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@resumeairafa A nutrição, um dos principais determinantes da saúde e do bem-estar do ser humano, assume especial importância nos primeiros anos de vida. Como o crescimento não é uniforme durante toda a infância, mas apresenta picos de intensidade nos dois primeiros anos de vida e na adolescência, os distúrbios de nutrição ocorrem mais frequentemente nessas duas faixas etárias. As necessidades energéticas diárias do recém-nascido estão em torno de 120kcal/kg de peso corpóreo. Alguns princípios gerais regem a alimentação infantil, a exemplo: Atender as necessidades energéticas ou quantitativas A quantidade que a criança deve ingerir é aquela que satisfaça seu desejo alimentar, sem insistir de qualquer odo a aceitar mais do que deseja, mantendo ao mesmo tempo vigilância sobre seu crescimento e desenvolvimento. Ser adequada em relação a intervalos ou horário e número de refeições diárias A criança deve ser alimentada quando sentir fome, que se manifesta, em geral, pelo choro. Como não só a fome é causa de choro, deve-se seguir, no início da vida, horário flexível, auto-regulado e contínuo. O lactente normalmente abandona as mamadas da madrugada devido ao estabelecimento do ritmo circadiano Apresentar correlação adequada Os nutrientes essenciais devem estar presentes na dieta. Ser constituída por leite materno nos primeiros meses Corresponder à capacidade digestiva nos vários períodos do desenvolvimento Introduzir alimentos novos de modo progressivo Ser tão variada quanto possível Equilibrar a tendência laxante e obstipante dos alimentos Ministrar os alimentos com técnica adequada à sua boa aceitação, bem como à boa formação psíquica da criança. Bases fisiológicas para a alimentação/ relacionar com porquê a introdução alimentar tem início aos 6 meses As funções fisiológicas mais relacionadas à alimentação são as do aparelho renal e digestivo. É necessário, portanto, que a alimentação esteja adaptada aos estágios de desenvolvimento. Nos primeiros meses os rins amadurecem morfológica e funcionalmente. A taxa de filtração glomerular é baixa nos recém-nascidos, particularmente nos prematuros, e alcança 2/3 dos valores normais aos 3 meses. Nos primeiros meses de vida ocorrem limitações importantes para manter o equilíbrio de sal, água, carga ácida, e privação de água, e nesse período a osmolaridade urinária máxima é bem inferior. Com o aumento da oferta de solutos na dieta, haverá aumento das necessidades de água para sua excreção renal; o recém-nascido e o lactente, pelo menos de até 3 meses de vida, podem entrar em balanço negativo de água e correr riscos. Já na função digestiva, o reflexo de sucção confere ao RN a capacidade de obter e deglutir normalmente. Nessa fase da vida, toda a relação da criança com o mundo se dá por meio da boca, no ato da amamentação, que expressa uma verdadeira simbiose entre mãe e filho. A salivação, estimulada pelo ato de mamar, é reduzida nos 3 primeiros meses de vida, sendo relativamente pequena a concentração da amilase salivar. Após os 4 meses, eleva novamente e atinge o nível do adulto a 1 ano de idade. Aos 4 meses, a criança já manifesta excitação à visão de alimentos, aos 5 meses pode indicar desejo abrindo a boca. A erupção dos dentes de leite e consequente início da função mastigatória tem início em torno dos 6 meses de idade. No primeiro trimestre ocorre, com frequência, certa incoordenação do peristaltismo intestinal, o que leva a cólicas, por vezes prolongadas e intensas. Dez passos da Alimentação Saudável para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos recomendados pelo MS, Organização Pan- Americana da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS) e SBP @resumeairafa Alimentação até os 6 meses A OMS, o MS e a SBP recomendam aleitamento materno por 2 anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros 6 meses. Não há vantagens em se iniciar os alimentos complementares antes dos 6 meses, podendo, inclusive, haver prejuízos à saúde da criança. O leite materno atende as necessidades nutricionais metabólicas, confere proteção imunológica e proporciona, ainda, interação mãe e filho. Nos países desenvolvidos, a prática do aleitamento artificial levou ao aumento da obesidade e das alergias, e contribui para a desnutrição. Há evidências que as crianças amamentadas no peito, no primeiro semestre de vida, recebem efeito protetor em relação as doenças respiratórias e protege contra outras infecções. A desnutrição marasmática e o Kwashiorkor têm relação direta com o leite humano, visto que ele protege o lactente. Ademais, as crianças em aleitamento artificial recebem proteínas estranhas em grande quantidade e apresentam processos alérgicos muito mais frequentemente do que as crianças amamentadas. O aleitamento materno pode ser classificado em: • aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas, sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos; • aleitamento materno predominante: quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água (água adocicada, chás, infusões) ou sucos de frutas; • aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou ordenhado), independentemente de receber ou não outros alimentos; • aleitamento materno complementado: quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer alimento sólido ou semissólido com a finalidade de complementá- lo, e não de substituí-lo; • aleitamento materno misto ou parcial: quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite. Aleitamento artificial Na impossibilidade de se proporcionar aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses de vida, a complementação da nutrição do lactente será realizada pela administração do leite de vaca, que é o mais habitualmente usado. Entretanto, devido às diferenças qualitativas e quantitativas do leite de vaca em relação ao leite humano, é preciso modifica-lo para que possa atender as necessidades nutricionais e fisiológicas da criança, em especial no primeiro semestre de vida. O leite de vaca possui