Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SOCIOLOGIA PRÉ-VESTIBULAR 81PROENEM.COM.BR RAÇA11 ENTENDENDO RAÇA E ETNIA Um dos debates mais constantes da sociedade contemporânea está relacionado ao uso dos termos “raça” e “etnia”, que ao longo do tempo assumiram e agregaram valores diferentes através do pensamento científico e das Ciências Humanas. Indígena Brasileira da etnia Terena. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c6/%C3%8Dndia_da_etnia_Terena.jpg Pessoas da tribo Massai. https://pxhere.com/pt/photo/1108500 RAÇA O conceito Raça remonta o século XIX, à medida em que responde às necessidades de explicar as diferenças entre as sociedades, os homens e os grupos de indivíduos em diversos espaços e tempos históricos. Essa visão, amplamente difundida no século XIX, foi muito influenciada pelas teorias darwinistas, em que o cientificismo tentava explicar as diferenças a partir de um determinismo biológico. O aspecto genético explicava as diferenças físicas entre os indivíduos e entre os grupos sociais ou sociedades, e isso inclusive determinava pré-disposições de comportamentos sociais e individuais, o que muito colaborou com teorias “racistas”, ou seja, preconceituosas e excludentes. TEORIAS JUSTIFICATÓRIAS O Darwinismo Social sempre esteve presente dentro da perspectiva social. O Darwinismo Social, de maneira geral, pode ser definido na crença de que as sociedades mudariam e evoluiriam em um mesmo sentido e que tais transformações representavam a transposição de um nível menos elevado para um estágio superior. De maneira análoga ao desenvolvimento do homem, as sociedades também estariam sujeitas à Lei da Seleção Natural. Dentro de um determinado contexto, prevaleceriam as sociedades mais aptas e capazes, sendo as outras extintas, seja pela luta com as mais “desenvolvidas” ou pela dificuldade de superar obstáculos naturais. Assim, as sociedades mais hábeis foram prevalecendo em detrimento de outras que não conseguiam prosperar dentro de ambiente hostil. Sociedades menos evoluídas poderiam até sobreviver, desde que não fossem submetidas à Lei da Seleção Natural. Alguns evolucionistas chegaram a classificar as sociedades tradicionais da África, América e Oceania como verdadeiros fósseis vivos. Seriam modelos de estágios arcaicos fazendo parte do passado da humanidade. O evolucionismo e o próprio Darwinismo Social foram utilizados como justificativa de muitas dominações ao longo da História. Como exemplo clássico desse processo, temos o Imperialismo no século XIX, no qual países como Inglaterra, França e Portugal, em nome da conquista de novos mercados, deslocamento de capital excessivo e procura por mão de obra barata, entre outros motivos, buscaram áreas consideradas por eles menos evoluídas e carentes de civilização e cultura, dominando-as e influenciando-as de forma arbitrária e muitas vezes unilateral. Esse processo acabou por hierarquizar as culturas e favorecer aqueles que tinham poder bélico, econômico e, por esse motivo, acabaram por destruir todas as organizações culturais existentes em países da África e em outros países da Ásia, por exemplo. O conceito de Raça está, portanto, intimamente relacionado com o âmbito biológico; as diferenças de características físicas “explicam” o que faz daquele grupo social um grupo particular. Podemos compreender melhor o que se quer dizer quando falamos de raça quando nos atentamos para as questões de cor de pele, tipo de cabelo, conformação facial e cranial, ancestralidade e genética. ETNIA Em relação ao conceito Etnia, entendemos que houve uma necessidade, a partir de tudo o que promoveu o termo “raça”, de se criar outro tipo de análise, essa mais relativista e respeitosa em relação às diferenças. O termo “etnia” deriva do grego ethnos, cujo significado é povo. A etnia representa a consciência de um grupo de pessoas que se diferencia dos outros. Esta diferenciação ocorre em função de aspectos culturais, históricos, linguísticos, raciais, artísticos e religiosos. A Etnia não é um conceito fixo, podendo mudar com o passar do tempo. O aumento populacional e o contato de um povo com outros (miscigenação cultural) podem provocar mudanças numa determinada etnia. Geralmente usamos o termo etnia para nos referirmos a grupos indígenas ou de nativos. Porém, o termo etnia pode ser usado para designar diversos grupos étnicos existentes no mundo. A ciência que estuda as etnias é conhecida como Etnologia, e a escrita resultante da observação e análise desses grupos é chamada de Etnografia. O conceito de Etnia, então, está relacionado ao âmbito da cultura, aos modos de viver, costumes, afinidades linguísticas de PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR82 SOCIOLOGIA 11 RAÇA um determinado povo, e que criam as condições de pertencimento àquela determinada etnia. Podemos compreender melhor as questões étnicas a partir dos inúmeros exemplos que enchem a televisão de manchetes, como os eternos conflitos entre grupos étnicos no Oriente Médio, que vivem em disputa política por territórios, motivadas por diferenças culturais e religiosas. A etnia se concretiza no vínculo cultural que é criado entre os indivíduos que compartilham de uma identidade cultural. Identidade cultural é a relação que se estabelece entre “semelhantes”. Ou seja, os símbolos que constituem uma cultura, quando