Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Discordância e Mecanismos de Aumento de Resistência – Resumo CALLISTER JR., William D; SOARES, Sérgio Murilo Stamile. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 5.ed. Rio de Janeiro: LTC Ed, c2002. 589p. ISBN: 8521612885. Discordâncias Os materiais podem apresentar dois tipos de deformação: a elástica e a plástica, sendo a última uma deformação permanente, que é medida através da resistência e dureza do material. Durante a década de 1930, essa discrepância em termos de resistências mecânicas era tida como um tipo de defeito cristalino linear, sendo conhecido por discordância. Entretanto, em meados de 1950 uma teoria de discordâncias evoluiu para explicar muitos dos fenômenos físicos e mecânicos em materiais cristalinos, especialmente nos metais e cerâmicos. Os dois tipos fundamentais de discordâncias são a discordância aresta, em que existe uma distorção localizada da rede cristalina ao longo da extremidade de um semiplano adicional de átomos, e a espiral, que é considerada como resultante de uma distorção por cisalhamento; a sua linha da discordância passa através do centro de uma rampa espiralada de plano atômico. Quando a discordância apresenta componentes tanto em aresta como em espiral, é chamada de discordância mista. A deformação plástica corresponde ao movimento de grandes números de discordâncias. Uma discordância aresta se move em resposta a aplicação de uma tensão de cisalhamento em uma direção perpendicular à sua linha, em um processo chamado de escorregamento (representado na figura abaixo), que depende da estrutura cristalina do metal e é tal que a distorção atômica que acompanha o movimento de uma discordância é mínima, e o plano ao longo do qual a linha de discordância se movimenta é o plano de escorregamento. O movimento de uma discordância espiral em resposta à aplicação de uma tensão de cisalhamento ocorre perpendicularmente à direção da tensão de cisalhamento, como mostrado na figura: A deformação plástica liquida ou global para ambos os tipos de discordância é a mesma. A direção do movimento da linha de discordância mista está entre esses dois extremos de movimento. Durante a deformação plástica, o número de discordâncias aumenta drasticamente. Todos os materiais cristalinos possuem algumas discordâncias. Essa quantidade é expressa pela densidade de discordâncias, que é o comprimento total de discordâncias por unidade de volume. Várias características das discordâncias são importantes em relação às propriedades mecânicas dos metais. Estas incluem os campos de deformação que existem ao redor das discordâncias, que são importantes na determinação da mobilidade das discordâncias, bem como suas habilidades em se multiplicar. Quando os metais são submetidos à deformação plástica, uma fração da energia de deformação (aproximadamente 5%) é retida internamente, e o restante é dissipado como calor. A maior parte dessa energia armazenada consiste em uma energia de deformação que está associada a discordâncias. Existem regiões onde as deformações da rede cristalina por compressão, tração e cisalhamento são impostas sobre os átomos vizinhos. Também existem deformações de cisalhamento na vizinhança da discordância aresta. Para o tipo espiral as deformações são somente de natureza cisalhante. Mecanismos de aumento de resistência Com frequência procura-se materiais que aliem alta resistência e boa ductibilidade e tenacidade. Várias técnicas de endurecimento estão à disposição de um engenheiro, e com frequência a seleção de ligas depende da capacidade de um material de ser adaptado às características mecânicas exigidas para uma aplicação específica. A relação entre o movimento das discordâncias e o comportamento mecânico dos metais é importante para a compreensão dos mecanismos de aumento de resistência. A habilidade de um material se deformar plasticamente depende da habilidade das discordâncias se moverem. As técnicas de aumento de resistência dependem do principio de que restringir ou impedir o movimento de discordância confere maior dureza e mais resistência a um material. Isso refere-se a mecanismos de aumento de resistência para metais monofásicos, mediante redução no tamanho do grão, formação de ligas por solução sólida e encruamento. A deformação e o aumento da resistência para ligas que contém múltiplas fases são processos