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Natalia Quintino Dias Infecção do trato urinário (ITU) A Infecção do Trato Urinário (ITU) é definida como uma resposta inflamatória dos tecidos de qualquer parte do trato urinário à invasão bacteriana ou, mais raramente à fungos e vírus. A presença de patógenos na urina implica colonização, infecção ou contaminação, pois se espera que ela seja estéril. Pode ser sintomática ou assintomática e, em alguns casos, evoluir com sepse e até morte, caso não seja tratada. Bacteriúria assintomática: é definida por duas uroculturas positivas, colhidas na sequência e contendo 100 mil unidades formadoras de colônias por mL (UFC/mL) da mesma cepa bacteriana. É independente da leucocitúria. Para mulheres: duas amostras. Para homens: apenas uma amostra é suficiente. Em casos de urina cateterizada, é necessária apenas uma amostra com mais de 100 UFC/mL para ambos os sexos. A ITU é considerada a infecção bacteriana mais comum, porém, sua real incidência não é totalmente conhecida. A incidência é 2x maior em mulheres, entre os homens, são incomuns até os 50 anos. Após essa idade, pode ocorrer hiperplasia prostática, causando obstrução no fluxo urinário, com aumento da incidência. Populações suscetíveis à ITU Crianças pequenas, mulheres grávidas, idosos, pacientes com lesões medulares, usuários de sondas vesicais, diabéticos e imunossuprimidos. Conceitos Bacteriúria: considera-se infecção em mulheres sintomáticas com contagem de 10³ bactérias/mL, homens com contagem de 105 bactérias/mL e pacientes com uso de cateteres urinários com contagem de 10² bactérias/mL. Bacteriúria assintomática: não deve ser tratada, com exceção de paciente com procedimento urológico invasivo e gestantes. Indicações controversas: primeiros três meses após o transplante renal, neutropenia de alto risco (após QT) e na retirada de cateteres urinários de demora. Infecção urinária recorrente por reinfecção: infecção das vias urinárias causada por novos micro-organismos em intervalos variáveis após a erradicação de infecção prévia. Infecção urinária recorrente por recidiva/persistência: infecção das vias urinárias causada pelo mesmo micro-organismo durante ou após a conclusão do tratamento. Principal causa: resistência a antibióticos. Piúria: presença de leucócitos na urina. Se isolada, não é indicação de tratamento, pois não diagnostica ITU (necessário presença de bactéria). Infecção urinária complicada e não complicada: A cistite aguda e a pielonefrite em mulheres saudáveis na pré-menopausa e não grávidas sem anormalidade do trato urinário são classificadas como não complicadas. Todas as outras são consideradas ITU complicadas. Etiologia e fisiopatologia Desenvolvem-se mais frequentemente em mulheres, quando uropatógenos da flora fecal colonizam o introito vaginal. Fatores relacionados ao micro-organismo: virulência e resistência a ATB. Etiologia As infecções urinárias são causadas, principalmente, por germes Gram negativos, sendo cerca de 85% pela bactéria Escherichia coli. Considera-se vir de fonte intestinal, sendo o seu reservatório a colonização do cólon. Infecções nosocomiais são causadas, principalmente, por Pseudomonas aeruginosa e Serratia marcescens. Cerca de 10% das infecções urinárias sintomáticas do trato urinário inferior, em mulheres sexualmente ativas, são causadas pelo Staphylococcus saprophyticus. Outros agentes importantes são Enterococcus spp. e outros bacilos Gram negativos, como Klebsiella, Proteus e Enterobacter, que têm outros mecanismos de adesão epitelial. Fatores relacionados ao hospedeiro: idade, fatores comportamentais, Diabetes Mellitus (DM), lesão espinal, cateterização vesical e gravidez. Idade Em idosos tem apresentação clínica atípica, em sua maioria. Natalia Quintino Dias O risco de ITU associa-se a dificuldade de controle urinário — incontinência em mulheres e prostatismo em homens. O uso de cateteres urinários e as alterações anatômicas ou funcionais do trato urinário também são fatores de risco. A ITU aumenta a prevalência de incontinência urinária em