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Embolia pulmonar (EP) refere-se a uma obstrução de uma artéria pulmonar, por um material que se deslocou de uma parte do corpo até os pulmões, levado pela corrente sanguínea. Os trombos de veias profundas das pernas ou braços representam o tipo mais comum de material que emboliza os pulmões – um processo conhecido como tromboembolismo venoso (TEV). Além dos êmbolos pulmonares trombóticos, o material não trombótico também pode embolizar os pulmões. Esse material inclui gordura, líquido amniótico, células de tumores, talco em usuários de drogas intravenosas e vários dispositivos médicos. Independentemente do tipo de material embólico, o bloqueio do fluxo sanguíneo pelos pulmões e o aumento resultante na pressão do ventrículo direito são responsáveis pelos sintomas e sinais de EP. Epidemiologia O TEV, que inclui a trombose venosa profunda (TVP, Capítulo 81) e a EP, representa a terceira causa mais comum de morte cardiovascular depois do infarto do miocárdio e do AVC. Embora os homens e mulheres sejam afetados igualmente, a incidência é mais alta nos caucasianos e afrodescendentes que em hispânicos e moradores das ilhas da Ásia-Pacífico. Aproximadamente um terço dos pacientes com TEV sintomático apresentam EP, enquanto os demais apresentam apenas a TVP. Até metade dos pacientes com um primeiro episódio de TEV não têm fatores de risco identificáveis e são descritos como apresentando o TEV não provocado ou idiopático. Os demais desenvolvem o TEV secundário a fatores de risco transitórios bem conhecidos, como cirurgia ou imobilização. Fisiopatologia A EP e a TVP são parte do espectro do TEV e compartilham os mesmos fatores genéticos e de risco adquiridos, que determinam o risco intrínseco de TEV para cada indivíduo (Fig. 98-1). Os fatores de risco genético incluem anormalidades associadas à hipercoagulabilidade do sangue, a mais comum sendo o fator V Leiden e a mutação do gene 20210 da protrombina. Os fatores adquiridos incluem idade avançada, histórico de TEV prévio, obesidade e câncer ativo, todos os quais limitando a mobilidade e podendo ser associados à hipercoagulabilidade. Sobreposto a este risco secundário, o TEV frequentemente ocorre na presença de um fator desencadeante, que aumenta o risco acima do limiar crítico. Os fatores desencadeantes, que incluem cirurgia e gravidez ou terapia com estrogênio, levam a danos vasculares, estase e hipercoagulabilidade, que são os componentes da tríade de Virchow. Em pelo menos 90% dos pacientes, a EP se origina da TVP nos membros inferiores, e até 70% dos pacientes com EP comprovada ainda apresentam a TVP demonstrável. Os trombos geralmente iniciam nas veias da perna. Em seguida, cerca de 20% desses trombos nas veias da perna se estendem às veias poplíteas e mais proximais da coxa, a partir das quais a embolia é mais provável. Embora frequentemente seja assintomática, a EP pode ser detectada em cerca de 50% dos pacientes com TVP proximal. A TVP da extremidade superior, envolvendo as veias axilares ou subclávias, também pode provocar a EP, mas apenas 10 a 15% desses pacientes desenvolvem a EP. Com frequência, a TVP da extremidade superior ocorre nos pacientes com câncer (Capítulo 187), particularmente naqueles com cateteres intravenosos. A TVP não provocada na extremidade superior, que geralmente envolve o braço dominante, pode ocorrer em um esforço extremado – a chamada síndrome de Paget-Schroetter. A EP geralmente envolve os dois pulmões, e os lobos inferiores são afetados com mais frequência que os superiores. Os êmbolos maiores tendem a se alojar na artéria pulmonar principal ou suas ramificações, enquanto os menores ocluem as artérias mais periféricas. A EP periférica pode levar ao infarto pulmonar, que é caracterizado pela hemorragia intra-alveolar e à necrose possivelmente baseada na pleura. Uma vez que a circulação para os pulmões se origina nas artérias bronquiais e também nas pulmonares, o infarto pulmonar ocorre em apenas cerca de 10% dos pacientes sem doença cardiopulmonar subjacente. Por outro lado, o infarto pulmonar ocorre em até 30% dos pacientes que têm a oxigenação comprometida das áreas afetadas do pulmão, devido a distúrbios preexistentes como doença das vias aéreas ou aumento da pressão venosa pulmonar por causa de uma disfunção ventricular esquerda. O impacto clínico da EP depende da extensão da redução no fluxo sanguíneo pulmonar, o período de tempo em que a obstrução vascular ocorre e a ausência ou presença de uma doença cardiopulmonar subjacente. Na EP aguda, a maioria dos pacientes desenvolve taquipneia e um certo grau de hipoxemia. A estimulação de receptores irritantes nos pulmões provavelmente é responsável pelo aumento na frequência respiratória. A obstrução das artérias pulmonares contribui com a hipoxemia e o aumento do gradiente de tensão do oxigênio alveolar-arterial, que reflete a transferência ineficiente do oxigênio através dos pulmões. Essas anormalidades resultam principalmente do aumento no espaço morto alveolar, que ocorre porque a ventilação para os alvéolos excede o fluxo sanguíneo nos capilares adjacentes, nas partes do pulmão afetadas pela EP. Outros fatores que contribuem com a hipoxemia incluem