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➢ Ano de publicação: 1956; ➢ Movimento literário: terceira geração modernista (fase instrumentalista – uso da palavra de maneira original); o Prosa com "extraordinária linguagem de poesia": prosa poética. Uso de aliterações (dá musicalidade ao texto); o O autor não pensa a língua como um instrumento pronto ou neutro para representar conteúdos. Ela também deve ser ficcionalmente reinventada. Na linguagem rosiana, portanto, não há espaço para a inércia da escrita convencional. ➢ Gênero literário: narrativo (novela); o Maior do que um conto e menor do que um romance; o Apresenta um título síntese. ➢ Foco narrativo: narrador onisciente em terceira pessoa, que se preocupa em narrar os acontecimentos objetivos e subjetivos a partir da perspectiva de Miguilim; o Uso do discurso indireto-livre; o No caso de Miguilim, o próprio discurso da narrativa revela que as lembranças não estão sempre disponíveis e que não são sempre as mesmas, pois o processo de lembrar depende das sensações e percepções impostas pelo presente. ➢ Espaço: Mutúm (Minas Gerais) – no meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. É uma espécie de ilha distante da civilização; o Trata-se de um palíndromo, palavra que pode ser igualmente lida no sentido inverso, remontando a um movimento circular e infindo, já que o fim da palavra pode ser o ponto de partida de nova enunciação. O próprio nome do lugar reforça esse significado existencial ou simbólico; o Em latim, o termo “Mutúm” significa “mudo”, “silencioso”, “inanimado”. Por conta das limitações da consciência infantil e da miopia de Miguilim, o sertão é um mundo ainda por desvelar ou definir, na medida em que o menino, que também tem sua personalidade ainda por moldar, não tem, em princípio, uma visão própria sobre o espaço que o cerca; o Mutúm é ainda o nome de uma ave sertaneja. ➢ Na história de Miguilim, “campo geral” é, ao mesmo tempo, uma região geográfica e um lugar ou estágio existencial. Guimarães Rosa explica que sua escolha literária por manter o título da obra no singular tem a ver com o intento de que “Campo geral” passe a designar mais do que um lugar ou um cenário – acepção que exige sempre o plural (“campos gerais”, “os gerais”) –, estabelecendo para essa história a função de “plano geral” do livro (regionalismo universalizante: Minas Gerais é um espaço simbólico para vivências universais); o A recriação estética da linguagem regional que se efetiva na obra rosiana é responsável por tornar universal a experiência humana do sertanejo. ➢ É possível, ainda, pensar o sentido desse título no singular como uma “maneira de particularizar a infância como plano geral para a vida, como um desenho de um mapa que vai se montando com coordenadas diversas, desencontradas, transversais”. Campo Geral ➢ Miguilim e tio Terez voltam para casa, no Mutum, de uma viagem ao Sucuriju, aonde o menino fora para ser crismado; ➢ Miguilim fica ansioso para contar à mãe, Nhanina, sobre o homem que encontrou na viagem e que lhe disse conhecer o Mutum e que achava aquele lugar muito bonito; o A mãe de Miguilim vivia triste por ter de morar no Mutum. ➢ Berno/Bero/Bernardo, pai de Miguilim, fica zangado porque o filho foi conversar com a mãe antes de falar com ele, ao chegar de viagem, e coloca o menino de castigo; ➢ No domingo, enquanto Berno leva os outros meninos para pescar no córrego, Miguilim fica em casa cumprindo o castigo e o tio Terez aproveita para lhe ensinar a armar arapuca para pegar passarinho; o Miguilim pergunta a Terez se ele acha o Mutum bonito, ao que o tio responde positiviamente. ➢ Miguilim se lembra do dia em que ele e sua família se mudaram em um carro de bois para a fazenda no Mutum. Ele nasceu em um lugar chamado Pau-Roxo; ➢ Miguilim entrega à sua irmã, Chica, a figura de uma moça recortada de um jornal que ele trouxera da viagem; ➢ Miguilim