são partilhados por um grupo, acabam criando uma identidade cultural que, por vezes, acaba dando sentido a uma Nação. Esse conceito de Nação passa a ganhar força a partir do século XVI, quando são constituídos os Estados Nacionais Modernos. Com o objetivo de desconstruir as implicações do uso do termo raça, o estruturalista Claude Lévi-Strauss, através de estudos etnológicos no Brasil, teve a percepção de que o homem sai do seu estado natural e se incorpora ao seu estado cultural quando aprende a cozinhar, aprende uma linguagem e um conjunto de símbolos. Nessa medida, a identidade cultural é uma só, mesmo a brasileira que, embora composta por tantas diferenças, é rica em diversidade e pluralidade. PROTREINO EXERCÍCIOS 01. Defina raça. 02. Aponte as principais características do Darwinismo Social. 03. Defina ethnos. 04. Defina etnia. 05. Diferencie raça e etnia. PROPOSTOS EXERCÍCIOS 01. (...) Como para mim é mais difícil vestir a pele de uma mulher negra, porque por ser branca eu tenho menos elementos que me permitem alcançá-la, eu preciso fazer mais esforço. Não porque sou bacana, mas por imperativo ético. E a melhor forma que conheço para alcançar um outro, especialmente quando por qualquer circunstância este outro é diferente de mim, é escutando-o. Assim, quando ouvi que não deveria usar turbante, entre outros símbolos culturais das mulheres negras, fui escutá- las. Acho que isso é algo que precisamos resgatar com urgência. Não responder a uma interdição com uma exclamação: “Sim, eu posso!”. Mas com uma interrogação: “Por que eu não deveria?”. As respostas categóricas, assim como as certezas, nos mantêm no mesmo lugar. As perguntas nos levam mais longe porque nos levam ao outro. (...) BRUM, Eliane. De uma branca para outra. El País. 20 de fevereiro de 2017. Adaptado. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/20/ opinion/1487597060_574691.html> Assinale a alternativa que apresenta o conceito sociológico que melhor representa o desejo de compreensão do outro apresentado pela autora. a) Etnocentrismo. b) Antropocentrismo. c) Relativismo Cultural. d) Fato Social. e) Relativismo Físico. 02. Em geral, cada povo se crê, de boa fé, superior a outro; e basta que as paixões se intrometam, eis que a guerra explode: mata-se tanto quanto se pode, de uma parte e de outra, como se esmagam insetos. Mais se mata, mais se é glorioso. RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante: cinco lições sobre a emancipação intelectual. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015, p. 132. Assinale a alternativa que apresenta o conceito sociológico que melhor representa a crença de um povo em relação a outro, apresentada no textoda questão. a) Relativismo Cultural. b) Etnocentrismo. c) Racismo. d) Ideologia. e) Alienação. 03. (UNICENTRO) Nas relações sociais, algumas imagens negativas são atribuídas a pessoas ou grupos de identidades, visando à exclusão nas interações sociais. Construída de forma simplista, enfatiza o que há de similar entre as pessoas e pode envolver qualquer aspecto distintivo, idade, raça, sexo, profissão, local de residência ou grupo ao qual é associada. Tais imagens pejorativas são denominadas de a) socialização transversal. b) estereótipo social. c) paradoxo social. d) racismo. e) sexismo. 04. (UEMA) Os preconceitos fazem parte da vida em sociedade e resistem às mudanças, muitas vezes alimentando as desigualdades e a exclusão social, conforme trecho da música A Carne dos compositores Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette. A carne mais barata do mercado é a carne negra que vai de graça ‘pro’ presídio E para debaixo de plástico que vai de graça ‘pro’ subemprego E ‘pros’ hospitais psiquiátricos A carne mais barata do mercado é a carne negra Que fez e faz história Segurando esse país no braço O cabra aqui não se sente revoltado Porque o revólver já está engatilhado E o vingador é lento Mas, muito bem intencionado E esse país vai deixando todo mundo preto e o cabelo esticado... Seu Jorge; Marcelo Yuca e Ulisses Cappelletti. “A Carne”. In: Farofa Carioca, Moro no Brasil. Rio de Janeiro: independente, 1998. Os conceitos sociológicos apresentados no trecho da composição A Carne são os seguintes: a) acomodação, discriminação racial, exploração do trabalho. b) institucionalização, igualdade social, politização. c) marginalização, industrialização, socialização. d) democracia, cidadania, desigualdade social. e) estigma, flexibilização, modernização. 05. (UEMA) (...) Uma opinião diversa da minha, um modo de se comportar oposto ao meu, obriga-me a refletir. Eu me questiono, o que enriquece minha maneira de ver, de pensar e de agir. Enfim, o outro me faz progredir e ajuda-me na construção de minha personalidade. Não se trata de aceitar, sem refletir, os modismos ou de ser um cata- vento girando aos quatro ventos. Trata-se, somente, de se abrir ao mundo exterior, de ficar atento aos outros; ou seja, de estar pronto a compreender, reagir, construir. O racismo somente será vencido quando nós soubermos dizer ao outro um “muito obrigado”, tanto maior quanto maiores forem as diferenças entre nós. JACQUARD, Albert. Todos semelhantes, todos diferentes. São Paulo: Augustos, 1993. