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Dermatologia - Dermatoses infecciosas e Alterações histopatológicas das dermatites Pele – órgão complexo que participa ativamente da regulação de eventos celulares e moleculares que regem as interações do corpo com o ambiente externo Doenças de pele são comuns e diversificadas As dermatoses são agrupadas com suas características clinicas, etiológicas e histopatológicas História clínica, aspecto macroscópico e distribuição das lesões tão importantes quanto os achados microscópicos para o diagnostico A pele é sede de afecções primarias ou ‘’janela’’ para afecções sistêmicas Histologia da pele Apresente duas camadas: epiderme e derme Possui diversos anexos cutâneos Folículos pilosos e pêlos Glândulas sudoríparas Glândulas sebáceas Unhas Glândulas mamárias Epiderme – epitélio pavimentoso estratificado Células da epiderme Queratinócitos – 5 camadas Estrato basal (germinativo) Estrato espinhoso (camada espinhosa) Estrato granuloso Estrato lúcido Estrato córneo (células queratinizadas) Melanócitos Dispersos entre as células basais do estrato basal Unidade epidermomelânica – um melanócito associada a aproximadamente 36 queratinócitos Produzem e secretam melanina Responsável pela pigmentação da pele Células de Langerhans Originárias da medula óssea, são células dendríticas abundantes na epiderme Contém grânulos de Birbeck (processo de endocitose) Participam de reações imunológicas – são células moveis responsáveis pela imunovigilância cutânea Tem a função de captar, processar e apresentar os antígenos aos linfócitos T Células de Merkel Presentes na camada basal da epiderme, ligadas a terminais nervoso (pele grossa especialmente – palmo/plantar) Função sensorial – mecanorreceptores e sensibilidade tátil Derme Composta por duas camadas: Papilar Tecido conjuntivo frouxo Reticular Tecido conjuntivo denso (não modelado) Importante como sede de reações inflamatórias e cicatrização Mecanismos de defesa da pele Integridade da camada córnea torna a pele relativamente impermeável pH baixo (5,5) Ácidos graxos insaturados da secreção sebácea – propriedades antibacteriana Relativa ‘’sequidão’’ e renovação da epiderme Efeito supressor de cepas bacterianas sobre outros microrganismos – microbiota (Estrepto e Estafilos) Resposta imunitária do hospedeiro importante no processo de defesa Fator de necrose tumoral (TNF-alfa) – síntese de proteínas de fase aguda Citocinas promovem febre (IL-1), síntese de proteínas de fase aguda (IL-6) e quimiotaxia de leucócitos (IL-8) Microbiota da pele Flora aeróbica residente da pele: Cocos Gram-positivos de Staphylococcus spp. Micrococcus spp. Bastonetes gram-positivos Corynebacterium spp Brevibacterium spp Gram-negativos Acinetobacter spp No folículo piloso Anaeróbicos Propineobacterium spp Fungos Pityrosporum spp Fatores que inibem o crescimento de microrganismos na pele: Baixa umidade Baixo pH Substancias inibitórias – lisozima Infecções bacterianas Piodermites Infecções cutâneas causadas por bactérias produtoras de pus Compõem microbiota normal da pele e se tornam patogênicas: Estafilococos (principal) Fatores predisponentes: Constitucional: DM, obesidade, anemia, caquexia, corticoides Locais: fricção, calor, sudorese excessiva, higiene precária, contato com óleos e graxas, cosméticos, medicação tópica, queimaduras, picada de insetos, escabiose, abrasões e dermatoses não piogênicas Mais comum em crianças Streptococcus pyogenes Coloniza a pele por: Pequenos traumas (picada de inseto/abrasões) Pele previamente comprometida (escabiose, eczemas) – coloniza região anorretal e vaginal Colonização não indica tratamento e erradicação geralmente não é conseguida Causas: Impetigo Erisipela Celulite Estafilococcias Coagulase negativo – S. erpidermidis Coagulase positivo – S. aureus Persistente na flora – 10 – 20% Forma transitória – 30 – 50% Sítios de colonização: narinas, axilas, períneo, faringe, mãos Impetigo Infecção superficial da pele Epidemiologia 60% das Piodermites Crianças em idade pré-escolar e escolar Fatores predisponente: falta de higiene, doença cutânea