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1 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Radiologia torácica em Tuberculose OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Apresentar a epidemiologia da TB, despertando para o problema de saúde pública Revisar a anatomia segmentar pulmonar, reconhecendo a predileção de acometimento na TB pós-primária ou de reativação Listar a população e ambiente de risco para TB, alertando para seu diagnóstico diante desses fatores de risco Apresentar a espondilodiscite com abscesso para-vertebral, reconhecendo como TBC extra-pulmonar no diagnóstico diferencial Apresentar os padrões radiológicos da TB, correlacionando com o tipo de infecção (primária ou pós-primária) Caracterizar o padrão miliar da TB, correlacionando com a população mais suscetível Apresentar o padrão em “brotamento de árvore”, correlacionando-o com a TBC em atividade e por disseminação borncogênica + lesão de espaço aéreo Definir o aneurisma de artéria pulmonar ou brônquica na TBC, reconhecendo-o como causa de hemoptise EPIDEMIOLOGIA OMS, 1993 → Problema emergencial de saúde pública mundial No mundo, 1/3 da população é infectada. Desse 1/3: − 1 a cada 10 ficarão doentes − 1 doente, se não tratado, infecta de 10 a 15 pessoas por ano Cerca de 9 milhões de pessoas adoecem anualmente de TB no mundo Cerca de 2 milhões de pessoas morrem de TB no mundo A maioria dos casos acontece na África e no sudoeste da Ásia O Brasil ocupa a 22ª posição FATORES DE RISCO DA TUBERCULOSE PULMONAR Risco aumentado de exposição à TB: − Imigrantes de zonas endêmicas (Ásia, África, América do Sul) − Usuários de drogas EV − Inacessibilidade à saúde e higiene − Pessoas em confinamento Se infectado, tem risco aumentado de desenvolver a doença: − Menores de 4 anos − Infecção recente por TB − AIDS (7-10% ao ano) − Transplantados em uso de imunossupressores − Doenças auto-imunes − Diabéticos − Doença renal crônica − Alcoolismo − Linfoma/leucemia − Tabagismo SINAIS CLÍNICOS NA TB PULMONAR Tosse (seca ou produtiva) Febre (febrícula, mais comum ao entardecer) Perda de peso Anorexia Fadiga Sudorese noturna Hemoptise (*às vezes) Dor pleurítica se acometimento pleural Aproximadamente 5% são assintomáticos. 2 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 ANATOMIA RADIOLÓGICA PULMONAR TUBERCULOSE PULMONAR Infecção causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis Transmitida por partículas em forma de aerossol (gotículas de Flügge) quando o portador tosse, espirra ou fala Nos bronquíolos de alvéolos, formam o núcleo de Weels → INFECTANTE! Tem o bacilo Nem todo indivíduo exposto ao M. tuberculosis desenvolve a infecção. Estudos epidemiológicos indicam que não há correlação entre a apresentação da doença e o tempo de infecção. Depende do: − Estado imunológico − Ambiente e duração da exposição A partícula infectada atinge o alvéolo pulmonar e infecta o macrófago. Trata-se de uma reação inflamatória não específica, que na imagem se mostra como uma CONDENSAÇÃO ALVEOLAR. O organismo tem resposta celular de 2 a 6 semanas após a infecção e pode acontecer disseminação: → Linfática – linfonodos mediastinais e hilares → Hematogênica – ápices pulmonares, córtex renal, cérebro, meninges, epífises ósseas → Pleural – extensão direta Cura – total, calcificação ou fibrose Progressão da doença em 5-15% dos casos EVOLUÇÃO CLÍNICA Dos infectados: O sistema imunológico de cerca de 5% não consegue deter a infecção inicial e o indivíduo desenvolverá a TB → Tuberculose Pulmonar Primária 90% dos indivíduos não desenvolverão a TB – Assintomático e não contagiosos → Tuberculose Pulmonar Latente Em cerca de 5% dos casos, o sistema imunológico não consegue deter a infecção inicial, mas não desenvolvem a TB primária. O bacilo permanece viável e adormecido, e pode ser reativar posteriormente (geralmente