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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/276912847 11. O MITO DA CAVERNA PROJETADO NO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO: A ESCRAVIDÃO TECNOLÓGICA Article in REVISTA DIÁLOGOS DO DIREITO - ISSN 2316-2112 · July 2014 DOI: 10.17793/rdd.v4i6.651 CITATIONS 0 READS 30,042 2 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Artigo Direito/Linguística/Literatura sobre "1984" e "A corruptela dos significados na linguagem jurídica View project Celso Augusto Nunes da Conceição CESUCA 11 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Celso Augusto Nunes da Conceição on 13 November 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/276912847_11_O_MITO_DA_CAVERNA_PROJETADO_NO_ADMIRAVEL_MUNDO_NOVO_A_ESCRAVIDAO_TECNOLOGICA?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/276912847_11_O_MITO_DA_CAVERNA_PROJETADO_NO_ADMIRAVEL_MUNDO_NOVO_A_ESCRAVIDAO_TECNOLOGICA?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Artigo-Direito-Linguistica-Literatura-sobre-1984-e-A-corruptela-dos-significados-na-linguagem-juridica?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Celso-Conceicao?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Celso-Conceicao?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Celso-Conceicao?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Celso-Conceicao?enrichId=rgreq-bc737e0b19e3c0f617efc6d74358d577-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3NjkxMjg0NztBUzoyOTUzMTcwMjQwNjc1OTJAMTQ0NzQyMDQ3MzYyOA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Rev ista D iálogos do D i re i to http://ojs .cesuca.edu.br/ index.php/dia logosdodire ito/ index ISSN 2316-2112 Rua Silvério Manoel da Silva, 160 – Bairro Colinas – Cep.: 94940-243 | Cachoeirinha – RS | Tel/Fax. (51) 33961000 | e-mail: cesuca@cesuca.edu.br REVISTA DILÁOGOS DO DIREITO v.4, n. 6, jul/2014 154 DOI: http://dx.doi.org/10.17793/rdd.v4i6.651 11. O MITO DA CAVERNA PROJETADO NO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO: A ESCRAVIDÃO TECNOLÓGICA 11. MYTH OF CAVE DESIGNED BY THE BRAVE NEW WORLD: SLAVERY THROUGH TECHNOLOGY Celso Augusto Nunes da Conceição1 Valdnei Martins Ferreira2 Resumo: O Mito da Caverna, de Platão, foi escrito no século IV a.C. com a finalidade de evidenciar a forma como o povo é escravizado sem que perceba o que realmente está acontecendo, mas acenando para libertação. Com uma roupagem evolutiva, Aldous Huxley escreveu, no séc. XX, a obra Admirável Mundo Novo, desenvolvendo o caráter futurista pelo benefício que o avanço científico provoca no povo, condicionando-o a contemplar as suas admiráveis maravilhas. O cotejamento entre essas duas obras propicia a projeção da parábola da caverna no processo tecnológico mais amplo, em que o propósito do controle da estabilidade social pelos governantes é atingido. Aplicado aos dias de hoje, o mercado cria necessidades atrativas na população, sendo grande parte delas as famosas mídias: celulares, tablets, internet, redes sociais, etc. O resultado é devastador em termos de educação porque o uso do condicionamento3 evita que o indivíduo acesse os livros e com isso impede-o de refletir sobre as informações neles contidas, ou seja, é a escravidão tecnológica de forma subliminar. Palavras-chaves: condicionamento, escravidão, tecnologia Abstract: The Myth of the Cave, Plato, was written in the fourth century BC in order to highlight how the people are enslaved without realize what is really happening, but waving to release. With an evolutionary mode, Aldous Huxley wrote in the century. XX, the book Brave New World, developing the futuristic character of the benefit that scientific advancement has on people, conditioning it to contemplate its amazing marvels. The examination between these two works provides the projection of the parable of the cave in the broader technological process, where the purpose of controlling the social stability is achieved by governments. Applied to the present day, the market creates attractive needs in the population, most of them being the famous media: mobile phones, tablets, internet, social networking, etc.. The result is devastating in terms of education because the use of conditioning prevents access individual books and thus prevents it from reflecting on the information contained in them, that is, technological slavery subliminally. Keywords: conditioning, slavery, technology 1 Professor das disciplinas de Português Jurídico e Direito e Linguagem no Cesuca, Mestre e Doutor em Linguística Aplicada na PUCRS. E-mail: celsus@terra.com.br 2 Professor da disciplina de Português Jurídico no Cesuca, Mestre em Linguística Aplicada na UFRGS 3 Termo da ciência behaviorista, que será melhor explicitada no artigo. E-mail: val@cesuca.edu.br 155 1. Introdução Diante do avanço tecnológico por que passa o nosso planeta, com reflexos visíveis em todas as áreas do