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RABELLO, A. C. Inventando o outro: representações do desenvolvimento e da fronteira amazônica. Tese de Doutorado, capitulo 3

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
RABELLO, A. C. Inventando o outro: representações do desenvolvimento e da fronteira amazônica. Tese de Doutorado, capitulo 3
Antônio Cláudio Rabello possui graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (1991), mestrado em História pela Universidade Federal Fluminense (1998) e doutorado em Desenvolvimento Sócio-Ambiental pela Universidade Federal do Pará (2004). 
No artigo, é trabalhada a questão do crescimento populacional de Rondônia a partir da década de 50, sendo esse, resultado de fatores econômicos na região, como a descoberta de cassiterita, abertura do garimpo de ouro e o crescimento da agricultura. Também é falado como o meio ambiente foi afetado com esse crescimento e como o governo “tentou” reverter à situação, criando alguns programas de pavimentação. 
O autor inicia o texto dizendo que a região onde se situa Rondônia representa desde o período Vargas uma enorme área despovoada, despossuída de produção e vulnerável á segurança nacional, tendo como base o que se entendia por desenvolvimento, segurança e integração. 
Conforme o censo de 1950, depois de já criado o Território Federal do Guaporé, a população era de 36.935, onde mais da metade, 23.115, viviam na zona rural. 
No período dos anos 60 o fluxo migratório se intensifica para a região por causa da descoberta da Cassiterita, e sua extração por garimpeiros fez gerar um incremento populacional na região. Com a abertura da rodovia BR 29, atual BR 364, ainda em 1960, Rondônia se transforma no maior produtor de minério, representando mais de 90% da produção nacional. 
Os censos de 1950 a 1960 e 1960 a 1970, mostraram uma pequena modificação da participação do estado de Rondônia no quadro amazônico e brasileiro, com 70.783 e 1110.064 no total de habitantes, respectivamente. Mas, em relação ao crescimento da população em Rondônia o aumento é bem significativo, o que faz chamar atenção para o fato de não existir nenhum programa oficial de colonização para região até então.
Os programas oficiais de colonização se iniciaram em Rondônia ainda no ano de 1970. Com Projetos Integrados de Colonização (PICs), o INCRA iniciou os assentamentos na região. Esses projetos tinham na proposta original a criação de infraestrutura para o atendimento dos assentados, indo do apoio ao crédito agrícola à instalação de postos de saúde e escolas. 
Nessa década o incremento populacional teve números gigantescos, a população de Rondônia foi multiplicada por cinco, atraindo também migrantes sem áreas destinadas nos assentamentos. Esse incremento populacional resultou, como era de se esperar, em um crescimento produtivo no estado. 
As pressões por terras no estado de Rondônia e a migração desordenada para a região, em grande parte por causa da alteração do uso do solo em regiões como Mato Grosso e Paraná, levou o INCRA a inaugurar uma série de novos assentamentos na região, chamados de Projetos de Assentamento Rápido (PAR). O resultado desses programas de assentamentos alterou mais ainda o quadro populacional de Rondônia na década. Mais uma vez, Rondônia apresentava um crescimento populacional que destoava do crescimento da Amazônia e do Brasil. Na década de 80 a população do estado ultrapassou seu dobro.
O crescimento populacional gerado pelos projetos de colonização teve como impulso duas outras componentes que trouxeram mais migrantes para a região. A transformação do Território Federal em Estado da Federação e a abertura do garimpo de ouro no Rio Madeira. 
Outro fator que impulsionou os investimentos do estado para a ocupação e integração da região destinava-se a expansão da fronteira agrícola, que foi crescendo notoriamente a partir da década de 70. O café e o cacau nesse período constituíram os principais produtos de Rondônia nas lavouras permanentes, e a soja nas temporárias. 
Se, em termos econômicos, Rondônia apresentava os resultados das políticas iniciadas durante o período militar, outra realidade começava a chamar atenção: os impactos ambientais dessa imensa mudança ocorrida. A ocupação ao longo da BR 364 foi deixando marcas na paisagem local e áreas desmatadas foram ficando cada vez maior. A questão ambiental começou a ser trazida a tona como um dos elementos que poderiam limitar o desenvolvimento. 
Com uma conferência realizada pela ONU em 1977, a discussão ambiental passou a fazer parte da agenda política internacional, o que fez o Brasil incluir essa problemática nas suas ações seguintes, relacionadas ao desenvolvimento da Amazônia, mesmo que fosse superficialmente, só para “agradar” a Organização das Nações Unidas.
Toda prioridade do programa estava baseada na consolidação da ocupação de Rondônia. A pavimentação da BR 364 e a construção da rede de estradas vicinais apareciam como as principais metas a serem cumpridas pelo programa. 
Todavia, podemos concluir que a população do estado de Rondônia cresceu consideravelmente da década de 50 até 80, por fatores econômicos, o que fez serem criados pelo governo programas oficiais de colonização para a região. O crescimento acelerado da população nesse período gerou consequências também aceleradas para o meio ambiente, como o desmatamento ao longo da BR 364, o que impulsionou o governo brasileiro a criar medidas de controle para a situação, mesmo que tais medidas não tenham sido tão eficazes, e fossem somente para impressionar a ONU, uma vez que a questão ambiental poderia limitar o desenvolvimento da região.

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