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SOCIALIZAÇÃO PELA ALIMENTAÇÃO INTRODUÇÃO A cultura da socialização pela comida está presente no cotidiano de todos, desde uma reunião familiar, comemorativa,ritos religiosos ou até no estigma da divisão por gênero ao qual se refere à mulher como “dona da cozinha”. No texto “A invenção do cotidiano” (CERTEAU,M. L. – 1997), é muito bem discorrido sobre a socialização da mulher através da alimentação, uma cultura que foi criada desde a formação da sociedade, a mulher sempre foi símbolo de trabalhos domésticos, principalmente se tratando do ato de cozinhar. Na história, houve a época marcada pelo servir da mulher, onde eram obrigadas a, literalmente, apenas viver para servir seus senhores e esposo. Fazendo uma rápida alusão, no livro “O conto da Aia”, a autora Margaret Atwood retrata uma distopia , na qual as mulheres perdem seus direitos e as mulheres férteis são destinadas à casa de senhores que não possuem filhos, apenas para conceder- lhes essa graça. O drama foi transformado em uma série de tv, a qual leva o nome de “The Handmaid 's Tale”, responsável por vários prêmios importantes do gênero. E assim é a trajetória da mulher na sociedade, perdendo seus direitos e sendo obrigadas a viver para servir. Temos também o exemplo das mucamas no período escravocrata. Entretanto, com o passar dos anos, e após muita luta, as mulheres vêm ganhando seu espaço, o que, infelizmente, ainda não é uma igualdade de gênero consolidada. Pois mulheres ainda são questionadas ao assumirem que não desejam se casar, ter filhos, formar uma família ou por apenas optarem em se destacar na carreira profissional. Isso causa um estranhamento na sociedade pois foi criado um paradigma que a mulher deve seguir. Sendo assim, ao olhar para uma mulher, a sociedade supõe seus instintos de cozinheira, mãe e esposa. A comida realmente socializa pessoas e ambientes, e muito além disso, está presente na cultura, uma vez que também é uma importante colaboradora de ritos e cerimônias religiosas e está presente em vários âmbitos de comemoração e socialização. Sempre que há necessidade de reunir pessoas, há também algum tipo de coquetel. Esse trabalho tem por objetivo demonstrar as diversas formas de socialização através da alimentação, bem como sua evolução em vista de divisão de gênero, cultura religiosa e inclusão na sociedade. DESENVOLVIMENTO É de conhecimento geral, que a sociedade num todo nunca foi como é hoje, onde as mulheres têm liberdade de escolha. Todavia, sua única função quanto ser social era satisfazer os afazeres domésticos e se reproduzir para deixar herdeiros a seu esposo. Desde muito jovens, as meninas eram ensinadas por suas mães a cuidar da casa e cozinhar, mesmo que essa não fosse uma vontade dessa criança, como mostrado no texto “A invenção do cotidiano” (CERTEAU,M. L. – 1997). Com o passar dos anos a mulher foi ganhando seu espaço socialmente, passando a ter voz nas decisões políticas e posteriormente, adquirindo voz ativa no meio, podendo se candidatar ao pleito de uma eleição, passando a ser empreendedora dos seus sonhos, investindo em si. Porém, essa era uma resistência, uma vez que as mulheres não estando exclusivamente voltadas ao lar, a maternidade poderia ser deixada de lado, sendo que o matrimônio também pudesse ser deixado em segundo plano. Até no momento presente as mulheres ainda estão em frequente inferioridade, uma vez que os cargos de alto escalão, estão ocupados em sua maioria por homens: Na atualidade, as mulheres estão cada vez mais tendo papel de destaque na cozinha, mas esse papel está ligado a ser grandes e conhecidas chefes de cozinha. Todavia, a perspectiva de que a cozinha foi feita única e exclusivamente para a mulher, já foi modificada, sendo que existem grandes nomes masculinos inseridos na gastronomia mundial. Outra questão que influencia diretamente é a cultural. Na antiguidade, por exemplo, os homens pré-históricos eram onívoros, atualmente nem todos os alimentos advindos da região onde vive é de consumo diário, pois muitas influências culturais determinaram o que seria ingerido ou não. Exemplificando com povos distintos, temos os hindus que não comem carne de gado por acreditarem que é sagrada, além disso, tem o povo budista que não mata o peixe que pescam e deixam que ele morra na praia para depois ingerirem. Sendo assim, temos a questão cultural muito evidente na questão alimentar. Quando se fala em civilização, a comida está intimamente ligada. Pois, quando se discute acerca da socialização pela alimentação, nota-se que a mesma tem papel fundamental nesse processo, uma vez que ela está presente em cerimônias e no convívio social dos indivíduos desde a pré - história com o domínio do fogo. Como defendia Câmara Cascudo (2011), “o ato de alimentar-se, que é, em essência, o imperativo de natureza mais selvagem do humano, também é aquele que incorporou a maior quantidade de tabus sociais”. De acordo com FORACCHI e MARTINS, no texto: “Como ser um membro da sociedade”, observa-se como uma criança começa a adquirir seus hábitos desde que nasce, a partir do momento em que ela convive com seus familiares, acontece de ela ser controlada, tanto no que comer e no horário em que pode comer. Diante disso, é evidente que quando em contato com outras pessoas ela aja de maneira a atender os padrões sociais impostos, como comer de garfo e faca, não falar de boca cheia, por exemplo, isso mostra que somos moldados desde o nascimento, pois temos de conviver e aprender a viver da forma que nossa sociedade impõe. Todo o processo de socialização desse serzinho, tende a se basear nas crenças de sua família, nos alimentos típicos de tal região e nos ensinamentos de