pré-existente, aglomerações, escoriações Etiologia Staphylococcus aureus Streptococcus (clima quente e úmido): Grupo A Tipo não bolhoso Lesões geralmente começam na face (perinasal e perioral), e extremidades 70% dos casos de impetigo 60% S. aureus; 35% Streptococcus pyogenes Infecção inicial estreptocócica e depois estafilococo Crostas amarelas espessas Adenite regional, febre, prurido e leucócitos Cura espontânea em 2-3 semanas Discromia residual (negros) Máculas eritematosas, que evoluem para pápulas vesiculares Rapidamente dissecam, formando crostas melicéricas Predomina na face e extremidades Tipo bolhoso Staphylococcus aureus Bolhas mais persistentes Crostas finas Confluências das lesões (configuração circinada) Adenite regional (rara) Toxina A, esfoliatina, cliva a desmogleína 1, formando bolhas acantoliícas na camada granulosa da epiderme (semelhantes às do pênfigo foliáceo) Lesões podem ocorrer na pele íntegra Vesículas e bolhas são mais facilmente detectadas Lesões de 1 a 2 cm de diâmetro O conteúdo, de início seroso, torna-se turvo As crostas são amarelo- acastanhadas, com clareamento central e extensão periférica, formando lesões circinadas Ocorrem em qualquer localização, sendo frequentes na face A mucosa bucal pode estar acometida, com pequeno número de lesões Adenomegalia é rara Complicações Incomuns Erisipela, celulite GNDA (cepas nefritogênicas) 10 – 15% Escarlatina, urticária e eritema polimorfo Diagnóstico Clínico Sorologia: anti-DNAse B (strepto); aantiestrreptolisina O Exame bacterioscópico e cultura Diagnostico diferencial: micoses superficiais, herpes simplex, pênfigo (biopsia da pele) Foliculites Infecção subaguda ou crônica do folículo pilossebáceo, causada geralmente por estafilococos Furúnculo/Carbúnculo/Antraz Foliculites profundas Caracterização por supuração necrosante e destruição do folículo pilossebáceo Estafilococos Antraz – coleção ou fusão de furúnculos, constituída por múltiplos trajetos fistulosos na superfície cutânea Periporite Pústulas intraepidérmicas na desembocadura dos ductos excretores das glândulas sudoríparas Tronco e nas nádegas de crianças Comum em lactentes Sucedem à miliária (brotoeja) – obstrução de glândulas sudoríparas (ductos imaturos) Paroníquia Infecção de dobras e tecidos ungueais Predomina em indivíduos que roem unhas Nos pés inicia com onicocriptose (unha encravada) Clínica: aspecto edemaciado, eritematoso e doloroso, com coleção purulenta Agentes: Agudo – estafilocócica ou estreptocócica Crônico – fungos (Cândida albicans) Erisipela Infecção bacteriana da pele que acomete predominantemente a derme e o tecido celular subcutâneo superior Infecção cutânea bastante comum Epidemiologia Ocorre em pessoas de qualquer idade Predomina em diabéticos, obesos e portadores de insuficiência venosa dos MMII Não é contagiosa Mecanismo básico: solução de continuidade da pele – ruptura da barreira de proteção cutânea → bactéria geralmente considerada não patogênica pode tornar-se um patógeno oportunista → infecção cutânea Fisiopatologia Decorrente de traumas e soluções de continuidade da pele – rompimento da barreira cutânea Infecções fúngicas superficiais (Tinea pedis), picada de insetos, inflamação (eczema,radioterapia) Linfadenectomias Ulceras de perna ou outros processos inflamatórios ou infeciosos locais Edema crônico de MMII (pós cirúrgico) Etiologia: Streptococcus pyogenes do grupo A de Lancefield Raramente, pelos estreptococcus hemolíticos do grupo B, C e D Quadro clínico Início abrupto de febre elevada (39 a 40), calafrios, tremores, mal-estar e astenia No local afetado (membro ou face) – eritema, edema, calor e rubor Comum bolhas de conteúdo seroso e hemorrágico no local afetado A lesão pode evoluir para pústula, ulceração e necrose Linfagite e linfadenite são comuns Complicação: edema linfático crônico (elefantíase) Celulite Infecção da derme profunda e do subcutâneo Etiologia S. pyogenes e Staphylococcus aureus Streptococcus agalactiae – idosos, diabéticos e insuficiência vascular periférica Haemophilus influenzae – celulite periorbitária, relacionada à sinusite, otite