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 11 RAÇA 83 SOCIOLOGIA Os seres humanos se percebem na relação social com o outro e esse outro, dentro de um possível, nos leva a refletir sobre o nosso modo de ser, de pensar e de agir. Na relação do eu – outro constrói-se a) idiolatricidade. b) identidade. c) igualdade. d) idealidade. e) idealismo. 06. (ENEM) O processamento da mandioca era uma atividade já realizada pelos nativos que viviam no Brasil antes da chegada de portugueses e africanos. Entretanto, ao longo do processo de colonização portuguesa, a produção da farinha foi aperfeiçoada e ampliada, tornando-se lugar-comum em todo o território da colônia portuguesa na América. Com a consolidação do comércio atlântico em suas diferentes conexões, a farinha atravessou os mares e chegou aos mercados africanos. BEZERRA, N. R. Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as relações entre o Rio de Janeiro e Benguela (1790-1830). Disponível em: www.bn.br. Acesso em: 20 ago. 2014 (adaptado). Considerando a formação do espaço atlântico, esse produto exemplifica historicamente a a) difusão de hábitos alimentares. b) disseminação de rituais festivos. c) ampliação dos saberes autóctones. d) apropriação de costumes guerreiros. e) diversificação de oferendas religiosas. 07. (ENEM) Quem acompanhasse os debates na Câmara dos Deputados em 1884 poderia ouvir a leitura de uma moção de fazendeiros do Rio de Janeiro: “Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela escravidão, mas não há um só brasileiro que não se oponha aos perigos da desorganização do atual sistema de trabalho”. Livres os negros, as cidades seriam invadidas por “turbas ignaras”, “gente refratária ao trabalho e ávida de ociosidade”. A produção seria destruída e a segurança das famílias estaria ameaçada. Veio a Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o Brasil melhorou (ou será que alguém duvida?). Passados dez anos do início do debate em torno das ações afirmativas e do recurso às cotas para facilitar o acesso dos negros às universidades públicas brasileiras, felizmente é possível conferir a consistência dos argumentos apresentados contra essa iniciativa. De saída, veio a advertência de que as cotas exacerbariam a questão racial. Essa ameaça vai completar 18 anos e não se registraram casos significativos de exacerbação. GASPARI. E. As cotas e a urucubaca. Folha de S. Paulo, 3 jun. 2009. O argumento elaborado pelo autor sugere que as censuras às cotas raciais são a) politicamente ignoradas. b) socialmente justificadas. c) culturalmente qualificadas. d) historicamente equivocadas. e) economicamente fundamentadas. 08. (UEMA) Costumo dizer que nenhuma nação passa impunemente por quase quatro séculos de escravidão. E se o modo de produção escravista perdurou no Brasil até o final do século XIX, não há possibilidade de as marcas se apagarem com facilidade. As marcas materiais e as simbólicas. As duas imbricadas. A cultura da Casa Grande sobrevive solidamente na sociedade brasileira, por menos que o queiramos. O preconceito e a discriminação contra os negros são heranças presentes da escravidão. Claro que temos avançado. Há hoje um forte movimento negro no País. Há mais consciência da sociedade brasileira contra o racismo. Mas, ainda temos uma longa estrada pela frente. Carta Capital. Seção: Diálogos. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/app/ coluna>. Acesso em: 08 maio 2008. Indique a alternativa que interpreta corretamente o texto acima. a) A situação do(a) negro(a) no Brasil mudou radicalmente na atualidade pois não existe mais o racismo. b) As relações raciais no Brasil são fruto da situação histórica de formação desigual dessa sociedade. c) A desigualdade entre as classes sociais no Brasil se sobrepõe às diferenças raciais, pois o país é racionalmente democrático. d) A sociedade brasileira é exemplo de democracia racial, pois no Brasil o racismo é combatido. e) O movimento negro propõe a superação da desigualdade social em detrimento da igualdade racial. 09. PM dá ordem para abordar ‘negros e pardos’ Desde o dia 21 de dezembro do ano passado, policiais militares do bairro Taquaral, um dos mais nobres de Campinas, cumprem a ordem de abordar “indivíduos em atitude suspeita, em especial os de cor parda e negra”. A orientação foi dada pelo oficial que chefia a companhia responsável pela região, mas o Comando da PM nega teor racista na determinação. O documento assinado pelo capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci orienta a tropa a agir com rigor, caso se depare com jovens de 18 a 25 anos, que estejam em grupos de três a cinco pessoas e tenham a pele escura. Essas seriam as características de um suposto grupo que comete assaltos a residências no bairro. Para o frei Galvão, da Educafro, a ordem de serviço dá a entender que, caso os policiais cruzem com um grupo de brancos, não há perigo. Na manhã de hoje, ele pretende enviar um pedido de explicações ao governador Geraldo Alckmin e ao secretário da Segurança Pública, Fernando Grella. Thaís Nunes. Diário de S. Paulo. 23 jan. 2013. Adaptado. Disponível em: http://www. diariosp.com.br/n/42509 > Acesso em 23 jan. 2013. Esse tipo de ação da polícia denota: a) que os critérios de cor e de raça continuam presentes tanto no imaginário quanto nas práticas sociais. b) que, de fato, homens negros são mais perigosos que homens brancos. c) que os criminosos são somente indivíduos negrose pardos. d) que a raça é um critério válido cientificamente para diferenciação dos indivíduos. e) que a sociedade vive em uma anomia racial. 