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1 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica DEFINIÇÃO • Hemostasia: conjunto de mecanismos fisiológicos que têm por objetivo o controle de eventos hemorrágicos diante de algum tipo de dano tecidual, restabelecendo o fluxo sanguíneo e evitando a ocorrência concomitante de trombose. • Está dividida didaticamente em: 1. Hemostasia primária: relacionada aos mecanismos de vasoconstrição, adesão e função plaquetária. 2. Hemostasia secundária: relacionada à ativação da cascata de coagulação. 3. Fibrinólise: relacionada aos mecanismos de geração e resolução dos trombos. • Condições com maior propensão aos eventos hemorrágicos: coagulopatias. • Condições com tendência a eventos tromboembolíticos: trombofilias. EXAMES COMPLEMENTARES TESTES DE TRIAGEM: TP, TTPA E TEMPO DE TROMBINA • TP: avalia as vias extrínseca e comum da coagulação. • TTPa: avalia as vias intrínseca e comum da coagulação. • Tempo de trombina: avalia a conversão de fibrinogênio em fibrina. Auxiliam no screening das coagulopatias mais comuns! CONTAGEM MANUAL DE PLAQUETAS • Baseia-se na revisão da lâmina de sangue periférico. • Deve ser realizado em amostra de sangue colhida em citrato e ácido etilenodiaminotetra-acético (EDTA). • Métodos: 1. Fônio: consiste em estimar o número de plaquetas com base na proporção entre hemácias e plaquetas visualizadas em 5 campos de maior aumento; 2. Câmara de Neubauer: consiste na contagem de plaquetas visualizadas em uma lâmina especialmente projetada para isso, denominada câmara de Neubauer. CÁLCULO DO INCREMENTO PLAQUETÁRIO • Se baseia no emprego de uma fórmula matemática para o cálculo do número de plaquetas após transfusão. • Define-se como refratariedade plaquetária um incremento < 7.500 plaquetas/L em 2 transfusões consecutivas. TESTE DE AGREGAÇÃO PLAQUETÁRIA • Observar a função das plaquetas. • Pode ser utilizado no diagnóstico de plaquetopatias ou para o controle de drogas antiagregantes. • O teste consiste em verificar a agregação plaquetária espontânea e mediante a adição de agentes agonistas como colágeno, difosfato de adenosina, ácido araquidônico, epinefrina e ristocetina (a escolha depende da suspeita clínica). • Considera-se como resposta normal quando se observa a 1ª onda (resposta primária, que reflete a presença do complexo GPIIb-IIIa da plaqueta) e a 2ª onda (resposta secundária, que traduz a liberação do conteúdo intragranular plaquetário) de agregação plaquetária ante diferentes doses dos agentes agonistas. TESTE DE SECREÇÃO PLAQUETÁRIA • Também auxilia no diagnóstico das plaquetopatias. • Avalia a secreção dos grânulos densos. • Indicado principalmente para pacientes que exibem sintomas hemorrágicos mucocutâneos e cujo teste de agregação plaquetária mostrou ausência de 2ª onda de agregação. DOSAGEM DE FIBRINOGÊNIO • O fibrinogênio é uma molécula que, mediante a ação estabilizadora do fator XIII e da trombina, gera fibrina, substância fundamental para a formação do coágulo. • Diminuição dos níveis séricos de fibrinogênio → TP e tempo de trombina prolongados e incoaguláveis. TROMBOELASTOGRAFIA • Teste que avalia globalmente a hemostasia. • O aparelho processa o sangue total do paciente e elabora um gráfico à medida que a amostra coagula. ALTERAÇÕES DA HEMOSTASIA PRIMÁRIA • Suspeitar em pacientes que exibem sintomas como sangramento mucocutâneo, petéquias e equimoses → investigar inicialmente com contagem de plaquetas → se nº normais, investigar função plaquetária. ALTERAÇÕES DA CONTAGEM DE PLAQUETAS 2 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica TROMBOCITOPENIA IMUNE (ANTIGA PTI) • Antes denominada púrpura trombocitopênica imune (PTI), é uma doença caracterizada por trombocitopenia de causa autoimune. • O diagnóstico dessa condição é de exclusão → é necessário avaliar a contagem plaquetária, observar o esfregaço de sangue periférico e investigar outras possíveis causas de plaquetopenia, como hiperesplenismo, mielodisplasia, leucemias, câncer metastático, alterações