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THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM URINÁLISE POR QUE PEDIR? Pode-se utilizar para auxiliar no diagnóstico de doenças do trato urinário (IRA, DRC, ITU, glomerulopatias, etc.), além disso, pode ser utilizada para o diagnóstico de doenças em diversos outros sistemas, como no caso de pacientes com hiperglicemia e glicosúria, evidenciando diabetes, ou então para diagnosticar insuficiência hepática, AHIM, entre outras. Também auxilia no monitoramento de enfermidades, como na avaliação de corpos cetônicos para monitorar diabetes mellitus, ou no acompanhamento de tratamentos como na ITU, urolitíase e cistites. RESUMO DE DOENÇAS E PARÂMETROS ENCONTRADOS • CISTITE Inflamação da bexiga, logo se tem presença de neutrófilos, ou seja, leucocitúria. • CISTITE BACTERIANA Leucocitúria e bactérias. • DISFUNÇÃO RENAL Apenas com a Urinálise não é possível definir qual doença renal o animal possui, porém nesses casos encontra-se cilindrúria, proteinúria, descamação de pelve e córtex renal (celularidade). • DIABETES Devido a hiperglicemia o túbulo proximal não dá conta de reabsorver tudo, gerando uma glicosúria. • CÁLCULOS Mostra indícios, porem nada significativo, tendo presença de cristais de oxalato, às vezes micro cálculos na urina, em quadros não obstrutivos. As características na urina de um animal obstruído são urina concentrada (animal não elimina a urina, que é acumulada), disúria e dor ao urinar. • INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA Fígado descompensado não conjuga a bilirrubina direta ou indireta, nem armazena adequadamente a bilirrubina, gerando um acúmulo que extravasa para a circulação, logo, se tem bilirrubinúria (urina com cor mais densa, cor de coca cola). • AHIM – ANEMIA HEMOLÍTICA IMUNOMEDIADA O sistema imunológico destrói as hemácias, que libera a hemoglobina, causando uma hemoglobinúria. COLETA DE URINA Toda técnica tem suas particularidades, porem a escolha depende da atual situação em que o paciente se encontra, prezando uma boa amostra. Também é muito importante saber qual técnica foi utilizada, pois algumas alterações são causadas durante a coleta ou devido ao tipo de coleta. 1. MICÇÃO NATURAL É sempre muito importante desprezar o primeiro jato, pois ele é repleto de bactérias do trato urinário. VANTAGENS Procedimento não invasivo, não possuindo risco de contaminação, sendo também mais confortável para o proprietário. DESVANTAGENS Não há higienização do local, pois se deve esperar a vontade do animal, tendo muita sujidade, celularidade, fibras e gordura na amostra. Como na uretra se tem muitas bactérias, mas na bexiga não, no método de coleta com a micção natural é difícil isolar o agente para saber de qual região ele veio, sendo, portanto uma limitação do exame, não podendo realizar antibiogramas já que se tem uma amostra muito contaminada. Problemas de alterações inflamatórias, neoplásicas do TUI. 2. CATETERISMO – SONDAGEM Procedimento melhor que a micção natural para se realizar a urinálise, porém precisa de maiores cuidados. O macho é mais fácil de sondar, enquanto que a fêmea é um pouco mais complicada, ainda mais dependendo do tamanho, pois se for muito pequena irá precisar de um espéculo e de experiência para realizar a sondagem. THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM Devemos sempre ter o máximo de assepsia possível, pois se deve evitar a contaminação. VANTAGENS Facilidade em machos, podendo utilizar em cães machos pequenos e médios, mesmo quando se tem vesículas com discreta a moderada quantidade de urina. DESVANTAGENS Quando não se tem muita prática em sondar acabamos forçando a sonda na uretra do animal, o que ocasiona em microlesões ou em uma pequena ruptura da uretra, levando a uma urinálise com presença de sangue, eritrócitos hemolisados e de células epiteliais que não deveriam estar presentes. A possibilidade de Infecção do Trato Urinário também é um fator importante a se considerar, já que em animais com cistites recorrentes (ou por uma doença imunossupressora ou ainda por uma paresia) pode-se causar uma ITU pois se tem grandes chances de carrear bactérias de fora para dentro do organismo do animal, não sendo recomendado nesses casos. 