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EQUIPAMENTOS ELÉTRICOS Gabriel Cunha Marimon Equipamentos elétricos: conceitos básicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Determinar os conceitos básicos de tensão e corrente nominal. � Reconhecer o nível básico de isolamento, nível de curto-circuito e índice de proteção. � Analisar tensões e correntes suportáveis a impulso e manobra. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a respeito de equipamentos elétricos. Perceba que, nas últimas décadas, eles desempenharam um papel de- terminante no desenvolvimento e na evolução da sociedade na qual vivemos. Os equipamentos elétricos são utilizados em todas as áreas de trabalho, desde um simples processo de aparar a grama até aplicações complexas como equipamentos aeroespaciais. Curioso, não é mesmo? Para que seja possível entender seu funciona- mento e desenvolver novas ferramentas que se utilizem dessa tecnologia é que estudamos os equipamentos elétricos. Eles são descritos na forma de circuitos, que são modelos matemáticos criados com o intuito de reproduzir o comportamento de um sistema elétrico real. A partir do estudo deste capítulo, você estará apto a reconhecer as características básicas do circuito de tensão e corrente, assim como identificar os níveis de comportamento referentes a isolamento elétrico, curto-circuito e índice de isolação e tensões e correntes de surto, neces- sárias a situações de impulsos elétricos e manobras. Conceitos básicos de tensão e corrente nominal Você deve estar apto a avaliar sistemas que medem, transmitem ou produzem os sinais elétricos. Esses sistemas são desenvolvidos para atender de forma prática as nossas necessidades do dia a dia. Equipamentos elétricos estão constantemente presentes em nossas vidas, e em qualquer ambiente em que estivermos pode haver exemplares. Avalie à sua volta, você consegue identificar os equipamentos responsáveis pelos sistemas de comunicação? E os de computação? A série de descobertas que impulsionou o estudo da eletricidade teve início na Grécia antiga, com o filósofo Tales de Mileto. Na época, ele utilizou a palavra Elektron para descrever o efeito de atração que um pedaço de âmbar exercia, quando esfregado à pele de carneiro, sobre pedaços de palha e farpas de madeira. Eletricidade, então, é uma palavra originada do vocábulo grego eléktron, que significa âmbar. Para que seja possível avançarmos nos conceitos propostos, vamos enten- der a origem dessa relação de atração identificada pelo filósofo Tales. Toda matéria é constituída por partículas menores. Se você utilizar o modelo de Rutherford-Bohr para analisar um peso padrão, primeiro identificará que ele é feito de aço inoxidável. O aço inoxidável é uma liga de ferro e cromo. Ou seja, esse material, nada mais é do que a combinação de dois elementos químicos. Cada átomo é composto de um núcleo, que abriga prótons e nêutrons, e sua eletrosfera, onde transitam os elétrons. Essa estrutura mantém sua estabilidade devido à atração entre as cargas. O átomo de ferro é composto de 26 elétrons, 26 prótons e 30 nêutrons, como se pode ver na Figura 1. Figura 1. Átomo de ferro. 26P 30N e e e eeee e e e e e e ee e e e e e e e e e e e Equipamentos elétricos: conceitos básicos2 Você pode identificar que a eletrosfera é subdividida em camadas. Assim, quanto maior o número de elétrons, mais camadas. Os elétrons mais afastados do núcleo sofrem uma energia de atração menor. Logo, você deve concluir que, quanto mais afastados eles estão do núcleo, mais livres estão. Os materiais considerados bons condutores de eletricidade são os que têm grande quantidade de elétrons; já os dielétricos ou isolantes são materiais com menor número de elétrons, portanto, mais estáveis devido à forte atração que o núcleo exerce sobre eles. Os elétrons que podem se libertar facilmente da energia do núcleo do átomo são considerados elétrons livres. Essa condição acontece nos metais – em geral – em que, gerando uma movimentação ordenada dos elétrons, é