da função tireoidiana, coagulação intravascular disseminada, síndrome HELLP, púrpura trombocitopênica trombótica, síndrome hemolítico-urêmica, colagenoses, efeito adverso de drogas e infecções como hepatites B e C, HIV, por Helicobacter pylori e sepse. • Seu curso pode ser autolimitado, no entanto, na maioria dos casos em adultos é insidioso e demanda tratamento, que consiste na administração de medicamentos imunossupressores (corticosteroides, imunoglobulina humana EV, imunoglobulina anti-D, azatioprina, ciclosporina, micofenolato, vincristina, rituximabe), agentes androgênicos (danazol) ou agonistas da trombopoetina (eltrombopag). • O tratamento de pacientes com plaquetopenia leve a moderada é desnecessário, assim, preconiza-se uma contagem plaquetária > 20.000-30.000/mm3 , se não houver manifestações hemorrágicas, para se iniciar o tratamento farmacológico. • Terapêutica de 1ª linha: corticoesteroides (prednisona 1 mg/kg/dia), até que a contagem plaquetária atinja um nível seguro mínimo, quando o desmame deve ser iniciado e completado em aproximadamente 4-6 semanas. • Quadros mais graves: pulsoterapia com metilprednisolona, 1 mg/kg, por 3 dias, ou imunoglobulina humana, 1 g/kg, por 2 dias. • Hemorragia grave: transfundir concentrado de plaquetas apenas como terapia de suporte. • Terapêutica de 2ª linha: esplenectomia. • Para os casos persistentes ou crônicos refratários, não existe consenso sobre a melhor terapia a ser instituída, mas geralmente se indica a associação de imunossupressores. PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA (PTT) • Doença caracterizada por uma microangiopatia trombótica disseminada. • A oclusão da microcirculação por trombos plaquetários leva a isquemia tecidual e anemia hemolítica microangiopática, que culmina com alterações do nível de consciência e disfunção de múltiplos órgãos. • Observa-se, portanto, trombocitopenia de consumo, que não raramente cursa com fenômenos hemorrágicos. • Se tratamento não for instituído de prontidão, o curso é fatal. • Fisiopatogenia: deficiência da enzima ADAMTS-13 → multímeros de fator de von Willebrand de alto peso molecular são liberados pelo endotélio → formação de agregados plaquetários em condições de alta tensão de cisalhamento, como na microvasculatura do cérebro, rins e coração. • Pode ser classificada em congênita (mutação no gene que codifica a ADAMTS-13) ou adquirida (anticorpos contra a ADAMTS-13). • Para os casos de PTT adquirida, devem ser rastreados focos infecciosos, neoplasias, gestação, bem como o uso de fármacos que podem atuar como potenciais deflagradores. o Solicitar: TP, TTPa, tempo de trombina, dosagem de fibrinogênio, hemograma completo e lâmina de sangue periférico com contagem de esquizócitos, além de provas de hemólise e teste da antiglobulina direta. • Manejo do paciente demanda suporte intensivo. • Não transfundir de plaquetas! (salvo no caso de eventos hemorrágicos que comprometam a vida do paciente, uma vez que esta medida contribuiria para a perpetuação do processo de microangiopatia trombótica). • Tratamento: realização de plasmaférese terapêutica (em 4-8h do diagnóstico), que promove a reposição da ADAMTS-13 e a retirada dos anticorpos. SÍNDROME HEMOLÍTICO-URÊMICA • É um dos diagnósticos diferenciais da PTT. • Observa-se quadro de anemia microangiopática e trombocitopenia, com injúria renal aguda e uremia predominantes. • Sua fisiopatogenia está relacionada às infecções por Shigella sp. e Escherichia coli, cujas endotoxinas são as deflagradoras do processo de microangiopatia. • Tratamento: terapia de suporte, incluindo diálise quando necessário. COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA • Fenômeno caracterizadopela ativação sistêmica da coagulação, com a formação de trombos microvasculares. • Há consumo de plaquetas, fatores da coagulação e fibrina → paradoxalmente, observa- -se a ocorrência concomitante de fenômenos trombóticos e fenômenos hemorrágicos. 