínua: estratégia mais utilizada da cistite recorrente Profilaxia pós-coito: pacientes com relaçao causal forte relacionada ao ato sexual 7
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