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Livro de apoio da disciplina Leitura e Produção de Textos

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Curso de Educação à Distância
Licenciatura em Letras
Leitura e
Produção de Texto
Conteúdo Program
ático - Período 1
4
LIVRO 01
Presidente da República Federativa do Brasil
Dilma Rousseff
Ministro da Educação
Aloisio Mercadante
Presidente da Capes
Jorge Almeida Guimaraes
Universidade Federal de Alagoas
Reitor
Eurico de Barros Lobo Filho
Vice-Reitor
Rachel Rocha de Almeida Barros
Coordenador UAB/CIED
Luis Paulo Leopoldo Mercado
Coordenador Adjunto UAB/CIED
Fernando Silvio Cavalcante Pimentel
Coordenação de Projetos e Fomentos/CIED
Mylena Araujo
Coordenadora do Núcleo de Formação/CIED
Lilian Carmen Lima dos Santos
Coordenação de Tutoria/CIED
Rosana Saria de Araujo
Coordenador do Núcleo de Comunicação e 
Produção de Materiais Didáticos/CIED
Guilmer Brito 
Responsável pelos Projetos de Design 
Gráfico/CIED
Raphael Pereira Fernandes de Araújo
Projeto Gráfico 
Luiz Marcos Resende Júnior
Diagramação e Finalização
Lucas Gerônimo Villar
5Licencenciatura em Letras - Espanhol
Livro de Conteúdo
Leitura e produção de texto
Disciplina 4
Leitura e Produção de Texto
Professora:
Susana Souto Silva
Revisão ortográfica:
Andréia da Silva Pereira
6 7Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
Livro de Conteúdo Livro de Conteúdo
Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4D4
INTRODUÇÃO
Seja bem-vindo à disciplina Leitura e Produção de Texto 
em Língua Portuguesa, do Curso de Letras a Distância com 
Habilitação em Língua Espanhola! 
Nesta disciplina, serão discutidos procedimentos 
de leitura e escrita, duas complexas práticas sociais aqui 
compreendidas como históricas e culturalmente constituídas. 
Essa reflexão será feita a partir da contínua leitura e produção 
de textos pertencentes a vários gêneros do discurso.
Iremos, portanto, ler e produzir diversos textos, 
buscando compreender o que chamamos língua portuguesa, 
principalmente, em sua dimensão escrita. O nosso desafio 
é fazer isso associando saber e sabor, duas palavras que têm 
o mesmo étimo (origem). As diversas atividades propostas 
buscam, portanto, aliar a dimensão acadêmica do aprendizado 
à experiência lúdica de conhecimento da língua, que estão 
intimamente associadas ao conhecimento de nós mesmos e 
do mundo. 
“As coisas. Que tristes são as coisas consideradas sem 
ênfase”, escreve Carlos Drummond de Andrade, em um dos 
seus belos poemas, “A flor e a náusea”, que compõe o livro 
A rosa do povo. Esse verso é um convite para que vejamos 
com ênfase, com entusiasmo, o estudo que iniciamos. É 
também um lembrete de que o processo de conhecimento 
é um processo de perplexidade, de dúvida, um processo que 
exige abertura para o novo e o contínuo questionamento de 
nossas certezas.
Parabéns pela aprovação no processo seletivo do Curso 
de Letras e bom semestre!
8 9Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
Livro de Conteúdo Livro de Conteúdo
Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR
Meu nome é Susana Souto Silva. Fiz graduação em Letras: 
Português/Literatura, na Universidade Federal de Alagoas. 
Cursei o mestrado em Literatura Brasileira, na Universidade 
de São Paulo, onde desenvolvi pesquisa sobre a obra de Clarice 
Lispector que resultou na dissertação intitulada “Diálogos 
possíveis: primeiros críticos de Clarice Lispector” (1999). 
O meu doutorado foi realizado na Universidade Federal 
de Alagoas, na área de Estudos Literários, com a tese “O 
caleidoscópio Glauco Mattoso”, defendida em 2008. Iniciei 
a minha carreira no ensino médio, na década de 90. Em 
1997 comecei a ministrar aula de literatura brasileira e língua 
portuguesa no ensino superior, na Universidade do Oeste de 
Santa Catarina (UNOESC), em Chapecó-SC. No mesmo 
ano, mudei-me para Brasília, onde trabalhei na Universidade 
Católica de Brasília até 2004, ministrando aulas de literatura 
brasileira, teoria literária e língua portuguesa. Em 2008, 
tornei-me professora efetiva na Ufal, universidade na qual 
já atuava desde 2005 como professora substituta. Atuo na 
graduação e na pós-graduação da Faculdade de Letras; além 
de ministrar aulas, oriento trabalhos de graduação, mestrado 
e doutorado. Organizei, em parceria com Herbert Nunes 
dos Santos, o livro Trilhas do humor na literatura brasileira. 
Publiquei diversos artigos sobre literatura em revistas 
especializadas da área de Letras. Escrevo regularmente para 
a coluna Obra aberta da revista Língua portuguesa. A minha 
pesquisa está centrada na literatura brasileira moderna e 
contemporânea. Para saber mais você pode acessar meu 
currículo lattes (http://lattes.cnpq.br/6356306442921117).
PLANO DE DISCIPLINA
Curso: Letras UAB - Espanhol
Disciplina: Leitura e Produção de Texto em Língua 
Portuguesa
Carga Horária: 80h/a (teórica: 40h/a; Prática: 40h/a)
Professora: Susana Souto Silva
Ementa:
Prática de leitura e produção de texto, de diversos gêneros, 
em português, fundamentadas no conceito de linguagem 
como atividade interlocutiva e no texto como unidade básica 
significativa na língua.
Conteúdos: 
Unidade 1
1.1. Apresentação da disciplina, da docente responsável e 
dos tutores que acompanharão a turma. 
1.2. Apresentação do Plano de Ensino da Disciplina.
1.3. Concepções de língua, leitura e escrita, a partir da 
leitura e produção de textos diversos.
1.4. Leitura de textos teóricos sobre língua, leitura e 
escrita.
1.5. Produção de textos.
Unidade 2
2.1. Compreensão da definição e da diversidade dos 
gêneros do discurso, com base na leitura de textos.
2.2. Produção de textos de diferentes gêneros do discurso: 
narrativa, resumo, resenha e artigo.
Obs.: As questões especificamente gramaticais serão 
abordadas a partir da produção textual dos estudantes, de 
acordo com as principais dificuldades apresentadas.
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
Metodologia:
A metodologia está centrada na concepção de ensino-
aprendizado como uma relação dialógica, que se efetua no 
contínuo debate de textos teóricos, bem como na produção 
textual do estudantes, compreendida como processual.
Serão utilizados os recursos convencionais, aulas 
expositivas, trabalhos escritos em sala, nos encontros 
presenciais, bem como os recursos da modalidade ensino 
a distância, na qual se insere este curso. Além da leitura e 
produção de textos escritos em língua portuguesa, serão 
também utilizados vídeos, depoimentos, músicas, como 
recursos de ensino.
Avaliação:
 Unidade 1. 
Presencial: Análise de textos e elaboração de texto escrito 
acerca da relação entre escrita e leitura.
EAD: Participação no fórum de discussão e questionários 
sobre textos lidos.
 Unidade 2. 
EAD: Leitura de textos teóricos, literários, críticos e 
jornalísticos. Produção de textos de acordo com os gêneros 
estudados: narrativa; resumo do texto de Mikhail Bakhtin; 
resenha sobre obra literária lida; leitura e elaboração de artigo 
sobre tema livre, a ser definido pelos estudante em diálogo 
com a professora responsável.
Presencial: Prova escrita sobre conteúdo ministrado.
Objetivos Gerais: 
Promover a leitura e a produção de textos em língua 
portuguesa, de modo crítico e criativo, a partir de uma 
compreensão dialógica da língua.
Objetivos Específicos:
Compreender as definições de língua, escrita e leitura, 
a partir da contínua prática da leitura e produção de textos;
Conhecer as definições de gêneros do discurso, 
associando-as às práticas de escrita e leitura;
Conhecer as normas de produção de textos acadêmicos, 
com destaque para a elaboração de resumos, resenhas e artigos
Bibliografia
 Básica: 
FARACO, C. A. e TEZZA, C. Prática de textos para 
estudantes universitários. 
Petrópolis, Vozes, 1992.
GALVEZ, C; ORLANDI, E. e OTONI, P. (Orgs). O 
texto: escrita e leitura. 
Campinas, Pontes, 1997.
GARCIA, O. Comunicaçãoem prosa moderna. Rio de 
Janeiro, Fundação 
Getúlio Vargas, 1997.
GERALDI, J.W. O texto na sala de aula. Cascavel, 
Assoeste, 1984.
SERAFINI, M. T. Como escrever textos. Rio de janeiro, 
Globo, 1990
 Complementar:
Está disposta ao longo dos textos deste material e será 
apresentada também no ambiente virtual, relacionada a cada 
tópico do programa.
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4CONCEPÇÕES 
DE LÍNGUA, 
LEITURA E 
ESCRITA
Unidade 1:Orientações iniciais aos alunos.
Planeje as suas leituras. Leia cuidadosamente o Plano de 
Curso e tente se programar para cumprir todas as atividades 
previstas, leituras e produção de textos. 
O encontro presencial é importante para conhecer o 
docente, colegas e tutores. Procure chegar na hora prevista 
para o início da aula. 