conhecimento, a relação homem e ciência acelera o processo de dependência sem que a sociedade tenha tempo para pensar no que está acontecendo. A palavra que representa essa situação não poderia ser outra: escravidão. Mas isso não começou com a tecnologia, só se agravou. Por quê? Por que a escravidão ou o seu agravamento? Na verdade, essa ambiguidade foi provocada propositadamente para que as reflexões já começassem a ser suscitadas. A escravidão é uma prática que pode ser gerada dentro de uma sociedade ou entre elas, ou seja, pode ser um homem que é a propriedade de outro dentro de uma comunidade ou uma determinada sociedade se subjugar a outra. Somente a primeira será tratada neste artigo porque o importante será a condição de subserviência pessoal em relação àqueles que detêm a sua posse. E para começar esse estudo, necessário buscar os proeminentes filósofos gregos, que tanto têm contribuído para o conhecimento humano desde as suas primeiras reflexões sobre praticamente tudo o que sabemos hoje, como também as experiências utópicas baseadas na ciência. Tanto o Mito da Caverna,4 de Platão, como o Admirável Mundo Novo, de Huxley, têm a escravidão como ponto de convergência em suas obras, mas há uma diferença substancial: servidão involuntária na primeira e voluntária na segunda, o que será apresentado a partir do histórico de cada uma delas, as obras. 1. Sobre o Mito da Caverna5 Essa parábola está inserida na obra ARepública, escrita no século IV a.C., através dos diálogos que o filósofo Platão6 escreveu a partir das reflexões do seu mestre Sócrates, que não deixou nada escrito. Importante destacar algumas afirmações que garantem ser Sócrates pobre e iletrado, inclusive que ele não teria existido. Comprovou- se a sua existência, mas não a data precisa de seu nascimento. E mais: realmente era pobre, contudo sabia ler e escrever (MARCONDES & JAPIASSÚ, 2006, p. 256-257). 4 Está inserido na obra A República, um dos vários diálogos de Platão. 5 Mesmo existindo outras expressões como alegoria da caverna e parábola da caverna, optou-se pela expressão mito por ser mais conhecida e melhor entendida nos meios acadêmicos, mas seus sinônimos são utilizados no corpo textual do artigo. 6 Foi mestre de Aristóteles. 156 Então por que não deixou nenhum registro gráfico? Simplesmente porque entendia que ideias deveriam ficar no cérebro e não fora dele. Apesar de o autor Platão ter escrito o livro, a relevância desse mito está na figura do protagonista Sócrates em função de suas brilhantes intervenções a respeito dos assuntos que os seus amigos filósofos apresentavam a ele. 1.1 Preâmbulo socrático A vida de Sócrates7 é contada por seus dois discípulos: Xenofonte, em suas Memorabilia, e por Platão, em dois de seus diálogos: Apologia de Sócrates e Fédon. Filho de pai escultor e mãe parteira, nasceu em Atenas, tendo recebido educação tradicional para ler e escrever a partir da obra de Homero8. Conhecia as doutrinas filosóficas antigas e contemporâneas, participando ativamente do movimento de renovação da cultura empreendida pelos sofistas, combatendo-os em seus princípios, e da vida da cidade como um todo, que estava tomada por uma desordem intelectual e social. Por sua competência no desenvolvimento dos diálogos, principalmente em função do uso de sua maiêutica9, foi convidado a fazer parte do Conselho dos 50010. Sua atuação está descrita por MARCONDES e JAPIASSÚ (2006, p. 257): (...) manifestou sua liberdade de espírito combatendo as medidas que julgava injustas. Permaneceu independente em relação às lutas travadas entre os partidários da democracia e da aristocracia. Acreditando obedecer a uma voz interior, realizou uma tarefa de educador público e gratuito. Colocou os homens em face da seguinte evidência oculta: as opiniões não são verdades, pois não resistem ao diálogo crítico. São contraditórias. 7 Como já foi citado acerca de seu nascimento, tem-se o período aproximado de 470-399 a.C. 8 Foi um poeta épico da Grécia Antiga que escreveu os poemas Ilíada e Odisseia. A sua existência também é questionada no meio filosófico. 9 Palavra de origem grega que significa ‘ciência ou arte do parto”, sendo uma alusão à profissão de sua mãe, que era parteira; e por extensão, é o 'método de Sócrates de ensinar, de tal modo que as ideias fossem paridas no curso do diálogo' (HOUAISS, 2009); método filosófico que consiste em questionar seus interlocutores fazendo-os entrar em contradição para perceberem sua ignorância. Com esse reconhecimento, parte para descobrir, pela razão, a verdade que está neles mesmos. No diálogo Teeteto, Platão mostra Sócrates definindo sua tarefa filosófica por analogia à de uma parteira, sendo que, ao invés de dar à luz crianças, o filósofo dá luz às ideias. (MARCONDES e JAPIASSÚ (2006, p. 175) 10 Uma vez por ano, os demos sorteavam 50 cidadãos para se apresentarem no Conselho (Boulê) que governava a cidade em caráter permanente. Como