3 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica • A forma aguda é uma manifestação secundária a inúmeras condições patológicas graves como sepse, neoplasias metastáticas, embolia amniótica, acidentes ofídicos, transfusões incompatíveis e trauma. • A forma crônica pode evoluir de forma assintomática (compensação) ou cursar com eventos trombóticos e hemorrágicos. Essa condição pode existir no contexto de neoplasias, aneurismas de aorta, etc. • Tratamento: suporte intensivo para a causa desencadeante; monitorar a TP, TTPa e tempo de trombina, além dos níveis de fibrinogênio e contagem de plaquetas; suporte transfusional (hemácias, plaquetas, plasma ou crioprecipitado) conforme necessidade, não de forma profilática. ➔Outras: Plaquetopenia relacionada ao uso de drogas: • Diuréticos tiazídicos, quinidinas, sais de ouro, ácido valproico, sulfas, sirolimo, tirofibana, abciximabe, eptifibatide, carbamazepina, cimetidina, rifampicina, interferona e heparina. • Tratamento: retirar droga suspeita. • Trombocitemia induzida por heparina (HIT): resposta imune iniciada após exposição à heparina, que leva à formação de anticorpos da classe IgG contra o fator plaquetário 4 ligado à heparina (H-PF4) → ativação e agregação plaquetária e liberação de micropartículas procoagulantes, resultando em trombocitopenia e complicações tromboembólicas. Síndrome antifosfolípide: • Condição que também pode se manifestar com trombocitopenia. Síndromes mielodisplásicas: • Plaquetopenia isolada ou coexistente com outras citopenias. • Faz-se necessária a investigação completa com mielograma, cariótipo e testes de biologia molecular. • Atentar para a possibilidade de leucemias. Hiperesplenismo: • Pacientes portadores de esplenomegalia podem ter hiperesplenismo como causa principal de plaquetopenia; em geral, plaquetopenia leve, não < 50.000/mm3; se inferior a esse valor, deve-se investigar infecções, coagulação intravascular disseminada e drogas. Plaquetopenias familiares: • Diagnóstico de exclusão; avaliação de lâmina de sangue periférico e antecedentes familiares. ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO PLAQUETÁRIA ADQUIRIDAS • Causas: uso de drogas antiagregantes e AINH; insuficiência renal e uremia; cirrose hepática; LES; síndromes mielodisplásicas e mieloproliferativas; circulação extra-corpórea; paraproteinemias (como no mieloma múltiplo e na macroglobulinemia de Waldenström). • Doença de von Willebrand adquirida: contagem de plaquetas > 1.000.000/mm³; paciente com sangramento mucocutâneo decorrente de uma alteração do metabolismo fisiológico dos multímeros de alto peso molecular do fator de von Willebrand; drogas antiagregantes (como AAS) está proscrito até que haja uma redução da contagem plaquetária. HEREDITÁRIAS DOENÇA DE VON WILLEBRAND • Coagulopatia mais frequente no meio clínico (1:100 caso/hab); disfunção qualitativa ou quantitativa do fator de von Willebrand (proteína multimérica produzida pelas células endoteliais e pelos megacariócitos que está presente no plasma e nos grânulos alfa das plaquetas). • Também considerada uma alteração da hemostasia secundária. • Fator de von Willebrand: molécula que se liga ao colágeno subendotelial e ao complexo GP Ib-IX- -V das plaquetas + permite a ligação entre as plaquetas por meio dos receptores GP IIb-IIIa, contribuindo para a formação do trombo + transporta o fator VIII no plasma, evitando sua proteólise. • Quadro clínico: assintomáticos ou sintomáticos (sangramentos mucocutâneos – epistaxe, equimoses, gengivorragia e menorragia). • Exames complementares: • Sreening: tempo de sangramento, contagem de plaquetas e TTPa. • Testes confirmatórios: determinação da atividade do fator VIII, determinação plasmática do fator de von Willebrand-antígeno, determinação da atividade do fator de von Willebrand (FvW:RCo) e ligação do fator de von Willebrand ao colágeno (FvW:CB). • Tratamento: o Medidas locais: comprimir o local de sangramento. o Agentes antifibrinolíticos: ácido tranexâmico (12-20 mg/kg/dose, 3-4 vezes/dia, VO) e o ácido épsilon aminocaproico (50 mg/kg/dose, 4 vezes/dia, VO) – medicamentos