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Metabolismo do Miocárdio - Resumo Amanda Gonçalves M2 2020.2/ UFRJ Macaé - Principais substratos do miocárdio: glicose e ácidos graxos - Efeito econômico de oxidação do ácido graxo: Em jejum, ou no período entre as refeições, o nível de ácidos graxos livres no sangue é alto, e estes são preferencialmente utilizados para o metabolismo oxidativo, tornando-se então a principal fonte de energia. Quando os ácidos graxos são oxidados, a oxidação da glicose é inibida, e a mesma é altamente convertida a glicogênio Metabolismo Oxidativo dos Ácidos Graxos. Quando o nível sanguíneo de ácidos graxos livres (FFA) é alto, estes são utilizados como a principal fonte de energia do coração. Além disso, enquanto os ácidos graxos são oxidados, a oxidação da glicose encontra-se reduzida, e a mesma é altamente convertida a glicogênio. GS = glicogênio sintase; PFK = fosfofrutoquinase; PDC = complexo piruvato desidrogenase. - Controle da Insulina sobre a Absorção da Glicose pelo Coração: Quando os níveis de glicose e insulina circulantes estão elevados, o coração diminui a absorção dos ácidos graxos, e a oxidação da glicose é aumentada. - Após as refeições, a presença de glicose estimula a produção de insulina e a primeira torna-se o principal combustível cardíaco . Metabolismo Oxidativo da Glicose - A captação da glicose pelas células cardíacas é controlada pelos transportadores de glicose GLUT 4 e GLUT 1 - A absorção da glicose aumenta sempre que os transportadores são estimulados, como durante o trabalho cardíaco aumentado, no período pós prandial, ou em situações de hipóxia ou isquemia, condições estas que aumentam também a glicólise - A absorção da glicose é reduzida pelos fatores que inibem a glicólise, como um baixo trabalho cardíaco, o jejum, ou em casos de diabetes mellitus severa. Nas últimas duas condições, o nível de ácidos graxos no sangue encontra-se elevado. - No período pós-prandial com consumo de carboidratos, os níveis circulatórios de glicose elevam-se e a liberação de insulina, que aumenta o número dos transportadores de glicose GLUT 4 e GLUT 1 no sarcolema, translocando-os de sítios internos não disponíveis para sítios externos (a insulina estimula a taxa de reciclagem desses transportadores entre sítios internos e externos) - A ligação da insulina a receptores específicos na membrana (sub-unidade alfa externa e uma subunidade beta interna) - Essa ligação leva a uma autofosforilação da subunidade beta , a qual amplifica fortemente o efeito da insulina e promove a ativação de tirosina cinases, desencadeando vias de sinalização celulares que irão culminar, por exemplo, em um aumento da atividade de enzimas como a glicogênio sintase e a piruvato desidrogenase VIA GLICOLÍTICA - A glicólise é a via metabólica que converte a glicose a piruvato - Destinos do piruvato dependendo das condições de oxigênio: ● Anaeróbia – formação de lactato ● Aeróbia – descarboxilação oxidativa Metabolismo Aeróbico dos Ácidos Graxos (AGs) - O metabolismo miocárdico dos AGs começa em função de seus níveis circulantes. Ou seja, quanto maior o seu nível, maior será a relação molar AG/albumina, e maior será a captação dos AGs pelo miocárdio - O primeiro passo desta via é a ativação dos AGs intracelulares pela coenzima A (CoA) para formar derivados de acil CoA - A membrana mitocondrial não é permeável a essas moléculas, que necessitam, portanto, serem transformadas e transportadas para o interior da mitocôndria - As moléculas de acil CoA combinam-se com a carnitina, formando acil carnitina, que é transportada pelo sistema carreador de carnitina para o espaço mitocondrial interno. .Beta Oxidação - Converte a longa cadeia de acil CoA em fragmentos de dois carbonos de acetil CoA. A