o desequilíbrio entre a ventilação e a perfusão, por causa da relativa perfusão em excesso das áreas normais do pulmão, e do desvio do sangue através de áreas pulmonares atelectásicas não ventiladas ou em colapso, que retêm pelo menos uma parte da perfusão. A resistência vascular pulmonar aumenta com a EP por causa da oclusão vascular pelos trombos. Além disso, os mediadores humorais como serotonina e tromboxano são liberados das plaquetas ativadas e podem desencadear a vasoconstrição nas áreas não afetadas do pulmão. Consequentemente, o aumento na resistência vascular pulmonar pode ser desproporcional à extensão da oclusão vascular pulmonar. Com a obstrução de menos de 50% do leito vascular pulmonar, a pressão média da artéria pulmonar raramente excede 25 mm Hg. Nessas circunstâncias, o ventrículo direito mantém seu débito para que o débito cardíaco e a pressão arterial sistêmica permaneçam normais. Com a oclusão aguda de mais de 50% da circulação pulmonar, a pressão sistólica da artéria pulmonar aumenta, aumentando assim a pós-carga ventricular direita. A pressão sistólica da artéria pulmonar raramente excede 55 mm Hg com a oclusão repentina, por causa do tempo insuficiente para a ocorrência da hipertrofia ventricular direita. Se o ventrículo direito, com suas paredes finas, não conseguir manter o débito em face ao aumento da pressão na artéria pulmonar, ele dilata e inicia-se falência cardíaca direita. As pressões diastólica final ventricular direita e atrial direita aumentam à medida que o ventrículo direito falha. A dilatação do ventrículo direito pode resultar na regurgitação da tricúspide, que pode comprometer o enchimento ventricular esquerdo e levar ao débito cardíaco reduzido e a uma hipotensão subsequente. A protuberância do septo intraventricular para a direita também pode contribuir com a disfunção diastólica ventricular esquerda. O aumento na pressão aórtica, junto com o aumento na pressão ventricular direita, pode produzir a isquemia do ventrículo direito por causa da perfusão reduzida da artéria coronária direita, apesar do aumento na demanda pelo ventrículo direito dilatado. Se esse processo ocorrer em um período rápido, a primeira manifestação da EP grave pode ser a síncope ou a morte súbita, frequentemente associada à dissociação eletromecânica. Com diversos êmbolos pulmonares por um período prolongado, o ventrículo direito tem a oportunidade de se adaptar à resistência vascular pulmonar elevada. O aumento subsequente na pressão sistólica ventricular direita resulta em menos insuficiência cardíaca direita do que a observada na EP grande aguda. Pacientes com diversas EPs menores por um período prolongado frequentemente apresentamuma dispneia crescente, com tolerância progressivamente reduzida ao exercício. Com o débito cardíaco mantido, a hipotensão não se desenvolve. No entanto, os êmbolos adicionais podem converter o quadro clínico para a EP aguda grave. Os pacientes com doença cardiopulmonar subjacente ou que sejam idosos, frágeis e debilitados serão mais sensíveis aos efeitos da EP do que os pacientes previamente saudáveis. Consequentemente, até mesmo uma EP pequena pode ser fatal em pacientes com reserva limitada. Manifestações clínicas Os pacientes com EP frequentemente apresentam histórico de dispneia, que pode ter início repentino e tende a progredir em gravidade com o passar do tempo. A dispneia pode ser associada a uma dor torácica pleurítica, tosse e hemoptise, particularmente nos pacientes com infarto pulmonar. Embora os sintomas e sinais de EP possam ser inespecíficos, o diagnóstico é suspeito em pacientes com fatores de risco de TEV, como imobilidade prolongada, cirurgia recente ou malignidade ativa. Os pacientes com TEV associado podem apresentar início recente de dor na perna ou edema e dor à palpação ao longo do curso das veias profundas. As veias superficiais da perna podem estar dilatadas e a perna afetada pode estar quente ao toque, com a pele vermelha ou azul parda. A maioria dos pacientes com EP têm taquipneia e taquicardia associadas à hipoxemia, mas esses achados também podem ocorrer em distúrbios como insuficiência cardíaca, pneumonia ou doença pulmonar obstrutiva crônica. Outros sintomas inespecíficos incluem palpitação, ansiedade e tontura. Os pacientes com EP grave aguda muitas vezes se queixam de dispneia em repouso ou com esforço mínimo e podem apresentar síncope (Caps. 50 e 62) por causa da hipoxemia e do débito cardíaco baixo. A combinação entre hipotensão, hipoxemia e carga de trabalho cardíaco elevada pode desencadear a angina (Capítulo 72) ou o infarto de miocárdio evidente (Capítulo 73). A cianose central e periférica pode ocorrer e o ritmo de galope pode se desenvolver como consequência da insuficiência cardíaca. As veias jugulares podem ficar distendidas se a insuficiência cardíaca direita se desenvolver. O segundo som cardíaco pode se dividir amplamente, com um alto componente pulmonar devido ao esvaziamento atrasado do ventrículo direito. A dilatação do ventrículo direito pode estar presente na EP massiva e na hipertensão pulmonar aguda. Diagnóstico A maioria dos pacientes com EP terá uma ou mais das seguintes características clínicas: dispneia, muitas vezes de início