adjuvantes muito utilizados nos sangramentos de mucosa e estão proscritos em casos de hematúria pelo risco de obstrução das vias urinárias (utilizados na forma sistêmica ou tópica). o Desmopressina (DDAVP): pode ser administrada SC ou EV; leva ao aumento dos níveis de fator VIII e fator de von Willebrand em 3-5 vezes mais do que valores basais; é necessário um teste terapêutico 4 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica antes da prescrição; está contraindicado para pacientes hipertensos não controlados e com história de convulsões. o Concentrado de fator VIII e fator de von Willebrand: empregado para pacientes não responsivos ao DDAVP; monitorizar 12/12h no dia da cirurgia e 24/24h a partir do 1º dia do pós-operatório para manter níveis < 100% e evitar eventos trombóticos. o Estrógenos: elevam os níveis fisiológicos do fator de von Willebrand; útil para mulheres com menorragia. ➔Outras: • Síndrome de Bernard-Soulier: doença rara, de herança autossômica recessiva, no qual ocorre trombocitopenia, presença de plaquetas gigantes e sangramento mucocutâneo. • Trombastenia de Glanzmann: doença rara, de herança autossômica recessiva, na qual ocorre alteração qualitativa ou quantitativa da GP IIb-IIIa, o que leva a uma hipoagregação plaquetária e, consequentemente, a quadros de sangramento mucocutâneo. ALTERAÇÕES DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA • Suspeitar em pacientes que exibem sintomas como hemartroses, hematomas superficiais e profundos (p. ex., os intramusculares) ou hemorragias mais tardias após procedimentos cirúrgicos ou traumas. • Investigação inicial: testes de triagem (tempos de coagulação) TP, TTPa e tempo de trombina. o Se tempos prolongados: estudo das misturas a 50% (mistura de 1 parte de plasma a ser testada com 1 parte igual em volume de 1 pool de plasmas normais). - 2 situações: deficiência de fator da coagulação (observa-se normalização dos testes coagulométricos no estudo das misturas) ou presença de um inibidor do fator da coagulação (anticorpo que interfere na normalização dos tempos de coagulação). • Anticoagulante lúpico: inibidor inespecífico da via intrínseca da coagulação; pode prolongar o TTPa e predispõe a risco trombótico. • Deficiência de vitamina K: causa bastante comum e reversível de TP prolongado em pacientes internados; os fatores desencadeantes mais comuns são as alterações da absorção entérica; relacionada a quadros de desnutrição grave, modificações da flora intestinal, uso de alguns antimicrobianos, alterações do hábito intestinal ou do ciclo êntero-hepático. • Inibidores adquiridos de fatores de coagulação: prolongamento dos tempos dos testes de triagem; testes de mistura a 50% não mostram correção na presença de inibidor, ao contrário do que se observa nas deficiências de fatores; relacionada a quadros de sensibilização induzida por alguns fármacos, neoplasias, sepse, gestação e doenças autoimunes, mas em 50% dos casos não se encontra uma causa associada; mais comum o inibidor de fator VIII (hemofilia adquirida). • Deficiência de fatores da coagulação: testes de mistura a 50% mostram correção dos valores; solicitar dosagens dos respectivos fatores envolvidos com cada via da cascata da coagulação. o Adquiridas: coagulopatias que cursam com o consumo de fatores, como a coagulação intravascular disseminada; neoplasiase doenças autoimunes podem consumir determinados fatores, como o VIII; outra causa possível é a deficiência de vitamina K. o Congênitas: hemofilias A e B (indistinguíveis na sua apresentação clínica); classificam-nas de acordo com a gravidade da deficiência de fator em leves (5- 40% de fator), moderadas (1- 5% de fator) e graves (< 1% de fator). - Hemofilia A → deficiência hereditária do fator VIII; mais prevalente. - Hemofilia B → deficiência hereditária do fator IX. ALTERAÇÕES RARAS DA HEMOSTASIA • Deficiência do fator XI (hemofilia C), deficiência de fator X, deficiência do fator VII, deficiência de protrombina (fator II), deficiência de fator V, deficiência combinada de