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@resumosdamed_ 1 ANATOMIA E SEMIOLOGIA DA MOTILIDADE OCULAR A avaliação da motricidade ocular e integridade dos nervos cranianos oculomotores permite acessar uma complexa faixa de tecido encefálico que compõe o tronco cerebral, bem como seus prolongamentos axônicos e os músculos inervados por eles. As estruturas neurais dedicadas à movimentação ocular estão situadas na fossa posterior e compactadas em núcleos e feixes muito próximos anatomicamente. Lesões de várias etiologias nesta topografia podem provocar sinais e sintomas que refletem perturbação dos mecanismos de controle dos movimentos oculares. Diplopia (“visão dupla”) é um sintoma muito frequente em lesões de nervos motores oculares e seus núcleos. A sensibilidade que os distúrbios da motilidade ocular têm para lesões da fossa posterior é apenas um dos motivos pelos quais esta etapa do exame neurológico adquire especial importância. Além disso, diplopia pode ser o primeiro sintoma de uma condição potencialmente ameaçadora à vida, e todo neurologista deve estar apto a realizar uma abordagem adequada para esses casos. O papel do médico nesta fase do exame é localizar lesões ao longo dos músculos oculomotores e dos nervos cranianos (NC), responsáveis por suas ativações: III (oculomotor), IV (troclear) e VI (abducente), bem como dos seus núcleos e vias no interior do tronco cerebral. Quando o sintoma ou sinal oculomotor ocorre por lesões nestas estruturas é chamado de infranuclear, enquanto lesões localizadas acima do nível dos núcleos oculomotores são chamadas de supranucleares III PAR – NERVO OCULOMOTOR Esse nervo é exclusivamente motor, sendo responsável principalmente pela motricidade extrínseca dos olhos. Dessa forma, ele inerva os músculos que fazem nossos olhos se mexerem: o reto superior, reto inferior, reto medial e oblíquo inferior. Além disso, também atua em músculos do bulbo ocular, como o ciliar, responsável pela regulação da convergência do cristalino, e o esfíncter da pupila, que controla o grau de abertura pupilar, e no levantador da pálpebra superior. Sua injúria pode gerar inúmeras condições, como estrabismo divergente, ptose palpebral e midríase, esta última podendo ser testada pelo mesmo reflexo fotomotor direto ou consensual que usamos no óptico. IV PAR – NERVO TROCLEAR Esse par tem a mesma função do oculomotor, atuando na motricidade ocular. No entanto, o nervo troclear inerva o oblíquo superior. Mas o que isso quer dizer? Tente olhar para a ponta do seu nariz. Conseguiu? Então, é o troclear e o oblíquo superior trabalhando. As lesões desse nervo geralmente são oriundas de @resumosdamed_ 2 acidente vascular encefálico nos pedúnculos cerebelares, o que acarreta fraqueza do oblíquo superior VI PAR – NERVO ABDUCENTE/ O nervo abducente também é um nervo motor responsável pela motricidade ocular. Logo, ele atua junto com o oculomotor e com o troclear nessa função. No entanto o músculo que ele inerva é o reto lateral, responsável pela movimentação lateral do olho. Assim, caso haja uma lesão no nervo abducente, haverá um desvio medial do olho, gerando um quadro de estrabismo convergente. Também poderá ocorrer diplopia, já que o desvio ocular faz com que cada olho foque em um ponto. MOTRICIDADE EXTRÍNSECA Os músculos que atuam nessa motricidade são: m. reto superior, m. reto inferior, m. reto medial, m. reto lateral, m. oblíquo superior e m. oblíquo inferior. Eles são inervados por 3 pares de nervos cranianos, sendo eles os nervos oculomotor (III par), troclear (IV par) e abducente (VI par). Esses nervos emergem na órbita ocular pelo forame orbital superior e inervam tanto os músculos citados anteriormente, quanto os músculos motricidade intrínseca em suas porções orbitais. Além deles, há o músculo levantador da pálpebra, o qual também é inervado pelo nervo oculomotor, mas não faz parte da motricidade ocular. @resumosdamed_ 3 MOTRICIDADE INTRÍNSECA: A movimentação intrínseca é constituída