Pergunte, seja presencialmente, seja por e-mail, busque 
esclarecer dúvidas e solicitar mais exemplos, quando o 
conteúdo não ficar claramente exposto para você. Não acumule 
dúvidas, elas irão atrapalhar bastante o desenvolvimento do 
seu curso.
Organize um horário de estudos e cumpra-o. A disciplina 
na EAD é fundamental, pois o tempo das disciplinas é mais 
concentrado. Tente manter um ritmo diário de leitura e 
elaboração de textos (trabalhos solicitados). P
Para compreender melhor os textos lidos faça um 
fixamente. O fichamento consiste em um resumo comentado, 
você faz um resumo das ideias centrais do texto estudado e 
acrescenta comentários e observações. Toda vez que encontrar 
uma palavra desconhecida, procure-a no dicionário
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
Apresentação
Ao longo desta unidade, que se divide em duas semanas 
de aulas, nós iremos discutir concepções de língua, leitura 
e escrita. Essa discussão se dará com base em teóricos 
representativos da área, bem como a partir da leitura de 
textos elaborados pela docente responsável pela disciplina. 
A reflexão teórica pretende ampliar as possibilidades de 
compreensão das práticas do texto.
É importante que o estudante realize as leituras 
indicadas, no material impresso e também ambiente virtual, 
e efetue as atividades propostas de acordo com o cronograma 
estabelecido, a fim de que a disciplina cumpra seu papel e 
possa ser proveitosa para todos!
A língua, essa (des)conhecida
“Gosto de sentir minha língua roçar
A língua de Luís de camões
Gosto de ser e estar
E quero me dedicar
A criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões”
(Caetano Velo, Língua)
Há muito tempo, nós conhecemos a língua portuguesa, 
nós a falamos, ouvimos e lemos diariamente. Ela faz parte 
de nossa vida desde que nascemos e somos inseridos em 
um universo em que ela é fundamental, como é o caso do 
Brasil e de todos os demais países do mundo que a têm como 
língua oficial. Muitos, no entanto, dizem que não conhecem 
língua portuguesa (o engraçado é que dizem isso em língua 
portuguesa!). Normalmente, quando as pessoas dizem que 
não conhecem a sua própria língua, elas estão dizendo que 
não dominam as normas que regem as formas consideradas 
“cultas” de produzir enunciados orais ou escritos em sua 
língua. Essa afirmação está, não raro, calcada na noção de 
língua como um código, algo homogêneo, estável, que pode 
ser dominado de modo completo, noção essa que circula 
com frequência no cotidiano, pois faz parte de um senso 
comum sobre a língua, uma visão que é difundida e aceita 
pela maioria. No entanto, diversos estudiosos da linguística, 
a partir de cuidadosas pesquisas, já questionaram essa noção 
e mostraram que a língua é um complexo sistema, que se 
constitui de modo processual, em um contexto histórico, 
social, político, econômico, cultural, um desses estudiosos, 
o teórico russo, linguista, filólogo, estudioso da literatura, 
Mikhail Bakhtin afirma que “[...] a língua não é um 
sistema abstrato de formas normativas, porém uma opinião 
plurilíngue concreta sobre o mundo. Todas as palavras evocam 
uma profissão, um gênero, uma tendência, um partido, uma 
obra determinada, uma pessoa definida, uma geração, uma 
idade, um dia, uma hora. Cada palavra evoca um contexto 
ou contextos, nos quais ela viveu sua vida socialmente tensa” 
(BAKHTIN, QLT, p. 96). Bakhtin chama a nossa atenção 
para o fato de que a língua existe a partir da imensa variedade 
com a qual os falantes elaboram seus enunciados, ela está 
vinculada a um contexto, não é algo abstrato e perfeito.
 Esse complexo sistema é heterogêneo e vivo, pois é afetado 
por tudo que nos constitui como povo e cultura. Assim, é 
bom lembrar que esse sistema não pode ser “dominado” por 
um único falante, não pode ser completamente conhecido, 
pois está em contínua transformação e é formado por uma 
grande variedade de elementos, ele é, portanto, heterogêneo 
e dinâmico. Elaborar enunciados orais ou escritos em língua 
portuguesa é participar de uma comunidade de falantes 
dotada de uma dinâmica que não pode ser completamente 
apreendida pelas regras da gramática, compreendida de 
modo equivocado apenas como um livro que apresenta um 
conjunto de regras “corretas”. Gramática é algo muito mais 
complexo, como vocês irão ver nas aulas de linguística. É 
importante ressaltar que as regras, que estudamos em todos 
os nossos longos anos na escola, são muito importantes, 
mas é ingênuo e inexato pensar que conhecer a língua é 
conhecer apenas essas regras, é memoriza-las e aplicá-las de 
modo rigoroso. Nem elas mesmas são rigorosas, são cheias 
16 17Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
de exceções; elas são importantes, mas devem ser pensadas 
também como parte da língua, não como a totalidade da 
língua. Não se trata também de um aprendizado que passa 
pela memorização e aplicação de normas. Em um curso de 
Letras, escrever e ler não se dissociam da reflexão acerca da 
leitura e da escrita. Cristovão Tezza e Carlos Alberto Faraco 
postulam que “A primeira coisa que devemos fazer ao pensar 
sobre a realidade da língua, é separá-la em duas categorias 
básicas: língua falada e língua escrita. Na verdade, a realidade 
primeira da língua é a fala, tanto na história da humanidade 
como na nossa história pessoal. Isto é, a escrita surgiu depois, 
e fundamentada na realidade da fala.” (2001, p. 9).
Falamos e escrevemos de modos distintos. Basta 
observarmos as pessoas a nosso redor. O melhor de pesquisar 
a língua portuguesa, em nosso caso, é que o nosso cotidiano 
se constitui como um amplo espaço de pesquisa. Um bom 
exercício para apreender a complexidade, a heterogeneidade, 
a multiplicidade da língua, é passar um dia anotando modos 
variados de falar e escrever. Faça esse registro e você se 
surpreenderá com a riqueza da língua. Observe, inclusive e 
principalmente, você mesmo, os modos como fala e escreve, 
quando, como, com quem... Há, portanto, vários modos de 
falar e escrever uma língua. Cada um de nós conhece vários 
desses modos, falamos de maneiras distintas em contextos 
distintos, somos mais ou menos formais de acordo com a 
circunstâncias. Não há modos melhores ou mais corretos, há 
modos diferentes, que estão associados a distintas situações 
concretas, regidas também por normas diversas, que 
remetem a modos de interação social. Como pesquisadores 
da linguagem, cabe a nós compreender, sem acusações ou 
julgamentos, como nós e as demais pessoas falam, leem e 
escrevem língua portuguesa.
Para nos ajudar a compreender a complexidade da 
língua, ao mesmo tempo, tão conhecida e tão misteriosa, 
nós iremos ler alguns textos teóricos. Além disso, em outras 
disciplinas, como Linguística, vocês irão aprofundar esseconhecimento, ampliando as possibilidades de compreensão 
da língua. O que é importante registrar é que a língua não 
pode ser conhecida plena e absolutamente. 
a
Atividade 1
Veja o que diz o Projeto Político Pedagógico do Curso de 
Letras a Distância: Habilitação espanhol (2012, p.21): 
Pode-se falar de dois grandes modelos teóricos 
de interpretação da linguagem humana, que 
foram desenvolvidos a partir do surgimento da 
Linguística, no começo do século XX: um que 
entende a língua numa concepção formalista e outro 
que a entende numa perspectiva social/cultural ou 
social/discursiva. Esses modelos se distinguem da 
concepção tradicional, que identifica o estudo da 
linguagem com o estudo da gramática.
Para você, o estudo da língua é apenas o estudo 
da gramática? Desenvolva sua resposta, apresentando 
argumentos que a justifiquem. Pesquise, na internet, opiniões 
de um gramático, de um linguista e de um escritor (romancista, 
cronista, poeta, contista...) sobre essa questão e compare-as.
ATIVIDADE 2
Ouça a canção “Língua”, de Caetano Veloso, leia a letra 
da canção, escolha um trecho e comente-o, associando-a à 
reflexão sobre língua portuguesa que o texto acima propõe.
Algumas definições de leitura
 
Abordar a leitura é uma tarefa difícil, pois essa palavra 
não nos remete para um conceito fechado, arrumado, pronto 
para ser memorizado por um estudante aplicado. Antes, a 
palavra leitura nos leva para um conjunto de práticas difusas, 
que vão do prazer ao dever, que passam pela relação com o 
jogo, com o conhecimento, com a sonoridade da palavra, com 
sua visualidade. Lemos não apenas as palavras, lemos o céu, 
a
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
para saber se vai chover, lemos o mar, para saber se a maré 
está baixa ou alta, lemos as expressões faciais daqueles que 
amamos ou que tememos, lemos o aspecto da comida antes 
de consumi-la (o que envolve não apenas a dimensão visual, 
mas também olfativa, por exemplo), lemos inclusive o silêncio, 
pois, em muitos momentos, ele é bastante significativo. A 
semiótica, a área de conhecimento que estuda os processos 
de significação, afirma que o mundo é um grande texto que se 
oferece a nossa compreensão o tempo todo. Sabemos disso 
e exercitamos continuamente a busca de sentido para o que 
vemos, ouvimos, sentimos, pensamos... Aqui, iremos tratar de 
modo mais específico da leitura de textos escritos em língua 
portuguesa, ou seja, iremos nos restringir a pensar a leitura 
de textos escritos com palavras, com signos linguísticos.