repentino; taquipneia com frequência respiratória de mais de 20 respirações/minuto; e desconforto no peito, que geralmente é subesternal e frequentemente tem natureza pleurítica. Quando o paciente apresenta essas características, o diagnóstico diferencial inclui distúrbios pulmonares como pneumonia, exacerbação da doença pulmonar obstrutiva crônica ou asma; pleurite secundária à doença do tecido conjuntivo; distúrbios cardíacos como insuficiência, síndrome coronariana aguda, pericardite; e distúrbios musculoesqueléticos como fratura da costela. Uma vez que as características clínicas são específicas, o diagnóstico da EP requer um teste objetivo. Os pacientes que precisam desse teste podem ser identificados pela probabilidade pré- teste de EP, usando as regras da previsão clínica validada (Tabela 98-1), que incluem os componentes da avaliação clínica, a presença de fatores de risco de TEV e a ausência de um diagnóstico alternativo para explicar os sinais e sintomas. Algumas regras de previsão clínica incluem os resultados de testes simples como o eletrocardiograma (ECG) e a radiografia de tórax. Com base nos resultados dessa avaliação, a probabilidade pré-teste da EP pode ser designada como baixa, moderada ou alta; em seguida, a probabilidade orienta a seleção subsequente de testes sanguíneos como o ensaio do dímero D e testes não invasivos ou invasivos para diagnóstico de EP ou TVP (Fig. 98-2) (Capítulo 81). Os testes para diagnóstico da TVP são relevantes, porque seu diagnóstico em pacientes com suspeita de EP fornece uma base suficiente para o início do tratamento, e o tratamento de ambas é geralmente o mesmo. Os testes não invasivos incluem a tomografia computadorizada (TC), a angiografia pulmonar ou a cintilografia pulmonar de ventilação-perfusão para o diagnóstico de EP e o ultrassom de compressão venosa para diagnóstico de TVP. Esses testes substituíram a angiografia pulmonar para diagnosticar a EP e a venografia para diagnosticar a TVP. Exames Diagnósticos 1. Dímero D Um produto de degradação derivado da plasmina da fibrina de ligação cruzada, o dímero D pode ser medido no sangue integral ou no plasma para fornecer um índice direto da ativação continuada do sistema de coagulação. Um nível elevado de dímero D tem uma sensibilidade de 85 a 98% para diagnóstico de EP, mas todos os ensaios do dímero D disponíveis apresentam baixas especificidades. As elevações falso-positivas do dímero D podem ocorrer na idade avançada, condições inflamatórias crônicas e malignidade. Além disso, os pacientes hospitalizados são mais prováveis de ter um nível elevado de dímero D que os pacientes de ambulatório. Devido a essa falta de especificidade, o valor do ensaio do dímero D reside em seu alto valor preditivo negativo e em sua capacidade, quando normal, de reduzir a probabilidade da EP o suficiente para evitar outros testes diagnósticos em pacientes com probabilidade pré-teste baixa ou moderada, 1 que representam até 30% dos pacientes com suspeita de TEV. 2. Angiografia Pulmonar por Tomografia Computadorizada A angiografia pulmonar por TC com multidetectores substituiu a cintilografia pulmonar de ventilação-perfusão para o diagnóstico de EP, devido à sua ampla disponibilidade e à rapidez de seus resultados. Em contraste com a cintilografia pulmonar, a angiografia pulmonar por TC não apenas permite a visualização direta dos trombos nas artérias pulmonares de pacientes com EP (Fig. 98-3), mas também fornece um diagnóstico alternativo em muitos daqueles que provam não ter EP. Com a evolução dos scanners de TC com um ou vários detectores, a sensibilidade e a especificidade da angiografia pulmonar por TC são suficientes para seu uso como teste autônomo: um angiograma pulmonar por TC mostrando trombos nas artérias pulmonares até o nível segmentar fornece a evidência da EP, enquanto o angiograma negativo exclui a EP com resultados clínicos subsequentes pelo menos tão bons quanto a cintilografia pulmonar. Comparada à varredura pulmonar, a angiografia pulmonar por TC detecta mais trombos subsegmentares isolados em cerca de 1 a 5% dos pacientes, mas a importância desses trombos não está clara porque os pacientes com defeitos subsegmentares isolados têm bons resultados, apesar da interrupção do tratamento. Um dímero D negativo ou o exame por ultrassom de compressão venosa normal podem ajudar a excluir a possibilidade de TEV neste cenário. 3. Cintilografia Pulmonar de Ventilação-Perfusão Neste teste de duas partes, a fase da ventilação envolve a inalação de uma forma de xenônio ou tecnécio em aerossol para avaliar o transporte do ar para várias partes do pulmão, enquanto a fase da perfusão envolve a injeção intravenosa de macroagregados de albumina rotulados com tecnécio, permitindo a avaliação do fluxo sanguíneo dentro dos pulmões uma vez que os agregados se alojam na microcirculação pulmonar. As imagens das duas partes do teste são adquiridas usando um contador gama. As áreas do pulmão afetadas pela EP não ficam iluminadas na cintilografia da perfusão, porque os macroagregados de albumina não chegam aos locais em que as artérias pulmonares estão ocluídas (Fig. 98-4). Por outro lado, as áreas com perfusão anormal têm ventilação normal, produzindo um desequilíbrio