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Capítulo IX - TAXAS DE JUROS

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Capítulo IX - TAXAS DE JUROS 
 
 
Segundo a teoria econômica, a taxa de juros representa a remuneração pelo emprego de um dos 
fatores de produção: o capital. Os juros são parte fundamental do processo de intermediação financeira! pois 
funcionam como o "estímulo" que o agente superavitário tem para deixar de consumir no presente e consumir 
mais no futuro, bem come o custo com que um agente deficitário arcará para financiar seus investimentos. Por 
esse motivo, quando ocorre uma elevação da taxa de juros, verifica-se uma retração dos investimentos, o que 
reduz também o nível de atividade econômica. De maneira inversa, quando ocorre urna redução da taxa de 
juros, verifica-se um incremento do nível de investi mentos, fundamental para o crescimento econômico. 
Portanto, a taxa de juros representa o ingrediente mais importante na decisão dos agentes superavitários (de 
consumir ou poupar) e das empresas (de investir ou não investir). 
Dada a importância da taxa de juros para a economia, é preciso compreender seu processo de formação 
e os fatores que a influenciam. Neste capítulo, serão apresentados esses fatores, diferenciando a taxa básica, 
que é definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), da taxa final cobrada pelos 
bancos, que inclui o spread bancário. 
 
A TAXA BÁSICA 
 
A taxa básica de juros que, no Brasil, é representada pela taxa Selic, ' definida pelo Copom com o 
objetivo de manter a inflação futura dentro d uma faixa de segurança. Basicamente, a definição da taxa de 
juros visa ao equilíbrio previsto no conceito de preferência pela liquidez, segundo o qual um agente sempre 
preferirá consumir no presente, a não ser que seja "recompensado" por adiar seu consumo para uma data 
futura. A taxa de juros de equilíbrio é aquela que torna indiferente o fato de o consumo ser realizado no 
presente ou no futuro. Na Figura 3.1 tem-se um exemplo disso: uma pessoa considera que é indiferente 
consumir R$ 100,00 hoje ou possuir R$ 110,00 para consumir daqui a um ano. Portanto, a taxa de juros de 
equilíbrio é de 10% a.a. 
Dessa forma, o Copom analisa o cenário macroeconômico e todos os fatores que afetam as decisões 
dos agentes no momento de poupar ou de consumir, ou então de investir, no caso das empresas, e define a 
taxa de juros que manterá o equilíbrio entre oferta e demanda agregada. Note- se que as condições 
macroeconômicas determinam o nível de equilíbrio as taxas de juros, sendo recomendável que não haja 
qualquer espécie de interferência política nessa decisão. Taxas de juros, estabelecidas fora do Ponto de 
equilíbrio, por erro ou interferência política, e mantidas nesse patamar por um longo período, podem 
desencadear sérias conseqüências do ao país. Quando estão acima do ponto de equilíbrio, causam redução 
do crescimento econômico e o aumento da taxa de desemprego, podendo também em casos mais graves, 
ocasionar uma recessão da economia. 
Quando estão abaixo do ponto de equilíbrio, produzem inflação e desvalorização da moeda nos 
sistemas de câmbio flutuante ou ainda perda de reservas em sistemas de câmbios controlados. 
 
Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) 
 
O Copom foi criado em 20 de junho de 1996 como parte de um processo de maior transparência e 
modernidade do Sistema Financeiro Nacional iniciado com a implementação do Plano Real em 1994. As 
finalidades principais do Copom são: estabelecer diretrizes de política monetária, definir a meta da taxa Selic e 
seu eventual viés, bem como analisar o Relatório da Inflação. 
O modelo brasileiro seguiu o exemplo de outros comitês existentes em muitos países, como o Federal 
Open Market Committee (FOMC), do Federal Reserve (FED), nos Estados Unidos (equivalente ao Banco 
Central), o Central Bank Council, do Banco Central da Alemanha, e o Monetary Polil Committee (MPC), do 
Banco da Inglaterra. 
 