eram 10 demos, ele denominava-se "Conselho dos 500". Entre estes 500 deputados eram sorteados 50 que formavam a pritania ou presidência do Conselho, responsável pela administração da cidade por 35 ou 36 dias. Cada demos era chamado, alternadamente, a responder pelos assuntos da pólis, durante um certo período. O Conselho determinava a pauta das discussões, bem como a convocação das assembléias gerais populares (a Ecclesia), que se realizavam duas vezes por semana. (EDUCATERRA, 2014) 157 Acreditamos saber, mas precisamos descobrir que não sabemos. A verdade, escondida em cada um de nós, só é visível aos olhos da razão. Mas como Sócrates atuava nos diálogos a ponto de se perpetuar como referência filosófica? Como fazia para que os que dialogavam com ele conseguissem concluir algo que desconheciam saber? Ele era uma pessoa pública que gostava muito de conversar e de discutir com outras pessoas. Caminhava pelas ruas e praças de Atenas com o propósito de encontrar pessoas que gostassem de conversar e de discutir sobre qualquer assunto do cotidiano, principalmente em relação à verdade das coisas e dos fatos. Fazia perguntas na tentativa de descobrir se as pessoas realmente entendiam o que diziam entender. Seu método natural de elaborar seus questionamentos criava nos seus interlocutores o desenvolvimento de seus pensamentos para superar a sua própria ignorância e encontrar as respostas por si mesmos. Por outro lado, também os fazia entrar em contradição a partir de suas próprias respostas. Esse processo dialético11de Sócrates gerou irritação no meio a aristocracia ateniense e a primeira consequência foi o processo de acusação por três motivos: “Sócrates era acusado de recusar o culto devido aos deuses do Estado, introduzindo entidades demoníacas, com isso pervertendo a mocidade e levando-a a cometer os mesmo crimes ( de ateísmo contra os deuses oficiais), pois só assim ficaria o crime sob a jurisdição do Rei, a quem competia a defesa da religião do Estado. O Rei recebeu a queixa, dirigiu o inquérito e reuniu um triunal de 501 juros, que poderia condenar o réu pela maioria de 60 vozes. A segunda foi o julgamento em que o júri votava duas vezes, conforme Stone (1988, p.186-187) no capítulo “Como Sócrates fez tudo para hostilizar o júri”: Em primeiro lugar, votava-se a favor da condenação ou da absolvição do réu. Em caso de condenação, votava-se para decidir qual seria a pena. A maior supresa no julgamento de Sócrates foi a pequena margem de votos que decidiu a primeira questão, a mais básica. [...] Por que Sócrates ficou tão surpreso com a pequena margem de votos? Esta pergunta não é respondida na Apologia de Platão. Mas na Apologia de Xenofonte12 encontramos uma pista. Xenofonte afirma que Sócrates queria ser condenado, e fez o que pôde no sentido de hostilizar o júri. Infelizmente, o testemunho da Apologia de Xenofonte é com frequência obscurecido por uma palavra traduzida de modo errada13. 11 A dialética significa discussão, mas há distinções de significado dependendo de quem mais a utiliza: Aristóteles, Hegel e Max. Como estamos na abordagem socrática, desnecessário discorrer sobre esses filósofos. 12 Foi outro de seus discípulos. 13 Importante ler toda a celeuma que envolve o problema de tradução porque não explicitaremos neste artigo em função de o assunto fugir do foco. 158 Mais adiante, na obra de Stone (1988, p.188), um pouco mais sobre ojulgamento de Sócrates principalmente por uma afirmação que se mantém até os dias de hoje, em se tratando de julgamentos no qual a oratória faz a diferença, e que é uma preciosidade para a área do Direito: Xenofonte não estava em Atenas na época do tribunal. Afirma que seu relato baseia-se no que lhe foi contado posteriormente por Hermógenes14, um dos discípulos mais íntimos de Sócrates, o qual afirmou a Xenofonte que insistiu com seu mestre para que este preparasse uma defesa eloquente, porque os júris eram influenciados pela oratória. “Não vê”, indaga Hermógenes a Sócrates, “que os tribunais atenienses muitas vezes se empolgam com um discurso eloquente e condenam inocentes à morte, e muitas vezes absolvem o culpado porque sua fala desperta-lhes a compaixão ou agrada-lhes os ouvidos?”. Foi dada a Sócrates a oportunidade de se manter vivo, mas para isso teria que parar de fazer perguntas que levavam a reflexões e também de se retratar em público. Como já estava decidido a morrer, irritou mais quando não aceitou a imposição do júri e disse: Se eu me retratar, minhas ideias morrerão, então morro para que minhas ideias continuem vivas e continuem a libertar pessoas que pensam. Depois de Sócrates, a filosofia nunca mais foi a mesma, deixando como legado não somente as suas ideias, mas dois discípulos que são referência até os dias de hoje: Platão e Aristóteles. 