entre a ventilação e a perfusão. A cintilografia pulmonarnormal exclui efetivamente o diagnóstico de EP, mas apenas 25% dos pacientes com suspeita de EP apresentam uma cintilografia normal. Um ou mais defeitos de perfusão segmentar ou maior que ventilam normalmente caracterizam uma cintilografia pulmonar de alta probabilidade, estabelecendo o diagnóstico de EP; porém, o uso da tecnologia de TC de emissão de fótons únicos identifica apenas cerca de 10% dos pacientes com suspeita de EP como tendo uma cintilografia pulmonar de alta probabilidade. Os demais 65% das cintilografias pulmonares exibem áreas menores de desequilíbrio ou de defeitos equiparados e estão dentro da categoria de probabilidade “não alta”. Uma vez que até 40% dos pacientes com cintilografia de probabilidade não alta apresentam EP, eles precisam de investigações adicionais para excluir o diagnóstico. Embora a angiografia pulmonar por TC tenha substituído a cintilografia pulmonar, esta permanece o teste diagnóstico de escolha para pacientes com comprometimento renal ou histórico de alergia ao meio de contraste angiográfico. Para o diagnóstico da EP na gravidez, a angiografia pulmonar produz menos exposição materna e fetal à radiação e é preferível à angiografia pulmonar por TC. 4. Ressonância Magnética Diferentemente da angiografia pulmonar por TC, a ressonância magnética (RM) com gadolínio não submete o paciente à radiação ionizante, e o gadolínio pode ser aplicado com segurança aos pacientes com histórico de alergia ao corante de contraste. Embora originalmente promovido como teste de escolha para o diagnóstico da EP em pacientes com comprometimento renal, o surgimento da fibrose sistêmica nefrogênica como a complicação da administração do gadolínio nesses pacientes diminuiu o entusiasmo por esse teste. A precisão da RM para a detecção da EP parece semelhante à da angiografia pulmonar por TC, porém a angiografia pulmonar por ressonância magnética (RM) é mais tecnicamente exigente. A angiografia pulmonar por RM tem uma sensibilidade mais alta para o diagnóstico da EP quando combinada à venografia por RM. Com essas limitações, a RM deve ser usada para diagnosticar a EP apenas nas clínicas com experiência no teste e nos pacientes para os quais os testes padrão são contraindicados. 5. Angiografia Pulmonar A angiografia pulmonar requer uma injeção de contraste direto nas artérias pulmonares, seguida pela imagem usando a tecnologia de subtração digital para fornecer imagens de alta qualidade. A presença de um trombo, que aparece como um defeito de enchimento ou um corte repentino do fluxo sanguíneo em uma ramificação da artéria pulmonar, estabelece o diagnóstico de EP. Embora a angiografia direta permita a visualização de pequenos trombos nas artérias pulmonares subsegmentares, a alta variabilidade interobservador na interpretação de achados isolados neste nível limita a especificidade deste achado. Como teste invasivo, o índice de mortalidade associado à angiografia pulmonar é de 0,2%, com as mortes ocorrendo normalmente nos pacientes com comprometimento hemodinâmico ou insuficiência respiratória. Devido aos riscos associados e uma vez que angiografia pulmonar por TC oferece informações semelhantes ou melhores, hoje a angiografia pulmonar direta é raramente executada, exceto no paciente que poderá ser submetido a uma embolectomia pulmonar. Estratégias Diagnósticas O diagnóstico de TVP é normalmente baseado no ultrassom de compressão venosa, que tem sensibilidade e especificidade de aproximadamente 95% para o diagnóstico de TVP proximal. Nos pacientes com suspeita de EP, o exame por ultrassom de compressão venosa pode ser limitado às veias proximais, que são as fontes da maioria das EPs. A venografia por TC pode ser combinada com a angiografia pulmonar por TC como um teste simples para diagnosticar a TVP, porque os dois testes exigem apenas uma injeção de corante de contraste. Em comparação com a angiografia pulmonar por TC sozinha, a combinação com a venografia por TC aumenta a sensibilidade de 83 para 90%, mas a especificidade permanece a mesma, resultando assim em um aumento apenas modesto no valor preditivo negativo. A venografia por TC acrescenta uma exposição significativa à radiação e aumenta apenas marginalmente a taxa de detecção geral; portanto, o ultrassom de compressão venosa é preferível porque fornece as mesmas informações sem expor o paciente à radiação ionizante. A venografia padrão não é recomendada nos pacientes com suspeita de EP. Em resumo, os pacientes com probabilidade pré-teste baixa a moderada devem passar pelo teste do dímero D (Fig. 98-2). O teste de dímero D negativo exclui o diagnóstico de EP nesses pacientes, mas o positivo indica a necessidade da angiografia pulmonar por TC com multidetectores. Os pacientes com alta probabilidade pré-teste de EP devem ser enviados diretamente para a angiografia pulmonar por TC com multidetectores. Um diagrama pulmonar por TC positivo estabelece o diagnóstico de EP, enquanto o teste negativo o exclui. A função do ultrassom de compressão venosa permanece controversa. Devido à sensibilidade subótima da angiografia pulmonar por TC de detector único para o diagnóstico de EP, o ultrassom de compressão venosa