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1 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL ANAMNESE OBSTÉTRICA Os princípios gerais da anamnese e do exame físico na gravidez são os mesmos da semiologia médica, embora, sob o prisma obstétrico, deva-se ter especial atenção a inúmeras particularidades. IDENTIFICAÇÃO Idade Gravidez em condições ideais = 20 a 30 anos; Gravidez de risco = inferior a 15 anos e superior a 35 (expressivo índice de malformações – gestação senil). Cor O vício pélvico é mais comum em mulheres de etnia africana, assim como a incidência de pré-eclâmpsia. Profissão Intoxicações profissionais, de ação lenta, comprometem a evolução gravídica (por ex. álcool, chumbo, fósforo, nicotina etc.) Importa conhecer a profissão da gestante, principalmente quando ela é predisposta a abortamento, para orientá-la quanto à conveniência de abster-se de esforço físico. Estado Civil Estatísticas demonstrando maior morbidade e mortalidade materna e fetal entre as solteiras. Nacionalidade e domicílio Rastrear a possibilidade de enfermidades capazes de influenciar na gestação (doença de Chagas, esquistossomose, malária, Zika). QUEIXA PRINCIPAL E DURAÇÃO A consulta pode ser com a queixa de gravidez, queixa de sintomas associados a gravidez ou sintomas de patologias que podem desencadear por exemplo, prejuízos a gravidez (p.ex. queixas urinárias). HDA Igual na anamnese comum. ANTECEDENTES FAMILIARES É fundamental indagar sobre a existência de estados mórbidos nos ascendentes e colaterais (p. ex., diabetes, pré-eclâmpsia). Ocorrência de malformações; partos prematuros; neoplasias malignas (câncer de colo de útero e de mama); trombose venosa profunda; gemelaridade; doenças congênitas; saúde do marido; marido consanguíneo (doenças autossômica recessiva); descolamento prematuro de placenta. ANTECEDENTES PESSOAIS Desenvolvimento nos primeiros anos de vida , inicio de deambulação, condições de nutrição na infância (investigar raquitismo, influência perniciosa sobre o esqueleto, especialmente na constituição da pelve); instalação da puberdade (data de menarca e característica dos ciclos menstruais – anamnese ginecológica em geral). Antecedentes patológicos (poliomielite, doenças ósseas, cardiopatias, nefropatias e pneumopatia); operações e cirurgias prévias (principalmente do sistema genital: miomectomias, fístulas genitais, perineoplastia); medicações de uso regular e alergias medicamentosas, terapias hormonais. Hábitos de vida, práticas de atividades físicas (frequência e intensidade), ingesta alimentar, tabagismo, etilismo e drogas ilícitas. Condições socioeconômicas (tipo de moradia, saneamento básico, higiene, nível socioeconômico, renda familiar). ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS Gesta: refere-se ao número de ao número de gestações que a paciente já apresentou, não importando a duração ou o número de fetos em cada uma. Ex: nuligesta (nunca esteve grávida), primigesta (primeira gravidez), secundi, terci ou quadrigesta (2ª, 3ª e 4ª vez), multigesta (gestou muitas vezes). Para: refere-se ao número de gestações em que houve viabilidade fetal (exclui abortos), ou seja, o número de vezes que a paciente pariu. Não se leva em conta o número de fetos nascidos e nem quantos sobreviveram. Ex: nulípara (nunca deu à luz), primípara (deu à luz uma vez), II-para, III-para. É paucípara a que deu à luz poucas vezes (até três). Exemplificando: após a primeira parturição, gemelar, a paciente continua I-gesta e I-para; se houve dois abortamentos e está em curso a terceira gestação, trata-se de uma paciente III-gesta, 0-para. Paridade: os perigos para a mãe e para o concepto, na gravidez e no parto, são maiores nas primíparas e naquelas que pariram mais de 4 vezes. Intervalo interpartal: os riscos reprodutivos estão reduzidos quando o intervalo entre os partos é de, no mínimo, 2 anos. Evolução dos ciclos gravídico-puerperais anteriores: serão coletados informes sobre gestações, partos e puerpérios anteriores, e sobre a ocorrência de abortamentos, toxemia e condições de aleitamento. GPA: gestação/parto/aborto. Condições de aleitamento: como foi e por quanto tempo (amamentação exclusiva etc.). Abortamentos prévios: quantidade, se precisou de curetagem, tipo de aborto; Tipo de parto (cesárea, normal, fórceps); APGAR do RN; peso do RN; Idade na primeira gestação; Isoimunização Rh; Intercorrências em gravidez anteriores, sangramento pós-parto; Evolução do puerpério. Anamnese & Exame Obstétrico 2 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL EXAME FÍSICO OBSTÉTRICO Na semiótica geral, é necessário examinar o coração, os pulmões, as mamas, o abdome e as extremidades. Além disso, o obstetra faz minuciosamente a inspeção, palpação e toque vaginal. INSPEÇÃO CABEÇA • Sinal de Halban: formação de lanugem junto aos limites do couro cabeludo, em consequência da intensificação da nutrição dos folículos pilosos. • Melasma ou máscara gravídica: pigmentação difusa ou circunscrita, mais nítida nas áreas muito expostas à luz (fronte, nariz e região zigomática), de tonalidade escura, que mancha a pele, em consequência da hiperfunção do lobo anterior da hipófise, por intermédio de suas células basófilas, que, secretando hormônio melanotrófico PESCOÇO Em função da hipertrofia da tireoide, o pescoço apresenta circunferência aumentada, mais evidenciável por volta do 5º ou 6º mês. GLÂNDULA MAMÁRIA • Hipertrofia mamária – volume da mama aumenta. • Secreção de colostro – a partir das 16 semanas. • Sinal de Hunter: aréola gravídica (em alvo), fica hiperpigmentada e apresenta ao redor a aréola secundária, menos pigmentada. • Rede de Haller: trama de vasos venosos na pele perceptível por causa da melhor circulação. • Tubérculo de Montgomery: cerca de 12 a 15 glândulas mamárias acessórias, ou sebáceas, hipertrofiadas. ABDOME • Globoso ou ovoide; exibe as resultantes da distenção de sua parede pelo útero em crescimento. • Cicatriz umbilical torna-se plana e, às vezes, até protuso. • Ventre em pêndulo (nas multíparas, devido ao comprometimento da tonacidade da aponeurose e da musculatura, que causa diástase dos retos anteriores). • Linha nigra/alva: principalmente nas mulheres de pele mais escura, evidencia-se a hiperpigmentação. • Estrias ou víbices, que variam a coloração: gravidez atual a cor é violácea, gravidez antiga a cor é branca; Acontecem pelo rompimento de fibras colágenas. Acontece mais em mulher jovem, devido a pele ser menos flácida. MEMBROS INFERIORES • Dilatação circunscrita de vasos sanguíneos, exagerados pela influencia da gestação, ou mesmo varizes aumentadas. No fim da gravidez é normal edema. SISTEMA GENITAL EXTERNO • A pigmentação da pele mostra-se mais carregada, formando-se uma aréola escura em torno do ânus. • Sinal de Jacquemier ou Chadwick: a influência hormonal da gestação e, mais adiante, o fator mecânico modificam a mucosa, que se mostra hiperpigmentada, tumefeita e com uma coloração modificada. Rosada → cianosada → violácea. No vestíbulo e nas proximidades do meato urinário e intensificam-se à medida que progride a gravidez. MODIFICAR 3 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL PALPAÇÃO O palpar obstétrico faz-se do útero e do seu conteúdo. SUPERFÍCIE UTERINA: A palpação possibilita o reconhecimento da superfície lisa e regular da parede do útero grávido normal ou de nódulos e saliências, que denunciam tumores miomatosos. Cuidado para não confundir o achado com o que se nota ao palpar as pequenas partes fetais (pés, mãos, cotovelos e joelhos). CONTEÚDO UTERINO: Observado por meio do método palpatório (manobra de Leopold), visa ao reconhecimento do feto, sua apresentação e posição. ATITUDE DO FETO: relação das partes fetais com ele mesmo → flexão generalizada CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL: É avaliada nonível da cicatriz umbilical. Em uma gestante a termo com peso normal, ela mede em torno de 90-92cm. APRESENTAÇÃO FETAL Relação do polo fetal e a abertura superior da pelve materna. Cefálica O polo é menor, liso, consistente e irredutível. Pélvica O polo é maior, irregular, amolecido e deprimível Córmica A escava está vazia. Comum na