1.2 Descrição do mito O propósito de Sócrates é descrever a situação humana em uma parábola sobre a ignorância e o aprendizado. Começa com homens aprisionados em uma caverna subterrânea. Estão acorrentados pelo pescoço e não conseguem olhar para a entrada que fica atrás deles. Estão ali desde que nasceram. Não muito perto dessa entrada há um fogo aceso e pessoas passando atrás dele e projetando as suas sombras na parede do fundo, onde os prisioneiros as veem como se fosse um filme. Outros homens mantêm acesa a fogueira e cada vez que passam por ali, juntamente com grande quantidade de outras coisas. são projetadas mais sombras ao interior da caverna. Imagens curiosas são criadas. Os sons de fora também ecoam pelas paredes e se associam a essas sombras, dando a impressão de que são as falas que elas emitem. Essa situação é entendida por 14 É um dos interlocutores de Sócrates juntamente com Crátilo, que dá o nome para diálogo que trata sobre a origem da linguagem. 159 eles como a própria realidade vivida dia a dia. Tudo o que é externo é transformado em realidade por essas projeções. Conversam entre si e suas vozes ecoam pela caverna dando a sensação de que suas vozes vêm de suas próprias sombras. Mas eles entenderiam que as suas próprias sombras é que falavam com eles? Esse é um questionamento do próprio Sócrates em uma de suas tantas reflexões. Sócrates fazia uso do modo subjuntivo para simular um fato ou situação irreal, mas que fosse algo possível e desejado. Então gera a possibilidade de um prisioneiro ser libertado, sair da caverna. Primeiramente teria de se adaptar a luz porque suas pupilas, quando no escuro, ficavam dilatadas e agora há muita luz passando por elas. No segundo momento, a constatação de que a realidade nada se assemelha ao que vira na caverna. E como percebeu um novo e real mundo, quer compartilhar com aqueles homens que ficaram na caverna a sua descoberta. Vai até a entrada da caverna e diz a eles como é o mundo lá fora. A sua voz e a sua sombra projetada na parede não são associadas ao seu amigo que tenta convencê-los a sair. Eles não reconhecem o seu próprio amigo, que estava dizendo que o mundo lá fora era real e o que eles estavam vendo eram somente sombras. Acreditam que ele voltou com problemas mentais e que, se tentarem sair, irão ficar cegos em função de a claridade da fogueira ser intensa e não conseguirão mais ver o mundo que entendem ser o real. Outra possibilidade para o objetivo da tentativa de convencimento é o fato de ele estar mentindo por alguma razão. Nem louco e nem mentiroso conseguirão tirá-los de lá. Outra suposição de Sócrates para que eles saiam da caverna é obrigá-los, de alguma forma, a sair. E uma das maneiras de fazer isso era pegar na corrente e puxá-los até a saída. Será que eles aceitariam aquele homem tirá-los de lá à força? Não ficariam furiosos em fazer algo que não querem fazer? E nós, como agiríamos? Essas hipóteses e as consequências apresentadas caracterizam a escravidão a que os homens estão sujeitos caso não reflitam sobre possibilidades de sair de situações como essas. Mas o mito não termina aqui. Sócrates o criou para mostrar o processo de uma prisão involuntária e como a sua libertação depende dele mesmo. Como? Agora imaginando esses prisioneiros saindo da caverna. Pouco a pouco eles teriam de se adaptar ao mundo real. Primeiro continuariam a ver as suas próprias sombras no chão, os reflexos dos homens na água e conhecer os objetos que estão à sua frente. Ficaria mais fácil começar a olhar para cima e olhar a luminosidade da lua e do próprio sol. 160 Seriam capazes de sentir a natureza com todas as suas nuances provocadas pelo dia e pela noite. E o conhecimento do real começa a ser percebido pelos seus sentidos. 2. Sobre o Admirável Mundo Novo15 É uma obra de ficção que o autor Aldous Huxley16 escreveu durante quatro meses no ano de 1930. Como britânico, escreveu sobre o seu país, especificamente a sua capital Londres. Projetou-a no ano 632 d.F. (depois de Ford17) como referência a um futuro em que seus personagens usariam as expressões Nosso Ford ou Graças a Ford como se ele agora fosse um Jesus Cristo futurista. No artigo de Martins Filho (2003, p. 73-116), há uma passagem que retrata bem essa época: Fordismo é um sistema de produção industrial caracterizado por: um elenco limitado de produtos estandardizados; métodos de produção de massa; automação usando máquinas dedicadas à produção de um produto determinado; força de trabalho segmentada responsável por tarefas fragmentadas e especializadas; controle centralizado; e organização hierárquica e burocrática. (RAGGAT, 1993, p.23) Huxley assim vai construindo a sua história como pano de fundo do momento histórico por que passava a Inglaterra naquele momento. Ideias liberais começavam a tomar corpo em função de uma readequação ao sistema econômico que se fragmentou com a Crise da Bolsa de Nova York em 1929 nos Estados Unidos, fato que contaminou praticamente o mundo inteiro. E por outro lado, os regimes autoritários do pós-guerra, criavam a ideia utópica de um mundo pseudamente democrático, principalmente a stalinista. Esses dois ramos políticos e mais o contexto inglês em que estava Huxley constituiam a questão político-econômica, mas a grande fonte de inspiração foram as pesquisas de Pavlov e Skinner em relação ao condicionamento clássico e operante nos animais, criando conceito estímulo-resposta para as relações mentais. Mais adiante, Watson o utiliza para desenvolver a sua teoria baseada no método de investigação 15 Titulo original: Brave New World. 