bilateral também deve ser realizado se a tecnologia de multidetector não estiver disponível. Embora a angiografia pulmonar por TC negativo exclua com segurança a EP, pelo menos nos pacientes com probabilidade pré-teste baixa ou moderada o ultrassom de compressão venosa bilateral ainda pode ser útil. Por exemplo, o achado da TVP proximal torna óbvia a necessidade de testes adicionais, um resultado que pode ser particularmente útil nos pacientes que sejam maus candidatos para a angiografia pulmonar por TC, como aqueles com comprometimento renal ou histórico de alergia ao corante de contraste. Os pacientes com uma cintilografia pulmonar de probabilidade não alta ou achados equívocos no angiograma pulmonar por TC devem fazer o exame de ultrassom de compressão venosa serial para excluir a possibilidade da TVP da perna, que então se estende para as veias proximais. Outros Ensaios Os marcadores sanguíneos da disfunção ventricular direita, que são vistos nos êmbolos pulmonares mais graves, incluem o peptídeo natriurético do cérebro (BNP) ou seu precursor N- terminal proBNP, que são liberados em resposta ao alongamento do miocárdio. Embora os níveis elevados desses marcadores em pacientes com EP sejam associados a um prognóstico pior, seu valor preditivo positivo é baixo. Os níveis elevados de troponina I ou T e a proteína de ligação do ácido graxo fornecem evidências da lesão do miocárdio nos portadores de EP com infarto do ventrículo direito. Nos pacientes de EP com comprometimento hemodinâmico, os níveis elevados desses marcadores são associados ao aumento na mortalidade. O ECG pode mostrar novas alterações sugestivas da distensão do ventrículo direito, como inversão da onda T nas derivações V1 a V4; o padrão S1, Q3, T3 clássico (Fig. 98-5); e o bloqueio do ramo direito completo ou incompleto. No entanto, essas alterações no ECG possuem sensibilidade limitada e são vistas predominantemente nos pacientes com êmbolos pulmonares mais graves. Os achados da ecocardiografia sugestivos de disfunção do ventrículo direito incluem dilatação ou hipocinesia ventricular direita, aumento do diâmetro do ventrículo direito em relação ao esquerdo e aumento na velocidade da regurgitação do jato da tricúspide. A ecocardiografia também pode detectar um desvio da direita para a esquerda através do forame oval patente e pode fornecer evidências de trombos no ventrículo direito, ambos associados ao aumento da mortalidade dos pacientes com EP. Sem critérios universais para o diagnóstico da disfunção ventricular direita, no entanto, a utilidade da ecocardiografia de rotina permanece incerta. Em geral, a ecocardiografia de rotina é recomendada apenas empacientes com hipóxia grave ou outras evidências que sugiram o comprometimento hemodinâmico. Outros testes de rotina incluem o hemograma completo, a contagem de plaquetas e a razão normalizada internacional (INR) para ajudar a orientar na anticoagulação. O nível de creatinina e do nitrogênio ureico sanguíneo fornecem informações úteis para a linha de base, assim como os eletrólitos séricos e as enzimas do fígado. Tratamento Embora a terapia anticoagulante permaneça a base do tratamento da EP, os pacientes com EP grave precisam da terapia de reperfusão para aumentar rapidamente o fluxo sanguíneo das artérias pulmonares e reduzir sua pressão. Portanto, a estratificação rápida do risco é crucial para ajudar a orientar o tratamento. Os pacientes de EP com contraindicações à terapia anticoagulante podem precisar da inserção de um filtro. É importante, então, calcular o PESIs, para melhor estratificar o risco e provável tratamento para este paciente. Embolia Pulmonar Grave Os pacientes de alto risco podem ser identificados no leito (Tabela 98-2) com base na presença ou ausência de comprometimento hemodinâmico, disfunção ventricular direita e biomarcadores elevados. Os pacientes com EP grave normalmente morrem porque desenvolvem falência ventricular direita aguda, o que causa um baixo débito sistêmico. Os pacientes com EP grave precisam de suporte hemodinâmico e respiratório e podem exigir a terapia de reperfusão. Os pacientes com falência ventricular direita frequentemente precisam da expansão hídrica modesta e podem precisar de agentes inotrópicos como a dobutamina (iniciando a uma dose de 0,5 a 1 μg/kg/minuto e depois titulada de acordo com a pressão arterial), dopamina (iniciando em uma dose de 5 μg/kg/minuto e depois aumentando gradualmente em incrementos de 5- a 10-μg/kg/minuto, de acordo com a pressão arterial) ou norepinefrina (iniciando a uma dose de 2 a 4 μg/kg/minuto e depois titulada de acordo com a pressão arterial) para a hipotensão grave ou choque. Os dados emergentes levantam a possibilidade de que os antagonistas da endotelina e os inibidores da fosfodiesterase-5 possam atenuar a hipertensão pulmonar dos pacientes com EP grave, mas esses medicamentos não são atualmente aprovados para uso na EP. Os pacientes com EP frequentemente têm hipoxemia e hipocapnia. A hipoxemia normalmente pode ser revertida com o oxigênio nasal. As medidas para reduzir a febre e a agitação com acetaminofeno e sedação branda podem ajudar a minimizar o consumo de oxigênio. Em pacientes com EP grave que precisam de ventilação mecânica, volumes correntes baixos devem ser usados e a pressão expiratória final positiva deve ser aplicada com cuidado, porque pode reduzir o retorno venoso e piorar a insuficiência ventricular direita. 