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Lavínia Nogueira Cruz Múscul� cardíac�: A função do coração é bombear o sangue pelo sistema circulatório por intermédio da contração muito organizada das células musculares cardíacas. Especificamente, essas células conectam-se entre si para formar um sincício elétrico, com fortes conexões elétricas e mecânicas entre as células de ação iniciadas em região especializada é capaz de passar rapidamente por todo o coração, buscando facilitar a contração sincronizada das células musculares cardíacas. O sincício faz conexão mecânica e elétrica, fazendo com que um único potencial de ação (gerado no interior do nó sinoatrial) curse por todo o coração, de maneira que este se contraia de modo sincrônico, semelhante a ondas. Organizaçã� básic� da� célula� musculare� cardíaca�: As células cardíacas conectam-se umas às outras por discos intercalares, que incluem a combinação de junções mecânicas e conexões elétricas. As conexões mecânicas, que evitam que as células se soltem quando se contraem, abrangem as junções de aderência e os desmossomos. Por outro lado, as junções comunicantes (gap) entre as células musculares cardíacas formam conexões elétricas, permitindo a propagação do potencial de ação por todo o coração. Nas células musculares cardíacas, a organização básica dos filamentos grossos e finos é parecida com a dos músculos estriados.É possível ver que as bandas claras e escuras se repetem e representam as bandas I e A, respectivamente. A linha Z divide a banda I e representa o ponto de aderência dos filamentos finos. A região entre duas linhas Z adjacentes representa o sarcômero, que é a unidade contrátil da célula muscular. Os filamentos finos são compostos por actina, tropomiosina e troponina e estendem-se para o interior da banda A. Esta é constituída por filamentos grossos, com certo grau de sobreposição de filamentos finos. Os filamentos grossos são compostos por miosina e estendem-se do centro do sarcômero em direção às linhas Z. Os filamentos de miosina são formados por moléculas de miosina dispostas em posição cauda-cauda, no centro do sarcômero, seguida por associação cabeça-cauda, quando o filamento grosso estende-se para a linha Z. Desse modo, o filamento de miosina é polarizado e preparado para puxar os filamentos de actina para o centro do sarcômero. Corte transversal do sarcômero, próximo à extremidade da banda A, mostra que cada filamento grosso é circundado por seis filamentos finos e cada filamento fino recebe ligações das pontes cruzadas de três filamentos grossos. Essa disposição complexa de filamentos grossos e finos ajuda a estabilizar os filamentos durante a contração muscular. A titina âncora os filamentos grossos (miosina) às linhas Z. Sendo atribuída a ela a função de impedir o estiramento excessivo do sarcômero Acredita-se, também, que a titina colabore para a capacidade do músculo cardíaco de aumentar a força sob estiramento. O músculo cardíaco contém tecido conjuntivo abundante. Isso ajuda a prevenir a ruptura muscular, bem como o Lavínia Nogueira Cruz estiramento excessivo durante os períodos de aumento do retorno venoso. Ex: Durante o exercício intenso, o retorno venoso pode aumentar muito. No entanto, o coração é capaz de bombear esse volume extra de sangue para o sistema arterial, com apenas pequenas mudanças no volume ventricular. Embora a abundância de tecido conjuntivo no coração limite seu estiramento durante os períodos de aumento do retorno venoso, mecanismos reguladores adicionais auxiliam-no a bombear o sangue extra que recebe. De modo oposto, se o coração for excessivamente estirado, espera-se que a capacidade contrátil das células musculares cardíacas diminua (por causa do decréscimo da sobreposição dos filamentos grossos e finos), resultando, assim, em bombeamento insuficiente, aumento da pressão venosa e, talvez, em edema pulmonar. A hipertrofia cardiomiopática familiar (HCF) é a causa de morte súbita em adultos saudáveis. Está associada a defeitos genéticos em várias proteínas dos sarcômeros