Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
v História da Arte: da pré-história à modernidade HISTÓRIA DA ARTE I HISTÓRIA DA ARTE UNIVERSAL vi vii SONIA LENI CHAMON PARDIM HISTÓRIA DA ARTE: da pré-história à modernidade 1ª Edição 2014 viii Copyright©2014.Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico e e Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Me.Benedito Fulvio Manfredini Sonia Leni Chamon Pardim Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas/UNITAU P226h Pardim, Sonia Leni Chamon História da Arte: da Pré-história à modernidade / Sonia Leni Chamon Pardim. Taubaté: UNITAU, 2014. 104p. : il. ISBN: 978-85-62326-26-4 Bibliografia 1. Arte. 2. História da arte. 3. Arte universal. I. Universidade de Taubaté. II. Título. III. Título ix x PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor xi Apresentação Neste livro-texto estudaremos a História da Arte da humanidade. Seus contextos históricos, os diferentes estilos, alguns artistas e as obras mais marcantes. Nas diversas possibilidades de abordagens que a arte dispõe, optamos pela cronológica; assim, começaremos pelos primórdios, quando a arte era uma das ferramentas de sobrevivência dos nossos ancestrais, e chegaremos até a atualidade, quando o homem torna-se possuidor de todo o instrumental e os conhecimentos acumulados no decorrer de tantos milênios. Mostraremos que não é possível estudar a arte sem incluí-la na complexidade de seu momento histórico – não existe transformação social, econômica, religiosa ou ética que não tenha sido acompanhada por mudanças estéticas. Veremos que o conjunto de procedimentos artísticos de uma época é chamado de estilo e que existem características gerais que o definem. Portanto, conhecer e identificar essas características são fundamentais para qualquer apaixonado por arte, mas é ainda mais essencial para quem pretende produzi-la A análise dos estilos artísticos não só amplia os repertórios individuais, como também nos abre a possibilidade de dialogarmos diretamente com os grandes mestres. Bons estudos! Sonia Leni Chamon Pardim xii xiii Sobre a autora SONIA L. C. PARDIM é artista plástica, pesquisadora, arte-educadora e professora universitária. Mestre em História da Arte pelo Instituto de Artes da UNICAMP. Especialista em Semiótica e Comunicação para a Educação pela Escola de Comunicação e Arte da USP. Licenciada em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo. xiv xv Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsidio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicaçãoe a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU xvi xvii Sumário Palavra do Reitor .............................................................................................................. x Apresentação ................................................................................................................... xi Sobre a autora ................................................................................................................ xiii Caros(as) alunos(as) ....................................................................................................... xv Ementa .............................................................................................................................. 1 Objetivos ........................................................................................................................... 3 Introdução ......................................................................................................................... 4 Unidade 1. Primórdios do Tempo.................................................................................... 6 1.1 O Tempo e a Arte ....................................................................................................... 6 1.1.1 A Arte no Tempo: Quadro Cronológico da Arte Ocidental .................................... 7 1.1.2 Um tempo para a Arte – conceitos fundamentais .................................................... 8 1.2 Arte Pré-histórica ...................................................................................................... 10 1.2.1 Arte Paleolítica ...................................................................................................... 11 1.2.3 Arte Neolítica ........................................................................................................ 14 1.2.3.1 - Arquitetura Neolítica ........................................................................................ 14 1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 15 1.5 Atividades ................................................................................................................. 16 1.6 Para saber mais ......................................................................................................... 16 Unidade 2. Construção da civilização ........................................................................... 20 2.1 A Arte Egípcia .......................................................................................................... 20 2.1.1 A Arte Egípcia ....................................................................................................... 21 2.1.1.1 Obras para a eternidade ...................................................................................... 21 2.2 A Arte Grega ............................................................................................................ 25 2.2.1 Arquitetura Grega .................................................................................................. 26 2.2.2 Escultura grega ...................................................................................................... 30 2.2.3 Cerâmica ................................................................................................................ 32 2.3 A Arte Romana e Paleocristã.................................................................................... 32 2.3.1 - Arte Romana ....................................................................................................... 33 2.3.1.1 A Escultura Romana ........................................................................................... 33 2.3.1.2 Arquitetura Romana ........................................................................................... 34 xviii 2.3.1.3 As Representações Bidimensionais Romanas ................................................... 35 2.3.2 Arte Paleocristã..................................................................................................... 35 2.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 36 2.5 Atividades ................................................................................................................. 37 2.6 Para saber mais ......................................................................................................... 38 Unidade 3. Espírito sobre a matéria – A arte medieval .................................................. 40 3.1 A Arte dos Povos Bárbaros ...................................................................................... 40 3.1.1 A Arte Bárbara...................................................................................................... 41 3.2 A Arte Bizantina ....................................................................................................... 41 3.2.1 Arquitetura e Artes Decorativas ............................................................................ 42 3.3 A Alta Idade Média – Arte Românica ...................................................................... 44 3.4 A Baixa Idade Média – Arte Gótica ......................................................................... 46 3.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 49 3.6 Atividades ................................................................................................................. 49 3.7 Para saber mais ......................................................................................................... 50 Unidade 4. Razão x Emoção – Representações da Realidade ........................................ 53 4.1 Renascimento e Maneirismo .................................................................................... 53 4.1.1 Il Quattocento – Protorenascimento ...................................................................... 54 4.1.2 Il Cinquecento – O Renascimento Pleno ............................................................... 56 4.1.2 O Maneirismo ........................................................................................................ 59 4.2 Barroco e Rococó ..................................................................................................... 