16 Nasceu em Godalming, 26/07/1894, e morreu em Los Angeles, 22/11/1963. Escritor inglês e membro muito influente da família Huxley, classe dominante da elite intelectual. Viveu mais nos Estados Unidos do que na Inglaterra. 17 Henry Ford, norte-americano, é um industrial do automobilismo,gerando o topônimo ‘fordismo’ por marcar uma geração pela produção radical de bens de consumo, principalmente pela organização do trabalho em série, produzindo trabalhadores autômatos, repetindo a mesma tarefa; Significado no HOUAISS (2009): conjunto das teorias sobre administração industrial, criadas pelo industrial e fabricante de automóveis Henry Ford (1863-1947). 161 psicológica nos seres humanos, conhecido como teoria behaviorista, em que a caixa- preta era o objeto que processava a relação estímulo-resposta. E é com esse conhecimento que Huxley escreve seu livro. A narração tem como base um futuro hipotético no qual os indivíduos viverão em plena harmonia, seguindo as regras sociais impostas pelo “novo regime”. Essa sociedade é organizada por castas e isenta de religião, moralidade ou até mesmo noções do que era uma família. Quando acontecia algum problema que o indivíduo provocasse, de origem duvidosa ou de insegurança, uma droga chamada ‘soma’ era aplicada a esse cidadão, sem que houvesse qualquer efeito colateral. Se não havia família, como era a relação de quem deu à luz com quem nasceu? Na verdade, os laboratórios é que os produzem. O embrião tem seu desenvolvimento controlado por cientistas, e é nessa fase rotulado para cada uma das cincos castas: Alfa, Beta, Gama, Delta e Ípsilon; algumas com subdivisões, como Alfa- Mais, Beta-Menos e Delta-Menos. Ele, o bebê, receberá alimentação boa ou ruim conforme a sua casta e, quando estiver dormindo, a sua mente é monitorada pelas máquinas – condicionamento por hipnopedia –, recebendo material ideológico constantemente. Hipnopedia é o nome desse condicionamento. Todas elas possuem funções específicas na cadeira produtiva em que há uma rígida divisão social de trabalho. E como vão atuar na “sociedade” imposta pelo sistema para servir ao Estado? Os indivíduos de cada casta são preparados em uma incubadora de condicionamento com a função específica para casta, garantindo uma certa “Predestinação social” (HUXLEY, 1996, p.13). Depois dessa fase, vão para outro Centro de Condicionamento a fim de reforçarem as predisposições anteriores. Para as castas inferiores, o condicionamento é para que as crianças sintam medo de determinados objetos, mas um em especial: o livro. E como vão sentir medo de livro? Elas engatinham até os objetos e quando chegam perto uma cirene potentíssima é acionada. Caso toquem em algum, um choque elétrico também é gerado. Tudo isso era planejado por vários: castas inferiores não podiam desperdiçar o tempo de trabalho com o de lazer; tinham de ficar orgulhosos em pertencer àquela casta, e também porque o Estado tinha medo de que as pessoas pensassem e assim poderiam criar mecanismos para desestabilizá-lo. Para exemplificar, alguns diálogos para mostrar o condicionamento na prática: (Lenina:) – É horrível, é horrível – repetia. – E como é que você pode falar assim de não querer ser parte do corpo social? Não podemos prescindir de ninguém. Até os Ípsilons... 162 – Sim, já sei – disse Bernard com sarcasmo. – “Até os Ípsilons são úteis!” Eu também. E gostaria imensamente de não servir para nada! Lenina escandalizou-se com a blasfêmia. – Bernard! – protestou, espantada e aflita. – Como pode falar assim? Bernard, em outro tom, respondeu meditativamente: – Como posso? Não, o verdadeiro problema é este: como é que não posso, ou antes – porque eu sei perfeitamente por que é que não posso – o que sentiria eu se pudesse, se fosse livre, se não estivesse escravizado pelo meu condicionamento? [...] -Você não tem o desejo de ser livre, Lenina? – Não sei o que é que você quer dizer. Eu sou livre. Livre de me divertir da melhor maneira possível. Todos são felizes agora. Ele riu. – Sim, “Todos são felizes agora” (HUXLEY, 1996, p.86-87). Esse é um diálogo em que há o efetivo condicionamento de Lenina, mas que tem em Bernard Max um personagem rebelde porque consegue pensar e questionar a organização social, as ideias e os valores impostos pelo “sistema”. E um exemplo de hipnopedia está na fala da Lenina, que não consegue articular um argumento sem deixar de incluir expressões ‘programadas’: “Não podemos prescindir de ninguém” e “Todos são felizes agora”. Encerra-se esta seção esclarecendo que a seleção de castas é para manter o poder na mão de poucos através de conhecimentos distintos, mas com o saber restrito à camada superior da hierarquia social. A transmissão desse saber é elaborado com a finalidade de assumir as responsabilidades que darão a eles o poder de enfrentar situações de conflito, tanto emergenciais como de imprevisibilidade. 