média aguda ou epiglotite em crianças (< 2 anos) Pasteurela multocida, em mordedura de gatos ou cães Aeromonas hydrophila, em lacerações em lagos e rios Vibrio vulnificus, em lacerações em água salgada Pseudomonas aeruginosa, após trauma penetrante Erysipelothrix rhusiopathiae, associada a peixes e suínos domésticos Diagnóstico diferencial de erisipela e celulite – principais diferenças A lesão da erisipela apresenta bordas bem definidas, diferente da lesão da celulite, que tem suas bordas de difícil delimitação A coloração da erisipela é vermelha viva, e da celulite é mais rosada A erisipela acomete a superfície da pele apenas, e a celulite acomete também o tecido subcutâneo A erisipela apresenta manifestações sistêmicas mais pronunciadas Erisipela com curso agudo, e celulite indolente Infecções fúngicas Ceratofitoses Proliferam na camada córnea ou haste livre do pelo Não consomem a queratina – não produzem reação inflamatória Ex: Pitiríase Versicolor Dermatofitoses Fungos ceratolíticos consomem a queratina para nutrição São manifestações na pele e em seus anexos causadas por fungos dermatófitos Etiologia: os fungos causadores são o Epidermophyton flocosum, diversas espécies de Trichophyton e Microsporum Epidemiologia Homens são mais acometidos Crianças: mais acometidos por tinea capitis Adultos: mais acometidos por tinea do pé e iguinocrural Fator de risco: imunossupressão e populações fechadas Sazonalidade: mais comum verão/outono Patogênese Contágio: contato direto com solo, animais e seres humanos contaminados ou indiretamente por exposição a fômites (objetos) contaminados Fatores inerentes ao hospedeiro: Umidade da pele, perda da barreira cutânea, fatores metabólicos, genética, imunidade, fatores comportamentais, higiene e tipo de calçado Imunidade: resposta imunológica inespecífica, resposta celular e humoral Quadro clinico depende do local: Pele glabra (sem pelo) – lesões avermelhadas, descamativas, rendilhadas ou desenhadas, isoladas ou confluentes, de modo que a parte externa é a mais ativa Couro cabeludo – forma de placa de alopecia ou em uma área na qual os pelos foram quebrados ou aparados (tonsurados) Dermatofitoses unguenais (onicomicoses) – lesões destrutivas e esfarinhentas; iniciam pela borda livre da unha, de cor branco-amarelado. Geralmente há acumulo de queratina debaixo da unha (ceratose subungueal) Tinea crural – na virilha, as lesões são avermelhadas, descamativas, muito pruriginosas e afetam parte ou toda a área do púbis, expandindo-se para a região abdominal inferior e também para as nádegas, em casos extensos Ptiríase versicolor ‘’Malassezia furfur’’ é o fungo mais frequente Coloniza humanos – 90% da população Não é contagiosa e de ocorrência universal Áreas corporais ricas em glândulas sebáceas (couro cabeludo, face, tronco superior) – precisam de ácidos graxos para nutrição Mais frequente nos climas quentes e úmidos Assintomática e pode evoluir em surtos Versicolor – mais frequente são as lesões hipocrômicas, porém podem ser hipercrômicas ou eritematosas Infecções virais Verruga Alterações escamoproliferativas causadas pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) São comuns em crianças e adolescentes Transmissão: contato direito e auto-inoculação Verrugas anogenitais: HPV 6 e 11 Verrugas: vulgar (comum), plana, plantar Herpes simples Doença infectocontagiosa recorrente, causada por duas cepas distintas do Herpevirus hoinis (HSV 1 e 2) Transmissão: contato pessoal direto O vírus permanece no organismo por toda a vida, alternando períodos de latência com reativação Herpes zoster Acomete um dermátomo Forma uma placa avermelhada eritematosa, dolorosa formando vesículas Molusco contagioso Pápulas semiesféricas, séssil, que pode ser rosada ou da cor da pele Assintomática Etiologia: vírus DNA da família Poxvirus Descrições macroscópicas das lesões dermatológicas Ao observarmos uma lesão dermatológica devemos seguir uma sequência de raciocínio Padrão da lesão (morfologia básica) → forma e tamanho → coloração da lesão (alteração da pigmentação ou vascularização) → textura (alteração da