que se gera a corrente elétrica. Como isso seria possível? A energia necessária para libertar esse átomo pode ser transmitida de diversas formas: variações de temperatura, impacto mecânico ou através de um campo. Foi por meio de pesquisas nessa área que o físico Alessandro Volta (1745- 1827) ganhou reconhecimento, sendo homenageado pela nomenclatura para Volt, utilizada no sistema internacional de medidas para a diferença de potencial elétrico (tensão). Ele criou a chamada pilha de Volta, a qual podemos observar na Figura 2, que gera um fluxo constante de energia elétrica (corrente), através de dois polos — cátodo e ânodo. Figura 2. Pilha de Volta criada por Alessandro Volta. Fonte: Gio.tto/Shutterstock.com. 3Equipamentos elétricos: conceitos básicos A tensão elétrica, também conhecida como Força Eletromotriz (f.e.m), diferença de potencial (d.d.p) ou simplesmente tensão, é a força necessária para que os elétrons livres do condutor circulem ordenadamente, formando a corrente elétrica. Uma analogia simples para que você entenda os conceitos de corrente e tensão é a de uma caixa d’água. Suponha que existe uma tor- neira fixada à base de uma caixa d’água que está cheia. A água fluirá para uma torneira fixada na base da caixa, pois existe uma diferença de potencial gravitacional na água represada na caixa. Essa diferença de potencial (seria a tensão elétrica na analogia com o circuito) existirá mesmo com a torneira fechada, situação na qual não existe fluxo de água na torneira (seguindo a analogia, não existe corrente elétrica). Dessa forma, é possível concluir que existe tensão mesmo sem a presença de corrente, mas não existe corrente elétrica sem que haja a diferença de potencial. Em 1827, o filósofo alemão George S. Ohm conseguiu relacionar mate- maticamente as grandezas de tensão, corrente e resistência (carga), o que deu origem à Lei de Ohm. Por meio dela, foi criado o triângulo da tensão, que é uma forma mnemônica para sintetizar as equações que compõem a Lei, conforme podemos observar na Figura 3. Figura 3. Triângulo da tensão. Na Figura 3, E é a tensão em Volts (V), R é a resistência em Ohms (Ω) e I é a corrente em Ampères (A). Daí podemos extrair as três equações principais para circuitos resistivos. Equipamentos elétricos: conceitos básicos4 E = R × I Equação 1 Equação 2R = E I Equação 3I = E R Para que você possa avaliar o conceito proposto de corrente nominal é propício que se considere um modelo de circuito elétrico. A fim de que seja possível a representação de um, são necessários três elementos: uma fonte geradora, uma carga elétrica e condutores, como mostra a Figura 4. Figura 4. Modelo de circuito elétrico. Pilha Carga No sistema proposto, a diferença de potencial (V) é dada pela pilha, a carga é a resistência (R) e os condutores são os fios representados pelas linhas que ligam a pilha à carga. Suponha que o circuito represente uma lanterna. Nesse caso, ela foi projetada para trabalhar com uma pilha de 1,5 Volts. Ao definirmos a lâmpada do sistema, estamos também fixando suas características resistivas. Dessa forma, podemos definir a corrente nominal do circuito por meio da relação dada pela fórmula a seguir. Se a resistência da lâmpada é de 5 Ohms, qual seria a corrente nominal do circuito? 5Equipamentos elétricos: conceitos básicos I = I = E R 1,5 5 = 30 mA Portanto, define-se a corrente nominal de um equipamento elétrico como a quantidade de corrente, expressa em ampères, que um determinado aparelho consome quando operando corretamente. A tensão nominal, por sua vez, é um parâmetro definido durante o projeto, na qual idealmente o aparelho deveria funcionar. É de praxe, portanto, avaliar quais opções de fonte de energia poderiam ser utilizadas para a lanterna. Se você fosse projetar uma lanterna, optaria por alimentar em 110 V? Utilizaria um transformador conectando-a a uma tomada? Provavelmente não, poiselas exigem alguma mobilidade. Nível básico de isolamento, nível de curto-circuito e índice de proteção Inicialmente, vamos