Nunca, na história da humanidade, houve tantas pessoas 
aptas a ler textos escritos. Vivemos em uma sociedade na 
qual a escrita é central. É em textos escritos que circulam as 
leis que regem nossa vida, pois pertencemos a um Estado 
de Direito. Em textos escritos, temos também a difusão de 
trabalhos científicos. Nossas relações profissionais, amorosas 
(o casamento, por exemplo) são regidas por contratos 
escritos. Diariamente lemos e escrevemos uma significativa 
quantidade de textos em diversos suportes, no jornal, no 
livro impresso, na tela do computador, na aparelho celular... 
Estamos cercados de textos por todos os lados. 
Como nos ensinam os teóricos, toda leitura envolve 
seleção, julgamento, comparação com textos anteriormente 
lidos. Um bom modo de leitura é começar pela origem da 
palavra. No caso da palavra leitura, seu étimo, “lego”, nos 
leva ao verbo colher, que também nos remete à ideia de 
escolha, quando colhemos algo, nós o escolhemos. Um 
primeiro ponto, portanto, que vale destacar é que a leitura 
é um processo seletivo, não lemos “tudo”, selecionamos, 
colhemos, escolhemos alguns elementos do texto. Segundo 
Roland Barthes, um estudioso francês, autor de muitos livros 
interessantes que vocês conhecerão ao longo do curso de 
Letras, a leitura não é um processo isolado, solitário, mesmo 
quando estamos sozinho, nós realizamos um ato que foi 
aprendido, que é regido por normas que absorvemos, pois 
“(...) toda a leitura deriva de formas transindividuais: as 
associações engendradas pela letra do texto (mas onde está 
essa letra?) nunca são, façamos o que fizermos, anárquicas; 
são sempre tiradas (colhidas e inseridas) de certos códigos, 
de certas línguas, de certas listas de estereótipos. A leitura 
mais subjetiva que se possa imaginar nunca é senão um 
jogo conduzido a partir de certas regras.” (1984, p. 28). E 
Barthes pergunta: de onde vêm essas regras? E propõe 
como resposta que elas vêm “(...) de uma lógica milenar da 
narrativa, de uma forma simbólica que nos constitui mesmo 
antes do nascimento, numa palavra, desse imenso espaço 
cultural de que nossa pessoa (de autor, de leitor) não é senão 
uma passagem.” (1984, p. 28).
Ler, em sua origem, também tem o sentido de enumerar: 
“ler: a palavra veio tal e qual, por simples transposição, do 
grego e do latim para as línguas modernas. Como designa 
a atividade de recepção do texto escrito? Parece ser por 
intermédio de um dos sentido que nem em latim nem em grego 
é o primeiro: contar, enumerar. Ao ler, enumero unidades de 
texto, letras, sílabas, ou outras” (BARTHES & COMPAGNON, 
1978, p. 188). Nesse mesmo texto, o verbete intitulado 
“Leitura”, da Enciclopédia Einaudi, os autores apresentam e 
discutem concepções correntes de leitura. 
Começam destacando que “ler é uma técnica”. Essa 
definição é muito difundida e pressupõe que, sendo uma 
técnica, a leitura comporta um aprendizado, ou seja, é algo 
aprendido, não é algo natural, que já sabemos sabendo. Esse 
aprendizado confronta-se com dois modos extremos: um que 
pode reafirmar a miragem do literal, como não raro a escola 
faz, criando a ideia de que há um sentido único, fechado, 
que pode ser apreendido pelo emprego correto da técnica, 
o que leva, muitas vezes, o leitor que não consegue chegar 
a esse sentido, a sentir-se fracassado, incapaz, desanimado 
para prosseguir em seu aprendizado. E há outra forma de 
pensar a leitura que irá levar-nos à literatura, texto em que 
o sentido não está determinado, pronto, fechado, o que é 
chamado de plurissignificação, uma vez que o texto literário, 
quase sempre, ressalta e fortalece a polissemia (poli= 
muitos, diversos e sema = sentido, significado). No entanto, 
ecoa nessa concepção a noção de língua como código, que 
precisa apenas do domínio da técnica, o que não corresponde 
20 21Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
à complexidade da língua ou da leitura.
Em seguida, examinam a definição de leitura como uma 
prática social. Essa definição destaca o fato de que a leitura 
é uma atividade regulada institucionalmente pelo estado, ela 
envolve diversas instituições, restrições e normas. 
Ler é também pensado como “uma forma de 
gestualidade”. Lemos com o corpo. Deitados, sentados, em 
voz alta, agregando gestos largos ou contidos, transformando 
em outros signos as palavras escritas no livro que temos a 
nossa frente ou na tela do computador. Ler é também fazer 
alguns gestos. Outra definição corrente de leitura é de que 
ela se constitui como uma “forma de sabedoria”. De acordo 
com essa concepção, bastante difundida, aliás, a leitura 
põe em comunicação um “sujeito” e um “tesouro”. Ela é via 
de acesso ao conhecimento. É um modo de absorvermos 
esse conhecimento. Por isso, credita-se aos leitores uma 
grande sabedoria, um grande acúmulo de conhecimentos, 
informações. A escola é uma instituição que se baseia, quase 
sempre, nessa ideia muito difundida. Infelizmente, há um 
preconceito que deriva, muitas vezes, dessa concepção, a 
desvalorização dos saberes tradicionais que são passados de 
geração à geração oralmente. O livro tende a ser sacralizado, 
em nossas sociedades de escrita, porém, não podemos 
incorrer nessa sacralização,devemos manter sempre viva a 
crítica em relação a todo tipo de texto; não é por que algo 
foi escrito em um livro que se tornou verdadeiro, correto, 
demonstrado. Tampouco faz sentido desprezar o que não está 
escrito, como se os saberes tradicionais não fossem dotados 
de valor porque estão fora dessa forma de circulação.
 Correlata à noção de ler como uma técnica, há outra em 
que a leitura é vista como um método, segundo Compagnon 
e Barthes. Mais do que uma técnica, nessa acepção ela é 
vista como um método intelectual destinado a organizar o 
saber. Então a leitura confunde-se com a escrita. A técnica 
seria a primeira etapa, é um conhecimento amplo, que 
pressupõe o domínio das normas de relações estabelecidas 
entre os sinais gráficos que desenham a página em branco. 
Mas essa técnica é insuficiente, daí a noção de método. 
Aprendida a técnica, cabe ao leitor ser iniciado em métodos. 
Essa noção remete também aos mecanismos de controle da 
leitura, a sua dimensão social. Não basta saber “decodificar” 
os sinais gráficos, é preciso agora fazer associações que 
estão além da superfície do texto. É preciso articular aquele 
texto com outros, para compreender sua trama de conceitos 
e referências, seu lugar na tradição, de acordo com um saber 
institucionalizada, reconhecido como válido. Daí a existência 
de textos intitulados: Lendo Foucault, Como ler Machado de 
Assis, Roteiro de leitura de A hora da estrela.... Para ler um 
texto é necessário ler outros que irão guiar a sua leitura. Essa 
noção de leitura é muito vinculada ao mundo acadêmico.
 Dando continuidade ao exame das definições mais 
correntes, comuns, de leitura Barthes e Compagnon 
afirmam que a leitura é “uma atividade voluntária”, voluntária 
no sentido de estar desvinculada de uma obrigação ou de 
uma perspectiva pragmática, fora das relações de troca que 
marcam outras atividades. Essa ausência de uma “utilidade” 
irá justificar, muitas vezes, em uma sociedade de consumo 
(do útil) a condenação da leitura do texto literário como uma 
atividade in-últil. Interessante notar aqui que a leitura é uma 
atividade que pressupõe vontade e também autonomia. 
Ninguém poderá ler por você, podem até ler para você, mas a 
leitura só ocorrerá se você prestar atenção, se tiver interesse 
no que está sendo lendo ou no que você estiver lendo. Fala-
se em hábito de leitura, mas essa é uma expressão falha, 
pois hábito remete a uma repetição mecânica de algo. A 
leitura é um momento de fruição, de mergulho no texto, de 
compreensão. Não é um hábito, é um modo de apreensão do 
mundo e da língua, que envolve uma série de conhecimentos 
do mundo, da língua, de nós mesmos.
Todas essas concepções arroladas por Barthes e 
Compagnon estão em nossa vida, são difundidas diariamente 
e nos ajudam a pensar a leitura. Nenhuma delas é suficiente 
para esgotar esse ato complexo, mas todas nos ajudam 
a pensar como a nossa sociedade pensa a leitura, qual o 
sentido que essa prática tem em nosso cotidiano, em nossa 
formação acadêmica, religiosa, profissional. 
 Michel de Certeau assina um belo texto intitulado “Ler: 
uma operação de caça”. Podemos inicialmente pensar na 
metáfora que o título propõe como definição de leitura: caça. 
Como caçamos? Por que caçamos? O que caçamos? A 
22 23Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
caça está associada à necessidade, as pessoas caçam para 
se alimentar, e também ao jogo, caçam para se divertir (hoje 
cada vez menos, a não ser que você pertença à família real 
inglesa). A caça, assim, remete à necessidade e à diversão. 
Podemos, então, pensar essa dimensão dupla da leitura. 
Lemos por prazer, lemos por necessidade, para cumprir 
as tarefas escolares, as obrigações profissionais. Na bela 
imagem de Certeau, sonos caçadores furtivos em terras de 
outros proprietários. Não raro, o resultado dessa caça vai ser 
reelaborado em outros textos, nos nossos textos.