3. CISTOCENTESE É o melhor método para coleta, porém exige alto preparo para realizar a palpação da vesícula urinária e acertar a agulha nessa vesícula para conseguir realizar a punção. Esse método também pode ser guiado por ultrassom, sendo mais recomendado. VANTAGENS Menor probabilidade de contaminação, sendo o melhor método para realizar cultura e antibiograma, já que se coleta a urina diretamente da vesícula urinária (ambiente estéril), logo, se houver alguma bactéria se indica que há uma cistite. É também um método muito rápido. DESVANTAGENS Em animais obstruídos no trato urinário inferior se tem grandes riscos de romper a vesícula urinária, pois ela fica repleta de urina e adelgaçada, fazendo com que quando se realize a punção com a agulha ela possa romper, sendo um problema quando o animal está obstruído (pois a vesícula fica repleta de urina) ou apenas com o animal está com a vesícula cheia. Em animais muito agitados também não se recomenda a utilização desse método de coleta, pois pode cortar a vesícula do animal fazendo com que ocorra uroperitônio (urina cai na cavidade abdominal). Além disso, é um método de difícil aceitação do proprietário. ACONDICIONAMENTO Armazenamento em potes coletores de cor âmbar, que protege da luz, evitando alterações desta amostra, se não for protegido de forma adequada pode elevar a densidade e degradar alguns constituintes, como a bilirrubina. É recomendado que seja coletada a primeira urina do dia, pois o organismo está no basal, ou seja, não está tendo nenhuma alteração, logo a urina vai ser mais concentrada. A amostra deve ser fresca, onde em temperatura ambiente tem a duração de 2 horas para se realizar o exame, se for armazenada na geladeira deve ser de a 2- 8ºC, e nunca na porta, pois se tem muita oscilação de temperatura, pode-se armazenar na geladeira por até 8 horas, e antes do exame é importante deixar 2 horas em temperatura ambiente. Em casos de fluidoterapia não se coleta a urina porque ela fica muito diluída. BILIRRUBINA Em casos de pacientes com hepatopatias há bilirrubina na urina, pois o fígado lesionado não consegue realizar sua função degradando a bilirrubina, por isso a urina deve ser armazenada em frasco âmbar, pois se exposta à luz, a bilirrubina degrada. ARTEFATOS Passou de 8 a 12 horas de armazenamento podemos encontrar alterações na urina devido ao mau armazenamento, essas alterações são chamadas de artefatos, como: THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM • CELULARIDADE Essas células se degeneram com o passar do tempo, tendo menos células durante a análise. • CRISTAIS Quando se coloca a urina na refrigeração os cristais que estavam dissolvidos precipitam, por isso é importante analisar a urina em temperatura ambiente (25ºC). • BACTÉRIAS Dobram de quantidade a cada hora em que a urina fica em temperatura ambiente (fora da refrigeração). • OBSERVAÇÃO Os cristais e as bactérias deixam a urina mais turva e esbranquiçada. ETAPAS 1. EXAME FÍSICO Grande parte dessa etapa é a observação, analisamos o volume, a cor, o aspecto, a densidade e o odor. VOLUME O volume ideal depende de alguns fatores como a situação e o porte do paciente, sendo importante considerar o fator alimentar, pois pode haver uma maior ingestão de água e de sódio, e também o fator climático, já que no verão os animais tendem a tomar mais água do que no inverno.Geralmente 10ml é o suficiente para realizar todas as fases do exame e guardar uma amostra (alíquota), caso precise de outro teste. Quanto menor a amostra, menos fidedigno é o exame. Pacientes com poliúria possuem densidade baixa e pacientes com oligúria densidade alta. COR