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P1 - Precedentes no Processo Civil final 2

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Universidade Federal Fluninense
Pesquisa sobre admissibilidade do IRDR com precedentes do STJ, STF, dois TRFs e doi Tribunais de Justiça. 
SOBRE O IRDR
Diante do crescimento da complexidade nas relações jurídicas juntamente com o volume de litígios jurisdicionalizados e, dessa forma, evitar decisões conflitantes em casos análogos, se fez necessário desenvolver técnicas processuais que garantam a proximidade à isonomia e à segurança jurídica. 
No âmbito dessas necessidades, o Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/15) dispõem no artigo 928 sobre duas técnicas processuais destinadas ao julgamento de demandas repetitivas, quais são: incidente de resolução de demandas repetitivas e recursos especial e extraordinário repetitivos. Esses mecanismos se juntam às súmulas vinculantes, julgamento por improcedência liminar do pedido, dentre outros mecanismos processuais, na busca da uniformização da jurisprudência nacional. Neste breve texto, trataremos acerca do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas.
Considerado pela doutrina como uma das maiores inovações do novo diploma processual, o IRDR, traz os benefícios da celeridade, isonomia e segurança jurídica ao jurisdicionado no exercíco de sua dupla função: a de gerir demandas repetitivas dando tratamento adequado, prioritário e racional às questões repetitivas; como também se destina a formar precedentes obrigatórios.
Aspectos Gerais
Com inspiração no procedimento-modelo (Musterverfahren) do direito alemão, o anteprojeto elaborado pela comissão de juristas trouxe importante novidade: a sugestão de criar-se um incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR). Tal instituto foi mantido, com algumas modificações, tanto pelo Senado Federal, em seu primeiro exame, como pela Câmara dos Deputados, na emenda substitutiva aprovada. O objetivo desse incidente processual é conferir um julgamento coletivo e abstrato sobre as questões unicamente de direito abordadas nas demandas repetitivas, viabilizando a aplicação vinculada da tese jurídica aos respectivos casos concretos. Com isso, procura-se, de uma só vez, atender aos princípios da segurança jurídica, da isonomia e da economia processual.
Trata-se, portanto, de mecanismo processual coletivo proposto para uniformização e fixação de tese jurídica repetitiva. Uma vez instaurado o incidente, a questão jurídica a ser julgada passará a vincular todos os outros casos por ele afetados. O IRDR somente pode ser suscitado perante Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal. Não há, por exemplo, a possibilidade de instaurá-lo diretamente no STJ. Julgado o incidente, a tese jurídica será aplicada a todos os processos individuais ou coletivos que versem sobre idêntica questão de direito e que tramitem na área de competência do respectivo tribunal. 
Resumidamente, o IRDR se dá da seguinte maneira: existindo processos repetitivos, sobre uma mesma matéria de direito, em um determinado Estado ou Região, o aludido incidente será suscitado perante o Presidente do Tribunal local. No caso de ser admitido o incidente, todos os processos com a mesma matéria, no Estado ou Região, serão suspensos pelo prazo máximo de 01 (um) ano. Nesse período o Tribunal irá julgá-lo. Julgado o incidente, a tese jurídica fixada será aplicada em todos os processos, presentes e futuros. Logo, todos os juízes deverão aplicar a tese, uma vez que há a formação de uma vinculação.
Natureza Jurídica
O IRDR é uma novidade sem precedentes no sistema processual civil brasileiro, que veio para acompanhar a preocupação do legislador acerca da igualdade de tratamento e da segurança jurídica, com o intuito de uniformizar teses jurídicas no âmbito dos tribunais, porque a decisão do referido incidente configura-se como um “julgamento de casos repetitivos”, conforme dicção do art. 928, I do CPC-15. Ou seja, o IRDR integra o que vem sendo chamado de “rol dos precedentes judiciais obrigatórios” (art. 927 do CPC-15), de controversa existência, pois a redação final do novo diploma processual, naquilo que diz respeito ao IRDR, muito se afastou da redação original do anteprojeto do Senado Federal e da inspiração no instituto do ordenamento alemão em que foi inspirado.
Dois dispositivos constantes do CPC/15 trazem grande parte da controvérsia. São eles o art. 977, I e o parágrafo único do art. 978. Isso porque, ao tempo que o primeiro dispositivo confere legitimidade ao juiz para pedir a instauração do incidente, o segundo determina que o “órgão colegiado incumbido de julgar o incidente e de fixar a tese jurídica julgará igualmente o recurso, a remessa necessária ou o processo de competência originária de onde se originou o incidente”.
Uma vez instaurado, o IRDR há de ser apreciado pelo órgão colegiado que detenha competência funcional para tanto, podendo ser ele o próprio órgão de competência originária ou recursal, ou órgão diverso, quando ocorrerá transferência de competência. Em Tribunais maiores é comum a existência de órgãos especiais enquanto instância decisória mais abrangente. Discute-se a possibilidade de instauração em face de processos na primeira instância, o que será enfrentado em tópico posterior. 
A natureza jurídica do IRDR é, portanto, de incidente processual, como indica a sua nomeclatura. Não tem natureza de recurso, pois falta a taxatividade normativa. Ademais, o Tribunal pode julgar apenas a tese jurídica, não está julgando em concreto o processo, mas sim os juízes competentes. Diferentemente dos recursos, que julga-se a causa em concreto. Além disso, também não possui natureza de ação, pois pressupõe a existência de ações sobre uma mesma matéria. Assim, não se trata de ação coletiva.
