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1 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC PEDIATRIA JULIANA OLIVEIRA FEBRE SEM SINAIS LOCALIZATÓRIOS ➔ Definição: É uma febre que dura menos que 7 dias, e que após história clínica e exame físicos detalhados, não se tem um foco estabelecido. ATENÇÃO É importante entender que FSSL é diferente de febre prolongada de origem obscura, à qual é caracterizada por ser uma febre que tem duração mínima de 3 semanas, onde já foi feita toda a história clínica, avaliação e exames inicias sem conseguir defini-la. EPIDEMIOLOGIA ▪ A maioria das doenças que cursam com febre e mais nada vão ser chamadas de doença viral benigna autolimitada a famosa “virose”. ▪ 20% dos casos de febre não se identifica um foco. ▪ 80% se identifica como otite, quadro de IVAS associado. ▪ 25% dos neonatos apresentam FSSL. ▪ 6 a 15% de 29 dias a 3 meses. ▪ 5 a 7% de 3 a 36 meses de idade tem FSSL. Mas qual o problema? O problema é que a criança que apresenta FSSL pode ter uma doença bacteriana grave, logo, é primordial afastar essa doença. FEBREFOBIA Consiste no medo que os pacientes e alguns profissionais de saúde tem da febre, no entanto, é preciso ver a febre como um aviso de que algo está acontecendo no corpo, podendo ser algo de etiologia inflamatória, infecciosa, etc. Os quadros de febre causam nos cuidadores a necessidade de controlar aquela temperatura, sem enxergar o papel benigno da febre que é a ativação da cascata inflamatória e a resposta a uma doença infecciosa em razão disso existe um uso abusivo de antipiréticos e prescrições médicas que tangenciam evidência científica. A febre por si só não tem orientação para fazer controle da temperatura, apenas se vier acompanhada de um outro fator como p.ex. choro prolongado, sono agitado, grau de irritabilidade. Atualmente não é mais indicado que se utilize compressas ou banhos gelados para fazer resfriamento com a intenção de diminuir a febre. Deve-se fazer o uso do antipirético quando se tem: Febre + algum outro sintoma. PRINCIPAIS AG. ETIOLÓGICOS: Para os RN de até 28 dias tem-se dois grupos de maior importância como os enterococos e os estreptococos do grupo B. As vacinas reduziram a ocorrência de FSSL principalmente por conta da cobertura vacinal. Há uma prevalência da streptococcus pneumoniae sorotipo 19 A na faixa de 3 a 36 meses em razão da ausência de vacinas que façam a sua cobertura, p.ex. não está inclusa no pneumococo 10. TRIANGULO PEDIÁTRICO Isso deve ser feito quando a criança entra na sala, deve-se averiguar se há sinais de adoecimento visualmente presentes. Aparência geral Aparência Interatividade Consolabilidade Olhar Choro/fala Respiração Sons anormais Posição anormal Retrações Aparência da pele Palidez Moteamento (rendilhamentos) Cianose HISTÓRIA CLINICA ➔ Cronologia da febre: Quando começou, qual a temperatura mais alta, qual medicamento utilizou, quando foi a última medicação? teve contato com alguém doente? tem algum sintoma associado? Tá espirrando? Tá tossindo? O xixi está diferente? Tá chorando para fazer xixi? Como está o cartão vacinal? 2 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC PEDIATRIA JULIANA OLIVEIRA (averiguar, mas quando ñ for possível deve-se colocar “referido completo” ou “referindo incompleto”) Para se dizer que a vacinação para pneumococo, meningite ou haemophilus completo, é necessário que se tenha pelo menos 2 doses e para isso a criança precisa estar no 5º mês EXAME FÍSICO Deve ser feito de maneira completa, procurando linfonodos, olhar ouvido, nariz, garganta, AR, ACV, sinais de alteração neurológica, abdome, marcha, sinais sugestivos de meningite. Se diante da história clínica + exame físico não encontrar nada que justifique a febre, estamos diante de uma FSSL. Quando alguma mãe chegar e referir que “o dente da criança está nascendo”, deve-se alertá-la que o nascimento do dente não está associado a picos febris, ou seja, temp superior a 37,5ºC, logo, o nascimento do dente não é considerado como uma causa de febre. A criança que foi vacinada