Não há um sentido único inscrito no texto ao qual se 
chega pelo método correto, certo, adequado. O que o 
leitor faz, segundo Michel de Certeau, é combinar “[...] os 
fragmentos e criar algo não–sabido no espaço organizado 
por sua capacidade de permitir uma pluralidade indefinida 
de significações” (2001, p. 265). Utiliza ainda a imagem 
da bricolagem para falar da leitura, na qual vários textos são 
agregados. Nessa bricolagem, entra um mecanismo que 
denomina “arte sutil”. Uma arte que infiltra no texto lido mil 
diferenças e relações, a partir de avanços e recuos, típicos 
do ato da leitura. O leitor insurge-se, pula, elimina, corta, 
edita... Caçamos o que nos interessa, observamos com mais 
atenção o que reconhecemos, o que nos afeta, o que move 
nossos afetos. Assim, é diferente ler uma carta de amor e ler 
um relatório de trabalho.
Ao longo de um curso de letras, nós iremos à caça de 
muitos textos, iremos percorrer várias florestas de signos, 
para retomar a bela imagem de Paul Valéry, Essas caçadas 
serão feitas com as armas que tivermos. Cabe a esta 
disciplina fornecer mais instrumentos para que essa caçada 
seja significativa, seja produtiva. Não no sentido de nos levar 
ao acúmulo de alimentos que não iremos sequer provar, 
mas na acepção de trânsito por territórios, textos diversos, 
que nos mostrarão que nem sempre encontramos o que 
incialmente pretendíamos, mas podemos descobrir modos 
outros de circular pela floresta de signos. Saímos para caçar 
algo que pensávamos conhecer e encontramos o que sequer 
suspeitávamos existir nessa floresta, nesse texto, que lemos. 
Quando lemos, portanto, fazemos funcionar o nosso 
corpo, a nossa memória, aquilo que sabemos acerca da língua, 
a
do mundo, do outro, de nós mesmos, de diversos asuntos. 
Entramos em um universo que tem regras. Selecionamos e 
combinamos elementos a fim de construir sentidos possíveis, 
sabendo que não há um único sentido para nenhum enunciado, 
seja oral, seja escrito, que a língua é o espaço da diversidade, 
da multiplicidade, não da univocidade. No entanto, não lemos 
de modo aleatório ou totalemente livre. Dizer que um texto 
permite várias interpretações é muito diferente de afirmar que 
ele aceita qualquer interpretação. No âmbito da universidade, 
as nossas leituras são guiadas por métodos, procedimentos. 
Aquilo que nós articulamos a partir do que lemos deve ser 
fruto da reflexão. Aqui vocês exercitarão outros modos de 
leitura. Espero que o prazer não seja eliminado. Há uma 
visão corrente segundo a qual a análise de um texto elimina 
o prazer que sentimos com a leitura. Não acredito nisso. Há 
também um prazer na leitura crítica, na leitura orientanda 
por métodos. Quando escolhemos o curso de letras, fomos 
movidos pela paixão pela língua, pela literatura, já somos 
pessoas apaixonadas pela linguagem e por tudo que ela 
envolve e constitui.
 Antes de concluir esse breve texto sobre leitura, gostaria 
que vocês observassem (lessem) como ele foi produzido. Há 
vários outros autores que participam da reflexão proposta 
sobre leitura. O meu texto se faz como espaço de encontro de 
outros textos que li e reuni aqui. Não sou uma autora isolada, 
que “rompe o eterno silêncio de um mundo mudo” (BAKHTIN, 
p. 291). Escrevo a partir do que li e reelaboro essas leituras 
em um novo texto, em um outro texto, que assino e ofereço 
para outros leitores. O meu texto é formado por outros e é 
também convite para que vocês leiam os textos aqui citados. 
Ele parte desses textos e projeta novos leitores para esses 
textos, em um movimento que não se esgota e que destaca o 
que há de intertextual e dialógico em qualquer enunciado.
ATIVIDADE 3
Vamos conhecer outras reflexões sobre leitura. Selecione 
uma delas e comente-a.
24 25Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4Texto 1
“[...] ao seguiro texto, o leitor pronuncia seu sentido 
por meio de um método profundamente emaranhado de 
significações aprendidas, convenções sociais, leituras 
anteriores, experiências individuais e gosto pessoal.”
“[...] Para extrair uma mensagem desse sistema de sinais 
brancos e pretos, apreendo primeiro o sistema de uma 
maneira aparentemente errática, com olhos volúveis, e depois 
reconstruo o código de sinais mediante uma cadeia conectiva 
de neurônios processadores em meu cérebro, cadeia que 
varia de acordo com a natureza do texto que estou lendo e 
impregna o texto com algo – emoção, sensibilidade física, 
intuição, conhecimento, alma – que depende de quem eu sou 
e de como me tornei o que sou”
(MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. Trad. Pedro 
Maia Soares. São Paulo: Cia. das Letras, 1997, p. 54-55)
Texto 2 
“Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o 
sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-
lhe significação, conseguir relacioná-lo a todos os outros 
textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de 
leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, 
entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo 
outra não prevista”
(LAJOLO, Marisa. O texto não é pretexto. In: ZILBERMAN, 
Regina (org.). Leitura em crise na escola: as alternativas do 
professor. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982, P. 59).
Texto 3
“Admitamos, como a maior parte dos autores, eu um texto 
só existe, verdadeiramente, na medida em que há leitores 
(pelo menos potenciais) aos quais tende a deixar alguma 
iniciativa interpretativa; tendência crescente, na medida em 
que diminui a função informativa ou imperativa do texto em 
causa” (p. 27)
“[...] a leitura é diálogo. A ‘compreensão’ que ela opera é 
fundamentalmente dialógica: meu corpo reage à materialidade 
do objeto, minha voz se mistura, virtualmente, à sua.” (p. 74)
(ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. Trad. 
Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 
2000).
 
Escrita e intertextualidade
Intertextualidade é uma palavra que se faz a partir de 
duas outras: “inter”, que significa “relação”, “articulação”, 
e “textualidade”, que, segundo o Dicionário Eletrônico 
da Língua Portuguesa, significa “qualidade, condição ou 
caráter do que é textual”. Essa noção deriva de uma outra 
elaborada por um teórico russo, Mikhail Bakhtin, denominada 
dialogismo. Julia Kristeva, uma pesquisadora búlgara 
radicada na França, leu Bakhtin, e propôs, então, o conceito 
de intertextualidade, ou seja, a noção de que um texto se faz a 
partir da leitura e incorporação de outros textos, da articulação 
com outros textos e com outras elaborações simbólicas.
Mas afinal o que seria o dialogismo? A etimologia da 
palavra pode nos dá uma boa pista. Vejamos. Essa palavra 
vem do grego: “diá”, que significa “através de” (lembra-
se de “diacrônico”?) e “logos”, que é “ideia”, “conceito”, 
“palavra”. Decompondo a palavra e recuperando a sua 
origem grega, temos: através de ideias, conceitos diferentes. 
Assim, para Bakhtin, todo enunciado, oral ou escrito, “é um 
elo da cadeia muito complexa de outros enunciados” (1992, 
p. 291). Aprendemos a falar ouvindo ou observando outras 
pessoas falando. Assim como aprendemos a escrever lendo, 
não só os livros, os textos de outros autores, mas o mundo. 
Nossos textos são respostas a esses outros textos. Nessa 
perspectiva, todo enunciado é dialógico, é intertextual.
Vamos recuperar a história desta palavra tão usada: 
texto. Etimologicamente, texto tem um parentesco com 
tecido. Texto e tecido têm a mesma origem. Em tecido essa 
origem permanece de forma mais evidente no adjetivo a ele 
correspondente – “têxtil”. 
26 27Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
A imagem do tecido pode nos levar a uma visualização 
da intertextualidade: assim como o tecido é elaborado a partir 
do entrecruzamento de fios, em duas direções, o que dá a ele 
elasticidade, leveza ou rusticidade, compondo a trama das 
estampas, o texto também é formado pelo entrelaçamento 
de outros textos lidos/ouvidos/vistos, enfim, conhecidos 
anteriormente pelo autor. Todo autor é, portanto, também um 
leitor, do mundo ou de outros textos, de uma tradição, que se 
transmite de forma oral ou escrita. Ele tece o seu texto com 
fios de outros textos, que ele combina de modos diversos.
Escrever é tecer fios de outros tecidos, é compor a 
tessitura do seu enunciado com os fios de outros textos, 
reelaborando a sua ou outras tradições, respondendo ao 
estímulo que outros autores lhe provocaram, como os fios de 
galo do poema de João Cabral, significativamente intitulado 
“Tecendo a manhã”:
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
 Nesse belo poema de João Cabrl, nós temos uma 
imagem de vozes distintas, de galos, que podem ser lidos 
como metáforas de todas as outras vozes/textos/enunciados, 
que se cruzam e assim formam a manhã. Não há canto isolado, 
o canto existe como ligação com um outro canto, é retomada, 
ligação com algo anterior. A língua se processa de modo social, 
ela não pertence a um indivíduo isolado, como nos ensinou 
Saussure. Nós quando falamos nos inserimos nessa longa 
cadeia de enunciação. Por exemplo, quando escolhemos um 
nome para um filho, nós pensamos nos significados desse 
nome. Quase sempre se escolhe um nome que remeta a algo 
positivo, até mesmo algo extraordinário, fora do ordinário, do 
comum, como um nome de santo, no Catolicismo, damos 
nomes que irão atuar como proteção, Antônio, Francisco, 
José, Maria. Escolhemos esses nomes a partir de um conjunto 
de referências que fazem parte da nossa cultura, que guiam a 
nossa relação com a palavra. Normalmente, não escolhemos 
Judas ou Caim, nomes associados a narrativas bíblicas que 
são vistas como negativas ou violentas. Falar e escrever 
é inserir-se em uma rede de significação que precede 
esse momento em que elaboramos nosso enunciado. Na 
universidade, tomamos mais consciência dessas conexões, 
investigamos os modos como distintos enunciados se 
articulam, qual a fundamentação teórica, qual o fio de diálogo 
que liga um teórico que publicou um livro hoje a um outro que 
viveu antes mesmo do nascimento de Cristo, por exemplo. 