situação transversal ou oblíqua. SITUAÇÃO FETAL Relação entre o maior eixo longitudinal do feto com o eixo longitudinal da mãe. Longitudinal Transversal Oblíqua ALTURA UTERINA (AFU) • É estimada tendo-se o cuidado de reconhecer a resistência óssea do púbis e de delimitar, sem comprimir, o fundo do útero, com a borda cubital da mão. • A fita métrica mede o arco uterino, o que possibilita calcular a idade da gravidez e acompanhar o crescimento fetal, assim como suspeitar de gemelidade e do excesso de líquido amniótico (LA), chamado de polidrâmnio. • Utiliza-se uma fita métrica, fixando seu marco zero na borda superior da sínfise púbica estendendo-a ao longo do maior eixo uterino e, com a mão esquerda, que delimita o fundo, apreende-se a fita métrica, verificando o comprimento obtido. 1cm = 1 semana, a partir da 20º CONSISTÊNCIA UTERINA • A palpação reconhece a consistência elástico-pastoso- cística, característica do amolecimento da parede uterina da gestante e, em função da quantidade de líquido amniótico, a sua maior ou menor tensão. Pode-se aquilatar por ela a existência de polidrâmnio. • Contrações de Braxton-Hicks são normalmente indolores e curtas, durando apenas um ou dois minutos. Podem ocorrer em toda a gravidez, mas geralmente aumentam no último trimestre. Ajudam a amolecer o colo uterino e exercitar todos os músculos que serão usados para empurrar o bebê para fora. E no decurso da dilatação e da expulsão, as contrações tornam-se metrossístoles regulares, que traduzem a atividade uterina do trabalho de parto. → Primeiros 2 meses: órgão intrapélvico. → 10- 12: região hipogástrica. Começa a ser palpado acima da sínfise púbica. → 16 semanas (3-4º mês): Entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical → 20 semanas (5º mês): na cicatriz umbilical. A partir daí, a medida do fundo uterino se correlaciona bem com a idade gestacional. Um centímetro corresponde aproximadamente uma semana. POSIÇÃO FETAL Relação do dorso fetal com o lado direito ou esquerdo da mãe. Apenas em situação longitudinal. Nas outras não tem como. Esquerda → dorso fetal a esquerda da mãe (PRINCIPAL). Direita → dorso fetal a direita a direita da mãe. IG X AFU: quando não tem relação direta. Pode ser Oligodramnio ou Polidramnio, Gemelaridade, Macrossomia Fetal... 4 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL MANOBRA DE LEOPOLD-ZWEIFEL Após 28 semanas de gestação, o palpar uterino permite reconhecer o concepto nele contido e identificar sua: • Situação: longitudinal, transversa ou oblíqua; • Posição: dorso à esquerda, à direita, anterior ou posterior; • Apresentação: cefálica, pélvica ou córmica. • Permite designar o local apropriado para a ausculta. PRIMEIRO TEMPO SEGUNDO TEMPO TERCEIRO TEMPO QUARTO TEMPO Técnica: examinador lado direito da paciente e de frente para ela. Delimita-se o fundo de útero com as duas mãos encurvadas comprimindo a parede abdominal e observa- se o polo fetal que o ocupa. Objetivo: identificar o polo fetal que está no fundo do útero (cefálico ou pélvico); no caso do feto em posição cefálica deve-se anotar o contorno regular, resistente e irredutível; caso haja quantidade suficiente de liquido, anotar o rechaço. Técnica: Deslizam-se as mãos do fundo em direção ao polo inferior para identificar o dorso fetal de um lado e os membros do outro. Objetivo: determinar a posição fetal: se o dorso do feto está à esquerda ou à direita da mãe. Considerações: a região dorsal do feto é resistente e continua, plana no sentido longitudinal e convexa no transversal. Técnica: Apreender o polo entre o polegar com dedo indicador ou médio, imprimindo-lhe movimentos de lateralidade para verificar o grau de penetração da apresentação na bacia (mobilidade do polo que se relaciona com o estreito superior da pelve). Objetivo: determina o grau de mobilidade fetal para saber se o feto está insinuado na bacia ou não. Técnica: com as costas do examinador voltadas para a paciente, coloca-se as mãos sobre as fossas ilíacas, caminhando em direção ao hipogastro, paralelamente à arcada crural e afastadas uma da outra, cerca