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Daniela Carvalho – Turma LVI RUPTURA PREMATURA DAS MEMBRANAS Definição: A ruptura prematura das membranas (RPM) é a amniorrexe espontânea que ocorre antes do início do parto. A RPM é caracterizada, em geral, por breve período de latência, tempo transcorrido entre a ruptura e o início do parto. • A morbidade materna está associada à infecção intrauterina (corioamnionite) e ao descolamento prematuro da placenta (DPP). A morbimortalidade perinatal é consequência de infecção (sepse neonatal), sofrimento fetal (compressão do cordão umbilical pelo oligoidrâmnio, DPP) e prematuridade – síndrome de angústia respiratória (SAR), enterocolite necrotizante e hemorragia intraventricular. ETIOLOGIA • A RPM tem sido tradicionalmente atribuída ao estresse físico que produz estiramento das membranas, como, por exemplo, o associado a polidrâmnio, gravidez gemelar e contrações uterinas sintomáticas. Todavia, evidências recentes sugerem que a ruptura das membranas está também relacionada a processos bioquímicos, incluindo a disrupção do colágeno dentro da matriz extracelular do âmnio e do cório. • Alguns fatores desencadeantes/ associados: corioamnionite, síndrome de Ehlers-Danlos, sangramento vaginal no 2 o e no 3 o trimestre, tabagismo, uso de drogas ilícitas, baixo nível socioeconômico, conização ou circlagem cervical, colo curto (< 25 mm) no 2 o trimestre e amniocentese. • Na maioria dos casos não se identifica o fator etiológico da RPM. O fator de risco meis importante é a história de ruptura em gestação anterior. HISTÓRIA NATURAL • Ruptura prematura das membranas a termo: A RPM a termo ocorre em 8% das gestações, e é geralmente seguida pelo início imediato do parto, 50% dentro de 5 h e 95% após 28 h. • Ruptura prematura das membranas pré-termo (< 37 semanas): A RPMP ocorre em 3% das gestações e, no mínimo, em 50% dos casos a gestante entra em trabalho de parto no prazo de 1 semana; quanto menor é a idade gestacional, maior é o tempo de latência. • Ruptura prematura das membranas pré-viável (< 24 semanas): A RPM pré viável (< 24 semanas) incide em menos de 1% das gestações. Cerca de 40 a 50% das grávidas com RPM pré-viável dão à luz na primeira semana após a ruptura e 70 a 80% dentro de 2 a 5 semanas. Com o tratamento expectante, a taxa de sobrevida fetal com a ruptura após 22 semanas é de aproximadamente 55%, e antes de 22 semanas de apenas 15%. • Vazamento de líquido após amniocentese: corre em 1% dos casos e o de perda fetal em < 0,5%. Na maioria das vezes, há resselagem das membranas, com normalização do volume do LA em 70% dos casos dentro de 1 mês da amniocentese. DIAGNÓSTICO • História e Exame Clínico o História de deflúvio abundante de líquido pela vagina. o O exame especular confirma o diagnóstico ao visualizar líquido escorrendo pelo orifício cervical. o O toque vaginal aumenta o risco de infecção e nada acrescenta ao diagnóstico; deve ser evitado, a menos que a paciente esteja em pleno trabalho de parto. • Testes laboratoriais o Feitos com líquido coletado de preferencia do fundo de saco posterior. Daniela Carvalho – Turma LVI o Teste do papel de nitrazina: o papel de nitrazina irá assumir a coloração azul (pH > 6,5). ▪ Enquanto o pH da secreção vaginal é ácido e varia entre 4,5 e 6,0, o do LA é alcalino e se situa entre 7,1 e 7,3. o Teste de cristalização: coleta de líquido vaginal, secado por 10 min em lâmina e observado ao microscópio; arborização (cristalização) define a amniorrexe. o AmniSure: é um teste rápido, imunocromatográfico, que detecta a proteína microglobulinaalfa-1 placentária (PAMG-1) no meio vaginal. • Ultrassonografia o A ultrassonografia é utilíssima para confirmar a oligoidramnia (maior bolsão de líquido amniótico < 2 cm), mas não é diagnóstico da ruptura – cerca de 50% das amniorrexes ocorrem sem oligoidramnia. • Dificuldades no diagnóstico: Na fissura alta das membranas, o escoamento é habitualmente escasso e persistente. A integridade do polo inferior do ovo possibilitará, no parto, a formação da bolsa