estudar o caso de curto-circuito. Mas o que seria um curto? O curto-circuito ocorre quando a corrente pode fluir entre os poten- ciais elétricos com pouca ou nenhuma resistência elétrica. Assim, a fonte de energia tende a impulsionar todo o potencial instantaneamente de um polo ao outro. Quando se fala de curto-circuito ideal, a intenção é de representar uma situação na qual não exista queda de tensão entre dois pontos do circuito. Considere que você decidiu substituir, no circuito da Figura 4, a lâmpada, que representava a resistência, por um pedaço de fio. Uma alta corrente iria percorrer o sistema, causando um rápido aumento de temperatura em todo o circuito, podendo causar fogo ou até mesmo uma explosão! Nas aplicações da eletrônica digital, utiliza-se o modelo de amplificador operacional de ganho infinito, no qual se produz um curto-circuito virtual entre os terminais de entrada. Vale lembrar que a resistência do sistema é con- siderada infinita também, o que impede que exista corrente elétrica. Mas qual é a utilidade prática do estudo do nível de curto-circuito? Você poderá utilizar essa informação para dimensionamento da proteção do circuito ou coordenação dos elementos dele. Uma possível causa desse fenômeno é a perda da isolação da carga no sistema, a qual pode ser causada por danos mecânicos (quebra de suportes, quebra de isoladores) ou uso abusivo, gerado pela exigência de uma potência maior do que a de projeto. Também pode ser causado por umidade, Equipamentos elétricos: conceitos básicos6 descargas parciais no dielétrico ou sobretensões que ocorrem durante manobras de desligamento (voluntárias ou não) e descargas atmosféricas. Suponha que você está definindo um circuito elétrico para o chuveiro elétrico de sua casa. O fabricante informa na embalagem que sua corrente nominal é de 35 A. Nesse caso, você optaria por fazer a proteção do sistema com um disjuntor que atenda à demanda do aparelho em regime permanente. Você poderia optar por um DDR 40 A. O nível básico de isolamento (NBI) determina a suportabilidade dos dis- positivos em relação às sobretensões de origens externas, como descargas atmosféricas. É uma forma de proteger o circuito contra tensões de surto, uma vez que os equipamentos e as linhas de transmissão são protegidos por um sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA), que drena os picos rapidamente, por meio do aterramento, antes que o isolamento seja danificado. Para que a proteção seja efetiva, o SPDA deve atuar abaixo no nível mínimo de isolamento que deve suportar o surto. SPDA é o nome técnico dado aos para-raios. Para aprender a respeito das características de projeto e instalação, consulte a norma NBR 5419 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2015). Os valores de isolamento acima desse nível para as linhas e os equipamentos do sistema devem ser acionados de forma que os dispositivos de proteção contra surto atuem satisfatoriamente abaixo desse nível mínimo. Para o projeto, é necessário determinar a tensão de surto em termos de seu valor de pico e seu retorno para valores aceitáveis em termos de tempo. Embora a tensão de pico considerada seja consideravelmente maior do que a tensão nominal, a tensão no isolamento só existirá por um curto período de tempo. 7Equipamentos elétricos: conceitos básicos Para critérios de projeto, a tensão de pico é atingida em 1,5 microssegundo e decai a metade desse valor em 40 microssegundos. Observe a Figura 5. Figura 5. Representação de tensão de pico atingida em 1,5 microssegundo. Fonte: Adaptada de Pansini (2005, p. 79). Te ns ão Pico E 0,5E 1,5 40 Os NBI estão listados na Tabela 1. Perceba que, conforme a tensão nominal cresce, o impacto de uma tensão de surto no sistema diminui. Dessa forma, percebe-se uma relação inversa da NBI frente à tensão nominal. Fonte: Adaptada de Pansini (2005, p. 79). Nível de tensão, kV Classe de distribuição Classe de potência 1,2 30 45 2,5 45 60 5,0 60 75 15 95 110 23 110 150 34,5 150 200 46 200 250 69 250 300 Tabela 