10. (UEPA) Com base nos textos I e II, responda à questão. TEXTO I Responsabilidade pelas diferenças é da sociedade atual No período colonial e imperial brasileiro, um modelo de escravidão extremamente brutal sobre suas vítimas não deixara de lograr mecanismos de mobilidade social para alguns descendentes de escravizados que se tornaram libertos. No Brasil do século 19, em algumas regiões, eles poderiam chegar mesmo a 80% do total da população livre; dados semelhantes aos de Cuba. No Sul dos Estados Unidos, por exemplo, o índice era de apenas 4%. Alguns destes chegaram – de forma ainda hoje inédita – aos altos escalões da vida cultural e politica do país. A lista não é tão pequena assim: Rebouças, Patrocínio, Caldas Barbosa, Machado de Assis. Na contramão, há quem afirme que a liberdade conquistada pela alforria, em nossa antiga sociedade, era extremamente precária – em razão da cor, tornando as pessoas libertas de tez mais escura no máximo quase-cidadãos. PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR84 SOCIOLOGIA 11 RAÇA De qualquer maneira, se é verdade que nossa realidade colonial e imperial guarda uma complexidade própria, o fato é que ao longo do século 20 a antiga sociedade acabaria abrigando um desconcertante paradoxo. O escravismo não tivera nada de harmonioso, mas o sistema de dominação abria margens para infiltrações. Para as experiências do pós-emancipação, cor, raça e racismo foram paisagens permanentemente reconfiguradas. Ordem, trabalho, disciplina e progresso dialogaram com as políticas públicas de aparato policial e criminalização dos descendentes dos escravizados e suas formas de manifestação cultural e simbólica. No projeto de nossas elites desse período vigorou a concepção de que o desenvolvimento socioeconômico era incompatível com nossas origens ancestrais em termos étnicos. Países com maiorias não brancas não atingiram, e jamais alcançariam, o tão desejado progresso. Os perniciosos efeitos do sistema escravista foram associados às suas vítimas, ou seja, os escravizados. No contexto posterior aos anos 1930, a valorização simbólica da mestiçagem seria um importante combustível ideológico do projeto desenvolvimentista. Dado o momento histórico em que fora forjado, se pode até reconhecer que tal discurso poderia abrigar algum tipo de perspectiva progressista. Por outro lado, ao consagrar como natural a convergência das linhas de classe e cor, tal lógica tentou convencer que diferenças sociais derivadas de aparências físicas (cor da pele, traços faciais), conquanto nítidas e persistentes, inexistiam. Ou se existiam eram para ser esquecidas, abafadas ou comentadas no íntimo do lar. Como tal, o mito da democracia racial serviu não apenas ao projeto de industrialização do país. Também se associou a um modelo de desenvolvimento que viria a ser assumidamente concentrador de renda e poder político em termos sociorraciais, dado que tais assimetrias passaram a ser incorporadas à paisagem das coisas. Após o fim do mito da democracia racial, parece que se torna necessário romper com uma segunda lenda. A de que as assimetrias de cor ou raça sejam decorrência direta do escravismo, findado há 120 anos. Tal compreensão retira da sociedade do presente a responsabilidade pela construção de um quadro social extremamente injusto gerado a cada instante, colocando tal fardo apenas nos ombros do distante passado. Nosso racismo está embebido de uma forte associação entre cor da pele e uma condição social esperada ou desejada. Tal correlação atua nos diversos momentos da vida social, econômica e institucional. A leitura dos indicadores sociais decompostos pela variável cor ou raça expressa a dimensão de tais práticas sociais inaceitáveis. Se os afrodescendentes se conformam com tal realidade, fica então ratificado o mito. Se não se conformam, dizem os maus presságios: haverá ruptura de nossa paz social. O racismo e as assimetrias de cor ou raça do presente não são produtos da escravidão, muito embora tenham sido vitais para o seu funcionamento. Em sendo uma herança perpétua e acriticamente atual. O que fazer para superar este legado? Este é o desafio de todos nós, habitantes deste sexto século brasileiro que há pouco despertou. (Flávio Gomes e Marcelo Paixão. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ especial/fj2311200806.htm.Texto adaptado) TEXTO II Quem foi que disse que o samba tem / Origem lá no morro meu bem / O samba nasce em qualquer lugar / Não dou exemplo pra não dar o que falar / Quando se tem ao lado um alguém / Com esse ritmo que é nosso também / Fazer samba não é privilégio de ninguém. (Elza Soares: Teleco-teco). A passagem do texto I que confirma a afirmativa contida no texto II é: a) em sendo uma herança perpétua e acriticamente atualizada, o passado fez-se presente. b) este é o desafio de todos nós, habitantes deste sexto século brasileiro que há pouco despertou. c) nosso racismo está embebido de uma forte associação entre cor da pele e uma condição social esperada ou desejada. d) se os afrodescendentes se conformam com tal realidade, fica então ratificado o mito. e) o escravismo não tivera nada de harmonioso, mas o sistema de dominação abria margens para infiltrações. 