60 4.2.1 O Barroco Católico ................................................................................................ 61 4.2.2 Barroco Protestante................................................................................................ 64 4.2.3 Barroco Classicista ................................................................................................ 65 4.2.4 O Rococó ............................................................................................................... 65 4.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 66 4.4 Atividades ................................................................................................................ 67 4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 69 Unidade 5. Tradição e ruptura – o processo da modernidade ........................................ 71 5.1 Neoclassicismo e Romantismo ................................................................................. 71 5.1.1 Neoclassicismo ...................................................................................................... 72 5.1.2 Romantismo ...........................................................................................................74 xix 5.2 Realismo e Impressionismo ...................................................................................... 77 5.2.1 O Realismo ............................................................................................................ 77 5.2.2 O Impressionismo .................................................................................................. 78 5.3 Pós-Impressionismo ................................................................................................. 81 5.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 83 5.6 Atividades ................................................................................................................ 84 5.7 Para saber mais ......................................................................................................... 84 Unidade 6 - O invisível torna-se visível ......................................................................... 86 6.1 O Expressionismo e o Fauvismo ............................................................................. 87 6.1.1 A Arte Expressionista ............................................................................................ 88 6.1.2 O Fauvismo ........................................................................................................... 89 6.2 O Cubismo, Futurismo e Abstrações Geométricas ................................................... 90 6.2.1 O Cubismo ............................................................................................................. 91 6.2.2 O Futurismo ........................................................................................................... 92 6.2.3 Abstrações Geométricas ........................................................................................ 93 6.2.3.1 Suprematismo ..................................................................................................... 93 6.2.3.2 Construtivismo ................................................................................................... 95 6.2.3.3 Neoplasticismo- De Stijl ..................................................................................... 96 6.3 - Dadaísmo e Surrealismo......................................................................................... 96 6.3.1 Dadaísmo ............................................................................................................... 97 6.3.2 Surrealismo ............................................................................................................ 98 6.4 As Novas Linguagens Contemporâneas ................................................................. 100 6.5 Síntese da Unidade ................................................................................................. 101 6.6 Atividades .............................................................................................................. 101 6.7 Para saber mais ...................................................................................................... 102 Referências ................................................................................................................... 106 xx 1 HISTÓRIA DA ARTE I HISTÓRIA DA ARTE UNIVERSAL Ementa EMENTA Elementos e conceitos básicos para a compreensão do fenômeno artístico no contexto cultural dos diferentes períodos históricos. Relações interdisciplinares entre Arte, Homem, Tempo. Visão panorâmica das manifestações artísticas do ocidente, compreendendo os períodos da Pré-história aos movimentos artísticos do século XX. ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. 2 Objetivo Geral 3 Conhecer e compreender como os conceitos básicos em Artes e suas principais manifestações são fundamentais para a docência em Artes Visuais. Obj etivos Objetivos Específicos • Refletir sobre as manifestações culturais e artísticas do ocidente desde a Pré-História até o século XX. • Compreender os diferentes estilos artísticos, seus contextos e características. • Analisar as relações entre a Arte, o Homem e o Tempo. • Conhecer alguns dos artistas que marcaram época e analisar suas respectivas obras de arte. 4 Introdução A História da Arte reflete o Homem em seus conceitos e ideais, a sociedade e a ética. Estudar a arte é estudar o percurso humano ao longo dos milênios e as respostas estéticas ao seu contexto. Neste livro-texto estudaremos as modificações artísticas empreendidas pelo homem nas linguagens plásticas e arquitetônicas. Estas linguagens apresentam-se na forma visual e a análise da forma e suas transformações é o assunto base deste módulo. Na primeira Unidade, introduziremos a questão do Tempo – como se desenvolve a cronologia e as principais datações. Uma breve introdução à leitura da obra de arte, também é assunto desta Unidade – quais os elementos chave a que devemos nos ater aos observar uma obra? Finalmente, analisaremos a produção artística do homem pré- histórico. Na Unidade 2, estudaremos a arte dos diversos povos da antiguidade – são alguns milênios e uma ampla diversidade de manifestações que deram as bases do que somos hoje em dia. A Idade Média, e seu milênio voltado a Deus, é o período a ser analisado na Unidade 3. A Unidade 4 tratará da arte da renascença e do barroco, sem nos esquecermos dos estilos maneirista e rococó, que nos fazem compreender as modificações estilísticas. Os séculos XVIII e XIX são os assuntos da Unidade 5, do racionalismo do Neoclassicismo à extrema emoção do Romantismo. Aqui iniciamos o conceito de Arte Moderna. A Unidade 6 tratará do século XX e introduzirá conceitos do século XXI, quando muitas das vanguardas artísticas serão estudadas, assim como as novas técnicas e os caminhos da arte. É um período de difícil estudo e muitas dúvidas, mas também muitas respostas – afinal, esses artistas falaram sobre nós e nosso tempo. Sendo assim, temos muito a aprender... 5 Unidade 1 6 Unidade 1 . Primórdios do Tempo A Arte nasce com o Homem, como instrumento de preservação e identidade. Segmento estético da Cultura, a Arte surge impregnada da magia dos primeiros rituais – magia que permanece, resistindo ao tempo e à tecnologia ou, talvez, intensificando-se com esta. Ao estudarmos a produção artística dos primeiros Homo Sapiens, cai por terra qualquer conceito de evolução nas artes – elas apenas se modificam, adequando-se a novos contextos ou ajudando a criá-los. Veremos, assim, nesta Unidade, questões ligadas aos conceitos fundamentais da Arte, suas origens pré-históricas, suas características intrínsecas, suas modificações ao longo do tempo. Esse Tempo ambíguo, sinuoso e surpreendente, o qual nos convida a viagens milenares, eterniza momentos e pessoas, e ainda evoca o Futuro, estabelecendo a nossa identidade – como os primeiros Homo Sapiens. 1.1 O Tempo e a Arte Ao optarmos por uma análise cronológica da História da Arte, fazemos uma escolha difícil – muitas vezes a arte não cabe neste Tempo linear estabelecido por teóricos, não respeita medidas e nem padrão, esnoba movimentos e períodos específicos. No decorrer deste livro-texto, teremos diversas demonstrações da autonomia da arte em relação às normas históricas. O Renascimento, por exemplo, cuja data marco é 1453 (ano da tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos), inicia-se para as artes em 1401, com o concurso para as portas do Batistério de Florença, ou ainda 1416, ano em que Brunelleschi realiza o projeto do zimbório da Catedral de Santa Maria dell Fiore, estabelecendoum novo método construtivo. Ou a Pré-História, a qual deveria se findar em 3.500 a.C., porém persiste bravamente no decorrer dos séculos pelos povos não detentores de escrita. 