cardíacos, incluindo a miosina, a troponina, a tropomiosina e a proteína C de ligação à miosina-proteína estrutural localizada no meio da banda A do sarcômero. A HCF é uma doença autossômica dominante, e estudos transgênicos indicam que a expressão de apenas pequena quantidade da proteína mutada pode resultar no desenvolvimento do fenótipo cardiomiopático. Além disso, a mutação de aminoácido único, na molécula de miosina, é suficiente para provocar HCF. No entanto, a patogênese da HCF é variável, no que concerne a início e gravidade, mesmo em uma família com um só defeito genético, sugerindo a presença de loci modificante. Control� d� atividad� d� múscul� cardíac�: O músculo cardíaco é um músculo involuntário, com marcapasso intrínseco. O marcapasso representa células especializadas (localizada no nó sinoatrial do átrio direito), que é capaz de despolarizar-se espontaneamente e gerar potenciais de ação. Uma vez que determinada célula se despolarize espontaneamente e inicie um potencial de ação, esse propaga-se então, por todo o coração (pelas vias especializadas de condução e contato célula-célula). Portanto, é necessária, apenas, a despolarização de uma célula para iniciar uma onda de contração no coração. Quando um potencial de ação é iniciado no nó sinoatrial, propaga-se pelas células atriais por meio das junções comunicantes, bem como por fibras especializadas de condução, no átrio. O potencial de ação passa por todo o átrio. Para atingir os ventrículos, o potencial deve passar pelo nó atrioventricular, em seguida por todo o ventrículo por vias de condução especializadas (feixe de His e sistema de Purkinje) e junções comunicantes, nos discos intercalares de miócitos cardíacos adjacentes. Essa condução rápida promove a contração quase sincrônica das células musculares cardíacas. ● Acoplamento Excitação-Contração O coração requer Ca++ extracelular para contrair-se. Assim, um coração isolado continua a bater, quando perfundido com solução salina fisiológica, oxigenada, morna mas cessa os batimentos na ausência de cálcio. A ausência de contrações em meio deficiente de cálcio é observada, também, em corações estimulados eletricamente, demonstrando, Lavínia Nogueira Cruz portanto, a importância do cálcio extracelular para a contração do músculo cardíaco. A longa duração do potencial de ação do músculo cardíaco decorre da lenta corrente de cálcio para o interior, através do canal de cálcio tipo L voltagem-dependente, no sarcolema. A quantidade de cálcio que entra na célula muscular cardíaca é relativamente pequena e serve como gatilho para a liberação de cálcio do RS. Na ausência dele, ainda é possível iniciar o potencial de ação no músculo cardíaco, embora seja de duração mais curta e incapaz de iniciar uma contração. Portanto, o influxo de cálcio, durante o potencial de ação, é fundamental para provocar a liberação de cálcio do RS e, assim, iniciar a contração. O canal de cálcio é composto por cinco subunidades. A subunidade alfaj é denominada receptor de diidropiridina (DHPR), porque liga-se a fármacos bloqueadores de canal de cálcio da classe das diidropiridinas. Em cada sarcômero do músculo cardíaco, as regiões terminais do RS localizam-se ao lado dos túbulos T e do sarcolema. Essas regiões funcionais são ricas em receptores de rianodina (RYRs; canais de liberação de cálcio do RS). O RYR é um canal de cálcio , cálcio-dependente, de modo que o influxo de cálcio, durante o potencial de ação, é capaz de iniciar a liberação de Ca++ do RS do músculo cardíaco. Regulaçã� d� forç� d� contraçã�: ➔ Cálcio intracelular O coração desenvolveu estratégias alternativas para aumentar a força de contração. O longo potencial de ação no músculo cardíaco, decorrente da ativação do canal de Cálcio voltagem-dependente, resulta em longo período refratário. Entretanto, a modulação do influxo de Cálcio durante o potencial de ação, propicia, ao coração, o mecanismo que altera a concentração de cálcio citosólica e, portanto, sua força de contração. O aumento da concentraçãode cálcio intracelular transitória e da força