três vezes mais proteína que o LH, sobrecarregando os rins quando consumido em alta quantidade, aumentando a excreção de cálcio pela urina. Para o leite humano, as proteínas do soro correspondem a cerca de 60 a 80% do teor protéico total, com predominância da alfa-lactalbumina, necessária para a síntese de lactose. Para o leite de vaca, as proteínas do soro correspondem a 18% do teor protéico total, com predominância da beta-lactoglobulina, que tem sido responsabilizada pelas alergias ao leite de vaca. É necessário a mistura com fórmulas, e as principais modificações consistem em: redução do teor de proteínas e eletrólitos, substituição de parte de lipídeos por óleo vegetal, adição de outros carboidratos (maltodestrina, sacarote), e adição de vitaminas e mineiras de acordo com o CODEX Alimentarius. Há recomendações que a fórmula deve oferecer de 7% a 16% de suas calorias sob a forma de proteínas; de 30% a 55% sob a forma de gorduras; de pelo menos 1% de calorias provenientes de ácido linoleico; e, o restante, de hidratos de carbono. O leite de vaca integral não- modificado não é recomendado para criança até os 6 meses pelos riscos de ocorrência de alergia à proteína do leite, anemia por deficiência de ferro, além do alto nível de solutos que sobrecarregam a função renal. O leite humano maduro fornece, em média, 1,2g/dL de proteínas,enquanto o conteúdo do leite de vaca é cerca de 3,3 g/dl. O conteúdo mineral do leite humano representa cerca de um terço do leite de vaca. Assim, o metabolismo do leite de vaca, com seus elevados níveis de proteínas e minerais, dá origem a uma maior carga de solutos que deverá ser filtrada por um rim funcionalmente imaturo (CALIL et al, 1991). Além disso, o alto teor proteico e de mineiras, nos primeiros meses de vida, pode aumentar o risco de desidratação e hipernatremia, em caso de diarreia ou outras condições que aumentam a demanda de água pelo lactente. O leite de vaca in natura pode ser usado, desde que convenientemente pasteurizado ou fervido e conservado sob refrigeração, ou sob forma de pó. Fórmulas infantis de partida: É o produto, em forma líquida ou pó utilizado sob prescrição, especialmente fabricado para satisfazer, por si só, as necessidades nutricionais dos lactentes sadios durante os primeiros meses de vida (ANVISA, 2011a.) Fórmulas infantis de seguimento: São produtos destinados a lactentes sadios a partir do sexto mês de vida até doze meses de idade incompletos (ANVISA, 2011b.) Fórmulas infantis destinadas a necessidades dietoterápicas específicas: São as fórmulas destinadas a atender as necessidades nutricionais de lactentes decorrentes de alterações fisiológicas e/ou doenças temporárias ou permanentes e/ou para redução de risco de alergias em indivíduos predispostos (ANVISA, 2011c). Fórmulas anti-regurgitamento: As fórmulas para esses casos usualmente incluem o amido em sua composição, o que proporciona maior espessamento quando em contato com o suco gástrico e, consequentemente, menor risco de regurgitação (ACCIOLY et al, 2005). @resumeairafa Fórmulas para prematuros: Os prematuros apresentam uma deficiência relativa de lactase e por essa razão, o carboidrato das fórmulas é uma mistura de lactose e polímeros de glicose. Estes polímeros permitem um rápido esvaziamento gástrico, diminuindo a estase gástrica, e o risco de enterocolite necrotizante, pois possuem uma carga osmótica mais baixa (ARTAZCOZ, 2007 e GURMINI e VIEIRA, 2002). Os prematuros apresentam uma limitada capacidade de digestão e absorção de gorduras, o que se deve à baixa atividade da lípase pancreática e principalmente, a uma deficiência de sais biliares, levando a formação inadequada de micelas com reduzida solubilização de triglicérides da dieta. Fórmulas derivadas da soja: São indicadas em casos de deficiência primária de lactase, galactosemia, alergia a proteína do leite de vaca (GURMINI e VIEIRA, 2002), além de lactentes de famílias vegetarianas em que não se deseja o consumo de proteína animal (ARTAZCOZ, 2007). A alergia alimentar é resultante de uma resposta imune exacerbada devido a exposição de um indivíduo às proteínas alimentares (ACCIOLY et al, 2002). Fórmulas sem lactose: A lactose é o principal carboidrato do leite e requer a enzima lactase para ser decomposto em galactose e glicose. Nesses leites, geralmente há a substituição da lactose por hidrato de carbono, geralmente dextrinomaltose (ARTAZCOZ, 2007) São fórmulas indicadas para lactentes afetados por má absorção de lactose, desnutrição grave, deficiência primária de lactase, lesão da mucosa intestinal na diarréia persistente ou crônica, levando a deficiência secundária de lactase (GURMINI e VIEIRA, 2002). Como escolher a fórmula Alimentação complementar A alimentação complementar deve prover suficientes quantidades de água, energia, macro e micronutrientes, por meio de alimentos seguros, culturalmente aceitos, economicamente acessíveis e que sejam agradáveis à criança. Esse período é de elevado risco para a criança, tanto pela oferta de alimentos desaconselháveis quanto pelo risco de contaminação em razão da manipulação e do preparo inadequado, favorecendo a ocorrência de doença diarreica, desnutrição, deficiência de micronutrientes (p.ex., anemia carencial ferropriva) ou obesidade. Na idade de 6 a 12 meses, o leite materno ainda contribui com aproximadamente metade da energia requerida nessa faixa etária e 1/3 da energia necessária no período de 12 a 24 meses. Os alimentos complementares devem suprir aproximadamente 200 kcal/dia entre 6 e 8 meses, 300 kcal/dia entre 9 e 11 meses e 550 kcal/dia dos 12 aos 23 meses. A densidade proteica deve ser de 0,7 g/100 kcal dos 5 aos 23 meses. Os lipídios devem assegurar 30 a 45% da energia total. Para garantir a oferta de minerais e vitaminas necessárias ao crescimento, a alimentação complementar deve conter alta densidade desses nutrientes de forma a compensar a pequena quantidade ingerida diariamente. A papa principal deve ser oferecida após a criança completar 6 meses de vida nos horários correspondentes