Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS REZENDE + MEDCURSO + SANARFLIX LOUISE CANDIOTTO 1 INTRODUÇÃO RUPTURA PREMATURA DE MEMBRANAS (RPM)/ AMNIORREXE PREMATURA Rotura espontânea das membranas amnióticas após 20 semanas de gravidez e antes do início do trabalho de parto. OBS: Considera apenas depois das 20 semanas pois antes se ocorrer o rompimento ela é classificada como uma etapa do abortamento inevitável. No termo, 8% das gestantes apresentam RPM Incide em 3% das gestações pré termo. Responsável por 25% dos partos pré-termos. CLASSIFICAÇÃO: RM pré-termo (RPMP) Amniorrexe ocorrida antes de 37 semanas RM precoce Ocorre no início do trabalho de parto RM oportuna Ocorre no final da dilatação RM tardia Concomitante a expulsão fetal A RPM é caracterizada, em geral, por um breve período de latência tempo transcorrido entre a ruptura e o início do parto. Possui impacto significativo na morbidade e mortalidade materna e fetal: Morbidade materna: Infecção intrauterina (corioamnionite) Principal consequência Aumenta com a duração entre o tempo de ruptura e o início do parto (>18 h) Descolamento prematuro de placenta Morbidade perinatal: Infecção (sepse neonatal) Sofrimento fetal OBS: Uma precisa determinação da idade gestacional e conhecimento dos riscos materno, fetal e neonatal são essenciais para a apropriada avaliação, aconselhamento e cuidados em pacientes com RPMP. ETIOLOGIA Raramente a causa da RPM é conhecida. Tradicionalmente atribuída ao estresse físico que produz estiramento das membranas: Polidrâmnio Gravidez gemelar Contrações uterina sintomáticas As principais causas de rotura prematura das membranas são a INFLAMAÇÃO E A INFECÇÃO: Corioamnionite Papel relevante em cerca de 50 dos casos de RPMP/parto prematuro, especialmente em idade gestacional precoce Mecanismos: Produção de enzimas proteolíticas Infecção Citocinas pró inflamatórias Interleucina-1, interleucina-6, fator de necrose tumoral Metaloproteinases da matriz Produção de prostaglandinas PROCESSOS BIOQUÍMICOS: Disrupção do colágeno Leva ao amadurecimento das membranas Síndrome de Ehlers-Danlos FATORES DE RISCO Semelhantes aos fatores de risco da prematuridade. Ruptura em gravidez anterior Mais importante Taxa de recorrência de aproximadamente 15-30% Sangramento vaginal do 2º e 3º trimestre Tabagismo Uso de drogas ilícitas Baixo nível socioeconômico Conização ou cerclagem cervical Colo curto (<25mm) no 2º trimestre Amniocenteses Incompetência istmocervical Inserção baixa de placenta Macrossomia Polidramnia Trabalho de parto prematuro Infecções genitais Sangramento genital Gestação múltipla Doenças maternas Ehlers-Danlos Doença falciforme LOUISE CANDIOTTO 2 Atividade sexual Traumatismo Deficiência nutricional Vaginose bacteriana DIAGNÓSTICO Em quase 90% dos casos, o diagnóstico de RPM pode ser facilmente confirmado pela história clínica e exame físico. QUADRO CLÍNICO QUESTIONAMENTOS NA ANAMNESE: Tempo de bolsa rota Idade gestacional Queixas que podem ser encontradas na presença de infecção materna e/ou fetal QUEIXA PRINCIPAL: História de deflúvio abundante de líquido claro ou amarelado pela vagina que escorre subitamente pelas pernas EXAME ESPECULAR: Confirma o diagnostico Visualiza líquido escorrendo pelo orifício cervical Maneira contínua ou em jorro Manobra de Tranier: Pode auxiliar na visualização do liquido saindo pelo orifício cervical Faz-se a elevação da apresentação fetal mediante palpação abdominal e compressão do fundo uterino, provocando saída de líquido pelo orifício cervical Manobra de Valsalva: Observar o escoamento do líquido pelo colo Avalia