com vírus atenuado, normalmente a febre vem algumas horas após a aplicação, no caso da vacina com vírus vivo a febre tende a aparecer a partir do 3º ou 4º dia com picos febris. O QUE É IMPORTANTE AFASTAR? É importante afastar as doenças bacterianas graves, sendo essas as quatro principais a serem afastadas. ▪ ITU: - É a mais frequente das FSSL principalmente nos lactentes. - Chama-se bastante atenção para a ITU, pois, quando não tratada adequadamente pode ocasionar lesão renal, por isso, deve-se investigar bem na FSSL se há queixas nesse sentido. Não se deve indicar sumário de urina para todo mundo, depende da faixa etária. Há um fator de risco maior para ITU em meninos brancos que não fizeram correção da fimose apresentando febre superior a 39ºC e não se tem outro foco, pensa-se em ITU e também em meninas brancas menores de 12 meses que fazem a temp acima de 39ºC e não tem nenhum outro foco infeccioso, também se deve pensar em ITU. Solicita-se sumário de urina e urocultura. ▪ Bacteremia oculta: Faz-se história clínica, exame físico, exames complementares, hemograma, sumário de urina, raio x de tórax e ao fazer a cultura tem-se uma hemocultura positiva. Logo, não se tem um foco, mas tem uma hemocultura positiva. ▪ Meningite: - Avalia-se a criança para indicar ou não a coleta de líquor para pesquisa de meningite, feito rotineiramente pela criança RN febril é hospitalizada e para ela é solicitado hemograma, hemocultura, sumário de urina, urocultura, rx de tórax e líquor, ou seja, para o RN é obrigatório a solicitação de líquor, no entanto, acima disso (29 e 90 dias) é baseado em uma estratificação de risco, sendo alto ou baixo risco para doença bacteriana grave e superior à 3 meses deve-se ter algum sinal de meningite como rigidez de nuca, irritabilidade. Crianças com a fontanela aberta não fazem rigidez de nuca, normalmente as fontanelas ficam mais altas ou mais rígidas. ▪ Pneumonia oculta: Tem-se uma pneumonia que ao rx de tórax apresenta uma alteração radiográfica, mas não há alteração de ausculta ou qualquer outro sintoma respiratório. Febre por si só, sem alteração de exame físico não é indicativo de solicitação rotineira de raio-x para avaliar crianças febris. EXAMES COMPLEMENTARES ▪ Hemograma: - Neonatos e toxemiados: Para aqueles pacientes que há uma suspeita de serem alto risco. - 29 dias a 3 meses: Deve-se solicitar hemograma quando se tem um processo infeccioso/inflamatório, de modo que se tenha elevação ou redução dos nossos valores, sendo assim, valores abaixo de 5 mil ou acima de 15 mil sugerem riscos de doença bacteriana grave, principalmente aqueles acima de 20 mil ou com neutrófilos acima de 10 mil ou com bastões acimade 1.500. ▪ Exame parcial de urina e urocultura: - Pcte sem controle miccional: Coleta via sondagem vesical. - Pcte com controle miccional: Faz a coleta após desprezar primeiro jato. Padrão ouro para coleta → punção supra púbica. ▪ PCR quantitativo: É uma proteína produzida em resposta a algum estímulo inflamatório, seja ele infeccioso ou puramente inflamatório. - Até 40: Baixo risco de doença bacteriana grave, logo, infecções virais. - Entre 40 e 80 é inconclusivo, pois, não é possível delimitar. - Acima de 80: Existe uma correlação com doenças bacterianas grave. São necessárias pelo menos 12hrs para que a PCR positive, sendo necessário até 48h para ter relação com doenças bacterianas graves. ▪ Procalcitonina: Marcador eficaz para predizer uma doença bacteriana grave, no entanto, é mais caro e por isso é pouco disponível. Aumenta em um período de 3 a 6hrs. 3 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC PEDIATRIA JULIANA OLIVEIRA Negativo: Até 0,5 afasta-se a possibilidade de doença bacteriana. Limítrofe: > 0,5 até 2. (não é possível definir se viral ou bacteriano). Positivo: Acima de 2 é positivo para doença bacteriana. ▪ Raio X de tórax: - Solicitado para todos os RN, para crianças de alto risco (29d a 3 meses) e para crianças > 3 meses que apresentam contagem total de leuco acima de 20 mil. ▪ Punção lombar: Todos os pacientes RN, pacientes entre 29 a 90 dias que são de alto risco ou para crianças acima de 3 meses a 36 meses que tem algum sinal sugestivo de meningismo. ▪ Hemocultura: Deve ser solicitado sempre que houver solicitação de raio x de tórax ou após o rx de tórax sem alteração, buscando uma bacteremia oculta. ATENÇÃO! Urocultura e hemocultura não definem entrada de ATB, definem a saída do atb se vier negativa ou manutenção/troca do atb se assim for estabelecido. FLUXOGRAMA DA FSSL O que fazer após história clínica + exame físico? 