A cor da urina está diretamente ligada à quantidade de soluto que está presente nessa urina. • AMARELO CITRINO É considerada a coloração normal, sendo um amarelo esverdeado devido a presença de urocromo, que dá a coloração da urina. • AMARELO PALHA Amarelo quase transparente, a urina está muito diluída, logo, com uma concentração muito baixa (hipostenúria ou isoestenúria). As possibilidades de se ter uma urina amarelo palha são devido a uma DRC terminal, muita ingestão de líquido, por diabetes insipidus (devido a deficiência de ADH); temos também outras enfermidades em outros sistemas que causam essa baixa densidade como a piometra, erliquiose, leishmaniose, ou seja, doenças crônicas, pois nessas doenças se tem a produção de anticorpos para destruir os antígenos, esse complexo antígeno-anticorpo acaba parando nos rins, começando a degradar o mesmo. • AMARELO ÂMBAR OU OURO Amarelo escuro, indicando que a urina está muito concentrada. • AVERMELHADA A hemácia é eliminada de 2 formas na urina, ou ela está íntegra (hematúria), que é o caso de hemorragias, por ruptura de bexiga ou do sistema urinário, por exemplo, ou ela está com degradação, que ocorre no caso de AHIM (hemoglobinúria), que se tem a eliminação da hemoglobina presente nas hemácias pela urina. A mioglobinúria é a eliminação da hemoglobina do músculo, que ocorre devido a uma degradação muscular. • ESBRANQUIÇADA Devido ao aumento de bactérias, celularidade e de cristais na urina. • CASTANHO ESCURO Cor de coca cola, indica necrose celular, sendo normalmente a fase final da doença renal crônica. ASPECTO Análise para ver se a urina está límpida ou turva. Onde normalmente em carnívoros (cães e gatos) se tem uma urina límpida, quando está turva indica que pode se ter a presença de hematúria, cristalúria, bacteriúria e de leucocitúria (ou piúria); nos grandes animais e em roedores a urina é turva. Em equinos a urina é frequentemente turva pela presença de carbonato de cálcio (cristal) e muco. ODOR • Sui Generis Odor característico da urina, onde cada espécie tem um odor característico diferente. THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM • Aliáceo Odor ácido semelhante ao odor de alho, comum em carnívoros quando se tem uma alta concentração. • Fétido Odor característico de necrose tecidual, devido à presença de infecção bacteriana. • Adocicado Em casos de presença de corpos ctônicos, como na diabetes mellitus e em casos de acetonemia em vacas leiteiras devido à falta de suplementação. • Amoniacal Por infecção bacteriana, pois as bactérias transformam ureia em amônia. DENSIDADE É a concentração de soluto mediante a uma quantidade líquida (água). É o exame mais importante do exame físico, já que a função renal é a de concentrar urina. Porém deve- se sempre ficar atento para casos de febre, desidratação, pouca ingestão de água nefrite ou nefrose, entre outros fatores que também causam a concentração da urina. A fita reagente utilizada não pode ser parâmetro para analisar a densidade, pois ela é calibrada para humanos, por isso a analise é realizada com um refratômetro. Existem alguns elementos que podem elevar a densidade da urina, não deixando o resultado fidedigno, pois gera um falso aumento da densidade urinária, como é o caso da administração do contraste radiográfico, administração de manitol ou glicosúria, que são exemplos que podem gerar interferência no resultado da densidade da urina, pois possuem um alto peso molecular, alterando assim a sua osmolaridade, logo, deve-se esperar passar a eliminação dessas substâncias para então analisar essa densidade. Um animal em equilíbrio deve manter a densidade da sua urina alta, pois é na urina que é eliminado os solutos que não são mais utilizados pelo corpo, deve ser eliminado mais soluto do que água, logo a densidade teoricamente deve ser mais alta (hiperestenúria). • HIPOSTENÚRIA Entre 1,001 e 1,007 (menor do que deveria estar no sangue). • ISOSTENÚRIA