11. (Enem PPL) É amplamente conhecida a grande diversidade gastronômica da espécie humana. Frequentemente, essa diversidade é utilizada para classificações depreciativas. Assim, no início do século, os americanos denominavam os franceses de “comedores de rãs”. Os índios kaapor discriminam os timbiras chamando-os pejorativamente de “comedores de cobra”. E a palavra potiguara pode significar realmente “comedores de camarão”. As pessoas não se chocam apenas porque as outras comem coisas variadas, mas também pela maneira que agem à mesa. Como utilizamos garfos, surpreendemo-nos com o uso dos palitos pelos japoneses e das mãos por certos segmentos de nossa sociedade. LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico. São Paulo: Jorge Zahar, 2001 (adaptado). O processo de estranhamento citado, com base em um conjunto de representações que grupos ou indivíduos formam sobre outros, tem como causa o(a) a) reconhecimento mútuo entre povos. b) etnocentrismo recorrente entre populações. c) comportamento hostil em zonas de conflito. d) constatação de agressividade no estado de natureza. e) transmutação de valores no contexto da modernidade. 12. (ENEM PPL 2017) TEXTO I Frantz Fanon publicou pela primeira vez, em 1952, seu estudo sobre colonialismo e racismo, Pele negra, máscaras brancas. Ao dizer que “para o negro, há somente um destino” e que esse destino é branco, Fanon revelou que as aspirações de muitos povos colonizados foram formadas pelo pensamento colonial predominante. BUCKINGHAM, W. et al. O livro da filosofia. São Paulo: Globo, 2011 (adaptado). TEXTO II Mesmo que não queiramos cobrar desses estabelecimentos (salões de beleza) uma eficácia política nos moldes tradicionais da militância, uma vez que são estabelecimentos comerciais e não entidades do movimento negro, o fato é que, ao se autodenominarem “étnicos” e se apregoarem como divulgadores de uma autoimagem positiva do negro em uma sociedade racista, os salões se colocam no cerne de uma luta política e ideológica. GOMES, N. Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Disponível em: www. rizoma.ufsc.br. Acesso em: 13 fev. 2013. Os textos apresentam uma mudança relevante na constituição identitária frente à discriminação racial. No Brasil, o desdobramento dessa mudança revela o(a) a) valorização de traços culturais. b) utilização de resistência violenta. c) fortalecimento da organização partidária. d) enfraquecimento dos vínculos comunitários. e) aceitação de estruturas de submissão social. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 11 RAÇA 85 SOCIOLOGIA 13. (Enem) Texto I Documentos do século XVI algumasvezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”, ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos “negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro. SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C. G. (Org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado). Texto II Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteressados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas. SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005. Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o período analisado, são reveladoras da a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado. b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias. c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados. d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval. e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza. 14. (UNIOESTE) “Na segunda metade do século XX, a tendência à superação das ideias racistas permitiu que diferentes povos e culturas fossem percebidos a partir de suas especificidades. Grupos de negros pressionaram pela adoção de medidas legais que garantissem a eles igualdade de condições e combatessem a segregação racial. Chegamos então ao ponto em que nos encontramos, tendo que tirar o atraso de décadas de descaso por assuntos referentes à África”. Marina de Mello e Souza. A descoberta da África. RHBN, ano 4, n. 38, novembro de 2008, p.72-75. A partir deste texto e do conhecimento da sociologia a respeito da questão racial em nosso país, é possível afirma que a) autores como Gilberto Freyre, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, entre outros tantos autores, são importantes por chamarem a atenção do país para o papel dos negros na construção do Brasil e da brasilidade, e as formas de exclusão explícitas e implícitas que sofreram. b) apesar de relevante a luta contra o preconceito racial, o estudo da África só diria respeito ao conhecimento do passado, do período do Descobrimento do Brasil até a abolição da escravidão entre nós. c) estudar a África só nos indicaria a captura e a escravidão de diferentes povos africanos, tendo em vista que raça e o racismo são categorias ideológicas as quais servem para encobrir as fortes tensões sociais existentes entre a imensa classe de pobres e o seu oposto a dos ricos. d) a autora quer dizer que devemos hoje operar cada vez mais com categorias tais como a especificidade da raça negra, da raça branca, da raça amarela e outras mais. e) nenhuma das alternativas está correta. 