ao almoço ou jantar. Essa refeição deve conter alimentos de todos os grupos: cereais ou tubérculos, leguminosas, carnes e hortaliças (verduras e legumes). Carnes (bovina, suína, frango ou peixe) e ovos cozidos devem fazer parte das refeições a partir do sexto mês de vida sem restrições. O óleo vegetal, de preferência de soja ou canola ou azeite de oliva, por conterem proporções adequadas de ômega 3 e ômega 6, deve ser usado em pequena quantidade e o sal não deve ser adicionado. No início, os alimentos devem ser amassados com o garfo (consistência de purê), nunca liquidificados ou peneirados. A segunda papa principal será oferecida a partir do sétimo mês de vida. @resumeairafa No Brasil, alguns estudos pontuais observaram que a deficiência de ferro é a principal causa da anemia em crianças menores de 2 anos. O ferro apresenta-se nos alimentos sob duas formas: heme e não heme. O ferro heme, das carnes e vísceras, tem maior biodisponibilidade, não sofrendo influência de fatores inibidores. As carnes apresentam cerca de 2,8 mg de ferro por 100 g do alimento, sendo absorvidos em torno de 20 a 30% desse nutriente. O ferro não heme, contido em alimentos de origem vegetal, ao contrário do ferro animal é pouco absorvido pelo indivíduo, cerca de 2 a 10%. Ele pode ter suas taxas de absorção modificadas na presença de agentes facilitadores ou inibidores da sua absorção. O ácido ascórbico é facilitador, e os fitatos, taninos, cálcio e fosfatos possuem efeito inibidor. As frutas devem ser oferecidas após os 6 meses de idade, amassadas ou raspadas, sempre às colheradas. E após o aparecimento da dentição e na dependência do desenvolvimento, em pedaços pequenos ou inteira; nenhuma fruta é contraindicada. Os sucos naturais devem ser evitados, mas se forem administrados que sejam dados no copo, de preferência após as refeições principais, e não em substituição a estas, em dose máxima de 100 mL/dia, com a finalidade de melhorar a absorção do ferro não heme presente nos alimentos como feijão e folhas verde-escuras. É importante oferecer água potável a partir da introdução da alimentação complementar. A frequência da alimentação complementar varia conforme a idade da criança. A OMS recomenda que dos 6 aos 11 meses, a criança amamentada estará recebendo três refeições com alimentos complementares ao dia (duas papas principais e uma de frutas). A criança que não estiver em aleitamento materno corre maior risco nutricional, portanto é recomendado que receba com maior frequência alimentos complementares, com cinco refeições (duas papas principais e três de leite, além das frutas). Por volta dos 8 a 9 meses a criança pode começar a receber a alimentação da família, na dependência do desenvolvimento neuropsicomotor. Nos primeiros dias, é normal a criança derramar ou cuspir o alimento, portanto tal fato não deve ser interpretado como rejeição ao alimento. É necessário observar a relação entre a introdução de outros alimentos e o hábito intestinal da criança. Entende-se que o estado de deficiência ou excesso tanto de macronutrientes quantode micronutrientes causa desequilíbrio entre o suprimento de energia, de nutrientes e a demanda do organismo, alterando a garantia na manutenção, no crescimento e nas funções metabólicas. A exemplo: uma criança obesa com deficiência de ferro também apresenta desnutrição por esse conceito. A desnutrição energético-proteica (DEP) pode ser classificada como: primária, quando não há outra doença associada (relacionada à insegurança alimentar), ou secundária, quando há doença relacionada (geralmente por baixa ou inadequada ingestão alimentar; por alteração na absorção ou por necessidades nutricionais aumentadas e/ou perdas aumentadas de nutrientes). Com relação à forma clínica, o tempo e a gravidade contribuem para a definição e a classificação da desnutrição. Identificam-se indivíduos emagrecidos e/ou com parada de crescimento, conforme o tempo de curso. Quanto à gravidade, há as formas moderada e grave. Esta última baseia-se em critérios clínicos e laboratoriais e é dividida em: marasmo, kwashiorkor e kwashiorkor- marasmático. Quadro clínico / fisiopatologia A criança com DEP vive um delicado equilíbrio homeostático, limítrofe ao colapso endócrino- metabólico. A intrínseca relação das vias de utilização energética promove mudanças intensas em múltiplos sistemas orgânicos: endócrino, imune, nervoso central, gastrointestinal, cardiovascular e renal. A escassez de nutrientes, na DEP moderada e grave, favorece hipoglicemia, lipólise, glicólise, glicogenólise e neoglicogênese, secundárias às alterações nos eixos da insulina, com diminuição da produção e aumento da resistência periférica pela ação dos hormônios contrarreguladores (hormônio de crescimento, epinefrina e corticosteroides); além disso, há redução no metabolismo com alterações na via tireoidiana de aproveitamento de iodo e conversão hormonal (formas ativas), a fim de reduzir o gasto de O2 e conservar energia. A redução na oferta de fosfatos energéticos promove alterações nas bombas iônicas de membrana celular, cursando com sódio corporal elevado e hiponatremia, hipopotassemia, hipercalcemia e maior tendência a edema intracelular. Ajustado à época de aparecimento e ao grau da DEP, alterações morfofuncionais do sistema nervoso central (SNC) são esperadas, com mudanças no processo de mielinização do SNC, nas atividades mitóticas dendríticas, produção de neurotransmissores e no amadurecimento da retina. As alterações gastrointestinais envolvem insuficiência pancreática, crescimento bacteriano, atrofia das vilosidades, com redução da capacidade absortiva do organismo, @resumeairafa e comprometimento na produção das dissacaridases, com ênfase na lactase. Há redução de todos os substratos energéticos: glicogênio, gorduras e proteínas: o consumo progressivo desses estoques de energia leva à queda plasmática nos níveis de glicose e aminoácidos, e com isto ocorre uma diminuição da insulina sérica e um aumento do glucagon e da adrenalina. Os níveis de GH se elevam, e com ele