1. Nível básico de isolação, Kv (padrão onda 1,5 – 40 μs) Equipamentos elétricos: conceitos básicos8 Os NBI para a distribuição de energia – conforme exemplo apresentado – são menores do que os das linhas de transmissão e subestações, bem como dos equipamentos das unidades consumidoras. Dessa forma, se um surto resultar em falha do sistema, ele ocorrerá no sistema de distribuição da concessionária onde as interrupções aos consumidores são limitadas e estão sujeitas a uma equipe de manutenção mais bem equipada para lidar com a situação. O nível de isolamento deve ser aplicado em todas as partes do sistema de eletricidade, desde a geração de energia (gerador) até o equipamento da instalação consumidora. O NBI deve suportar não apenas a tensão nominal do equipamento, mas também a maior tensão de surto que pode ocorrer no equipamento. Os conceitos de tensão e corrente nominal abordados representam as características intrínsecas do projeto de um sistema elétrico. Ao analisar as falhas, você identificou as situações que podem ocasionar sobrecorrentes no circuito, compreendendo a corrente de curto-circuito. Mas em qual situação consideramos que existe uma falta no circuito? Quando ocorre a perda de isolação. A isolação elétrica é uma classificação de proteção não só para o usuário, mas também para os entornos da instalação. Para evitar que o circuito passe a interagir com o ambiente e usuários, foram estabelecidos os índices de proteção. Para padronizar essa classificação, a International Electrotechnical Comission (IEC) criou a norma IEC 61140. Por meio desse documento, são especificadas cinco subclasses de índice de proteção a serem seguidas pe- las indústrias de fabricação de equipamentos elétricos (INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION, 2001): � Classe 0: não apresentam aterramento de proteção, dispondo apenas de um único nível de isolamento entre as peças energizadas. Devem ser utilizados apenas em áreas secas, pois uma única falha pode causar choque elétrico ou outra falha perigosa, já que não aciona proteções de ação automática. As vendas de itens de classe 0 foram proibidas em diversos países como Reino Unido (em 1989 pelo chamado “Low Voltage Electric Equipment [safety] Regulations”) e na Nova Zelândia (pelo chamado “Electricity Act”). � Classe I: os aparelhos devem ter seu chassi conectado ao aterramento. Geralmente pela alimentação feita por um cabo de 3 condutores. Seu requisito básico é de que nenhuma falha isolada provoque exposição a 9Equipamentos elétricos: conceitos básicos tensões perigosas; assim, em caso de ocorrência de uma falha elétrica, a alimentação deve ser removida automaticamente. O dispositivo res- ponsável pela proteção automática é chamado Automatic Disconnection of Supply (ADS). No Brasil, a padronização de cores para os cabos de alimentação sugere que seja utilizado um fio verde/amarelo para o aterramento. � Classe 0I: os aparelhos devem ter o chassi conectado à terra por meio de um terminal separado, em vez da conexão por cabo de alimentação. Essa solução fornece a mesma proteção encontrada em equipamentos com classe I para equipamentos que, de outra forma, seriam conside- rados classe 0. � Classe II: são aqueles que foram projetados de tal forma que a conexão com o aterramento seja desnecessária. Para isso ser possível, é necessário que nenhuma falha isolada resulte em exposição à tensão perigosa, de modo que possa causar choque elétrico. Geralmente essa proteção é atingida por meio da aplicação de, pelo menos, duas camadas de material isolante entre as partes vivas e o usuário. Na Europa, os equipamentos protegidos por isolamento duplo devem ter identificação de “Class II” ou “double insulated” ou conter o símbolo de duplo isolamento (um quadrado dentro de outro quadrado, conforme aFigura 6). Figura 6. Símbolo de duplo isolamento. Fonte: Daikin ([201?]). Equipamentos elétricos: conceitos básicos10 � Classe III: são aqueles aparelhos que foram projetados para que sua fonte de alimentação seja