15. (UEL) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A palavra “bárbaro” é de origem grega. Ela designava, na Antiguidade, as nações não-gregas, consideradas primitivas, incultas, atrasadas e brutais. A oposição entre civilização e barbárie é então antiga. Ela encontra uma nova legitimidade na filosofia dos iluministas, e será herdada pela esquerda. O termo “barbárie” tem, segundo o dicionário, dois significados distintos, mas ligados: “falta de civilização” e “crueldade de bárbaro”. A história do século 20 nos obriga a dissociar essas duas acepções e a refletir sobre o conceito – aparentemente contraditório, mas de fato perfeitamente coerente – de “barbárie civilizada”. [...] Se nós nos referimos ao segundo sentido da palavra “bárbaro” – atos cruéis, desumanos, a produção deliberada de sofrimento e a morte deliberada de não-combatentes (em particular, crianças) – nenhum século na história conheceu manifestações de barbárie tão extensas, tão massivas e tão sistemáticas quanto o século XX. (LOWY, M. Barbárie e Modernidade no século 20. Disponível em: <http://www.socialismo. org.br/portal/filosofia/155-artigo/1226-barbariee- modernidade-no-seculo-20> Acesso em: 30 out. 2009). Com base no quadro e nos conhecimentos sobre o tema, é correto afirmar: a) Apesar de conservadores, esses agrupamentos são amplamente politizados, o que garante homogeneidade e solidez científica à ideologia que professam. b) Nascidos nas periferias das grandes cidades, a base social desses movimentos é, no entanto, de classe alta escolarizada e articulada às iniciativas semelhantes na Europa. c) Formados nos quadros das Forças Armadas brasileiras, esses movimentos perseguem a revolução social nos moldes da luta de classes entre capital e trabalho. d) Esses movimentos são formas irracionalistas de protesto coletivo ligadas ao crescimento da miséria e à ausência de perspectivas sociais para a juventude das periferias brasileiras. e) O principal foco de desenvolvimento desses movimentos são as regiões com forte concentração de judeus, os quais monopolizam as principais atividades comerciais nas periferias urbanas brasileiras. 16. (ENEM 2019) PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR86 SOCIOLOGIA 11 RAÇA Produzida no Chile, no final da década de 1970, a imagem expressa um conflito entre culturas e sua presença em museus decorrente da a) valorização do mercado das obras de arte. b) definição dos critérios de criação de acervos. c) ampliação da rede de instituições de memória. d) burocratização do acesso dos espaços expositivos. e) fragmentação dos territórios das comunidades representadas. 17. (UECE 2019 - adaptada) Considerando o que se entende por “relações étnico-raciais”, assinale a afirmação verdadeira. a) Os seres humanos não têm raça, apenas são biologicamente diferentes por sua cor de pele, embora sejam todos culturalmente iguais. b) As relações étnico-raciais revelam a globalização das sociedades, com a superação das diferenças raciais e de pertencimentos culturais entre os povos. c) Raça é compreendida como a construção social estabelecida nas tensas relações entre brancos e negros, muitas vezes simuladas como harmoniosas; e etnia se refere a grupos que estão juntos devido a sua cultura e seus interesses historicamente comuns. d) As relações étnico-raciais expressam diferenças e interesses entre as classes sociais, e como cada classe se posiciona na organização da produção material da vida cotidiana. e) As relações étnico-raciais são construídas a partir de um ideal de coesão social. 18. (UERJ 2017 - adaptada) Os jogos olímpicos mundiais, desde sua criação em finais do século XIX, revelam particularidades tanto nacionais quanto internacionais relacionadas aos locais onde ocorrem. Observe os cartazes de divulgação abaixo. A partir da análise desses cartazes, pode-se concluir que as olimpíadas de Berlim, em 1936, e de Tóquio, em 1964, enfatizaram, respectivamente, as seguintes ideias: a) defesa do militarismo – hierarquização dos povos b) culto do arianismo – valorização das diferenças raciais c) hegemonia da cultura ocidental – unificação dos países d) exaltação do patriotismo – evidência da igualdade social e) valorização da diversidade – discriminação racial 19. (UNICENTRO 2011) No ano de 1933, a artista modernista Tarsila do Amaral (1886-1973) pinta o quadro “Operários”, dando início à pintura social no Brasil. Sobre o tema da diversidade étnica, as teorias sociológicas afirmam que, sob a perspectiva cultural, a) os termos raça, etnia e cultura têm o mesmo significado analítico, no contexto brasileiro, quando utilizados por sociólogos e antropólogos. b) as populações indígenas brasileiras foram classificadas, corretamente, como primitivas pelos colonizadores, porquesão naturalmente mais vagarosas e atrasadas. c) os grupos biológicos de indivíduos que compartilham de uma história comum, feita de laços linguísticos e culturais, são tidos como pertencentes da mesma etnia. d) alguns elementos culturais, como o futebol, as comidas típicas e o carnaval, não podem ser objetos da análise sociológica por mascarar a desigualdade existente nas relações sociais. e) a chegada dos japoneses, em 1908, e a construção de uma nova identidade nacional com a implantação de suas associações civis, educativas e religiosas, foram o marco das relações inter- raciais no Brasil. 