inventa uma história para Tomezinho, o irmão caçula, para justificar o motivo de não ter trazido nenhum presente para os outros irmãos; o Drelina, a irmã mais bonita, briga com Miguilim porque ele estava mentindo e é repreendida por Dito, o irmão mais sensato e melhor amigo de Miguilim. ➢ Tomezinho esconde a figura da moça do jornal após um dos irmãos mandarem-no jogá-la fora por acharem que era pecado ficar com ela; ➢ A família de Miguilim, os Cessim Caz, cria vários cachorros. Dentre eles, a preferida de Miguilim era a Cuca-Pingo-de-Ouro, que foi doada por seu pai a um grupo de tropeiros; ➢ Dito conta a Miguilim que o pai deles está brigando com a mãe e que quis bater nela. Miguilim se revolta, pois não admite que o pai seja agressivo com a mãe. Ao tentar consolar a mãe, Miguilim recebe uma surra do pai, que o coloca novamente de castigo. o Vovó Izidra (tia de Nhanina), a quem o pai de Miguilim temia e respeitava, procura defender o menino junto a Berno; o Os castigos sofridos por Miguilim eram tão frequentes que os irmãos até já estavam acostumados com a situação. Chica, no entanto, era a criança que mais apanhava dos pais; o Miguilim compara a crueldade de seu pai para com ele à dos progenitores de João e Maria, no conto de fadas. ➢ Miguilim escuta Vovó Izidra mandando Terez ir embora do Mutum antes que Berno voltasse da lavoura. Ela teme que haja morte entre os irmãos (metáfora com Abel e Caim). Terez deixa o Mutum no fim do dia, com o céu prometendo uma chuva torrencial; ➢ Após o jantar, durante uma tempestade, Vovó Izidra comanda uma oração em família pedindo a Deus que os livre de uma tragédia, já que estariam condenados pelo pecado da situação envolvendo Nhanina, Terez e Berno. Vovó Izidra obriga Mãitina a se ajoelhar e rezar com eles; o Vovó Izidra e Mãitina representam, juntas, um sincretismo religioso entre o catolicismo e as religiões de matriz africana. ➢ Antes de dormir, Miguilim se lembra da amizade entre ele e tio Terez e se ressente de este ter ido embora sem se despedir dele; ➢ Liovaldo, irmão mais velho de Miguilim, mora na cidade com Osmundo Cessim, um tio com melhores condições materiais; ➢ Dito estava sempre atrás das pessoas grandes para ouvir suas conversas. Miguilim, que não queria crescer e não gostava das conversas dos adultos, ficava descansando no paiol, em companhia do gato Sossõe; o O gato Sossõe é a própria imagem da infância como um poço infinito de alegria e luminosidade. É a ideia da infância como tempo feito todo de sonho (“só sonho”) e fantasia: “Sossonho” é o nome com que Dito o batizara, transformado em “Sossõe”. Tanto Miguilim quanto Dito, apesar das diferenças de personalidade entre ambos, estão ligados a essa imagem infantil de sonho, luz e alegria. São as crianças que vivem de maneira lúdica essa fase da vida, com brincadeiras e inventando histórias. Em detrimento dessa aridez e brutalidade dos adultos, ele preferia a alegria iluminada do gato Sossõe, que andava pelo paiol e vinha se deitar ao lado de Miguilim com toda a delicadeza. ➢ Seo Deográcias e Patori visitam a casa dos Cessim. Deográcias, que era curandeiro, tinha o costume de pedir mantimentos nas casas. Patori era um menino traquinas. Miguilim e Dito não gostavam dele; ➢ Deográcias examina Miguilim a pedido de Nhanina e diz que o menino está prestes a ficar héctico (tísico, tuberculoso). Por conta do parecer de Deográcias, Miguilim fica muito angustiado e começa a ter muito medo de morrer. Por conta disso, faz um trato com Deus: se ele tiver que morrer, que seja em dez dias, ou então que seja curado. Durante esse período, Miguilim vive atormentado pelo medo da morte precoce. No décimo dia, ele começa a delirar e a mãe manda chamar Aristeu, um curandeiro que tinha um método diferente de Deográcias, oqual examina Miguilim fazendo trocadilhos engraçados e diz que ele não tem qualquer problema de saúde; o Por ser um praticante da