em 1 a 2 anos) → Tuberculose Pós-primária ou Reativação da Tuberculose Pulmonar 3 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 NA CRIANÇA E ADOLESCENTE RX Tem papel fundamental no diagnostico Método barato e altamente disponível no ambiente hospitalar e de emergência Permite a avaliação da extensão do acometimento pulmonar e de complicações Embasa o seguimento do paciente *Limitação: subjetividade RX: ASPECTOS TÉCNICOS Retira as clavículas do campo Posição lordótica: Posição cranial do raio central A clavícula se projeta acima do ápice pulmonar Prejudica a avaliação do coração, costelas de diafragma TC Importância crescente. Maior sensibilidade para diagnóstico e avaliação de extensão e complicações Emergência – rapidez Cultura avessa ao risco Proteção jurídica O imunocomprometido precisa de um diagnóstico mais rápido e eficiente, por isso se prefere a TC Obs: TC é padrão-ouro para TB miliar. TUBERCULOSE PULMONAR PRIMÁRIA Mais comum em crianças Primoinfecção → Até 1 ano após a infecção RADIOLOGIA → Lobos inferiores, adenopatia e derrame pleural SINAIS RADIOLÓGICOS A maioria dos pacientes não apresenta manifestação radiológica. Nos que apresentam, os principais achados são: 1) Opacidade parenquimatosa (consolidação) → Padrão de espaço aéreo *Opacidade segmentar ou lobar – + comum – acomete qualquer segmento ou lobo pulmonar 2) Linfonodomegalia hilar e/ou mediastinal *Lembrar de utilizar opacidade ao invés de consolidação (termo antigo e em desuso) 3) Necrose central Obs: Centro necrótico é achado inespecífico – pode ocorrer em neoplasia e outras infecções Pode haver: − Derrame pleural − Atelectasia 4 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 − Adenopatia − Derrame pleural − Disseminação miliar (*imunocomprometidos) Lembrar: - Crianças pequenas até 3 anos tem muita linfonodomegalia - Crianças maiores de 3 anos e adultos tem mais consolidação e menos linfonodomegalia Opacidades multifocais no lobo superior direito LINFONODOMEGALIA Na TC – Se apresenta tipicamente como centro hipodenso compatível com necrose e halo periférico (hipervascularização inflamatória do tecido granulomatoso) Linfadenopatia hilar Parece com pneumonia, mas o acometimento do linfonodo hilar ajuda a distinguir!!! 5 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 DISSEMINAÇÃO LINFÁTICA E HEMÁTICA “Brotamento em árvore” → TB ativa → Lesão de espaço aéreo TUBERCULOSE PRIMÁRIA TÍPICA FOCO DE GHON Após a resolução da opacidade, o granuloma pode se calcificar, formando o FOCO DE GHON. O foco de Ghon é um foco pulmonar regressivo que pode ser visto em RX. INATIVO! → Mais comum em crianças de 2-12 anos → Ocorre nos primeiros 3 anos da primo-infecção → Não tem predileção por segmento A associação do foco primário aos gânglios satélites de sua região se chama COMPLEXO DE RANKE ou COMPLEXO PRIMÁRIO. “Brotamento em árvore” Foco primário inerte de Ghon + Linfonodo satélite = Complexo de Ranke 6 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 CONDENSAÇÃO ALVEOLAR No geral é unifocal, mas pode ser multilobar em 25% dos casos Qualquer lobo pode ser acometido Imagem semelhante à da PNM comunitária − Sinais de diferenciação: presença de adenopatia, acometimento hilar, baixa toxemia e falência da antibioticoterapia SEQUELA Complexo primário (complexo de Ranke) → Linfonodo hilar calcificado + Nódulo pulmonar calcificado Nódulo de Ghon → Nódulo pulmonar calcificado Cicatriz calcificada – 15-17% dos casos Importante causa de nódulo pulmonarsolitário – a maioria é menor que 3cm TUBERCULOSE PULMONAR PÓS-PRIMÁRIA OU REATIVAÇÃO DA TUBERCULOSE PULMONAR Resulta de uma reativação de TB prévia ou de reinfecção em zona endêmica O paciente apresentará lesões e sintomas mais graves do que na primo-infecção → O SI reage mais ativamente e provoca uma inflamação mais intensa e prolongada Mais comum em adultos