separada com tensão SELV “Separated Extra Low Voltage”. Essa tensão é suficientemente baixa para que, em condi- ções normais, uma pessoa entre em contato com o condutor sem risco de choque elétrico. Dessa forma, os dispositivos de segurança presentes nos dispositivos com nível de proteção I e II tornam-se desnecessários. Para aparelhagem médica, a conformidade com nível de proteção III não é considerada suficiente, sendo necessária a adequação a regulamentações mais restritivas. Pesquise sobre a norma IEC 6060. O índice de proteção (IP) dos invólucros dos equipamentos elétricos contra a penetração de corpos líquidos ou sólidos é definido pela norma EN 60529, de acordo com a qual os graus de proteção são construídos por meio da junção das duas iniciais IP, acrescidas de dois números (BRITISH STANDARDS INSTITUTION, 1992). O primeiro algarismo do código diz respeito ao grau de proteção contra a penetração de corpos sólidos e varia entre 0 e 6, totalizando 7 classificações possíveis. O segundo algarismo diz respeito ao grau de proteção contra pene- tração de líquidos e varia entre 0 e 8, totalizando 9 classificações possíveis. O padrão proposto pelo IEC objetiva garantir que o usuário tenha acesso a informações detalhadas a respeito do produto, garantindo maior especificidade do que propagandas do tipo “à prova d’água”. Dessa forma, uma tomada com grau de proteção IP22 garante que os usuários não serão eletrocutados em caso de contato dos dedos com as partes visíveis do equipamento e que não correm risco de dano quando expostos verticalmente a gotejamento de líquidos. IP22 é o índice mínimo de proteção exigido para aplicações em áreas cobertas (interiores). 11Equipamentos elétricos: conceitos básicos No Quadro 1, a seguir, você pode identificar qual padrão de conformidade se relaciona a cada código específico. O código X é utilizado quando não existe informação suficiente para classificar o nível de proteção do equipamento. Algarismo Proteção contra corpos sólidos Proteção contra água 0 Sem proteção. Sem proteção. 1 Protegido contra corpos sólidos estranhos de diâmetro igual ou superior a 50 mm. Protegido contra a queda vertical de gotas d’água (condensação) 2 Protegido contra corpos sólidos estranhos de diâmetro igual ou superior a 12,5 mm. Protegido contra a queda vertical de gotas d’água até 15 graus. 3 Protegido contra corpos sólidos estranhos de diâmetro igual ou superior a 2,5 mm. Protegido contra a água da chuva até 60 graus com a vertical. 4 Protegido contra corpos sólidos estranhos de diâmetro igual ou superior a 1 mm. Protegido contra projeções de água em todas as direções. 5 Protegido contra a poeira. Protegido contra jatos de água à lança de todas as direções. 6 Estanque contra a poeira. Protegido contra jatos potentes de água. 7 — Protegido contra imersão temporária em água de até 1 metro por 30 minutos 8 — Protegido contra imersão contínua em água. Quadro 1. Padrão de conformidade e código específico Equipamentos elétricos: conceitos básicos12 Tensões e correntes suportáveis a impulso e manobra Quando se trata da tensão suportável a impulso de manobra, você está lidando com as tensões a serem aplicadas para comprovar, naquele equipamento, o nível de isolamento. Elas se subdividem em três tipos: tensão suportável estatística de impulso de manobra (atmosférica), tensão suportável nominal a frequência industrial de curta duração e tensão suportável nominal de impulso de manobra (atmosférico). A tensão suportável estatística de impulso de manobra (atmosférico) é o valor de ensaio de uma crista de tensão de ensaio de impulso de manobra (atmosférico) em que a probabilidade da ocorrência de descargas destrutivas na isolação é igual a uma probabilidade de referência especificada. A norma NBR 6939 — Coordenação de Isolamento adota uma probabilidade de 10% de ocorrência de descargas disruptivas (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000). O conceito de tensão suportável de impulso de manobra (atmosférico) é um valor de crista