7 Essas divergências temporais podem parecer um problema – principalmente se tentamos memorizar datas como marcos estanque da História – mas na realidade nos possibilita uma abrangência reflexiva. É muito instigante quando percebemos que datas, séculos e períodos são apenas facilitadores que nos situam no espaço temporal, esta entidade tão abstrata. Ou nem tanto assim... Os gregos antigos chamavam de Khrónos o Tempo e de Krónos o Titã, Saturno para os romanos. Apesar de a etimologia distinguir os dois termos, ambos ligam-se à personificação mítica do tempo. Filho do Céu e da Terra, Krónos, com uma foice mutilou o pai, tomando o poder entre os deuses. Desposando Cibele, sua irmã, passou a devorar cada filho gerado, por medo de ter seu poder usurpado. O último bebê, Zeus, foi escondido pela mãe, e ficou aos cuidados das ninfas da floresta, até que, adulto, enfrentou o próprio pai, tornando-se o soberano dos deuses (FRANCHINI e SEGANFREDO, 2007). Quando Goya pinta o seu Saturno devorando o filho (fig.1.1), remete simbolicamente à loucura humana, responsável pela opressão e guerras em seu país. Porém, no contexto desta Unidade, é o lembrete de nossa condição humana, filha do Tempo, que ininterrupta e impiedosamente é devorada por seu mentor. Sem perda de tempo, vamos ao próximo tópico! 1.1.1 A Arte no Tempo: Quadro Cronológico da Arte Ocidental A noção de História, como registro de fatos marcantes, é relativamente recente. A Antiguidade nos legou poucos relatos históricos. Heródoto, autor grego, teria sido o iniciador da História, sendo seguido por outros até o final da Roma antiga. O homem medieval não se considerava agente da história, esta estaria nas mãos de Deus. Figura 1.1 - Goya: Saturno devorando o filho. 1819-1823. Museu do Prado (Madri) Fonte: http://cvc.cervantes.es/ img/citas_claroscuro/goya13.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 8 Será com Vasari, no Maneirismo (séc. XVI), que temos o início efetivo da História da Arte, com o seu Vitae (compêndio sobre as principais personalidades artísticas de seu tempo). Será no Iluminismo, no século XVIII, que a História da Arte é revista com método e conceituações, dando origem à Crítica de Arte. Termos que foram cunhados nesta época e que, mesmo com forte tendenciosidade (ou mesmo preconceito) continuam a ser empregados hoje em dia e tornaram-se lugares-comuns. Levando-se em conta as ressalvas já feitas sobre as limitações impostas pela análise cronológica da Arte, vale à pena conhecer as divisões clássicas da História da Arte, subdivididas em Idades e estabelecidas por datas-marco. Eis um Quadro Cronológico simplificado da Arte Ocidental: Pré-História Idade Antiga Idade Média Idade Moderna Idade Contemporânea *Paleolítico *Neolítico *Idade dos Metais *Mesopotâmia *Egito *Grécia *Roma *Arte *Paleocristã *Arte dos Bárbaros *Arte Bizantina *Arte Carolíngia *Arte Românica *Arte Gótica *Renascimento *Maneirismo *Barroco *Rococó *Neoclassicismo *Romantismo *Realismo *Impressionismo *Pós Impressionismo *Arte Moderna1 *Arte Contemporânea2 1.1.2 Um tempo para a Arte – conceitos fundamentais Para entendermos as modificações artísticas ao longo da História e apreciarmos cada obra de arte, é preciso conhecer os seus elementos formadores, seus suportes e suas linguagens, tornando-a legível em sua visualidade. 1 Entenda-se os movimentos artísticos: Art Nouveau, Expressionismo, Expressionismo Alemão, Fauvismo, Cubismo, Futurismo, Suprematismo, Construtivismo, De Stijl, Bauhaus (escola e diretriz), Escola de Paris, Dadaísmo, Surrealismo, entre outros. 2 Entenda-se os movimentos artísticos: Expressionismo Abstrato, Pop Art, Hiperrealismo, Op Art, Arte Cinética, Arte Povera,, Arte Conceitual, Earth Art, Transvanguarda, Minimalismo, Body Art, entre outros. Entenda-se, também, novas linguagens artísticas: instalação, intervenção, assemblage, objeto, performance, multimídias. 476 d. C. c. 3.500 a. C. 1453 1789 Invenção da escrita Queda do Império Romano Tomada de Constantinopla Revolução Francesa 9 O conceito de forma aproxima-se da essência do ser, ligando-se ao conceito de techne – capacidade de construção e manifestação de conhecimento inerente da coisa em si (READ, 1981). Nas Artes Plásticas (noção de techne), os elementos formadores da visualidade são: Ponto, Linha, Textura, Volume, Espaço, Cor. Com estes elementos o artista cria a sua Composição Visual. A História da Arte pode ser vista como a história das modificações visuais ocorridas nas obras de arte. Os teóricos que seguem esta linha são chamados de Formalistas. Ao conjunto de assuntos que o artista utiliza para formular sua obra, ou ainda, à narrativa visual sobre a qual a obra de arte discorre, dá-se o nome de tema. Podemos citar: • Tema Histórico ou Heroico – O mais valorizado dos temas, entre os séculos XVIII e XIX, é considerado a somatória de todos os temas (retrato, paisagem etc.). Considerando o tema como algo genérico e assunto como o motivo singular, podemos exemplificar O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, como tema Histórico (e Heroico por suas características românticas – mas isto iremos analisar mais para frente) e o ato da independência brasileira como assunto. • Tema Bíblico ou Religioso – Cenas extraídas das narrativas bíblicas ou com referência às imagens religiosas (cristãs ou não). • Tema Mitológico - Normalmente ligado à mitologia clássica greco-romana, suas narrativas, divindades e referências. • Retrato – Reporta-se a alguém que existiu, mesmo que idealizado. Os retratos anônimos ou “de” anônimos também são utilizados – porém têm forte carga simbólica, fazendo referência a uma classe ou a um tipo de indivíduos. • Paisagem – normalmente representa os grandes ambientes externos. A palavra inglesa landscape nos dá a noção do panorama, a qual se liga à paisagem. 10 • Natureza Morta – Refere-se às coisas inanimadas. Tem, na tradição pictórica, o costume de ser objetos, frutas, flores ou animais, compostos sobre um apoio (mesas, parapeitos, ou outros) em um local fechado. • Pintura de Gênero – Cena do cotidiano, normalmente enfatizando uma ação comum. Um dos grandes mestres da pintura desse gênero é o barroco Vermeer. • Abstração – Não necessariamente visto como um tema em seu sentido narrativo, mas visualidade que não busca a representação do mundo real; é extremamente antigo (como as imagens estilizadas do Neolítico) e atual (a partir da Der Blauer Reiter, alemã). Pode ser geométrico (linearidade retilínea e formas extraídas da geometria) ou informal (apresenta a gestualidade do artista, de forma expressiva). Vamos finalizar este tópico, expondo rapidamente as principais linguagens artísticas que serão abordadas ao longo deste livro-texto. Primeiramente, temos as Artes Plásticas, que como foi citado, liga-se ao conceito grego de techne. É a forma visual que responde por si própria, compreende várias linguagens em si, como desenho, pintura, gravura, colagem relevo, entalhe, escultura; e as novas linguagens contemporâneas, como objeto, múltiplos, instalação, intervenção, assemblages, performance, multimídias e outras. Estas últimas analisaremos na última Unidade. Estudaremos, também, um pouco da Arquitetura que acompanha as Artes Plásticas estilo por estilo, muitas vezes antecipando-as. Este livro-texto ficaria realmente interessante (e imenso!) se abordasse todas as linguagens artísticas, como Dança, Teatro, Música, Literatura e Cinema. Na impossibilidade de tal empreendimento, ficarão algumas dicas e inserções para dimensionarmosa grandeza e o gigantismo da Arte. 1.2 Arte Pré-histórica A Pré-história não apresenta nenhum documento escrito, pois é exatamente a época anterior à escrita. Tudo o que sabemos ou conjeturamos sobre os homens que viveram naquele tempo é resultado de pesquisas, análise comparada e reflexão de antropólogos e 11 historiadores, e de estudos da moderna ciência arqueológica, que reconstituíram a cultura do homem a partir de seus resíduos materiais. As primeiras inserções humanas no meio natural, como seixos e pedras desbastados ou talhados, datam de aproximadamente 400.000 a.C. As mais antigas pinturas rupestres pertencem ao Paleolítico Final, cerca de 30.000 a.C (JANSON, 1977). Sobre o período, escreve Gombrich3: Chamamos a estes povos ‘primitivos’ não porque sejam mais simples do que nós (...) mas por estarem mais próximos do estado donde, em dado momento, emergiu toda a humanidade. Entre estes primitivos não há diferença entre edificar e fazer imagens, no que se refere à utilidade. Suas cabanas existem para abrigá-los da chuva, sol e vento, e para os espíritos que geram tais eventos; as imagens são feitas para protegê-los contra outros poderes que, para eles, são tão reais quanto as forças da natureza. Pinturas e estátuas, por outras palavras, são usadas para realizar trabalhos de magia (GOMBRICH, 1983, p. 20). Toda a arte rupestre teve forte cunho mágico de caráter propiciatório, principalmente no período Paleolítico, quando os desenhos naturalistas eram protagonistas de rituais. A estilização do desenho, no período Neolítico, indica uma minimização da magia, ou transformação do processo propiciatório em registros e comunicação. 