mulheres mais idosas e também o risco de morte. Fatores comportamentais Atividade sexual – mulheres mais ativas sexualmente tem maior incidência. Uso de espermicida, aumenta a colonização por E.coli. Não há aumento de risco associado aos hábitos de micção ou higiene íntima. Diferenças anatômicas que predispõem a ITU, como menor distância entre a uretra e o ânus. Diabetes mellitus Bacteriúria assintomática e ITU sintomática são mais frequentes em diabéticos. É um fator de risco para pielonefrite e subsequente queda da função renal em mulheres com DM tipo 1. A presença de DM leva a maior risco de complicações, incluindo apresentações raras de ITU, como cistite e pielonefrite enfisematosa, abscesso, necrose papilar e pielonefrite xantogranulomatosa. Vários fatores no DM têm sido propostos como de risco: controle glicêmico ruim, duração da doença, microangiopatia diabética, disfunção leucocitária secundária a hiperglicemia e vaginite de repetição. Parece haver maior prevalência de alterações anatômicas e funcionais do trato urinário entre pacientes com DM. Os agentes etiológicos mais comuns são E. coli, Klebsiella spp. e Acinetobacter spp., os agentes estreptococos do grupo B e Candida spp. também são causas de ITU nesses pacientes. Lesão espinal ou cateterização vesical Fatores que aumentam a suscetibilidade são hiperdistensão da bexiga, dificuldade de micção e litíase urinária. Está relacionada a morbimortalidade importante. Gravidez Cerca de 4 a 10% das gestantes têm bacteriúria assintomática, e 1 a 4% desenvolvem cistite aguda. A pielonefrite aguda afeta 1 a 2% das mulheres no final do segundo e no início do terceiro trimestre. As implicações de ITU durante a gravidez são aumento do risco de pielonefrite, parto prematuro e mortalidade fetal. Se não tratada, a bacteriúria assintomática pode evoluir para pielonefrite. É possível que, em gestantes, manifeste-se apenas com sintomas de trato urinário baixo. A bacteriúria assintomática deve sempre ser tratada em gestantes. Fatores envolvidos Vários fatores estão envolvidos no desenvolvimento das infecções urinárias, como virulência da bactéria e mecanismos de defesa do hospedeiro. Mecanismos de defesa Fatores hidrodinâmicos que agem por meio de diluição, lavagem e eliminação das bactérias, através de diurese e micção adequada. • pH e osmolaridade; • Diurese; • Camada de mucopolissacarídeos; • Junção ureterovesical; • Defesa imunológica; • Secreções prostáticas. Virulência bacteriana As fímbrias (ou pili) parecem ser um dos fatores de maior importância. • Cepas nefritogênicas; • Elementos de aderência — fímbrias tipos 1 e P; • Lipopolissacarídeos antiperistálticos; • Lipopolissacarídeos antifagocitários; • Produção de hemolisinas — maior citotoxicidade. Vias de aquisição Há 4 vias principais: ascendente, hematogênica, linfática e extensão direta de outro órgão. Ascendente É a via mais frequente e importante, que advém a partir da uretra. Vários mecanismos são necessários para haver a infecção vesical, como a colonização por bactérias da flora intestinal, por fatores mecânicos, defecação, higiene pessoal e sudorese. Como a uretra feminina é mais curta e há tendência de colonização do períneo e do vestíbulo vaginal por bactérias da flora intestinal, as mulheres são mais suscetíveis a infecções por essa via. A colonização dependerá da competição com a flora local e do pH vaginal, muito influenciado pelo nível de estrogênio. Natalia Quintino Dias Hematogênica Trata-se de uma disseminação rara e ocorre em situações específicas, como tuberculose, abscessos renais e perinefréticos. Linfática Trata-se de uma disseminaçãoprovável, porém, rara. Há especulação, e poucas provas, de que a contaminação por bactérias da próstata e da bexiga via linfática ocorra por meio dos capilares periuretrais e periuterinos. Extensão direta Abscessos intraperitoneais, causados por doenças intestinais inflamatórias, como diverticulite, abscessos perivesicais e fístulas do trato geniturinário. Classificação As ITUs podem ser classificadas de acordo com sua localização anatômica, em