Objetivo
Impedir o surgimento de decisões antagônicas em ações individuais repetitivas, mediante a definição prévia de uma tese jurídica central comum que deverá ser obrigatoriamente aplicada aos demais casos é o objetivo do IRDR. O CPC/2015 apenas seguiu o que de já vinha sendo consolidado nas alterações empreendidas no CPC/73, vide os arts. 285-A (sentença liminar de improcedência), 518-A (súmula impeditiva de recursos), 543 e 543-A (repercussão geral para admissibilidade de recurso extraordinário), 543-C (recursos repetitivos), 557 (poderes do relator), que buscavam aglutinar a necessidade de isonomia e segurança jurídica, além de outros, como a efetividade e a celeridade processual. 
Desta feita, o IRDR visa conformar previsibilidade, coerência e efetividade ao sistema, a partir de decisões iguais para casos iguais, além de uma otimização de tempo conducente à economia e à aceleração processual fundamentados nos três pilares principais, que são os princípios da isonomia, da segurança jurídica, e, por fim, da prestação jurisdicional em tempo razoável, que formam a base constitucional do instituto.
Quanto à existência ou não de um caráter preventivo do IRDR, as posições doutrinárias se baseiam na diferença de finalidade que o legislador infraconstituocional quis inculcar ao instituto. Há duas vertentes doutrinárias, sendo que a corrente minoritária versa que o caráter preventivo do instituto está mantido mesmo em face da supressão dos artigos propostos no anteprojeto tramitado no Congresso Nacional (§2º do art. 988 do Projeto da Câmara dos Deputados e caput do art. 930 do Projeto do Senado), com a admissão do incidente diante da identificação de controvérsia com potencial de multiplicação de casos e na pendência de causa de competência do Tribunal, de certa forma, expresso no inciso I do art. 976 do CPC/2015. 
A corrente doutrinária majoritária se contrapõe a esse entendimento baseando-se na própria redação final do art. 976 do CPC/2015, que condiciona o IRDR à efetiva repetição de processos, cuja leitura evidencia a necessidade de materialidade, promovendo a solução uniforme de demandas repetitivas a fim de evitar decisões díspares para situações jurídicas idênticas. O próprio CPC/2015, portanto, afasta essa realidade ao exigir a existência de múltiplos processos, onde a questão jurídica deve ser enfrentada antes de ser instaurado o incidente processual.Cabimento
Requisitos para que um IRDR seja admitido (artigo 976, incisos I e II e § 4º do CPC/2015) são os seguintes:
a) Repetição efetiva de processos que possuem controvérsia sobre questão unicamente de direito. Sendo vago, o termo “efetivo” há de ser conjugado com outros fatores, sobretudo a capacidade da questão colocar em risco a segurança jurídica e a isonomia. Pela literalidade do dispositivo legal, bastariam duas demandas a configurar efetiva repetição, o que não soa como a melhor exegese. Logo, o tem a estender-se para a necessidade de conceituar demandas de massa e demanda repetitivas para alcançar uma diferenciação adequada e o momento preciso para instauração do incidente. Enquanto as demandas de massa se equivalem pela causa de pedir e do pedido, associada à repetição em larga escala, as demandas repetitivas não necessitam dessa identificação posto que se assemelham no plano abstrato, no que diz respeito à questão fática ou jurídica em tese, mas não no âmbito de cada situação concreta;
b) Risco de ofensa à isonomia e à segurança. Tal pressuposto está expressamente previsto no inciso II do art. 976 do CPC/2015. Como já foi argumentado, o código fala em efetiva repetição, mas não diz sob quais contornos configurar-se-á a expressão. Muito menos dimensiona o volume mínimo de demandas capaz de gerar o incidente. No tocante à segurança jurídica, impõe-se maior rigor na interpretação do texto legal. Por ser um bem jurídico amplo, construído a partir de outros princípios, como ampla defesa, contraditório e devido processo legal, a concretude da segurança jurídica se faz a partir de uma posição amadurecida do Tribunal na aplicação de entendimento majoritário e constantemente adotado.
c) Ausência de afetação de recurso repetitivo em tribunal superior. A princípio, não haveria a possibilidade de instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas diretamente nas Cortes Superiores, pois a decisão destas Cortes não se prestam a resolverem casos concretos, por isso não é possível confundir recursos repetitivos, que é o instrumento adequado para tal, com o IRDR. Assoberbaria os Tribunais Superiores e colocaria em risco sua função primordial e indelegável de orientar o direito. Porém, nos termos do art. 976, §4º do CPC/15, o instituto processual não será admitido se o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça, no âmbito de suas competências, tiverem afetado recurso para definição de orientação jurisprudencial sobre a interpretação do mesmo direito, verificada a similitude das relações jurídicas.
Há ainda que se observar alguns pontos:
	Os requisitos do IRDR são requisitos cumulativos;
	A questão pode dizer respeito a direito material ou processual; a direito local ou nacional ou, ainda, a direito constitucional ou infraconstitucional;
	O FPPC 87 versa sobre o entendimento geral para o IRDR, que diz que a instauração do IRDR não pressupõe a existência de grande quantidade de processos versando sobre a mesma questão, mas preponderantemente o risco de quebra da isonomia e ofensa a segurança jurídica;
	De acordo com o ENFAM 22, a instauração do IRDR não pressupõe a existência de processo pendente no respectivo tribunal;
	O incidente pode ser suscitado mais de uma vez. Se for inadmitido, pode ser suscitado novamente, desde que preenchido o requisito faltante;
	O mérito do incidente será apreciado mesmo que haja desistência ou abandono do processo que o originou.