de 10cm. Com a ponta dos dedos, procuramos penetrar na pelve. Objetivo: Reconhecer se o polo é cefálico ou pélvico e definir a apresentação fetal (se o bebê já está encaixado ou não). Ratifica a 1º manobra. AUSCULTA • O que se pretende ouvir são os batimentos cardiofetais (BCF), que informam, durante a gestação, se o concepto está vivo ou morto, podendo-se inferir pouco de suas condições de higidez, a não ser por meio do monitoramento dos batimentos, técnica descrita mais adiante. • No parto, a vitabilidade fetal pode ser razoavelmente entrevista pela ausculta, embora o registro cardiotocográfico o faça mais facilmente e com apurada fidelidade. • Os BCF geralmente são percebidos em torno de 20 semanas de gravidez. • A ausculta clínica pode ser: Imediata ou direta: aplicando-se o ouvido sobre a parede abdominal da paciente; Mediata ou Indireta: usando-se o estetoscópio (o mais indicado em obstetrícia é do tipo Pinard, de alumínio ou de madeira, composto por três artes: auricular, coletora e condutora do som.) • Sonar Doppler: pode ser empregada a partir de 10-12 semanas e faculta a audiência e a identificação do pulso do cordão umbilical ou de qualquer outro grande vaso fetal. Os BDF nunca são isócronos com o pulso materno. Sua frequência oscila entre 110 e 160bpm, com 140 de média. O número de bulhas cardíacas, no adulto, é duplo em relação ao dos batimentos arteriais, ou seja, cada batimento esfígmico traduz uma revolução cardíaca com duas bulhas (sistólica e diastólica). No feto, entretanto, ouve-se uma só em cada revolução. 5 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL • Os batimentos são mais facilmente audíveis no chamado foco máximo de auscultação, ponto que varia com a apresentação. • DIAGNÓSTICO DE APRESENTAÇÃO PELA AUSCULTA: No termo da gravidez ou próximo dele, em virtude de estar a área cardíaca mais perto do polo cefálico, o foco máximo de escuta terá locação diferente conforme a apresentação. Na apresentação cefálica, esse foco encontra-se nos quadrantes inferiores do abdome materno, à esquerda ou à direita, conforme a posição. Cefálica: quadrantes inferiores do abdome materno, a esquerda ou a direita, conforme a posição fetal. Córmica: está na linha média, junto a cicatriz umbilical. Pélvica: quadrantes superiores do abdome, esquerdo ou direito. • Ressalva há de ser feita no que se refere à descida e à rotação da cabeça fetal no evoluir do trabalho de parto: o foco de escuta gradativamente desloca-se para baixo e em direção à linha mediana. • ESCUTA NA GRAVIDEZ GEMELAR: Nota-se dois focos, que não são sincrônicos e possui diferentes características (p.ex. Frequência). • AUSÊNCIA DE BATIMENTOS E MORTE FETAL: Vale ressaltar em mulheres obesas algumas vezes não se consegue auscultar os BCF. O diagnóstico de morte fetal deve ser feito pela USG. TOQUE VAGINAL • Não faz muito em rotina, só quando realmente necessário, para não levar bactérias para o canal vaginal. • Pode ser unidigital, bidigital (mais comum) ou manual (excepcional), este realizado quando a apresentação estiver muito alta e, em geral, já na mesa operatória, com a paciente anestesiada. • Técnica: Paciente: bexiga e reto esvaziados, em posiçãolitotômica ou ginecológica. Examinador: mãos lavadas, com luva estéril, entreabrindo a vulva. • Indicações: Durante a gestação: o toque combinado torna possível definir o volume uterino quando o órgão ainda não se encontra acessível à palpação abdominal, o que é útil, portanto, ao diagnóstico da gravidez. Próximo ao parto: possibilita avaliar as condições do colo, relações entre a apresentação fetal e a bacia (insinuação, proporcionalidade) e as características do trajeto ósseo. Trabalho de parto: acompanhar a dilatação cervical, a progressão fetal e determinar o tipo de apresentação, de posição e suas variedades. Diagnóstico de gravidez. SINAIS DO DIAGNÓSTICO DE GRAVIDEZ PERCEPTÍVEIS AO TOQUE VAGINAL Sinal de Puzos Acontece por volta da 14ª semana. Na procedência do toque vaginal (impulsiona o feto com os dedos no fundo de saco anterior) experimenta-se a sensação de algo