etiquetas que lhe serão repassados. Vale ressaltar ainda, que a alimentação também está ligada com a religião, de acordo com CONTRERAS, J. Alimentação, sociedade e cultura. p. 173: “Pode-se afirmar que todas as religiões ou sistemas de ou sistemas de crenças mais ou menos articulados contém algum tipo de prescrição alimentar. Todas as religiões regem a alimentação em algum sentido, e na maioria das vezes, quase sempre restritivos”. A partir disso, as relações humanas contam com uma variedade religiosa imensurável, isso gera a intolerância religiosa que muitas vezes exclui pessoas do meio social em que vive. Nossa sociedade num todo é preparada estruturalmente para acolher em um restaurante uma pessoa que come de tudo, que não se restringe de alguma comida, mas quando uma pessoa vegana, por exemplo, está nesse ambiente, ela pode se sentir excluída, uma vez que o seu paladar na roda dos amigos não será bem aceito, muito menos conseguirá pedir uma porção, um lanche, totalmente ao seu agrado ou que atenda as necessidades dele, como no caso das pessoas que apresentam intolerâncias a alguns alimentos. Isso é mais comum do que imaginamos. Portanto, com as mudanças dos hábitos pessoais, o consumo de carnes ou alimentos de origem animal tem diminuído. Veja: Diante dessas transformações, as pessoas que de forma voluntária, ou que segue alguns preceitos advindos da religião, faz com que ela se sinta mais acolhida e pertencente ao meio em que vive. Muitos estabelecimentos estão aprimorando seus cardápios para melhor atender seus clientes. A comida se faz presente em todas as reuniões, celebrações religiosas, comemorativas. Em suma, é raro um aglomerado de pessoas em que não haja comida. Ela é essencial para estabelecer a afetividade entre as pessoas e promove o resgate de lembranças, uma vez que remete às raízes de uma pessoa em uma determinada sociedade. A alimentação gera laços de carinho e amizade, confiança e presteza, onde uma pessoa quando participa da mesa com a outra significa estar ali paraajudar e apoiar em todos os momentos, não apenas para desfrutar de um banquete. CONCLUSÃO Em virtude dos fatos mencionados, conclui-se que a socialização pela alimentação é um fato e abrange temáticas que possuem uma grande necessidade de discussão. Neste trabalho foi abordado suas perspectivas, bem como mudanças que ocorreram através dos anos e da história social que influenciaram para que a socialização através da comida ocorresse. Tais fatos são citados como o papel que a mulher vem exercendo enquanto firma sua trajetória na sociedade, inclusão através da alimentação e a questão cultural da influência da alimentação de diversos povos, nos cultos e ritos e praticantes de ações religiosas. A comida é correlacionada à socialização, pelo seu importante destaque na consolidação de vários preceitos. Sendo assim, há de se destacar para a conclusão do tema abordado. Dado o exposto, também é possível destacar o importante papel da comida na inclusão social, uma vez que, um indivíduo pode se sentir pertencente ou não à sociedade através de sua alimentação, em paralelo, podemos citar as intolerâncias alimentares, pessoas que optam por ingerir certos tipos de alimentos - vegetarianismo, veganismo - ou praticantes religiosos que realizam seus jejuns e restrições, conforme orientados. Vale destacar o importantíssimo papel da empatia nessas situações, assim como todas as outras decisões tomadas pelas pessoas. Outra maneira de frisar o importante papel da comida é através da criação de laços afetivos, seja em uma reunião familiar para cozinhar, comer ou celebrar alguma data. E também através das maneiras de comportamento à mesa, ninguém se agrada com o fato de alguém próximo mastigar de maneira desagradável, ou não manter a higiene . Sendo assim, a socialização através da alimentação se torna um fato, além de social também cultural, tendo em vista toda a sua bagagem abordada, discutida, exposta e discorrido no trabalho, tendo como importante papel a formação de indivíduos capazes de identificar cada uma de suas diferenças e peculiaridades, colaborando para um bom convívio em sociedade e para a socialização de pessoas as quais desejam participar de um determinado grupo. REFERÊNCIAS SILVEIRA, Daniel. Cai a participação de mulheres em cargos gerenciais no Brasil em 2016, aponta IBGE. G1, 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/noticia/cai-a-participacao-de- mulheres-em-cargos-gerenciais-no-brasil-em-2016-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em: 19 de abril de 2021. MANGRAVITI, Roberto. Beleza Pura Store lidera mercado vegano no Brasil. Sustentahabilidade, 2019. Disponível em: <https://www.sustentahabilidade.com/beleza-pura-store-lidera-mercado-vegano-no- brasil/>. Acesso em: 19 de abril de 2021. CERTEAU, M., L.,GIARD e P. Mayol. A Invenção do Cotidiano: Artes de Nutrir. Rio de Janeiro: Vozes, 1997. CONTRERAS, Jesús. Alimentação, sociedade e cultura: Crenças e Tabus Alimentares. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2011, p. 167-180. FORACCHI, Marialice Mencarini; MARTINS, José de Souza. Como ser um membro da sociedade. CARVALHO, Tássia. (2020), "Sociabilidade e Alimentação: reflexão sobre o passado e o futuro”. Horizontes ao Sul. Disponível em: <http://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/04/18/SOCIABILIDADE-E- ALIMENTACO-REFLEXO-SOBRE-O-PASSADO-E-O-FUTURO> Acesso em 19 de abril de 2021. http://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/04/18/SOCIABILIDADE-E-ALIMENTACO-REFLEXO-SOBRE-O-PASSADO-E-O-FUTURO http://www.horizontesaosul.com/single-post/2020/04/18/SOCIABILIDADE-E-ALIMENTACO-REFLEXO-SOBRE-O-PASSADO-E-O-FUTURO
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