Por meio da leitura e escrita, recompomos um grande diálogo 
que os textos estabelecem entre si e participamos também 
desse diálogo.
Pois bem. A intertextualidade define o texto (assim 
como todo e qualquer enunciado escrito ou oral) como 
entrecruzamento de outros (diversos) textos, trama de ideias, 
ideias que se deixam ver nas linhas e entrelinhas do mosaico 
que vamos compondo a partir do conhecimento de outros 
tantos tecidos/textos. Escrever é, portanto, colocar textos em 
diálogo, interligá-los, articulá-los, ligá-los, fundi-los.
A noção de originalidade é, assim, questionada. Noção 
esta que nem sempre teve o mesmo significado. Na Idade 
Média, original era aquilo que tinha existido desde o início; 
depois, houve uma inversão no significado e original passou 
a ser o que rompia com o que havia desde o início, criando 
um novo objeto, sem precedentes. Agora estamos diante de 
uma teoria que propõe a impossibilidade da originalidade 
absoluta, já que lidamos com a língua, um sistema complexo 
necessariamente social. Ser absolutamenteoriginal, no 
sentido romântico, pressupõe a criação de uma língua até 
28 29Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
então desconhecida, um sistema de comunicação inédito 
e, portanto, inócuo, pois sem a existência de um grupo, 
previamente conhecedor dessa língua não é possível 
a compreensão do que está sendo dito/escrito, enfim, 
enunciado:
O próprio locutor como tal é, em certo grau, um 
respondente, pois não é o primeiro locutor que 
rompe pela primeira vez o eterno silêncio de um 
mundo mudo, e pressupõe não só a existência 
do sistema da língua que utiliza, mas também a 
existência dos enunciados anteriores – emanantes 
dele mesmo ou do outro – aos quais seu próprio 
enunciado está vinculado por algum tipo de relação 
(fundamenta-se neles, polemiza com eles), pura e 
simplesmente já os supõe conhecidos do ouvinte. 
(BAKHTIN, 1992, p. 291)
 
Claro que ainda podemos definir fronteiras para o plágio, 
a cópia desonesta, que visa se apropriar de modo indébito da 
criação de outrem. Mas esta é uma questão cada vez mais 
discutida pela Justiça (há inúmeros casos de plágios sendo 
julgados, e direitos autorais hoje constituem uma área em 
franco crescimento). No campo da arte, gera muitos debates 
acerca de apropriações. A arte atua com mais liberdade, 
muitas vezes, questionando os limites das regras, das normas, 
das leis. No campo da ciência, ou da produção acadêmica, 
todos os textos citados literalmente devem ser escritos entre 
aspas, os sinais gráficos que indicam que o trecho citado é de 
outro autor ou de outro texto. Quando é feita uma paráfrase, 
algo muito comum também, deve-se indicar o autor ou os 
autores parafraseados, uma forma de remeter o leitor daquele 
texto para a cadeia enunciativa na qual ele foi elaborado.
 O dialogismo, assim como a intertextualidade, ou a 
ideia da elaboração de obras a partir do conhecimento de 
outras, da referência a outras, ou da incorporação/devoração 
de outras, já havia sido apresentada de formas diferentes 
antes. Bakhtin, no entanto, foi o primeiro a sistematizá-la, a 
elaborar uma teoria e uma proposta de análise do processo 
de elaboração/compreensão de enunciados. Assim como 
a
Julia Kisteva foi também a primeira a elaborar de modo 
sistemático a noção de intertextualidade e de difundi-la como 
procedimento de análise.
Como se pode perceber, na perspectiva da 
intertextualidade, não há separação entre ler e escrever. 
São duas atividades correlatas. Escrevemos a partir do que 
lemos, ouvimos, vemos, pensamos, imaginamos, sonhamos, e 
a leitura é uma reescritura, pois cada leitor modifica o texto, 
dando-lhe novos sentidos.
É nessa passagem que os textos são deixados na 
paisagem, na forma de outros textos. Essas regras de 
elaboração e compreensão são anteriores à leitura e, por isso, 
presidem esse ato, mas elas não são d, têm uma margem de 
transformação, de deslocamento:
Uma história do ler afirmará que as significações 
dos textos quaisquer que sejam, são construídas, 
diferencialmente, pelas leituras que se apoderam 
dele.[...]. Antes de mais nada, [é preciso] dar à 
leitura o estatuto de uma prática criadora [...] 
(CHARTIER, 2001, p.79).
 Escrevemos reunindo textos, incorporando-os, 
devorando-os, dialogando com o anteriormente visto/lido/
ouvido/imaginado. O nosso texto é um lugar de encontro de 
muito textos, um lugar em que eles se encontram e conversam. 
Tramas, teia que se tece e nos enreda, na leitura e na escrita.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad.: 
Maria Ermantina Galvão Gomes Pereira. São Paulo: Martins 
Fontes, 1992.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Vol 1. 
3 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1996.
CHARTIER, Roger. (org.). Práticas da leitura. 2 ed. 
Trad. Cristiane Nascimento. São Paulo: estação Liberdade, 
2001.
MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de 
30 31Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero, por querer.
Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Hebert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema,
Nem Iracema, de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem ngela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato,
E de Layla, de Clapton, eu abdico.
Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.
Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-me-belle, do beattle Paul;
Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmená;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;
E nem a carioca de Vinícius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
a
ATIVIDADE 4
Leia atentamente o texto acima e faça um resumo desse 
texto, em apenas um parágrafo, destacando as ideais centrais 
apresentadas e os principais argumentos. Elenque todos os 
teóricos citados, para perceber que o texto não só aborda 
a intertextualidade, mas também se constroi a partir dessa 
noção, ou seja, a partir do entrecruzamento de outros textos 
lidos.
ATIVIDADE 5
Leia a letra da canção do cantor e compositor 
pernambucano Lenine, “Todas elas juntas num só ser” e tente 
identificar todas as referências intertextuais que ele articula.
Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Ben jor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;
Nem a tigresa nem a vera gata
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia do Los Hermanos.
Só você,
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Disciplina 4
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão
Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.
De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia,
Nenhuma tem meus vivas! E meus salves!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
E nem Roxanne, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! - do mano Xiz!
Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião
Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.
Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.
Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que com seus dotes e seus dons,
Inspira parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madallene, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho;
Ou Mabellene e a sixteen de Chuck Berry,
E a manequim do tímido Paulinho;
Ou como, de Caymmi, a moça prosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas.
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três...
Só você...
Mais que tudo é só você;
Só você...
As coisas mais queridas você é:
Você pra mim é o sol da minha noite;É como a rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Steve Wonder, ó minha parceira.
Você é pra mim e o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a Donna pra Ventadorn, Bernart;
34 35Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
Que a Honey Baby pra Waly Salomão
E a Funny Valentine pra Lorenz Hart.
Só você,
Mais que tudo e todas, é só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser
. 
GÊNEROS DO 
DISCURSO
Unidade 2:
36 37Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
Escrevemos e falamos língua portuguesa há muito tempo, 
quando entramos na universidade, mas mesmo assim ainda 
temos medo de escrever e de falar? Não temos muita clareza 
do que esperam de nós, de como seremos agora avaliados. 
Sabemos, porém, que não sabemos e que teremos dificuldade. 
Mas será que não sabemos? Vamos pensar sobre os chamados 
gêneros do discurso. Para Mikhail Bakhtin, a unidade da 
língua é o enunciado, oral ou escrito. Esse enunciado é 
elaborado a partir do que o teórico russo chama de “consciência 
genérica”, ou seja, do que sabemos acerca da elaboração de 
enunciados. Quando produzimos um enunciado, seja oral 
ou escrito, nós seguimos regras que aprendemos em nosso 
cotidiano, ouvindo, falando, lendo, estudando. Gêneros do 
discurso, para Bakhtin, são “tipos relativamente estáveis de 
enunciados” (ECV, p. 279). Observem que o autor destacou 
“relativamente estáveis”, o que indica que a estabilidade não 
é absoluta, há variações. Há várias possibilidades de elaborar 
enunciados, quando mais possibilidades conhecemos, maior 
o repertório de escolha na hora de elaborarmos os nossos 
enunciados. Damos ordens diariamente, fazemos pedidos, 
declarações de amor, relatórios, seguimos orientações que 
conhecemos, mas também acrescentamos algo que distingue 
o nosso enunciado de outros. 
Os gêneros¹ literários não existem enquanto modelos 
fixos, acabados e impostos. Eles atuam como um referencial 
para a produção. Como já foi dito, Bakhtin, em Estética da 
criação verbal (1992), postula que os gêneros são “tipos de 
enunciados relativamente estáveis” (p. 290) que orientam a 
produção e a leitura desses enunciados, na medida em que, a 
partir do que o teórico russo chama de “consciência genérica”, 
o leitor elabora hipóteses de leitura e, então, submete-se 
(e submete o texto) a um conjunto de possibilidades que 
é modulado, mas não determinado, por essa referência. 