retornando de uma cavidade (correspondendo ao rechaço fetal). Sinal de Osiander É a percepção dos batimentos do pulso vaginal no fundo de saco devido a hipertrofia do sistema vascular. Sinal de Noble-Budin Em mulheres não grávidas, o útero possui formato piriforme (fundo de saco vazio). Com a gestação, há preenchimento dos fundos de saco laterais, e o útero assume morfologia globosa. Sinal de Hegar Amolecimento e compressibilidade do istmo uterino. Com o toque, dá para avaliar: colo - apagado, centralizado, dilatação, amolecido; presença ou não de bolsa amniótica e sua integridade; altura da apresentação (planos de DeLee); variedade de posição de apresentação. 6 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ As alterações fisiológicas observadas na gestação decorrem, principalmente, de fatores hormonais e mecânicos, e os ajustes verificados no organismo da mulher devem ser considerados normais durante o estado gravídico, embora determinem, por vezes, pequenos sintomas que afetam a saúde da paciente. SISTEMA OSTEOARTICULAR • O centro de gravidade desvia-se para a frente, e todo o corpo, em compensação, projeta-se para trás. • Hiperlordose da coluna lombar → lombalgia. • Passos oscilantes e mais curtos → marcha anserina (como se fosse um ganso) • Dores cervicais (hiperflexão → cervialgia) e lombares → músculos passam a fadigar. METABOLISMO • Aumento na demanda de glicose → parasitismo verdadeiro. • Aumento na resistência à insulina ao fim do 2º trimestre • Preservação de glicose, graças à utilização dos lipídios. A liberação excessiva de ácidos graxos também ajuda a reduzir o uso da glicose materna. SISTEMA CARDIOVASCULAR • Aumento da frequência cardíaca (10 a 20% ou seja, 10 a 15 bpm a mais) • Aumento do volume sistólico (10%) • Aumento do débito cardíaco (40 a 50%) • Diminuição da pressão arterial média (10%) • Diminuição da resistência vascular periférica (35%) • Aumento do débito cardíaco, do volume sanguíneo, por causa principalmente do volume plasmático, da redução da resistência vascular periférica e da pressão sanguínea. SISTEMA SANGUÍNEO • Diminuição: do número de hemácias, da concentração de hemoglobina e de hematócrito • Aumento: de leucócitos e da concentração de fibrinogênio. • A hipercoagulabilidade fisiológica é responsável pelo risco aumentado de trombose na grávida. SISTEMA URINÁRIO • Hidronefrose fisiológica: resultante de fatores hormonais e mecânicos. • Ureteroectasia: o útero expandido comprime os ureteres, enquanto a progesterona inibe a musculatura lisa ureteral. • Infecções urinárias: a dilatação do sistema urinário superior pode aumentar a estase urinária. • Bexiga é distorcida pela compressão do útero e diminuição do suporte pélvico da parede vaginal anterior e da uretra→ incontinência urinária. • Aumento do fluxo plasmático renal e da TFG → diminuição da creatinina plasmática. • Hipercalciúria: aumento da absorção do cálcio intestinal (diminui no plasma e vai pro feto); • A glicosúria é fisiológica na gravidez e se deve ao aumento da TFG, que excede o limite da reabsorção tubular da glicose. Desse modo, não é indicativa de diabetes na gestação, assim como não serve para o seu rastreamento. • Proteinúria é fisiológica, sendo normais valores de proteína na urina de até 300mg/dia. • Retenção de sódio por causa dos mecanismos compensatórios (sistema renina-angiotensina). SISTEMA RESPIRATÓRIO • Frequência respiratória sem alterações • Volume-corrente e volume-minuto aumentados cerca de 30 a 40% • Capacidade residual funcional reduzida em 20% • Hiperventilação fisiológica • Dispneia (em 60 a 70% das gestantes) SISTEMA DIGESTÓRIO • Náuseas e vômitos no primeiro trimestre (pelo aumento do hCG). • Gengivite • Alta incidência de pirose, combinação do relaxamento do esfíncter gastresofágico ao aumento de pressão intra-abdominal condicionada pelo útero gravídico. • A atonia do cólon explica a grande frequência da constipação intestinal. A vesícula fica hipotônica, distendida, com bile viscosa e com grande tendência de formar cálculo. SISTEMA ENDÓCRINO • Aumento fisiológico da