20. (UEM 2018) Os últimos anos do Império do Brasil e o início da República foram marcados pela circulação de teorias raciais e eugênicas. Tais teorias tiveram efeitos práticos importantes sobre a sociedade brasileira, sobretudo nos processos de socialização e de formação identitária. Com base em estudos históricos e sociológicos sobre o tema, assinale a alternativa que for correta. a) As teorias raciais defendiam que as características culturais de um povo eram socialmente construídas. b) A circulação do ideário racialista implicou o desenvolvimento de uma legislação segregacionista no Brasil no início do período republicano. c) A influência do ideário racialista possibilitou e estimulou a adoção de políticas específicas para uma melhor inserção da população egressa do cativeiro no mundo pós-escravismo. d) A grande imigração de europeus para o Brasil em fins do século XIX é uma ação desvinculada da adesão às teorias raciais. e) A filiação às teorias raciais, mesmo que parcial, levou elites políticas e intelectuais do Brasil a atribuírem os problemas do País à raça e à biologia, desconsiderando os processos de socialização que construíram a sociedade brasileira. PRÉ-VESTIBULAR PROENEM.COM.BR 11 RAÇA 87 SOCIOLOGIA 05. APROFUNDAMENTO EXERCÍCIOS DE 01. (UFPR) Considere o fragmento abaixo: “Como tem sido bem documentado, desde o final do iluminismo estudos sobre a variação humana distinguiram diferenças raciais como aspectos cruciais da realidade, e um extenso discurso sobre a desigualdade racial começou a ser elaborado. Com a atenção voltada cada vez mais para as diferenças de gênero e sexo no século XIX, o gênero era notavelmente considerado análogo à raça, de modo que o cientista podia usar a diferença racial para explicar a diferença entre gênero e vice-versa. Assim, afirma-se que o leve peso do cérebro feminino e as estruturas cerebrais deficientes eram análogos aos das raças ‘inferiores’, e isto explicava as baixas capacidades intelectuais destas raças. Observou-se que a mulher se igualava aos negros pelo crânio estreito, infantil e delicado, tão diferente das mais robustas e arredondadas cabeças que caracterizavam os machos de raças ‘superiores’. De modo semelhante, as mulheres de raças superiores tinham a tendência às mandíbulas ligeiramente salientes, análogas, ou tão exageradas quanto as mandíbulas protuberantes de raças inferiores como os macacos. As mulheres e as raças inferiores eram consideradas impulsivas por natureza, emocionais, mais imitadoras que originais e incapazes do raciocínio abstrato e profundo igual ao do homem branco. A biologia evolucionista estipulou, ainda, mais analogias. A mulher era, em termos evolutivos, o ‘elemento conservador’ para o homem ‘progressivo’, preservando os traços mais ‘primitivos’ encontrados em raças inferiores, enquanto os homens de raças superiores indicavam o caminho para novas direções culturais e biológicas”. (STEPAN, Nancy Leys, “Raça e gênero: o papel da analogia na ciência”. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 74.) Partindo da analogia entre raça e gênero e “metáforas científicas” no século XIX, conforme demonstra Nancy Leys Stepan, de que maneira podemos problematizar o discurso científico produzido a partir de concepções hierarquizadas da realidade social e por que elas não fazem mais sentido nos dias de hoje? 02. Entre 1933 e 1945, vigorou na Alemanha uma ideologia e regime político conhecido como Nazismo. Esse tipo de forma política estabeleceu a forma como os alemães (autointitulados “arianos”) se relacionavam com outros povos, religiões e culturas. Podemos dizer que o nazismo estabeleceu uma forma de racismo? Por quê? Justifique sua resposta apresentando algum dado histórico sobre o regime nazista. 03. (UEMA) O poema abaixo faz uma reflexão crítica sobre a inserção da população afrodescendente, na sociedade brasileira, após a abolição da escravidão. Presentinho Maio, treze, mil, oitocentos, e oitenta e oito me soam como um sussurro cósmico. A noite sobressaltada Por sirenes me sacode. Reviro os bolsos à procura do passe Que me permite, São Paulo, cruzar as ruas Em latente paz. A Princesa esqueceu-se de assinar Nossas carteiras de trabalho. Desconfio, sim, que Palmares vivo é necessário. Fonte: Disponível em: <http://muse.jhu.edu/journals/>. Acesso em 24: nov. 2014. Com base no poema, explique por que a democracia racial no Brasil ainda está longe de ser alcançada. 04. (UEL) De acordo com vários estudos recentes sobre a vivência do racismo, a descoberta da discriminação racial, baseada em alguns aspectos físicos (como a coloração da pele e o cabelo encaracolado, por exemplo), acontece ainda na infância para muitas crianças negras, que primeiro percebem a negritude como algo ruim, a ser escondida. No entanto, desde os anos 1960, vários movimentos sociais, entre eles o movimento negro e os movimentos contraculturais, vêm contestando duramente os padrões impostos socialmente como modelos únicos de beleza, cultura e religiosidade, por exemplo. Em um movimento crescente, que remete a uma luta histórica do povo negro em países de todo o continente americano, aos poucos a negritude tem começado a ser concebida como algo positivo, uma herança a ser cultivada e valorizada. Entendendo que tanto as estruturas racistas das sociedades quanto os atuais movimentos em prol da valorização da cultura negra são fruto de processos sociais e disputas políticas, responda aos itens a seguir. a) A despeito das diferenças culturais existentes entre os países do continente americano, o racismo é um elemento presente em todos esses lugares. Por que as sociedades americanas têm um histórico de racismo tão acentuado? b) Qual o papel dos movimentos negros e das ações afirmativas no combate ao racismo? 