1.2.1 Arte Paleolítica Os primeiro registros humanos de que temos notícias são mãos em negativo espalmadas sobre paredes de cavernas. Assim como crianças pequenas desenham sua própria mão (quem não se lembra?), usando-a como molde sobre o papel, em uma bela simbologia de constatação de seu eu, os hominídeos deixaram sua marca, identidade, posse, reconhecimento como ser vivente, produtor de cultura (fig. 1.2). 3 GOMBRICH,E.H. A História da Arte (Terceira edição). Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983. p. 20 12 A pintura rupestre paleolítica caracteriza-se por ser figurativa, ou mais exatamente naturalista. É o registro da impressão visual imediata, livre de qualquer restrição intelectual ou apuro compositivo. Os animais são retratados em seu instante perceptivo, em um flagrante de movimento só atingido pela pintura impressionista do séc. XIX (HAUSER, 1982). Qual a razão dessas pinturas? Por que será que nossos longínquos ancestrais se preocuparam em fazer arte, vivendo em um meio tão agressivo, no qual a sobrevivência era tão frágil e o medo tão constante? Como um primitivo teria tal senso estético diante de um cenário cotidiano de luta pela sobrevivência? Vamos observar algumas peculiaridades desta arte, que dão indícios para a formulação de hipóteses. • Lembremo-nos de que este homem era nômade e sobrevivia basicamente da caça e da coleta, sem intervenções significativas em seu meio. • As pinturas paleolíticas eram feitas em locais de difícil acesso nas cavernas, com pouca ou nenhuma luminosidade (provavelmente as pinturas eram feitas à luz de lamparinas de gordura animal). Isto já descarta qualquer intenção de decoração ou mesmo comunicação. • Não havia nenhum rigor compositivo - os desenhos eram sobrepostos livremente (tendo, alguns, imensos intervalos de tempo). Observe a figura 1.3: • Podemos observar a ausência quase absoluta de pinturas com figuras humanas; eram predominantemente de animais vigorosos e em movimento. • Existiam nos locais vestígios de objetos e marcas ritualísticas. A razão mais provável para esta arte é a magia propiciatória: ao pintar animais tão reais este artista-caçador já estava garantindo a sua caça, apoderando-se da “alma” do Figura 1.2 - Caverna das Mãos, Patagônia – Argentina. C. de 7.000 a.C Fonte: http://2.bp.blogspot.com/_SHvj24 rbWRg/Swu_I-MtmII/AAAAAAAAACQ /0f_sQJ8MNWw/ s1600/Paleolitico+ Americas+-+BRASIL+ ESCOLA.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 13 animal, assegurando, assim, a sua sobrevivência (HAUSER, 1982). Muitas pinturas e esculturas apresentam orifícios e marcas de flechas (fig. 1.3), o que sugere que essas imagens tinham a função de ser um substituto simbólico do animal a ser caçado – por isso a necessidade da semelhança absoluta com o ser real. A forte identificação entre o ser vivo e a sua imagem é a explicação psicológica subjacente (JUNG,1977). A bela arte paleolítica era, na realidade, um instrumento de caça, um ato de magia, que permanece impregnada na representação de imagens até os nossos dias. Os artistas do Paleolítico realizaram também escultura, principalmente estatuetas, que deveriam servir como amuletos, propiciatórios como toda a arte do período. Há diversos exemplares de figuras femininas, com cabeças apenas esboçadas, seios volumosos, quadris e ventre em evidência. Essas belas senhoritas paleolíticas deveriam estar ligadas ao culto da fertilidade, tanto sexual quanto da própria natureza. Podemos observar a Vênus de Willendorf (fig. 1.4), poderosa em seus 11,5 cm de altura, talvez o mais conhecido amuleto paleolítico Figura 1.3 - Bisão Ferido – c. 25.000a.C.. Gruta de Lascaux, França Fonte: http://www.historiadaarte.com.br/ imagens/ grutadelascaux.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 1.4 - Vênus de Willendorf – c. 25.000 – 20.000 a.C.. Museu de História Natural, Viena Fonte: http://academics.smcvt.edu/awerbel/ Survey%201%20Exam%20Study/Venus%20of%20W illendorf.png Acesso em: 10 jan. 2010 14 1.2.3 Arte Neolítica A primeira modificação estilística da História da Arte se dá com o fim da época paleolítica (HAUSER, 1982). Modificações primordiais no estilo de vida do homem pré-histórico possibilitam as alterações na arte. O homem passa gradativamente a ser sedentário, cultivando a terra, domesticando ou mantendo animais em cativeiros e manadas, produzindo um artesanato mais sofisticado, exercendo ritos religiosos e atos de culto. O naturalismo mágico do paleolítico dá lugar a um geometrismo de sinais esquemáticos e convencionais, que sugerem formas e não reproduções da experiência empírica. O homem passa a ser retratado nas pinturas, em cenas de caça ou guerra (fig. 1.5), ou ainda como seres semi- humanos (JUNG, 1977) disfarçados de animais, envoltos em peles, com cabeça ou chifres de algum animal. O homem neolítico, com seu novo gênero de vida, passa a desenvolver diversas técnicas artesanais: cerâmicas decoradas, tecelagem, trançados e, a partir de 5.000 a.C, metalurgia, com pequenos artefatos. 1.2.3.1 - Arquitetura Neolítica O sedentarismo do homem neolítico possibilitou o aparecimento das primeiras cidades. Por volta de 7.000 a.C. surgem as primeiras construções urbanizadas em Jericó (atual Jordânia). São desta época os crânios gessados (fig. 1.6), muitos ricamente decorados, que sugerem a crença da alma localizada no crânio e a veneração dos antepassados. Na cidade fortificada (com muralhas e torres), casas de pedra, Figura 1.5 - Els cavalls, Valltorta, Castellon Fonte: http://www.typicalish.com/Datos/ DocumentosPorNodo /422/Castellon Cavalls.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 1.6 - Crânio gessado de Jerico. Museu arqueológico de Amã, Jordânia Fonte: http://2.bp.blogspot.com/ __d2B9sUpUVU/SqKRG9baPeI/AAAA AAAARMk/XsN17OG7h6A/s400/Jerich o_plastered_skull.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 15 pavimentadas de gesso, guardavam o corpo do morto, enterrado em posição fetal, com a cabeça (decorada) posicionada acima do chão. De cunho religioso ou astronômico, os homens do neolítico edificaram os monumentosmegalíticos (pedras imensas). Pedras não trabalhadas têm, em diversas culturas primitivas, forte significação simbólica – servindo de lápides, marcos ou objetos de veneração religiosa. A configuração dada pelo arranjo das pedras (alinhamentos geométricos, círculos) também pode nos remeter à divindade (JUNG, 1977). Essas imensas pedras fixadas no chão, sem nenhum tipo de argamassa, denominam-se dolmens, quando organizadas em forma de mesa ou portas (fig. 1.7) – normalmente, ligavam-se a cultos aos mortos. Dolmens dispostos em círculos regulares são chamados de cromlechs, sendo o mais famoso o Stonehenge, no sul da Inglaterra. O conjunto está direcionado ao ponto onde nasce o Sol, no solstício de Verão, indício de que se destinava ao culto ao Sol. 1.4 Síntese da Unidade Nesta Unidade, vimos questões relacionadas ao Tempo e à História, e como esses conceitos devem ser utilizados em relação ao estudo cronológico da Arte. Aprendemos as linguagens e os elementos fundamentais das Artes Visuais, para que possamos interpretar as obras de arte de forma reflexiva e adequada em sua terminologia, e, finalmente, as origens da Arte na Pré-História, seu princípio naturalista – mágico do período Paleolítico e seu desenvolvimento para o geometrismo-comunicacional do Neolítico. Figura 1.7 - Stonehenge, c. 2000a. C. Wiltshire, Inglaterra Fonte: http://upload.wikimedia.org/ wikipedia/ commons/3/39/Stonehenge_-_England.JPG Acesso em: 10 jan. 2010 16 1.5 Atividades Observe as obras de arte representadas a seguir. Identifique o tema de cada uma e justifique sua escolha. Pesquise, neste livro-texto, o título e a época em que foram feitas e procure enquadrá-los nos período e estilo (quadro cronológico) adequados: Procure em livros e sites: • outros amuletos pré-históricos; • monumentos megalíticos na Europa; • máscaras de povos primitivos. 