tireoide, que fica hiperfuncionante. O iodo tende a diminuir. • Hipófise pode ate triplicar de tamanho, aumento de produção de prolactina. PELE E FÂNEROS • Estrias no abdome e nos seios, nádegas e coxas. • Hiperpigmentação da linha alva do abdome, da vulva, das aréolas e da face. • Hipertricose: pelos na face e em outras regiões, crescimento mais acentuado dos cabelos, com unhas muito quebradiças e surgimento do eritema palmar (vasodilatação da palma das mãos – geralmente pelo estrogênio) e da hipertrofia das glândulas sudoríparas e sebáceas (podendo causar acne) 7 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL CORRELAÇÃO ENTRE SINTOMAS E MODIFICAÇÕES FISIOLÓGICAS DO ORGANISMO MATERNO DURANTE A GRAVIDEZ SINAIS E SINTOMAS MODIFICAÇÕES FISIOLÓGICAS Náuseas e vômitos Elevação dos níveis séricos de B-hCG, T4 livre e estradiol Sialorreia Não deglutição da saliva (não há comprovação de aumento da produção de saliva) “Desejos” Aspectos emocionais envolvidos Melasma/linha nigra Aumento da produção do hormônio melanotrófico hipofisário Pirose/queimação Refluxo gastresofágico, menor motilidade gástrica (não há evidências seguras de hipercloridria) Constipação intestinal Diminuição da função dos músculos lisos pela ação da progesterona Taquicardia Aumento da frequência cardíaca Edema Escape de líquido dos capilares para o espaço extravascular Lipotimia Vasodilatação periférica, hipotensão posturaI devido a diminuição do retorno venoso dos membros inferiores e hipoglicemia Dispneia Crescimento uterino com elevação do diafragma. Aumento do volume corrente que diminui a PCO2 sanguínea Obstrução nasal Embebição gravídica, aumento do fluxo sanguíneo e congestão das mucosas Polaciúria Diminuição da capacidade vesical por compressão em virtude do aumento do volume uterino Nictúria Aumento do fluxo renal pelo decúbito lateral e do retomo venoso pelo decúbito lateral Dor suprapúbica Crescimento uterino, distensão de ligamentos Lombalgia Aumento da lordose, distensão de ligamentos Deambulação insegura Aumento da base de sustentação com afastamento dos pés, desvio do centro de gravidade e marcha oscilante Aparecimento e ejeção do leite no puerpério Estímulos sensoriais no hipotálamo pela sucção, bloqueio dos inibidores da síntese de prolactina, ação da prolactina nos ácinos mamários produzindo o leite e ação da ocitocina na ejeção do leite Queda do hematócrito e da hemoglobina Hemodiluição por aumento do volume plasmático. Há uma "anemia fisiológica" IDADE GESTACIONAL DE DATA PROVÁVEL DO PARTO É importante determinar a idade gestacional para orientar a pacientes sobre atitudes e atividades que devem ser tomadas/mudadas. A idade gestacional é feita em semanase nunca em mês, pois assim há um acompanhamento mais fidedigno em relação as alterações do feto. CÁLCULO DAS SEMANAS E DIAS: DUM – data base (data da consulta). Com isso, conta-se os dias desde a última menstruação até a data base. Lembre: a DUM corresponde ao primeiro dia da última menstruação. Exemplo: DUM: 15/01/2018 Data da consulta: 02/06/2018 • 16 dias de janeiro • 28 dias de fevereiro • 31 dias de março • 30 dias de abril • 31 dias de maio • 02 dias de junho Obs: quando a paciente não sabe referir a data específica da DUM, mas sabe dizer mais ou menos qual o período (início, meio ou fim do mês), você se baseia nos dias 5-15-25. ULTRASSONOGRAFIA: permite avaliação da idade gestacional conforme trimestre ou através de outros parâmetros (DBP, CC, CF e CA) no exame mais fidedigno. É o padrão ouro para determinar a IG. ALTURA DO ÚTERO: quando a paciente não faz ideia da DUM, a IG pode ser avaliada também pela altura uterina (feita com fita métrica). Vale ressaltar a necessidade de uma USG para confirmar. Obs.: A medida da altura é registrada em um gráfico de acordo com a idade gestacional. Valor acima do percentil 90 é anormal. Você deve atentar para a possibilidade de erro da Idade Gestacional (IG) e avaliar a possibilidade de poliidrâmnio, macrossomia fetal, gemelaridade, mola hidatiforme, miomatose ou obesidade. O somatório desses dias determina a idade