especificado para uma tensão na qual não devem ocorrer descargas destrutivas no isolamento submetido a um número determinado de ensaios nas condições especificadas. Você só aplicará esse nível de teste em equipamentos com isolamentos não regenerativos. A tensão suportável nominal à frequência industrial de curta duração é o conceito dado ao valor eficaz especificado da tensão em frequência industrial que um equipamento deve suportar em condições de ensaio. O ensaio deve seguir as condições especificadas em norma para a aplicação específica, res- peitando o período de tempo indicado (geralmente, não superior a um minuto). A tensão suportável nominal de impulso de manobra (atmosférica) de- termina o valor de crista de uma tensão suportável de impulso de manobra (atmosférico), que classifica o isolamento de um equipamento no que diz respeito aos ensaios de tensão suportável. 13Equipamentos elétricos: conceitos básicos Conforme a NBR 6939 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2000), subdividem-se os equipamentos nas faixas A, B e C. As faixas A e B são utilizadas para equipamentos com tensão máxima inferior a 300kV. A faixa C é utilizada para equipamentos com tensão máxima superior aos 300 kV. Para os equipamentos classe A, B ou C, são consideradas apenas as tensões suportáveis nominais de impulso de manobra e atmosférico. Os ensaios das tensões suportáveis a impulso de manobra são padronizados, dependendo da origem do cliente ao qual o produto é destinado ou da região geográfica de produção do equipamento. Os ensaios que serão abordados a seguir foram fundamentados nas regulamentações IEC, ABNT e ANSI. Ensaios normalizados Tensão suportável a impulso de manobra Estatística — É a tensão de impulso de manobra a ser aplicada no ensaio. Para projetos de equipamentos com isolamento autorregenerativos, deve ser considerada uma possibilidade de 90% de que o equipamento suporte a tensão sem que ocorram danos. Para uma distribuição normal (Gaussiana), o valor é menor do que 1,3σ do valor V50, conforme podemos observar na Figura 7. Para projetos de equipamentos com isolamento autorregenerativo e equipa- mentos com isolamento autorregenerativo em paralelo com não regenerativo (TC, TP), a tensão suportável a impulso de manobra é verificada por meio do padrão 15 × 2 previsto nas normas IEC e ABNT. Equipamentos elétricos: conceitos básicos14 Figura 7. Curva de probabilidade de descarga de um isolamento autorregenerativo. Fonte: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000). Tensão de ensaio Pr ob ab ili da de d e de sc ar ga (% ) 100 50 10 0,13 v0,13 10 50v v P ( )v V10 = V50 (1 – 1,3σ) V0,13 = V50 (1 – 3σ) V50 é a tensão que provoca 50% de descargas no isolamento, também co- nhecida como “tensão crítica de descarga”; V10 é a tensão suportável estatística e σ é o desvio padrão Para esses ensaios, deve-se submeter o equipamento a 15 impulsos de ma- nobra para cada polaridade. A magnitude da tensão V deve ser igual à tensão suportável especificada. Considerando-se a ocorrência de, no máximo, duas descargas no isolamento externo, o equipamento está aprovado no ensaio. Os isolamentos não regenerativos do equipamento não podem sofrer nenhuma descarga interna para que seja aprovado. Por meio desse ensaio, é possível garantir um limite aceitável de confiança de forma simples: pela aplicação de apenas quinze impulsos por polaridade. Convencional — É a tensão de impulso atmosférico para a qual um isolamento não regenerativo não apresenta descargas. Equipamentos como transforma- dores e reatores, que são compostos de partes principais com isolamento não regenerativo, são expostos a um número reduzido deimpulsos nos ensaios. 