O Federal Reserve (FED) é um conjunto de organizações financeiras, I composto por 12 bancos 
regionais que formam o sistema bancário central I dos Estados Unidos, ou seja, o Banco Central norte-
americano. O FED representa a principal autoridade monetária norte-americana e suas principais atribuições 
consistem em: 
• ser o responsável pela emissão de moeda; 
• regulamentar a base monetária: 
• definir e executar a política monetária; 
• atuar como câmara de compensação; 
• fiscalizar o sistema financeiro. 
Os representantes do FED reúnem-se, periodicamente, num comitê denominado Federal Open Market 
Commitee (FOMC), para divulgar a taxa básica de juros da economia norte-americana, que remunerará os 
títulos I públicos de emissão do próprio FED e do Tesouro Americano e que servirá 1 de referência para todas 
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as taxas da economia. 
Em 1999, após a modificação para o câmbio flutuante, foi instituído o sistema de metas de inflação, pelo 
Decreto n.° 3.088, de 21 de junho de 1999. Desde então, o Copom passou a adotar uma política monetária com 
o objetivo de manter a inflação anual do país dentro de limites estabelecidos pelo Conselho Monetário 
Nacional. No caso do não cumprimento da meta traçada pelo CMN, o presidente do Banco Central deve enviar 
uma carta aberta ao ministro da Fazenda do país, a fim de explicar os motivos do descumprimento, as 
providências tomadas e o prazo para enquadramento. 
O sistema de metas de inflação representa a adoção, pela autoridade monetária, de uma meta 
explícita para a inflação no país, para um período, que geralmente é de um ano, podendo ter ou não uma 
“faixa de tolerância” em torno da meta escolhida. Com essa medida, o BACEN anuncia formalmente que 
utilizará todos os instrumentos de política monetária disponíveis para atingir a meta. 
O primeiro país a utilizar oficialmente um sistema de metas de inflação foi a Nova Zelândia, em 
1990. Nos anos seguintes, diversos países também adotaram o regime, como Canadá (1991), Reino Unido 
(1992), Suécia e Finlândia (1993) e Austrália e Espanha (1994). 
As reuniões do Copom ocorrem em dois dias. No primeiro, são realizadas apresentações técnicas da 
conjuntura econômica brasileira e analisados dados como inflação, nível de atividade, balanço de pagamentos, 
câmbio, reservas internacionais, mercado monetário, operações de mercado aberto, projeção de inflação 
futura, entre outros. 
 
No segundo dia, definem-se a meta para a taxa Selic, o seu vil quando há, e os mecanismos de política 
monetária que serão utilizado; para atingir o objetivo. Depois de encerrada a reunião, a nova taxa Selic 
divulgada, passando a vigorar a partir do dia seguinte. 
Viés (do francês biais) significa direção ou tendência. Quando o Copom define a meta para a taxa de 
juros, também pode definir se o viés é de alta, de baixa, ou se não há viés. Essa definição dá liberdade ao 
presidente do Banco Central para alterar, na direção do viés, a meta para a taxa Selic a qualquer momento 
entre as reuniões ordinárias, sem que seja necessário convocar uma reunião extraordinária do Copom. Sua 
utilização ocorre normalmente em cenários de grande incerteza quanto ao andamento da economia. Nesse 
caso, é dada a liberdade para que seja realizada nova alteração na taxa de juros antes da data prevista para a 
próxima reunião do Copom. 
O Copom é atualmente composto pelo presidente do Banco Central e pelos diretores de Política 
Monetária, Política Econômica, Estudos Especiais, Assuntos Internacionais, Normas e Organização do 
Sistema Financeiro, Fiscalização, Liquidações e Desestatização, Administração. Também integram o Copom, 
mas com participação apenas no primeiro dia de reunião, os seguintes chefes de departamento Econômico 
(Depec); Departamento de Operações das reservas Internacionais (Depin); Departamento de Operações 
Bancárias Sistema de Pagamentos (Deban); Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab); 
Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) e também por representante da Gerência Executiva de 
Relacionamento C W investidores (Gerin). Além dos diretores, também participam do primeiro dia de reuniãotrês consultores e o secretário executivo da Pretória o assessor de imprensa, o assessor especial e outros 
chefes de departamento eventualmente convidados a discorrer sobre assuntos de suas áreas. 
 
SPREAD BANCÁRIO 
 
Muito se comenta a respeito da significativa diferença entre a taxa básica de juros da economia 
brasileira e a taxa de juros final, cobrada pelos bancos dos tomadores de empréstimos, conhecida como 
spread bancário. Mas por que essa diferença ocorre? Para responder à pergunta, é necessário analisar os 
componentes que incidem sobre a taxa básica que os bancos captam. 
Uma redução na taxa básica não implica, necessariamente, uma redução da taxa final cobrada pelos 
bancos. Diversos fatores podem ocorrer simultaneamente, por exemplo: o Banco Central pode ter elevado o 
porcentual dos depósitos compulsórios para fazer política monetária ou então o governo federal pode ter 
elevado a carga tributária para fazer política fiscal. 
De qualquer forma, a taxa final cobrada pelos bancos pode ser reduzida sem que haja uma diminuição 
da taxa básica, desde que o porcentual dos depósitos compulsórios seja reduzido; a carga tributária seja 
menor; o nível de inadimplência nos bancos caia; haja um enxugamento instituições no sentido de conter 
despesas administrativas; haja mais concorrência, reduzindo a margem de lucro dos bancos, ou qualquer 
combinação de dois ou mais desses fatores. 
Spread é a diferença entre a taxa de juros paga aos investidores e a cobrada nos empréstimos 
bancários. 
 