alta e baixa, sintomática ou assintomática, complicada ou não complicada, recorrente ou esporádica. Essa classificação é importante tanto para a terapêutica a ser utilizada quanto para o tempo de tratamento. ITU baixa • Cistite; • Uretrite; • Orquite; • Epididimite; • Prostatite. ITU alta • Pielonefrite aguda; • Pielonefrite crônica; • Pielonefrite xantogranulomatosa; • Pielonefrite enfisematosa; • Abscesso perinefrético e paranefrético; • Abscesso renal. Quadro clínico Cistite A presença de disúria (dor à micção), associada à polaciúria (aumento da frequência urinária), e, em alguns casos, dor suprapúbica, geralmente está associada à infecção da bexiga. Ao contrário de outras causas de ITU baixa, a cistite aguda costuma evoluir com hematúria (30%). Nos homens, os sintomas obstrutivos podem predominar, muitas vezes com dor abdominal mais importante... No exame físico, é comum a dor à palpação do hipogastro. Uretrite O quadro clínico é idêntico ao da cistite aguda, com disúria e polaciúria. Esta é a explicação para os casos de “cistite” com urinocultura negativa. Os principais agentes envolvidos são Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis e o vírus herpes simplex. O que chama a atenção é a duração mais longa dos sintomas (> 7 dias), que geralmente é mais arrastada (a cistite se instala em < 24h). Em homens, a uretrite é marcada por disúria e corrimento uretral (este normalmente ausente em mulheres). Prostatite e epididimite A prostatite é dividida em três entidades principais: 1) prostatite bacteriana aguda; 2) prostatite bacteriana crônica; e 3) síndrome da dor pélvica crônica. O último tipo é subdividido em inflamatória (prostatite crônica não bacteriana) e não inflamatória (prostatodinia). Prostatite bacteriana aguda: quadro geralmente dramático, predominando entre os 20 e 40 anos, caracterizado por febre alta e calafrios associados a sintomas acentuados de irritação e obstrução urinária. O toque retal deve ser extremamente cuidadoso, pois manobras, como a massagem prostática, podem desencadear bacteremia e sepse grave. A epididimite aguda apresenta-se como dor e edema no epidídimo e testículo. O testículo do lado afetado encontra-se aumentado de tamanho e bastante doloroso. Na epididimite, a dor classicamente melhora com a elevação testicular (sinal de Prehn). Pielonefrite aguda A infecção renal aguda é caracterizada pela tríade: febre alta, calafrios e dor lombar. Os pacientes, em geral, se apresentam toxêmicos, com queda do estado geral e sintomas inespecíficos, como cefaleia, náuseas, vômitos e diarreia. O sinal de Giordano é a dor à percussão da região lombar (ângulo costovertebral), geralmente intensa, provocada pelos movimentos do rim inflamado quando da onda de choque. A punho- percussão não deverá ser realizada caso a palpação lombar se mostre dolorosa (por um problema muscular, por exemplo). Complicações como abscessos intraparenquimatosos ou perinefréticos ocorrem em menos de 10% dos casos de pielonefrite, Natalia Quintino Dias devendo ser suspeitados sempre que a febre persistir após três dias de antibioticoterapia. Quando não tratada corretamente, a pielonefrite pode evoluir com sepse. Diagnóstico Em mulheres com ITU não complicada, definida pela presença de sintomas como polaciúria, disúria, dor suprapúbica e urgência urinária, sem alteração estrutural de trato urinário, o diagnóstico se baseia na história clínica. Quanto a todos os outros pacientes, é necessária a confirmação diagnóstica, com exames laboratoriais. A ITU em homens é considerada uma infecção complicada, pois frequentemente se associa a anormalidades estruturais do trato urinário. Testes com fitas reagentes quimicamente impregnadas são de grande utilidade, e o resultado positivo geralmente é suficiente. Se um deles demonstra leucócitos e esterase ou nitrito — Gram negativos —, pode-se iniciar o tratamento, pois se trata de infecção urinária. Caso a esterase ou o nitrito sejam negativos e haja leucocitúria, indica- se exame do sedimento urinário com ou sem bacterioscopia — coloração de Gram —, que poderá demonstrar presença de bactérias. A presença de piúria é praticamente universal, seja em pacientes com ITU baixa, seja com pielonefrite, e a ausência dela sugere fortemente diagnóstico alternativo não infeccioso. O melhor método para determiná-la é a análise do jato médio da urina por hemocímetro com contagem maior de 10 leucócitos/mL. Independentemente desse achado, esses pacientes continuam sem indicação de tratamento, exceto em subgrupos específicos. A hematúria microscópica e, eventualmente, macroscópica, pode ser observada em casos de ITU (especialmente na cistite). A proteinúria pode ocorrer, porém em níveis baixos (nunca ultrapassando 2 g/24h). O teste do nitrito é um dado importante. Somente os Gram-negativos entéricos (exceto Pseudomonas aeruginosa) possuem a enzima nitratoredutase, que transforma o nitrato urinário em nitrito. A sensibilidade é baixa (35-85%, pois não detecta a presença de fungos ou germes Grampositivos), mas a especificidade pode chegar a 90%. Confirmação diagnóstica: A urinocultura quantitativa é o exame habitualmente utilizado. O verdadeiro método “padrão-ouro”, porém, é a urinocultura do aspirado suprapúbico (com frequência necessária em crianças pequenas), na qual qualquer crescimento bacteriano é indicativo de ITU. Um dos problemas da urinocultura é a possibilidade de contaminação pelos germes que participam da flora “comensal” periuretral. Por isso devemos quantificar o número de unidades formadoras de colônia por ml de urina, definindo a presença ou não de bacteriúria significativa. Métodos de coleta Micção espontânea: colhemos a urina do jato médio (isto é, desprezando a primeira e a última porção do jato urinário). Cateter vesical: usar luvas de procedimento, proceder à desinfecção do cateter com álcool a 70% e aspirar do próprio com agulha conectada à seringa. Punção suprapúbica: antissepsia com álcool a 70% e aspirar com agulha conectada à seringa. Indicações: (1) dificuldade de coleta em crianças; (2) adulto com suspeita de infecção, porém resultados não conclusivos ou discordantes; (3) suspeita de ITU por germe anaeróbio. Para ITU baixa ≥ 10² UFC/ml = cistite. < 10² UFC/ml = uretrite ITU alta Quadro clínico sugestivo + urinocultura ≥ 104 UFC/ml. Pacientes com suspeita clínica de pielonefrite aguda devem SEMPRE ter o diagnóstico confirmado pela urinocultura. Nesses casos, uma contagem ≥ 104 UFC/ml, na urina coletada por micção espontânea, é conclusiva. Duas amostras de hemocultura também devem ser colhidas. Hemograma com leucocitose e desvio para a esquerda, com aumento da velocidade de hemossedimentação, pode ocorrer em pacientes com pielonefrite. Deve-se suspeitar da presença de complicações, como abscesso perinefrético, em todos os indivíduos em que a febre não ceda após 48 horas de antibioticoterapia e exames de imagem devem Natalia Quintino Dias ser realizados nessa situação. Os seguintes achados nesses exames são sugestivos da complicação: • Ultrassonografia demonstrando cavidade espessada com parede cheia de fluido; • Achados na tomografia são dependentes da evolução. Em estágios iniciais, aparecem lesões tipo massa e hipodensas, que evoluemcom liquefação. Tipicamente, encontra-se rim hiperdenso, com contraste circundando uma cavidade de abscesso. Bacteriúria assintomática Em pacientes assintomáticos, a definição de bacteriúria significativa depende da contagem bacteriana em relação ao sexo do paciente e à forma de coleta da urina: (1) nas mulheres, por micção espontânea: ≥ 105 UFC/ml, em duas ou mais amostras, separadas por pelo menos 24h e mostrando a mesma bactéria; (2) nos homens, por micção espontânea: ≥ 105 UFC/ml, em apenas uma amostra; (3) por cateter vesical: ≥ 10² UFC/ml, em uma única amostra; (4) por punção suprapúbica: qualquer contagem, em apenas uma amostra. Diagnóstico diferencial: O diagnóstico diferencial inclui vaginites e uretrites. Tratamento Bacteriúria assintomática Não deve ser tratada, exceto em caso de gravidez e pré-operatório de cirurgia urológica com potencial de sangramento em mucosa. Cistite na mulher 