Legitimidade
O IRDR pode ser suscitado pelos seguintes legitimados:
a) Juiz ou Relator – que suscitam o incidente por ofício. Os demais legitimados, por petição. O Presidente do Tribunal, o Presidente do Colegiado e os demais integrantes do Colegiado não podem suscitar o incidente, ou seja, se o processo é no tribunal só o relator poderá suscitar o IRDR;
b) Partes;
c) Ministério Público – que participará do mesmo como fiscal da ordem jurídica (lembrar que no CPC/73 era “fiscal da lei”) e assume a titularidade do incidente caso ocorra desistência ou abandono do processo;
d) Defensoria Pública – que, embora não esteja expressamente previsto no Novo CPC, cumpre salientar que a legitimidade da Defensoria Pública é restrita à defesa dos necessitados ou dos hipossuficientes.
Competência
O IRDR será dirigido ao Presidente do Tribunal local e será julgado pelo órgão indicado no regimento interno do tribunal, entre aqueles responsáveis pela uniformização de jurisprudência.
De acordo com o FPPC 343, o IRDR compete ao Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional, ou seja, tribunal local necessariamente. Ademais, destaca-se que quando o incidente se originar de processo que tramita em primeira instância, o Tribunal fixará apenas a tese. Quando o incidente se originar de processo que tramita no tribunal, este fixará a tese e julgará, em concreto, o processo (ver o artigo. 978, parágrafo único do NCPC).
Procedimento
A) A parte legitimada suscita o incidente perante o Presidente do Tribunal, por ofício ou petição, instruindo com os documentos necessários.
B) O IRDR será distribuído ao colegiado competente que fará a sua admissibilidade, verificando se estão presentes os requisitos do IRDR.
C) Admitido o IRDR, o relator determinará a suspensão de todos os processos com a mesma matéria, individuais ou coletivos, de primeira ou segunda instância, que tramitam no Estado ou Região. A suspensão terá o prazo máximo de 01 (um) ano. Após esse período, os processos continuarão a correr.
Há uma possibilidade de extensão do sobrestamento para todo o território nacional, qual seja: o legitimado pode requerer ao Presidente, do STJ ou STF, a suspensão de todos os processos em curso no território nacional, que versem sobre a mesma matéria. Neste caso, cessa a suspensão se não for interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão proferida no IRDR.
D) O relator ouvirá as partes que compõem o processo originário, o Ministério Público e os demais interessados, no prazo de 15 dias, podendo deferir a participação do “amicus curiae”, bem como marcar audiência pública ou requisitar informações.
E) No julgamento do IRDR haverá possibilidade de sustentação oral, sendo que poderão falar: o autor, o réu, o Ministério Público e demais interessados.
F) O Tribunal fixará a tese jurídica e decidirá, em concreto, o recurso, o reexame ou a ação, se for o caso de o processo tramitar no tribunal.
Coisa Julgada e Força Vinculante
Ocorre a coisa julgada material quando a decisão de mérito se torna imutável e indiscutível por não se achar mais sujeita a recurso (CPC, art. 502). Julgado o IRDR, a tese jurídica fixada deverá ser aplicada por todos os juízes e Tribunais, no Estado ou Região, aos casos idênticos em tramitação e aos processos futuros, salvo se existir distinção ou superação (art. 985, incisos I e II e §§ 1º e 2º do CPC/2015).
Haverá dois julgamentos distintos: o do IRDR e o do processo originário. O julgamento do IRDR não resolve o mérito da causa onde se originou, razão pela qual não se pode atribuir-lhe a autoridade da coisa julgada. O julgamento de mérito se dará após a fixação da tese de direito objetivada pelo incidente. Porém, isto somente se concretizará quando o processo de que se originou o IRDR já se encontrar no Tribunal (art. 978, parág. único).
 O julgamento do incidente pode acontecer, autonomamente, até depois que o demandante tenha desistido da demanda ou abandonado o processo (art. 976, § único). Sendo indiferente ao IRDR o destino do processo que lhe deu causa, não se pode ver coisa julgada numa simples definição de tese de direito, que por si só, não consistiu em solução da questão configuradora do mérito da causa. Portanto, a tese de direito não se apresenta dotada de força executiva, mas terá força vinculativa erga omnes, fazendo com que a tese de direito assentada através do IRDR seja uniformemente aplicada a todo aquele que se envolver em litígio similar ao retratado no caso padrão.
Desse modo, destaca-se que o IRDR é um precedente obrigatório e não meramente persuasivo.
Recursos
Das decisões do IRDR podem caberos seguintes recursos:
a) Embargos de declaração;
b) Recurso especial;
c) Recurso extraordinário.
Só cabe recurso especial ou recurso extraordinário da decisão de mérito do IRDR. O recurso especial e o recurso extraordinário da decisão do IRDR terão efeito suspensivo, excepcionalmente. Os recursos podem ser interpostos pelas partes, pelo Ministério Público, pelo terceiro prejudicado e pelo “amicus curiae”.