Mesmo quando esse referencial é questionado e subvertido, 
isso só pode ser compreendido no âmbito mais amplo do 
diálogo do autor/leitor com o gênero no qual seu enunciado 
se inscreve, ou seja, só pode ser compreendido porque há 
uma consciência genérica que identifica essa transformação. 
Há uma íntima relação entre gênero e leitura, pois, “Um 
gênero só funciona plenamente se determinar não apenas 
A raiz GEN, de que provém o verbo 
latino gigno, conexiona a forma, 
igualmente latina, genus quer 
com a idéia de sexo (de onde, o 
gênero gramatical) quer com a de 
estirpe ou de linhagem, enquanto 
princípio de classificação: temos 
assim, entre os usos literários da 
palavra, genus scribendi ‘estilo’, e 
os genera literários, agrupamentos 
comparáveis aos das ciências, 
onde subsiste também uma“ 
diferença de generalização (genus, 
por oposição a species)” (SEGRE, 
1989, p. 70).
38 39Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
a estrutura do discurso, mas for igualmente identificado 
pelo público literário, tornando-se assim um coeficiente da 
leitura” (GLOWISNKI, 1995, p. 117). 
Bakhtin vê, porém, a diversidade da atividade humana 
como geradora de novos gêneros, o que o leva a afirmar que 
“[...] cada esfera dessa atividade [a humana] comporta um 
repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e 
ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e 
fica mais complexa” (BAKHTIN, 1992, p. 279). Distingue 
dois tipos de gêneros: os primários e os secundários, sendo 
os primários referentes aos enunciados cotidianos, quase 
sempre orais, de caráter menos elaborado e os secundários, 
relacionados à escrita, “[...] aparecem em circunstância de 
uma comunicação verbal principalmente escrita: artística, 
científica, sociopolítica” (1992, p. 281). Os gêneros primários, 
quando são absorvidos e transmutados pelos secundários, 
“[...] perdem sua relação imediata com a realidade existente 
e com a realidade dos enunciados alheios [...]” (p. 281). 
Ou seja, são recortados da realidade cotidiana pelos limites 
da página do seu suporte, livro, site, jornal, folheto, e pelo 
pertencimento ao discurso literário, o que os relaciona a 
outros enunciados desse mesmo campo e aciona modos ou 
protocolos de leitura. O gênero não é uma lei imutável, ele 
sofre diversas variações no decorrer da história literária.
A relação passa a ser mediada pelo texto que, em sua 
organização, dá novos sentidos para os gêneros absorvidos 
e transmutados. A distinção entre os gêneros, porém, é 
exercício de teorização e, como tal, de redução, pois os 
gêneros parecem resistir à separação pelo contexto, cotidiano 
ou literário. 
Diferentes gêneros são lidos de diferentes modos. A 
leitura é também modulada pelo gênero ao qual o enunciado, 
oral ou escrito, pertence, na medida em que “[...] o receptor 
acomoda o seu aparelho cognitivo às exigências do gênero 
que um dado texto representa e esforça-se, ao longo de sua 
leitura, por adotar uma leitura consentânea com o que o texto 
sugere ou mesmo impõe” (GLOWINSKI, 1995, p. 117).
Há duas posturas básicas em relação à classificação dos 
textos, com as suas respectivas características:
1. normativa, prescritiva – pretende fornecer normas 
para que as pessoas elaborem textos, no caso, quase 
sempre texto literários;
2. descritiva: limita-se a tentar arrolar as características 
de um determinado gênero, sem assumir uma 
postura prescritiva. Tem sido mais comum, nos 
estudos da área.
Segundo Bakhtin ainda, há gêneros, como os literários, 
que são mais abertos à criatividade, que permitem maior 
variação. Outros são mais fechados, como, por exemplo, 
os gêneros ligados ao mundo do trabalho e da burocracia, 
relatórios, cartas comerciais, recibos, notas fiscais...
Há muitos gêneros. Utilizamos diversos em nossa 
vida. Conhecemos as suas regras, mesmo que não sejamos 
capazes de especificá-las. Mas se pararmos para refletir, 
logo descobrimos que já dominamos uma quantidade 
impressionante de modos relativamente estáveis de elaborar 
enunciados, para retomarmos a definição anteriormente 
apresentada. Vamos agora elaborar esse conhecimento em 
três atividades, duas de leitura de textos e uma de produção 
textual.
ATIVIDADE 6
a
Leia o texto “Os gêneros do discurso: problemática e 
definição”, pertencente ao livro Estética da criação verbal, de 
Mikhail Bakhtin, e responda:
1. Como Bakhtin define enunciado?
2. Como define gênero?
3. Qual a relação entre gênero e elaboração de 
enunciados, segundo o autor?
4. Na perspectiva bakhtiniana, qual a relação entre 
gênero e leitura?
40 41Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Leitura e produção de texto Leitura e produção de texto
Disciplina 4
5. Escolha um trecho do texto e comente-o.
6. Elabore uma pergunta relacionada ao texto lido.
ATIVIDADE 7
a
Leia os textos abaixo e indique qual o gênerode cada 
um deles, justificando a sua resposta. Considere: vocabulário 
utilizado, o modo como as palavras estão dispostas na página 
(em verso? Em prosa?), tema (fala de quê?), polissemia (há 
muitos significados?), sintaxe (usa a ordem direta ou não?).
Texto 1
Tragédia brasileira
Manuel Bandeira
Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, 
conheceu Maria Elvira na Lapa – prostituída, com sífilis, 
dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em 
petição de miséria.
Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado 
no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo o 
que ela queria.
Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou 
logo um namorado.
Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um 
tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa.
Viveram três anos assim.
Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael 
mudava de casa.
Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua 
General Pedra, Olaria, Ramos, Bom Sucesso, Vila Isabel, 
Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, 
outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, 
Boca do Mato, Inválidos...
Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de 
sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia 
foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi 
azul.
Texto 2
Cota zero
Carlos Drummond de Andrade
Stop.
A vida parou
ou foi o automóvel?
(Alguma poesia, 1930)
Texto 3
Gregório de Matos Guerra
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha; 
Não sabem governar sua cozinha, 
E podem governar o mundo inteiro.
 
Em cada porta um bem frequente olheiro, 
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha, 
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados, 
Trazidos sob os pés os homens nobres, 
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados, 
Todos os que não furtam muito pobres: 
E eis aqui a cidade da Bahia.
(Obra completa. São Paulo: Cia. das Letras, 1989)
Texto 4
O poder à vista
Jânio de Freitas
42 43Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
O impasse decorrente da presença do deputado-pastor 
Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos 
Humanos e de Minorias não é um caso político qualquer.
Tanto expõe uma situação atual até aqui mal observada, 
como indica uma situação futura bastante problemática no 
Congresso, em particular na Câmara.
O caso em torno do pastor Marco Feliciano agrava-
se mais, com sua decisão de afrontar os opositores e 
entregar a relatoria de projetos, na Comissão, a evangélicos 
notoriamente contrários a tais propostas, referentes a 
assuntos como aborto e sexo profissional.
Mas o comando da Câmara e a maioria dos líderes 
partidários estão acovardados, diante da dupla ameaça de 
reação do grupo de deputados-pastores à saída forçada de 
Marco Feliciano.
Agora, tumultuariam a Câmara com ações deles 
próprios e com grandes mobilizações externas; depois, 
seriam campanhas acusatórias, nas eleições, aos autores de 
“perseguição religiosa” no Congresso.
Marco Feliciano está convidado para uma reunião, 
na terça-feira, com líderes das bancadas partidárias que 
tentariam demovê-lo da permanência como presidente 
daquela Comissão.
(Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/
janiodefreitas/1254867-o-poder-a-vista.shtml. Acesso: 2 de 
ALGUNS GÊNEROS
Narrativa
Narramos muito, narramos de várias maneiras. Narramos 
histórias no cinema, nas artes plásticas, na dança, no teatro, 
nos quadrinhos, nos jornais, na TV, na internet, nos poemas, 
nas músicas, nos contos, nos romances... No cotidiano, também 
narramos muito, seja por escrito, seja oralmente. Quando nos 
acontece alguma coisa importante, ligamos para um amigo ou 
amiga, escrevemos para nós mesmos ou para outros, conversamos 
com alguém, transformamos o que nos aconteceu em narrativa. 
A fofoqueira da cidade é uma grande narradora, conta tudo, 
muda, acrescenta, levanta hipóteses, observa atentamente os 
acontecimentos da tribo. 
Mas afinal por que narramos tanto e de tantas formas? 
Segundo pesquisadores, o homem confere sentido ao que vive 
narrando, quando está triste, quando está alegre, quando está 
entediado, quando está sozinho ou acompanhado, e, assim, tenta 
organizar o que vive, imagina, o que teme, o que deseja, em forma 
de narrativas. Há outras formas também, mas narrar tem sido a 
maneira preferida dos homens desde a época das cavernas, para 
tentar construir algum sentido para o vivido. Desenhos, palavras, 
fumaça, sinais diversos, gravados em pedra, dispersos no ar, 
contam histórias do que somos, do que sonhamos...
Walter Benjamin, um pensador alemão, em um belo texto, “O 
narrador”, diz que a fonte da narração é a experiência que passa 
de pessoa a pessoa, ele acrescenta que a narração é o “lado épico 
da verdade”, ou seja, o lado da verdade que pode ser narrado. 
Afirma ainda que, nos primórdios da arte de narrar, encontramos 
dois grupos principais de narradores: 
1. aquele que viaja muito e conta o que viu em outras terras 
(marujos, guerreiros); 
2. quem permanece em sua terra e narra a sua experiência 
de vida e de trabalho (camponeses). 