fatores V e VIII, afibrinogenemia/hipofibrinogenemia e deficiência do fator XIII. • Manejo: uso de concentrados específicos de fator, exceto para a deficiência de fator V e a deficiência de fator XI que, no Brasil, são tratadas com administração de plasma fresco congelado. TROMBOFILIAS • Conjunto de alterações hereditárias ou adquiridas da coagulação que leva a um estado protrombótico. HEREDITÁRIAS • Se manifestam com evento trombótico recorrente em indivíduos jovens e com história familiar positiva para tromboembolismos. • Especial atenção à história gestacional das pacientes. • Decorrem de: (1) deficiências dos inibidores fisiológicos da coagulação (proteína S, proteína C e antitrombina) ou (2) mutações como as do gene da protrombina ou fator V de Leiden. • Níveis elevados de homocisteína → eventos trombóticos (arteriais). • Situações que merecem consideração para investigação de trombofilias: trombose idiopática, ocorrência antes dos 45 anos, tromboses recorrentes, tromboses em sítios atípicos, trombose em pacientes com antecedente 5 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica familiar positivo, episódio trombótico desproporcionalmente grave em relação ao estímulo desencadeante e abortamentos recorrentes não explicáveis. ADQUIRIDAS • Condições que decorrem de condições clínicas independentes: imobilidade, cirurgia de grande porte, presença de doença autoimune, existência de neoplasia ou uso de hormônios exógenos (anticoncepcionais ou terapia de reposição hormonal). • Síndrome antifosfolípide: associação de trombose (arterial ou venosa) e/ou complicações obstétricas com a positividade de pelo menos um anticorpo antifosfolípide. o Classificada como primária ou secundária (esta última associada a doenças autoimunes como o LES). o Critérios de Sydney modificados em 2066: diagnóstico baseia-se na presença de pelo menos 1 critério clínico e 1 laboratorial: - Critérios clínicos: presença de ≥ 1 tromboses arteriais e/ou venosas ou complicações obstétricas (3 abortos antes de 10 semanas de gestação, > 1 perda fetal após 10 semanas de gestação, ou > 1 parto prematuro). - Critérios laboratoriais: positividade dos anticorpos anticoagulante lúpico, anticardiolipina IgG ou IgM ou antibeta-2-glicoproteína I IgG ou IgM (> percentil 99). Para anticardiolipina, os títulos devem ser moderados a altos (> 40 GPL ou MPL). o Manejo: - Anticoagulados por tempo indefinido. - Tratamento do evento agudo: heparina, seguida da associação com varfarina (antagonistas da vitamina K) - faixa terapêutica de INR de 2-3. - Nos casos de trombose arterial, pode-se associar ácido acetilsalicílico ou aumentar a faixa terapêutica do INR para 3-4. - Recorrência de trombose e em anticoagulação → verificar INR no momento do evento → se estiver em níveis terapêuticos, pode-se associar antiplaquetário, trocar a varfarina por heparina, ou aumentar a faixa terapêutica do INR para 2,5-3,5 ou 3-4. - Gestantes com diagnóstico de síndrome antifosfolípide portadoras apenas de complicações obstétricas prévias: associar heparina profilática e ácido acetilsalicílico. - Portadores de anticorpos antifosfolípides sem eventos trombóticos prévios: tromboprofilaxia em situações de risco (cirurgias e imobilizações prolongadas), bem como o controle de fatores de risco como tabagismo e obesidade. - Pacientes com síndrome antifosfolípide que tenham positividade para anticoagulante lúpico e plaquetopenia associada: cloroquina. Síndrome antifosfolípide catastrófica: ocorrência de trombose em ≥ 3 órgãos, sistemas ou tecidos simultaneamente ou com até 1 semana de diferença, associada à presença de anticorpos antifosfolípides. COMENTÁRIOS DA AULA CASO 1 • Homem de 24 anos, com sangramento gengival abrupto, sangramento de esclera, sufusões hemorrágicas (petéquias) e equimose palpebral. Palidez cutâneo-mucosa. Sonolento. • Descarta dengue hemorrágica, pois nesse caso deveria haver uma hemoconcentração, não há palidez cutâneo- mucosa. • Conduta imediata: 2 acessos venosos (administrar volume) e solicitação de