Entre 1,008 e 1,012 (igual à densidade sanguínea). • URINA MINIMAMENTE CONCENTRADA Entre 1,013 e 1,030 (cães) e entre 1,013 e 1,035 (gatos). É a urina que fica entre a hipostenúria e a hiperestenúria, depende dos sinais clínicos e da anamnese para avaliar. • HIPERESTENÚRIA Maior que 1,030 (cães), e maior que 1,035 (gatos). A urina com uma densidade maior que a densidade do sangue é o parâmetro considerado normal/desejado, porém devemos levar em consideração diversos parâmetros e diversas análises, como a ingestão de água do animal. Dependendo da densidade da urina ela pode não ter nenhuma relevância clínica, como por exemplo, 1,028 é baixa, porém sem relevância. Agora o animal que apresenta densidade de 1,012 é uma densidade bem próxima a do PH sanguíneo, significa que os solutos não estão sendo excretados na urina, logo esses solutos estão na corrente sanguínea, o que não pode acontecer. Paciente obstruído consegue produzir a urina porem fica retira, a densidade dessa urina vai ser alta, porque está ali sendo concentrada a muito tempo. • 2. EXAME QUÍMICO – FITA REAGENTE Exames realizados através da fita reagente. pH Quem determina o pH da amostra dessa urina (quantidade de H+, bicarbonato entre outros), é o sangue. O pH da urina é característico com o pH sanguíneo, porque a urina é resultado da filtração do sangue. Um paciente com acidose metabólica ou alcalose metabólica vai interferir no pH da urina, a alimentação influencia muito, porque mudando o pH sanguíneo muda o pH urinário; em dietas vegetais se tem a formação de bicarbonato de cálcio, deixando o pH mais alcalino, que é o que ocorre com os herbívoros (7.5 – 8.5); em dietas ricas em proteínas cereais temos a formação de uma urina mais ácida devido à THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM presença de fosfatos ácidos de sódio e cálcio, que é o que ocorre nos carnívoros (5.0 – 7.5). A alteração do pH indica mais uma alteração sistêmica do que um processo localizado. • ALCALINO O resultado da alcalino quando se tem uma demora na análise da urina, quando se tem uma infecção bacteriana, pois esta degrada a ureia em amônia (indicando uma cistite), também ocorre quando administramos alcalinizantes, como (CaCO), e nos casos de alcalose respiratória ou de alcalose metabólica. • ÁCIDO O resultado da ácido nos casos de cetoacidose diabética ou de febre (devido ao catabolismo proteico), ou ainda nos casos de acidose respiratória e/ou de acidose metabólica, assim como nos casos de ingestão de dieta rica em proteínas (carne). GLICOSE Uma urina normal não apresenta índices de glicose na urina, pois esta é totalmente reabsorvida pelos túbulos contorcidos proximais. A glicosúria pode ser decorrente de duas causas principais: • APENAS GLICOSÚRIA Uma glicosúria não associada com uma hiperglicemia pode indicar uma glicosúria renal primária, como ocorre em uma IRA com severa lesão tubular ou então ainda pode indicar uma Síndrome de Fanconi (distúrbio na reabsorção de algumas substâncias). Ou seja, o túbulo não está sendo capaz de reabsorver (disfunção renal). Se dosar a glicose sanguínea o resultado vai estar normal, pode estar baixo se a doença estiver estabelecida (gerando uma hipoglicemia). • GLICOSÚRIA + HIPERGLICEMIA Uma glicosúria ultrapassando o limiar renal e associada com a hiperglicemia pode indicar uma diabetes mellitus, umapancreatite aguda, um HAC, estresse em gatos ou ainda administração de glicose. Ou seja, se tem muita glicose circulante como consequência muita glicose sendo filtrada e passando pela urina, levando a glicosúria. O cão começa a ter glicosúria após ultrapassar 190mg/dL em hiperglicemia, em gatos se tem glicosúria apenas após ultrapassar 300mg/dL em hiperglicemia. CORPOS CETÔNICOS Quando ocorre é chamada de cetonúria, normalmente estão isentos na urina. Os corpos cetônicos são resultados do metabolismo (da quebra) de ácidos graxos (gordura), e estão na forma de acetona, acetoacetato