Depois os artífices aperfeiçoaram esta arte, pois nas oficinas 
medievais esses dois grupos conviviam, misturavam-se e narravam. 
Da Idade Média nos chegaram as novelas de cavalaria, o universo 
de reis, rainhas, príncipes, bruxas, universo este que ainda hoje 
encanta milhões de leitores no mundo inteiro, em filmes como os 
da série Harry Potter, por exemplo.
Narrativa e memória
Narramos para não esquecer? Essa é uma das hipótese 
dos pesquisadores para o número imenso e a variedade de 
narrativas em nossa vida. Há uma íntima relação entre narrativa e 
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Disciplina 4
memória. O conto é, entre as narrativas, talvez a mais antiga. A que 
começou quando os primeiros homens se reuniram em torno de 
uma fogueira, depois de um dia de caminhada, de caça, de coleta 
de frutas, para alimentar o corpo e o espírito. Há lendas, mitos, 
narrativas diversas organizadas com poucos elementos. 
Muitas das narrativas mais antigas estão reunidas em um 
famoso livro traduzido para várias línguas: As mil e uma noites, um 
livro que tem autoria coletiva, que não tem um só autor figurando 
como criador na capa. De países árabes e da Pérsia, nos vêm 
essas histórias cheias de fatos fora do comum (extraordinários), 
com violência, paixão, morte, feitiços, viagens, traição, amizade... 
A primeira história desse livro fala de um sultão chamado 
Shariar que foi traído pela esposa. Ficou revoltado, matou-a e 
decidiu que nunca mais seria traído. Assim, sempre que desejava, 
ele casava-se e, após a noite de núpcias, mandava degolar a 
esposa (o casamento durava apenas uma noite). Sharazade, 
uma jovem narradora maravilhosa, resolve mudar essa história. 
Oferece-se para a ser a próxima esposa do sultão. Na noite 
do casamento, ela disse a sua irmã: “Fique na porta do quarto, 
quando perceber que não há mais barulho ou movimento, entre 
e peça ao sultão para que eu lhe conte uma última história, antes 
de morrer”. A irmã obedeceu. O sultão concedeu e Sharazade 
contou uma história para a sua irmã e também para o sultão que 
está próximo. Ele fica curioso e seduzido pela narrativa. Quando 
amanheceu, Sherazade ainda não havia terminado a sua história, 
porém, ela silenciou. Ele, curiosos para saber o final, disse: 
“Termine a história”. Ela respondeu: “Não, que eu vou morrer”. 
Ele: “Termine, eu lhe concedo mais alguns minutos”. Ela: “Não. Só 
termino na noite seguinte, se você permitir que eu viva até lá”. Ele, 
movido pelo desejo de ouvir o final da narrativa, concedeu maisum dia de vida a sua esposa. Isso se repetiu por mil e uma noites 
insones, nas quais o sultão ouviu uma narradora adiar sua morte 
com as histórias que conhecia. Após esse tempo, ela, que já havia 
lhe dado um filho, havia provado que era fiel, e foi, então, liberta 
pelo sultão da ameaça, assim também como ficaram livres o sultão 
e o reino, da violência, da morte.
Narramos para não morrer? Narramos porque morremos e 
queremos que muito permaneça após a nossa morte? Narramos 
para adiar a morte? Há muitas interpretações para essa história 
maravilhosa que nos foi legada por um povo distante. Uma delas 
é esta: narramos para adiar a morte. Mas há ainda outra lição: 
Sherazade sobreviveu porque soube narrar e porque soube a hora 
exata de calar.
Nós ainda vivemos as mil e uma noites de várias formas, 
inclusive lendo-as, pois há muitas edições em várias línguas. A 
estrutura de narrar e interromper no auge do suspense para que 
o receptor deseje conhecer o final e volte no dia seguinte foi 
usada pelo folhetim, no século XIX, pela rádio-novela, no século 
XX e ainda hoje orienta a organização das novelas de TV, não é 
verdade? O capítulo do dia termina deixando no ar um suspense, 
criando no público o desejo de voltar a assistir a novela no dia 
seguinte.
Elementos da narrativa
Há muitas formas de narrar. A historiografia narra (ou tenta 
narrar) o que aconteceu a um povo, recuperando uma memória 
social, coletiva. A história do Brasil império, por exemplo, organiza 
os principais fatos vividos por personagens desse período da 
história brasileira. Diversos campos do conhecimento científico 
narram com recursos específicos. Nós mesmos já experimentos 
diversos modos. 
Mas o que é uma narrativa? Quais são os elementos que 
a constituem? A seguir, serão apresentados sucintamente os 
elementos principais da narrativa. Há uma vasta bibliografia sobre 
cada um deles. A pesquisa pode se concentrar mais atentamente 
em apenas um. Por exemplo, é possível pesquisar a construção 
da personagem em um romance de Machado ou o tempo como 
elemento fundamental na narrativa clariceana. 
Em toda narrativa (seja literária, cinematográfica, historiográfica, 
jornalística, etc.), temos ações vividas por personagens (reais ou 
fictícios), situadas no tempo e no espaço; todos esses elementos 
são ordenados de uma determinada perspectiva, ou seja, a partir 
de um foco narrativo. Assim, temos, na definição acima, todos os 
elementos da narrativa: 
•	 enredo: o conjunto de ações apresentadas na narrativa. 
Pode ser ordenado de diversas formas. O modo 
46 47Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
mais convencional é: apresentação, conflito, clímax e 
desfecho;
•	 personagem: podemos escrever/dizer a personagem 
ou o personagem. No primeiro caso, concordamos com a 
etimologia, com a origem da palavra: personagem vem de 
persona, que origina também a palavra personalidade. 
Vale, portanto, lembrar que a personagem tem uma 
configuração física (que pode ser apresentada por meio 
de uma descrição bastante sucinta e econômica pelo 
narrador ou sequer mencionada), mas é principalmente, 
uma personalidade, um conjunto complexo de traços. 
Quase sempre, a personagem é na narrativa o elemento 
do qual mais nos lembramos, talvez porque, não raro, 
elas se parecem conosco, nós nos identificamos com 
elas. Afirma Candido que a personagem “é o elemento 
mais atuante, mais comunicativo da arte novelística” 
(1985, p. 54).
•	 tempo: que pode ser delimitado de modo explícito ou 
não, pode ser cronológico ou psicológico. O tempo na 
narrativa remete à duração da história (posso contar 
um dia da vida de um personagem no século XVII, ou 
posso contar a saga de uma família em três séculos) e o 
tempo em que ela ocorre (escrevo uma história situada 
no século XX ou no século XII e essa escolha afeta todos 
os outros elementos que constituem essa narrativa);
•	 espaço: lugar ou lugares nos quais transcorrem os fatos 
narrados. A descrição do espaço, por exemplo, da casa 
da personagem, pode nos falar da condição econômica 
da personagem. O espaço não é mero cenário, às vezes, 
atua como personagem na narrativa, está intimamente 
articulado com os outros elementos do conto e, às 
vezes, aparece já no título da narrativa breve ou longa: O 
cortiço, de Aluízio Azevedo, O ateneu, de Raul Pompéia, 
São Bernardo, de Graciliano Ramos, Os sertões, de 
Euclides da Cunha;
•	 e foco narrativo: a perspectiva a partir da qual são 
articulados todos os demais elementos da narrativa. 
Aqui, vale a pena recuperar a analogia com o foco da 
câmera fotográfica. Quando tiramos uma foto, nós 
aproximamos ou distanciamos mais o foco. Quando 
aproximamos, podemos ver os detalhes, destacar 
elementos mais sutis. Quando distanciamos, perdemos 
os detalhes, mas englobamos algo mais amplo. Assim 
também o foco narrativo. A narrativa pode ser organizada 
por um narrador onisciente, por exemplo, aquele que, 
semelhante a um deus, tudo sabe, o que as personagens 
fizeram, farão, sentem, pensam etc.
Vamos investigar um pouco mais como esses elementos 
articulam-se em textos de diversos gêneros: conto, novela, 
fábula, romance, crônica. Para isso, todos devem ler o romance 
Vidas secas, de Graciliano Ramos, um dos mais ilustres autores 
alagoanos, que será discutido em um chat, no ambiente virtual, 
bem como as crônicas e contos ali apresentadas, com indicação 
de atividades de reescrita correspondentes. Espero que este seja 
o início de mil e uma noites de leituras instigantes para todos!
Referências
CANDIDO, Antonio. A personagem do romance. In: A 
personagem de ficção. 7. Ed. São Paulo: Perspectiva, 1985.
ATIVIDADE 8
a
Muitos gêneros nós conhecemos ainda na infância. Um 
exemplo disso é a fábula, o texto que se define por:
1. ser uma narrativa, ou seja, contar uma história, com 
personagens, tempo, espaço e foco narrativo;
2. ser, quase sempre, curta;
3. ter como personagens, quase sempre, animais com 
características humanas (eles falam, tem sentimentos...);
4. ter, muitas vezes, no final, a chamada “moral da história”, 
uma lição relacionada à história contada.
48 49Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
Escolha uma fábula, pode ser, por exemplo, “A cigarra e 
a formiga”, de Esopo, transcreva-a e reescreva-a, mudando o 
final e, consequentemente, a moral da história. 
RESUMO
Ao longo do seu curso de graduação, você fará muitos 
resumos dos textos lidos. Os professores irão solicitar 
diversas vezes, resumos, para comprovar a leitura do material 
bibliográfico indicado. O resumo resulta de uma leitura 
atenta, normalmente realizada mais de uma vez, a fim de 
compreender a apresentação do tema e dos principais 
argumentos de um texto, no caso de um texto teórico. 