JURISPRUDẼNCIAS
STF
Trata-se de pedido de instauração de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, com pedido liminar, ajuizada por Fábio José Freitas Coura, com o objetivo uniformizar entendimento jurisprudencial acerca do prazo prescricional da punição disciplinar. A parte narra que a Segunda Turma desta Corte, ao julgar o RMS 35.383, de minha relatoria, negou provimento a recurso no sentido de imputar ao ora requerente o cometimento de crime de violação de sigilo funcional (art. 325 do CP), cuja prescrição deva ser contada na forma do disposto no art. 142, § 2º, Lei 8.112. Alega que o tema relativo à punição disciplinar de servidores públicos causa multiplicidade de discussões judiciais, exigindo a pacificação da jurisprudência por meio de pronunciamento erga omnes desta Corte. Afirma que o RE-RG 691.306, paradigma da repercussão geral, versa sobre prescrição da punição disciplinar, mas trata especificamente de servidor público militar, o que difere da questão aqui suscitada. Assevera que, no RMS 35.383, assentou-se a tese de que é legítima a aplicação da prescrição em consonância com o Código Penal, na forma do disposto na Lei 8.112, nos casos em que o servidor tenha cometido crime, ainda que não tenha sofrido processo criminal. Sustenta que a jurisprudência do STF acerca da matéria é oscilante. Requer, assim, a instauração de incidente de demandas repetitivas para afetar ao Pleno a discussão tratada no RMS 35.383, no tocante à prescrição punitiva disciplinar. É o relatório. Decido. Inicialmente, registro que o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivos, inserido no ordenamento jurídico brasileiro com o advento do Código de Processo Civil de 2015, é cabível quando houver, simultaneamente, efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão predominantemente de direito e risco à isonomia e à segurança jurídica, com intuito de integrar o “microssistema de julgamentos repetitivos”. Nesse contexto, para melhor compreensão do instituto, destaco o seguinte trecho da decisão proferida pelo Min. Dias Toffoli, nos autos da Pet. 8245, DJe 15.10.2019, acerca do tema: “Teresa Arruda Alvim e Bruno Dantas afirmam que ‘o escopo do IRDR é a tutela isonômica e efetiva, fundamentalmente, dos direitos individuais homogêneos e seu advento traduz o reconhecimento do legislador de que a chamada `litigiosidade de massa´ atingiu patamares insuportáveis em razão da insuficiência do modelo até então adotado, centrado basicamente na dicotomia tutela individual x tutela coletiva.’ (ARRUDA ALVIM, Teresa; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos tribunais superiores no direito brasileiro. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. p. 560) De acordo com Alexandre Freire ‘[o]s processos serão concentrados, e a decisão do incidente vinculará os juízes no âmbito do tribunal.’ […] Após a prolação da decisão ‘Aplicar-se-á a tese fixada a todos os processos individuais ou coletivos, bem como aos casos futuros que versarem sobre idêntica questão de direito.’ (FREIRE, Alexandre. In CÂMARA, Helder Moroni (coord). Código de Processo Civil Comentado. Lisboa: Almedina, 2016. p. 1223). A decisão formalizada no incidente de resolução de demandas repetitivas é a norma do precedente. Esse pronunciamento servirá de orientação e padrão decisório para casos semelhantes, proporcionando maior celeridade e eficiência processuais, uma vez que, assentada a orientação, o precedente servirá como pauta de conduta para fundamentar eventuais decisões concessivas de tutela da evidência, julgamentos parciais de mérito, julgamento liminar de improcedência do pedido, dispensa de reexame necessário, liberação de caução na execução provisória quando a sentença exequenda estiver em consonância com tese firmada no incidente. Para Ronaldo Cramer ‘[…] a partir da interpretação do texto normativo, o julgado cria a norma jurídica individual para resolver o caso concreto. Essa norma individual é construída com os argumentos da fundamentação e se encontra no dispositivo do julgado. Além da norma individual, o julgado, quando precedente, também cria outra norma, de caráter geral, que servirá de baliza decisória para os casos idênticos. Essa norma é extraída da fundamentação, e é a norma do precedente.’ (CRAMER, Ronaldo. Precedentes judiciais: teoria e dinâmica. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2016, p. 88-89). Esse importante incidente de realização da isonomia processual e formação de pauta de conduta é da competência originária do tribunal estadual ou federal a que o juiz da causa estiver vinculado, pois em razão do regime de direito estrito, as hipóteses de ações, recursos e incidentes da competência da Suprema Corte estão taxativamente disciplinadas no art. 102 da Lei Maior. Para o dimensionamento da litigiosidade repetitiva, o Código de Processo Civil de 2015 reservou ao Supremo Tribunal Federal o incidente de resolução de recursos extraordinários repetitivos, que, conjugado com a repercussão geral, prevista no § 3º do art. 102 da Carta da República, permite a Suprema Corte, a partir de criteriosa admissibilidade de representativos da controvérsia, a seleção de temas constitucionais de envergadura maior, para a formação de pautas de condutas de observância obrigatória pelas instituições do sistema de justiça. Em relação ao juízo competente para processar e julgar o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, Luiz Henrique Volpe Camargo, em estudo inovador e paradigmático sobre o tema, afirma que ‘O IRDR foi, ordinariamente, concebido para ser julgado por tribunal de 2º grau. Essa regra era nítida pela disposição do §1° do art. 998 da versão do então projeto do novo código aprovada na Câmara dos Deputados, mas foi suprimida na última etapa da tramitação legislativa. A despeito disso, a competência dos tribunais de 2° grau pode ser, de forma indireta, claramente identificada a partir dos dispositivos que se referem ao âmbito original de suspensão dos processos, que é o Estado ou a Região (CPC, inciso I do art. 982), assim como ao âmbito de vinculação do padrão-decisório inicial definido no IRDR, que em princípio também é o estado ou a região (CPC, inciso I, do art. 985). Acresça-se, ainda, que o art. 985 se refere ao cabimento de recurso de estrito direito (recurso especial e/ou extraordinário) contra acórdão que julgar o IRDR, dispositivos que interpretados à luz dos arts. 102, inc. III, e 105, inc. III, da Constituição Federal indicam que tal julgamento é realizado por tribunal de 2º grau.” (VOLPE CAMARGO, Luiz Henrique . A centralização de processo como etapa necessária do incidente de resolução de demandas repetitivas. 