há maior estímulo à lipólise. Por outro lado, os níveis de IGF-1 (ou Somatomedina C) estão reduzidos. O estresse provocado pela DEP e as infecções estimulam a secreção de cortisol, que atua sobre a glicogenólise e gliconeogênese (consumo muscular), aumentando-a. Os níveis de T3 e T4 estão reduzidos em função da diminuição da atividade da enzima 5 monodeiodinidase e pela menor captação de iodo tireoidiano. Assim, há queda da termogênese corpórea e no consumo de oxigênio. A atividade da bomba de sódio-potássio encontra-se muito reduzida pela menor oferta de ATP. Com isso, a célula passa a excretar menos sódio e importar menos potássio. O sódio corporal total está aumentado, mas seus níveis séricos estão reduzidos (HIPONATREMIA). Embora a água corporal total esteja diminuída em função da redução da massa muscular e do tecido adiposo, a célula tem tendência a edemaciar (pela retenção de sódio). O potássio intra e extracelular encontram-se reduzidos (HIPOCALEMIA). A redução do gradiente de sódio transmembrana faz com que menos H+ seja excretado, produzindo um quadro de acidose intracelular e alcalose extracelular. Todo esse desequilíbrio hidroeletrolítico faz com que aumentem os níveis de cálcio intracitoplasmáticos, com desencadeamento de reações bioquímicas que levam à lise celular. A perda de potássio e o aumento do cálcio explicam a redução na força contrátil dos miócitos cardíacos na DEP grave. Imunidade inespecífica: há perda da integridade das barreiras epitelial e mucosa, diminuição de fatores como muco, pH e lisozima. Imunidade celular: redução na população de linfócitos T no timo, baço e linfonodos, menor produção de Interleucina 1 (IL-1) e redução de quantidade e qualidade em alguns fatores complemento. Assim, há uma menor capacidade de opsonização, fagocitose e quimiotaxia. A deficiência de IgA é a alteração mais frequente, o que facilita a ocorrência de diarreia e infecção de vias aéreas. Em crianças mais velhas, e em adultos com desnutrição grave, pode até ocorrer uma hipergamaglobulinemia, em função de infecções repetidas, sem que isto se traduza em ganho funcional. A falência de mecanismos imunes locais provavelmente altera a permeabilidade da mucosa intestinal para macromoléculas estranhas, permitindo, então, a passagem de proteínas através da mucosa e indução de formação de anticorpos antiproteína alimentar, causando alergia alimentar. Todas as alterações anatômicas e bioquímicas do trato gastrointestinal descritas a seguir concorrem para o desencadeamento de uma síndrome disabsortiva e diarreia. Redução na secreção gástrica, pancreática e biliar, com diminuição das enzimas digestivas – dissacaridades intestinais (lactase, maltase e sacarase), amilase e lipase. A diminuição da atividade de lactase intestinal leva à intolerância ao leite e à presença de fezes ácidas. O decréscimo na atividade de dispeptidases na borda estriada da mucosa é devido, principalmente, à lesão de microvilosidades e à diminuição da síntese proteica. Há também déficit de absorção de aminoácidos essenciais. Perda de tônus das alças intestinais e a diminuição da peristalse favorecendo a proliferação bacteriana (intestino contaminado), que dificulta a absorção de água e eletrólitos, e, principalmente, leva à alteração da composição do pool de sais biliares, com aumento no conteúdo de sais biliares desconjugados. Os ácidos biliares desconjugados na luz intestinal determinam a diminuição da formação de micelas de gordura, com consequente má absorção de lipídios, de vitamina B12 e de outras vitaminas lipossolúveis Diminuição do tamanho e número das vilosidades intestinais com perda da borda estriada, promovendo um aspecto que pode lembrar o da doença celíaca. Há um aumento da celularidade da lâmina própria à custa de linfócitos, plasmócitos e alguns eosinófilos. A lesão mucosa é mais grave no kwashiorkor, observando- -se acúmulo de gordura no epitélio. No fígado ocorre esteatose, principalmente na forma kwashiorkor, podendo evoluir com fibrose perilobular e cirrose. Deficit contrátil do miócito cardíaco, que resulta em queda do débito cardíaco basal e resposta cardiovascular inadequada às alterações de volemia. Outra consequência desta redução no débito cardíaco é a queda nas taxas de filtração glomerular, com prejuízo das funções de concentração e acidificação urinária. Queixas de poliúria e nictúria são comuns. A avaliação nutricional pode ser realizada por meio de quatro procedimentos básicos: anamnese, exame físico, incluindo a aferição de medidas antropométricas, como medida da circunferência braquial (CB), e exames laboratoriais. Na anamnese, deve-se dar ênfase aos antecedentes neonatais (prematuridade, crescimento intrauterino restrito), nutricionais (aleitamento materno – sim ou não; se sim, qual o tempo de exclusivo e total; se não – registrar o motivo; na história alimentar,identificar se há deficiência na quantidade e/ou qualidade); aspectos psicossociais, condições de saneamento e moradia, presença ou não de doenças associadas. Avalia-se a medição do peso para a idade; comprimento/altura para a idade; circunferência occipitofrontal (COF) para a idade (para < 2 anos de idade), peso para o comprimento; e @resumeairafa cálculo da porcentagem do peso corporal ideal (peso atual/peso mediano [percentil 50] para a estatura atual). Na ausência de medidas antropométricas, a desnutrição grave também pode ser diagnosticada com base na avaliação clínica, verificando-se a presença de emagrecimento intenso visível; alterações dos cabelos; dermatoses (mais observadas no kwashiorkor), hipotrofia muscular (p.ex., na região glútea) e redução do tecido celular subcutâneo. A consequência mais imediata da desnutrição é a morte precoce, cuja probabilidade aumenta em proporção direta ao aumento da gravidade da desnutrição. Por exemplo, a probabilidade de mortalidade infantil em crianças menores de 5 anos com Z-escore (peso x idade) inferior a -3 é 4 vezes maior que para aquelas com Z-escore entre -3 e -2. Além da desnutrição ser causa direta de mortalidade, ela