oxidação do AG continuamente remove uma molécula de acetil CoA da terminação carboxi da cadeia - Durante o esforço cardíaco aumentado, a mitocôndria torna-se mais oxidada. Os níveis intramitocondriais de NADH2 e FADH2 diminuem, e ocorre um aumento na taxa de oxidação dos ácidos graxos. Por outro lado, na anaerobiose, os níveis de NADH2 e FADH2 aumentam, como resultado de uma redução da taxa de -oxidação devido ao diminuído transporte de elétrons. Representação esquemática da absorção e metabolismo dos substratos nas células musculares cardíacas. FAT, fatty acid translocase; FABP, sarcoplasmic fatty acid-binding protein; NAD, nicotinamide adenine dinucleotide; NADH, reduced niconamide adenine dinucleotide. Piruvato e Lactato - O piruvato é formado a partir do lactato absorvido pelo coração e pela degradação da glicose, e situa-se na intersecção da glicólise e do metabolismo oxidativo no ciclo do ácido cítrico - No coração anaeróbico, o piruvato forma lactato; no aeróbico, sofre descarboxilação oxidativa e entra no ciclo do ácido cítrico - O lactato é absorvido pelo coração aeróbico e produzido durante a anaerobiose; então, a sua liberação no seio coronário pode ser usada como um sinal de isquemia do miocárdio - A contribuição do lactato para as necessidades de energia de um miocárdio bem oxigenado pode aumentar a até 60% quando o seu nível em circulação encontra-se elevado, como por exemplo durante e logo após exercício físico - O lactato é um combustível muito menos importante quando seu nível está baixo, ou quando os níveis dos ácidos graxos estão elevados. - A absorção do lactato pelo coração depende de um sistema de transporte específico, pois o sarcolema não é livremente permeável ao mesmo - Uma vez absorvido, o lactato é convertido a piruvato pela lactato desidrogenase (LDH) Corpos Cetônicos - São formados no fígado em decorrência do metabolismo excessivo de ácidos graxos através da β-oxidação - Durante um jejum prolongado, quando a glicemia encontra-se muito baixa, os níveis de ácidos graxos elevados e os de glucagon altos, há estímulo para a gliconeogênese, que ocorre principalmente no fígado, e desvia o oxaloacetato do ciclo do ácido cítrico - Desta forma, ocorre o acúmulo de acetil CoA pelo metabolismo excessivo de ácidos graxos, e diminuição da via do ácido cítrico (que consome o acetil-CoA) devido ao desvio do oxaloacetato para a gliconeogênese - Com esse acúmulo, ocorre aumento na produção de corpos cetônicos pelo fígado que se formam pela união de duas moléculas de acetil CoA - Inicialmente, é formado acetoacetato, que é transportado pelo sangue do fígado para diversos órgãos que podem utilizá-lo como fonte energética - O acetoacetato é ainda convertido a β- 13 hidroxibutirato ou acetona. Esses três compostos são denominados corpos cetônicos - Assim, quando grande parte da energia do organismo provém do metabolismo das gorduras, como na inanição, nas dietas ricas em gorduras e no diabetes não tratado, aumenta-se a produção de corpos cetônicos - A utilização desses compostos pelas células cardíacas é mediada pela enzima tiolase, que realiza a reação inversa e converte corpos cetônicos em duas moléculas de acetil CoA - Como no miocárdio não ocorre gliconeogênese e, nessas células, o oxalacetato não é desviado do ciclo do ácido cítrico, o acetil CoA formado segue nesta via, gerando energia para o coração. OBS: Diabetes descompensada - Nos diabéticos descompensados, mesmo que a glicemia esteja elevada, a glicose não consegue ser absorvida pelas células insulino-dependentes - Logo, observa-se uma intensa produção hepática de corpos cetônicos nesses pacientes, assim como uma grande utilização desses substratos como fonte de energia pelos miócitos cardíacos, mesmo em situações pós-prandiais - O acúmulo de corpos cetônicos na corrente sanguínea (cetose), observado na diabetes não tratada, pode levar a um quadro de acidose metabólica severa (cetoacidose) nesses indivíduos. PRINCIPAIS RESERVAS DE ENERGIA - Reservas de energia são poupadas para momentos de carência energética, como por exemplo, durante a isquemia - Durante uma isquemia, portanto, o coração fica privado tanto dos substratos energéticos, como ácidos graxos, glicose, lactato e corpos cetônicos, quanto de hormônios como glucagone adrenalina. - Para continuar funcionando, então, os miócitos cardíacos utilizam suas principais reservas energéticas: creatina-fosfato e glicogênio - Creatina-Fosfato: ● Fonte energética de curtíssima duração ● O miocárdio utiliza as reservas de creatina fosfato, principalmente, para a manutenção da integridade da membrana plasmática (mantém os canais dependentes de ATP) ● A creatina fosfato transfere fosfato ao ADP, formando creatina e restaurando os níveis de ATP, cuja produção está muito reduzida durante a isquemia, reação é catalisada pela enzima creatina fosfoquinase cardíaca (CPK-MB) ● Essa mesma enzima também se localiza próximo à membrana mitocondrial, e, nessa região, quando as ofertas de oxigênio e ATP são normalizadas, a CPK-MB restaura os níveis de creatina fosfato através da reação inversa (por isso é uma fonte de curta duração) - Glicogênio: ● As vias de síntese e degradação do glicogênio são realizadas por dois sistemas de enzimas diferentes ● A síntese ocorre em altas taxas nos períodos pós-prandiais sob influência da insulina, que aumenta a absorção da glicose e estimula a atividade da enzima glicogênio sintase ● A síntese do glicogênio parece também acontecer após intenso esforço cardíaco ou após isquemia, quando o glicogênio é depletado, sugerindo que a própria diminuição dos níveis de glicogênio é capaz de estimular sua produção ● No estado de jejum, embora haja falta de insulina, a síntese do glicogênio ainda pode ocorrer, mesmo que em menor taxa, porque a glicogênio sintase é estimulada por altos níveis miocárdicos de glicose 6-fosfato, que resultam do bloqueio da via glicolítica ● A energia requerida para a síntese do glicogênio é derivada de um composto fosfato de alta energia, uridina trifosfato (UTP), que é formado a partir do ATP ● Os dois principais mecanismos que levam à glicogenólise são: (1) ativação da glicogênio fosforilase pela adenosina monofosfato cíclica (cAMP); ou (2) na isquemia, por uma diminuição nos níveis de fosfato de alta energia ● Um aumento em cAMP promove uma cascata de eventos que no final converte a enzima fosforilase b inativa à fosforilase a altamente ativa ● A glicogênio fosforilase catalisa a reação em que uma ligação glicosídica, reunindo dois resíduos de glicose no glicogênio, sofre o ataque por fosfato inorgânico (Pi), removendo o resíduo terminal não-redutor de glicose como glicose 1-fosfato ● A fosforilase age repetitivamente nas extremidades não redutoras das ramificações do glicogênio, controlando assim o início da glicogenólise durante hipóxia ou isquemia ● O glicogênio tem o papel estabelecido como fonte de energia durante hipóxia ou isquemia miocárdica ● Além dessas condições de curta duração, o turnover do glicogênio pode contribuir substancialmente para a glicólise aeróbica em um coração em trabalho normal, e pode ser oxidado preferencialmente à glicose externa, especialmente logo depois de um estímulo β-adrenérgico aumentado ● Como o glicogênio está situado nas proximidades do retículo sarcoplasmático, seu turnover pode fornecer ATP no local para a bomba de captação de Ca2+ . Fonte: LEHNINGER, T. M., NELSON, D. L. & COX, M. M. Princípios de Bioquímica. 6ª Edição, 2014. Ed. Artmed.7
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