2017. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2017. p. 123- 124. Essa é a mesma percepção de Fábio Victor da Fonte Monnerat, que oferece um argumento igualmente persuasivo ‘com o objetivo de racionalizar o julgamento de processos que versam sobre questões repetitivas não afetadas pelos tribunais superiores, via recurso especial ou extraordinário repetitivos, e de prestigiar a isonomia, segurança jurídica, celeridade e efetividade processuais, o CPC/2015 criou o incidente de resolução de demandas repetitivas regulamentando-o entre os art. 976 e 987. Tal técnica tem lugar no âmbito dos tribunais de 2º grau de jurisdição, pois, para os tribunais superiores, o CPC instituiu uma técnica semelhante, a dos recursos excepcionais repetitivos, entre os arts. 1.036 e 1.041. […] (MONNERAT, Fábio Victor da Fonte. Súmulas e precedentes qualificados. São Paulo: Saraiva, 2019, p. 331.)’ (Grifei)”. Depreende-se do trechoacima transcrito que o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas é um incidente a ser suscitado perante os tribunais de segundo grau. Nesse contexto, cabe ressaltar a inexistência de previsão que possibilite atribuir ao Supremo Tribunal Federal a competência para processar e julgar esse relevante instrumento de formação de padrão decisório. Com efeito, o Supremo Tribunal Federal já assentou, na Pet-AgR 1.738, que a competência originária desta Corte, essencialmente constitucional, não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados no rol taxativo do art. 102, I, da Constituição Federal. Transcrevo trecho da ementa desse julgado: “PROTESTO JUDICIAL FORMULADO CONTRA DEPUTADO FEDERAL - MEDIDA DESTITUÍDA DE CARÁTER PENAL (CPC, ART. 867) - AUSÊNCIA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. A PRERROGATIVA DE FORO - UNICAMENTE INVOCÁVEL NOS PROCEDIMENTOS DE CARÁTER PENAL - NÃO SE ESTENDE ÀS CAUSAS DE NATUREZA CIVIL. - As medidas cautelares a que se refere o art. 867 do Código de Processo Civil (protesto, notificação ou interpelação), quando promovidas contra membros do Congresso Nacional, não se incluem na esfera de competência originária do Supremo Tribunal Federal, precisamente porque destituídas de caráter penal. Precedentes. A COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - CUJOS FUNDAMENTOS REPOUSAM NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - SUBMETE-SE A REGIME DE DIREITO ESTRITO. - A competência originária do Supremo Tribunal Federal, por qualificar-se como um complexo de atribuições jurisdicionais de extração essencialmente constitucional - e ante o regime de direito estrito a que se acha submetida - não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados, em numerus clausus, pelo rol exaustivo inscrito no art. 102, I, da Constituição da República. Precedentes. O regime de direito estrito, a que se submete a definição dessa competência institucional, tem levado o Supremo Tribunal Federal, por efeito da taxatividade do rol constante da Carta Política, a afastar, do âmbito de suas atribuições jurisdicionais originárias, o processo e o julgamento de causas de natureza civil que não se acham inscritas no texto constitucional (ações populares, ações civis públicas, ações cautelares, ações ordinárias, ações declaratórias e medidas cautelares), mesmo que instauradas contra o Presidente da República ou contra qualquer das autoridades, que, em matéria penal (CF, art. 102, I, b e c), dispõem de prerrogativa de foro perante a Corte Suprema ou que, em sede de mandado de segurança, estão sujeitas à jurisdição imediata do Tribunal (CF, art. 102, I, d). Precedentes”. (Pet 1.738 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, DJ 1º.10.1999) Assim, consideradas as hipóteses estritas versadas no art. 102 da Lei Maior, essa Suprema Corte não detém competência originária para processar e julgar Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas. Ante ao exposto, nego seguimento à presente petição e julgo prejudicado o pedido liminar (art. 21, §1º, do RISTF). Publique-se. Brasília, 3 de fevereiro de 2020. Ministro Gilmar Mendes Relator Documento assinado digitalmente
(Pet 8420, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, julgado em 03/02/2020, publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe-024 DIVULG 06/02/2020 PUBLIC 07/02/2020)
STJ
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS - IRDR. ACÓRDÃO DE TRIBUNAL DE 2º GRAU QUE INADMITE A INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE. RECORRIBILIDADE AO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. POSSIBILIDADE DE NOVO REQUERIMENTO DE INSTAURAÇÃO DO IRDR QUANDO SATISFEITO O REQUISITO AUSENTE POR OCASIÃO DO PRIMEIRO PEDIDO, SEM PRECLUSÃO.
RECORRIBILIDADE AO STJ OU AO STF PREVISTA, ADEMAIS, SOMENTE PARA O ACÓRDÃO QUE JULGAR O MÉRITO DO INCIDENTE, MAS NÃO PARA O ACÓRDÃO QUE INADMITE O INCIDENTE. DE CAUSA DECIDIDA. REQUISITO CONSTITUCIONAL DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS. AUSÊNCIA. QUESTÃO LITIGIOSA DECIDIDA EM CARÁTER NÃO DEFINITIVO.