1.6 Para saber mais Livros ou Capítulos Artista: Cézanne Tema: ________________________________________________ Justificativa:___________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Título:_______________________________________________ _____________________________________________ Época (século) ________________________________________ Período ______________________________________________ Estilo:_______________________________________________ Artista: Vermeer Tema: ________________________________________________ Justificativa:___________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Título:________________________________________________ ______________________________________________________ Época (século) ________________________________________ Período ______________________________________________ Estilo:_______________________________________________ 17 • História Social da Literatura e da Arte. Inicie pelos capítulos “Período do Paleolítico, Magia e Naturalismo” e “Período da Pedra Polida – Animismo e Geometrismo”. Hauser é um autor fundamental, que permeará todo este Livro- texto. De forma clara e empolgante ele explica e exemplifica as origens pré- históricas da arte. Veja as referências. • A História da Arte. Gombrich é peça chave para iniciarmos o estudo da História da Arte. Se você só puder comprar um livro sobre o assunto, recomendo este – vale o investimento muitas e muitas vezes. Inicie pela “Introdução” – indica-nos as diversas possibilidades da análise da imagem – e o capítulo “Estranhos começos” – que aborda a arte de diversos povos primitivos.Veja as referências. • O Homem e seus Símbolos. Jung decidiu escrever este livro a partir de um sonho. Buscou tornar acessível aos não iniciados as suas teorias ligadas às questões simbólicas que acompanham o Homem. O capítulo “O simbolismo nas artes plásticas – Símbolos sagrados: a pedra e o animal” trata de assuntos interessantes vistos nesta Unidade. Veja referências. • As 100 melhores histórias da mitologia – O livro nos apresenta, com narrativa acessível e interessante, a rica mitologia grego-romana, a qual permeia nosso imaginário e os alicerces culturais do mundo ocidental. Veja referências. Sites • www.historiadaarte.com.br - Apresenta uma interessante Linha do tempo, com imagens. Pode ajudar em pesquisas visuais (como a pedida abaixo). Filmes • A Guerra do Fogo (La Guerre du feu, 81, FRA/CAN) Dir.: Jean-Jacques Annaud. – Remonta aos primeiros hominídeos, a possibilidade civilizatória do Homo Erectus usar as mãos, desenvolvendo as tecnologias mais básicas a partir do domínio do http://www.historiadaarte.com.br/ 18 fogo. O aparecimento das linguagens e da comunicação são questões abordadas no filme. • 2001 – Uma Odisseia no Espaço (A Space Odissey, 68, ING/EUA) Dir.: Stanley Kubrick – É uma ficção científica de primeira. Mostra, a partir de um monolito, saltos no desenvolvimento humano. A primeira cena, na qual um ancestral hominídeo “descobre” a possibilidade da ferramenta e, portanto, da cultura (ao som de “Assim Falou Zaratustra”) é genial! • A Era do Gelo (Ice Age, 2002, EUA) Dir.: Chris Wedge e Carlos Saldanha. É um delicioso e engraçado desenho animado, no Período Glacial. Observe com atenção a encantadora animação de pinturas rupestres. 19 20 Unidade 2 Unidade 2 . Construção da civilização O desenvolvimento da vida social, a possibilidade de registros através da escrita e a decorrente complexidade cultural dos povos da antiguidade propiciaram extraordinárias formas de arte que até hoje rendem frutos, referências e reverências. Veremos, nesta Unidade, os principais povos antigos do mundo ocidental, os quais estabeleceram-se em regiões de grandes rios – o que garantiu as necessidades básicas de sobrevivência e manutenção de cidades (dos agrupamentos primitivos às urbes romanas mais sofisticadas). Abastecimento de água, alimento, transporte, comunicação, comércio, estratégias bélicas: a localização das cidades foi fator essencial para a preservação do modus vivendi de uma sociedade elaborada e complexa. Ricas religiões politeístas, cujos mitos e rituais elucidam as características de seus seguidores, aproximam-nos de alguns povos extremamente guerreiros ou de outros com refinado senso estético e intelectual. Música, literatura, teatro surgem em registros que podem ser revividos. Mas é na rica história material desses povos que encontramos os vestígios da poderosa arquitetura e das requintadas esculturas, pinturas, relevos e objetos que nortearam os caminhos da arte ocidental. Egito, Grécia, Roma. Vamos à Antiguidade! 2.1 A Arte Egípcia As primeiras grandes civilizações surgiram aproximadamente na mesma época, em torno de 3.500 a.C., atravessando de forma sutil o Neolítico para a Antiguidade. Egito – milenar civilização já descrita nos primeiros relatos bíblicos – teve em seu posicionamento geográfico a definição de sua história. A estreita faixa fértil às margens do Nilo era protegida por amplas regiões desérticas, e a noção de divindade legada ao faraó possibilitou história e forma de governo homogêneas. A forte religião egípcia, agregadora de toda a cultura, possibilitou uma arte milenar e imutável. 21 2.1.1 A Arte Egípcia A arte egípcia tem uma importância fundamental na cultura ocidental, posto que era referência estética de vários povos, incluindo os gregos. Suas características essenciais ligam-se à religião – principalmenteà imortalidade da alma (o ka) – e à glorificação do faraó – também visto como ser divinizado. A complexidade da vida social, que produz novo tipo de economia e divisão de trabalho, converte o artista em artífice, profissional especializado e não mais um mágico inspirado (HAUSER, 1982). Seu trabalho, agora, apesar de essencial nos ritos religiosos, é considerado tão importante quanto ao do sapateiro ou do oleiro, e recebe orientações rigorosas sobre como fazê-lo. Toda a arte egípcia é baseada em cânones (regras tradicionais e rigorosas), o que a conserva em imutabilidade de aproximadamente 3.000 anos, com exceção de um breve período de modificações artísticas no Novo Império, inaugurado por Akhenaton. Mas não é, de maneira alguma, uma arte monótona: “As regras que governam toda a arte egípcia conferem a cada obra individual o efeito de equilíbrio, estabilidade e austera harmonia” (GOMBRICH, 1983, p. 38). 2.1.1.1 Obras para a eternidade A preservação do corpo para a existência da alma após a morte, por meio do complexo sistema de mumificação, foi o objetivo máximo da sociedade egípcia. A partir dela, desenvolveram-se a medicina, as artes, os artefatos e, de forma peculiar, a arquitetura dos túmulos. A alta aristocracia mantinha sepulcros que propiciavam a manutenção do ka, conservando objetos, miniaturas, alimentos, esculturas, afrescos e relevos essenciais aos ritos funerários. 22 Esses primeiros sepulcros eram as mastabas, espécie de bloco trapezoidal erguido sobre uma câmara subterrânea. O grande arquiteto Imhotep, divinizado ainda em vida, construiu a primeira pirâmide escalonada sobre uma mastaba – a pirâmide de Zorzer (fig. 2.1), em Sacara, em aproximadamente 2600 a.C. A nova volumetria, que se assemelha à concepção geral de pirâmide, não é a única inovação do arquiteto: a utilização de cantaria (pedras talhadas com precisão) e meias-colunas com capitéis adornados em forma de papiros (papiriformes) também são invenções de Imhotep, as quais se tornaram base da arquitetura não apenas egípcia. As pirâmides do deserto de Gizé formam a mais importante necrópole conhecida. Foram edificadas durante a Quarta Dinastia do Antigo Império pelos faraós Quéops (c. 2.530 a.C), Quéfren (c. 2.500 a.C) e Miquerinos (2.470 a.C.). A imagem do faraó, na forma de escultura, também era essencial para a jornada do ka. A escultura egípcia ligava-se ao retrato, porém de forma muito impessoal, realmente hierática. A rigidez da escultura não diminuía a beleza das proporções e detalhes. Figura 2.1 - Imhotep (arquiteto) Pirâmide em degraus do rei Zozer (Djozer), Terceira Dinastia ( c. 2600a.C). Fonte: http://famouswonders.com/wp- content/gallery/pyramids-of-egypt/zosers-djosers-step- pyramid-saqqara-egypt.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 2.2 - Necrópole de Gisé. IV Dinastia do Império Antigo Fonte: http://famouswonders.com/wp- content/uploads/2009/02/3-pyramids-of- giza.