1. Terapia de Reperfusão Os pacientes com EP grave associada a hipotensão ou choque podem se beneficiar da terapia de reperfusão farmacológica, mecânica ou cirúrgica. A reperfusão farmacológica geralmente envolve a administração sistêmica de um agente fibrinolítico (Tabela 98-3), preferivelmente dentro de quatro horas após o início dos sintomas, mas o tratamento tardio ainda pode ter benefícios. Até 13% dos pacientes que recebem tratamento fibrinolítico apresentam um sangramento significativo e o índice de sangramento intracraniano ou fatal pode atingir 1,8%. Por consequência, esse tratamento é atualmente justificado apenas nos pacientes com EP grave e sem contraindicações (Tabela 98-4). Ainda não está claro se os benefícios do tratamento fibrinolítico compensam os riscos nos pacientes com risco intermediário. A reperfusão mecânica incluía embolectomia por cateter percutâneo com a fragmentação do trombo, uma abordagem que evita a necessidade dos medicamentos fibrinolíticos, ou tratamento fibrinolítico direcionado por cateter, que exige dose de agentes fibrinolíticos mais baixas que as usadas na administração sistêmica. Em algumas clínicas, a embolectomia pulmonar cirúrgica pode ser uma opção para os pacientes com EP grave e que estejam em alto risco de sangramento com o tratamento fibrinolítico sistêmico ou nos quais esse tratamento falhou. As técnicas mecânicas requerem operadores habilidosos, mas fornece alternativas úteis ao tratamento fibrinolítico sistêmico para pacientes com EP grave e alto risco de sangramento. 2. Terapia de Anticoagulação A terapia de anticoagulação é a base do tratamento da EP e deve ser iniciada imediatamente com anticoagulantes parenterais, como heparina, heparina de peso molecular baixo (LMWH) ou fondaparinux, mesmo enquanto os pacientes com suspeita de EP aguardam os resultados dos testes de confirmação. Os pacientes com EP grave devem ser tratados com a heparina porque a LMWH e o fondaparinux não foram extensamente avaliados neste cenário. A heparina deve ser usada nos pacientes com comprometimento renal grave (depuração de creatinina < 30 mL/minuto), porque a LMWH e o fondaparinux são eliminados pelos rins. Se a LMWH ou o fondaparinux forem usados nos pacientes com comprometimento renal moderado (depuração de creatinina de 30 a 50 mL/min), os níveis do Xa antifator devem ser medidos no vale para garantir que não haja acúmulo. A heparina deve ser administrada pela infusão intravenosa continuada e dosada usando os nomogramas baseados no peso. Tipicamente, um bolus de 80 U/kg é seguido por uma infusão na taxa de 18 U/kg/hora, e as doses subsequentes são ajustadas com base nos resultados do tempo da tromboplastina parcial ativada (TTPa). A aquisição rápida e a manutenção do TTPa terapêutica são importantes para reduzir o risco da EP recorrente. Além de monitorar o TTPa, a contagem de plaquetas deve ser medida com frequência por causa do risco da trombocitopenia induzida pela heparina. A LMWH ou o fondaparinux podem ser usados para os pacientes de EP de risco intermediário ou baixo (Tabela 98-2), usando os regimes ilustrados na Tabela 98-5. Diferentemente da heparina, esses agentes não exigem a monitoração da coagulação. Além disso, o risco da trombocitopenia induzida pela heparina é mais baixo com a LMWH que com a heparina, e é mínimo com o fondaparinux. O tratamento da EP em ambulatório é seguro para os pacientes de baixo risco. Nos pacientes de EP com risco intermediário (Tabela 98-2), o tratamento em ambulatório pode ser considerado, mas uma hospitalização breve pode ser uma abordagem mais segura. Após o tratamento inicial com um anticoagulante parenteral, a maioria dos pacientes com EP recebe o tratamento prolongado com um antagonista da vitamina K como a varfarina para impedir a recorrência da TVP e da EP. Nos pacientes de EP com risco baixo ou intermediário (Tabela 98-2), a varfarina pode ser iniciada no mesmo dia que a terapia com o anticoagulante parenteral. A terapia com o anticoagulante parenteral deve ser continuada no mínimo por cinco dias e interrompida apenas quando o INR estiver dentro do intervalo terapêutico de 2 a 3, que é necessário para a terapia de longo prazo, por dois dias consecutivos. O início do tratamento com a varfarina deve ser adiado nos pacientes com EP grave; eles devem receber a heparina até que estejam estabilizados. Uma opção emergente é o etexilato de dabigatran de dose fixa e não monitorado (150mg duas vezes ao dia) para os pacientes com TEV, incluindo a EP. Os índices de TEV recorrente e sangramento são semelhantes com o dabigatran e a varfarina, mas o primeiro é superior para impedir o AVC nos pacientes com fibrilação atrial. Esse agente e os inibidores orais do fator Xa (p. ex., rivaroxaban, apixaban e edoxaban) têm o potencial de substituir a varfarina, simplificando assim o tratamento anticoagulante de longo prazo. Os pacientes que desenvolvem EP como complicação de um fator de risco reversível, como cirurgia, trauma ou doença médica, apresentam baixo risco de recorrência