3. A escravidão no século XXI Paralelamente aos regimes autoritários dessa época, o Brasil dos anos 30 também entrava na era do controle da sociedade através do regime de Getúlio Vargas, criando um governo provisório, mas que se materializaria como autoritário em 1934 com o Golpe de Estado. E quem sofreu fortemente esse efeito foi a área da Educação, pois começava ali o processo tecnicista de trabalho para que o Estado pudesse entrar na rota das demandas de consumo de forma muito produtiva. É claro que os cidadãos brasileiros, na sua grande maioria, aprovavam tudo isso em função da excelente retórica aplicada ao povo. Na verdade, é uma forma de mascarar a escravidão com o rótulo de progresso. 163 E a estratégia da massificação do mundo tecnológico18 está levando as pessoas para um beco alienante, onde ficarão cada vez mais encurralados, sem saída, ou pelo menos com muito mais dificuldade para voltar ao estado anterior. O ‘ser’ e o ‘ter’ trocaram de lugar na falsa compreensão de que ‘ter’ é o que faz o ‘ser’ e não o ‘ser’ que o faz ‘ter’. Essa inversão de valores faz com que as classes sociais se discriminem mais ainda como se fossem as ‘castas’ idealizadas por Huxley. Parece que o depositar valor nas coisas físicas, como produtos tecnológicos de qualquer natureza neste século, cria uma justificativa de que esses produtos dão aquele prazer que abraça o indivíduo como se estivesse desamparado. O ‘ser’, o ente que é real e que pensa, não é visto como alguém que possa nos fazer sentir o prazer de uma boa conversa e um bom diálogo. Ele vê o outro como alguém que não contribuirá na mesma medida do que esse produto o beneficie. Será que ele percebe o que acontece com sua mente? Será que consegue ter o alcance do que aquela mercadoria está fazendo com ele? Acreditamos que não simplesmente porque não consegue ter o raciocínio mínimo para perceber o domínio que esse produto exerce sobre ele. E o pior está no fato de que entende estar no controle da situação como se estivesse agindo livremente na escolha que está fazendo. Não se dá conta que seu direito natural para agir está sobremaneira sendo substituído por uma crescente alienação a cada nova ‘conquista’ de valores oferecidos pelo mercantilismo do modelo capitalista que se apoderou das mentes dos que não se expõem na sociedade como seres falantes, ouvintes e pensantes. Dizendo de outra forma, é a filosofia na vida ficando cada vez mais enfraquecida. E quem já alertava para isso tem nome: Sócrates. Ele já dizia que o homem nasce livre, mas que vai se aprisionando por aceitar imposições do meio social, especificamente no sistema em que se insere. Sistema esse engendrado pelos homens sedentos pelo poder e que precisam de pessoas subservientes a eles, popularmente chamados de escravos. 18 Por questões de terminologia histórica, não será utilizada a expressão ‘mundo moderno’, que para mim/nósé a mais adequada porque o ‘moderno’ é a situação última do processo tecnológico do momento em que essas situações são tratadas. ‘Mundo moderno’ (ou Idade moderna) segundo alguns historiadores é um período que compreende o final do século XV até o ano da Revolução Francesa (1789). Essa revolução marca o início do ‘mundo contemporâneo’ até os dias de hoje; ‘idade tecnológica’ também cairia em um problema conceitual porque a maioria das pessoas entende que esse período se inicia a partir da invenção da eletrônica. No estudo etimológico da palavra ‘tecnologia’, a sua origem é grega e a raiz ‘tekcno’ significa 'arte, artesanato, indústria, ciência'). Essa “idade” compreenderia todos os estágios em que ‘arte’ e ‘artesanato’ exitem. Para que o artigo não fique refém da historiografia terminológica, assume-‐se aqui o uso da expressão ‘mundo tecnológico’ como a mais adequada aos seus propósitos. 