arte da música, buscando com ela produzir alegria, Aristeu, reconhecido por sua bela aparência, se liga ao deus Apolo da mitologia grega, que é um deus solar, da luminosidade, e protetor dos músicos. Por ser um exímio contador de histórias, Aristeu enquadra-se na categoria do narrador oral antigo que detinha um saber que consistia na transmissão de experiências de pessoa para pessoa (de boca a boca), com histórias contadas por inúmeros outros narradores anônimos. Trata-se, portanto, de uma cultura do narrar que valoriza a experiência coletiva e o papel formativo ou educativo das histórias contadas. ➢ Berno determina que a partir de agora Miguilim iria todos os dias levar seu almoço na lavoura. Ele fica muito feliz, pois se sente pertencente e importante à família;; ➢ Ao levar o almoço do pai na roça, Miguilim enfrenta o medo do braço de mata que ele tem de atravessar; ➢ Na volta para casa, Miguilim é interceptado por Terez, que o incumbe de entregar um bilhete a Nhanina. Ele hesita em entregar o bilhete de seu tio à mãe. Sem poder contar a ninguém sobre o bilhete, o menino reza e toma uma decisão. No dia seguinte, Miguilim encontra Terez no caminho da roça e conta que não entregou o bilhete à mãe. O tio compreende e abraça Miguilim; ➢ Miguilim sofre uma emboscada de macacos, os quais roubam a comida que ele levava para o pai e seu ajudante, Luisaltino. Em casa, todos zombam de Miguilim por causa da história dos macacos, inclusive, Berno, que presenciara a cena ao lado de Luisaltino; o Luisaltino é um meeiro que vem ajudar Berno na plantação da lavoura, permanecendo na casa dos Cessim por uns tempos. Ele trouxe consigo o papagaio Papaco-O-Paco. ➢ O vaqueiro Saluz conta aos Cessim que Patori matara um rapaz e havia fugido, deixando seu pai, Deográcias, em grande aflição; ➢ Grivo, um menino muito pobre que morava com a mãe nas redondezas do Mutum, também passou pela casa de Miguilim. Ele comia tudo o que lhe dessem e brincava amigavelmente com os meninos; ➢ Miguilim confessa a Dito temer que Luisaltino seja um homem mau, como o sujeito ruivo de uma história contada por Aristeu. Luisaltino é agradável com todos na casa e aproxima-se sobretudo de Nhanina (adultério?).; ➢ À tarde de um domingo, veio a notícia de que Patori fora encontrado morto nos matos. À noite, que era de luar, enquanto Berno fora visitar seu Deográcias, Nhanina e Luisaltino levaram todos da casa, com exceção de Mãitina, para passear para o lado dos coqueiros. Durante o passeio, Miguilim conversa com a mãe sobre o mar; ➢ Ao tentar fazer carinho no touro Rio-Negro, Miguilim é ferido por este na mão; ➢ Miguilim e Dito brigam. Ao fazerem as pazes, Dito e Miguilim conversam sobre a natureza violenta do boi Rio-Negro, que Miguilim compara à de Patori. Dito explica a Miguilim sobre a possibilidade de transformação do caráter das pessoas ao se tornarem adultas. Dito confessa ao irmão que quer crescer para poder tomar conta do Mutum e criar muito gado; o “Dito”, abreviação de “Expedito”, significa o conhecimento que vem antes ou a sabedoria consagrada. Ao longo de toda a narrativa, Miguilim afirma reiteradamente a importância dos conselhos de Dito para a compreensão que ele, Miguilim, vem a desenvolver, sobretudo, acerca das relações humanas. ➢ Maria Pretinha, agregada da família, foge de madrugada com o vaqueiro Jé. Rosa questiona a relação do vaqueiro com Maria Pretinha, por conta da diferença racial entre ambos; ➢ O mico-estrela que era criado pela família foge. Os cachorros da casa e todos os meninos correm para tentar capturar o mico. Ao tentar pegar o mico-estrela, Dito corta o pé em caco de pote que havia no quintal e sangra muito. Com febre e dores (tétano), em razão do ferimento, Dito convalesce em uma rede no alpendre da casa. Miguilim não sai de perto de Dito, contando a ele tudo o que acontece em casa; ➢ Inspirado em Aristeu, Miguilim conta histórias “compridas” para Dito e confessa a vontade de inventar uma história sobre a Cuca-Pingo-de- Ouro. Após alguns dias, a febre de Dito aumenta e ele vem a falecer. Após o velório, a que todos os habitantes da região comparecem, o corpo de Dito é levado para ser sepultado em um lugar distante; ➢ Com a morte do irmão, Miguilim entra em um estado profundo de luto. Preocupado com o estado de Miguilim, o pai resolve que ele deve trabalhar e manter-se o mais ocupado possível; ➢ O gato Sossõe passa a dormir com Miguilim no catre que antes ele dividia com Dito; ➢ Liovaldo bate em Grivo e Miguilim parte para cima do irmão para defender seu amigo. Berno dá uma surra em Miguilim por este ter batido em Liovaldo. A mãe tenta consolar Miguilim, que, revoltado, questiona o caráter do pai. Nhanina resolve mandar Miguilim para a casa de Saluz até que Berno fique mais calmo; ➢ Passados três dias, Miguilim volta para casa e não quer gostar de mais ninguém de lá, só de Rosa e Mãitina. O pai, irritado porque Miguilim não queria tomar-lhe a bênção, solta todos os passarinhos que o menino criava em gaiolas. Miguilim, em reação à atitude de Berno, quebra as gaiolas, os alçapões e joga fora todos os seus brinquedos; ➢ Miguilim volta a trabalhar na lavoura e passa mal, com tontura e forte dor na nuca. Deográcias visita Miguilim e lhe dá remédios; ➢ Quando Miguilim está acamado, seu pai, Berno, fica angustiado e lamenta sua dor de já ter perdido um filho. Miguilim se surpreende com a reação do pai e entende que Berno gosta dele; ➢ Todos da fazenda vinham ver Miguilim enquanto ele estava acamado, inclusive, Mãitina; ➢ Grivo traz um canário de presente para Miguilim; ➢ Ao saber que Miguilim estava com vontade de chupar laranja, Berno sai à procura da fruta por toda a região e não encontra. Então, ele traz frutas cítricas semelhantes para o filho; ➢ A mãe conta a Miguilim que seu pai matara Luisaltino por ciúmes e fugiu para o mato. Posteriormente, Berno se suicida; ➢ Aristeu visita Miguilim, diz que ele precisa ficar alegre e canta para ele. Ao longo dos dias, Miguilim melhora gradativamente; ➢ Terez vem morar no Mutum para trabalhar no lugar de Berno e Vovó Izidra vai embora; ➢ Nhanina pergunta a Miguilim se ele aceitava que ela e Terez se casem e o menino diz que não se importa com isso; ➢ Miguilim gostaria de trabalhar como vaqueiro. Ele lembra que Dito dizia que o certo era estar sempre alegre por dentro, mesmo quando coisas ruins aconteciam; ➢ Um médico de óculos (o doutor José Lourenço, da cidade de Curvelo) chega à fazenda e percebe que Miguilim tem um problema de visão. Após examiná-lo, o médico lhe empresta os óculos e o menino começa a enxergar tudo à sua volta de maneira mais clara; ➢ Nhanina diz a Miguilim que o médico propôs levá- lo para morar com ele na cidade, onde o menino poderia adquirir seus óculos e estudar para aprender um ofício. No dia seguinte, ao se despedir dos familiares e dos amigos, Miguilim compreende que todos no Mutum eram bons para ele; ➢ Ao utilizar mais uma vez os óculos do doutor, Miguilim olha para a paisagem do Mutum e constata que aquele lugar era bonito. Todos choram durante a despedida de Miguilim, que sente um misto de alegria e tristeza. o Para Miguilim, esses óculos são a sua travessia, ponte entre o mundo primitivo e rural ao outro mundo. Deixar o Mutum é perder uma noção/visão ingênua de mundo. Colocar os óculos é enxergar as coisas como elas propriamente eram. Óculos é o rompimento da infância e integração ao mundo da cultura. Óculos relaciona-se ao mundo letrado. O mundo dos óculos é o mundo da cidade; o Enquanto o Mutúm é caracterizado como um espaço primitivoe, metaforicamente, pode ser entendido como o mundo da infância, o espaço urbano, para onde vai Miguilim, é caracterizado como um mundo civilizado, metaforicamente entendido como a maturidade, onde há a possibilidade de crescer intelectualmente e de amadurecer.