ou de betahidroxibutirato, este último, no entanto não é detectado pela fita (podendo dar falsa cetonúria negativa). • ASSOCIADO COM HIPERGLICEMIA Os corpos cetônicos são encontrados normalmente na urina de animais que tem diabetes ou ainda que possuam complicações com a diabetes, chamada de cetacidose diabética. • ASSOCIADO COM HIPOGLICEMIA Pode estar associado com acetonemia de lactação, no caso dos bovinos, ou com toxemia de prenhes no caso dos ovinos. BILIRRUBINA Faz parte da porção heme da hemoglobina, que está dentro da hemácia, a hemácia vai até ao fígado para fazer a hemocaterese (retirada de hemácias velhas da circulação, quem é responsável por esse processo é o fígado), então o fígado libera bilirrubina, que vai ser conjugada, indo para vesícula e intestino. É interpretado juntamente com a densidade, sendo considerado normal quando ausente ou em pouca quantidade quando a densidade está elevada (uma cruz/+), exceto para gatos, pois estes conseguem reabsorver até 9 vezes mais bilirrubina do que o cão, e o gato, ao contrário do cão, não conjuga bilirrubina, ou seja, possui muita bilirrubina indireta já que esta não se liga à albumina, fazendo com que uma cruz de bilirrubina já indique uma hepatopatia. SANGUE OCULTO O normal é ter sangue oculto ausente, sendo sempre importante diferenciar a hemoglobinúria de hematúria, assim como também é importante diferenciar a THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM hemoglobinúria da mioglobinúria dosando CK, pois esta é uma enzima específica da musculatura. A centrifugação de uma urina com coloração alterada pode diferenciar entre hematúria verdadeira e hemoglobinúria ou mioglobinúria, pois os eritrócitos íntegros sedimentam no fundo da amostra, evidenciando um sobrenadante limpo. O sangue oculto pode começar por uma hematúria e terminar como uma hemoglobinúria depois de muito tempo armazenado. • HEMATÚRIA Indica problema na hemostasia, CID, trauma, neoplasias, infecções, entre outras doenças. • HEMOGLOBINÚRIA Devido à hemólise intravascular, ou lise de hemácias na urina, causando uma urina diluída e alcalina. • MIOGLOBINÚRIA Ocorre por miopatias traumáticas ou tóxicas, como por exemplo, por veneno de cascavel. PROTEÍNA Deve sempre ser interpretada com a densidade e com outros dados clínicos e laboratoriais. Pelos métodos usuais a quantidade normal de proteína é muito pequena, e o grau de proteinúria não é necessariamente proporcional à severidade do processo patológico. Apesar da proteinúria ser muito associada à lesões glomerulares, nem sempre ela indicará isso, pois pode indicar também uma lesão tubular. • BARREIRA GLOMERULAR A barreira glomerular é formada pelo epitélio dos capilares glomerulares fenestrados, cujos poros impedem a passagem das células do sangue; pela membrana basal glomerular, que impede a passagem de proteínas com alto peso molecular; e pelos podócitos, que também limitam a passagem das proteínas. O estado dos capilares glomerulares acaba interferindo na quantidade de proteína na urina, pois a destruição dos capilares ou um aumento na permeabilidade do filtro glomerular (como no caso de nefrite) diminuem a filtração, assim como em casos em que ocorre um aumento da concentração de proteína plasmática (em casos de desidratação, por exemplo). • MENSURAÇÃO QUANTITATIVA DA PROTEÍNA Todos os métodos para a detecção da proteína correlacionam-se melhor à albumina, porém também analisam outras proteínas de baixo peso molecular. A concentração de proteína na urina pode ser graduada de traços até quatro cruzes, e deve sempre ser correlacionadas à densidade urinária, por isso é aceitável uma amostra de urina hiperestenúrica com uma cruz (+) de proteína, porém uma cruz de proteinúria em uma urina diluída (hipoestenúrica) não seria considerada normal. • PROTEINÚRIA X DENSIDADE Um animal com proteinúria e com densidade baixa se tem uma proteinúria muito mais significativa do que um animal com