gestacional, em dias, ou seja, 138 dias, entretanto, como foi dito, a IG é determinada em semanas, então são 19 semanas e 5 dias. 8 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL REGRA DE NAEGELE: Utilizada para calcular a DPP. consiste em adicionar à data da última menstruação 7 dias e mais 9 meses para os meses de janeiro, fevereiro e março (ou menos 3 meses, quando se faz o cálculo retrógrado, no caso dos demais meses). PRINCIPAIS PATOLOGIAS NA GESTAÇÃO As intercorrências mais frequentes são hemorragia vaginal e hipertensão arterial. A hipertensão arterial na gravidez pode ter diferentes apresentações clínicas. CAUSAS DA HEMORRAGIA VAGINAL FORMA CLÍNICA QUADRO CLÍNICO ULTRASSONOGRAFIA Ameaça de abortamento Sangramento por via vaginal, cólicas, volume uterino proporcional à idade gestacional, colo fechado Concepto vivo, áreas de descolamento trofoblástico Abortamento retido Gestante assintomática, volume uterino menor que a idade gestacional Ausência de vitalidade fetal ou gestação anembrionada Abortamento inevitável Sangramento por via vaginal, cólicas, colo pérvio Não visualização de vital idade fetal, descolamento trofoblástico Abortamento completo Sangramento em pequena quantidade, eliminação do concepto e de material ovular, colo fechado, volume uterino menor que a idade gestacional Normal ou espessamento mínimo da decídua Abortamento séptico Associado a qualquer uma das formas anteriores. Presença de febre e sinais clínicos e laboratoriais de infecção Variável na dependência da forma clínica associada Gestação ectópica tubária íntegra Sangramento por via vaginal em pequena quantidade, dor contínua na fossa ilíaca, útero de tamanho normal, colo fechado Espessamento endometrial, volume uterino normal, ausência de gestação tópica, massa heterogênea em um dos anexos Gestação ectópica tubária rota Palidez cutaneomucosa, hipotensão arterial, dor abdominal intensa, sinais de abdome agudo Na maioria das vezes é desnecessária para o diagnóstico. Presença de líquido livre na cavidade abdominal Mola hidatiforme completa Sangramento por via vaginal, útero aumentado para a idade gestacional, colo fechado útero preenchido por massa heterogênea, hiperecogênica comáreas anecoicas entre meadas. Embrião não visualizado. Descolamento prematuro da placenta Sangramento por via vaginal, hipertonia uterina, palidez cutaneomucosa, dor abdominal, batimentos cardiofetais presentes ou ausentes, dependendo da área descolada Geralmente desnecessária Se realizada, hematoma retroplacentário, vitalidade fetal presente ou ausente, na dependência da área descolada Placenta prévia: marginal, centro parcial e centro total Sangramento por via vaginal variável de acordo com o tipo de placenta prévia, tônus uterino normal, vitalidade fetal variável na dependência da intensidade do sangramento Presença de placenta antes da apresentação fetal cobrindo o colo na dependência do tipo de placentação. Descolamento apenas na borda placentária junto ao orifício interno do colo DUM: 22/01/2018 22+7=29 01+9=10 DPP: 29/10/2018 DUM: 10/11/2018 10+7=17 11-3=08 Some 1 ao ano. DPP: 17/08/2019 9 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL HIPERTENSÃO ARTERIAL NA GRAVIDEZ FORMA CLÍNICA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Doença hipertensiva específica da gestação ou pré-eclâmpsia (hipertensão além da 20ª semana de gestação) Forma leve: pressão arterial > 140/90 e< 160/110 mmHg, proteinúria, edema que pode estar ou não presente. Prevalência na primigesta Forma grave: pressão arterial > 160/110 mmHg, proteinúria mais evidente, edema pode estar presente ou não, creatinina sérica ≥ 1,2 mg/dl Síndrome HELLP (do inglês hemolitic anemia, elevated liver enzymes, low platelet counts). Paciente com pré-eclâmpsia associada a trombocitopenia < 100.000 células/mm3, aumento das enzimas hepáticas, hemólise pode estar presente ou não Eclâmpsia: presença de convulsões em paciente com pré-eclâmpsia Hipertensão arterial preexistente ou além da 20ª semana Pressão arterial > 140/90 mmHg; sem proteinúria e sem edema Pré-eclâmpsia