a presença de prolapso de cordão e membros fetais, ausência de membranas recobrindo a apresentação, dilatação e apagamento do colo TOQUE VAGINAL: Deve ser evitado Aumenta o risco de infecção Não acrescenta no diagnóstico Só faz se a paciente estiver em pleno trabalho de parto PALPAÇÃO ABDOMINAL: Pode identificar um tamanho reduzido do útero Caso a perda de líquido seja intensa e rápida pode-se observar a diminuição do abdome materno, facilitando a palpação de partes fetais OBS: Deve-se estar atento para diagnósticos diferenciais. Exemplo: Fissura alta de membranas (figura B) Escoamento é habitualmente escasso e persistente. EXAMES LABORATORIAIS TESTE DO PAPEL DE NITRAZINA: Determinar o pH Secreção vaginal é ácido 4,5-6 Líquido amniótico é alcalino 7,1-7,3 Fica azul De preferência coleta de líquido no fundo do saco posterior Lembrar que o pH vaginal também pode ser alterado por outros fatore TESTE DA CRISTALIZAÇÃO DA SECREÇÃO VAGINAL: Coleta o liquido vaginal no fundo de saco e coloca em uma lamina deixando secar Após 10 minutos observa Arborização (cristalização) define amniorrexe Típica aparência em folha de samambaia Durante a gestação não é esperada a cristalização do muco cervical devido aos altos teores de progesterona LOUISE CANDIOTTO 3 AMNISURE: Teste rápido Detecta a proteína alfa microglobulina placentária no fluido vaginal (PAMG-1) Não é afetado por infecção vaginal, urina, sêmen ou pequena quantidade de sangue Apresenta maior precisão quando realizado o mais rapidamente possível Sensibilidade 95-100% Especificidade 93-98% Valor preditivo 98% TESTE DO FENOL VERMELHO: Posiciona-se um tampão vaginal na vagina da paciente Após um tempo, adiciona-se algumas gotas do reagente, quando observa-se a alteração da coloração Laranja para vermelho TESTE DE LANETTA: Mudança de coloração (incolor marrom) da amostra da secreção vaginal em uma lamina após aquecida durante 1 minuto PRESENÇA DE ELEMENTOS FETAIS EM SECREÇÃO VAGINAL: Lanugem e células da epiderme fetal (poligonais) As células fetais assumem coloração alaranjada após coloração com sulfato azul do Nilo 1% Orangirófilas ULTRASSONOGRAFIA Exame útil para diagnosticar oligodramnia: Diminuição do líquido amniótico Maior bolsão de líquido ≤2cm Índice de líquido amniótico (ILA) <5cm NÃO consegue diagnosticar a ruptura: Cerca de 50% das amniorrexes ocorrem sem oligodramnia PROGNÓSTICO Aproximadamente 1/3 das mulheres com RPM desenvolvem sérias infecções como coriomnionite, endometrite e sepse. O feto e o neonato estão sob elevado risco de complicações Vulneráveis a diversos problemas. A maior parte das gestações evoluem para o parto prematuro e em menos de 1 semana de rotura. A gravidade da complicação fetal depende: Volume de líquido perdido Duração entre a rotura e o parto Idade gestacional COMPLICAÇÕES INFECÇÃO: Pode ser causa ou consequência da RPM Quanto maior o período de bolsa rota, maior o risco de ocorrer Pode ocorrer corioamnionite e parto prematuro PREMATURIDADE: Poucas gestações com RPMP atingem o termo, 50% entrem em trabalho de parto dentro de 1 semana ACIDENTES DE PARTO: Maior frequência de apresentações distócicas COMPRESSÃO DE CORDÃO: Pela oligodramnia SOFRIMENTO FETAL: Anormalidades da frequência cardíaca fetal Provável compressão do cordão em situações de oligodramnia, corioamnionite ou descolamento placentário LOUISE CANDIOTTO 4 MALFORMAÇÕES: Síndrome de Potter Oligoidramnia prolongada Fáceis de Potter (implantação baixa das orelhas), contratura dos membros e hipoplasia pulmonar A segunda imagem é após correção cirúrgica RETENÇÃO PLACENTÁRIA: Gestações mito prematuras