proteinúria e com densidade alta, pois a amostra desse animal está diluída e não tem uma densidade ideal, e mesmo assim apresenta proteinúria. O paciente desidratado tem pouca água (plasma), perdendo agua ele tem uma concentração grande de soluto chegando ao glomérulo, forçando assim a passagem pelo glomérulo, logo a amostra de urina será hiperestenúrica com passagem de proteína, resolvemos o caso com fluido restabelecendo o fluxo sanguíneo, melhorando a volemia. Animal com densidade abaixo do esperado significa que ou tem pouco soluto ou tem muita água, o responsável por mandar soluto para a urina e reter água é o rim, se o rim não é capaz de fazer suas funções a densidade urinaria começa a diminuir. Logo a amostra que possui densidade baixa tem muita água e se também apresentar proteinúria é um problema ainda maior. • CLASSIFICAÇÃO DE PROTEINÚRIA ✓ PROTEINÚRIA PRÉ-RENAL Proteínas de baixo peso molecular passando em grandes quantidades e acumulando-se na urina, se tem uma urina com alta densidade e com proteína aumentada, sem sedimento ativo. THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM I. Doença Primária Não Renal Hemoglobinúria por anemia; mioglobinúria por erliquiose, leishmaniose ou piometra; globinúria por erliquiose, leishmaniose, entre outros; neoplasias, como o mieloma múltiplo, que é uma neoplasia de linfócito B; por doença cardíaca congestiva. II. Proteinúria Fisiológica É uma proteinúria transitória e discreta, pode ocorrer por exercício extenuante, convulsão, febre, calor/frio excessivo (aumenta a pressão passando mais proteínas), por uma diminuição do metabolismo, etc.. ✓ PROTEINÚRIA RENAL A concentração proteica no sangue está normal, se tem um aumento na pressão dos capilares renais levando a uma inflamação nos rins e acarretando em uma proteinúria, a urina apresenta uma densidade baixa. I. Doença Primária Renal Por aumento da permeabilidade Capilar, por doença tubular com perda funcional, ou ainda por inflamação no rim. II. Enfermidades Como por glomerulonefrites, nefrose, cistos renais, nefrite, pielonefrite ou neoplasias renais. ✓ PROTEINÚRIA PÓS-RENAL Não há nada antes do rim e nem no rim, sendo normalmente uma infecção ou inflamação do trato urinário inferior. A urina apresenta uma baixa densidade, com proteína circulante baixa e com sedimento ativo. I. Alterações Por infecção do trato urinário inferior, por hematúria pós-renal, ou ainda por obstrução por cálculos. II. Enfermidades Pielite, uretrocistite, vaginite, postite, entre outras. Através de biópsia se pode diagnosticar com certeza qual é a doença. • ORGANOGRAMA DE PROTEINÚRIA 3. EXAME DE SEDIMENTO Analisados com o microscópio. HEMÁCIAS Hemácias 1 a 5 por campo de 400x. A presença de 1 a 5 hemácias por campo de 400x é considerada normal, acima de 5 por campo é considerada anormal e indica hematúria. Deve-se comparar o numero de eritrócitos observados com o resultado do sangue oculto na fita reagente, com a densidade urinária, pH e com o método de coleta. LEUCÓCITOS Leucócitos1 a 5 por campo de 400x. São células inflamatórias, a presença de 1 a 5 células por campo de 400x é considerada THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM normal, quando há mais de 5 leucócitos por campo de grande aumento é considerado anormal e piúria, ou leucocitúria. CÉLULAS EPITELIAIS São células que indicam inflamação renal ou neoplasia, essas células podem ser escamosas (uretra, genitália e pele), transicionais (bexiga) ou neoplásicas (em geral carcinoma de células transicionais). As células transicionais são comumente encontradas na urina. • DESCAMAÇÃO / TUI Descamação epitélio uretral, onde em pacientes em que utilizaram sondas apresentam bastante dessas células, em micção espontânea também pode ser encontrada, já na cistocentese não. • VESICAL / TRANSIÇÃO Descamação do epitélio da vesícula urinária. Pacientes com cistites apresentam grandes quantidades dessas células, porém essas células