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 23 É fácil perceber a harmonia formal que influenciará a escultura arcaica dos gregos no retrato de Miquerinos e a Rainha (fig. 2.3): a absoluta frontalidade, as formas sugeridas pela transparência dos tecidos, a unidade entre os membros e o corpo, e a perna esquerda à frente, como indicação de movimento. Finalmente chegamos às representações bidimensionais. Todos os afrescos, relevos e pinturas em livros demonstram riqueza de detalhamento e narração – os desenhos “contam” as histórias relacionadas ao morto, sendo acompanhados, normalmente, de hieróglifos. Os animais são apresentados de forma natural e em movimento, mas a figura humana oferece visualidade única, conhecida por Lei da Frontalidade: cabeça de perfil, olho de frente, tórax e braços de frente, pernas de lado, vistas pelo lado de dentro, isto é, pelo ângulo do dedão. Observe essas características na figura 2.4. A finalidade mágica dessas representações, ligada aos ritos fúnebres, explica essa caracterização como a maneira mais imediata de perceber as partes do corpo, sem deformações pelo escorço (perspectiva da figura humana). O tamanho das figuras também tem caráter simbólico, ligado à hierarquia. Figura 2.3 - Miquerinos e a Rainha (c. 2470a.C). Xisto, alt. 1,40 m. Museum of Fine Arts (Boston). Fonte: http://farm1.static.flickr.com/ 63/214173244_7870a16b18.jp g Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 2.4 - Fragmento de afresco da tumba de Nebamum (c. 1350 a.C). British Museum ( Londres). Fonte: http://whs.eanes.k12.tx.us/art/ Smaller%20Site/images/Art%20History/Chap %203/images/Fowling-Scene-Nebamun.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 24 Ao longo de quase três mil anos, a forma de representação segue-se intacta, regida por Figura 2.5 - Retrato de Akhenaton Fonte: http://www.bergerfounda tion.ch/Akhenaton/images/profil5 8_s.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 2.6 - A Rainha Nefertiti Fonte: http://farm4.static.flickr. com/3182/2938863464_1b27db2 8c7.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 2.7 - Máscara Mortuária de Tutankamon Fonte: http://edicion4.com.ar/e4blog/ ImagenesBlog/2009/03/fotosdeeg ipto-galeon-com-tutankamon.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 25 regras determinadas e imutáveis, que conferem equilíbrio e harmonia à arte egípcia como um todo e a cada obra em sua individualidade. Essa imutabilidade, porém, foi quebrada na 18ª Dinastia do Novo Reino, cerca de 1.370 a.C., com o reinado de Amenófis IV, um adorador do deus Aton, que se autointitulou Akhnaton. Talvez, a partir de influências estrangeiras, as representações do período tornaram-se muito naturalistas, fugindo à representação tradicional. Podemos observar seu retrato (fig.2.5) como a esfinge de um homem feio, e não com a solenidade imposta aos retratos reais. Por outro lado, vemos a delicadeza absoluta de Nefertiti (fig. 2.6) esposa de Akhnaton, obra considerada como o mais belo perfil da história da arte. Um pouco deste naturalismo se perpetua no período de seu sucessor, Tutankhamon. Faraó falecido jovem, teve a importância de voltar o culto ao deus Amon, politeísta, e tornou- se conhecido nos dias de hoje por seu túmulo ter sido descoberto intacto no início do século XX. Toda a riqueza que o nosso imaginário liga a uma Câmara Real encontrava- se plenamente ali; desde o ataúde de ouro de mais de cem quilos, à perfeita máscara mortuária (fig. 2.7) e às pinturas e relevos que – registrando uma revolução artística – precediam a divisões e invasões territoriais que viriam a findar com a imutabilidade da civilização egípcia. 2.2 A Arte Grega Pense no que você conhece de filosofia e política. Lembre-se de personagens da mitologia e do teatro ou, ainda, dos cálculos geométricos que você já estudou. Pode ter certeza de que uma boa parte será legado da cultura grega. Em muitos aspectos, os gregos formataram a nossa imagem de “mundo ocidental” e, na especificidade das artes, nosso primeiro entendimento do que vem a ser clássico4. 4 O termo clássico, em uma acepção ampla, liga-se a algo tão equilibrado, harmonioso, original e livre de excessos que se torna modelo a ser seguido. 26 Esse termo, que tantas vezes será utilizado no transcorrer deste livro-texto, define toda a obra de arte que mantém semelhanças com a arte grega (e romana, como veremos depois) e, ao mesmo tempo, uma harmonia absoluta pelo emprego da proporção e do equilíbrio (SUMMERSON, 1999). Este conceito de clássico nós voltaremos a ver em diversos momentos da História da Arte, que tiveram influência direta da cultura grega. Podemos dividir a história deste povo em quatro momentos básicos: • Os primórdios, do século XII ao VIII a.C., introdução dos princípios dóricos. • O Período Arcaico vigora do séc. VII até c. de480 a.C., no qual assistimos à eclosão da genialidade artística grega em todas as formas de expressão (JANSON, 1992). • O séc. V é o período da plena democracia para a cultura, conhecido como Clássico (agora, como denominação específica de uma época e não o termo genérico analisado acima). • E o Período Helenístico, denominação genérica para a fase final, do século IV ao I a.C, momento de expansão do território e da civilização grega, por intermédio de Alexandre Magno. 2.2.1 Arquitetura Grega Vitrúvio foi um arquiteto romano do séc. I que nos legou um tratado de dez volumes, De Architectura, dedicado ao imperador Augusto. Estes escritos tratam dos conhecimentos de arquitetura de seu tempo e, com o imenso respeito que os romanos tinham pela cultura grega, um detalhado estudo da gramática arquitetônica. A arquitetura grega tem três ordens (estilos arquitetônicos): Dórico, que está ligado ao Período Arcaico, mas também existe em outros momentos; Jônico, que da mesma maneira liga-se ao Período Clássico e Coríntio, e ao Período Helenístico. Todos os templos têm características de proporção e equilíbrio quase matemáticos, estão mais para “morada do deus”, na forma de escultura, que um local de cultos e multidões. Vamos observar alguns desses templos, suas ordens e sua gramática: 27 Figura 2.8 – Ordem Dorica Fonte: http://greek.hp.vilabol uol.com.br/ordemdorica.gif Acesso em: 13/01/2010 Ordem Dórica É mais robusta e simplificada, porém não é simples. Detalhes como os fustes das colunas, mais largos ao centro e afunilados em direção ao topo chegam a dar a impressão de elasticidade, como se fossem seres humanos que sustentam cargas com facilidade (GOMBRICH, 1983). Para Vitrúvio, o Dórico exemplifica a “a proporção, força e graça do corpo masculino” (SUMMERSON, 1999). Observe na figura 2.9 o importante templo Parthenon, que exemplifica a Ordem Dórica. Figura 2.9 - Ictinos e Calícrates: Parthenon (450 a. C.). Acrópole de Atenas Fonte: http://www.timelessmyths.com/ classical/ gallery/parthenon.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 28 Ordem Jônica Representa a esbelteza feminina. A coluna possui fuste mais delgado e não se firma diretamente sobre o estilóbata (primeiro piso), mas sobre uma base decorada. O capitel (parte superior da coluna) é formado por duas espirais chamadas volutas. Observe as ruínas do templo de Erectheion (fig.2.11), na qual vemos, também, as cariátides (esculturas femininas, no lugar do fuste). Figura 2.11 - Erectheion, face Norte. Fonte: http://www.photoseek.com/greece/01GRE-27-01- Erechtheion-Caryatids.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 Figura 2.10 - Ordem Jônica Fonte: http://4.bp.blogspot.com/ d2B9sUpUVU/SS06fJ3U9LI/AA AAAAAAB9E/87WgdaVP4sg/s4 00/ordem+jonica.bmp Acesso em: 10 jan. 2010 http://www.photoseek.com/greece/01GRE-27-01-Erechtheion-Caryatids.jpg http://www.photoseek.com/greece/01GRE-27-01-Erechtheion-Caryatids.jpg 29 Ordem Coríntia (esquema ao lado do francês Claude Perrault, 1676) Imitava a “figura delgada de uma menina”. O fuste mais longo e fino, sempre canelado, e o capitel adornado com folhas de acanto (planta medicinal existente no mediterrâneo) e pequenas volutas. No período romano, tornou-se o capitel padrão para quase todos os fins (JANSON, 1992). Podemos analisá-lo nas ruínas do templo de Zeus, em Atenas. Figura 2.12 - Ordem Coríntia Fonte:http://dc150.4shared.com/img/BG5gHe 6g/preview_html_48cc772b.jpg Acesso em: 13 jan. 2010 30 2.2.2 Escultura grega Os gregos alcançaram nas esculturas de figura humana a tradução do espírito antropocêntrico de sua civilização. O Homem era a medida, tendo nas ideias de Platão Figura 2.14 - Templo de Zeus, Atenas. Fonte: http://wazari.files.wordpress.com/2009/07/ img_3477.jpg Acesso em: 13 jan. 2010 Figura 2.13 Kroisos (Kouros de Anavysos) c. 525 a. C. Mármore, alt. 1,96m . Museu Nacional de Atenas. Fonte:http://nam.culture.gr/portal/pls/porta l/docs/1 /86093.JPG Acesso em: 13 jan. 2010 A escultura arcaica caracteriza-se pela forte influência egípcia, em posição frontal e simétrica, feições convencionais, braços estendidos ao longo do corpo e uma perna à frente – em um princípio de movimento. O nome geral é Kouros (plural Kouroi) – para as esculturas de homens jovens (fig.2.13); e Kouroi (plural Koré) – para as jovens mulheres. Estas esculturas vão se sofisticando, salientando a anatomia atlética dos Kouroi e a delicadeza e nuance dos detalhes das Koré. 31 e Aristóteles a dose de idealização ou de naturalismo presente na representação. Para melhor entendimento da escultura grega, devemos