apenas por 2 músculos: o m. ciliar, que contraído promove o espessamento da lente ocular, objetivando melhorar a “visão de perto”, e o m. esfíncter da pupila, que, contraído, comprime a pupila. Ambos são inervados pelo nervo oculomotor. EXAME FÍSICO Em casos de queixa visual, a acuidade visual deve ser avaliada primeiro à II par de nervos cranianos (ótico) Deve-se avaliar a motricidade: A motricidade extrínseca é avaliada em 9 passos: o Inspeção @resumosdamed_ 4 o Reflexo de Hirshberg o Nove posições o Teste de Cobertura o Vergência o Seguimento o Sacada o Nistagmo óptico-cinético o Reflexo vestíbulo-ocular INSPEÇÃO POSIÇÃO DA CABEÇA A simples observação de uma inclinação anormal da cabeça indica paresia do oblíquo superior ou desvio skew em um paciente com diplopia vertical ou pode indicar espasmos nutans em um lactente, por exemplo. O Sinal de Bielchowsky consiste em inclinação da cabeça para frente e contralateralmente ao oblíquo superior parético com o queixo apontando para o ombro do lado afetado FENDA PALPEBRAL GLOBO OCULAR Pode ser observado proptose ocular/ enxoftalmia e enoftalmia ALINHAMENTO OCULAR Durante a inspeção é importante a observação do olhar primário. Para isso, o examinador observa o alinhamento das órbitas e eventuais movimentos anormais espontâneos (p. ex., nistagmos e intrusões sacádicas) quando o paciente, fixa a visão em um alvo distante no horizonte. A inspeção das órbitas com auxílio de uma @resumosdamed_ 5 lanterna clínica ajuda a definir a presença de desalinhamentos discretos através do Teste de Hirschberg Na presença de desalinhamentos entre as órbitas, o examinador pode observar que o reflexo luminoso provocado pela lanterna fica localizado em diferentes pontos da córnea em cada olho, enquanto o paciente dirige o olhar para o foco de luz situado a sua frente e com a cabeça alinhada. A lanterna deve estar a cerca de 1 m do paciente, e o reflexo da luz estará deslocado do centro da córnea no olho não fixado. Este teste permite avaliação objetiva do desalinhamento ocular. MOVIMENTOS INVOLUNTÁRIOS NOVE POSIC ̧ÕES: Deve-se pedir ao paciente para: 1. Olhar em direção ao examinador 2. Olhar para esquerda/direita 3. Olhar para cima/para baixo Este exame consiste na avaliação das duções de cada olho separadamente. Analisar os movimentos oculares dos dois olhos de uma única vez é um erro em potencial pois dificulta a percepção de limitações discretas das duções de um olho. Depois observamos a amplitude dos movimentos, velocidade e o caráter conjugado dos olhos nas mesmas posições acima, desta vez observando os dois olhos ao mesmo tempo à procura de qualquer desalinhamento. EXPLICAÇÃO PARA A VISÃO DUPLA Para que tenhamos visão única, a imagem deve cair sobre a fóvea (região central da retina do olho humano onde se concentram os cones e onde se forma a imagem que será transmitida ao cérebro.) nos dois olhos. @resumosdamed_ 6 Caso a imagem caia sobre a fóvea em apenas um dos olhos, e na periferia no outro olho, teremos visão dupla Deve-se então, solicitar ao paciente para ocluir um dos olhos: caso a visão dupla continue, é uma provável questão oftalmológica. Caso esta visão dupla suma, é uma provável questão neurológica POSSIBILIDADES PARA A VISÃO DUPLA: • Paresia do músculo reto medial direito • Paresia do músculo reto lateral esquerdo A imagem mais periférica vem do olho com o musculo parético (paralisado) MOTRICIDADE OCULAR INTRÍNSECA à FISIOLOGIA DAS PUPILAS INERVAÇÃO PARASSIMPÁTICA DA PUPILA O complexo nuclear do nervo oculomotor (III) localiza-se na parte rostral do mesencéfalo, ventralmente ao aqueduto cerebral, próximo à linha média. Nele se originam as fibras que constituem o nervo oculomotor ou terceiro nervo craniano, que inerva diversos músculos oculares.Tem duas partes, uma somática e outra visceral. A parte visceral ou autonômica do complexo nuclear oculomotor é constituída pelo núcleo de Edinger-Westphal, que faz parte do sistema nervoso parassimpático. @resumosdamed_ 7 As