05. Para muitos brasileiros, o bicho-papão racial são os Estados Unidos. Não podemos implementar cotas, pois senão “nos tornaríamos um Estados Unidos”; “temos muitos defeitos mas pelo menos não somos os Estados Unidos” etc. etc. Pois eu morei lá e morei aqui, e estudei a fundo a história da escravidão nos dois países. Somos ambos profundamente racistas, mas o Brasil é pior por um motivo: A cultura do deixa-disso. Por pensarmos que o não falar sobre o racismo e a escravidão vai resolver por si só o problema. Enquanto isso, o presidente norte-americano, em visita a Gana, um dos principais portos exportadores de escravos, afirmou que a escravidão, como o Holocausto, é daquelas coisas que não pode ser esquecida. Para Obama, a visita aos calabouços de escravos remeteu à sua viagem ao campo de concentração Buchenwald: ambos nos fazem lembrar da capacidade humana para cometer o Mal. E completou afirmando: A escravidão e o Holocausto deveriam ser ensinados nas escolas de modo a conectar a crueldade passada aos eventos atuais. Fonte: Alex Castro. Senzala e Campos de Concentração. Adaptado. Disponível em: <http:// papodehomem.com.br/senzalas-campos-de-concentracao/>. Acesso em 18 fev. 2013. A partir do que está sendo argumentado no texto, responda: segundo a sociologia, o estudo do racismo e da escravidão pode trazer ganhos políticos? PRÉ-VESTIBULARPROENEM.COM.BR88 SOCIOLOGIA 11 RAÇA GABARITO EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. C 02. B 03. B 04.A 05. B 06. A 07. D 08. B 09. A 10. C 11. B 12. A 13. C 14. A 15. D 16. B 17. C 18. B 19. C 20. E EXERCÍCIOS DE APROFUNDAMENTO 01. As analogias apresentadas no texto partem de uma concepção eurocêntrica, etnocêntrica e machista acerca das diferenças humanas. Assim, o discurso biológico foi utilizado para justificar hierarquias sociais que mais tarde, no século XX, demonstraram-se falsas. Atualmente, sabe-se que as diferenças de cor, gênero e “raça” não correspondem às características de evolução social, não sendo mais utilizadas para diferenciar e hierarquizar os agrupamentos humanos. 02. Sim. O nazismo pode ser considerado como uma forma de racismo, pois utiliza a noção de raça para definir quais pessoas mereciam viver ou não na Alemanha. Isso pode ser percebido através da política de extermínio nazista, que condenou milhões de judeus, homossexuais, ciganos, pessoas com deficiência, entre outros, a trabalhar em campos de concentração ou a morrer em campos de extermínio. 03. As desigualdades raciais no Brasil têm origem histórica. A abolição da escravatura, ocorrida em 13 de maio de 1888 não foi acompanhada pela melhoria de condição social dos negros no Brasil. Assim, ainda que fossem livres, os ex-escravos não tiveram auxílios que lhes permitissem a aquisição dos direitos básicos de igualdade. Essa situação 04. a. O continente americano, ou “Novo Mundo”, dependeu, em grande escala, do trabalho escravo que era alimentado pelo lucrativo tráfico negreiro. A colonização das Américas se deu de duas formas: as colônias de exploração, nas quais a mão de obra negra era fundamental, e as colônias de povoamento, que visavam aliviar conflitos religiosos e populacionais do “Velho Mundo”. No entanto, os Estados Unidos da América importaram mão de obra escrava da África para atuar nas fazendas do sul, motivo pelo qual esse país, apesar de ser visto como modelo de ex-colônia de povoamento, possui um histórico de escravidão da população advinda da África. Esse passado comum, que liga África e América via tráfico negreiro, foi responsável pela inclusão de povos africanos na condição de escravos no “Novo Mundo”. Nessa condição, até mesmo a humanidade de africanos e afrodescentes era questionada. Em todo o continente americano, portanto, os negros precisaram (e ainda precisam) lutar por liberdade e por direitos que lhes eram negados, com base na prática racista que advinha de um passado comum. Obviamente, essas lutas ganharam contornos diferentes em contextos distintos; enquanto nos EUA pode-se falar que houve apartheid, no Brasil, a discussão é centralizada no racismo velado e em como vencer a ilusão da existência de uma certa democracia racial. b. Os movimentos negros têm um papel fundamental, no que diz respeito a desvelar as práticas racistas que ainda persistem, e são atores políticos importantes para cobrar políticas públicas que tentem valorizar a cultura e a ancestralidade negras, via promoção de ações afirmativas, como, por exemplo, o sistema de cotas nos vestibulares e nos concursos públicos. Além disso, os movimentos negros têm se esforçado para demonstrar que as populações africanas e afrodescentes foram e são sujeitos de sua própria história, ressaltando personalidades que foram fundamentais para a luta por liberdade e justiça social, como Zumbi dos Palmares e Nelson Mandela. 05. Sim. A partir do momento em que se estuda a escravidão e o racismo, as pessoas podem reconhecer comportamentos e estruturas que necessitam ser modificadas a fim de que o preconceito racial e as desigualdades sociais sejam minimizados e/ou superados. ANOTAÇÕES
Compartilhar