quandoa terapia anticoagulante é interrompida. Como consequência, um curso de três meses de terapia de varfarina representa um tratamento adequado nesses pacientes, desde que os fatores de risco tenham se resolvido. As mulheres que desenvolvem EP com a terapia de estrogênio também podem ser tratadas por três meses, desde que o tratamento hormonal seja interrompido. Por outro lado, os pacientes com EP não provocada apresentam uma taxa mais alta de TEV recorrente quando a terapia anticoagulante é interrompida e exigem um tratamento mais longo; alguns especialistas recomendam a terapia anticoagulante indefinida, desde que o risco de sangramento permaneça baixo. Um mês após a interrupção da terapia anticoagulante, um nível de dímero D elevado ou as anormalidades no ultrassom de compressão venosa residual identificam pacientes em risco mais alto de recorrência, que precisam de uma terapia anticoagulante indefinida. Depois de um curso mínimo de três meses de varfarina na intensidade usual (INR-alvo entre 2 e 3), um regime de intensidade inferior (INR-alvo entre 1,5 e 2) pode simplificar o tratamento, reduzindo a frequência do monitoramento do INR e o risco de sangramento, mas o risco de TEV recorrente é ligeiramente mais alto nesse regime de varfarina de intensidade inferior. 3. Filtros de Veia Cava Os filtros, que são inseridos por via percutânea, são geralmente colocados abaixo da altura das veias renais, mas podem ser colocados mais altos para os trombos na veia cava inferior. Os filtros permanentes e temporários reduzem o risco da EP recorrente mas não foi mostrado que prolonguem a sobrevivência, em parte porque os filtros permanentes podem ser associados a complicações de longo prazo, incluindo oclusão da veia cava inferior, por causa de trombos, TVP recorrente e síndrome pós-trombótica. Os filtros temporários, projetados para serem removidos dentro de duas a quatro semanas após a implantação, podem evitar essas complicações de longo prazo, mas a migração de dispositivo e a trombose ocorrem em até 10% dos pacientes com filtros temporários porque a maioria deles não é removida. Devido a esses problemas em potencial, os filtros de veia cava devem ser estendidos aos pacientes com alto risco de EP recorrente e uma contraindicação absoluta à anticoagulação, como os pacientes que desenvolvem EP depois de uma cirurgia de grande porte, que apresentam um sangramento grande na terapia anticoagulante e mulheres grávidas que tenham EP logo depois do parto. Os filtros temporários devem ser usados nesses casos e os dispositivos devem ser removidos assim que a terapia anticoagulante possa ser administrada com segurança. Os filtros permanentes são adequados para os pacientes com contraindicações continuadas à anticoagulação. Subgrupos Específicos de Pacientes Os pacientes com EP no cenário de um câncer ativo, mulheres que sofrem EP durante a gravidez e pacientes com hipertensão pulmonar tromboembólica crônica exigem um tratamento especial. 1. Câncer O câncer ativo e seu tratamento com quimioterapia, radiologia e fatores de crescimento ou outros agentes biológicos aumentam o risco de TEV. Os pacientes com câncer avançado geralmente têm mobilidade limitada, o que aumenta o seu risco de TEV. Além disso, os cateteres de acesso venoso central podem desencadear a TVP da extremidade superior, podendo levar à EP. Portanto, o índice de suspeita deve ser alto nos pacientes de câncer que apresentam sinais e sintomas sugestivos de EP, TVP ou ambas. Com os avanços na imagem diagnóstica, a EP incidental pode ser descoberta nas varreduras de TC executadas para fins de estadiamento ou para monitorar a resposta ao tratamento. Embora 20% dos pacientes com TEV tenham uma malignidade subjacente, os portadores de EP não devem fazer a triagem rotineira extensiva para o câncer. Como os pacientes sem câncer, o tratamento inicial da EP nos pacientes com câncer envolve a administração de um anticoagulante parenteral de ação rápida. Para o tratamento estendido, no entanto, a LMWH reduz o risco da TEV recorrente em maior extensão que a varfarina. Além disso, em face de uma nutrição ruim, náusea e vômito graves, trombocitopenia transitória ou procedimentos invasivos, a LMWH é mais fácil de gerenciar que a varfarina. Os pacientes de câncer que desenvolvem a EP depois de uma cirurgia curativa ou com a quimioterapia adjuvante para a doença de estádio limitado devem ser tratados no mínimo por três meses ou até que tenham concluído sua série de quimioterapia. Os portadores de EP no cenário do câncer avançado apresentam risco de recorrência de pelo menos 20% no primeiro ano após a interrupção da terapia anticoagulante, portanto exigem tratamento vitalício. 