1. Faz triângulo pediátrico, avalia sinais de toxemia e sinais vitais. 2. Há toxemia? - Se sim há internação e solicitação de exames. - Se não, deve-se evoluir de acordo com a idade. Não pode atrasar a entrada do antibiótico aguardando resultado de exames, pois, o tempo máximo é de 1h até que se inicie o uso de ATB empírico. Essa medida é feita com tanta urgência nos RN, pois, eles não têm sua imunidade inata completamente formada, logo, o ATB seria o principal agente a tentar combater essa infecção. Os pacientes com idade de 29d a 90d, nos quais não foi possível encontrar o foco, deve-se solicitar hemograma, sumário de urina e urocultura, para definir quem é o lactente de baixo risco e de alto risco. Tem-se alguns critérios para estratificar os pacientes em baixo e alto risco, no entanto, os mais utilizados são os critérios de Rochester, os quais só podem ser aplicados em pacientes que são termos e não possuem comorbidades, caso essas condições se façam presentes deve-se utilizar os critérios ou de philadelphia ou de Boston. Em suma: Critérios de Rochester: ▪ Paciente a termo e sem comorbidades. ▪ Solicita-se hemograma e sumário de urina. Critérios de Philadelphia: ▪ Pacientes pré termo e com comorbidades. ▪ Solicita-se além do hemograma, sumário de urina, líquor, rx de tórax e se o pcte tiver com diarreia solicita-se leucócitos fecais. ▪ Todos esses exames precisam vir negativos para que seja classificado como um lactente de baixo risco. ▪ Mais amplo, pois, o leucócito estando < 20 mil é o suficiente para classificar como baixo risco. Critérios de Boston: ▪ Pacientes pré termo e com comorbidades. ▪ Solicita-se hemograma, sumário de urina, líquor e rx de tórax. ▪ Leucócitos < 15 mil e urina < 10 leucócitos/campo e líquor < 10. Sendo assim, Rochester é a escolha quando não comorbidades e o paciente é termo, caso contrário, tanto faz entre Philadelphia e Boston. 4 5º SEMESTRE 2021.2 – UNIFTC PEDIATRIA JULIANA OLIVEIRA O que pode mudar o panorama desse fluxograma? As análises rápidas que se pode fazer para diagnosticar principalmente as infecções virais. ▪ Cultura viral: Seria ótimo, no entanto, não é viável na prática clínica devido à demora. ▪ Testes rápidos de detecção de antígenos: Possui uma boa especificidade e baixa sensibilidade, pois a gente depende de uma resposta imunológica para que sejam produzidos e cheguem em uma quantidade detectável, ou seja, se vier negativo, não significa que não seja. ▪ Imunofluorescência indireta: Teste rápido e com boa especificidade, no entanto, é necessário que a coleta seja feita por uma pessoa que seja treinada, se não a chance de ter baixa sensibilidade aumenta. ▪ Reação em cadeia de polimerase: Possui uma alta sensibilidade e especificidade, no entanto, é complexo e caro. Importante testar: Adenovírus, influenza, parainfluenza, rhinovírus, VSR, HHV-6, coxsackie e COVID-19. Atualização de fluxograma: ➔ Tratamento para FSSL: Consiste em ensinar a mãe como fazer o uso do antipirético. Em escala de segurança de uso na faixa pediátrica: ▪ Paracetamol ▪ Dipirona ▪ Ibuprofeno → Não costuma prescrever, pois, ele está associado à uma maior lesão renal em pacientes que possuem algum sinal de desidratação. Pode se ter exantemas formados em resposta ao uso do ibuprofeno. Em relação ao uso de ATB: ▪ < 28 dias → Ampicilina + gentamicina ou Ampicilina + cefotaxima. ▪ 28 – 90 dias → Cefalosporina de 3ª geração ou cefalosporina de 3ª geração + ampicilina. ▪ 3 – 36 meses → Cefalosporina de 3ª geração.
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