RADIOLOGIA → Apicoposterior, cavidade, nódulos Anos após a lesão primária ↓ Reinfecção ou reativação ↓ Memória imunológica + ↓ Evolução mais arrastada e maior processo inflamatório (Reação de hipersensibilidade) ↓ Cavitação e fibrose 7 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Mais comum: Ápice pulmonar devido à maior aposte de O2 → Formação de granuloma → Necrose e caseificação → Drenagem do caseo para brônquio (disseminação broncogênica) → Cavitação Distribuição clássica: Opacidades situadas nos segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores, e superiores dos lobos inferiores → As opacidades podem ser irregulares e mal definidas e podem se conjugar com a progressão da doença → Nódulos com contornos regulares ou irregulares, e às vezes até espiculados → Tuberculomas → Espessamento pleural apical em torno de 40% - geralmente de até 1cm Complicações: Hemoptise (aneurisma de Rasmüssen) Bronquiectasia Destruição pulmonar Desvio de mediastino ATENÇÃO! Quando comparada com a TB primária: → Predominância apical (*segmento ápico posterior) → Mais nódulos e menos consolidações → Não acomete linfonodos hilares → Adenopatia menos comum SINAIS RADIOLÓGICOS 1) Opacidade com predominância apical (opacidades irregulares) 2) Hilo alargado 3) Cavitações 4) Pode haver redução volumétrica dos lobos superiores com elevação hilar 8 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 CAVITAÇÕES Levam à expectoração de grande quantidade de bacilos com disseminação endobrônquica É um importante sinal de doença ativa Radiograficamente evidente em 22% a 45% dos pacientes Com terapia, as paredes afilam e se tornam mais distintas Quando a comunicação com o brônquio é fechada (fibrose), desaparecem deixando um nódulo ou banda fibrótica Disseminação endobrônquica → Nódulos centrolobulares e em árvore em brotamento TC → Imagem em “BROTAMENTO DE ÁRVORE” → Indica TB ativa 9 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 NA TC → Disseminação endobrônquica em 95% dos casos (nódulos centrolubulares e em árvore em brotamento) → Nódulos mal definidos (61%) → Cavidades (58%) → Bronquiectasias (51%) → Consolidação lobular (41%) → Distorção broncovascular (29%) → Bandas fibrosas (27%) TUBERCULOSE MILIAR Ocorre em cerca de 6% dos casos Acontece em pessoas que não tomaram a vacina BCG, imunodeprimidos (principalmente HIV+), crianças e transplantados em uso de imunossupressor. Disseminação hematogênica Quando ocorre na infecção primária, é uma forma aguda, grave e de alta mortalidade Diagnóstico diferencial → Metástases de CA de tireoide, mama e histiocitose SINAIS RADIOLÓGICOS 1) Padrão intersticial reticular/reticulo-nodular → Micronódulos difusamente distribuídos A tomografia é o padrão-ouro para identificar essas lesões. Cavitação ≠ Lesão por CA em lobo superior direito e por TB FIGURA 1 – Câncer FIGURA 2 – Tuberculose No CA, a parede é espessa. Na TB, a parede é fina. Se dúvida, solicitar biópsia ou controle por imagem. FIGURA 1 – Cavitação pré-tratamento FIGURA 2 – 6 meses após início do tratamento 10 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 COMPLICAÇÕES DA TUBERCULOSE COLONIZAÇÃO DA CAVIDADE POR PARASITA (FUNGO) 11 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 FIBROTÓRAX Sequela do processo inflamatório com espessamento e fibrose pleural – impede a expansão pulmonar O pulmão infectado sofre intenso processo fibrótico, que pode levar à dilatação permanente dos brônquios → Fibrose pleural + restrição da expansão pulmonar Achados: fibrose e retração hilar; pode haver retração traqueal “As travas de fibrose causam retração hilar e traqueal” BRONQUIECTASIA Dilatação permanente dos brônquios A alteração da função ciliar aumenta o risco para infecções DERRAME PLEURAL TUBERCULOSO Pode ser causado por: Ruptura de micro abscessos → EMPIEMA TUBERCULOSO Contiguidade de doença parenquimatosa pulmonar Disseminação hematogênica Disseminação miliar + Derrame pleural 12 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 Obs: Espessamento da pleura = PAQUIPLEURITE ATELECTASIA TB + Atelectasia do lobo inferior direito Causas: − Disseminação endobrônquica – obstrução dos brônquios − Compressão ganglionar TUBERCULOSE EXTRAPULMONAR Têm seus sinais e sintomas dependentes dos órgãos e/ou sistemas acometidos. Sua ocorrência aumenta em pacientes imunocomprometidos, principalmente nos HIV+. 