Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE FACULDADE DE VETERINÁRIA – FAVET DISCIPLINA – GÉNETICA VETERINÁRIA RELATÓRIO-GENÉTICA DE MICRORGANISMOS VÍRUS Os vírus além de causarem problemas aos seres humanos têm servido como ferramentas fundamentais em pesquisas científicas. São microorganismos bem simples e seu genoma, em geral pequeno, possibilita um fácil manuseio e, pelo fato de utilizar a maquinaria celular para reprodução, grandes descobertas de metabolismo celular foram obtidas por estudos com vírus. Alguns exemplos: o ácido nucléico como material genético, papel de promotores e ativadores gênicos, transcrição reversa e processamento de RNA. Mais recentemente, os vírus estão sendo empregados como vetores para introdução de genes em organismos, abrindo fronteiras da terapia gênica. BACTÉRIAS As bactérias contêm genes que sofrem mutação e produzem fenótipos alterados. A transferência gênica em bactérias é unidirecional – das células doadoras para as receptoras. As informações genéticas da maioria das bactérias estão armazenadas em um único cromossomo principal, carreador de alguns milhares de genes. Ao contrário dos cromossomos eucarióticos, os cromossomos bacterianos são circulares. Eles consistem em alguns milhões de pares de bases de DNA bifilamentar. As células bacterianas também contêm um número variável de “minicromossomos” chamados plasmídios e epissomos. Os plasmídios são moléculas de DNA circulares de replicação autônoma que têm de três a várias centenas de genes. Algumas bactérias contêm até 11 diferentes plasmídios além do cromossomo principal. Os epissomos são semelhantes aos plasmídios, mas a replicação dos epissomos pode ser autônoma ou ocorrer como parte do cromossomo principal – em um estado integrado como o prófago λ. PROTOZOÁRIOS Como exemplo sobre genética em protozoários temos o Trypanosoma cruzi. Este insere o seu DNA no genoma do hospedeiro, e por meio de uma recombinação homologa é integrado ao DNA mitocondrial - kDNA. Essa incorporação do kDNA causa modificações no genoma do hospedeiro e provoca uma síntese de proteínas anormais (quiméricas). MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA GENÉTICA Através do processo parassexuado é que ocorre a transferência de genes de um microrganismo para outro. A transferência é unilateral, ou seja, ocorre de uma célula doadora para uma receptora. Há três formas que isso pode acontecer, por conjugação (transferência direta de material genético de uma célula a outra) por transformação (é capturado moléculas de DNA livres, liberadas por células doadoras) e por transdução (ocorre a transferência com a ajuda de um bacteriófago). VARIABILIDADE GENÉTICA A variabilidade genética mede a tendência dos diferentes alelos de um mesmo gene que variam entre si em uma dada população. Ocorre a partir de dois processos, que são: mutação e recombinação genética. Mutação: alterações na sequência de nucleotídeos de um gene; em geral, ocorrem espontaneamente; podem modificar o produto funcional final (dependendo do tipo de mutação: nonsense, silenciosa ou de sentido trocado conservativa/não conservativa). Recombinação genética: processos de trocas físicas de fragmentos de DNA pelos quais as células bacterianas adquirem novas combinações gênicas provoca alterações mais significativas que as mutações; é um mecanismo de transmissão gênica horizontal pelo qual se formam células recombinantes. COVID 19 Quando nos deparamos com uma doença infecciosa, a princípio pensamos que não há nenhuma relação com a genética. Mas não é bem assim. A recente pandemia pelo vírus SARS-CoV-2 (“novo” coronavirus) nos ensina que é muito importante conhecer a genética do coronavirus e de seus hospedeiros, em especial o humano. O material genético do novo coronavirus (SARS-CoV-2) é um pequeno RNA, composto por apenas trinta mil bases nitrogenadas. O genoma contém 15 genes. Para termos de comparação, o genoma humano é composto de DNA, tem cerca de 3 bilhões de bases nitrogenadas e cerca de 20 mil genes. Ao desvendar a sequência do Genoma dos primeiros casos do novo Coronavirus, os pesquisadores chineses imediatamente confirmaram que a sequência genética do SARS-CoV-2 é extremamente parecida com a do genoma de um “velho” Coronavírus, sequenciado em 2015, que infecta morcegos, e que através dos morcegos infecta animais, que infectam o ser humano, que infecta outros seres humanos. O teste do genoma do coronavirus (RT-PCR) é considerado o mais importante método diagnóstico confirmatório, e é também utilizado para validar outros métodos, como a dosagem de anticorpos produzidos pelo ser humano contra o coronavirus. Após a coleta de uma amostra das vias respiratórias (da boca ou do nariz), utilizando-se técnicas de biologia molecular que “buscam” as sequências genéticas do vírus nesta amostra, são realizadas duas etapas; na primeira, o laboratório investiga a presença (ou não) da sequência genética do gene “E”, cuja proteína por ele codificada é importante na formação do envelope que circunda o genoma de vários Coronavírus. A análise do gene “E” não é específica do SARS-CoV-2, mas sim do subgênero Sarbecovirus. A análise deste gene, portanto, é considerada uma triagem para detectar qualquer beta-coronavírus associado ao morcego. Caso o teste dê negativo para a sequência genética do gene “E”, podemos dizer que naquele momento o material genético do SARS-CoV-2 não estava presente na amostra coletada. Caso o teste dê positivo para a sequência genética do gene “E”, testa-se de imediato a mesma amostra para verificar a presença da sequência genética do gene “RdRP”, esta sim, específica do vírus SARS-CoV-2. Cerca de 5 dias após a contaminação, o teste se torna positivo, ou seja, o genoma do vírus já pode ser detectado pelo teste genético. O mesmo teste pode ser utilizado para determinar “cura viral”, ou seja, em pacientes em que o teste anteriormente já tinha dado positivo, após cerca de 7-14 dias da infecção, o genoma do vírus não deve mais estar presente, em especial naqueles que já deixaram de apresentar os sintomas. Conhecer a genética do coronavirus é fundamental para podermos desenvolver medicamentos que ataquem os pontos fracos de seu RNA, e também para o desenvolvimento de vacinas.
Compartilhar