nos lembrar de que, a partir do período clássico, a maioria das esculturas era feita em bronze e adornada em ouro, marfim e forte policromia. Essas esculturas originais perderam-se no tempo, muitas delas destruídas pelos iconoclastas ortodoxos na Idade Média. Esse mundo branco feito em mármore, que habita nosso imaginário, é fruto das réplicas feitas pelos romanos a partir do séc. II a.C., e, por meio delas, temos um vislumbre do que veio a ser a estatuária grega. O Período Clássico distingue-se pelo apuro anatômico em crescente idealização das formas e proporções – é o chamado belo platônico. Os escultores deste período tornam-se conhecidos. Policleto, escultor do Doríforo (fig.2.15 ) – notório como o canon, regra da absoluta perfeição, proporção da figura humana em sete cabeças e meia. São deste Período grandes escultores, como Miron, Fídias e Praxíteles, e talvez a mais famosa escultura grega feminina, a Vênus de Milo, assim chamada por ter sido encontrada na ilha de Melos, símbolo de equilíbrio e simplicidade – harmonia perfeita. Figura 2.15 Doríforo (o lanceiro) Fonte: http://www.paideuma.net/fig11c.jpg Acesso em: 10 jan. 2010 32 2.2.3 Cerâmica A cerâmica é o suporte do que restou das representações bidimensionais dos gregos. Desde os primeiros tempos, acompanhou-se o desenvolvimento estilístico do mais geométrico (2.17), das tribos mais primitivas aos esquemas corporais do Estilo de Figuras Negras e Estilo de Figuras Vermelhas do período arcaico e clássico, que privilegiavam os temas heroicos, à extrema delicadeza dos fundos brancos. 2.3 A Arte Romana e Paleocristã A cultura romana teve duas influências primordiais: dos etruscos herdaram o senso de realismo e a maestria na engenharia arquitetônica; dos gregos – dos quais são os grandes exaltadores, sendo continuadores do helenismo – importaram ou copiaram A escultura helenística caracteriza-se pelos efeitos dramáticos, impressão de movimento e detalhamento intenso. Muitas vezes equilíbrio e harmonia são preteridos a essa nova característica. É a tradução de um novo momento, com o rigor de uma nova estética. O grupo escultórico Laocoonte (fig. 2.16) – que retrata uma cena da Eneida de Virgílio - é uma das obras primas deste período. Figura 2.16 - Laocoonte e seus filhos. Hagesandro, Atenoro e Polidoro. Fonte: http://cv.uoc.edu/~04_999_01_u07 /percepcions/laocoonte.gif Acesso em: 13 jan. 2010 Figura 2.17 - A lamentação dos Mortos - Cerâmica de figuras geométricas Fonte:http://teachers.sduhsd.k12.ca.us/ltrupe /ART%20History%20Web/final/chap5Greec e/Vase-Dipylon%20Cemetary.jpg Acesso em: 13 jan. 2010 33 obras de todas as épocas, empregando seus artistas e utilizando-se de todas as maneiras o seu cabedal de cultura. Exímios militares, criaram um vasto império, que se estendeda Inglaterra ao Golfo Pérsico, da Espanha à Romênia (JANSON, 1992). Temos, portanto, arte romana em lugares díspares, como Portugal, Egito ou França. A província da Judeia pertencia ao império romano, e é nela que nasce aquele que divide a História, e é a figura central do cristianismo – Jesus Cristo. Os primeiros cristãos, perseguidos usaram da arte como forma de ensinamento, mas essa arte tinha, em seu âmago, a tradição romana da representação. 2.3.1 - Arte Romana Entre os séculos II a.C e V d.C , houve a consolidação e a queda do vasto Império Romano. Um Império cosmopolita que absorvia e fundia características e culturas regionais; militar, subordinava as províncias ao poder romano, mas hospitaleiramente recebia na capital sábios e imagens religiosas díspares (JANSON, 1992). Portanto, a cultura romana é um amálgama de pequenas influências provinciais somadas à grande influência helenística. É essa cultura diversificada, esse urbanismo sofisticado, essa arte que traduz o poder, mas também o sutil e prazeroso que permanece como paradigma de clássico, tantas vezes revista na História através das artes, arquitetura e letras. 2.3.1.1 A Escultura Romana As réplicas de esculturas gregas produzidas pelos romanos possibilitam, como já foi dito, o conhecimento fragmentado dos originais. Essas réplicas eram usadas como objetos de decoração, souvenires de admiradores da arte grega (GOMBRICH, 1983), porém não são determinantes do estilo original romano. Este, em oposição ao estilo grego, busca o realismo dos retratos. Não há nada de Figura 2.18 - Imperador Vespasiano Fonte: http://www.usc.edu/dept/ LAS/religion/arc/neapolis/vespasian2 .gif Acesso em: 13 jan. 2010 34 idealizado nestes rostos, muitas vezes envelhecidos e desprovidos de belos traços, mas que são poderosos em dignidade, em posturas serenas e em dimensões respeitosas (fig.2.18) 2.3.1.2 Arquitetura Romana Como já vimos, a arquitetura romana sofre forte influência grega, principalmente de seus templos, com sua gramática, em especial as três ordens. A estas ordens é somada a toscana, mais encorpada e simples que a dórica e a compósita, mais delgada e com capitel que une volutas às folhas de acanto (fig.2.19). Típico da arquitetura romana são dois elementos que, junto com os elementos gregos, formam a gramática clássica: a abóbada e o arco, elementos revolucionários que colaboraram com o gigantismo das construções romanas. Porém, é o uso de um rígido concreto, formado de argamassa, saibro, cascalho e outros restos de construção que possibilitaram a perenidade da arquitetura romana. Esse concreto era revestido de placas de mármore ou granito polido, mas essas placas se perderam com o tempo (JANSON, 1992). Pontes, aquedutos, termas, templos, arcos triunfais, residências... a arquitetura romana foi rica e diversificada. Uma das mais famosas construções é o anfiteatro Coliseu – Colosseum (fig.2.20), que permanece como a imagem do gigantismo alcançado pelo engenho romano. Construído com o sólido concreto romano, apresenta uma Figura 2.19 - O progresso das cinco ordens de acordo com Claude Perrault Fonte: http://www.globalgallery.com /prod_images/600/ny-s1854.jpg Acesso em: 13 jan. 2010 Figura 2.20 - Coliseu, (72-80 d.C.), Roma. Fonte: http://uglyships.files.wordpress.com/2009/02/ colosseum-rome-rcol4.jpg Acesso em: 15 jan.2010 http://uglyships.files.wordpress.com/2009/02/%20colosseum-rome-rcol4.jpg http://uglyships.files.wordpress.com/2009/02/%20colosseum-rome-rcol4.jpg 35 formação circular que se tornou regra em construções ligadas a esportes de grandes públicos (lembrando que as sangrentas apresentações de gladiadores eram tidas como espetáculos que poderiam ser assistidas por aproximadamente 50.000 pessoas). Externamente, o Coliseu apresenta uma sequência de três andares compostos por arcos regularmente enfileirados e um último andar fechado. Ladeando cada arco, apresenta uma meia-coluna, sem função estrutural, mas importante função estética – inaugura o uso de ordem-sobre-ordem (primeiro andar, dórico; segundo, jônico; terceiro, coríntio e quarto, compósito) (SUMMERSON, 1999). 2.3.1.3 As Representações Bidimensionais Romanas As pinturas murais romanas, em técnica de afresco, refletem a delicadeza do período helenístico. Há uma variedade de temas, naturezas mortas (fig.2.21), figuras com animais, paisagens, cenas mitológicas e trompe- l’oeil, na qual falsos elementos arquitetônicos criam uma ilusão aos nossos olhos. As decorações são completadas com ricos mosaicos, principalmente como pisos. 2.3.2 Arte Paleocristã Ao negarem-se a queimar incenso diante do busto do imperador em sinal de vassalagem, os primeiros cristãos passam a ser perseguidos e mortos pelos romanos (GOMBRICH,1983). Nestes primeiros tempos, os cristãos têm duplo objetivo: ensinar e propagar a fé cristã e, ao mesmo tempo, escapar das impiedosas perseguições. Os afrescos são o instrumento doutrinário e as catacumbas (cemitérios subterrâneos evitados pelos soldados romanos) são os locais para as pregações. Figura 2.21 - Natureza morta com romãs jarros. Fonte:http://3.bp.blogspot.com/_R7cmk5IAXmQ/R 6n6TVAO9fI/AAAAAAAAAHk/- R0jtWxm6CI/S220/afresco.jpg Acesso em: 15 jan.2010 36 Aqueles cristãos ainda viviam sob a influência artística romana, principalmente pela popular arte das pinturas. Os afrescos que acompanhavam os encontros religiosos seguiam as tradições pictóricas romanas, porém com uma nova temática - os símbolos cristãos. O bom pastor (2.22), o cordeiro, o peixe, o pássaro bicando frutos, os banquetes fúnebres são símbolos encontrados nas catacumbas, assim como passagens das escrituras. Após o séc. IV, o Imperador Constantino oficializa o cristianismo como religião oficial do Império Romano. É o prenúncio da Idade Média com toda a força de sua espiritualidade. 