1- Os propósitos recursais consistem em definir: (i) preliminarmente, se é cabível recurso especial do acórdão que inadmite a instauração do incidente de resolução de demandas repetitivas - IRDR; (ii) se porventura superada a preliminar, se a instauração do IRDR tem como pressuposto obrigatório a existência de um processo ou de um recurso no Tribunal.
2- Não é cabível recurso especial em face do acórdão que inadmite a instauração do IRDR por falta de interesse recursal do requerente, pois, apontada a ausência de determinado pressuposto, será possível a instauração de um novo IRDR após o preenchimento do requisito inicialmente faltante, sem que tenha ocorrido preclusão, conforme expressamente autoriza o art. 976, §3º, do CPC/15.
3- De outro lado, o descabimento do recurso especial na hipótese decorre ainda do fato de que o novo CPC previu a recorribilidade excepcional ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal apenas contra o acórdão que resolver o mérito do Incidente, conforme se depreende do art. 987, caput, do CPC/15, mas não do acórdão que admite ou que inadmite a instauração do IRDR.
4- O acórdão que inadmite a instauração do IRDR não preenche o pressuposto constitucional da causa decidida apto a viabilizar o conhecimento de quaisquer recursos excepcionais, uma vez que ausente, na hipótese, o caráter de definitividade no exame da questão litigiosa, especialmente quando o próprio legislador previu expressamente a inexistência de preclusão e a possibilidade de o requerimento de instauração do IRDR ser novamente realizado quando satisfeitos os pressupostos inexistentes ao tempo do primeiro pedido.
5- Recurso especial não conhecido.
(REsp 1631846/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/11/2019, DJe 22/11/2019)
TRF
Julgado 1 -TRF2:
INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS. ADMISSIBILIDADE. EXECUÇÃO CIVIL E FISCAL. LOCALIZAÇÃO DE BENS DO EXECUTADO. INFOJUD. SIGILO FISCAL. ESGOTAMENTO PRÉVIO DE DILIGÊNCIAS. 1. Instauração de incidente de resolução de demandas repetitivas objetivando a definição de tese relativamente à possibilidade, à luz do princípio da inviolabilidade fiscal, de utilização do Sistema de Informações ao Judiciário - INFOJUD para a localização de bens penhoráveis do réu, anteriormente ao exaurimento de diligências prévias para a localização de tais bens. 2. A admissibilidade do incidente de resolução de demandas repetitivas depende da presença dos pressupostos (positivos e negativo) do artigo 976 do CPC e da observância do art. 977, parágrafo único, do CPC, portanto, (i) da efetiva repetição de processos que contenham controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito; (ii) do risco à isonomia e à segurança jurídica; e (iii) da inexistência de recurso repetitivo afetado por Tribunal Superior sobre o tema; e (iv) da instrução do ofício de instauração com os documentos necessários à demonstração do preenchimento dos pressupostos. 3. A questão é unicamente de direito, sendo objeto de múltiplos recursos no âmbito deste Tribunal Regional, distribuídos, a depender da natureza do crédito, às Turmas Administrativas ou Tributárias - mais de 300 recursos sobre o tema julgados pelas Turmas num período de 12 (doze) meses -, pelo que atendido o pressuposto do art. 976, I, do CPC. 4. Do cotejo entre os acórdãos das Turmas Administrativas e Tributárias, verifica-se que a Quinta Turma Especializada, em acórdãos unânimes, tem firmado orientação no sentido da necessidade de prévio exaurimento de diligências para a localização de bens, ante o princípio do sigilo fiscal, através do INFOJUD, ao passo que as Terceira, Quarta, Sexta, Sétima e Oitava Turmas, também em acórdãos unânimes e em observância à jurisprudência do STJ, não tem exigido exaurimento. Presente, pois, risco de ofensa à isonomia e à segurança jurídica ante o posicionamento divergente das Turmas Especializadas desta Corte, divergência também presentenas decisões dos órgãos judiciais de primeiro grau de jurisdição (art. 976, II, do CPC). 5. O tema do incidente não se insere na vedação do § 4º do artigo 976 do CPC, destacando-se que, embora o STJ venha, reiteradamente, aplicando ao Sistema de Informações ao Judiciário entendimento firmado nos Recursos Especiais nº 1.112.943/MA e nº 1.184.765/PA, relativos ao Bacenjud e submetidos à sistemática do art. 543-C do CPC/73, então vigente, não há, quanto ao INFOJUD, precedente vinculante ou recurso afetado pendente de julgamento nos tribunais superiores. 6. Preenchidos os pressupostos legais, deve ser admitido o IRDR, com a consequente suspensão dos processos de execução civil e fiscal, nos termos do art. 982, I, do CPC, na Justiça Federal da Segunda Região, nos quais se discuta questão de direito objeto do presente IRDR - utilização do Infojud para a localização de bens do executado anteriormente ao esgotamento de outras medidas para localização -, até que firmada a tese no presente incidente. 7. Incidente de resolução de demandas repetitivas admitido. Determinada a suspensão dos processos na Justiça Federal da Segunda Região. ( Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas - Órgão Especial Nº CNJ : 0100171-06.2019.4.02.0000 (2019.00.00.100171-1) RELATOR : Desembargador Federal LUIZ PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO REQUERENTE : EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL ALUÍSIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES REQUERIDO : EXMO. DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO TRF 2ª REGIÃO 1 TRF2 Fls 158 Assinado eletronicamente. Certificação digital pertencente a LUIZ PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO. Documento No: 2469227-54-0-158-2-542480) 
Julgado 2 - TRF3:
PROCESSO CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. IRDR. READEQUAÇÃO DOS BENEFÍCIOS
CONCEDIDOS ANTES DA PROMULGAÇÃO DA CF/88 AOS TETOS INSTITUÍDOS PELAS EC
20/1998 E 43/2003. ADMISSIBILIDADE. REQUISITOS ATENDIDOS.