164 Esses dois momentos estão separados por uma longa linha de tempo, mas têm em comum a escravidão gerada pelo sistema: a distopia19 ou utopia20 negativa. Para ilustrar uma das causas dessa escravidão, nada melhor do que utilizar um dos mecanismos informáticos como o blog. Ele é veículo da informação do que pretende este artigo: a reflexão do mito da caverna quanto ao aprisionamento e como sair dele; e a partir daí projetar esses ensinamentos socráticos na ficção do Admirável Mundo Novo. Essa projeção é levada pela semelhança que tem uma obra com a outra. Os prisioneiros da caverna são para a obra de Huxley os indivíduos condicionados por uma tecnologia que aplica na sociedade a programação do que o sistema espera deles. Nesses dois casos, a libertação parece que é mais difícil em relação ao momento por que passamos neste século. Ao contrário dos escravos anteriores à nossa época, que sabiam de sua escravidão e que também sabiam que era muito difícil sair daquela condição, a escravidão deste século é subliminar. As pessoas não se dão conta que estão entrando cada vez mais fundo na alienação como se entra em um túnel da caverna de Platão. Por quê? O consumismo de produtos em geral, sejam necessários ou supérfluos, é gerado pelo sistema que sabe o que o povo quer e como poderá adquiri-lo. Assim, ficará com seus desejos materiais satisfeitos e utilizando mais tempo que poderiam ser usados para leituras e busca de conhecimentos. Que produtos são esses? Computadores, celulares, tablets e outros com a finalidade de contato com pessoas pelo meio virtual: internet. Essa interface entre um indivíduo e outro está gerando ansiedades e condicionamentos pavlovianos preocupantes. Quanto mais equipamento maior a probabilidade de ficar sem ele. Por exemplo, a rede “cai” ou a bateria fica sem carga o desespero é imediato. As pessoas ficam sem saber o que fazer. Ficam como se tivessem tirado o chão de seus pés. Bate o pavor e as consequências são as mais variadas possíveis. E quanto mais acontece esse tipo de problema maior é o medo de ficar sem eles. 19 Termo que significa lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação; antiutopia; (HOUAISS, 2009). 20 A palavra de origem latina ‘utopia’ foi dada por Thomas Morus (humanista inglês, 1477-‐1535) a uma ilha imaginária, com um sistema sociopolítico ideal (HOUAISS, 2009). O termo ‘utopia’ é popularmente conhecido com os adjetivos ‘positivo’ ou ‘negativa’ quando não faz uso da palavra ‘distopia’. 165 Blog e Site são páginas na internet com informações atualizadas dinamicamente, Twitter e Facebook, são redes sociais ‘alimentadas’ pelos usuários de acordo com a política de seus administradores e o Viber e WhatsApp são aplicativos para celulares e tablets para facilitar a comunicação online através de mensagens e voz. Todo esse manancial tecnológico está incorporado na sociedade e tirando o sono de muita gente. Se antes desses produtos entrarem no mercado as pessoas já tinham de administrar o tempo para fazer coisas, e agora tendo de dar conta de tudo isso juntamente com os amigos, família, trabalho, etc. Já estamos cansados só de escrever este parágrafo imaginando a quantidade de pessoas no mundo se conectando com tudo e com todos. É notório que novas doenças começam a aparecer no indivíduo. Uma delas é a Nomophobia, ansiedade que surge por não ter acesso a um dispositivo móvel; o termo deriva da abreviatura de ‘no-mobile phobia’ (medo de ficar sem telefone móvel). Outra enfermidade é a Síndrome do toque fantasma, que é quando o seu cérebro faz com que você pense que seu celular está vibrando no seu bolso (ou bolsa, se preferir). Há muitas outras, como Depressão de Facebook, Transtorno de Dependência da Internet, Vício de jogos online, Cibercondria, ou hipocondria digital e Efeito Google. Todas elas estão em um dos focos que geram doenças contagiosas: um blog. Mas parece que esse blog está na contramão da paranoia cibernética. Ele é o Mundo Tecnológico (2014) que alerta as pessoas do mundo virtual para que leiam, reflitam e façam perguntas em busca de respostas para a cura. Na verdade, é um blog socrático, a voz da filosofia cibernética no mundo virtual para libertar o indivíduo que está aprisionado sem saber que o está. 5. Considerações finais Diante de toda a exposição nas seções do artigo, torna-se possível inferir que a política de um país, independentemente de ideologia, mantém o processo de manutenção da ordem atendendo às necessidades básicas da população. O poder sabe que o povo precisa estar minimamente satisfeito para que a maioria não conspire sobre o seu governo. O emprego e a educação alguns dos importantes alicerces da sociedade que precisam ser garantidos. O primeiro aliena de alguma forma e a educação não deveria fazer a mesma coisa, mas faz na maioria dos casos. Por que e em que condições essa alienação acontece? Um emprego que é aceito porque a necessidade de ganhar dinheiro 166 é maior possivelmente provocará uma frustação tão logo esse indivíduo entre na “linha de montagem” da alienação. Sair dele será muito complicado se a sua formação foi a tradicional, ou seja, formação que mostra o que tem de fazer e não o que precisa ser feito. Esse efeito é a resignação e incapacidade de alterar o sistema vigente de concepção milenar: foco no capital. E como sair dessa “caverna”? Há dois caminhos: a busca individual e a coletiva. E onde buscar? Platão21 não diz que estamos condenados a viver em uma caverna. O que ele diz é que podemos começar como prisioneiros, mas que podemos fazer melhor. De que forma? Bem, aí