2.4 Síntese da Unidade Nesta Unidade vimos a forma sutil como as grande civilizações da Idade Antiga deixaram o neolítico rumo a uma cultura ainda mais sofisticada e elaborada esteticamente. A imutabilidade da arte egípcia, totalmente voltada para o culto da vida após a morte, o antropocentrismo e a complexidade da cultura grega, o senso de realismo e a arquitetura colossal dos romanos, sintetizando junto aos gregos a nossa noção de clássico, e, finalmente, os primórdios do cristianismo formam a epistemologia do mundo ocidental. Figura 2.22 - O Bom Pastor afresco da Catacumba de São Calixto Fonte: http://www.wicketgate.com/ats/nt501/ 10kappa/Good_Shepherd_Xn_catacombs_of_Ro me_Fresco_in_the_Crypts_of_Lucina_near_the_ Catacombs_of_Saint_Callixtus.jpg Acesso em: 15 jan.2010 37 2.5 Atividades 1) Observe a figura e explique as características da Lei da Frontalidade, e o sentido religioso da Arte Egípcia. 2) Analise o texto abaixo (GOMBRICH, 1983) e explique a escultura grega e suas réplicas romanas. Quando caminhamos ao longo das filas de estátuas de mármore branco da antiguidade clássica nos grandes museus, esquecemos com muita freqüência que entre elas se encontram aqueles ídolos de que a Bíblia fala (...). De fato, a razão pela qual quase todas as estátuas famosas do mundo antigo pereceram foi que, após a vitória do Cristianismo, era considerado piedoso dever destruir qualquer estátua dos deuses pagãos. As esculturas em nossos museus são, em sua maioria, cópias em segunda mão feitas nos tempos romanos para viajantes e colecionadores, como souvenir e como decorações para jardins e banhos públicos. Devemos ser muito gratos por essas réplicas, já que nos proporcionam, pelo menos, uma pálida idéia das famosas obras-primas da arte grega; mas, se não usarmos a imaginação, essas fracas imitações tambémpodem fazer muito dano. Elas são largamente responsáveis pela idéia generalizada de que a arte grega é inanimada, fria e insípida, e de que as estátuas gregas tinham aquela aparência lívida e olhar vazio que nos lembram obsoletas aulas de desenho. A cópia romana do grande ídolo de Palas Atena, por exemplo, que Fídias realizara para o seu santuário no Parthenon, dificilmente parece muito interessante. Devemos recorrer a antigas ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- ------------------------------------------------------- -------------------------------- 38 descrições e tentar imaginar como realmente seria: uma gigantesca imagem de madeira de 11 metros de altura,..., toda recoberta de materiais preciosos: a armadura e as vestes de ouro, a pele de marfim. Havia também grande profusão de cores fortes e brilhantes no escudo e outras partes da armadura, sem esquecer os olhos, feitos de pedras coloridas. O elmo dourado da deusa era encimado por grifos e os olhos de uma enorme serpente enroscada dentro do escudo também eram assinalados, sem dúvida, por pedras refulgentes. Deve ter sido uma visão fantástica, inspiradora de profundo respeito e temor, quando alguém entrava no templo e subitamente se via frente a frente com essa estátua gigantesca. 3) Procure em livros e sites: 1- Os tesouros e as maldições de Tutankhamon. 2- Teatro Grego: grandes autores como Ésquilo e Sófocles. 2.6 Para saber mais Livros ou capítulos • História Social da Literatura e da Arte. A Segunda Parte: “Culturas Urbanas do Oriente Antigo” analisa essa nova classe – a dos artistas – e a importância de sua arte, principalmente nas questões políticas e religiosas. A Terceira Parte: “Grécia e Roma” contextualiza a arte sob nova dimensão: a do homem. • A História da Arte. Gombrich traz, do Capítulo 2 ao 6, a sucessão de formas e estilos artísticos analisadas sob a sua arguta percepção – vale acompanhar todas as descrições e reflexões sobre as várias obras de arte citadas.. • Vitrúvio . Gostou das análises sobre arquitetura? Que tal ir à fonte? Os 10 volumes do De Architectura são, na realidade, dez pequenos capítulos muito bem comentados na edição de referência. 39 Sites • www.pompeiisites.org-. Site oficial de Pompeia, no qual você pode fazer visitas virtuais, conhecer a história das escavações, ver aspectos de toda a região (inclusive Herculano) e link para ver as lindas pinturas em afresco expostas no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles. • www.louvre.fr - Que tal uma visita ao Museu do Louvre, com direito a percorrer seus corredores e olhar de perto as obras de seu acervo? Na impossibilidade de ir ao museu de verdade, fique com a possibilidade virtual. O site é excelente e muito divertido. Para esta Unidade, conheça boa parte do acervo dos departamentos (Collections & Départements): - Antiquités orientales – acádios, babilônios, fenícios, hebreus, árabes... obras enigmáticas, exóticas e extremamente antigas do oriente médio. - Antiquités égyptiennes – o setor de egiptologia do Louvre é imenso e diversificado. Uma grande parte foi trazida à França por Napoleão Bonaparte, fruto de sua expedição ao Egito entre 1798 e 1801. - Antiquités grecques, étrusques e romaines: das maravilhosas Vênus de Milo e Vitória de Samotrácia, vá aos mosaicos e afrescos romanos, ou a sarcófagos do período arcaico. http://www.pompeiisites.org/ http://www.louvre.fr/ 40 Unidade 3 Unidade 3 . Espírito sobre a matéria – A arte medieval Um período de aproximadamente mil anos definem os limites da Idade Média – milênio das trevas, como muitos já a chamaram. Serão trevas rendilhadas na arquitetura e explosão de cores em vitrais? Serão trevas iluminuras fascinantes e afrescos enlevados? Alguma treva resiste à sublime música medieval ou à doce literatura dos menestréis? Um conturbado período de guerras sangrentas, extinção de uma economia monetária, supressão da liberdade dos camponeses e domínio ininterrupto da Igreja permitem, de fato, uma interpretação funesta do período medieval; mas a sua extraordinária arte a redime: é pura luz transcendental. Vamos ver nesta Unidade dez séculos de arte cristã, um amálgama de rigor moral iconoclasta, criatividade libertária de imagens e princípio de humanismo na representação. Vamos a esta cruzada! 3.1 A Arte dos Povos Bárbaros Os últimos séculos do Império Romano foram marcados crescente enfraquecimento político e militar. A divisão do Império, com Constantino em 323 d.C., deslocou uma das sedes do Império para o Oriente, em Constantinopla, enquanto Roma permanecia enfraquecida. Hordas de povos chamados pejorativamente de bárbaros (pois não possuíam a cultura clássica) invadiram e tomaram o Império do Ocidente: os Vândalos no Norte da África, os Visigodos na Espanha, os Francos na Gália, os Ostrogodos e Lombardos na Itália. Era uma nova geografia que se vislumbrava, a gênese das línguas modernas que se iniciava, o cristianismo que se consolidava, utilizando a belíssima miscigenação das Artes Paleocristã e Bárbara. 41 3.1.1 A Arte Bárbara As tradições artísticas bárbaras, espalhadas por diversos territórios e épocas, traduzem-se principalmente nos motivos de animais, criando padrões intrincados. quase abstratos, em madeira talhada, metais, esmaltes e pedrarias. Em objetos de acentuado realismo, porém com decorações abstratas, podemos conferir a existência de uma cultura religiosa desenvolvida e um senso estético esmerado Os primeiros tempos da Idade Média, chamada Alta Idade Média, são fortemente influenciados pela estética bárbara. Cruzes com adornos celtas, utilização de pedrarias não lapidadas, iluminuras com padrões intrincados, como podemos observar no manuscrito Evangeliário de Lindisfarne (fig. 3.1), combinam elementos bárbaros e cristãos A iluminura da Cruz apresenta o intrincado padrão formal bárbaro. Diversos manuscritos foram decorados sob essa influência, ajudando a trazer um novo elemento artístico para a arte ocidental (GOMBRICH, 1983) 3.2 A Arte Bizantina Após a cisão do Império Romano, a região de Bizâncio, com capital em Constantinopla, tornou-se um esplendoroso Império, com a manutenção de várias tradições clássicas de representação e arquitetura, agora voltadas para o cristianismo. A religião oficial era subordinada ao Imperador, e não ao Papa em Roma, a partir do reinado de Justiniano, no séc. VI. Essa religião, chamada Ortodoxa, a partir do séc. XI, tornou-se extremamente rígida em relação à arte, principalmente quanto à representação religiosa: eram os iconoclastas que, Figura 3.1 - Página da Cruz dos Evangelhos de Lindisfarne. Fonte: http://www.artyfactory.com/perspective _drawing/images/eye_level/lindisfarne Acesso em: 14 jan.2010 42 assim como impediam uma representação naturalista de Deus, Nossa Senhora e apóstolos, renegavam violentamente as imagens ditas pagãs – esse foi o principal motivo da destruição das esculturas gregas originais. 3.2.1 Arquitetura e Artes Decorativas A arquitetura religiosa bizantina apresentou diversas contribuições, tanto no oriente, como no ocidente – pois foi muito forte a sua influência
Compartilhar