1ª linha: • Fosfomicina: 3 g, dose única; • Nitrofurantoína: 100 mg, a cada 6 horas, por 5 dias. 2ª linha: • Cefuroxima: 250 mg, a cada 12 horas, por 7 dias; • Amoxicilina-clavulanato: 500/125 mg, a cada 8 horas, ou 875/125 mg, a cada 12 horas, por 7 dias. Caso não haja a melhora dos sintomas, devem ser realizados exame de urina — urina I ou sedimento urinário — e urocultura com antibiograma, orientando o tratamento com base nos seus resultados. Cistite na gestação Devem ser colhidos exames de urina — urina tipo I ou sedimento urinário — e urocultura, e iniciado o tratamento empírico com: • Fosfomicina trometamol: 3 g, dose única; • Nitrofurantoina: 100 mg, a cada 6 horas, por 5 dias — contraindicado após 37 semanas de gestação; • Amoxicilina-clavulanato: 500/125 mg, a cada 8 horas, ou 875/125 mg, a cada 12 horas, por 7 dias; • Cefuroxima: 250 mg, a cada 12 horas, por 7 dias. O tratamento pode ser alterado se necessário, com base no resultado da cultura e no antibiograma. O uso de quinolonas é contraindicado. Cistite no homem O tratamento deve durar 7 dias com nitrofurantoina ou dose única com fosfomicina. Em casos de pacientes muito sintomáticos ou suspeita de acomentimento prostático, considerar fluoroquinolonas, como ciprofloxacino ou levofloxacino. Pielonefrite aguda não complicada O tratamento inicial deve ser empírico oral ou parenteral, com internação hospitalar, de acordo com o estado geral do paciente. • Ciprofloxacino: 400 mg IV ou 500 mg VO, a cada 12 horas; • Levofloxacino: 750 mg IV ou VO, 1x/d — vale lembrar que, para optar por fluoroquinolonas, a taxa de resistência a tais medicações deve ser menor que 10%; • Ceftriaxona: 1 a 2 g IM/IV, 1x/d; • Aminoglicosídeo: IM ou IV, em dose única diária, amicacina, 15 mg/kg, ou gentamicina, 5 mg/kg. A duração total do tratamento da pielonefrite aguda não complicada será de 7 a 14 dias, sendo possível a passagem da via parenteral para a oral, conforme melhora do quadro geral e alta hospitalar. Infecções em pacientes com sonda vesical São as infecções com pacientes em uso de sonda crônica ou aqueles que foram sondados nas últimas 48 horas do início dos sintomas. Os cateteres devem ser trocados, e uma urocultura deve ser colhida com essa nova sonda e, caso a bacteriúria persista 48 horas após a retirada, indica-se o tratamento. Porém, pacientes críticos, com diagnóstico presuntivo de ITU, devem receber tratamento antibiótico imediato. A terapia antibiótica deve ter duração de 10 a 14 dias, e a Natalia Quintino Dias escolha do antibiótico depende dos resultados de culturas. Nos indivíduos em que a coloração de Gram não apresente cocos Gram positivos (Enterococcus ou Staphylococcus coagulasenegativo): o agente de escolha é cefalosporina de terceira geração, como ceftriaxona, 2 g/d, ou fluoroquinolonas, como ciprofloxacino, 400 mg IV, a cada 12 horas. Na suspeita de infecção por Pseudomonas, indica- se ceftazidima, 2 g, a cada 8 horas, e pode-se considerar usar aminoglicosídeos. Profilaxia Em pacientes com ITUs de repetição, definidas por três ou mais episódios ao ano ou dois episódios nos últimos seis meses, deve ser considerada a profilaxia. Uma variedade de antibióticos pode ser usada na metade da dosagem ou um quarto à noite, antes de deitar-se. O agente a ser utilizado deve ter boa concentração urinária, ser efetivo contra bactérias localizadas no introito vaginal e nas fezes e não causar resistência bacteriana. O tempo de utilização varia de 2 a 6 meses. As opções de antibiótico profilático na gestação são: • Nitrofurantoina: 100 mg, à noite — contraindicado após 37 semanas de gestação; • Cefalexina: 250/500 mg, à noite. As opções de antibiótico profilático recomendados fora do período gestacional são: • Fosfomicina trometamol: 3 g, a cada 10 dias; • Nitrofurantoina: 100 mg, à noite. O estrogênio tópico é altamente efetivo em mulheres na menopausa que habitualmente apresentam ITU e cistites de repetição. Sua atuação é na restauração do trofismo vaginal, no restabelecimento da colonização por lactobacilos e na eliminação dos uropatógenos.