das águas e o falso diagnóstico de não ter havido amniorrexe. TRATAMENTO Medidas Gerais • Em qualquer idade gestacional, a evidência de trabalho de parto, infecção intrauterina, DPP ou de comprometimento da vitalidade fetal é indicação para a pronta interrupção da gravidez. • Hospitalização • Monitoramento do bem-estar fetal • Cultura de estreptococo do grupo B: A coleta de material da vagina e do reto para a cultura de estreptococo do grupo B (GBS) será indicada se o tratamento for expectante. Daniela Carvalho – Turma LVI ▪ No termo (≥ 37 semanas), se o intervalo entre a amniorrexe e o parto é prolongado (≥ 18 h) está também aumentado o risco de sepse neonatal precoce por GBS e indicada a profilaxia antibiótica intraparto. • Monitoramento da infecção: o Na paciente com RPMP, a temperatura > 38°C pode indicar infecção amniótica ou corioamnionite, embora a dor à palpação uterina e a taquicardia fetal possam ser indicadores melhores, em face da possibilidade da corioamnionite subclínica. Corioamnionite • Uma vez diagnosticada a corioamnionite, a conduta, qualquer que seja a idade gestacional, é induzir o parto e administrar antibióticos. • O regime preferencial é a clindamicina, 900 mg IV, a cada 6 h, associada à gentamicina, 240 mg IV, 1/dia (Maternidade-Escola, UFRJ, 2013). A antibioticoterapia na corioamnionite deve continuar até que a paciente esteja afebril e assintomática por 24 a 48 h, após o parto. • Se a paciente continuar febril, apesar do tratamento antibiótico, devem ser procuradas outras fontes de infecção: tromboflebite pélvica, infecção de parede, retenção de restos ovulares e infecção do sistema urinário. RPMO a Termo e > 34 semanas • Avaliar a vitalidade fetal. • Há indicação para indução do parto. • A profilaxia intraparto GBS será indicada se a cultura previamente realizada for positiva ou se houver indicadores de risco. RPMO entre 24 e 34 semanas • Na ausência de complicações, o melhor tratamento é o expectante com a paciente hospitalizada. o A paciente deve manter repouso relativo. o Proibido coito e toque vaginal Daniela Carvalho – Turma LVI o A gestante deve ser observada para a evidência de infecção, DPP, compressão do cordão umbilical, sofrimento fetal e início do parto. o Monitorização da mãe e PBF do feto • A indução deve parto deve ser feita ao atingir 34 semanas. • Deve-se fazer antibioticoprofilaxia: o Ampicilina IV, 1 g de 6/6 h por 48 h, associada à azitromicina, 1 g VO, dose única (trata micoplasma e clamídia, causas de corioamnionite e de pneumonite e conjuntivite neonatal). Depois, amoxicilina, 500 mg VO, de 8/8 h, por 5 dias. • É recomendado um único curso de corticoide para promover a maturação pulmonar. • Não há indicação de se fazer tocólise na conduta expectante de RPMO. • Se IG < 32 semanas, fazer sulfato de magnésio para neuro proteção. RPMO pré-viável ( <24 semanas) • O tratamento expectante ambulatorial pode ser tentado com monitoramento da infecção, DPP e parto, e ultrassonografia seriada para avaliar a oligoidramnia, na esperança da resselagem das membranas e restauração do volume amniótico, o que só parece ocorrer em 8% dos casos. Se houver oligoidramnia persistente, a interrupção da gravidez pode ser oferecida à paciente. Daniela Carvalho – Turma LVI Vazamento de líquido amniótico após amniocentese • O tratamento expectante ambulatorial é o recomendado, com vigilância atenta para a infecção e a interrupção da gravidez. Estão indicados exames periódicos de ultrassonografia para avaliar a normalização do volume do LA. CONDUTA EM PRÓXIMA GRAVIDEZ • Para reduzir o risco de recorrência, a suplementação com progesterona vaginal, com início entre 16 e 24 semanas, deve ser oferecida a mulheres com história de RPM. Mulheres com história de ruptura e colo curto (< 25 mm) antes de 24 semanassão candidatas à circlagem cervical. Fonte – resumo baseado em: Rezende Obstetrícia Fundamental, 13ª ed - Carlos Antonio Barbosa Montenegro; Jorge de Rezende Filho – editora Guanabara Koogan, 2014
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