Necessitando de extração manual ou curetagem RISCO DE CESARIANA: Devido as alterações na FC fetalTRATAMENTO A definição da conduta depende de algumas variáveis: Idade gestacional Presença ou não de infecção Avaliação da vitalidade fetal Presença ou não de trabalho de parto OBS: Em qualquer idade gestacional, a evidência de trabalho de parto, infecção intrauterina ou de comprometimento da viabilidade fetal é indicação para pronta interrupção da gravidez. MEDIDAS GERAIS HOSPITALIZAÇÃO: Deixar a paciente em casa é desaconselhado devido as complicações que podem ocorrer Recomenda-se a hospitalização das mulheres grávidas com RPMP uma vez alcançada a viabilidade fetal (24 semanas) MONITORAMENTO ELETRÔNICO: Avaliação do bem-estar fetal e a contratilidade uterina Especialmente as desacelerações CULTURA PARA ESTREPTOCOCO DO GRUPO B (GBS): Indicada se o tratamento for expectante O uso do antibiótico profilático na conduta expectante não exclui a profilaxia antibiótica intraparto para GBS, porventura indicada No termo (≥ 37 semanas), se o intervalo entre a amniorrexe e o parto é prolongado (≥ 18 h) está também aumentado o risco de sepse neonatal precoce por GBS e indicada a profilaxia antibiótica intraparto MONITORAMENTO DA INFECÇÃO: Na paciente com RPMP, a temperatura ≥ 38°C pode indicar infecção amniótica (corioamnionite) A dor à palpação uterina e a taquicardia materna e fetal possam ser indicadores melhores Possibilidade da corioamnionite subclínica A contagem de leucócitos não é específica, assim como outros testes de inflamação LOUISE CANDIOTTO 5 Concentração de proteína C reativa (PCR) ≥ 5 mg/ℓ (durante a admissão de gestante com RPMP após 34 semanas) Melhor indicador de infecção neonatal precoce Apesar de muito inespecífica Elevada na corioamnionite (>2mg/dl) CERCLAGEM: A RPM complica cerca de uma em cada quatro gestações com cerclagem e metade após a cerclagem de emergência Não há recomendação estabelecida sobre a permanência ou a retirada da cerclagem Se a opção for pela permanência da cerclagem, não há indicação para que se prolongue o tratamento antibiótico profilático por mais de 7 dias HERPES VÍRUS SIMPLES (HSV) E HIV: RPMP (antes de 34 semanas) + Infecção ativa recorrente pelo HSV Recomenda-se o tratamento expectante Tratamento ideal é incerto PARTO: Sofrimento fetal, corioamnionite clínica e DPP significante são indicações claras para a interrupção da gravidez O parto também é recomendado para todos os casos de RPM com 34 ou mais semanas PRESENÇA DE INFECÇÃO Na presença de infecção materna ou fetal é obrigatória interrupção da gestação, independentemente da idade gestacional. Preferível a via vaginal pois na cesariana pode ocorrer infecção intra-abdominal. CORIOAMNIONITE (QUADRO CLÁSSICO): Presença de febre materna (≥ 37,8°C) Pelo menos 2 dos seguintes critérios: Leucocitose materna (leucometria > 15.000 cels/mm3) Taquicardia materna (> 100 bpm) Taquicardia fetal (> 160 bpm) Sensibilidade uterina Líquido amniótico com odor fétido ANTIBIOTICOTERAPIA EMPÍRICA: Instituída imediatamente Ampicilina (2g IV 6/6 horas) + Gentamicina (5mg/Kg por dia ou 1,5 mg/Kg IV 8/8 horas) Regime habitual Mantida até 48 horas após o último episódio febril Não é necessária administração de manutenção oral Clindamicina (900mg IV 8/8 horas) ou Metronidazol (500 mg IV 8/8 horas) podem ser adicionados para cobertura anaeróbica Também adicionados (um dos dois) caso a febre persista após 24 horas de iniciados os antibióticos Se já não tiverem sido adicionados AUSÊNCIA DE INFECÇÃO Na ausência de processo infeccioso, a conduta irá se basear na idade