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Crime culposo, doloso e preterdoloso

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CRIME DOLOSO E CRIME CULPOSO 
Art. 18. Diz-se o crime:
Crime doloso
I — doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Crime culposo
II — culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
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O dolo é a consciência e a vontade de realizar uma conduta típica. É constituído por dois elementos: um cognitivo (conhecimento) e um volitivo (vontade). Existem três teorias que explicam o dolo: a teoria da vontade, da representação e do consentimento. Segundo a teoria da vontade (tida como clássica), o dolo é a vontade dirigida ao resultado. O dolo está na vontade de realizar ação e obter o resultado. Essa teoria não nega a existência da consciência do fato, apenas destaca a importância da vontade de causar o resultado.
Para a teoria da representação, a representação subjetiva ou a previsão do resultado como certo ou provável já é suficiente para a existência do dolo. É uma teoria completamente superada. Para a teoria do consentimento, o dolo é também a vontade que, embora não seja dirigida diretamente ao resultado previsto, assume o risco de produzi-lo. Essa teoria valora o elemento intelectivo do dolo, ignorando o fundamental elemento volitivo. O próprio dolo eventual não prescinde o elemento volitivo. 
São elementos do dolo: elemento cognitivo (ou intelectual) e elemento volitivo. Para a configuração do dolo exige-se a consciência da prática que se pretende realizar (elemento cognitivo). Essa consciência deve estar no momento em que a ação está sendo realizada. A vontade, incondicionada, deve alcançar a ação ou a omissão (conduta), o resultado e o nexo de causalidade (elemento volitivo). É exatamente esse elemento volitivo que distingue o dolo da culpa. A vontade pressupõe a previsão, sendo que, a previsão sem vontade é algo indiferente ao Direito Penal e a vontade sem a previsão é completamente impossível. 
O dolo pode ser direto (ou imediato) ou eventual. O dolo é direto quando a vontade do agente é dirigida à realização do fato típico. O seu objeto é o fim proposto, os meios escolhidos e os efeitos colaterais necessários para a realização do fim pretendido. Denomina-se dolo direto de primeiro grau quando tratamos do fim diretamente desejado pelo agente. Para Pedro Bittencourt, “quando o resultado é desejado como consequência necessária do meio escolhido ou da natureza do fim proposto, denomina-se dolo direto de segundo grau” (BITTENCOURT, CÓDIGO PENAL COMENTADO, 2020, pág. 111). 
O dolo eventual ocorre quando o agente não quer diretamente a realização do tipo, e apesar de prevê-lo (como provável ou possível), assume o risco da produção do resultado. Assumir esse risco é consentir previamente no resultado, caso ele ocorra efetivamente. A consciência e a vontade também são elementos essenciais presentes no dolo eventual. O dolo eventual e a mera esperança da ocorrência do resultado não se confundem. Para explicar a mera esperança, o jurista Hans Welzel traz o exemplo do sujeito que manda o seu adversário a um bosque durante uma tempestade, na esperança de que ele seja atingido por um raio. Distingue-se o dolo direto do dolo eventual, no entanto, o Código Penal equiparou-o quanto os seus efeitos. O dolo em si se materializa no fato típico, enquanto os elementos subjetivos especiais do tipo não necessitam de concretização, basta a sua existência na psique do autor. 
A culpa é a inobservância do dever de cuidado manifestada em uma conduta que produz um resultado não desejado e objetivamente previsível. Enquanto a estrutura do tipo doloso pune a conduta dirigida à um fim ilícito, a estrutura do tipo culposo pune a conduta mal dirigida, normalmente destinada a um fim quase sempre lícito. O núcleo do tipo nos delitos culposos está na divergência entre a ação praticada e o que deveria ter sido realizado. A finalidade da ação no crime culposo não corresponde à diligência devida, há uma contradição fundamental entre o que o agente queria realizar com o que foi realizado. A ação finalista de um agente que conduz um veículo e causa (de forma não dolosa) um acidente é justamente conduzir o veículo. O fim da ação e o meio escolhido são jurídico-penalmente irrelevantes, no entanto, se o agente tiver conduzido o veículo a uma velocidade excessiva, isso será jurídico-penalmente relevante. 
No crime culposo, a tipicidade decorre da realização de uma conduta não diligente que resultou na lesão ou no perigo de lesão de um bem jurídico tutelado. Trata de analisar se o agente se conduz com o cuidado necessário e normalmente exigível. Existe a possibilidade de uma conduta ser tipicamente culposa enquanto se encontra ao abrigo de uma excludente de antijuricidade. É o caso do corpo de bombeiros que, ao responder a uma emergência, atropela, involuntariamente e sem previsão, um pedestre, ferindo-o gravemente. Esse caso constitui excludente de antijuridicidade se comprovado o estado de necessidade e observados os seus requisitos. 