também aumenta a gravidade e a mortalidade das infecções intercorrentes (ex.: pneumonias, diarreias agudas e sarampo). Há também as consequências a longo prazo da desnutrição, tais como a perda do desempenho neuropsicomotor, da capacidade cognitiva e desempenho acadêmico- laborativo, e as doenças crônicas da vida adulta (ex.: hipertensão, diabetes mellitus tipo 2 e acidentes vasculares encefálicos) que se mostram mais frequentes naquelas crianças que tiveram crescimento intrauterino restrito. Com base na antropometria, a Organização Mundial da Saúde (OMS) define desnutrição grave como CB < 11,5 cm, escore Z de peso para estatura (ZPE) abaixo de - 3, ou pela presença de edema nos pés bilateral em crianças com kwashiorkor. Quando os recursos estão disponíveis, é preferível avaliar tanto CB quanto ZPE. Contudo, na ausência de recursos, a aferição da CB é simples e confiável para o diagnóstico de desnutrição grave. A desnutrição grave deve ser diferenciada em duas formas clínicas de apresentação com parâmetros bem descritos: • kwashiorkor: A etimologia da palavra, na língua de Ghana, significa “doença do primogênito, quando nasce o segundo filho”. As causas do kwashiorkor são complexas, mas, de acordo com Golden, a causa primária da DEP grave, em geral, associa-se a uma dieta com qualidade nutricional pobre (incluindo deficiência de zinco, fosforo e magnésio), com consequente perda do apetite, comprometimento do crescimento e resposta desfavorável a infecções, modificando a resposta da criança diante do estresse ambiental. A pele da face está frequentemente despigmentada, desenvolvendo-se dermatoses em áreas de atrito, como, por exemplo, na região inguinal e no períneo. Surgem áreas de hiperpigmentação que, eventualmente, descamam dando um aspecto de dermatite em escamas; a pele sob as escamas é muito pálida e facilmente infectável. Os cabelos apresentam alteração de textura e de cor (discromias) e são quebradiços. Os cabelos pretos tornam-se castanhos ou avermelhados. Pode estar presente o “sinal da bandeira”, que consiste na alteração segmentar (em faixas) da cor dos cabelos, traduzindo períodos alternados de pior e melhor nutrição. As fezes podem estar liquefeitas, com sangue e alimentos não digeridos. Anemia está presente na maioria dos casos. É, em parte, devida à deficiência proteica para síntese de eritrócitos. Geralmente as crianças com essa síndrome têm hepatomegalia (esteatose). Acomete crianças acima de 2 anos; ascite, face de lua, edema de membros inferiores e/ou anasarca e apatia. O edema geralmente é bilateral simétrico, começa nos pés (1+ edema), progride para os pés e as mãos baixas (2+ edema) e, em casos graves, pode envolver a face (3+ edema). • marasmo: É um estado de má nutrição que resulta de uma deficiência calórica total (energia e proteínas). Marasmo significa “desgaste” e, em termos grosseiros, denota inanição. Essa apresentação clínica é mais comum em crianças com menos de um ano de idade, embora não seja restrita a este grupo etário. A causa mais comum é a retirada precoce do aleitamento materno, substituindo-o por fórmulas caloricamente deficientes, muitas vezes diluídas para diminuir o gasto financeiro imediato da família. Isso, combinado com a ignorância sobre higiene e atrasos costumeiros na administração de vacinas, leva frequentemente ao desenvolvimento de infecções gastrointestinais preveníveis, que iniciam o ciclo vicioso, que leva ao marasmo. A criança geralmente é internada pela intercorrência infecciosa, e não pela desnutrição. Há presença de emagrecimento acentuado, baixa atividade, irritabilidade, atrofia muscular e subcutânea, com desaparecimento da bola de Bichat (último depósito de gordura a ser consumido, localizado na região malar), o que favorece o aspecto envelhecido (fácies senil ou simiesca), com costelas visíveis e nádegas hipotróficas. O abdome pode ser globoso e raramente com hepatomegalia. @resumeairafa Kwashiorkor-marasmático: A maioria dos casos encontra-se na faixa intermediária entre os dois extremos, sendo muito importante diagnosticá-los e impedir a evolução. São as formas ditas mistas: a criança evolui com carências na ingestão proteica e/ou energética, apresentando características dos dois tipos clínicos. CLASSIFICAÇÃO DE GOMEZ Mantém-se como a mais válida em crianças de até 24 meses de idade em nosso meio. Trata-se de uma classificação centrada na intensidade da DEP que, baseando-se na relação P/I, define quatro categorias: Não desnutrido: P/I superior a 90% do p50; Desnutrido de 1º grau: P/I correspondendo de 76% a 90% do p50; leve Desnutrido de 2º grau: P/I correspondente de 61% a 75% do p50; moderada Desnutrido de 3º grau: P/I igual ou inferior a 60% do p50; grave Para BENGOA, se houver edema em qualquer categoria, a desnutrição é GRAVE! Ela apresenta algumas desvantagens importantes, a saber: É necessário conhecer a idade da criança para poder classificar o grau de desnutrição. Crianças consideradas como desnutridas leves pelo critério de Gomez podem estar entre os percentis 3 e 20 para a sua idade e serem normais. Ela não leva em consideração crianças cujas deficiências de peso são devidas a problemas de crescimento, e não nutricionais. Não há como diferenciar a desnutrição aguda, passada ou crônica, pois não se considera a altura da criança nessa classificação CLASSIFICAÇÃO DE WATERLOW Proposta em 1973, objetivando definir prioridades de intervenção, inicialmente centrou-se no tipo de DEP e não na sua intensidade. Baseia-se nas relações de E/I e de P/E e define quatro possibilidades de classificação nutricional: Não desnutrido: E/I superior a 95% do p50 com P/E maior que 90% do p50 de seu referencial; Emagrecido (desnutrição aguda): E/I superior a 95% do p50 com P/E igual ou menor que o p50; Retardo de crescimento (desnutrição pregressa): E/I igual ou menor que 95% do p50 com P/E superior a 90% do p50; Retardo de crescimento com emagrecimento (desnutrição crônica): E/I igual ou inferior a 95% do p50 com P/E igual ou inferior a 90% do p50. Como se observa, por