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sustar ato do executivo - Constitucional

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Direito Constitucional
Geisiany Garnes de Andrade
Poder Legislativo x Poder Executivo
· O poder do Legislativo em sustar atos do executivo: uma análise do artigo 49 da CF
A Constituição Federal de 1988 foi criada para garantir direitos sociais primordiais após 21 anos de um regime totalitário e é símbolo de mudanças profundas na sociedade brasileira da época. Além disso, a lei maior do país instituiu de maneira definitiva a divisão dos poderes e trouxe as regras de competência de cada um.
Para evitar a volta do controle absoluto por um único poder e a invasão de competência ou conflitos desnecessários, a Constituição trouxe também a separação de funções, atribuições e principalmente os limites, dispositivos que permitem o “controle recíproco entre os poderes”, delimitando assim um sistema de freios e contrapesos, com único intuito de manter a harmonia entre as instituições.
É neste contexto que encontramos e discutimos o poder garantido ao Congresso Nacional de sustar atos normativos do Poder Executivo no inciso V do artigo 49 da Constituição Federal. 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;
O primeiro ponto para compreender esse poder de controle concedido pela Constituição é entender em que momento ele pode ser invocado. Segundo a doutrina, ao estipular limite aos “atos normativos que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa” o dispositivo se refere as leis delegadas, cuja previsão está no artigo 68 da CF.
Leis delegadas podem ser criadas para facilitar a normatização de temas que sejam essenciais ao Poder Executivo, diante da possível “inércia” do Poder Legislativo.
O próprio artigo, no entanto, limita essa permissão de legislar dada ao chefe do executivo. Além de definir quais demandas não serão objetos de delegação, o dispositivo determina que a lei precisa de apreciação do Congresso Nacional.
Art.68 - § 2º A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3º Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em votação única, vedada qualquer emenda
Desta maneira, a legislação também determina até onde vai a atribuição do Poder Legislativo em sustar atos do Executivo. Como defende a professora Anna Cândida da Cunha Ferraz:
“Como tende a doutrina a admitir que, no sistema constitucional brasileiro, somente são possíveis as exceções expressas constitucionalmente, consoante se observou, e constatando-se que, de modo expresso, o que é contemplado na Constituição, como instrumento de delegação legislativa, é a lei delegada, modalidade constitucionalmente admitida de delegação legislativa ao Poder Executivo (art. 59), parece que o preceito constitucional apenas incide sobre essa espécie de delegação” (1994, p. 99-100).
O texto do artigo 49 não se aplica, portando, as Medidas Provisórias, que também são instituídas pelo Poder Executivo. Nestes casos, é necessário que haja requisito da relevância e urgência para sua criação, que só é submetida à aprovação do Legislativo após entrar em vigor e pode ser revogada ou promulgada após passar por todo o processo legal no Congresso.
Já quando o ato é sustado, sua vigência fica suspensa, sequer tem eficácia. Ainda segundo a doutrina, é comum nesses casos que os dois poderes chegarem a um acordo sobre aplicação e criação da lei sugerida.
Outro fator essencial sobre o tema é entender os motivos que justificam essa sustação. O controle dos atos do Poder Executivo pelo Legislativo acontece apenas quando as leis delegadas pelo presidente possuem caráter legislativo, ou seja, vão além da competência atribuída a ele pela Constituição e invade a destinada ao Congresso Nacional. 
Não cabe a análise da inconstitucionalidade do tema abordado pela lei e sim se ele é de competência do Poder Executivo, se de fato pode “legislar” sobre tal. A constitucionalidade no conteúdo da lei, taxativamente, é de competência do Poder Judiciário, através do STF (Supremo Tribunal Federal).
Quando se fala no controle existente no artigo 49 não referimos ao controle de constitucionalidade (isso é competência do Judiciário) e sim de uma espécie de “controle político”, que mais uma vez tem intenção de impedir a concentração de poder e assim evitar abusos, como lei criadas para benefício próprio, de grupo ou empresas específicos. É um meio efetivo de garantir o estado democrático de direito. 
Atos editados conforme a Constituição, dentro da legalidade, impessoalidade e moralidade, podem ser decretados no país sem a interferência direta do Congresso Nacional.

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