 Veja mais sobre resumo nestes links:
http://www.dep.ufsc.br/pibic/Resumo_como_fazer.htm
http://www.pucrs.br/manualred/resumos.php
ATIVIDADE 8
a
A paráfrase é fundamental na elaboração de resumos. 
Assim, faça paráfrases dos trechos abaixo, de forma resumida, 
ou seja, reescreva-os com “suas” palavras, excluindo o que 
você considera acessório. Lembre-se de indicar o nome do/a 
autor/a parafraseado/a (use as fórmulas: segundo ______; 
de acordo com ______; na concepção de _________,).
Texto 1
“A aceleração das inovações tecnológicas se dá agora 
numa escala multiplicativa, uma autêntica reação em cadeia, 
de modo que em curtos intervalos de tempo o aparato 
tecnológico vigente passa por saltos qualitativos em que 
a ampliação, a condensação e a miniaturização de seus 
potenciais reconfiguram completamente o universo das 
possibilidades e expectativas, tornando-o cada vez mais 
imprevisível, irresistível e incompreensível” (SEVCENKO, 
2001, p. 16).
Texto 2
 “Em razão de um antigo preconceitoem nossos espíritos 
e que performa nossos gostos, todo produto das artes da 
linguagem se identifica com uma escrita, donde a dificuldade 
que encontramos em reconhecer a validade do que não o é.” 
(ZUMTHOR, 1997, p. 11). 
Texto 3
“Em meados do século XX, os fracassos do marxismo 
e a revelação do mundo stalinista e do gulag, os horrores 
do facismo e, principalmente, do nazismo e dos campos 
de concentração, os mortos e as destruições da Segunda 
Guerra Mundial, a bomba atômica – primeira encarnação 
histórica “objetiva” de um possível apocalipse – a descoberta 
de culturas diversas do Ocidente conduziram a uma crítica à 
ideia de progresso.” (LE GOFF, 2003, p. 14).
RESENHA
A resenha constitui uma descrição e um comentário crítico 
acerca do livro resenhado, exige, portanto, uma leitura atenta. Não 
há modelos fixos, mas toda resenha tende a apresentar o livro e 
dar informações sobre o seu autor, obras anteriores, perspectiva 
teórica. Não raro, indica a importância da obra resenhada para a 
área à qual pertence.
Veja um exemplo de resenha escrita por mim, neste link:
http://revistalingua.uol.com.br/textos/63/artigo249020-1.asp
Veja outro exemplo no quadro abaixo.
Formas breves e instigantes 
Susana Souto Silva
O escritor argentino Ricardo Piglia, atualmente professor 
da Universidade de Princenton, nos Estados Unidos, alem de 
romances (Respiração artificial, Cidade ausente, Dinheiro 
Queimado) e contos (A invasão, Nome falso), escreveu também 
textos críticos. O volume Formas breves, recém publicado pela 
Companhia das Letras, reúne textos críticos desse escritor. Alguns 
desses ensaios foram publicados em livros anteriores, como O 
50 51Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
laboratório do escritor (Iluminuras, 1994) e El arte de narrar 
(Humanitas/FFLCH/USP, 1999), que aparece agora dividido em 
dois trabalhos, “O ultimo conto de Borges” e “Novas teses sobre 
o conto”. 
Onze ensaios curtos e um epílogo formam o livro em que 
se lê uma interessante definição de crítica: “A critica é a forma 
moderna de autobiografia. A pessoa escreve sua vida quando crer 
escrever suas leituras”. Escrevendo, portanto, sua autobiografia, 
a biografia de um leitor voraz, Piglia retoma, partilhando com 
outros leitores, as suas descobertas e perplexidades diante das 
obras de Macedônio Fernandez, Jorge Luis Borges, Robert Arlt, 
Julio Cortazar. Mas não só os escritores argentinos figuram 
nesse diário de leituras. Em um belo ensaio, “Os sujeitos trágicos 
(psicanálise e literatura)”, o autor coloca em dialoga Freud, Joyce, 
Nabokov, Jung, Kafka. 
Essas formas breves de Piglia problematizam o estatuto da 
crítica. Estamos diante de escritos que mesclam propositalmente 
o diário intimo e a análise literária, o relato ficcional e o histórico, 
compondo textos nos quais o crítico e o escritor de textos literários 
misturam-se, e embaralham as fronteiras, ha muito indistintas, entre 
esses dois campos, pois se a critica é uma forma de autobiografia, 
podemos desdobrar essa afirmação e dizer que, assim como a 
autobigrafia é uma forma de ficção, a crítica também o é, como 
nos mostra Borges em diversos dos seus textos, entre os quais 
o mais famoso e comentado talvez seja “Pierre Menard, autor 
de Quixote”. Piglia leva ao extremo essa proposição e nos leva, 
encantados e surpresos, a sua cabeceira, onde vivemos a ilusão 
de partilhar notas escritas a margem dos seus livros preferidos, 
criando entre o leitor e o autor do texto crítico uma inuasitada 
intimidade, como se conversássemos com ele em uma mesa 
de bar, na qual a descontração e a confissão dessem o tom da 
conversa, despindo a crítica da pretensão, não raro enfadonha, 
de ser mais importante do que a obra.
Saímos da leitura dessas formas breves com reflexões que se 
prolongam, com o desejo de buscar textos ainda não conhecidos 
e de retornar a textos já lidos, guiados por um autor que vê a 
literatura como um texto que nos provoca, como ele mesmo 
escreve, “surpresas, epifanias, visões. Na experiência renovada 
dessa revelação que e a forma, a literatura tem, como sempre, 
muito que nos ensinar sobre a vida”. 
ARTIGO
Entre os gêneros do discurso que produzimos com frequência 
na universidade está o artigo. Ele se configura como um texto em 
que analisamos uma obra ou apresentamos os resultados de 
uma pesquisa, seja de caráter bibliográfico, o que predomina em 
nossa área, ou não. Como se faz em âmbito acadêmico, segue 
as normas da ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, 
e está fundamentado na leitura de textos teóricos, que fornecem 
também orientação metodológica. Assim, há vários procedimentos 
de elaboração de artigos, de acordo com o tema tratado, com a 
teoria adotada e com os procedimentos metodológicos.
Você deve sempre buscar ler artigos publicados em revistas 
especializadas, em jornais ou em revistas de opinião, para 
construir um repertório de modelos que pode ser utilizado 
como referência na hora de elaborar os seus próprios artigos. Há 
trabalhos que se debruçam sobre a elaboração de artigos e dão 
algumas orientações práticas, como se pode ver nos links abaixo:
http://www.bu.ufsc.br/ArtigoCientifico.pdf
http://www.cristovaotezza.com.br/textos/palestras/p_
linguabrasileira.htm
A seguir, há um artigo meu, publicado na Revista de Letras, 
da Universidade Católica de Brasília. Leia-o e observe os seus 
traços constitutivos.
A ESCRITA DO FRAGMENTO
Susana Souto Silva
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS - UFAL
RESUMO: Este artigo discute o fragmento como constitutivo 
da escrita clariceana, a partir de crônicas dessas autora publicadas 
no livro A descoberta do mundo (1984). 
PALAVRAS-CHAVE: Clarice Lispector. Crônica. Fragmento.
52 53Licencenciatura em Letras - Espanhol Licencenciatura em Letras - Espanhol
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Disciplina 4
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
 (Ricardo Reis)
De todas as imagens que a mitologia grega nos legou, a 
que representa a noção de tempo é uma das mais instigantes: 
Cronos, o pai devorador. A sua narrativa assusta-nos e comove-
nos. Fala do que é em nós a corrosão cotidiana do tempo, a cruel 
irreversibilidade do tempo, que, ao passar, “imprime em toda flor 
sua pisada”, como canta Gregório de Matos. 
Cronos (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cronos), o deus, 
simultaneamente, doador e devorador da vida, é uma bela metáfora 
do tempo. Para escaparmos a essa devoração constante ou, ao 
menos, para esquecê-la ou lembrá-la esteticamente, temos a arte, 
e, mais especificamente, temos a literatura, a arte que se faz com 
palavras.
Cronos está presente em diversos vocábulos: cronológico, 
diacrônico, sincrônico. Está inscrito na palavra “crônica”, que 
pode ser lida como adjetivo (quando qualifica uma doença, por 
exemplo) e como substantivo, quando usado como gênero do 
discurso. Como gênero, foi, muitas vezes, considerado menor. 
Nos últimos tempos, porém, a crítica tem tentado quebrar essa 
régua invisível e injusta para se defrontar com os textos, sem a 
perspectiva de medi-los. Como destaca Carlos Heitor Cony, um 
dos cronistas em atividade no Brasil:
A crônica só é gênero menor em termos de literatura. 
Admite-se como inabalável a certeza de que a literatura 
tende a ser perene, intemporal. Não faltam teóricos 
para garantir que a arte, nela incluindo a arte literária, 
existe para superar a morte. E, se a literatura busca a 
infinitude, a crônica é crônica mesmo, expressão de 
finitude. É temporal, fatiada da realidade e desvinculada 
do tempo maior que é o da literatura como arte. 
(Disponível em http://www.saa.com.br/quadro/ponto/
cronica.htm. Acesso em maio de 2007). 
A crônica atuaria, assim, em uma dupla temporalidade: a 
pretensamente perene da arte e a precária, fugaz, do jornalismo. 
O jornal é um suporte

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