1) Faringite e otite tuberculosas 2) Contiguidade meningoencefalite tuberculosa 3) Tuberculose gânglio-cervical 4) Tuberculose linfo-hematogênica 5) Tuberculose vertebral ou linfática ou Mal de Pott 6) Contiguidade tuberculose pleural primária 7) Contiguidade tuberculose renal primária TUBERCULOSE VERTEBRAL → MAL DE POTT O quadro tem início como uma espôndilo-discite A TB destrói o disco, angula o eixo da coluna e pode causar abscesso para- vertebral Obs: Tumor vertebral destrói as vértebras e “preserva” o disco! A TB destrói o disco. 13 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 QUADRO CLÍNICO Dor local progressiva Alterações neurológicas por compressão medular, como dormência, formigamento e fraqueza dos MMII Perda de peso RESOLUÇÃO DA TUBERCULOSE Lenta → 6 meses a 2 anos Os nódulos centrolobulares ou em árvore em brotamento costumam desaparecer após 5 a 12 meses de tratamento A linfonodomegalia costuma desaparecer mais lentamente do que as alterações parenquimatosas CICATRIZAÇÃO Pode causar: Calcificações Distorção arquitetural (fibrotórax) Atelectasia Bronquiectasia Abscesso para- vertebral Disco intervertebral destruído TUBERCULOMA - Granuloma oval ou redondo de até 3cm de diâmetro - A maior parte permanece estável por longos períodos - Pode ou não ser calcificado - Crescimento ou aparecimento de novo nódulo sugere reativação da TB ou outro processo (como carcinoma) 14 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 REVISÃO 1. Padrões da tuberculose pulmonar: padrão alveolar ou intersticial; Tuberculose miliar: padrão intersticial, nodular difuso (sem predileção segmentar). 2. Acomete imunocomprometidos 3. Disseminação hematogênica 4. Opacidade em “árvore em brotamento”: infere atividade da doença. 5. Foco de Ghon: inatividade da doença 6. Tem disseminação broncogênica 7. Fatores que favorecem a disseminação da tuberculose: confinamento, falta de higiene, alcoolismo, tabagismo, diabetes, câncer, drogas imunossupressoras 8. Tuberculose da coluna/Mal de Pott: destrói o disco intervertebral e cursa com abscesso para-vertebral 15 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 CASOS 16 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 17 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 ARTIGO: IMAGEM EM TUBERCULOSE PULMONAR [http://www.scielo.br/pdf/jpneu/v27n6/a07v27n6.pdf] Naradiografia de tórax, a tuberculose pulmonar ativa pode manifestar-se sob a forma de consolidações, cavitações, padrões intersticiais (reticulares/retículo-nodulares), linfonodomegalias hilares ou mediastinais e derrame pleural. Imagens compatíveis com doença ativa, como nódulos centrolobulares de distribuição segmentar, cavidades de paredes espessas, espessamento de parede brônquica ou bronquiolar, bronquiectasias e linfonodomegalias, podem ser observadas pela tomografia computadorizada do tórax. Cavidades de paredes finas, bronquiectasias de tração e estrias são imagens sugestivas de sequela da doença, assim como o enfisema e o aspecto em mosaico do parênquima pulmonar. http://www.scielo.br/pdf/jpneu/v27n6/a07v27n6.pdf 18 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 19 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1 20 Aula 03 – Radiologia Médica Básica – Camila Carneiro Leão Cavalcanti 2021.1
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