PRINCIPAIS TAXAS DE JUROS DO MERCADO BRASILEIRO 
 
O acompanhamento das taxas de juros existentes no mercado financeiro é fundamental para 
compreender tanto seu funcionamento quanto as formas de captação de recursos via emissão de títulos 
públicos e privados e seus diversos indexadores. 
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Como já foram vistas as funções da taxa de juros nas decisões entre consumir, poupar e investir, e 
ainda de que maneira ocorre seu processo de formação, serão enumeradas, a seguir, as principais taxas 
existente no mercado brasileiro e apontadas suas características. 
 
SELIC 
 
É taxa básica da economia. Até 1999, seu nível oscilava entre um patamar mínimo (Taxa do Banco Central - 
TBC) e um patamar máximo (taxa de Assistência do Banco Central - TBAN), em função das operação de 
mercado aberto, a fim de atingir os objetivos da política monetária. Tanto a TBC quanto a TBAN eram 
definidas pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Esses patamares foram extintos pelo 
Banco Central em 1999, no rol de medidas que seguiram a desvalorização cambial, quando o Copom passou 
a determinar apenas a meta da taxa Selic e seu viés. 
Os preços unitários (PU) dos títulos públicos federais pós-fixados, representados pelas Letras Financeiras do 
Tesouro (LFT), divulgados diariamente pelo anexo da Resolução n.° 238, também são remunerados pela taxa 
Selic. Os preços contidos nessa resolução são conhecidos pelo mercado como preço "ao par", ou seja, sem a 
incidência de ágio ou deságio. A taxa Selic também pode ser obtida diariamente através dos relatórios PTAX 
860 ou PTAX 880, ambos divulgados pelo Banco Central. 
A taxa Selic é determinada pela oferta e procura por liquidez nas operações de mercado aberto entre 
instituições financeiras e o Banco Central, o qual procura mantê-la em um nível compatível com a meta definida 
pelo Copom. 
 
CDI 
Quando as instituições bancárias efetuam a análise das diversas operações de captação e aplicação 
realizadas no dia para controle da reserva bancária e do depósito compulsório no Banco Central, podem 
verificar sobra ou falta de recursos. O acerto dessa diferença pode ser feito ser feito no BACEN, por intermédio 
de uma operação de mercado aberto, ou então r realizado no mercado interfinanceiro, no qual uma instituição 
financeira que possua excesso de recursos empresta para quem apresente falta de recursos. Tais operações 
entre instituições bancárias são lastreadas em Certificados de Depósitos Interfinanceiros (CDI) e registradas 
na Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP), que, por d vez, controla todas as 
operações, divulgando ao mercado, no dia segui te, a taxa média do CDI do dia anterior. Como o CDI efetivo é 
divulgado pela CETIP apenas em D+1, a Associação Nacional das Instituição no Mercado Financeiro (Andima) 
divulga ao mercado em D+0, à noite uma prévia do valor do CDI, que é calculado pela média das maior 
transações do dia no mercado interfinanceiro. 
O CDI representa a maior referência de taxa de juros para o mercado brasileiro, servindo, cm muitos 
casos, como custo de oportunidade das operações, meta de rentabilidade para fundos de renda fixa e taxa 
livre de risco cm grande parte das análises econômico-financeiras. 
O custo de oportunidade é um conceito muito utilizado em economia e representa quanto um 
investidor deixa de ganhar em um determinado investimento para investir em outro. No caso de um banco 
que deixa de aplicar seus recursos no mercado interfinanceiro para comprar um título público, seu custo de 
oportunidade foi o que ele deixou de ganhar naquele mercado, ou seja, a variação do CDI. 
 
TR 
A Taxa Referencial (TR) foi criada cm 1991 para ser a taxa básica de juros e substituir todos os 
indexadores existentes na economia brasileira até então, como ORTN, OTN, BTN, etc. A TR representa a 
Taxa Básica Financeira (TBF), que é calculada em função da taxa média dos CDB, deduzida de um redutor 
(R), da seguinte forma: 
 
 
A partir de 1997 o redutor passou a ser móvel e definido pelo Banco Central, que com a Resolução 
n.° 2.809, de 21 de dezembro de 2000, determinou que o redutor deve ser calculado por: R = A + (B x TBF), 
sendo A fixado em 1,005 e B variando em função da taxa Selic, de acordo tabela fornecida pelo Bacen. 
ATR é utilizada na remuneração dos títulos da dívida agrária (TDA-E), dos recursos das cadernetas de 
poupança e do FGTS. 
 
Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) 
 
Criada para remunerar os contratos de longo prazo da economia, é definida pelo CMN e divulgada pelo 
Banco Central, com prazo de vigência de três meses. Atualmente, é utilizada para remunerar os recursos do 
PIS/PASEP, do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), do Fundo da Marinha Mercante e das linhas de 
TR = [(I +TBF)/R] - I 
 
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financiamento do BNDES. Em seu cálculo, são consideradas as taxas de juros dos títulos da dívida externa e 
interna do Brasil, de acordo com critérios de peso estabelecidos pelo Banco Central.

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