considerar as relações de E/I e P/E, esta classificação se aplica melhor para as crianças de dois anos ou mais de idade. Peso atual / peso ideal = se o resultado der abaixo de 70% é desnutrição grave. Na DEP grave, avalia-se a presença de complicações clínicas e metabólicas que justifiquem a internação hospitalar. Do exposto resulta um esquema de tratamento da criança desnutrida, seja extra ou intra-hospitalar que repousa nos seguintes pontos: tratamentodas patologias associadas, que geralmente motivam a internação; correção do distúrbio hidroeletrolítico; controle dos processos infecciosos; tratamento dietético; tratamento geral e sintomático; educação e treinamento para higiene e nutrição Didaticamente, a terapia nutricional pode ser dividida em: • 1ª fase: estabilização: tratar as morbidades associadas com risco de morte, corrigir as deficiências nutricionais específicas, reverter anormalidades metabólicas e iniciar a alimentação. O desequilíbrio hidroeletrolítico agudo é uma das principais urgências do desnutrido, tanto pela gravidade como pela frequência, pois grande parte dos desnutridos crônicos tem a desidratação como causa de sua internação hospitalar. O desnutrido possui um organismo diluído, @resumeairafa com aumento da água total, com tendência à acidose metabólica e com aumento do Na+ total, deficiência de K+ corporal e com carências de Ca++, Mg++ e de fosfatos. Portanto, vive em equilíbrio especial no qual há excesso de água e acentuada depleção de alguns eletrólitos; quando se agrega um episódio metabólico agudo, geralmente originado por infecção, o desnutrido se vê conduzido a novas e dramáticas situações, as quais determinam grande risco de vida. A incidência e gravidade de infecção no desnutrido é maior do que numa criança eutrófica, já que os mecanismos de resistência estão deprimidos. Além disso, o diagnóstico clínico é dificultado pelas respostas anormais que o desnutrido apresenta; muitas vezes, infecções graves evoluem com poucos sinais, e os sinais mais característicos podem estar ausentes. As infecções mais comuns são as gastrointestinais, pulmonares e urinárias, além das meningites e septicemias. As crianças com desnutrição mais gravemente comprometidas têm, com frequência, associação de processos infecciosos e/ou distúrbios hidroeletrolíticos, associações que chamam mais a atenção do pediatra, pelo risco de morte que essas patologias habitualmente ocasionam. Entretanto, uma vez passada essa situação grave, as crianças recebem alta, e quando reintegradas a seu ambiente, com frequência adoecem e pioram sua condição nutricional. Portanto, proporcionar educação em saúde e reabilitação nutricional é necessidade prioritária. Diante disso, a dieta do desnutrido deve ser a mais regional possível, utilizando alimentos acessíveis às comunidades. Na preparação dos alimentos deve-se evitar dietas muito diluídas e volumosas, que são de baixa densidade energética e ultrapassam a capacidade gástrica da criança. Devem ser utilizados alimentos de bom valor nutritivo, adequados à idade da criança e adaptados à gravidade da desnutrição, duração do tratamento e ao ganho de peso, oferecendo-os com maior frequência, devendo ser levado em consideração, ainda, o equilíbrio entre calorias e proteínas. Alimentação Terapêutica em Nível Hospitalar A desnutrição energético-proteica deve ser tratada com alimentos de alto valor nutritivo. A dieta ideal deve ser normal, com alimentos simples, generosa em calorias, elevada proporção de proteínas de alto valor biológico, fácil digestão, agradável ao paladar e oferecida ad libitum - constante. Para os primeiros dias de internação recomenda-se alimentação ad libitum considerando-se algumas particularidades da criança desnutrida, como anorexia, hipotonia muscular e alterações da digestão e absorção. As principais alterações fisiopatológicas do tubo digestivo encontradas são: baixa atividade de lactase, aumento da permeabilidade epitelial, quebra da barreira imunológica, contaminação intraluminal e descamação acelerada. O primeiro passo é dado no sentido de adotar medidas dietéticas que atendam às alterações fisiopatológicas, que cursam com a diarreia e que forneçam a curto prazo energia e proteínas espoliadas pelo jejum. O alimento ideal seria isento de lactose e pobre em sacarose, teria proteínas hidrolisadas até complexos aminados hipoalergênicos, conteria gordura, principalmente sob a forma de triglicerídios de cadeia média, veiculado em solução hipo ou isosmolar (máximo de 280mOsm/l), com garantida pureza bacteriana. Constituem critérios de recuperação o desaparecimento do edema, o aumento de peso e a melhora do estado geral. O desaparecimento do edema no kwashiorkor é acompanhado de perda de peso devido a eliminação de água. As crianças desnutridas após o desaparecimento do edema devem ter um ganho de peso gradativo, com monitorização constante. A melhora do estado geral se caracteriza por aumento do apetite, atitude alerta e normalização da diarreia. O paciente é reavaliado diariamente. Obesidade infantil A obesidade exógena é um distúrbio do metabolismo energético, que acarreta acúmulo excessivo de gordura corporal. Seu desenvolvimento ocorre pela associação de fatores genéticos, ambientais e comportamentais. O papel fundamental do tecido adiposo é servir de reserva para as necessidades do organismo nas várias ocasiões em que ele necessita de um aporte extra ou está impossibilitado de receber o aporte costumeiro. Essa reserva é feita na forma de triglicerídios que, sendo hidrófobos, exercem pouco efeito osmótico e possuem baixa densidade. Outra vantagem é sua capacidade de produzir energia, pois 1g desse tecido fornece 7Kcal; @resumeairafa já a mesma quantidade de proteína úmida não ultrapassa 0,8Kcal e 1g de glicogênio muscular fornece 1Kcal. Assim, num espaço relativamente pequeno, consegue-se armazenar grande quantidade de energia; todas as vezes em que o organismo precisa de energia, vai buscar nesses depósitos, evitando degradar as suas proteínas e evitando, também, a