podem ser naturalmente encontradas já que o epitélio da bexiga expande e relaxa o tempo todo. • CAUDADAS Descamação pelve renal, não é comum encontrar essas células. Se encontrar, o paciente possui disfunção renal. • RENAIS Descamação do córtex renal, não é comum encontrar essas células. Se encontrar, o paciente possui disfunção renal. BACTÉRIAS Rins, ureteres, bexiga e uretra proximal são estéreis, a urina também é estéril até atravessar a uretra distal, onde existe flora natural. A infecção bacteriana deve ser confirmada por cultura, preferencialmente com antibiograma. Não se tem referência de número de bactérias por campo. LEVEDURAS E FUNGOS A apresentação de fungos na forma de hifas ou de leveduras no sedimento urinário são comuns devido ao supercrescimento de contaminantes em amostras velhas, porém não em frascos coletados por cistocentese. PARASITAS Os ovos de Dioctophyma renale são raramente visto na urina de cães e gatos. O Dioctophyma renale, é um nematoide que parasita o rim de mamíferos domésticos, silvestres e humanos. Os animais mais acometidos são os que se alimentam de peixes e crustáceos aquáticos infectados com o anelídeo. CILINDROS É normal quando ausentes, não se formam em baixas densidades ou em pH alcalino. De 1 a 2 cilindros por campo com uma urina diluída é um achado normal, os cilindros não se formam em baixas densidades ou em pH alcalino, sua formação ocorre na porção renal tubular e atingem concentrações máximas com a acidez. Sua presença na urina é conhecida como cilindrúria. Os cilindros são moldes dos lumens tubulares, são principalmente compostos por mucoproteina (secretados pelas células epiteliais tubulares) e por proteína, e podem conter diferentes quantidades celulares, de lipídeos e debris (detritos). Quando em quantidade significativa, refletem doenças tubulares renais ativas. • CILINDRO HIALINO São compostos de mucoproteina e albumina, associados à proteinúria. Não possuem células ou granulosidade. Aumentam em doenças glomerulares. A presença de cilindros hialinos em pequena quantidade na urina é normal, principalmente após exercícios físicos, desidratação, calor e estresse. Porém pode aparecer de forma patológica quando o individuo apresentar glomerulonefrite, pielonefrite, doença renal crônica e insuficiência cardíaca congestiva. THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM • CILINDRO GRANULOSO Originados das células epiteliais que descamaram recentemente e foram aprisionadas na mucoproteina formando o cilindro. Indicam a possibilidade de degeneração tubular, necrose de células tubulares, pielonefrite ou infarto (isquemia), 1 a 2 por campo é considerado normal em urinas concentradas. • CILINDRO CÉREO Os cilindros céreos indicam cronicidade (normalmente fase final de DRC) e se encontrados em grande quantidade, evidenciam doença em progresso, como degeneração tubular em progresso ou lesão tubular crônica. • CILINDRO CELULAR Podem ser compostos por células epiteliais, eritrócitos, leucócitos e podem exibir aparência granular. • CILINDRO EPITELIAL Cilindro celular formado por células epiteliais tubulares, com pouca matriz proteica. • CILINDRO LEUCOCITÁRIO Quando cilindros leucóticos são encontrados indicam que há pielonefrite. • CILINDRO HEMÁTICO Torna-se um indício de existência de hemorragia nos túbulos. CRISTAIS A eliminação de cristais na urina chama-se cristalúria, podem ser encontrados em animais normais ou doentes, são em geral achados acidentais e não possuem significância clínica, a estruvita e o carbonato de cálcio podem estar presentes em urinas normais. Os cristais vão se mineralizando e formando o cálculo, podendo chegar a obstruir algum segmento urinário, por isso é importante identificarmos os cristais antes da formação do cálculo. • CRISTAIS DE FOSFATO TRIPLO O fosfato triplo é também chamado de fosfato amônio magnesiano ou de estruvita, é um cristal muito comum em cães, e em geral acompanha uma urina