mais uma pergunta! Os próprios blogs, instrumentos que alienam são os mesmo que promovem a libertação. Como resolver esse impasse? A resposta está justamente na lição que Sócrates apresenta com o seu método maiêutico. Sair desse estágio de alienação para ver o mundo de forma natural, como deveria ser desde o início, não é tarefa fácil.Por quê? Primeiro porque desde quando nascemos as regras sociológicas do poder começam a se introjetar em nossas consciências de forma subliminar. Tão subliminar a ponto de nossos pais também não perceberem essa internalização dos valores que o poder social nos impõe. Segundo porque nossos pais são ‘produtos’ de gerações passadas que vão se solidificando pela mudança de valores crescentes em nossa sociedade. Então como exigir dos pais uma postura diferente daquela que já se massificou? Pode ser simples ou complexo, dependendo da percepção que o indivíduo tem da vida. Aqui começamos a lembrar do Sócrates. Quando os professores aplicam esse método socrático, ou maiêutico, a fim de que os alunos não recebam o conteúdo de forma tradicional em uma aula expositiva, necessariamente provoca um certo mal estar porque precisam pensar e isso não faz parte de seu mundo cognitivo para a aprendizagem. Mudança de paradigma que precisa ter suporte acadêmico-científico para alcançar resultados na maneira de pensar do estudante. 21 Importante esclarecer que na literatura filosófica as vozes de Platão e Socrátes são confundidas porque os diálogos de Sócrates foram escritos por Platão. E como definir se a afirmação é de quem escreveu o que o outro disse? Realmente, é muito complicado. Existem estudos que argumentam para um e para outro, mas como são argumentos dependem de condições de verdade. E como saber onde está a verdade? Complicado mesmo, mas é o que nos faz pensar e, se pensamos, estamos livres. Lembram da história do livro 1984, de George Orwell? Não eram livres, não podiam pensar. Se o fizessem, eram aprisionados e mortos. Essa obra se assemelha à de Huxley porque também é utópica no sentido negativo da palavra, chamada de distopia. 167 Será que o discurso de Sócrates conseguiria subverter a juventude deste nosso século concorrendo com o poder da tecnologia em suas mãos? Conseguiriam ouvir esse professor e deixar seus tablets e celulares desligados na hora do ensino? E se tivessem de responder às suas perguntas a partir de um assunto que ainda não foi exposto? ao invés de fazerem as perguntas para obter respostas? Entrar em uma sala de aula e presenciar o professor expondo o conteúdo de forma tradicional pode gerar alguma expectativa no aluno? Ele aceita a aula sem questionar a maneira como está sendo apresentado esse conteúdo? Ele poderia reclamar quando o professor pedisse para guardarem seus celulares ou qualquer instrumento tecnológico? Se o professor estivesse ministrando uma aula expositiva com o conteúdo somente no quadro-negro, ele reclamaria porque não está sendo utilizada tecnologia? Finalizando, a escola tradicional ensina muito o aluno para que aprenda a responder. E o professor é um especialista em ensinar o aluno a responder algumas perguntas que ele já fez. A proposta é a inversão no processo: o professor ensinará o aluno a saber fazer boas perguntas. Com isso a gama de questionamentos que irá surgir provocará outra de possíveis respostas. Será que daria certo? E agora o último questionamento para reflexão: o conhecimento evolui a partir das perguntas ou das respostas? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACADEMIA DA MENTE. Abra a sua mente: existe um mundo querendo entrar. http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/abra-sua-mente-existe-um-mundo- querendo-entrar/78113/ Acesso em 28/07/2014 às 19h18min. EDUCATERRA. http://educaterra.terra.com.br/voltaire/politica/democracia3.htm. Acesso em 28/07/2014 às 4h46min. HOUAISS ELETRÔNICO. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009. HUXLEY, A. L. Admirável Mundo Novo. 22.ed. São Paulo: Globo, 1996. 168 LARANJA FILMES. Filme Matrix e a relação com o Mito da Caverna. http://alaranja- filmes.blogspot.com.br/2013/04/analise-do-filme-matrix-1999.html Acesso em 28/07/2014 às 19h18min. MARCONDES, Danilo e JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. MEDEIROS, Rodrigo. SÓCRATES: O Mártir da Filosofia, 2001. Disponível em http://www.odireito.com/impressao.asp?ConteudoId=21&SecaoID=10&SubSecao=1& SubSecaoID=23. Acesso em 28/07/2014 às 6h25min. MUNDO TECNOLÓGICO. http://k1tecnologia.blogspot.com.br/. Acesso em 28/07/2014 às 3h45min. PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Editora Nova Cultura, 1997. _______. O Julgamento de Sócrates. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. (Artigo submetido em 29/06/2014 e aceito em 28/07/2014) View publication statsView publication stats https://www.researchgate.net/publication/276912847
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