de contração ocorre em resposta à estimulação simpática. A estimulação simpática ocorre durante períodos de excitação ou de medo e envolve a ativação de receptores beta-adrenérgicos no coração, pela norepinefrina ou epinefrina. O agonista beta-adrenérgico isoproterenol provoca aumento drástico da quantidade de cálcio intracelular, levando como consequência, à contração mais potente. O aumento na força de contração é denominado inotropia positiva. Em geral, ocorre também, aumento da velocidade de relaxamento que acompanha essa estimulação beta-adrenérgica, que resulta em contração mais curta. A elevação da velocidade de relaxamento muscular é chamada de lusitropia positiva. A frequência das contrações cardíacas aumenta, ainda, com a estimulação beta-adrenérgica e recebe a denominação de cronotropia positiva. ➔ Agonistas beta-adrenérgicos No coração, o aumento dos níveis do hormônio da medula suprarrenal, a epinefrina, ou do neurotransmissor simpático norepinefrina ativa os receptores beta-adrenérgicos nas células musculares cardíacas, que, por sua vez, ativam a adenilato ciclase, aumentando o AMPc e promovendo, assim, a fosforilação AMPc-dependente das numerosas proteínas nas células musculares cardíacas. ➔ Estiramento O estiramento do coração aumenta a força de contração e é um mecanismo intrínseco para a regulação da força contrátil. In vivo, o estiramento ocorre durante situações de aumento do retorno Lavínia Nogueira Cruz venoso, do sangue para o coração (p. ex., durante o exercício ou quando a velocidade cardíaca diminui, ou ambos). A lei do coração de Frank-Starling refere-se à capacidade do coração de elevar sua força de contração, quando estirado, o que ocorre nas situações de aumento do retorno venoso Metabolism� d� múscul� cardíac�: A miosina usa a energia do ATP para gerar força, de modo que o estoque de ATP, que é pequeno, deve ser continuamente reposto. Essa reposição é efetuada pelo metabolismo aeróbico, que inclui a oxidação de gorduras e carboidratos. Durante situações de isquemia, o estoque de fosfato de creatina, que se converte em ADP ou ATP, pode diminuir. Quando o músculo cardíaco é completamente privado de oxigênio,, em razão de oclusão de vaso coronário, as contrações cessam rapidamente. Isso não se deve à depleção do ATP ou do fosfato de creatina, já que seus níveis declinam mais lentamente. Mesmo após 10 minutos de isquemia por interrupção do fluxo, quando os níveis de fosfato de creatina estão perto de zero e apenas 20/6 do ATP permanece, a reperfusão pode restaurar esses depósitos de energia, bem como a capacidade contrátil. Entretanto, a isquemia, com prolongamento da interrupção do fluxo por 20 minutos, resulta em diminuição mais significativa do ATP, de maneira que a reperfusão apresenta efeito menos considerável, com, apenas, restauração limitada dos níveis de ATP e de fosfato de creatina ou atividade contrátil. Hipe�trofi� d� múscul� cardíac�: O coração hipertrofiado entrega o melhor desempenho cardíaco, avaliado pelo aumento da ejeção do débito sistólico, aumento do consumo de oxigênio e relaxamento preservado. Portanto o "coração de atleta" representa exemplo de "hipertrofia fisiológica", com efeitos contráteis benéficos. Ao contrário, se exposto à sobrecarga crônica de pressão, o coração pode desenvolver hipertrofia ventricular esquerda concêntrica ou a hipertrofia ventricular esquerda dilatada, com consequentes prejuízos funcionais. A hipertrofia concêntrica caracteriza-se pelo espessamento da parede do ventrículo esquerdo e representa hipertrofia compensatória para a carga aumentada. A hipertrofia dilatada é caracterizada pelo aumento do volume ventricular (volume diastólico final). Ambas as hipertrofias ventriculares esquerdas, a concêntrica/compensatória e dilatada, apresentam diminuição da resposta contrátil à estimulação beta-adrenérgica, limitando a reserva contrátil. Na hipertrofia ventricular esquerda dilatada, a função contrátil normal e a resposta de Frank-Starling podem estar prejudicadas.
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