superfície) → sintomas associados (prurido, dor, parestesia e ardência) → localização Morfologia básica Mácula Pápula Placa Nódulo Urtica Vesícula Bolha Pústula Abscesso Úlcera Formas Puntiforme Lenticular Numular (‘’moeda’’) Arciformes Anulares Tamanho Aproximado mm ou cm Coloração da lesão Eritematosa Purpúricas Equimose Hipo, hiper ou normocrômicas Acrômica Outras cores: acastanhada, esverdeada, marrom etc Textura Erosão Exulceração Escamas Crosta Fissura Fístula Liquenificação Esclerose Vegetação Verrucosa Atrofia Sintomas Prurido Dor Parestesia Ardência Localização Descrever o sítio anatômico da lesão, ex: membro inferior, seguindo a linha de um dermátomo Se é disseminada ou localizada Termos histológicos para lesões cutâneas (microscópicos) Acantólise: é a perda de coesão entre as células espinhosas, com formação de clivagens, vesículas e bolhas intraepidérmicas; ao se individualizarem – célula acantolítica Acantose: refere-se ao aumento de espessura da camada espinhosa. Há quatro padrões: Psoriasiforme (psoríase) – espessamento regular Irregular (líquen plano) Papilar (verruga vulgar) Pseudocarcinomatoso (infecções micóticas profundas) – sem atipias Alteração vacuolar da camada basal/degeneração de liquefação (hidrópica): consiste em eespaços mínimos acima e abaixo da membrana basal, na junção dermoepidérmica; a confluência desses espaços forma clivagens na junção dermoepidérmica Atrofia: é a redução das células espinhosas, com adelgaçamento da epiderme e retificação dos cones epiteliais Disceratose: quando há presença de células na camada basal com núcleo, onde devia haver só fibras de queratina – ceratinização precoce das células epidérmicas Espongiose (edema intercelular): inflamação do extrato epidérmico Pústula espongioforme: acumulo de neutrófilos entre as células epidérmicas Hiperceratose: excesso de camada córnea Hipergranulose: é o aumento do número de células na camada granulosa Hipogranulose: diminuição do número de células na camada granulosa Paraceratose: ocorre quando núcleos picnóticos são retidos na camada córnea hiperceratótica Esclerose/transformação do colágeno: aumento e/ou desarranjo das fibras colágenas, que se apresentam homogêneas, eosinofílicas, hialinizadas e com diminuição do número de fibroblastos Infiltrado celular: pode ser monomórfico,misto, linfohistiocítico ou liquenoide Papilomatose: projeção de papilas dérmicas cima do nível da superfície cutânea Padrões histopatológicos das dermatoses Dermatites espongióticas Caracterizadas por Espongiose, Paraceratose, exocitose extensas, acantose, edema subepidérmico e reação inflamatória perivascular Coexistência de alterações inflamatórias subagudas e crônicas Exemplos: eczema, dermatite atópica Dermatites psoriasiformes O marcador histológico é a acantose regular O protótipo desse padrão é a psoríase, mas diversas doenças têm acantose regular Exemplo: Líquen simples crônico Dermatites de interface Caracteriza-se pelo comprometimento da junção dermo-epidérmica-dano do ceratinócito basal Achados característicos: Degeneração hidrópica e vacuolização da camada basal Apoptose/necrose dos ceratinócitos basais Infiltrado inflamatório de localização, qualidade e quantidade variável São subclassificados de acordo com a quantidade de infiltrado inflamatório na interface: vacuolar e liquenoide Dermatites vesicobolhosas Caracteriza-se pela presença de qualquer clivagem, fenda, vesícula ou bolha intra-epidérmica ou subepidérmica Dermatites granulomatosa Dermatoses infecciosas ou não Caracterizadas pela presença de granulomas – coleções intradérmicas de células inflamatórias (histiócitos, linfócitos) Exemplo: granuloma anular, tuberculose, hanseníase, sarcoidose Vasculites Caracterizadas por lesões vasculares, como vasculites ou oclusões vasculares (vasculopatias trombosantes) Paniculites Processos inflamatórios no tecido subcutâneo resultantes de múltiplas causas (infecções, trauma, LES) Classificada como lobular ou septal dependendo do local principal da inflamação na gordura Exemplo: eritema nodoso
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