com um pH de neutro a alcalino. Pode ser encontrado em altas quantidades nas urinas de cães e gatos normais. THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM Para a destruição desses cristais devemos alterar o pH, através da alimentação por exemplo. • CRISTAIS DE BIURETO DE AMÔNIO Podem ser vistos em animais normais, como em Dálmatas e Bulldog Inglês principalmente, em outras raças pode ser sugestivo de alguma doença hepática, de shunt congênito ou adquirido (pois ocorre a diminuição da formação de amônia em ureia) ou ainda por insuficiência hepática. Sua formação é favorecia em urinas com pH baixo (ácidas), mas podem ser formadas em qualquer pH. • CRISTAIS DE OXALATO DE CÁLCIO A acidez da urina e o consumo reduzido de magnésio podem contribuir para a formação de cristais de oxalato. É comum em gatos por apresentarem urina com um pH mais ácido. Pode-se precisar de remoção através de cirurgia. • CRISTAIS DE CARBONATO DE CÁLCIO Comumente visto em herbívoros, comum de ser observado em quinos mais não tem importância clínica. Não são cristais comuns de cães e gatos. RELAÇÃO PU:CU A relação de proteína e de creatinina urinaria é um teste indicado para a avaliação de lesão nos glomérulos e também de lesões tubulares quando ainda não se tem evidencias clinicas ou até mesmo laboratoriais de patologia no sistema urinário. Esse teste é quantitativo, é feito com o restante de urina que sobrou, dosando a quantidade de proteína e de creatinina, é feito uma divisão da proteína pela creatinina. A creatinina e a ureia se elevam quando 75% ou mais dos néfrons foram lesados, enquanto a PU:CU aumenta a partir de 25% de comprometimento ao tecido renal. A creatinina, que é um marcador de filtração glomerular, é filtrada pelos rins e eliminada na urina, pouca creatinina deve ficar circulante, e muita creatinina deve estar na urina, ou seja, em um paciente normal devo ter pouca proteína e muita creatinina na urina. Como as moléculas de proteínas são grandes para passar pelos glomérulos e as de creatinina são bem menores, passam facilmente, ou seja, a creatinina é liberada em grandes quantidades na urina e a proteína não. Quando a quantidade de PU encontra-se persistentemente elevada, esta condição sugere lesão glomerular; assim, quanto mais proteína há na urina, maior a relação PU:CU e maior o indício de gravidade na lesão aos glomérulos ou aos túbulos renais, já que a creatinina também é secretada nos túbulos. 1. INTERPRETAÇÃO A importância da PU/CU é correlacionar um elemento que não era para estar na amostra, com outro elemento que deveria estar na amostra, ou seja, um paciente que apresenta uma cistite bacteriana vaiapresentar uma grande proteinúria, pois existem bactérias nessa cistite que liberam proteínas, logo é um caso que não devo fazer PU/CU porque não estou avaliando capacidade renal. THAÍS RIBEIRO MOLINA 2018 PROFESSOR: MÁRCIO A. B. MOREIRA - UAM • RELAÇÃO PU/CU: < 0,2 – NORMAL • RELAÇÃO PU/CU: 0,2 - 0,4 (gato), e 0,2 - 0,5 (cão) – SUSPEITO • PU/CU: > 0,4 (gato) e > 0,5 (cão) – SIGNIFICANTE Conclui-se que a principal utilidade da relação proteína/creatinina urinária é exatamente sua precocidade no diagnóstico da lesão glomerular e/ou tubular, e ainda serve como parâmetro de controle da doença renal. PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DOENÇA RENAL AGUDA • URINÁLISE Densidade baixa, em média >1.025; em fases mais avançadas há isostenúria. Tem-se presença de cilindros, proteinúria, piúria e hematúria. DOENÇA RENAL CRÔNICA E CISTITE • URINÁLISE Densidade baixa, com presença de pouco ou nenhum cilindro, tem-se um pH baixo, com proteinúria pós-renal, bacteriúria, e o pH pode ainda estar alcalino. NEOPLASIAS • URINÁLISE Células neoplásicas e/ou hematúria. HEMÓLISE • URINÁLISE Hemoglobinúria, urobilinogênio alterado, e/ou cristais de bilirrubina. DIABETES MELLITUS • URINÁLISE Glicosúria e densidade baixa.
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