A estrutura da culpabilidade nos crimes culposos é a mesma dos crimes dolosos: imputabilidade, consciência potencial da ilicitude e exigibilidade do comportamento conforme a lei. Nos crimes culposos, a inexigibilidade de uma conduta é admissível como excludente de culpabilidade. Quando um indivíduo realiza uma conduta sem observar os cuidados devidos, seja porque apresentava-se impraticável ou de difícil observância, qualquer eventual resultado danoso involuntariamente produzido não será censurável. Nada impede também de que ocorra erro de proibição nos crimes culposos, quando o erro incide sobre os limites do dever objetivo de cuidado. Isso é o caso do direito de prioridade ou a obrigação de esperar no tráfego de veículos. 
São as modalidades da culpa: a imprudência, a negligência e a imperícia. A imprudência é a prática arriscada e perigosa de uma conduta e tem caráter omissivo. Se caracteriza pela intempestividade, precipitação, insensatez ou imoderação. É o caso do motorista embriagado que viaja dirigindo o seu veículo automotor. A negligência é a falta de precaução, a indiferença do agente que não adota as cautelas necessárias, apesar de ter a possibilidade. É o não fazer do que deveria ser feito, a inação (culpa in ommitendo). É o caso do motorista de ônibus que trafega com as portas do coletivo abertas, resultando na queda e morte de um dos passageiros. 
A imperícia é a falta de capacidade e de preparo, a insuficiência de conhecimento técnico para o exercício de alguma atividade. A inabilidade para a realização de atividade fora do campo profissional ou técnico vem sido considerada na modalidade da culpa imprudente ou negligente conforme cada caso. O erro profissional não se confunde com imperícia. O erro profissional é um acidente escusável, justificável e imprevisível, não decorre da má aplicação de regras e princípios científicos, e sim da imperfeição e precariedade dos conhecimentos humanos. O médico, tendo agido racionalmente e segundo os preceitos fundamentais da lexis artis, ou não, desde que por motivos justificáveis, não prestará contas à justiça penal, no caso do eventual resultado fatídico. 
Existem três espécies de culpa: a consciente, a inconsciente e a imprópria. A culpa consciente ocorre quando o agente, ao não observar a diligência obrigatória, prevê um resultado, no entanto, tinha plena convicção de que o resultado não ocorreria. Se o agente prevê um resultado, mas espera sinceramente que este não se verifique, a situação será de culpa consciente, que não se confunde com dolo eventual. O que caracteriza essa espécie de culpa não é a simples previsão do resultado, é necessário também a efetiva consciência acerca da lesão do dever de cuidado. Nada impede que, no caso de equivoco do agente acerca dos limites do dever objetivo de cuidado, que possa ocorrer o erro de proibição. 
A culpa inconsciente é constituída pela ação sem previsão de resultado (culpa ex ignorantia). O queidentifica cada uma dessas espécies é justamente a previsibilidade do resultado. Essa imprevisibilidade desloca o resultado para o caso fortuito ou de força maior. É caracterizada pela ausência absoluta do nexo psicológico entre o agente o resultado de sua conduta. A culpa imprópria decorre somente do erro culposo sobre a legitimidade da ação praticada. A culpa imprópria, a culpa por extensão ou assimilação decorre de erro de tipo evitável nas descriminantes putativas ou do excesso nas causas de justificação. Quando o erro for inevitável, no entanto, não há o que se falar de culpa (própria ou imprópria), portanto se exclui a responsabilidade penal. 
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CRIME PRETERDOLOSO: 
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O crime preterdoloso é uma terceira modalidade de crime que, apesar de não estar expressa no Código Penal, é reconhecida pela doutrina e pela jurisprudência. Para esse tipo de crime, o resultado vai além da intenção do agente, ou seja, a ação voluntária se inicia dolosamente e termina culposamente, o resultado efetivamente produzido não foi abrangido pelo dolo. No crime qualificado pelo resultado, o resultado ulterior, mais grave, que deriva da conduta criminosa involuntária, lesiona um bem jurídico que não contém o bem jurídico precedentemente lesionado. É o exemplo do aborto seguido de morte da gestante. Enquanto a lesão corporal seguida de morte é preterintencional (preterdoloso), o aborto não é necessário para matar alguém, portanto o crime é qualificado pelo resultado.

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