15Equipamentos elétricos: conceitos básicos 1. Qual seria a corrente nominal do seguinte circuito resistivo? E = 16,8V R2 = 6Ω R3 = 4Ω R6 = 3Ω R4 = 6Ω R5 = 3Ω R1 = 9Ω IA IB I1 I2 IC a) 0,03 A. b) 30 A. c) 3 A. d) 0,3 A. e) 1 A. 2. Qual é a tensão nominal do circuito, considerando que a tensão sobre o resistor R1 é 15V. �� �1 = 2 Ω �3 = 5 Ω 4 Ω�2 Tensão suportável a impulso atmosférico Estatística — É o valor de ensaio para a tensão de impulso atmosférico. Para projetos de equipamentos com isolamento autorregenerativos, deve ser considerada uma possibilidade de 90% de que o equipamento suporte a tensão sem que ocorram danos. Assim como no caso dos impulsos de manobra, os ensaios de impulsos atmosféricos devem seguir os padrões de onda 15 × 2 (IEC/ABNT) e 5 × 10 (ANSI). Convencional — É o valor de tensão a ser aplicado no ensaio que um equipa- mento com isolamento não regenerativo é capaz de suportar sem apresentar nenhuma descarga. Os ensaios são realizados, nos isolamentos não regenera- tivos, por meio da aplicação de impulsos com a seguinte sequência: 1 impulso pleno (de amplitude reduzida); 1 impulso pleno; 1 ou 2 impulsos cortados (de amplitude reduzida); 2 impulsos cortados; 2 impulsos plenos. Equipamentos elétricos: conceitos básicos16 a) 5 V. b) 15 V. c) 52,5 V. d) 2,5 V. e) 7,5 V. 3. Qual é a tensão nominal do circuito da figura a seguir? Considere R1 = 10 Ω, R2 = 15 Ω, R3 = 20 Ω, R4 = 30 Ω e R5 = 50 Ω. a) 34,4375 mV. b) 34,4375 μV. c) 34,8347 V. d) 3,4843 V. e) 348,4375 V. 4. Você é funcionário em uma indústria de produção de eletrônicos e o novo projeto de sua equipe é fazer o relançamento do aparelho que toca discos de vinil. A empresa dispõe, em seus arquivos, de um projeto da década de 1980 com todos os dados construtivos do aparelho. Vocês optam por copiar o projeto, alterando apenas a carcaça do aparelho. Para que o equipamento seja lançado no mercado, você avalia qual é o grau de proteção. Por meio de uma análise minuciosa do circuito, você identificou que o chassi da carcaça era aterrado diretamente pela alimentação, por meio do cabo de alimentação (3 condutores). Qual é o grau de proteção de acordo com a norma IEC 61140? a) 0. b) 0I. c) I. d) II. e) III. 5. Você é o engenheiro responsável por garantir a qualidade dos equipamentos adquiridos pela companhia de distribuição de energia elétrica de sua cidade. Uma grande empreiteira está concluindo as obras de um bairro planejado e solicitou a instalação da rede elétrica para atender às 250 residências. O regulamento da sua empresa exige que as chaves seccionadoras passem pelo ensaio estatístico para tensão de impulso atmosférico padrão ANSI. Qual deve ser o padrão de onda adotado para o ensaio? 17Equipamentos elétricos: conceitos básicos ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5419-1: proteção contra descar- gas atmosféricas - Parte 1: princípios gerais. São Paulo, 2015. Disponível em: <http:// www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=333548#>. Acesso em: 26 jun. 2018. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6939: coordenação do isola- mento - procedimento. São Paulo, 2000. Disponível em: <http://www.abntcatalogo. com.br/norma.aspx?ID=001925>. Acesso em: 27 jun. 2018. BRITISH STANDARDS INSTITUTION. EN 60529: Degrees of protection provided by enclosures (IP Code). London, 1992. Disponível em: <https://shop.bsigroup.com/Pr oductDetail?pid=000000000030214185>. Acesso em: 27 jun. 2018. DAIKIN. O meu dispositivo tem o símbolo de um quadrado duplo na etiqueta, o que significa? Lisboa, [201?]. Disponível em: <https://www.daikin.pt/pt_pt/faq/my- device-has-a-double-square-on-the-label-what-does-it-mean.html>. Acesso em: 27 jun. 2018. INTERNATIONAL ELECTROTECHNICAL COMMISSION. IEC 61140: protection against electric shock – common aspects for installation and equipment. Geneva, 2001. Disponível em: <https://webstore.iec.ch/preview/info_iec61140%7Bed3.0%7Den_d. pdf>. Acesso em: 27 jun. 2018. PANSINI, A. J. Power transmission and distribution. 2. ed. Lilburn: The Fairmont Press, 2005. Disponível em: <http://www.engineeringbookspdf.com/power-transmission- distribution-2nd-edition-anthony-j-pansini/>. Acesso em: 27 jun. 2018. a) 5 × 10. b) 5 × 25. c) Senoidal. d) 5 × 10. e) 15 × 2. Equipamentos elétricos: conceitos básicos18
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