exames laboratoriais (hemograma, glicose, eletrólitos e função renal). • Hipóteses: púrpura trombocitopênica (sangramento de pele pela diminuição de plaquetas), leucemia aguda e aplasia medular. CASO 2 • Anemia grave e plaquetopenia → púrpura trombocitopênica. • Leucocitose (condição de hiperviscosidade). • Predominância de células de aspecto blástico → leucemia aguda. • Conduta de urgência: UTI → hidratação, antibioticoterapia e encaminhar para hematologista. Obs.: não transfundir sangue, pois o paciente já está numa condição de hiperviscosidade. ➔Leucemia aguda, choque hipovolêmico, choque séptico e desidratação. 6 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica CASO 3 • Menor de 9 anos, sexo feminino, com relato de contusão no hálux E, quando foi a escola há 2 dias no outro dia iniciou sangramento gengival, equimoses e petéquias disseminadas. Há 8 dias teve febre, com melhora ao consumir chá e dipirona. Exame físico: REG, sem outras queixas. • Paciente teve uma infecção e os anticorpos reagiram às plaquetas (pensando que eram antígenos). • Púrpura Trombocitopênica Imune (PTI). • Hemograma: ✓ Hb dentro da normalidade. ✓ Plaquetopenia. • Conduta: corticoterapia 1-2 mg/kg/peso ou altas doses (pulsoterapia com metilprednisona 3 mg/kg/peso). • Hipóteses: púrpura (plaquetária ou vascular), leucemia aguda e aplasia medular. Obs.: não infundir um concentrado de plaquetas, pois iria fazê-la fazer sangrar mais. PTI AGUDA • Incidência principalmente em crianças. • Precedida por infecção viral ou vacinação. • Curso: limitado, com altos índices de remissão espontâneas e pode ter curso crônico e insidioso. • Secundária a: LES, doenças linfoproliferativas (leucemias e linfomas), SAAF, doenças autoimunes da tireoide, VHC e HIV. • Assintomático ou apresentar sangramentos. • Associação com H. pylori e com drogas (AAS e AINH). • Quadro laboratorial: plaquetopenia, esfregaço sanguíneo pseudotrombocitopenia (EDTA), avaliação da série branca e presença de macroplaquetas. ESTRUTURA DA PLAQUETA • Adesividade plaquetária e agregação plaquetária. • Diminuição do fator VIII → diminuição do estímulo ao fibrinogênio → não forma coágulo. FORMAÇÃO DO TROMBO PLAQUETÁRIO • Endotélio e plaquetas produzem os multímeros de fator de Von Willebrand (FVW)→ caem na circulação → protease cliva os multímeros em monômeros de fator de Von Willebrand → contribuição na adesividade plaquetária (receptor que se liga ao endotélio e outro receptor às plaquetas). • Doença de Von Willebrand 1, 2, 3 e 4 (leve, moderada, grave e muito grave). • Paciente vítima de trauma e sangrando → abordagem como clínico: infundir plasma (rico em todos os fatores de coagulação e FVW). • 4 fatores produzidos exclusivamente no fígado: II, VII, IX e X. • Fator VIII: uma parte é produzida no fígado e outra no endotélio (pelo FVW). • Fator VIII baixo e tempo de sangramento normal na Hemofilia A. • Fator VIII baixoe tempo de sangramento aumentado no FVW. • Pró-enzima do fator VIII é produzida no fígado e ao cair na circulação, é destruído pelo sistema complemento. • Formação do trombo plaquetário: plaqueta, FVW e endotélio íntegro. PTI X PHS 7 Beatriz Cavalcanti Regis Aula Manoel + Manual do Residente de Clínica Médica CONSIDERAÇÕES FINAIS • Função do tempo de sangramento: em quanto tempo o tampão de plaquetas é formado (normal: 1 a 3 min). • Lesão no vaso → vasconstricção com liberação de adrenalina → FVW → adesividade plaquetária → agregação plaquetária → tampão plaquetátio. • Sangramento que para e volta nas cirurgias é o rompimento do tampão de plaquetas. • AAS inibe a agregação plaquetária → aumento do tempo de sangramento. • Paciente cardiopata que faz uso de AAS e está prestes a fazer uma apendicectomia: suspender AAS e infundir plaquetas. • Astenina: substância do tampão que é liberada para eliminar o líquido e deixar as plaquetas mais unidas. • Exames para o clínico solicitar na doença de Von Willebrand → hemograma, TTPa, tempo de sangramento e fator VIII.
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