carência de energia para o funcionamento do sistema nervoso. A obesidade se caracteriza pela presença exagerada de tecido adiposo em relação à quantidade de tecido corporal magro. Poderia também ser definida como o aumento exagerado de peso à custa de tecido adiposo. Pode, também, ser definida como a presença de um peso de 120% do ideal para a altura, sexo e idade. Quando a prega cutânea medida no nível do tríceps é usada para essa definição, ela deverá estar acima do percentil 90 das curvas de Tanner. A Obesidade Infantil foi considerada o distúrbio nutricional mais comum na infância no ano de 1998, a Organização Mundial de Saúde declarou a Obesidade Infantil como sendo uma epidemia global, onde apresentou maior aumento comparado a desnutrição, mais de 22 milhões de crianças com idade inferior a 5 anos apresentam excesso de peso ou obesidade franca e mais de 2/3 destas crianças se tornarão adultos obesos e terão sua expectativa de vida reduzida em 5 a 20 anos (BOA SAÚDE, 2008). Crianças e adolescentes obesos costumam apresentar alterações do metabolismo da glicose, como resistência insulínica, hiperinsulinemia e intolerância à glicose, que podem culminar com o diabete melitus tipo 2. Esse tipo de diabete, habitualmente observado em adultos, vem surgindo cada vez mais em indivíduos jovens, em razão do aumento da prevalência de obesidade na infância e na adolescência. A resistência insulínica consiste na incapacidade do organismo de responder à ação da insulina. Para a manutenção da tolerância normal à glicose, ocorre aumento compensatório da secreção de insulina pelas células betapancreáticas, acarretando o hiperinsulinismo. Hormônios importantes: Colecistoquinina: hormônio secretado pelo duodeno em resposta à ingestão de proteínas e gorduras. Envia um sinal via nervo vago até o hipotálamo informando a “saciedade” após a refeição. Grelina: neuropeptídeo secretado no estômago que estimula a secreção de neuropeptídeo Y no hipotálamo, e assim, estimula o apetite. Leptina: hormônio secretado pelo tecido adiposo, que atua ao nível de hipotálamo levando à inibição do apetite e ao aumento do gasto energético. Os obesos parecem ter um aumento da leptina em funçãode sua massa adiposa, mas o apetite não está inibido em decorrência de uma diminuição da sensibilidade hipotalâmica ao hormônio. Adiponectina: é um hormônio sintetizado pelo tecido adiposo com várias funções: antidiabética, antiteratogênica e anti-inflamatória. Quanto maior o grau de obesidade, menores os níveis de adiponectina. Neuropeptídeo Y: substância secretada pelo núcleo arqueado do hipotálamo em resposta ao jejum. Ele estimula o apetite. TRH (hormônio estimulador da tireotrofina), CRH (hormônio estimulador da corticotrofina), MSH (hormônio melanócito-estimulante): inibem o apetite. Os alimentos com alto teor de gordura e doces habitualmente são servidos em contextos positivos, como recompensas e celebrações fazendo com que as crianças tenham uma associação positiva na aceitação desses alimentos. Por outro lado, são forçadas a ingerir os alimentos mais saudáveis causando na maioria das vezes a recusa desse alimento. As preferências alimentares são determinantes na escolha dos alimentos e um fator de grande relevância da obesidade é o hábito alimentar da criança e da família e o tipo de alimentação implementada no 1° ano de vida (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2009). Apesar de se tratar de procedimentos simples, as medidas antropométricas devem ser realizadas cuidadosamente, seguindo-se uma padronização, e os instrumentos utilizados para sua aferição devem ser frequentemente calibrados para a obtenção de medidas precisas. As medidas antropométricas mais utilizadas na faixa etária pediátrica são o peso, a estatura (altura/ comprimento) e a circunferência abdominal. Outras medidas também podem ser úteis, como a circunferência do braço e as pregas cutâneas tricipital e subescapular. Após aferição dos dados antropométricos o estado nutricional deve ser classificado pelo IMC, utilizando-se os referenciais da OMS, 2006 e 2007. Os valores do IMC estão distribuídos em percentis e escores z, segundo sexo e idade (0 a 19 anos). As crianças de 0 a 5 anos são consideradas em risco de sobrepeso quando os valores de IMC estão entre os percentis 85 e 97 ou entre os escores z +1 e +2; com sobrepeso, quando os valores de IMC estiverem entre os percentis 97 e 99,9 ou entre +2 e +3 escores z; e com obesidade, quando os valores estiverem acima do percentil 99,9 ou acima de +3 escore z. Manifestações metabólicas encontradas nos obesos Baixo ferro sérico. Aumento da gordura marrom. Baixa termogênese. Níveis anormais de neurorreguladores, como as catecolaminas e serotonina. @resumeairafa Aumento dos níveis da enzima lipase lipoprotéica. Aumento do número de células adiposas. Redução do metabolismo basal. Anormalidade da função hipotalâmica. Níveis anormais de hormônios, como insulina, colecistoquina, hormônio de crescimento e cortisol. Intolerância aos hidratos de carbono, elevação do colesterol, baixa de HDL, alta de triglicerídeos. Manifestações físicas Aparelho respiratório: tem sido demonstrada maior incidência de infecções pulmonares entre as crianças obesas. Há menor ventilação pulmonar que poderá, nos casos extremos, levar à sonolência e à perda da consciência, devido à hipercapnia. O acúmulo de gordura intra-abdominal é parcialmente responsável por essa dificuldade respiratória. Aparelho cardiovascular: hipertensão arterial costuma acompanhar a obesidade. Essa alteração tensional tende a desaparecer com o retorno ao peso normal. Aparelho locomotor: o excesso de peso leva a uma deformidade das articulações, acarretando o falso pé plano e genuvalgo. Aparelho genital externo: o acúmulo de panículo adiposo na região mamária, nas meninas, simula uma telárquia precoce, e esse acúmulo na região pubiana, nos meninos, um falso hipogonadismo Conduta nutricional segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria Etapa 1 – Esclarecimento/Mudança conceitual Inicialmente, é