sobreposta a hipertensão arterial crônica preexistente Paciente com hipertensão crônica e aparecimento de edema, proteinúria e aumento dos níveis pressóricos de ≥ 30 mmHg na pressão sistólica e de ≥ 15 mmHg na pressão diastólica e hiperuricemia Hipertensão arterial transitória ou gestacional Início no 3º trimestre, sem proteinúria e persiste no pós-parto até 12 semanas de pós-parto DIABETES GESTACIONAL A resistência à insulina na gravidez normal está presente já a partir do 2º trimestre e aumenta progressivamente até o fim da gestação. Essa resistência à insulina atende às necessidades metabólicas do feto (maior disponibilidade de glicose) e é, como já mencionado, consequência da ação dos hormônios placentários contra insulínicos. O defeito metabólico nas mulheres com o DMG é sua incapacidade de secretar insulina em níveis necessários para atender à demanda cujo ápice ocorre no 3º trimestre. Isso leva ao aumento da concentração da glicose pós-prandial, capaz de determinar efeitos adversos no feto (macrossomia e hipoglicemia neonatal), pelo excessivo transporte transplacentário de glicose. Complicações para mãe e para o feto: Pacientes com DMG têm risco aumentado de pré-eclâmpsia e parto cesáreo e suas consequentes morbidades. O bebê da mãe com DMG apresenta maior risco de macrossomia, distocia de ombros, tocotraumatismo, hipoglicemia e hiperbilirrubinemia neonatais GESTAÇÃO DE ALTO E BAIXO RISCO Os marcadores e fatores de risco gestacionais presentes anteriormente à gestação se dividem em: 1. CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E CONDIÇÕES SOCIODEMOGRÁFICAS DESFAVORÁVEIS: • Idade maior que 35 anos; • Idade menor que 15 anos ou menarca há menos de 2 anos*; • Altura menor que 1,45m; • Peso pré-gestacional menor que 45kg e maior que 75kg (IMC<19 e IMC>30); • Anormalidades estruturais nos órgãos reprodutivos; • Situação conjugal insegura; • Conflitos familiares; • Baixa escolaridade; • Condições ambientais desfavoráveis; • Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; • Hábitos de vida – fumo e álcool; • Exposição a riscos ocupacionais: esforço físico, carga horária, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos nocivos, estresse. 2. HISTÓRIAREPRODUTIVA ANTERIOR: • Abortamento habitual; 10 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL • Morte perinatal explicada e inexplicada; • História de recém-nascido com crescimento restrito ou malformado; • Parto pré-termo anterior; • Esterilidade/infertilidade; • Intervalo interpartal menor que dois anos ou maior que cinco anos; • Nuliparidade e grande multiparidade; • Síndrome hemorrágica ou hipertensiva; • Diabetes gestacional; • Cirurgia uterina anterior (incluindo duas ou mais cesáreas anteriores). 3. CONDIÇÕES CLÍNICAS PREEXISTENTES: • Hipertensão arterial; • Cardiopatias; • Pneumopatias; • Nefropatias; • Endocrinopatias (principalmente diabetes e tireoidopatias); • Hemopatias; • Epilepsia; • Doenças infecciosas (considerar a situação epidemiológica local); • Doenças autoimunes; • Ginecopatias; • Neoplasias Os outros grupos de fatores de risco referem-se a condições ou complicações que podem surgir no decorrer da gestação transformando-a em uma gestação de alto risco: 1. EXPOSIÇÃO INDEVIDA OU ACIDENTAL A FATORES TERATOGÊNICOS. 2. DOENÇA OBSTÉTRICA NA GRAVIDEZ ATUAL: • Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e volume de líquido amniótico; • Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada; • Ganho ponderal inadequado; • Pré-eclâmpsia e eclâmpsia; • Diabetes gestacional; • Amniorrexe prematura; • Hemorragias da gestação; • Insuficiência istmo-cervical; • Aloimunização; • Óbito fetal. 3. INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS: • Doenças infectocontagiosas vividas durante a presente gestação (ITU, doenças do trato respiratório, rubéola, toxoplasmose etc.); • Doenças clínicas diagnosticadas pela primeira vez nessa gestação (cardiopatias, endocrinopatias). 11 Mayra Alencar @maydicina | HABILIDADES CLÍNICAS | P4 – UC10 | MEDICINA UNIT AL
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