fibras parassimpáticas originárias do núcleo de Edinger-Westphal saem incorporadas ao nervo oculomotor, alcançam a cavidade orbitária, onde, posteriormente ao globo ocular, estabelecem sinapse com os neurônios do gânglio ciliar. Neste gânglio originam as fibras pós-ganglionares que penetram no globo ocular e inervam o músculo constritor da pupila. Inervação simpática da pupila Os neurônios simpáticos da coluna lateral da medula no primeiro e segundo (às vezes também o terceiro) segmentos torácicos emitem as fibras pré-ganglionares que saem pelas raízes ventrais da medula, passam aos nervos espinhais, ramos comunicantes brancos, passam pelos dois primeiros gânglios da cadeia ganglionar simpática dorsal, ascendem e atravessam também os gânglios cervicais inferior e médio e alcançam o gânglio cervical superior onde estabelecem sinapse com os neurônios ganglionares. Estes neurônios ganglionares dão origem às fibras pós- ganglionares que envolvem a artéria carótida interna, formando o plexo carotídeo interno, penetrando no crânio. Em seguida, acompanhando a artéria oftálmica, entram na cavidade orbitaria e penetram no globo ocular, onde inervam o músculo dilatador da pupila. EXAME DAS PUPILAS Deve-se avaliar tamanho, forma e posição, simetria e reflexo fotomotor TAMANHO tamanho normal é de 2 a 6 mm. Avaliar no claro e no escuto – ela varia com a iluminação @resumosdamed_ 8 FORMA E POSIÇÃO: Redonda, uniforme, regular e central. Devem-se levar em conta causas oftalmológicas. SIMETRIA Anisocoria à assimetria REFLEXO FOTOMOTOR É uma reação de adaptação à luz. Expondo-se um olho à luz, ocorre constrição das pupilas dos dois olhos (miose). A resposta pupilar do olho estimulado é chamada reação direta, e a resposta pupilar do outro olho, reação consensual Os impulsos decorrentes da estimulação luminosa da retina, são transmitidos pelo nervo óptico, quiasma óptico, trato óptico, e aos núcleos de Edinger-Westphal direito e esquerdo. Desses, partem os estímulos que seguem com os nervos oculomotores (III) aos gânglios ciliares e às fibras dos músculos constritores das pupilas, resultando em constrição pupilar. A via aferente do arco reflexo inicia-se na retina do olho estimulado, enquanto a via eferente inicia-se nos núcleos de Edinger-Westphal dos dois lados. @resumosdamed_ 9 COMO DIFERENCIAR SE O PROBLEMA ESTÁ NO NERVO ÓPTICO OU NO NERVO OCULOMOTOR? A lesão completa do nervo óptico direito, interrompendo a via aferente do arco reflexo, faz com que a iluminação desse olho não resulte em estimulação do núcleo oculomotor. Assim, quando o olho direito é estimulado com luz, não ocorre reação das pupilas. Contudo, quando o olho esquerdo, normal, é estimulado, as pupilas dos dois olhos contraem-se. A lesão completa do nervo oculomotor direito resulta em perda do reflexo fotomotor da pupila direita, por interrupção da via eferente do arco reflexo neste lado. Nesse caso, quando qualquer dos olhos é iluminado, estando os nervos ópticos íntegros, o reflexo fotomotor pupilar ocorre apenas no olho esquerdo e não no olho direito. SÍNDROME DE HORNER A síndrome de Horner afeta um lado da face, fazendo a pálpebra cair (semiptose palpebral), a pupila ficar pequena (contraída) e a diminuição do suor (anidrose). A síndrome de Horner resulta da interrupção da via simpática cervical que se estende do hipotálamo ao olho. A lesão causadora pode ser primária (incluindo congênita) ou secundária a outras doenças. As lesões geralmente são divididas em: o Central (p. ex., isquemia no tronco encefálico) o Periférica (p. ex., tumor de Pancoast , adenopatia cervical, lesões no pescoço e no crânio, aneurisma da parte torácica da aorta ) As lesões periféricas podem ter origem pré ou pós-ganglionar. REFERÊNCIAS https://www.sanarmed.com/nervos-cranianos-generalidades- anatomicas-e-clinicas-colunistas http://www.actamedica.org.br/publico/noticia.php?codigo=325&c od_menu=325 Semiologia neurológica - UNICAMP
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