1. O CPC/2015 estruturou um microssistema de solução de casos repetitivos, composto essencialmente pelo IRDR e pelos recursos repetitivos, no qual a legislação relativa a tais institutos dialoga entre si numa relação de integração e complementariedade. Nesse microssistema busca-se resolver as questões repetitivas mediante a formação de um precedente obrigatório, cuja ratio decidendi deve ser aplicada pelo tribunal, seus órgãos e todos os juízes que lhe são subordinados em todos os casos em que se discuta a questão jurídica versada no precedente obrigatório.
2. No que diz respeito ao IRDR, o art. 981 do CPC/2015, prevê que “Após a distribuição, o órgão colegiado competente para julgar o incidente procederá ao seu juízo de admissibilidade, considerando a presença dos pressupostos do art. 976"; segundo o artigo 976, do CPC/2015, são requisitos positivos de admissibilidade do IRDR (i) a efetiva repetição de processos e risco de isonomia e segurança jurídica; (ii) ser a questão repetitiva unicamente de direito; e (iii) a existência de uma causa pendente de julgamento no âmbito do tribunal. Tais requisitos são cumulativos, de sorte que, a ausência de um deles enseja a inadmissão do incidente. Exige-se, também, o atendimento de um requisito negativo: que a questão repetitiva suscitada no incidente não tenha sido afetada por uma Corte Superior para ser analisada em recurso representativo de controvérsia repetitiva. Isso é o que se infere do artigo 976, §4°, do CPC/2015, o qual estabelece
que “É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual repetitiva”.
3. Na singularidade, é notório que a questão jurídica suscitada nesse incidente – possibilidade de readequação dos benefícios calculados e concedidos antes do advento da CF/88 aos tetos de salários-de-contribuição de R$1.200,00 e de R$2.400,00, fixados, respectivamente, pelas EC nº 20/98 e EC nº 41/2003 - se repete em diversas ações individuais em trâmite no âmbito desta Terceira Região. A petição do INSS faz alusão à existência de ao menos 850 processos individuais em trâmite no âmbito da jurisdição da Terceira Região versando sobre o tema aqui enfrentado, elencando 100 (cem) desses processos. A par disso, conforme salientado no parecer ministerial, “uma simples consulta ao sítio eletrônico do Tribunal Regional Federal da Terceira região revela a existência de quantidade considerável de processos versando sobre a mesma questão jurídica”.
4. Há risco de quebra da isonomia e de ofensa à segurança jurídica, eis que essa mesma questão tem sido julgada de formas díspares nas Turmas que compõem esta C. Seção. Logo, além da multiplicidade de demandas, constata-se a existência de decisões díspares quanto à questão jurídica suscitada no IRDR, a demandar a uniformização da jurisprudência desta Corte quanto ao tema e, por conseguinte, a admissão do incidente. A questão fática envolta do tema é irrelevante para a solução da questão jurídica examinada, donde se conclui que esta é unicamente de direito.
5. A questão repetitiva é unicamente de direito. A discussão suscitada não diz respeito à existência ou não dos fatos subjacentes ao tema, mas sim à subsunção da norma jurídica assentada no RE do RE 546.354-SE (precedente obrigatório) – possibilidade de aplicação dos tetos previdenciários instituídos pelas EC 20/98 e 41/03 aos benefícios que, quando do seu cálculo e concessão foram limitados ao teto então vigente - aos benefícios calculados e concedidos antes da entrada em vigor da CF/88. A questão fática envolta do tema é irrelevante para a solução da questão jurídica examinada, donde se conclui que esta é unicamente de direito.
6. O presente incidente origina-se da Apelação Cível, distribuída a e. Desembargadora Federal Luzia Ursaia, em que o proponente, INSS, figura como parte, sendo certo, ainda, que há inúmeros outros recursos em trâmite no âmbito desta Corte sobre o tema. Logo, a exigência de pendência de um processo na Corte e a legitimidade para se propor o incidente restaram atendidos.
7. O requisito negativo previsto no artigo 976, §4°, também está atendido. Não se olvida que o E.STF, ao apreciar RE 546.354-SE, assentou o entendimento de que a aplicação do novo valor teto com base nas emendas constitucionais 20/1998 e 41/2003 aos benefícios já concedidos não viola o ato jurídico perfeito, desde que o salário de benefício ou a renda mensal inicial tenha sido limitado ao teto (STF, RE 564354, Relatora: Ministra Carmem Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 08/09/2010, DJe 14-02-2011). A análise de referido precedente revela que o E. STF analisou a questão à luz da legislação constitucional posterior à CF/88. A situação aqui versada, entretanto, é distinta, na medida em que se discute a possibilidade de tal ratio decidendi ser aplicada aos benefícios previdenciários calculados e concedidos antes do advento da CF/88. Daí se concluir que a questão repetitiva que constitui o objeto do presente incidente sob o enfoque aqui abordado não foi resolvida pelo E. STF, quando do julgamento do RE, de modo a se afastar o óbice do artigo 976, §4°, do CPC/2015.