importante conhecer os hábitos da criança e/ou do adolescente para estabelecer metas viáveis e factíveis. Também é importante esclarecer mitos, tabus e conceitos errôneos acerca de uma alimentação saudável, como, por exemplo, a existência de alimentos que engordam e que não engordam. Etapa 2 – Avaliação do comportamento Antes de propor mudanças importantes é necessário avaliar alguns comportamentos comuns entre crianças e adolescentes, como: não fazem o desjejum (café da manhã), mastigação rápida, comem assistindo à TV, não têm horário para se alimentar, não têm uma rotina, comem escondidos com medo de serem repreendidos e compensam o consumo de carboidratos. As mudanças devem começar pelos comportamentos que a família avaliar mais fáceis de serem modificados. Ao final desta etapa, espera-se que a criança faça seis refeições por dia, com intervalo de cerca de três horas em local adequado e agradável. Etapa 3 – Quantidade Nesta fase, é importante estimular a redução gradativa da ingestão de alimentos que são consumidos em excesso. A partir das quantidades relatadas da ingestão dos alimentos, é possível estabelecer metas para a redução de repetições e porções. Não se recomendam mudanças drásticas. Etapa 4 – Qualidade A última etapa do tratamento prevê a melhora da qualidade da dieta, quando já se atingiu o controle do peso e se obteve adequação de quantidades e comportamentos alimentares. Deve-se incentivar o consumo crescente de alimentos não habituais e saudáveis (frutas, verduras, legumes, leguminosas, oleaginosas, água). Etapa 5 – Manutenção Momento em que a criança e/ou adolescente, ou sua família, utiliza as informações e os aprendizados adquiridos nas fases anteriores para se adaptar às diversas situações (festas, viagens, cotidiano), controlando excessos, realizando substituições e mantendo uma alimentação saudável. Chamamos de “transição nutricional” as modificações epidemiológicas nos distúrbios nutricionais na infância nos últimos anos. Em vários países, inclusive no Brasil, houve queda na prevalência da desnutrição e aumento nos índices de sobrepeso e obesidade. Nos últimos 25 anos, a desnutrição em crianças apresentou um declínio de 72%, enquanto em adultos sua prevalência baixou em 49% no meio rural e 52,7% no meio urbano, praticamente desaparecendo como problema epidemiológico em maiores de 18 anos. Em contraposição, a frequência de obesidade em adultos triplicou no Nordeste e duplicou no Sudeste, havendo evidências de que começa a se reduzir nos estratos de renda mais elevada. (UNICEF) No mundo, pelo menos 1 em cada 3 crianças menores de 5 anos não está crescendo bem devido à má nutrição em suas formas mais visíveis: desnutrição crônica, desnutrição aguda e excesso de peso. (UNICEF) No mundo, pelo menos 1 em cada 2 crianças menores de 5 anos sofre de fome oculta devido às deficiências de vitaminas e outros nutrientes essenciais. A subnutrição continua a ter um alto custo. Em 2018, quase 200 milhões de crianças menores de 5 anos sofreram desnutrição crônica ou desnutrição aguda, enquanto pelo menos 340 milhões sofriam de fome oculta. O sobrepeso e a obesidade continuam a subir. De 2000 a 2016, a proporção de crianças com excesso de peso (5 a 19 anos) aumentou de 1 em 10 para quase 1 em 5. O número de crianças com desnutrição crônica diminuiu em todos os continentes, exceto na África, enquanto o número de crianças com excesso de peso aumentou em todos os continentes, inclusive na África. (UNICEF) O estado da má nutrição infantil no século 21 pode ser resumido assim: mais crianças e adolescentes estão sobrevivendo, mas poucos são os que prosperam. Eles não prosperam nos primeiros 1.000 dias cruciais da vida, quando são lançadas as bases para o crescimento físico e o desenvolvimento mental saudável. @resumeairafa E eles não estão prosperando em outros estágios de desenvolvimento cruciais da vida na infância e na adolescência. A má nutrição tem muitas causas. Asaúde e o estado nutricional da mãe, por exemplo, afetam profundamente o desenvolvimento do filho, assim como a alimentação do filho nas primeiras horas e dias de vida. Para muitas crianças, as causas da má nutrição também incluem o acesso precário a serviços de saúde e água potável e saneamento adequado, o que pode levar a doenças que impedem a criança de absorver nutrientes. Atualmente, as dietas das crianças refletem cada vez mais a “transição nutricional” global, em que as comunidades deixam para trás dietas tradicionais, mais saudáveis, em favor das dietas modernas. Para muitas famílias – especialmente famílias mais pobres – isso significa uma dependência crescente de alimentos altamente processados, que podem ser ricos em gorduras saturadas, açúcar e sódio, e pobres em nutrientes e fibras essenciais, bem como em alimentos ‘ultraprocessados’ – com alta densidade energética e baixo teor de micronutrientes. Muitas vezes, faltam a essas dietas grãos integrais, frutas, nozes e sementes, vegetais e ácidos graxos ômega-3. (UNICEF) REFERÊNCIAS Tratado de Pediatria: Sociedade Brasileira de Pediatria, 4ª edição, Barueri, SP: Manole,2017. https://www.unicef.org/brazil/media/5566/file/Situacao _Mundial_da_Infancia_2019_ResumoExecutivo.pdf Pediatria Essencial. Autor: Azor Jose De Lima. Editora: atheneu https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/Manual _de_Obesidade_-_3a_Ed_web_compressed.pdf http://www.atenas.edu.br/uniatenas/assets/files/magazin es/OBESIDADE_INFANTIL_.pdf https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/pdfs/14 617a-PDManualNutrologia-Alimentacao.pdf https://nutmed.com.br/storage/resources/5/2222/Apostil a%20Alimenta%C3%A7%C3%A3o%20do%20Lactent e%20com%20f%C3%B3rmulas%20l%C3%A1cteas%2 0e%20Alimenta%C3%A7%C3%A3o%20Complemenet ar.pdf Apostila MEDCURSO – PEDIATRIA – Distúrbios nutricionais na infância – volume 4 – 2019 Porcentagem de crianças entre 6 e 23 meses que comem pelo menos 5 dos 8 grupos de alimentos (Diversidade Alimentar Mínima), por região do UNICEF, 2018**
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