gestacional. ≥34 SEMANAS (PRÉ-TERMO TARDIO) Melhor tratamento Parto imediato Escolha da via de parto deve seguir os critérios obstetrícios Não está indicado o uso de tocolíticos ou corticoides ENTRE 24-33 SEMANAS (PRÉ-TERMO) Na ausência de complicações, o melhor tratamento é o expectante com a paciente hospitalizada Visa-se a maturação pulmonar fetal Manter repouso no leito Não fazer esforço físico Repouso pélvico Proibido o coito e o toque vaginal A gestante deve ser observada para evidencia de infecção, DPP, compressão do cordão umbilical, sofrimento fetal e inicio do parto A elevação da temperatura pode indicar infecção intrauterina Avaliação fetal feita pelo monitoramento de seus batimentos, perfil biofísico fetal e cardiotocografia Frequência pode ser diária ou 2 vezes por semana a depender dos resultados Recomendada a indução do parto quando a gravidez alcançar 33 semanas CORTICOTERAPIA: Diminui o risco de angustia respiratória, hemorragia intraventricular e mortalidade em fetos prematuros Um único curso é recomendado Acredita-se que os benefícios do corticoide sejam maiores 24h após o início do tratamento, no entanto, alguns autores dizem que mesmo tratamentos com menos de 24h também melhoram os resultados LOUISE CANDIOTTO 6 Betametasona, 2 doses de 12mg IM com intervalo de 24h; ou dexametasona, 4 doses de 6mg IM com 12h de intervalo ANTIBIOTICOTERAPIA PROFILÁTICA: Visa a postergação do parto e a redução da morbidade neonatal Mostrou diminuição do risco de infecção materna e aumento do período de latência Ampicilina (2 g IV de 6/6 h) + Eritromicina (250 mg IV de 6/6 h) Com duração de 48 horas Como no Brasil não tem eritromicina IV, recomenda-se o uso de Azitromicina 1g VO dose única Ampicilina Trata estreptococo B, muitos bacilos anaeróbios gram-negativos e alguns anaeróbios Azitromicina Trata micoplasma e Chlamydia trachomatis, causa de corioamnionite e pneumonite, conjuntivite neonatal) Segue-se o tratamento VO por mais 5 dias com a amoxicilina (250 mg de 8/8 h) associada à eritromicina (250 mg de 8/8 h) Adaptação Amoxicilina 500mg VO 8/8 horas por 5 dias Trata bacilos gram-positivos e gram-negativos, principalmente E. coli TOCÓLISE: Tocolíticos possuem boa efetividade em prolongar a gestação por 48 horas Não há indicação de tocólise terapêutica no tratamento expectante de RPMP NEUROPROTEÇÃO FETAL: Mulheres com RPM antes de 32 semanas e risco de parto iminente são candidatas ao tratamento com sulfato de magnésio para a neuroproteção fetal <24 SEMANAS (PERIVIÁVEL) Essas pacientes devem ser aconselhadas em relação aos riscos e benefícios do tratamento expectante versus o parto imediato A interrupção da gravidez deve ser sugerida a paciente A sobrevida é bastante baixa nos fetos que nascem nesta fase O tratamento expectante ambulatorial (home care) pode ser tentado com monitoramento da infecção, DPP e parto A ultrassonografia seriada está indicada para avaliar a oligoidramnia A administração antenatal de corticoide é apropriada se há risco iminente de parto É razoável oferecer um curso de antibiótico profilático para prolongar a gravidez para as pacientes que escolheram o tratamento expectante Alcançada a viabilidade fetal, essas pacientes devem ser hospitalizadas LOUISE CANDIOTTO 7 CONDUTA PARA A PRÓXIMA GRAVIDEZ Para reduzir o risco de recorrência, a suplementação com progesterona vaginal, com início entre 16 e 24 semanas, deve ser oferecida a mulheres com história de RPMP. Mulheres com história de ruptura na gestação de menos de 34 semanas e colo curto (< 25 mm) antes de 24 semanas são candidatas à cerclagem cervical.
Compartilhar