mais complicados. Existem três mecanismos que podem ser utilizados para promover o endurecimento de ligas metálicas monofásicas, que podem ser utilizados individualmente ou em conjunto: 1. Aumento de resistência pela redução no tamanho do grão Em um material policristalino, o tamanho dos grãos influencia suas propriedades mecânicas. Durante a deformação plástica, o escorregamento ou movimento de discordâncias deve ter lugar através do contorno comum de grãos adjacentes, que atua como uma barreira ao movimento das discordâncias. Um material com granulação fina tem maior tenacidade e é mais duro e resistente do que um material com granulação grosseira, já que o primeiro possui uma maior área total de contorno de grãos para dificultar o movimento das discordâncias. Para muitos materiais, o limite de escoamento varia de acordo com o tamanho do grão conforme a equação de Hall-Petch, onde σ e k são constates para cada material específico, e d representa o diâmetro médio do grão: Contornos de grão de baixo ângulo não são eficazes na interferência com o processo de escorregamento devido ao leve desalinhamento cristalográfico através do contorno, ao contrário dos contornos de macla, que bloqueiam o escoamento de maneira eficaz. 2. Aumento de resistência por solução sólida Uma outra técnica utilizada no aumento da resistência e para endurecer metais consiste na formação de ligas com átomos de impurezas que entram ou em solução sólida substitucional ou intersticial. Os metais com alta pureza são geralmente mais macios e fracos do que as ligas compostas por esse mesmo metal de base. Um átomo de impureza que seja menor do que um átomo hospedeiro que ele esteja substituindo exerce deformações de tração sobre a rede cristalina vizinha, enquanto um átomo substitucional maior impõe deformações compressivas sobre a sua vizinhança. A figura abaixo mostra a variação da resistência, escoamento e ductibilidade de acordo com o teor de pureza do material: A resistência ao escorregamento é maior quando os átomos de impureza estão presentes, pois a deformação global da rede deve aumentar se uma discordância for separada deles. 3. Encruamento O encruamento é o fenômeno pelo qual um metal dúctil se torna mais duro e resistente quando é submetido a uma deformação plástica, também conhecido como endurecimento por trabalho ou trabalho a frio. A maioria dos metais encrua à temperatura ambiente. O grau de deformação plástica pode ser expresso como um percentual de trabalho a frio, definido por: O fenômeno de encruamento é explicado com base em interações entre campos de deformação de discordâncias. A densidade de discordâncias em um metal aumenta com a deformação ou com o encruamento, devido à multiplicação das discordâncias ou a formação de novas discordâncias. Comercialmente, o encruamento é utilizado com frequência para aprimorar as propriedades mecânicas de metais durante seus procedimentos de fabricação. Recuperação, recristalização e crescimento de grão As características microestruturais e mecânicas de uma amostra metálica que tenha sido submetida a um processo de deformação plástica podem ser restauradas aos seus estados anteriores à deformação mediante uma etapa de tratamento térmico, onde permite-se que ocorram os processos de recuperação, recristalização e crescimento de grão. Durante a recuperação, existe uma redução na densidade e alteração nas configurações das discordâncias. A recristalização consistena formação de um novo conjunto de grãos que estão livres de deformação, tornando o material mais macio e dúctil. O crescimento de grãos caracteriza-se por um aumento no tamanho médio do grão de materiais policristalinos, o qual ocorre por meio do movimento de contornos de grão. Questão 7.16 Explique sucintamente por que contornos de grão com baixo ângulo não são tão eficazes na interferência no processo de escorregamento quanto são os contornos de grão com alto ângulo. O contorno de grão atua como uma barreira que dificulta o movimento das discordâncias. Se dois grãos possuem orientações diferentes e uma discordância que atravessa um grão, ao chegar ao contorno, a direção de movimento terá que ser alterada. À medida que a diferença de orientação aumenta isso se torna mais difícil. Para contornos de alto ângulo, é mais fácil que as discordâncias não atravessem os contornos dos grãos durante a deformação.
Compartilhar