2. Gestação O tratamento da EP na gravidez é focado principalmente na heparina ou LMWH porque, diferentemente da varfarina, esses agentes não atravessam a placenta. Embora ambos os agentes possam ser aplicados por via subcutânea, a LMWH ajustada para o peso tem vantagens sobre a heparina porque pode ser administrada uma vez ao dia sem o monitoramento de rotina, e porque os riscos de trombocitopenia induzida pela heparina e de osteoporose são mais baixos com a LMWH que com a heparina. O monitoramento antifator Xa da LMWH deve ser considerado em mulheres nos extremos do peso corporal e nos portadores de comprometimento renal. O fondaparinux deve ser considerado para mulheres grávidas com histórico de trombocitopenia induzida pela heparina, ou que desenvolvem reações no local da injeção de heparina ou LMWH. A heparina ou a LMWH devem ser continuadas por toda a gravidez. A varfarina deve ser evitada porque atravessa a placenta e pode causar anormalidades ósseas e no sistema nervoso central, hemorragia fetal e descolamento da placenta. Durante o trabalho de parto e o parto, a analgesia epidural deve ser evitada a menos que a LMWH profilática tenha sido interrompida pelo menos 12 horas antes da inserção do cateter epidural, e que a LMWH terapêutica tenha sido interrompida pelo menos 24 horas antes. O tratamento pode ser retomado dentro de seis horas após a remoção do cateter. Após o parto, a terapia anticoagulante deve ser continuada no mínimo por três meses; a varfarina pode ser usada porque não foi detectada no leite materno. Os agentes fibrinolíticos têm sido usados com sucesso para o tratamento da EP grave na gravidez, mas podem causar sangramento, geralmente no trato genital. Se a EP se desenvolver no final da gravidez, um filtro temporário pode impedir a recorrência durante o parto, quando a terapia anticoagulante deve ser interrompida. 3. Hipertensão Pulmonar Tromboembólica Crônica Uma complicação da EP, a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica se desenvolve em 0,5 a 5% dos pacientes no decorrer de meses ou anos em que os êmbolos das principais artérias pulmonares são substituídos por tecido fibroso, que se torna incorporado à parede do vaso e, portanto, o estreita ou obstrui. A obstrução crônica do leito vascular pulmonar aumenta a resistência da artéria pulmonar e pode levar a uma insuficiência cardíaca direita. Embora os pacientes possam ser assintomáticos inicialmente, apresentam dispneia crescente no esforço e hipoxemia à medida que a doença progride. A hipertensão pulmonar tromboembólica crônica deve ser suspeita nos pacientes com hipertensão pulmonar e o diagnóstico pode ser estabelecido com uma combinação de ecocardiografia e cintilografia pulmonar ou angiografia pulmonar por TC. A terapia médica se concentra no tratamento da insuficiência cardíaca direita e no uso da prostaciclina, antagonistas do receptor de endotelina ou inibidores da fosfodiesterase-5, ou uma combinação entre estes, para diminuir a pressão da artéria pulmonar (Tabela 68-2 e Fig. 68-7 no Capítulo 68). No entanto, esses agentes podem ter utilidade limitada devido à natureza fibrótica do material da obstrução. O tratamentodefinitivo envolve a tromboendarterectomia cirúrgica para remover o material de oclusão das artérias pulmonares. Esse procedimento é associado a uma taxa de mortalidade perioperatória que pode chegar aos 4%, dependendo da gravidade da doença, e a taxa de sobrevivência em três anos é de cerca de 80%. Prevenção e Prognóstico Pelo menos metade dos pacientes de ambulatório com TEV recém-diagnosticado têm um histórico de hospitalização recente, e a maioria não recebeu a tromboprofilaxia durante a hospitalização; como resultado, a EP é uma das causas preveníveis mais comuns da morte em pacientes hospitalizados. As principais recomendações de profilaxia estão na tabela 37-2. Com o diagnóstico estabelecido e a terapia anticoagulante adequada iniciada, a maioria dos pacientes com EP sobrevive. Os índices de fatalidade do caso um mês depois do diagnóstico de TVP ou EP são de 6 e 12%, respectivamente. Os pacientes com EP grave que apresentam choque têm o índice de mortalidade mais alto e muitos morrem dentro de uma hora após a apresentação. Embora o índice de fatalidade do caso nos pacientes com EP seja o dobro da TVP, muitas das mortes resultam de condições comórbidas e não da EP propriamente dita. Os fatores associados à mortalidade precoce depois do TEV incluem a apresentação como EP, idade avançada, câncer e doença cardiovascular subjacente. A complicação de longo prazo mais grave da EP é a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (Capítulo 68), uma condição rara associada à mortalidade e à morbidez significativas. Apesar da terapia anticoagulante, o TEV recorrente ocorre em cerca de 6% dos pacientes durante os primeiros seis meses. Durante o tratamento de anticoagulação, os pacientes com TEV não provocado ou secundário têm riscos de recorrência semelhantes. Por outro lado, quando a terapia anticoagulante é interrompida, os pacientes com TEV não provocado têm um risco de recorrência de 10% em um ano e 30% em cinco anos, enquanto a secundária apresenta índices de recorrência de 3 e 10%, respectivamente. Os eventos recorrentes muitas vezes espelham os eventos de índice; após a EP inicial, cerca de 60% das recorrências são de EP. Devido ao alto risco de recorrência nos pacientes com TEV não provocado, muitos especialistas recomendam a terapia anticoagulante indefinida para esses pacientes. Por outro lado, devido ao risco inferior de recorrência, a terapia anticoagulação pode ser interrompida depois de três meses nos pacientes com TEV secundário, cujos fatores de risco tenham se resolvido.
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