8. Juízo de admissibilidade positivo.
(INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS (12085) Nº 5022820-39.2019.4.03.0000, RELATOR: Gab. 22 - DES. FED. INÊS VIRGÍNIA, SUSCITANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS, Advogado do(a) SUSCITANTE: FABIO VICTOR DA FONTE MONNERAT – SP231162, SUSCITADO: ALFREDO ANTONIO BATISTA CARDOSO, Assinado eletronicamente por: INES VIRGINIA PRADO SOARES - 21/01/2020)
TJ
Julgado 1 - TJDFT:
PROCESSUAL CIVIL. INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS
REPETITIVAS. OBJETO. INSERÇÃO DO EXAME PSICOTÉCNICO COMO
FASE AVALIATIVA, DE CARÁTER ELIMINATÓRIO, NOS CONCURSOS
PÚBLICOS PARA PROVIMENTO DE CARGOS DA POLÍCIA MILITAR DO
DISTRITO FEDERAL. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. PREVISÃO LEGAL.
EXIGÊNCIA. LEGALIDADE E LEGITIMIDADE. ENTENDIMENTO
INCONTROVERSO. INCIDENTE. INADMISSIBILIDADE. PRESSUPOSTO
NÃO ATENDIMENTO. TRÂNSITO NEGADO (NCPC, arts. 976 e 981) 1. O
incidente de resolução de demandas repetitivas destina-se a assegurara
uniformidade de tratamento jurídico no caso de identificação de controvérsia
que possa gerar relevante multiplicação de processos fundados em idêntica
questão de direito e causar grave insegurança jurídica, decorrente do risco
de decisões conflitantes, tendo como pressupostos de admissibilidade, (i) a
efetiva repetição de processos que coloquem em risco a isonomia e a
segurança jurídica; (ii) a restrição do objeto do incidente a questão
unicamente de direito; e (iii) a pendência de julgamento de causas repetitivas
no tribunal competente (NCPC, art. 976). 2. Engendrado como fórmula de
racionalização, aperfeiçoamento e agilização da prestação jurisdicional
mediante a fixação de entendimento uniforme sobre questão de direito
repetitiva que encontra soluções antagônicas no âmbito do mesmo tribunal,
de molde a ser resguardada a previsibilidade das decisões judiciais e a
segurança jurídica, o incidente de resolução de demandas repetitivas - IRDR
- tem como premissa a subsistência de pluralidade de ações versando sobre
idêntica de questão de direito sem resolução uniforme, não se satisfazendo
com a simples subsistência de multiplicidade de processos se a questão de
direito neles debatida tem entendimento uniforme (NCPC, art. 976). 3.
Apreendido que no âmbito da Corte de Justiça não subsiste controvérsia
sobre a legalidade e legitimidade de inserção do exame psicotécnico como
etapa avaliativa, de caráter eliminatório, nos concursos públicos para
ingresso na Polícia Militar do Distrito Federal por derivar a exigência de
previsão legal casuística, sobejando controvérsia tão somente sobre a forma
de realização dos exames psicológicos, ressoa que, inexistente entendimento
dissonante sobre a questão de direito formulada como hábil a ensejar a
instauração de incidente de resolução de demandas repetitivas, deve-lhe ser
negado trânsito como forma de ser resguardada sua gênese e privilegiada
sua destinação (NCPC, art. 981). 4. O incidente de resolução de demandas
repetitivas está sujeito a exame prévio de admissibilidade, a ser realizado
pelo órgão competente para processá-lo e julgá-lo (NCPC, art. 981), estando 
4
sua admissibilidade condicionada à realização dos pressupostos
estabelecidos pelo legislador como forma de serem preservadas sua gênese
e destinação, implicando que, não formatando questão de direito que,
fazendo o objeto de multiplicidade de processos, tem tido resoluções
dissonantes, afetando a segurança jurídica, não pode ser admitido (NCPC,
art. 976). 5. Incidente não admitido. Unânime.
TJDFT- Acórdão n.953616, 20160020123157IDR, Relator: TEÓFILO
CAETANO Câmara de Uniformização Data de Julgamento: 06/06/2016,
Publicado no DJE: 14/07/2016. Pág.: 260/261)
Julgado 2 – TJRJ:
"INCIDENTE DE RESOLUÇÃO DE DEMANDAS REPETITIVAS. PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO EM RAZÃO DA INCOMPATIBILIDADE DO INSTITUTO COM O PROCESSO CRIMINAL. 1 - O IRDR tem por finalidade uniformizar as decisões judiciais a fim de prevenir julgamentos conflitantes acerca do mesmo tema jurídico. 2 - O processo penal se caracteriza pela análise do caso concreto, das suas peculiaridades, do exame exaustivo dos fatos do delito, das características do réu e da vítima. Por isso, não se pode obrigar o julgador na esfera criminal a adotar tese genérica, ainda que de direito, quando o que se julga é o indivíduo e o seu comportamento. Não há dois indivíduos idênticos ou dois comportamentos exatamente iguais. (...)" (TJ/RJ - IRDR 0010473-50.2017.8.19.0000, Rel. Des. Gabriel de Oliveira Zefiro, Julg. 2.10.2017).
Referências
THEODORO JÚNIOR, Humberto, Curso de direito processual civil, 52ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2019, v. III
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2015
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de direito processual civil cit., v. 3
STF
STJ
TRF2
TRF3
TJRJ
TJDFT
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/incidente-de-resolucao-de-demandas-repetitivas-incertezas-e-inconsistencias/
https://www.conjur.com.br/2019-jun-27/artur-marques-ampliacao-seguranca-juridica-irdr
https://bd.tjmg.jus.br/jspui/bitstream/tjmg/9741/1/Aspectos%20procedimentais%20do%20IRDR.pdf

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